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ÍNDICE
ENQUADRAMENTO ......................................................................................................................................... 4
1. CONCEITOS-CHAVE NA COMPREENSÃO DA IGUALDADE / DESIGUALDADE .................... 7
1.1 Igualdade. Diferença, desigualdade e discriminação .......................................................................... 7
1.2 Sexo e Género ........................................................................................................................................... 11
1.3 Papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos ....................................................................... 13
1.4 Discriminação direta e indireta ............................................................................................................... 16
2. REFLETIR SOBRE A REALIDADE ...................................................................................................... 23
2.1 Porquê esta desigualdade? ..................................................................................................................... 23
2.2 Mecanismos reprodutores de desigualdades ..................................................................................... 26
3. INTERVIR PARA A MUDANÇA .......................................................................................................... 28
3.1 A economia como motor de igualdade ................................................................................................ 28
3.2 A família como motor de igualdade ...................................................................................................... 30
3.3 A democracia paritária como motor de igualdade ............................................................................. 33
3.4 O direito como motor de igualdade ..................................................................................................... 33
3.5 As pessoas como motor de igualdade .................................................................................................. 36
3.5.1 Mulheres e pobreza ............................................................................................................................... 37
3.5.2 Educação e formação das mulheres................................................................................................... 37
3.5.3 Mulheres e saúde ................................................................................................................................... 38
3.5.4 Violência contra as mulheres ............................................................................................................... 38
3.5.6 Mulheres e conflitos armados .............................................................................................................. 38
3.5.7 Mulheres e economia............................................................................................................................ 39
3.5.8 Mulheres no poder e tomada de decisão ......................................................................................... 39
3.6 As organizações internacionais como motor de igualdade .............................................................. 40
4. FONTES BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................ 46
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ENQUADRAMENTO
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existência não de um, mas de vários “modelos familiares”, (famílias monoparentais,
famílias reconstituídas, famílias clássicas de dupla profissão) em que a tónica dominante
passa pelo facto de ambos os elementos do casal terem uma atitude activa face ao
trabalho, passando as mulheres a assumirem uma postura mais participativa na esfera
pública.
Deste modo um olhar mais atento pela situação e participação das mulheres e dos
homens na sociedade atual, permite-nos concluir este ponto e compreender a
importância da adoção deste princípio.
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Não obstante a licença de maternidade/paternidade, de acordo com a lei, poder
ser partilhada pela mãe e pelo pai, são ainda poucos os homens que auferem
deste direito, em grande parte devido ao modo como são estigmatizados no seu
local de trabalho;
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1. CONCEITOS-CHAVE NA COMPREENSÃO
DA IGUALDADE / DESIGUALDADE
Nos últimos anos, este direito, que tem vindo a alcançar particular destaque e relevância
nos principais organismos internacionais e, também em Portugal, tem vindo a assumir
uma importância cada vez maior, designadamente na crescente consciencialização das
organizações para a necessidade premente de adoção e implementação de medidas de
combate à discriminação de género.
O desenvolvimento de políticas públicas, nacionais e europeias, relacionadas com
questões de igualdade de género, provocou um novo olhar para as condições que
permitem e facilitam a conciliação da atividade profissional com a vida familiar e pessoal.
Apesar da evolução verificada, decorrente do envolvimento e compromisso das empresas
e das suas lideranças, ainda se identificam assimetrias que devem ser corrigidas.
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integrada potência a colaboração e coordenação de esforços, valorizando uma visão
comum que simultaneamente tenha um efeito mais estruturante e sustentável no futuro
que se pretende construir.
A ENIND marcou um novo ciclo programático que teve início em 2018, alinhado temporal
e substantivamente com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Apoia-se em três Planos de Ação em matéria de não discriminação em razão do sexo e de
igualdade entre mulheres e homens (IMH), de prevenção e combate a todas as formas de
violência contra as mulheres, violência de género e violência doméstica (VMVD), e de
combate à discriminação em razão da orientação sexual, identidade e expressão de
género, e características sexuais (OIEC).
A eliminação dos estereótipos é assumida como preocupação central da ENIND,
orientando as medidas inscritas nos três Planos de Ação que dela decorrem. Os
estereótipos de género estão na origem das discriminações em razão do sexo diretas e
indiretas que impedem a igualdade substantiva entre mulheres e homens, reforçando e
perpetuando modelos de discriminação históricos e estruturais. Reflexo da natureza
multidimensional da desvantagem, os estereótipos na base da discriminação em razão do
sexo cruzam com estereótipos na base de outros fatores de discriminação, como a
origem racial e étnica, a nacionalidade, a idade, a deficiência e a religião. Também assim,
o cruzamento verifica-se com a discriminação em razão da orientação sexual, identidade e
expressão de género, e características sexuais, assente em estereótipos e práticas
homofóbicas, bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas, e que se manifesta em formas de
violência, exclusão social e marginalização, tais como o discurso de ódio, a privação da
liberdade de associação e de expressão, o desrespeito pela vida privada e familiar, a
discriminação no mercado de trabalho, acesso a bens e serviços, saúde, educação e
desporto.
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Podemos, no. âmbito de um certo número de indivíduos, considerar sua igualdade ou
igualdade diferença em relação ao aspeto sexual, ao aspeto profissional, ao aspeto
étnico, e assim por diante. A oposição entre igualdade e diferença, se colocarmos a
questão dentro de uma perspetiva semiótica, é da ordem dos «contrários» (de duas
essências que se opõem). Já o contraste entre igualdade e desigualdade refere-se quase
sempre não um aspeto «essencial», mas a uma 'circunstância' associado a um forma de
tratamento (mesmo que esta circunstância aparentemente se eternize no interior de
determinados sistemas políticos ou situações sociais específicas).
É preciso considerar antes demais nada que as diferenças são inerentes ao mundo
humano — para não falar fazer mundo natural. De modo geral, a ocorrência de diferenças
de toda a ordem, não pode ser evitada da ação humana (nem todas como diferenças são
naturais e que muitas são construídas culturalmente). Vale dizer ainda que a ocorrência de
diferenças no mundo social está atrelada à própria diversidade inerente ao conjunto dos
seres humanos, seja no que se refere a características pessoais (sexo, etnia, idade), seja
não que se refere a questões externas (pertencimento por nascimento a esta ouàquela
localidade, ou cidadania vinculada a este ou aquele país, por exemplo).O
reconhecimento da inevitabilidade da ocorrência de diferenças reflete-se no fato de que
são raros os projetos políticos que se proponham a lutar para eliminar certos tipos de
diferenças como como sexuais, idades ou profissionais(não estamos falando ainda da
possibilidade de eliminar ou reduzir como desigual-pais sexuais, idades ou profissionais,
o que seria uma questão de outra ordem).
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A relação entre igualdade, desigualdade e diferença também pode implicar no diálogo
com outra noção bastante comum no vocabulário histórico, social e político: a de
discriminação social. De certo modo, a discriminação é um dos instrumentos da
desigualdade, em alguns casos uma de suas etapas.
A discriminação comporta uma diferenciação injusta e arbitrária que tem na sua base a
crença de que os indivíduos pertencentes a determinadas categorias têm maior
probabilidade de possuir características indesejáveis. A discriminação direta refere-se ao
tratamento menos favorável a alguém com base na sua pertença a um determinado
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grupo. A discriminação indireta refere-se às situações em que, apesar de não se verificar
uma discriminação formal, são aplicadas condições ou requisitos que se sabe à partida
não serem possuídos pela grande maioria dos elementos do grupo que se quer
discriminar. No século XX, grande número de países passou a prever na sua legislação a
ilegalidade da discriminação, não só de tipo direto, mas também indireto, precisamente
para operacionalizar o reconhecimento de princípios básicos de igualdade.
Sendo que a abordagem que se pretende efetuar com este manual se prende com este
conceito social, e mais concretamente com as relações que se estabelecem entre os
homens e as mulheres, sobre as quais se pretende efetivar a mudança, convém clarificar
que estas relações de género se têm caracterizado por:
serem influenciadas por diferentes factores, tais como: a etnia, a classe social, a
condição e a situação das mulheres;
evoluírem no tempo;
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pela qual os homens têm um lugar privilegiado em relação às mulheres.
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e papéis sociais de género;
A crescente participação feminina no mundo laboral é importante não só para o
sustento das famílias, mas também para a própria valorização pessoal das
mulheres e sobretudo para a economia global;
Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os
cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há
extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são
especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/género, já que as pessoas
possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto género depende do sexo
biológico.
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que é exercida na esfera doméstica, e a combater o tráfico de seres humanos, pois são
fatores que potenciam (e refletem) a vulnerabilidade socioeconómica das mulheres.
Assim sendo, além dos recursos económicos e da privação material, importa apreender a
complexidade do fenómeno à luz das várias dimensões de bem-estar em que a privação
se possa verificar (mercado de trabalho, saúde, educação e formação, habitação,
proteção social, família, segurança e participação social).
Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os
cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há
extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são
especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/gênero, já que as pessoas
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possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto gênero depende do sexo
biológico. Outro ponto de concordância é a possibilidade de mudança dos padrões de
comportamento, na medida em que o comportamento dos indivíduos na sociedade é
influenciado pela cultura (regras e valores coletivos) e pela disposição interna de cada um
ou cada uma. A identificação dos diferentes comportamentos de gênero é uma
ferramenta de análise fundamental para a compreensão do lugar ocupado pela categoria
gênero na escala social e o valor socialmente dado a cada um dos grupos e, a partir daí,
foi possível a sua desconstrução e desnaturalização.
É importante também assinalar que esses padrões não são absolutos e homogêneos, o
que significa que devemos compreendê-los como expectativas socialmente assumidas
pela sociedade, mas que não representam o conjunto de atitudes e comportamentos de
todos os indivíduos dos grupos de forma homogênea. Para Iris Marion Young, “dizer que
uma pessoa é uma mulher pode antecipar algo sobre os constrangimentos e expectativas
em geral com os quais ela precisa lidar. Mas não antecipa qualquer coisa em particular
sobre quem ela é, o que ela faz, como ela vivencia sua posição social".
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origem das discriminações em razão do sexo diretas e indiretas que impedem a igualdade
substantiva entre mulheres e homens, reforçando e perpetuando modelos de discriminação
históricos e estruturais.
Reflexo da natureza multidimensional da desvantagem, os estereótipos na base da discriminação
em razão do sexo cruzam com estereótipos na base de outros fatores de discriminação, como a
origem racial e étnica, a nacionalidade, a idade, a deficiência e a religião. Também assim, o
cruzamento verifica -se com a discriminação em razão da orientação sexual, identidade e
expressão de género, e características sexuais, assente em estereótipos e práticas homofóbicas,
bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas, e que se manifesta em formas de violência, exclusão social e
marginalização, tais como o discurso de ódio, a privação da liberdade de associação e de
expressão, o desrespeito pela vida privada e familiar, a discriminação no mercado de trabalho,
acesso a bens e serviços, saúde, educação e desporto.”
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Por outro lado, a discriminação enquanto contraordenação ocorre quando uma pessoa é
impedida de exercer os seus direitos relacionados ao acesso a bens e serviços, ao
emprego e formação profissional, ao ensino e ao sistema de saúde públicos e privados,
dentre outros.
Alguns exemplos de situações de contraordenações por práticas discriminatórias
previstas na legislação:
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(como o presidente de uma determinada Câmara Municipal que proíba cidadãos
estrangeiros de fazerem pedidos de casas sociais);
- A adoção de ato em que, publicamente ou com intenção de ampla divulgação,
pessoa singular ou coletiva emita uma declaração ou transmita uma informação
em virtude da qual um grupo de pessoas seja ameaçado, insultado ou aviltado por
motivos de discriminação racial (por exemplo, o diretor de uma empresa que
forneça uma entrevista na comunicação social a dizer que não contrata pessoas de
uma determinada nacionalidade por serem todos “preguiçosos”).
Qualquer cidadão/ã confrontado/a com uma situação de discriminação, seja ou não ele/a
a vítima, pode denunciar a situação junto da entidade competente.
No caso dos crimes, tanto o crime de discriminação propriamente dito como os crimes de
ódio (homicídio e ofensas à integridade física qualificados) são considerados crimes
públicos e, portanto, qualquer pessoa pode denunciá-los às autoridades (Polícia ou
Ministério Público).
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humanos bem como personalidades de reconhecido mérito, designadas pelos restantes
membros.
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Articular com os órgãos competentes na área da não discriminação em razão de
fatores diferentes da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e
território de origem, em casos de discriminação múltipla;
Elaborar informação estatística de carácter periódico;
Promover a educação, formação e sensibilização sobre direitos humanos e a
prevenção e combate à discriminação racial e étnica;
Promover a criação de códigos de boas práticas no combate à discriminação racial
e étnica;
Elaborar e publicitar um relatório anual sobre a situação da igualdade e da
discriminação racial, incluindo informação recolhida sobre práticas discriminatórias
e sanções aplicadas, bem como a avaliação do impacto de medidas tomadas
sobre homens e mulheres, para este efeito articulando com a Comissão para a
Cidadania e a Igualdade de Género e a Comissão para a Igualdade no Trabalho e
no Emprego.
Considera-se que existe discriminação direta sempre que uma pessoa ou grupo de
pessoas seja objeto de tratamento desfavorável em razão da origem racial e étnica, cor,
nacionalidade, ascendência e território de origem, designadamente em relação àquele
que é, tenha sido ou possa vir a ser dado a outra pessoa ou grupo de pessoas em
situação comparável.
Considera-se que existe discriminação indireta sempre que em razão da origem racial e
étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem, uma disposição, critério ou
prática aparentemente neutra coloque uma pessoa ou grupo de pessoas numa situação
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de desvantagem, designadamente em comparação com outra pessoa ou grupo de
pessoas, a não ser que essa disposição, critério ou prática seja objetivamente justificada
por um objetivo legítimo e que os meios utilizados para o alcançar sejam adequados e
necessários.
Artigo 240.º
Discriminação e incitamento ao ódio e à violência
1 - Quem:
a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver atividades de propaganda organizada que
incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da
sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade
de género ou deficiência física ou psíquica, ou que a encorajem; ou
b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou lhes prestar
assistência, incluindo o seu financiamento;
é punido com pena de prisão de um a oito anos.
a) Provocar atos de violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor,
origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de
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género ou deficiência física ou psíquica;
b) Difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica
ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de género ou
deficiência física ou psíquica;
c) Ameaçar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou
nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de género ou
deficiência física ou psíquica; ou
d) Incitar à violência ou ao ódio contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça,
cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade
de género ou deficiência física ou psíquica;
e) é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.
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2. REFLETIR SOBRE A REALIDADE
2.1 Porquê esta desigualdade?
Desde há cerca de 25 anos que as leis têm vindo a mudar, deixando de hierarquizar os
sexos, para reconhecer a igualdade das mulheres e dos homens.
Para estas alterações foi determinante o regime democrático em que Portugal passou a
viver após 25 de Abril de 1974, bem como a adesão do País à então Comunidade
Económica Europeia.
Por outro lado, a ação que ao longo do tempo, foi desenvolvida por instituições públicas,
por Organizações não-governamentais e por organizações internacionais, com destaque
para a ONU, a OIT, a OCDE e o Conselho da Europa, muito contribuiu também para a
mudança.
No entanto, apesar dos progressos alcançados na lei e na vida, apesar do igual estatuto
de cidadania das mulheres e dos homens tanto na esfera privada como na esfera pública,
a maioria dos nossos indicadores e muito do nosso quotidiano ainda refletem papéis e
expectativas sociais padronizados em função da divisão sexual estagnada e tradicional do
trabalho:
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Para os homens, a obrigação do sustento familiar, o trabalho pago, a carreira, o
poder no espaço público, o desvalor do investimento no apoio à vida doméstica e
familiar, a liberdade de dispor sem constrangimentos do tempo que não
correspondesse ao exercício da atividade profissional.
Este olhar sobre as relações sociais entre as mulheres e os homens deixou, porém, de ser
coerente com o reconhecimento dos direitos humanos.
Com efeito, as diferenças biológicas de sexo são decorrentes da natureza, por isso
naturais, em princípio imutáveis e insuscetíveis de se traduzir diretamente em
discriminação, enquanto as desigualdades de género são socialmente construídas, por
isso geradoras de comportamentos discriminatórios e só mantidas num quadro de
aceitação social generalizada.
Da experiência de intervenção da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
– CITE – resulta hoje claro que não é possível dar adequado cumprimento à legislação da
igualdade entre as mulheres e os homens no trabalho e no emprego, e assim ao mandato
da CITE, sem gerar e desenvolver coerentemente uma consciência individual e um
ambiente social favoráveis à concretização da igualdade, suscetíveis de alterar as
condições estruturais que mantêm a aceitação generalizada da discriminação em função
do sexo.
É que quem não quer reconhecer a injustiça em que a discriminação em função do
género se traduz, tende a ver no cumprimento da lei um “custo de produção” inútil e
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caro, um resquício de “feminismos datados”, uma “guerra de sexos” estéril e provocada
por despeitos vários, um fator de desestabilização social.
Com os devidos ajustamentos, não foi muito diferente o que se passou com a introdução
de exigências legais e compromissos internacionais em matéria de preservação do
ambiente. Até as pessoas tomarem consciência de que se tratava da sobrevivência do
espaço em que viviam e do perigo que corriam.
A menos que se queira regressar às épocas em que a democracia e os direitos humanos
não constituíam os alicerces da sociedade, pelo que um dos sexos, cerca de metade da
humanidade, podia, livremente, ominar o outro, pela força se necessário, importa agora
que as pessoas tomem consciência de que sem igualdade entre mulheres e homens é a
sua própria sobrevivência como espécie que está ameaçada. Nuns casos por excesso de
população,
noutros por defeito dela, como vai resultando evidente das estatísticas demográficas e da
documentação de agências especializadas, designadamente, do sistema das Nações
Unidas.
A sensibilização da opinião pública, e, em particular, a formação, constitui um dos aspetos
determinantes neste âmbito. Isto mesmo foi reconhecido por todos os Planos Nacionais
de Emprego portugueses decorrentes da Estratégia Europeia para o Emprego na União
Europeia, também no pressuposto de que o bom desempenho da economia e o
financiamento dos sistemas de segurança social implicam o aproveitamento pleno do
trabalho remunerado do maior número possível de recursos humanos.
A Igualdade de Género exige que, numa sociedade, homens e mulheres gozem das
mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas.
Dito de outra maneira, mulheres e homens devem e beneficiar das mesmas condições:
No acesso à educação
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No acesso à saúde
As mulheres têm uma esperança de média de vida mais elevada que os homens, o que
torna o apoio social muitas vezes insuficiente, dado que as mulheres estão sempre
sobrecarregadas com o apoio a terceiros. Os cuidados de crianças, doentes e velhos
recaem predominantemente sobre as mulheres.
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Os salários para as mesmas funções são mais elevados para homens do que para
mulheres.
A pobreza é feminina!
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3. INTERVIR PARA A MUDANÇA
As ações positivas no mercado de trabalho têm que ser entendidas como uma resposta
aos limites de uma legislação anti-discriminatória a que subjaz o masculino como
‘modelo’ e o feminino como ‘diferença’,
assentando em queixas individuais ou denúncias de casos de discriminação. As acções
positivas são antes uma intervenção proactiva e procuram prevenir a discriminação,
particularmente a indireta,
através da construção de um ambiente em que a igualdade prevaleça.
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A noção de discriminação indireta foi um dos mais importantes resultado da experiência
proporcionada pela legislação contra a discriminação direta. Segundo aquela noção, uma
norma ou um procedimento neutro pode vir a ser considerado discriminatório, se se
verificar que a sua aplicação tem efeitos muito desproporcionados, num grupo bem
identificado de pessoas. Em princípio, estes efeitos adversos são passíveis de serem
detetados através da sua expressão estatística.
A mudança de paradigma introduzida pela noção de discriminação indireta traduz-se no
reconhecimento de que a discriminação ocorre, independentemente dos
comportamentos ou ações individuais. Ou seja, que as decisões discriminatórias são
frequentemente baseadas em políticas que estruturam cada organização em particular ou
cada sociedade no seu todo. A discriminação indireta é estrutural ou sistémica e abre as
portas ao questionamento a um vasto leque de práticas laborais e institucionais.
Para que esta questão seja melhor entendida, há que recorrer a um esquema
interpretativo mais abrangente que torne inteligível o conjunto de práticas e
representações em jogo no mundo laboral, o qual não constitui exceção ao caldo cultural
tradicional, todo ele imbuído de regras, normas e representações profundamente
marcadas pelo sexismo.
Uma boa forma de percecionar o alcance das transformações necessárias a uma plena
igualdade de tratamento e de oportunidades entre os homens e as mulheres no sistema
económico é a análise dos seis objetivos estratégicos definidos pela Plataforma de Acção
de Pequim no que diz respeito a esta área de intervenção governamental (Plataforma de
Acão de Pequim, pp. 111-134), a saber:
Promover a independência e os direitos económicos das mulheres, incluindo o
acesso ao emprego, a condições de trabalho adequadas e ao controlo dos
recursos económicos;
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Eliminar a segregação profissional e todas as formas de discriminação no
emprego;
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As mulheres preenchem maioritariamente lugares de base nas estruturas organizacionais
que as empregam e tendem a estar adstritas a tarefas que correspondem ao
prolongamento das suas atividades na esfera doméstica. Trabalho em tempo parcial ou
percursos profissionais interrompidos – enquanto têm filhos pequenos ou precisam de
cuidar de familiares idosos – são, muitas vezes, a resultante possível para quem tem de
acumular trabalho profissional com trabalho familiar. Processos de segregação vertical
cruzam-se, deste modo, com formas de segregação horizontal e constituem obstáculo no
acesso a uma cidadania plena por parte de um conjunto grande da população feminina.
Os homens, por seu lado, têm estado limitados nas suas possibilidades de participação
na vida familiar, nomeadamente quando os filhos nascem ou precisam de cuidados
especiais. São raras as circunstâncias em que o pai tem condições profissionais para
acompanhar o bebé nos
primeiros tempos de vida ou ficar em casa com os filhos quando estes estão doentes.
Por último, num nível intermédio ou meso-social, refira-se o papel das empresas e
das entidades empregadoras em geral, no sentido de criarem culturas
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organizacionais valorizadoras de novos papéis masculinos e femininos, no plano
profissional e no plano familiar. É importante que a entidade empregadora e os
colegas de profissão reconheçam caberem também aos homens
responsabilidades familiares.
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saberes e práticas de autonomia pessoal em contexto familiar tanto a raparigas como a
rapazes.
Será que esta exclusão é um facto natural, não problemático, fruto apenas de
circunstâncias sociais e culturais e sem consequências decisivas para a evolução social?
Ou será antes que a exclusão ou forte marginalização de metade da humanidade nega,
não só os princípios da justiça e da equidade, mas também o fundamento mesmo sobre
o qual se constrói a sociedade democrática?
Por outro lado, para além da justiça e da equidade, será que a ausência das mulheres dos
postos de decisão acarreta alguma perda para a própria sociedade? E que a sua presença
atuante pode trazer alguma mais valia à qualidade da gestão da coisa pública e da vida
de todos nós?
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Decreto de 3 de Novembro de 1910, conhecido por Lei do Divórcio, admitiu o divórcio
pela primeira vez em Portugal e reconheceu a igualdade de tratamento tanto nas causas
do divórcio como nos direitos sobre os filhos.
Com a Constituição de 1911 reconheceu-se o direito das mulheres a trabalhar na função
pública.
Pelo Decreto nº 4876, de 17 de Julho de 1918, foi autorizado às mulheres o exercício da
advocacia.
Em 1920, as raparigas são autorizadas a frequentar liceus masculinos.
O Estado Novo reconheceu novos direitos às mulheres, mas quase sempre numa situação
de desfavor em relação aos homens.
Com efeito, o Decreto n.º 19 694, de 5 de Maio de 1931, reconheceu o direito de voto às
mulheres diplomadas com cursos secundários ou superiores, embora aos homens se
continuasse a exigir apenas que soubessem ler e escrever.
De notar, que apenas em 1969, a mulher casada pode transpor a fronteira sem
autorização do marido.
Com a instauração da democracia, em 25 de Abril de 1974, a igualdade de género
progrediu significativamente pela mão do direito.
Ainda nesse ano, foi aberto às mulheres o acesso a todos os cargos da carreira
administrativa a nível local, da carreira diplomática e da magistratura, sendo igualmente
abolidas todas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos
cidadãos.
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a mulher casada deixa de ter estatuto de dependência do marido;
deixa de haver poder marital: ambos dirigem a vida comum e cada um a sua;
desaparece a figura de ‘chefe de família’;
o governo doméstico deixa de pertencer, por direito próprio, à mulher;
os cônjuges decidem em comum qual é a residência do casal;
tanto o marido como a mulher podem, aquando do casamento, acrescentar ao
seu nome até dois apelidos do outro;
a mulher deixa de precisar de autorização do marido para ser comerciante;
cada um dos cônjuges pode exercer qualquer profissão ou atividade sem o
consentimento do outro.
Em 1979, entrou em vigor o Decreto-Lei nº 392/79, de 20 de setembro, que visa
garantir a igualdade entre mulheres e homens no trabalho e no emprego.
Em 1980, Portugal ratifica a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
Em 1984, entram em vigor as leis sobre Educação sexual e planeamento familiar,
Protecção da maternidade e Exclusão de ilicitude em alguns casos de interrupção
voluntária da gravidez.
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a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges quanto à capacidade civil e
política e à manutenção e educação dos filhos (art. 36º);
a liberdade de escolha de profissão e acesso à função pública (art. 47º), bem como
de tomar parte na vida política e na divisão dos assuntos públicos do país;
o direito ao trabalho, cabendo ao Estado assegurar a igualdade de oportunidades
na escolha da profissão ou o género de trabalho (art. 58º)
o direito à conciliação da atividade profissional e da vida familiar, sem
discriminação em função do sexo [art. 59º nº 1b)];
a proteção da maternidade e paternidade (art. 68º).
Mulheres e saúde
Mulheres e economia
36
Mulheres no poder e tomada de decisão
37
3.5.3 Mulheres e saúde
38
incidência de violações de direitos humanos em situações de conflito
39
Aumentar a capacidade de participação das mulheres na tomada de decisão e
na liderança
É sabido que as mulheres encontraram desde muito cedo um fórum mais recetivo às suas
reivindicações e protestos em algumas das organizações internacionais, como a ONU, e
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desde praticamente a sua constituição que as organizações de mulheres, especialmente
as de âmbito internacional, através dos mais variados processos e pelas mais diversas vias,
procuraram ativamente influenciar as instâncias de decisão intergovernamental. O
lobbying é uma das práticas mais comuns a que as organizações acedem com alguma
facilidade, dada a recetividade que encontram nas organizações intergovernamentais.
Encontramos alguma explicação para esta recetividade quer nas regras, quer na
intensificação das relações internacionais.
A ação das organizações internacionais, nomeadamente da Organização das Nações
Unidas, da Organização Internacional do Trabalho, da Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Económico e do Conselho da Europa, em prol do reconhecimento dos
direitos das mulheres deve, pois, ser sublinhada. Também a União Europeia tem
desenvolvido intenso trabalho na promoção da igualdade entre mulheres e homens. Na
verdade, elas têm ditado a agenda das políticas de igualdade, através das mais diversas
iniciativas. A crescente intensificação das relações internacionais e interdependência entre
os Estados ao nível do sistema-mundo têm conferido um relevo assinalável às instâncias
internacionais, quer sejam ou não intergovernamentais.
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como os direitos humanos, a boa governação e a participação das populações, para além
do cada vez maior destaque aos direitos sociais. Os ganhos de influência das ONG
internacionais, em que encontramos muitas redes feministas, são conquistados à custa do
lobbying e das próprias regras de relacionamento entre os governos e as instâncias
intergovernamentais. Estas recorrem frequentemente aos serviços das ONG, para validar
as informações oficiais e para assessoria tanto na formulação como no acompanhamento,
execução e monitorização de programas e projetos. O crescente reconhecimento da
igualdade de direitos entre mulheres e homens é, em parte, devido precisamente aos
esforços de redes internacionais de organizações de mulheres que conseguiram fazer
aceitar a visão de que metas consensuais como o "desenvolvimento económico
autossustentável" ou a "defesa dos direitos humanos" só podem ser alcançados se se
tiverem em conta as relações sociais de sexo.
42
ATIVIDADES PROPOSTAS
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Exercício I
Palavras Chave
Sexo; Género; Determinantes Sócio-Culturais
Introdução
Mediante a leitura de um texto descontraído, esta atividade incita à reflexão sobre os
determinantes socioculturais que diferenciam o género. O texto foca-se nos aspetos sociais que,
com base no sexo, diferenciam as raparigas e os rapazes logo desde o início da vida.
Objetivo
Debater acerca da diferenciação de género.
Introduzir os conceitos de género e de estereótipos
Materiais/Equipamento/Logística
Ficha com o texto
Desenvolvimento
1 / Entrega-se a cada participante o texto para leitura e ou coloca-se na plataforma
2 / Depois da leitura, é aberto um espaço para comentários em plenário.
Poder-se-á dirigir o debate para a questão da influência que o sexo tem a vários níveis e nas várias
fases da vida das Pessoas
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Exercício II
Leia as frases a seguir apresentadas. Em seguida tente classificar cada uma com S (sexo) ou G
(género), conforme se trate de um aspeto ligado ao sexo ou ao género.
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FONTES BIBLIOGRÁFICAS
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