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MANUAL DO/A FORMANDO/A

ÁREA DE FORMAÇÃO 312 – Sociologia e outros Estudos

REFERENCIAIS DE FORMAÇÃO 347242 - Técnico/a de Relações Laborais

CURSO /UFCD 5435 -Igualdade de oportunidades entre Mulheres e


Homens - mitos, estereótipos e crenças reprodutoras
da desigualdade e ação para a mudança

FORMADOR/A Eurico Oliveira Nunes


FICHA TÉCNICA
Tipologia de
Manual de Formação (RTP_312_5435)
Recurso

UFCD/Curso: 5435 -Igualdade de oportunidades entre Mulheres e Homens - mitos, estereótipos e


crenças reprodutoras da desigualdade e ação para a mudança
Área de Presencia
312 – Sociologia e outros Estudos Forma de Organização
Formação: À Distância
Modalidade de
Formação Contínua Carga Horária 25 horas
Formação
Ativos empregados/desempregados com idades igual ou superior a 18 anos (à data de
início da formação) e idade inferior a 18 anos, desde que, comprovadamente inseridos no
mercado de trabalho.
Público Alvo: Ativos empregados (independentemente das suas habilitações, mas com a habilitação
mínima exigida para a frequência da UFCD)
Ativos desempregados, desde que detentores de habilitações iguais e superiores ao ensino
secundário
Pré-Requisitos: N/ Aplicável
Objetivos
Intervir de forma estruturada na promoção da Igualdade de Oportunidades entre mulheres
Gerais: e homens.

Identificar os conceitos relativos à igualdade de oportunidades entre mulheres e homens.


Objetivos Identificar os estereótipos associados ao masculino e feminino.
Reconhecer a importância da função do Estado, dos parceiros sociais e das comunidades
específicos: locais no desenvolvimento de políticas e na implementação de medidas favoráveis à
cidadania e à igualdade entre mulheres e homens.
Conceitos-chave na compreensão da Igualdade/desigualdade
Igualdade. Diferença, desigualdade e discriminação
Sexo e género
Papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos
Discriminação direta e indireta
Refletir sobre a realidade
Conteúdos Porquê esta desigualdade?
Mecanismos reprodutores de desigualdades
Programáticos
Intervir para a mudança
A economia como motor de igualdade
A família como motor de igualdade
A democracia paritária como motor de igualdade
O direito como motor de igualdade
As pessoas como motor de igualdade
As organizações internacionais como motor de igualdade

Cod. RTP / Versão Autor/a Versão Inicial Revisões Data aprovação

RTP_312_5435 V.1.0 Eurico Nunes 22-02-2021 0 26-02-2021

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ÍNDICE

ENQUADRAMENTO ......................................................................................................................................... 4
1. CONCEITOS-CHAVE NA COMPREENSÃO DA IGUALDADE / DESIGUALDADE .................... 7
1.1 Igualdade. Diferença, desigualdade e discriminação .......................................................................... 7
1.2 Sexo e Género ........................................................................................................................................... 11
1.3 Papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos ....................................................................... 13
1.4 Discriminação direta e indireta ............................................................................................................... 16
2. REFLETIR SOBRE A REALIDADE ...................................................................................................... 23
2.1 Porquê esta desigualdade? ..................................................................................................................... 23
2.2 Mecanismos reprodutores de desigualdades ..................................................................................... 26
3. INTERVIR PARA A MUDANÇA .......................................................................................................... 28
3.1 A economia como motor de igualdade ................................................................................................ 28
3.2 A família como motor de igualdade ...................................................................................................... 30
3.3 A democracia paritária como motor de igualdade ............................................................................. 33
3.4 O direito como motor de igualdade ..................................................................................................... 33
3.5 As pessoas como motor de igualdade .................................................................................................. 36
3.5.1 Mulheres e pobreza ............................................................................................................................... 37
3.5.2 Educação e formação das mulheres................................................................................................... 37
3.5.3 Mulheres e saúde ................................................................................................................................... 38
3.5.4 Violência contra as mulheres ............................................................................................................... 38
3.5.6 Mulheres e conflitos armados .............................................................................................................. 38
3.5.7 Mulheres e economia............................................................................................................................ 39
3.5.8 Mulheres no poder e tomada de decisão ......................................................................................... 39
3.6 As organizações internacionais como motor de igualdade .............................................................. 40
4. FONTES BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................ 46

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ENQUADRAMENTO

O manual de formação que se apresenta incide sobre os conteúdos programáticos da


Unidade de Formação de Curta Duração: Igualdade de oportunidades entre Mulheres e
Homens - mitos, estereótipos e crenças reprodutoras da desigualdade e ação para a
mudança Código: 5435, incluída nos Referenciais de Formação: 347242 - Técnico/a de
Relações Laborais e tem como objetivo servir de apoio às sessões de formação quer em
regime presencial quer em regime de formação à Distância das ações a implementar
pela PENHAS.

Porque é importante falar


em
igualdade de género?

Igualdade entre Mulheres e Homens, ou Igualdade de Género, significa igualdade de


direitos e liberdades para a igualdade de oportunidades de participação,
reconhecimento e valorização de mulheres e de homens, em todos os domínios da
sociedade, político, económico, laboral, pessoal e familiar.

Desde a segunda metade do século XX assistiu-se a um conjunto de importantes


transformações nas sociedades industrializadas. Em Portugal estas transformações
tiveram repercussões a diversos níveis, afetando o comportamento de homens e
mulheres nas esferas profissional e familiar. Assim, cada vez mais se observam
transformações profundas no “modelo familiar”, tradicionalmente assente numa
construção social de papéis de género em função do sexo, conduzindo a uma conceção
do masculino e do feminino diferenciada e hierarquizada em termos de importância,
segundo a qual se atribuíam ao homem papéis e responsabilidades no domínio público,
de sustento, e de orientação para resultados, de competitividade e força, e à mulher
papéis no domínio privado, de cuidado da casa e da família, com base em características
mais emocionais e relacionais. De facto, a este conceito de “modelo familiar”
comummente aceite, foram acrescentadas novas variáveis e realidades, fruto das várias
modificações nas estruturas familiares, que nos permitem hoje em dia reconhecer a

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existência não de um, mas de vários “modelos familiares”, (famílias monoparentais,
famílias reconstituídas, famílias clássicas de dupla profissão) em que a tónica dominante
passa pelo facto de ambos os elementos do casal terem uma atitude activa face ao
trabalho, passando as mulheres a assumirem uma postura mais participativa na esfera
pública.

Ora estes novos “modelos familiares” implicam necessariamente um ajustamento na


organização da vida familiar e sobretudo nas relações sociais de género, questão que
nos remete para a importância da inclusão do princípio da Igualdade de Género em
todas as esferas da sociedade. Falar em Igualdade de Género atualmente torna-se assim
fundamental, ainda mais se nos detivermos no aspeto de que a crescente participação
das mulheres no mercado de trabalho não foi acompanhada por um crescimento
correspondente da participação dos homens na vida familiar.

Deste modo um olhar mais atento pela situação e participação das mulheres e dos
homens na sociedade atual, permite-nos concluir este ponto e compreender a
importância da adoção deste princípio.

Resumindo é importante debater as questões associadas à Igualdade de Género


porque:

A participação dos homens e mulheres no mercado de trabalho é desigual, facto


que se reflecte na existência do gap salarial entre homens e mulheres e
consequentemente no maior número de situações de pobreza entre a população
feminina;

Nas empresas privadas e na administração pública, os lugares de chefia são


maioritariamente ocupados por homens, pese embora o número de mulheres
com habilitações superiores ser superior ao dos homens;

Continuam a persistir profissões tendencialmente femininas e tendencialmente


masculinas;

Continuam a verificar-se diferentes participações e usos do tempo entre homens


e mulheres no que diz respeito à vida familiar, sendo que as mulheres são ainda
as principais responsáveis pela execução das tarefas domésticas e pela prestação
de cuidados à família;

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Não obstante a licença de maternidade/paternidade, de acordo com a lei, poder
ser partilhada pela mãe e pelo pai, são ainda poucos os homens que auferem
deste direito, em grande parte devido ao modo como são estigmatizados no seu
local de trabalho;

Persistem as barreiras psicossociais no que diz respeito ao acesso a cargos


políticos e à participação na vida cívica em geral, por parte das mulheres;

As mulheres ocupam uma posição desigual no que diz respeito ao trabalho


remunerado, nomeadamente no que diz respeito a dificuldades na gestão do
tempo, decorrentes das exigências sociais (ainda) impostas nos cuidados
prestados à família;

Pese embora a legislação em vigor garanta a Igualdade de Oportunidades entre


mulheres e homens no mercado de trabalho, na prática ainda se verificam
expectativas diferenciadas para mulheres e homens, decorrentes de estereótipos
e papéis sociais de género;

A crescente participação feminina no mundo laboral é importante não só para o


sustento das famílias, mas também para a própria valorização pessoal das
mulheres e sobretudo para a economia global;

A integração da perspetiva do género desafia as políticas convencionais e a


repartição dos recursos e reconhece a forte interligação entre a desvantagem
relativa que afeta as mulheres e a vantagem relativa de que gozam os homens.

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1. CONCEITOS-CHAVE NA COMPREENSÃO
DA IGUALDADE / DESIGUALDADE

1.1 Igualdade. Diferença, desigualdade e discriminação


“A igualdade de género é um valor fundamental da UE, um direito fundamental e
um princípio-chave do Pilar Europeu dos Direitos Sociais. Reflete o que somos e é
igualmente uma condição essencial para uma economia europeia inovadora,
competitiva e próspera.”
“Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia”, excerto retirado da “Comunicação da Comissão ao
Parlamento Europeu (…)” no âmbito da Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025

De acordo com as orientações da Declaração Universal dos Direitos Humanos, do


Tratado da União Europeia, do Pacto Europeu para a Igualdade entre homens e mulheres
e, ainda, as disposições da Constituição da República Portuguesa (art.º 13º) e do Código
do Trabalho (art.ºs 23º a 65º), a igualdade de género é um direito humano essencial para
o desenvolvimento da sociedade e para a participação plena na sociedade de homens e
mulheres enquanto pessoas.

Nos últimos anos, este direito, que tem vindo a alcançar particular destaque e relevância
nos principais organismos internacionais e, também em Portugal, tem vindo a assumir
uma importância cada vez maior, designadamente na crescente consciencialização das
organizações para a necessidade premente de adoção e implementação de medidas de
combate à discriminação de género.
O desenvolvimento de políticas públicas, nacionais e europeias, relacionadas com
questões de igualdade de género, provocou um novo olhar para as condições que
permitem e facilitam a conciliação da atividade profissional com a vida familiar e pessoal.
Apesar da evolução verificada, decorrente do envolvimento e compromisso das empresas
e das suas lideranças, ainda se identificam assimetrias que devem ser corrigidas.

A Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação - Portugal + Igual (ENIND)


assenta numa visão estratégica para o futuro sustentável de Portugal, enquanto país que
realiza efetivamente os direitos humanos, baseada no compromisso coletivo de todos os
setores na definição das medidas a adotar e das ações a implementar. Esta abordagem

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integrada potência a colaboração e coordenação de esforços, valorizando uma visão
comum que simultaneamente tenha um efeito mais estruturante e sustentável no futuro
que se pretende construir.
A ENIND marcou um novo ciclo programático que teve início em 2018, alinhado temporal
e substantivamente com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Apoia-se em três Planos de Ação em matéria de não discriminação em razão do sexo e de
igualdade entre mulheres e homens (IMH), de prevenção e combate a todas as formas de
violência contra as mulheres, violência de género e violência doméstica (VMVD), e de
combate à discriminação em razão da orientação sexual, identidade e expressão de
género, e características sexuais (OIEC).
A eliminação dos estereótipos é assumida como preocupação central da ENIND,
orientando as medidas inscritas nos três Planos de Ação que dela decorrem. Os
estereótipos de género estão na origem das discriminações em razão do sexo diretas e
indiretas que impedem a igualdade substantiva entre mulheres e homens, reforçando e
perpetuando modelos de discriminação históricos e estruturais. Reflexo da natureza
multidimensional da desvantagem, os estereótipos na base da discriminação em razão do
sexo cruzam com estereótipos na base de outros fatores de discriminação, como a
origem racial e étnica, a nacionalidade, a idade, a deficiência e a religião. Também assim,
o cruzamento verifica-se com a discriminação em razão da orientação sexual, identidade e
expressão de género, e características sexuais, assente em estereótipos e práticas
homofóbicas, bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas, e que se manifesta em formas de
violência, exclusão social e marginalização, tais como o discurso de ódio, a privação da
liberdade de associação e de expressão, o desrespeito pela vida privada e familiar, a
discriminação no mercado de trabalho, acesso a bens e serviços, saúde, educação e
desporto.

Igualdade é uma noção tão antiga quanto complexa. Já de princípio, contrasta


simultaneamente com duas outras noções que sempre marcaram uma presença análoga
no decurso da história humana. Por um lado, igualdade opõe-se a diferença, mas, por
outro lado, é o contrário de desigualdade. Existe uma diferença sutil envolvida nestes
dois contrastes. Quando se considera o par «igualdade diferença» (ou «igual» ×
«diferente»), tem-se em vista algo da ordem das essências: uma coisa ou é igual a outro
(por menos em um determinado aspeto) ou então dela difere.

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Podemos, no. âmbito de um certo número de indivíduos, considerar sua igualdade ou
igualdade diferença em relação ao aspeto sexual, ao aspeto profissional, ao aspeto
étnico, e assim por diante. A oposição entre igualdade e diferença, se colocarmos a
questão dentro de uma perspetiva semiótica, é da ordem dos «contrários» (de duas
essências que se opõem). Já o contraste entre igualdade e desigualdade refere-se quase
sempre não um aspeto «essencial», mas a uma 'circunstância' associado a um forma de
tratamento (mesmo que esta circunstância aparentemente se eternize no interior de
determinados sistemas políticos ou situações sociais específicas).

Tratam-se dois ou mais indivíduos com igualdade ou desigualdade relativamente a algum


aspeto ou direito, conforme são concedidos mais privilégios ou restrições a um e a outro
(isto pode ocorrer independentemente de ser eles iguais ou diferentes no que se refere
ao sexo, à etnia ou à profissão). Se é verdade que as mulheres podem receber um
tratamento desigual em relação aos homens no que se preocupa com oportunidades de
trabalho (e aqui estaremos a falar na desigualdade entre os sexos), é também possível
tratar desigualmente dois homens que em nada difiram em relação a alguns dos seus
aspetos essenciais (idade, sexo, profissão, etc.). Ou seja, desigualdade diferença não são
noções necessariamente interdependentes, embora possa bem conservar relações bem
definidas no interior de determinação-dos sistemas sociais e políticos

É preciso considerar antes demais nada que as diferenças são inerentes ao mundo
humano — para não falar fazer mundo natural. De modo geral, a ocorrência de diferenças
de toda a ordem, não pode ser evitada da ação humana (nem todas como diferenças são
naturais e que muitas são construídas culturalmente). Vale dizer ainda que a ocorrência de
diferenças no mundo social está atrelada à própria diversidade inerente ao conjunto dos
seres humanos, seja no que se refere a características pessoais (sexo, etnia, idade), seja
não que se refere a questões externas (pertencimento por nascimento a esta ouàquela
localidade, ou cidadania vinculada a este ou aquele país, por exemplo).O
reconhecimento da inevitabilidade da ocorrência de diferenças reflete-se no fato de que
são raros os projetos políticos que se proponham a lutar para eliminar certos tipos de
diferenças como como sexuais, idades ou profissionais(não estamos falando ainda da
possibilidade de eliminar ou reduzir como desigual-pais sexuais, idades ou profissionais,
o que seria uma questão de outra ordem).

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A relação entre igualdade, desigualdade e diferença também pode implicar no diálogo
com outra noção bastante comum no vocabulário histórico, social e político: a de
discriminação social. De certo modo, a discriminação é um dos instrumentos da
desigualdade, em alguns casos uma de suas etapas.

A discriminação ajuda a impor precisamente um jogo de dominação e estratificação


social que afeta com menor ou maior violência grupos menos favorecidos e que lida com
uma complexa relação entre igualdade, desigualdade e diferença. A discriminação
equivale, naturalmente, a um determinado modo de conduzir socialmente as diferenças
com vistas a tratá-las desigualmente. Antes de mais nada, a discriminação depende de
que sejam percebidas e delineadas certas divisões e grupos sociais relativamente a um
aspeto mais ou menos preciso (o exemplo mais notório é a discriminação racial). Os
indivíduos, a partir daí, passarão a ser enquadrados dentro da categoria socialmente
gerada pelo sistema discriminatório, e, se no interior desta categoria passarão a ser
tratados com igualdade (não necessariamente de privilégios, mas também de
preconceitos), já a desigualdade se dará no âmbito mais amplo das relações entre as
categorias envolvidas. Ao final deste processo, que se inicia com a discriminação social,
uma categoria discriminada de homens passará a ser tratada desigualmente em relação a
outra, seja recebendo menos oportunidades de participação política ou de acesso a
emprego, seja chegando-se em alguns casos à segregação espacial ou à exclusão social.

Um outro aspeto a se considerar na história da relação entre desigualdade e diferença


refere-se à possibilidade de que uma determinada «contradição» relacionada com
desigualdade passe a ser lida socialmente como uma «contrariedade» relacionada com
diferenças.

A discriminação refere-se a atitudes que prejudicam os sujeitos pertencentes a


determinados grupos sociais e resulta de processos sociais que molestam os membros
desses grupos. O género, a etnia, a raça, a nacionalidade, a religião têm sido ao longo da
História algumas das categorias relativamente às quais se verificou discriminação.

A discriminação comporta uma diferenciação injusta e arbitrária que tem na sua base a
crença de que os indivíduos pertencentes a determinadas categorias têm maior
probabilidade de possuir características indesejáveis. A discriminação direta refere-se ao
tratamento menos favorável a alguém com base na sua pertença a um determinado

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grupo. A discriminação indireta refere-se às situações em que, apesar de não se verificar
uma discriminação formal, são aplicadas condições ou requisitos que se sabe à partida
não serem possuídos pela grande maioria dos elementos do grupo que se quer
discriminar. No século XX, grande número de países passou a prever na sua legislação a
ilegalidade da discriminação, não só de tipo direto, mas também indireto, precisamente
para operacionalizar o reconhecimento de princípios básicos de igualdade.

1.2 Sexo e Género

O 1º passo para uma melhor compreensão e interiorização do conceito de Igualdade de


Género consiste desde logo em efetuar uma distinção entre Sexo e Género. Assim sendo:

O conceito de Sexo pertence ao domínio da biologia e traduz o conjunto de


características biológicas e fisiológicas que distinguem os homens e as mulheres.

Por oposição, o conceito de Género é um conceito social que remete para as


diferenças existentes entre homens e mulheres, diferenças essas não de carácter
biológico, mas resultantes do processo de socialização. O conceito de género
descreve assim o conjunto de qualidades e de comportamentos que as
sociedades esperam dos homens e das mulheres, formando a sua identidade
social.

Sendo que a abordagem que se pretende efetuar com este manual se prende com este
conceito social, e mais concretamente com as relações que se estabelecem entre os
homens e as mulheres, sobre as quais se pretende efetivar a mudança, convém clarificar
que estas relações de género se têm caracterizado por:

serem diferentes de cultura para cultura, de religião para religião, ou de uma


sociedade para outra;

serem influenciadas por diferentes factores, tais como: a etnia, a classe social, a
condição e a situação das mulheres;

evoluírem no tempo;

serem dinâmicas e estarem no centro das relações sociais;

distinguirem-se pela sua desigualdade, havendo uma hierarquização dos géneros,

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pela qual os homens têm um lugar privilegiado em relação às mulheres.

Com base nesta constatação da existência de desigualdade nas relações de género


afigura-se como premente uma intervenção integrada nas várias esferas da sociedade,
com vista à promoção de uma plena Igualdade de Oportunidades entre Homens e
Mulheres.
A participação dos homens e mulheres no mercado de trabalho é desigual, facto
que se reflete na existência do gap salarial entre homens e mulheres e
consequentemente no maior número de situações de pobreza entre a população
feminina;
Nas empresas privadas e na administração pública, os lugares de chefia são
maioritariamente ocupados por homens, pese embora o número de mulheres
com habilitações superiores ser superior ao dos homens;
Continuam a persistir profissões tendencialmente femininas e tendencialmente
masculinas;
Continuam a verificar-se diferentes participações e usos do tempo entre homens e
mulheres no que diz respeito à vida familiar, sendo que as mulheres são ainda as
principais responsáveis pela execução das tarefas domésticas e pela prestação de
cuidados à família;
Não obstante a licença de maternidade/paternidade, de acordo com a lei, poder
ser partilhada pela mãe e pelo pai, são ainda poucos os homens que auferem
deste direito, em grande parte devido ao modo como são estigmatizados no seu
local de trabalho;
Persistem as barreiras psicossociais no que diz respeito ao acesso a cargos
políticos e à participação na vida cívica em geral, por parte das mulheres;
As mulheres ocupam uma posição desigual no que diz respeito ao trabalho
remunerado, nomeadamente no que diz respeito a dificuldades na gestão do
tempo, decorrentes das exigências sociais (ainda) impostas nos cuidados
prestados à família;
Pese embora a legislação em vigor garanta a Igualdade de Oportunidades entre
mulheres e homens no mercado de trabalho, na prática ainda se verificam
expectativas diferenciadas para mulheres e homens, decorrentes de estereótipos

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e papéis sociais de género;
A crescente participação feminina no mundo laboral é importante não só para o
sustento das famílias, mas também para a própria valorização pessoal das
mulheres e sobretudo para a economia global;

A integração da perspetiva do género desafia as políticas convencionais e a repartição


dos recursos e reconhece a forte interligação entre a desvantagem relativa que afeta as
mulheres e a vantagem relativa de que gozam os homens.

1.3 Papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos

Nas ciências sociais e humanas, papel social de género é um conjunto de


comportamentos associados com masculinidade e feminilidade, em um grupo ou sistema
social. Todas as sociedades conhecidas possuem um sistema sexo/género, ainda que os
componentes e funcionamento deste sistema varie bastante de sociedade para
sociedade.

Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os
cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há
extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são
especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/género, já que as pessoas
possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto género depende do sexo
biológico.

As desigualdades de género manifestam-se na vivência da pobreza. Recorda-se a este


propósito, a situação de desvantagem de muitas mulheres no mercado de trabalho, para
a qual contribuem as iníquas oportunidades de acesso ao emprego e de
desenvolvimento profissional, assim como os fenómenos de segregação horizontal e
vertical, a subremuneração e o hiato (gap) salarial, os constrangimentos que motivam
percursos laborais mais irregulares, a precariedade e o desemprego, incluindo o de
(muito) longa duração.

Devemos, ainda, continuar a lutar contra a violência de género, nomeadamente aquela

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que é exercida na esfera doméstica, e a combater o tráfico de seres humanos, pois são
fatores que potenciam (e refletem) a vulnerabilidade socioeconómica das mulheres.

Na linha das orientações da Plataforma de Acão de Pequim (1995), um estudo promovido


pela CIG e desenvolvido por docentes do ISEG, revelou a multidimensionalidade do
conceito de pobreza e a importância de serem observados outros vetores de análise,
sobretudo quando se procura introduzir uma perspetiva de género.

Assim sendo, além dos recursos económicos e da privação material, importa apreender a
complexidade do fenómeno à luz das várias dimensões de bem-estar em que a privação
se possa verificar (mercado de trabalho, saúde, educação e formação, habitação,
proteção social, família, segurança e participação social).

Hoje, elevados níveis de progresso, prosperidade e bem-estar coexistem com o


inaceitável aumento da pobreza. Este é um dos paradoxos mais críticos do tempo
presente. Todas as pessoas têm direito à dignidade humana. Esta luta não pode
dispensar a integração de uma perspetiva de género.

Os Papeis de gênero referem-se a um conjunto de padrões e expectativas de


comportamentos que são aprendidos em sociedade correspondentes aos diferentes
gêneros e que conformam as identidades dos indivíduos pertencentes a esses grupos.
São a manifestação social ou a representação social do que é ser macho ou fêmea, em
diferentes culturas ou mesmo dentro de uma mesma cultura, segundo Miriam Grossi. O
processo de produção desses comportamentos não se dá de forma individual, mas
depende das posições que esses indivíduos ocupam em uma determinada coletividade e
em situações sociais concretas.

A maioria dos pesquisadores reconhece que o comportamento dos indivíduos é uma


consequência das regras e valores sociais, e da disposição individual, seja genética,
inconsciente ou consciente. Alguns pesquisadores enfatizam o sistema social e outros
enfatizam orientações subjetivas e disposições.

Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os
cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há
extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são
especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/gênero, já que as pessoas

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possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto gênero depende do sexo
biológico. Outro ponto de concordância é a possibilidade de mudança dos padrões de
comportamento, na medida em que o comportamento dos indivíduos na sociedade é
influenciado pela cultura (regras e valores coletivos) e pela disposição interna de cada um
ou cada uma. A identificação dos diferentes comportamentos de gênero é uma
ferramenta de análise fundamental para a compreensão do lugar ocupado pela categoria
gênero na escala social e o valor socialmente dado a cada um dos grupos e, a partir daí,
foi possível a sua desconstrução e desnaturalização.

É importante também assinalar que esses padrões não são absolutos e homogêneos, o
que significa que devemos compreendê-los como expectativas socialmente assumidas
pela sociedade, mas que não representam o conjunto de atitudes e comportamentos de
todos os indivíduos dos grupos de forma homogênea. Para Iris Marion Young, “dizer que
uma pessoa é uma mulher pode antecipar algo sobre os constrangimentos e expectativas
em geral com os quais ela precisa lidar. Mas não antecipa qualquer coisa em particular
sobre quem ela é, o que ela faz, como ela vivencia sua posição social".

Estereótipo é o conceito ou imagem preconcebida, padronizada e generalizada


estabelecida pelo senso comum, sem conhecimento profundo, sobre algo ou alguém.
E usado principalmente para definir e limitar pessoas quanto a aparência (cor da pele,
tipo de vestimentas, uso de acessórios, etc), naturalidade (região ou país de origem) e
comportamento (religião, cultura, crença, nível de educação, etc).
Os estereótipos de gênero são crenças generalizadas sobre as características e o
comportamento das mulheres e dos homens sejam elas compartilhadas ou individuais.
Estudos empíricos têm encontrado crenças culturais amplamente compartilhadas de que
os homens são mais socialmente valorizados e mais competentes do que as mulheres em
uma série de atividades. O estereótipo é um comportamento negativo que se espera de
alguém que recebe um estigma. O estigma da mulher começou por razões irracionais,
conforme estudo de Bacila. Assim, espera que a mulher se comporte de maneira inferior
(estereótipo), porém, nem o estigma, nem tao pouco os estereótipo encontram base
racional.

“A eliminação dos estereótipos é assumida como preocupação central da ENIND, orientando as


medidas inscritas nos três Planos de Ação que dela decorrem. Os estereótipos de género estão na

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origem das discriminações em razão do sexo diretas e indiretas que impedem a igualdade
substantiva entre mulheres e homens, reforçando e perpetuando modelos de discriminação
históricos e estruturais.
Reflexo da natureza multidimensional da desvantagem, os estereótipos na base da discriminação
em razão do sexo cruzam com estereótipos na base de outros fatores de discriminação, como a
origem racial e étnica, a nacionalidade, a idade, a deficiência e a religião. Também assim, o
cruzamento verifica -se com a discriminação em razão da orientação sexual, identidade e
expressão de género, e características sexuais, assente em estereótipos e práticas homofóbicas,
bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas, e que se manifesta em formas de violência, exclusão social e
marginalização, tais como o discurso de ódio, a privação da liberdade de associação e de
expressão, o desrespeito pela vida privada e familiar, a discriminação no mercado de trabalho,
acesso a bens e serviços, saúde, educação e desporto.”

1.4 Discriminação direta e indireta

A discriminação consiste numa ação ou omissão que dispense um tratamento


diferenciado (inferiorizado) a uma pessoa ou grupo de pessoas, em razão da sua pertença
a uma determinada raça, cor, sexo, nacionalidade, origem étnica, orientação sexual,
identidade de género, ou outro fator.
A legislação portuguesa considera determinados comportamentos discriminatórios como
sendo crimes, e outros como sendo contraordenações, consoante a sua gravidade.
O crime de discriminação ocorre sempre que houver a constituição de organizações ou a
divulgação ao público de materiais que incitem a discriminação, o ódio ou a violência
contra uma pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou
nacional, religião, sexo ou orientação sexual.
inda no âmbito dos crimes, temos também os chamados crimes de ódio, que podem ser
definidos como a prática efetiva de atos de violência motivados pelo facto de a vítima
apresentar determinada característica (como certa origem racial, orientação sexual ou
origem nacional, por exemplo), ou de pertencer a um determinado grupo (como um
determinado grupo religioso). Esta motivação racista ou discriminatória pode levar à
aplicação de uma pena mais elevada no caso dos crimes de ofensa à integridade física e
homicídio.

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Por outro lado, a discriminação enquanto contraordenação ocorre quando uma pessoa é
impedida de exercer os seus direitos relacionados ao acesso a bens e serviços, ao
emprego e formação profissional, ao ensino e ao sistema de saúde públicos e privados,
dentre outros.
Alguns exemplos de situações de contraordenações por práticas discriminatórias
previstas na legislação:

- Recusa de fornecimento ou impedimento de fruição de bens ou serviços (por


exemplo, recusar o fornecimento de refeições num restaurante a pessoas de uma
determinada origem racial ou étnica);
- Impedimento ou limitação ao acesso e exercício normal de uma atividade
económica (como no caso de empregadores que não admitem funcionários de
nacionalidade estrangeira ou de determinada origem racial);
- A recusa ou condicionamento de venda, arrendamento ou subarrendamento de
imóveis (por exemplo, senhorios que recusam-se a arrendar o imóvel a cidadãos
estrangeiros);
- A recusa de acesso a locais públicos ou abertos ao público (recusar a entrada
numa casa de shows ou discoteca com base em motivos discriminatórios);
- A recusa ou limitação de acesso aos cuidados de saúde prestados em
estabelecimentos de saúde públicos ou privados (como o funcionário que nega a
inscrição de alguém no centro de saúde pelo facto de ser cidadão estrangeiro);
- A recusa ou limitação de acesso a estabelecimento de educação ou ensino
público ou privado (como recusar a matrícula de alunos de origem cigana em
escolas públicas ou privadas);
- A constituição de turmas ou a adoção de outras medidas de organização interna
nos estabelecimentos de educação ou ensino, públicos ou privados, segundo
critérios de discriminação racial (por exemplo, criar turmas de alunos estrangeiros
ou de alunos de uma determinada origem racial, a não ser que tal seja feito para
benefício dos próprios alunos, como para o aprendizado da língua portuguesa
para aqueles que não a dominam);
- A adoção de prática ou medida, por parte de qualquer órgão, funcionário ou
agente da administração direta ou indireta do Estado, das Regiões Autónomas ou
das autarquias locais, que condicione ou limite o exercício de qualquer direito

17
(como o presidente de uma determinada Câmara Municipal que proíba cidadãos
estrangeiros de fazerem pedidos de casas sociais);
- A adoção de ato em que, publicamente ou com intenção de ampla divulgação,
pessoa singular ou coletiva emita uma declaração ou transmita uma informação
em virtude da qual um grupo de pessoas seja ameaçado, insultado ou aviltado por
motivos de discriminação racial (por exemplo, o diretor de uma empresa que
forneça uma entrevista na comunicação social a dizer que não contrata pessoas de
uma determinada nacionalidade por serem todos “preguiçosos”).

Qualquer cidadão/ã confrontado/a com uma situação de discriminação, seja ou não ele/a
a vítima, pode denunciar a situação junto da entidade competente.

No caso dos crimes, tanto o crime de discriminação propriamente dito como os crimes de
ódio (homicídio e ofensas à integridade física qualificados) são considerados crimes
públicos e, portanto, qualquer pessoa pode denunciá-los às autoridades (Polícia ou
Ministério Público).

Também no caso da discriminação enquanto contraordenação qualquer pessoa pode


denunciá-la. Neste âmbito, existem duas situações diferentes que merecem atenção:

- Caso a discriminação tenha sido praticada no local de trabalho ou pela entidade


patronal, a entidade competente para receber a queixa será a Autoridade para as
Condições no Trabalho (ACT);
- Em todas as outras situações, as queixas devem ser enviadas à Comissão para a
Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), que funciona junto do Alto
Comissariado para as Migrações (ACM).

A CICDR é um órgão de composição plural, presidido pela Alta-Comissária para as


Migrações e composto por representantes dos grupos parlamentares da Assembleia da
República, do Governo, dos Governos Regionais dos Açores e da Madeira, das
associações de imigrantes, das associações antirracistas, das centrais sindicais, das
associações patronais, das comunidades ciganas, das associações de defesa dos direitos

18
humanos bem como personalidades de reconhecido mérito, designadas pelos restantes
membros.

Nos termos do art.º 8º da Lei n.º 93/2017, de 23 de agosto, compete à CICDR


acompanhar a aplicação desta Lei, sendo da sua competência:

Recolher toda a informação relativa à prática de atos discriminatórios e à aplicação


das respetivas sanções;
Tornar público, por todos os meios ao seu alcance, os casos de efetiva violação da
presente lei e nos termos nesta definidos;
Recomendar a adoção das medidas legislativas regulamentares e administrativas
que considere adequadas para prevenir práticas discriminatórias por motivos
baseados na origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de
origem e formular recomendações ao Governo sobre qualquer questão
relacionada;
Propor medidas que visem suprimir disposições legislativas, regulamentares e
administrativas contrárias ao princípio da igualdade e da não discriminação;
Promover a realização de estudos e trabalhos de investigação sobre a
discriminação em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência
e território de origem;
Prestar às vítimas de discriminação a informação necessária para a defesa dos seus
direitos;
Encaminhar as partes, prestado o respetivo consentimento, para processos de
mediação, sem prejuízo de meios extrajudiciais de resolução de conflitos que
sejam obrigatórios nos termos da lei;
Receber denúncias e abrir os respetivos processos de contraordenação;
Solicitar informações e pareceres, bem como a realização das diligências
probatórias que considere necessárias às autoridades policiais ou a outros órgãos
ou serviços da administração direta ou indireta do Estado, das regiões autónomas
ou das autarquias locais, para efeitos de instrução dos processos de
contraordenação;
Decidir e aplicar as coimas e sanções acessórias no âmbito dos processos de
contraordenação, através da Comissão Restrita ou Permanente;

19
Articular com os órgãos competentes na área da não discriminação em razão de
fatores diferentes da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e
território de origem, em casos de discriminação múltipla;
Elaborar informação estatística de carácter periódico;
Promover a educação, formação e sensibilização sobre direitos humanos e a
prevenção e combate à discriminação racial e étnica;
Promover a criação de códigos de boas práticas no combate à discriminação racial
e étnica;
Elaborar e publicitar um relatório anual sobre a situação da igualdade e da
discriminação racial, incluindo informação recolhida sobre práticas discriminatórias
e sanções aplicadas, bem como a avaliação do impacto de medidas tomadas
sobre homens e mulheres, para este efeito articulando com a Comissão para a
Cidadania e a Igualdade de Género e a Comissão para a Igualdade no Trabalho e
no Emprego.

Quaisquer queixas, que se enquadrem no objeto da Lei n.º 93/2017, de 23 de agosto,


podem ser apresentadas no formulário eletrónico, presencialmente junto da própria
CICDR, do ACM, ou através de correio eletrónico enviado para cicdr@acm.gov.pt ou por
correio postal, endereçado à Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a
Discriminação Racial, enviado para a Rua Álvaro Coutinho, 14, 1150-025 Lisboa, ou ainda
presencialmente nesta morada.

Considera-se que existe discriminação direta sempre que uma pessoa ou grupo de
pessoas seja objeto de tratamento desfavorável em razão da origem racial e étnica, cor,
nacionalidade, ascendência e território de origem, designadamente em relação àquele
que é, tenha sido ou possa vir a ser dado a outra pessoa ou grupo de pessoas em
situação comparável.

Considera-se que existe discriminação indireta sempre que em razão da origem racial e
étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem, uma disposição, critério ou
prática aparentemente neutra coloque uma pessoa ou grupo de pessoas numa situação

20
de desvantagem, designadamente em comparação com outra pessoa ou grupo de
pessoas, a não ser que essa disposição, critério ou prática seja objetivamente justificada
por um objetivo legítimo e que os meios utilizados para o alcançar sejam adequados e
necessários.

A lei utiliza a expressão “discriminação racial” para enquadrar todos os comportamentos


que direta ou indiretamente, prejudiquem uma pessoa em razão da sua origem racial e
étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem.

Segundo a Lei n.º 93/2017, de 23 de agosto, entende-se por «Discriminação», qualquer


distinção, exclusão, restrição ou preferência em razão da origem racial e étnica, cor,
nacionalidade, ascendência e território de origem, que tenha por objetivo ou efeito a
anulação ou restrição do reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de
igualdade, de direitos, liberdades e garantias ou de direitos económicos sociais e
culturais.
A discriminação racial constitui crime, se preencher os requisitos previstos no Artigo 240º
do Código Penal, que tipifica e pune o crime de discriminação e incitamento ao ódio e à
violência. Nos restantes casos de ocorrência de práticas discriminatórias em que não
estejam preenchidos os requisitos ali previstos a discriminação racial, étnica, em razão da
nacionalidade, da ascendência ou do território de origem poderá ser punida como
contraordenação, pela CICDR.

Artigo 240.º
Discriminação e incitamento ao ódio e à violência
1 - Quem:
a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver atividades de propaganda organizada que
incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da
sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade
de género ou deficiência física ou psíquica, ou que a encorajem; ou
b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou lhes prestar
assistência, incluindo o seu financiamento;
é punido com pena de prisão de um a oito anos.

2 - Quem, publicamente, por qualquer meio destinado a divulgação, nomeadamente através da


apologia, negação ou banalização grosseira de crimes de genocídio, guerra ou contra a paz e a
humanidade:

a) Provocar atos de violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor,
origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de

21
género ou deficiência física ou psíquica;
b) Difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica
ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de género ou
deficiência física ou psíquica;
c) Ameaçar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou
nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de género ou
deficiência física ou psíquica; ou
d) Incitar à violência ou ao ódio contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça,
cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade
de género ou deficiência física ou psíquica;
e) é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.

22
2. REFLETIR SOBRE A REALIDADE
2.1 Porquê esta desigualdade?

A promoção da igualdade entre mulheres e homens constitui atualmente, por força da


Constituição uma das tarefas fundamentais do Estado Português e, nos termos do
Tratado que institui a Comunidade Europeia, uma das missões da União Europeia.

Desde há cerca de 25 anos que as leis têm vindo a mudar, deixando de hierarquizar os
sexos, para reconhecer a igualdade das mulheres e dos homens.

Diversas práticas sociais mudaram também e estamos longe do tempo em que se


considerava ‘natural’ que as mulheres vivessem apenas em função dos homens e da
família.

Para estas alterações foi determinante o regime democrático em que Portugal passou a
viver após 25 de Abril de 1974, bem como a adesão do País à então Comunidade
Económica Europeia.

Por outro lado, a ação que ao longo do tempo, foi desenvolvida por instituições públicas,
por Organizações não-governamentais e por organizações internacionais, com destaque
para a ONU, a OIT, a OCDE e o Conselho da Europa, muito contribuiu também para a
mudança.
No entanto, apesar dos progressos alcançados na lei e na vida, apesar do igual estatuto
de cidadania das mulheres e dos homens tanto na esfera privada como na esfera pública,
a maioria dos nossos indicadores e muito do nosso quotidiano ainda refletem papéis e
expectativas sociais padronizados em função da divisão sexual estagnada e tradicional do
trabalho:

Para as mulheres, a obrigação dos cuidados à família, o trabalho invisível e não


remunerado, o espaço doméstico, o desvalor de um emprego entendido como
suplemento do rendimento familiar, que só ‘compensaria’ se rendesse mais do
que a soma dos gastos inerentes à saída da mulher de casa’ aliada ao não
agravamento de encargos fiscais, a dupla tarefa e as inerentes culpabilidades por
incumprimentos relativos.

23
Para os homens, a obrigação do sustento familiar, o trabalho pago, a carreira, o
poder no espaço público, o desvalor do investimento no apoio à vida doméstica e
familiar, a liberdade de dispor sem constrangimentos do tempo que não
correspondesse ao exercício da atividade profissional.

Este olhar sobre as relações sociais entre as mulheres e os homens deixou, porém, de ser
coerente com o reconhecimento dos direitos humanos.

Hoje e particularmente desde as Conferências das Nações Unidas, em Viena sobre


Direitos Humanos (1993) e em Pequim sobre as Mulheres (1995), existe a consciência de
que a humanidade não é neutra mas dual: os seres humanos ou são homens ou são
mulheres. Logo, não há masculino universal, “englobando” ou “representando” todos os
homens e todas as mulheres. São todos os homens e todas as mulheres, como tal, em
concreto e em igualdade, os sujeitos de todos os direitos humanos, designadamente o
direito ao trabalho, o direito à vida familiar, o direito à participação política.
Assim, não é mais aceitável que as diferenças de sexo, que são biológicas, continuem a
conduzir às desigualdades de género, que são sociológicas e se traduzem no
desequilíbrio claro de participação dos homens e das mulheres tanto na esfera pública
como na esfera privada.

Com efeito, as diferenças biológicas de sexo são decorrentes da natureza, por isso
naturais, em princípio imutáveis e insuscetíveis de se traduzir diretamente em
discriminação, enquanto as desigualdades de género são socialmente construídas, por
isso geradoras de comportamentos discriminatórios e só mantidas num quadro de
aceitação social generalizada.
Da experiência de intervenção da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
– CITE – resulta hoje claro que não é possível dar adequado cumprimento à legislação da
igualdade entre as mulheres e os homens no trabalho e no emprego, e assim ao mandato
da CITE, sem gerar e desenvolver coerentemente uma consciência individual e um
ambiente social favoráveis à concretização da igualdade, suscetíveis de alterar as
condições estruturais que mantêm a aceitação generalizada da discriminação em função
do sexo.
É que quem não quer reconhecer a injustiça em que a discriminação em função do
género se traduz, tende a ver no cumprimento da lei um “custo de produção” inútil e

24
caro, um resquício de “feminismos datados”, uma “guerra de sexos” estéril e provocada
por despeitos vários, um fator de desestabilização social.

Com os devidos ajustamentos, não foi muito diferente o que se passou com a introdução
de exigências legais e compromissos internacionais em matéria de preservação do
ambiente. Até as pessoas tomarem consciência de que se tratava da sobrevivência do
espaço em que viviam e do perigo que corriam.
A menos que se queira regressar às épocas em que a democracia e os direitos humanos
não constituíam os alicerces da sociedade, pelo que um dos sexos, cerca de metade da
humanidade, podia, livremente, ominar o outro, pela força se necessário, importa agora
que as pessoas tomem consciência de que sem igualdade entre mulheres e homens é a
sua própria sobrevivência como espécie que está ameaçada. Nuns casos por excesso de
população,
noutros por defeito dela, como vai resultando evidente das estatísticas demográficas e da
documentação de agências especializadas, designadamente, do sistema das Nações
Unidas.
A sensibilização da opinião pública, e, em particular, a formação, constitui um dos aspetos
determinantes neste âmbito. Isto mesmo foi reconhecido por todos os Planos Nacionais
de Emprego portugueses decorrentes da Estratégia Europeia para o Emprego na União
Europeia, também no pressuposto de que o bom desempenho da economia e o
financiamento dos sistemas de segurança social implicam o aproveitamento pleno do
trabalho remunerado do maior número possível de recursos humanos.

A Igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e uma


condição de justiça social, sendo igualmente um requisito necessário e fundamental para
a igualdade, o desenvolvimento e a paz.

A Igualdade de Género exige que, numa sociedade, homens e mulheres gozem das
mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas.

Dito de outra maneira, mulheres e homens devem e beneficiar das mesmas condições:
No acesso à educação

Nas oportunidades no trabalho e na carreira profissional

25
No acesso à saúde

No acesso ao poder e influência

Tendo em conta as desigualdades e grandes assimetrias que persistem, a promoção da


igualdade tem vindo a passar, um pouco por todo o mundo, pelo empoderamento das
mulheres e pela melhoria da sua saúde sexual e reprodutiva, nomeadamente o acesso a
um planeamento familiar efetivo. Num outro nível de decisão, a introdução da perspetiva
de género nas políticas é uma das ferramentas fundamentais de combate às
desigualdades.

2.2 Mecanismos reprodutores de desigualdades

As mulheres têm uma esperança de média de vida mais elevada que os homens, o que
torna o apoio social muitas vezes insuficiente, dado que as mulheres estão sempre
sobrecarregadas com o apoio a terceiros. Os cuidados de crianças, doentes e velhos
recaem predominantemente sobre as mulheres.

As mulheres e crianças são as grandes vítimas da exploração sexual.

O desemprego afeta mais mulheres que homens.

Por estarem mais sobrecarregadas, com a multiplicidade de tarefas domésticas e


trabalho, as mulheres sofrem com a indisponibilidade de tempo para cuidar delas
próprias.

As políticas e serviços de saúde não estão ainda adaptados às necessidades de um


género com "menos" tempo.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mulheres manifestam


maiores níveis de ansiedade e de depressão. Situações muitas vezes despoletadas
pela pressão da vida quotidiana e não tanto com fatores biológicos.

A violência doméstica afeta sobretudo as mulheres.

26
Os salários para as mesmas funções são mais elevados para homens do que para
mulheres.

As mulheres contribuem para a economia através de trabalho remunerado, mas


também através de trabalho não remunerado realizado em casa, mas as tarefas
domésticas são simbolicamente desvalorizadas.

As mulheres e raparigas estão sujeitas a estereótipos sociais mais prejudiciais face


aqueles que se associam aos homens.

As desordens alimentares, como a anorexia e bulimia, afetam mais raparigas que


rapazes. A obsessão com o corpo e a pressão dos media afeta muito mais as
raparigas.

A pobreza é feminina!

27
3. INTERVIR PARA A MUDANÇA

3.1 A economia como motor de igualdade

Na maioria dos países, a intervenção do Estado contra a discriminação das mulheres


percorreu sucessivamente três fases: primeiro, a discriminação baseada no sexo foi
eliminada da lei, depois, foi introduzida legislação diferenciada para erradicar a
discriminação das mulheres no emprego e, finalmente, dada a modéstia dos resultados e
o aprofundamento da investigação e do debate, foram promovidas políticas de igualdade
de oportunidades, através das ações positivas.

Por ações positivas ou afirmativas designam-se todos os programas de intervenção que


de forma voluntária ou sob imposição legal pretendem aumentar, manter ou rearranjar o
número ou o estatuto dos membros de certos grupos, comummente definidos pela etnia
ou pelo sexo, no seio de um grupo mais amplo. Estas ações visam eliminar práticas que
perpetuam as desigualdades (como o recrutamento, a formação, a classificação
profissional, a promoção, a organização de trabalho, os benefícios sociais, os regimes de
reforma, as formas complementares de remuneração e as relações e o clima de trabalho).
Com as ações afirmativas pretende-se compensar discriminações praticadas no passado e
prevenir que tenham lugar no futuro. As medidas tomadas vão desde campanhas de
sensibilização junto da opinião pública até à imposição de sistemas de quotas. Os
governos recorrem quer à atribuição de subsídios às empresas e organizações que
respondam favoravelmente, quer à aplicação de sanções às que não correspondam ao
exigido.

As ações positivas no mercado de trabalho têm que ser entendidas como uma resposta
aos limites de uma legislação anti-discriminatória a que subjaz o masculino como
‘modelo’ e o feminino como ‘diferença’,
assentando em queixas individuais ou denúncias de casos de discriminação. As acções
positivas são antes uma intervenção proactiva e procuram prevenir a discriminação,
particularmente a indireta,
através da construção de um ambiente em que a igualdade prevaleça.

28
A noção de discriminação indireta foi um dos mais importantes resultado da experiência
proporcionada pela legislação contra a discriminação direta. Segundo aquela noção, uma
norma ou um procedimento neutro pode vir a ser considerado discriminatório, se se
verificar que a sua aplicação tem efeitos muito desproporcionados, num grupo bem
identificado de pessoas. Em princípio, estes efeitos adversos são passíveis de serem
detetados através da sua expressão estatística.
A mudança de paradigma introduzida pela noção de discriminação indireta traduz-se no
reconhecimento de que a discriminação ocorre, independentemente dos
comportamentos ou ações individuais. Ou seja, que as decisões discriminatórias são
frequentemente baseadas em políticas que estruturam cada organização em particular ou
cada sociedade no seu todo. A discriminação indireta é estrutural ou sistémica e abre as
portas ao questionamento a um vasto leque de práticas laborais e institucionais.
Para que esta questão seja melhor entendida, há que recorrer a um esquema
interpretativo mais abrangente que torne inteligível o conjunto de práticas e
representações em jogo no mundo laboral, o qual não constitui exceção ao caldo cultural
tradicional, todo ele imbuído de regras, normas e representações profundamente
marcadas pelo sexismo.

Uma boa forma de percecionar o alcance das transformações necessárias a uma plena
igualdade de tratamento e de oportunidades entre os homens e as mulheres no sistema
económico é a análise dos seis objetivos estratégicos definidos pela Plataforma de Acção
de Pequim no que diz respeito a esta área de intervenção governamental (Plataforma de
Acão de Pequim, pp. 111-134), a saber:
Promover a independência e os direitos económicos das mulheres, incluindo o
acesso ao emprego, a condições de trabalho adequadas e ao controlo dos
recursos económicos;

Facilitar o acesso das mulheres, em condições de igualdade, aos recursos, ao


emprego, aos mercados e ao comércio;

Proporcionar serviços comerciais, formação e acesso aos mercados, informação e


tecnologia, particularmente às mulheres com baixos rendimentos;

Reforçar a capacidade económica e as redes comerciais das mulheres;

29
Eliminar a segregação profissional e todas as formas de discriminação no
emprego;

Fomentar a harmonização das responsabilidades das mulheres e dos homens no


que respeita ao trabalho e à família.

3.2 A família como motor de igualdade

A problemática da conciliação entre actividade profissional e vida pessoal e familiar tem


assumido importância crescente nos vários países da União Europeia, resultado de
mudanças de vária ordem ocorridas nas sociedades modernas.
A nível do mercado de trabalho, e após se ter assistido, desde o período da revolução
industrial, a um processo de separação entre o espaço de trabalho produtivo (a fábrica) e
o espaço de consumo reprodutivo (a família), com a inerente divisão entre papéis
masculinos e femininos, verifica-se que desde meados deste século as mulheres têm uma
forte presença no conjunto da população ativa.

As estruturas e relações familiares também sofreram alterações. As figuras da mulher


dona de casa e do homem chefe de família responsável pelo sustento económico do
respetivo agregado familiar foram tendencialmente substituídas pelo modelo da família
de duplo
emprego com ambos os cônjuges a contribuírem para o orçamento doméstico, sendo
igualmente de referir as situações de monoparentalidade em que a mulher é chefe de
família e única provedora de recursos.
Mas apesar de ter havido esta mudança de práticas e de atitudes, que reconhece às
mulheres novos papéis sociais, as formas de organização da vida em sociedade assentam
ainda no pressuposto de que as mulheres continuam, a nível da família, a assumir mais
integralmente do que os homens um leque de responsabilidades com o cuidado dos
filhos e de outros familiares, ficando impossibilitadas de, no plano profissional,
desenvolverem carreira e ocuparem determinados postos de trabalho, em pé de
igualdade com o sexo masculino.

30
As mulheres preenchem maioritariamente lugares de base nas estruturas organizacionais
que as empregam e tendem a estar adstritas a tarefas que correspondem ao
prolongamento das suas atividades na esfera doméstica. Trabalho em tempo parcial ou
percursos profissionais interrompidos – enquanto têm filhos pequenos ou precisam de
cuidar de familiares idosos – são, muitas vezes, a resultante possível para quem tem de
acumular trabalho profissional com trabalho familiar. Processos de segregação vertical
cruzam-se, deste modo, com formas de segregação horizontal e constituem obstáculo no
acesso a uma cidadania plena por parte de um conjunto grande da população feminina.
Os homens, por seu lado, têm estado limitados nas suas possibilidades de participação
na vida familiar, nomeadamente quando os filhos nascem ou precisam de cuidados
especiais. São raras as circunstâncias em que o pai tem condições profissionais para
acompanhar o bebé nos
primeiros tempos de vida ou ficar em casa com os filhos quando estes estão doentes.

Várias são, no entanto, as medidas preconizadas e, em muitos casos já postas em prática,


para obstarem a estas situações e proporcionarem a conciliação entre vida familiar e vida
profissional. Tais medidas podem desenvolver-se a diferentes níveis, abrangendo uma
pluralidade de espaços sociais:

A nível macro-social, refira-se todo o conjunto de políticas e ações positivas


definidas pelo Estado, de modo a favorecer maior equilíbrio, para ambos os sexos,
entre profissão e vida familiar. A regulamentação de novas formas de organização
do trabalho e a redefinição das licenças parentais para proporcionar também aos
homens - desde 1999 com um direito individual a licença por paternidade
autonomizada – a possibilidade de acompanharem e cuidarem dos filhos são
passos importantes nesse sentido. De igual modo o são o investimento em
infraestruturas sociais, como serviços de guarda e cuidado de crianças, dosos e
doentes, e ainda os incentivos à criação de serviços de proximidade que
correspondam às actuais necessidades das populações.

Por último, num nível intermédio ou meso-social, refira-se o papel das empresas e
das entidades empregadoras em geral, no sentido de criarem culturas

31
organizacionais valorizadoras de novos papéis masculinos e femininos, no plano
profissional e no plano familiar. É importante que a entidade empregadora e os
colegas de profissão reconheçam caberem também aos homens
responsabilidades familiares.

Deste reconhecimento irão emergir práticas que contribuem para a igualdade de


oportunidades entre mulheres e homens no acesso a carreiras profissionais e no
domínio das relações familiares.
É também a este nível que se situa o contributo do poder local – mais próximo das
populações e melhor conhecedor das suas necessidades – para localmente
implementar as políticas estatais ou suscitar a criação de parcerias entre as várias
instituições locais, públicas e privadas, donde resultem formas de
desenvolvimento social local assentes em modelos de organização comunitária
consentânea com os modos de vida, pessoal, familiar e profissional, de mulheres e
homens.
A nível micro-social, e reportando-nos à família, importa sublinhar a necessária
mudança de atitudes e práticas, de modo a haver uma efectiva partilha de
responsabilidades e tarefas entre os membros do casal.

Um outro fator de primordial importância tem a ver com a mudança de práticas e de


atitudes a nível da vida familiar, por parte de mulheres e de homens. Dos homens espera-
se uma maior responsabilidade e partilha na realização das tarefas domésticas e na
prestação de cuidados
pessoais aos filhos e aos restantes membros do agregado familiar.
Mas esta mudança depende também da atitude das mulheres e da sua disponibilidade
para deixar partilhar um espaço que em grande parte tem constituído domínio de poder
feminino. É, pois, fundamental que as mulheres abram mão de algum desse poder. Há,
no entanto, que ter presente que não é exigível às mulheres que partilhem com os
homens o único poder de que dispõem, sem que os homens partilhem com elas o poder
do espaço público e político. A participação equilibrada dos homens e das mulheres em
todas as esferas da vida tem, assim, que ser recíproca e simultânea.
Às mães e aos pais, por outro lado, impõe-se um modelo de socialização das crianças
menos diferenciador e segregador dos papéis de género, apostado na transmissão de

32
saberes e práticas de autonomia pessoal em contexto familiar tanto a raparigas como a
rapazes.

3.3 A democracia paritária como motor de igualdade

Verificada a situação de desigualdade de mulheres e homens nos processos de decisão a


todos os níveis – político, económico, social – podemos e devemos interrogar-nos.
Será normal que assim seja? Que o mundo seja dividido e compartimentado, com uns
que decidem por toda comunidade e outros – neste caso outras – que, sendo parte
interessada e igualmente atingida, positiva e negativamente, pelas decisões tomadas,
sobre elas não se
pronuncie e sobre elas não possa fazer escolhas ou estabelecer prioridades.

Será que esta exclusão é um facto natural, não problemático, fruto apenas de
circunstâncias sociais e culturais e sem consequências decisivas para a evolução social?
Ou será antes que a exclusão ou forte marginalização de metade da humanidade nega,
não só os princípios da justiça e da equidade, mas também o fundamento mesmo sobre
o qual se constrói a sociedade democrática?
Por outro lado, para além da justiça e da equidade, será que a ausência das mulheres dos
postos de decisão acarreta alguma perda para a própria sociedade? E que a sua presença
atuante pode trazer alguma mais valia à qualidade da gestão da coisa pública e da vida
de todos nós?

3.4 O direito como motor de igualdade

Evidenciando a importância do direito como motor da igualdade entre homens e


mulheres, sublinha-se a importância da legislação promulgada logo após a proclamação
da República.

Novas leis sobre o casamento e a filiação baseiam o casamento na igualdade. O crime de


adultério passa a ter o mesmo tratamento quando cometido por mulheres ou homens. O

33
Decreto de 3 de Novembro de 1910, conhecido por Lei do Divórcio, admitiu o divórcio
pela primeira vez em Portugal e reconheceu a igualdade de tratamento tanto nas causas
do divórcio como nos direitos sobre os filhos.
Com a Constituição de 1911 reconheceu-se o direito das mulheres a trabalhar na função
pública.
Pelo Decreto nº 4876, de 17 de Julho de 1918, foi autorizado às mulheres o exercício da
advocacia.
Em 1920, as raparigas são autorizadas a frequentar liceus masculinos.
O Estado Novo reconheceu novos direitos às mulheres, mas quase sempre numa situação
de desfavor em relação aos homens.
Com efeito, o Decreto n.º 19 694, de 5 de Maio de 1931, reconheceu o direito de voto às
mulheres diplomadas com cursos secundários ou superiores, embora aos homens se
continuasse a exigir apenas que soubessem ler e escrever.

Também a Lei nº 2 137, de 26 de Dezembro de 1968, proclama a igualdade de direitos


políticos do homem e da mulher, seja qual for o seu estado civil, mas em relação às
eleições locais, apenas ‘os chefes de família’ são eleitores das Juntas de Freguesia.
Do mesmo modo, a alteração, em 1971, da Constituição de 33 relativamente ao princípio
da igualdade, conservou a expressão “salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes
da sua natureza”, mas omitindo “o bem da família”.

De notar, que apenas em 1969, a mulher casada pode transpor a fronteira sem
autorização do marido.
Com a instauração da democracia, em 25 de Abril de 1974, a igualdade de género
progrediu significativamente pela mão do direito.
Ainda nesse ano, foi aberto às mulheres o acesso a todos os cargos da carreira
administrativa a nível local, da carreira diplomática e da magistratura, sendo igualmente
abolidas todas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos
cidadãos.

Em 25 de Abril de 1976, entrou em vigor a nova Constituição, que estabelece a igualdade


entre mulheres e homens em todos os domínios, e, em 1978, a revisão do Código Civil,
nos termos da qual:

34
a mulher casada deixa de ter estatuto de dependência do marido;
deixa de haver poder marital: ambos dirigem a vida comum e cada um a sua;
desaparece a figura de ‘chefe de família’;
o governo doméstico deixa de pertencer, por direito próprio, à mulher;
os cônjuges decidem em comum qual é a residência do casal;
tanto o marido como a mulher podem, aquando do casamento, acrescentar ao
seu nome até dois apelidos do outro;
a mulher deixa de precisar de autorização do marido para ser comerciante;
cada um dos cônjuges pode exercer qualquer profissão ou atividade sem o
consentimento do outro.
Em 1979, entrou em vigor o Decreto-Lei nº 392/79, de 20 de setembro, que visa
garantir a igualdade entre mulheres e homens no trabalho e no emprego.
Em 1980, Portugal ratifica a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
Em 1984, entram em vigor as leis sobre Educação sexual e planeamento familiar,
Protecção da maternidade e Exclusão de ilicitude em alguns casos de interrupção
voluntária da gravidez.

A Lei nº 95/88, de 17 de agosto, garante os direitos das associações de mulheres.


Em 1994, foi publicada a Resolução do Conselho de Ministros nº 32/94, de 17 de maio,
sobre a promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres.
Em 1997, entrou em vigor o I Plano Global para a Igualdade.
No mesmo ano, a Lei Constitucional nº 1/97, de 20 de setembro, procedeu à 4ª revisão
da Constituição, passando o art.º. 9º a incluir nas tarefas fundamentais do Estado a
promoção da igualdade entre homens e mulheres e estabelecendo o art. 109º que a lei
deve “promover a igualdade no exercício dos direitos cívicos e políticos e a não
discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos”.
São, hoje, reconhecidos constitucionalmente:
a proibição de qualquer privilégio ou prejuízo, privação de direitos ou isenção de
qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,
religião, convicções políticas ou religiosas, situação económica ou condição social
(art.º. 13º);
a proteção legal contra quaisquer formas de discriminação (art.º. 26º nº1);

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a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges quanto à capacidade civil e
política e à manutenção e educação dos filhos (art. 36º);
a liberdade de escolha de profissão e acesso à função pública (art. 47º), bem como
de tomar parte na vida política e na divisão dos assuntos públicos do país;
o direito ao trabalho, cabendo ao Estado assegurar a igualdade de oportunidades
na escolha da profissão ou o género de trabalho (art. 58º)
o direito à conciliação da atividade profissional e da vida familiar, sem
discriminação em função do sexo [art. 59º nº 1b)];
a proteção da maternidade e paternidade (art. 68º).

3.5 As pessoas como motor de igualdade

O sucesso das políticas e das medidas destinadas a apoiar ou a reforçar a promoção da


igualdade entre os sexos e a melhoria do estatuto das mulheres, deve basear-se na
integração de uma perspetiva de género nas políticas gerais relacionadas com todas as
esferas da sociedade, assim como na implementação, a todos os níveis, de ações com
suporte institucional e financiamento adequado.
A 4ª Conferência sobre as Mulheres em Pequim, marcou sem dúvida a agenda política
internacional sobre a questão da igualdade de género. Dela saiu a Declaração de
Pequim, um documento exaustivo onde constam os grandes objetivos estratégicos e
respetivas medidas que têm orientado os governos na implementação de políticas de
promoção da igualdade de género.

Os objetivos encontram-se divididos em sete grandes áreas:


Mulheres e pobreza

Educação e formação das mulheres

Mulheres e saúde

Violência contra as mulheres

Mulheres e conflitos armados

Mulheres e economia

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Mulheres no poder e tomada de decisão

3.5.1 Mulheres e pobreza

Rever, adotar e manter políticas macroeconómicas e estratégias de


desenvolvimento que tenham em conta as necessidades das mulheres e
apoiem os seus esforços para superar a pobreza

Rever a legislação e o processo administrativo para assegurar às mulheres a


igualdade de direitos e de acesso aos recursos económicos

Proporcionar às mulheres o acesso aos mecanismos e instituições de


poupança e crédito

Desenvolver metodologias com base no género e realizar investigação sobre


feminização da pobreza

3.5.2 Educação e formação das mulheres

Assegurar a igualdade de acesso à educação

Eliminar o analfabetismo entre as mulheres

Aumentar o acesso das mulheres à formação profissional, à ciência e


tecnologia e à educação permanente

Desenvolver uma educação e uma formação não discriminatórias

Atribuir recursos suficientes para a execução e acompanhamento das reformas


educativas

Promover a educação e a formação ao longo da vida

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3.5.3 Mulheres e saúde

Aumentar o acesso das mulheres, ao longo do seu ciclo de vida, a informação,


cuidados e serviços de saúde adequados, acessíveis e de boa qualidade

Reforçar os programas de prevenção que promovam a saúde das mulheres

Desenvolver iniciativas que tenham em conta o género para fazer face às


doenças sexualmente transmissíveis, ao VIH/SIDA, e às questões de saúde
sexual e reprodutiva

Promover a investigação e difundir informação sobre a saúde das mulheres

Aumentar os recursos e acompanhar a evolução da saúde das mulheres

3.5.4 Violência contra as mulheres

Adotar medidas integradas para prevenir e eliminar a violência contra a s


mulheres

Estudar as causas e as consequências da violência contra as mulheres e a


eficácia das medidas preventivas

Eliminar o tráfico de mulheres e prestar assistência a mulheres vítimas de


violência devido a prostituição e tráfico

3.5.6 Mulheres e conflitos armados

Aumentar a participação das mulheres na resolução de conflitos aos níveis da


tomada de decisão e proteger as mulheres que vivem em situações de
conflito, armado ou de outro tipo, ou sob ocupação estrangeira

Reduzir as despesas militares excessivas e limitar a disponibilidade de


armamento

Promover formas não violentas de resolução dos conflitos e reduzir a

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incidência de violações de direitos humanos em situações de conflito

Promover a contribuição das mulheres para a criação de uma cultura de paz

Proporcionar proteção, assistência e formação às mulheres refugiadas e a


outras deslocadas que precisem de proteção internacional dentro do próprio
país

Proporcionar assistência às mulheres das colónias e dos territórios sem


autonomia

3.5.7 Mulheres e economia

Promover a independência e os direitos económicos das mulheres, incluindo o


acesso ao emprego, a condições de trabalho adequadas e ao controle dos
recursos económicos

Facilitar o acesso das mulheres, em condições de igualdade, aos recursos, ao


emprego, aos mercados e ao comércio

Proporcionar serviços comerciais, formação e acesso aos mercados,


informação e tecnologia, particularmente às mulheres com baixos rendimentos

Reforçar a capacidade económica e as redes comerciais das mulheres

Eliminar a segregação profissional e todas as formas de discriminação no


emprego

Fomentar a harmonização das responsabilidades das mulheres e dos homens


no que respeita ao trabalho e à família

3.5.8 Mulheres no poder e tomada de decisão

Adotar medidas que garantam às mulheres a igualdade de acesso e a plena


participação nas estruturas de poder e de tomada de decisão

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Aumentar a capacidade de participação das mulheres na tomada de decisão e
na liderança

Criar ou reforçar os mecanismos nacionais e outros organismos


governamentais

Integrar a perspetiva de género na legislação, nas políticas, programas e


projetos oficiais

Produzir e difundir dados e informação desagregados por sexo destinados ao


planeamento e à avaliação

Aumentar a participação das mulheres na resolução de conflitos aos níveis da


tomada de decisão e proteger as mulheres que vivem em situações de
conflito, armado ou de outro tipo, ou sob ocupação estrangeira

Reduzir as despesas militares excessivas e limitar a disponibilidade de


armamento

Promover formas não violentas de resolução dos conflitos e reduzir a


incidência de violações de direitos humanos em situações de conflito

Promover a contribuição das mulheres para a criação de uma cultura de paz

Proporcionar proteção, assistência e formação às mulheres refugiadas e a


outras deslocadas que precisem de proteção internacional dentro do próprio
país

Proporcionar assistência às mulheres das colónias e dos territórios sem


autonomia

3.6 As organizações internacionais como motor de igualdade

É sabido que as mulheres encontraram desde muito cedo um fórum mais recetivo às suas
reivindicações e protestos em algumas das organizações internacionais, como a ONU, e

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desde praticamente a sua constituição que as organizações de mulheres, especialmente
as de âmbito internacional, através dos mais variados processos e pelas mais diversas vias,
procuraram ativamente influenciar as instâncias de decisão intergovernamental. O
lobbying é uma das práticas mais comuns a que as organizações acedem com alguma
facilidade, dada a recetividade que encontram nas organizações intergovernamentais.
Encontramos alguma explicação para esta recetividade quer nas regras, quer na
intensificação das relações internacionais.
A ação das organizações internacionais, nomeadamente da Organização das Nações
Unidas, da Organização Internacional do Trabalho, da Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Económico e do Conselho da Europa, em prol do reconhecimento dos
direitos das mulheres deve, pois, ser sublinhada. Também a União Europeia tem
desenvolvido intenso trabalho na promoção da igualdade entre mulheres e homens. Na
verdade, elas têm ditado a agenda das políticas de igualdade, através das mais diversas
iniciativas. A crescente intensificação das relações internacionais e interdependência entre
os Estados ao nível do sistema-mundo têm conferido um relevo assinalável às instâncias
internacionais, quer sejam ou não intergovernamentais.

Como se chegou ao momento presente e quais são as questões fundamentais em torno


da globalização das políticas de igualdade entre homens e mulheres, é o que se refere a
seguir.
A crescente internacionalização das estruturas políticas e a globalização dos movimentos
sociais, por um lado, a par do aumento do multilateralismo (em vez do bilateralismo) nas
relações internacionais e dos ganhos de influência das organizações não governamentais
internacionais levam à construção do que alguns autores designam uma sociedade civil
global. As organizações da sociedade civil têm vindo a ser encaradas como parceiros
privilegiados de intervenção quer junto das organizações internacionais, quer junto da
União Europeia.
As organizações da sociedade civil surgem, portanto, como elementos fundamentais do
novo "regime internacional" (Reinalda, 1997), numa conjuntura ideológica e política em
que se assiste ao regresso de um certo relativismo ético, especialmente depois da queda
do Muro de
Berlim e de tudo o que ela significa em termos do esmorecimento de alternativas
políticas, e nomeadamente quanto à proeminência crescente das questões políticas,

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como os direitos humanos, a boa governação e a participação das populações, para além
do cada vez maior destaque aos direitos sociais. Os ganhos de influência das ONG
internacionais, em que encontramos muitas redes feministas, são conquistados à custa do
lobbying e das próprias regras de relacionamento entre os governos e as instâncias
intergovernamentais. Estas recorrem frequentemente aos serviços das ONG, para validar
as informações oficiais e para assessoria tanto na formulação como no acompanhamento,
execução e monitorização de programas e projetos. O crescente reconhecimento da
igualdade de direitos entre mulheres e homens é, em parte, devido precisamente aos
esforços de redes internacionais de organizações de mulheres que conseguiram fazer
aceitar a visão de que metas consensuais como o "desenvolvimento económico
autossustentável" ou a "defesa dos direitos humanos" só podem ser alcançados se se
tiverem em conta as relações sociais de sexo.

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ATIVIDADES PROPOSTAS

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Exercício I

Descobrir o Sexo, descobrir o Género

Palavras Chave
Sexo; Género; Determinantes Sócio-Culturais
Introdução
Mediante a leitura de um texto descontraído, esta atividade incita à reflexão sobre os
determinantes socioculturais que diferenciam o género. O texto foca-se nos aspetos sociais que,
com base no sexo, diferenciam as raparigas e os rapazes logo desde o início da vida.
Objetivo
Debater acerca da diferenciação de género.
Introduzir os conceitos de género e de estereótipos
Materiais/Equipamento/Logística
Ficha com o texto
Desenvolvimento
1 / Entrega-se a cada participante o texto para leitura e ou coloca-se na plataforma
2 / Depois da leitura, é aberto um espaço para comentários em plenário.
Poder-se-á dirigir o debate para a questão da influência que o sexo tem a vários níveis e nas várias
fases da vida das Pessoas

Texto: “À descoberta do sexo”

Na maternidade, dois bebés deitados lado a lado, conversam. O menino pergunta:

- És um menino ou uma menina?


- Não sei. Acabei de nascer.
- Vamos ver o que és. Baixa um pouco o lençol.
- Não! Para quê?
- Só um bocadinho.
- Não!
- Só um bocadinho. Ninguém está a ver.
- Não. Nem pensar.
- Deixa-me ver, deixa.
- Está bem. Está bem. Mas só um bocadinho.
- Assim não consigo perceber. Baixa mais, baixa.
- Tens a certeza de que não vem ninguém?
- Tenho, sim.
- E aquela enfermeira ali?
- Está a dormir. Baixa mais, baixa. Só um bocadinho, baixa.
- Assim?
- Ah, és uma menina. Os sapatinhos são cor-de-rosa...

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Exercício II

Leia as frases a seguir apresentadas. Em seguida tente classificar cada uma com S (sexo) ou G
(género), conforme se trate de um aspeto ligado ao sexo ou ao género.

1. As mulheres amamentam, os homens dão biberão.


2. A maior percentagem de trabalhadores da construção civil é homens.
3. As empregadas a dias são mulheres, os homens são mordomos.
4. O homem faz a barba, a mulher faz o buço.
5. As mulheres cozinham, os homens são chefes.
6. O homem vê o futebol e a mulher a novela.
7. As vozes masculinas mudam na puberdade e as das mulheres não.
8. As estatísticas de set./03, mostram que havia cerca de 17 mil reclusos e 1700 reclusas.
9. As mulheres passam pela menopausa e os homens pela andropausa.
10. As mulheres remendam a roupa, os homens tratam dos “arranjos” da casa.
11. Os homens ficam carecas e as mulheres com “calores”.
12. Em Portugal, na Assembleia da República, as mulheres eleitas representam 20% dos
deputados.
13. As mulheres usam jóias e os homens gravatas.
14. As mulheres são mais flexíveis, os homens têm mais força.
15. As mulheres vão à cabeleireira e os homens ao barbeiro.
16. As meninas brincam com as bonecas e os meninos com os carrinhos.
17. Os homens têm problemas de saúde com a próstata e as mulheres com o peito.
18. O trabalho doméstico é para as mulheres e a mecânica dos carros é para os homens.
19. A casa é das mulheres e a rua é dos homens.
20. Em 2003, o recorde na corrida dos 100 metros, para os homens foi de 9'78'' e para as
mulheres foi de 10'49''.
21. Os homens são mais infiéis que as mulheres.
22. As mulheres têm uma percentagem de massa gorda maior que a dos homens.
23. Os homens desenvolvem mais massa muscular que as mulheres.
24. Em 1999 os homens representavam 72% das mortes por suicídio
.

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FONTES BIBLIOGRÁFICAS

“Manual de Formação de Formadores/as em Igualdade de Oportunidades entre


Mulheres e Homens” - CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no
Emprego; José d’Assunção Barros*
Igualdade, desigualdade e diferença: em torno de três noções- Análise Social, vol.
XL (175), 2005, 345-366, * Universidade Severino Sombras (USS) de Vassouras.
https://www.cicdr.pt/
CIG - Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género
Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 «Portugal
+ Igual», aprovada pelo XXI Governo Constitucional a 8 de março de 2018, está
publicada em Diário da República (Resolução do Conselho de Ministros n.º
61/2018, de 21 de maio).

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