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Fonte: ESE
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Área de Linguagens Cultural e Corporal
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Área de Linguagens Cultural e Corporal
FATO – CASO
Acompanhe os dois relatos reais a seguir:
“Atleta pós gravidez - Escrevo este depoimento, não para me beneficiar de nada, mas
para desabafar e quem sabe poder um dia mudar um regulamento que para mim não
faz sentido algum. [...] Quando decidi ser mãe eu sabia que não seria nada fácil meu
retorno, assim como não foi de nenhuma que decidiu voltar a jogar.
Você ganha bastante peso, perde força, seu centro de gravidade muda, passa 9 meses
muitas vezes com dores lombares, volta aos treinos com estas dores, fica mais
suscetível a lesões por causa dos hormônios, você acorda várias vezes a noite, carrega
o bebê, agacha e levanta várias vezes ao dia, tem dificuldade de conseguir parceira
(não foi o meu caso), perde patrocinadores, perde ritmo de jogo, joga contra todos os
times que estão no seu melhor e o regulamento depois de tudo isso te pune com 25 %
dos seus pontos retirados, tanto no Circuito Brasileiro quanto no Circuito Mundial.
Qual a justificativa para esta retirada de pontos? Por que decidimos ser mães? O que
há de errado nisso?
Você faz excelentes resultados ao longo da sua vida, passa 15 anos entre as melhores
do mundo, engravida entre as 10 primeiras atletas rankeadas do mundo e um
regulamento pode te inibir a querer desenvolver o papel mais lindo e poderoso que
existe, que é gerar uma vida. E pode inibir sim, porque nem todas as jogadoras têm
uma sobra financeira para ficar parada 1 ano e meio, voltar e investir tudo de novo.
A longevidade do meu esporte faz com que muitas de nós joguemos até mais de 40
anos e todos sabem que engravidar depois dos 35 aumenta os riscos na gravidez.
Depois dos 40 então mais ainda.
[...] Ser mulher mãe não deveria ter dificuldades a mais do que já tem. Os homens
podem ser pais na hora que eles quiserem, fisicamente não são prejudicados. Não
diretamente.
Mas não vim aqui ficar fazendo comparações, até porque tem uma outra questão com
os homens que viram pais. Por que não congelar também os pontos deles por uns
meses para que eles possam desenvolver melhor o papel deles junto a suas
companheiras, caso eles queiram e precisem?
Eu não sei quanto aos outros esportes, mas precisamos tentar mudar esta realidade
no vôlei de praia para ontem. A atleta americana Allyson Felix foi muito feliz em expor
a falta de visão e sensibilidade que um patrocinador teve com sua decisão de ser mãe.
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“[...] é em 2019, a partir de uma gestação de gêmeas que passei a ter uma atenção
sobre as maternidades, o papel social e afetivo da MÃE e as transformações do corpo,
do ser, do estar, do pensar, do se relacionar de uma mulher ao tornar-se Mãe, e o quão
é necessário quebrar tabus (corpo, papel social, sobrecargas, sexo, relações) sobre
um CORPOMÃE imposto ao longo da história de nossa sociedade às mulheres, e como
precisa tornar-se cada vez mais visível para todos. [...]
Um corpo que carrega a vontade de chegar em algum lugar. Um corpo que carrega
pesos de outros corpos femininos. Um corpo feminino que carrega o peso de
obrigações ditadas por uma sociedade extremista.
Um corpo feminino que carrega os papéis de Mulher, Mãe e Profissional. Um corpo de
Mulher que carrega culpas passadas de geração em geração. Um corpo de Mãe no
limite de seu esgotamento físico e psicológico. Um corpo de Mãe que chora por não
estar presente por 7 horas do dia com as filhas. Um corpo de Mãe que quer se
encontrar como mulher e profissional sem deixar de ser Mãe. Um corpo que corre
contra o tempo e não dá conta de tudo. Um corpo que precisa de ajuda. Um corpo que
precisa de pausa. Um corpo que precisa ser acolhido. Um corpo que questiona. Um
corpo que reverencia. Um corpo que guerreia. Um corpo que protege. Um corpo que
perde. Um corpo que vence. Um corpo que escuta. Um corpo que pede licença. Um
corpo que agradece. Um corpo que renasce outro em cada morte de si. Um corpo em
mutação. Um corpo que distribui os pesos. Um corpo que chega sem saber, sem
entender. Um corpo protegido. Um corpo que cai. Um corpo que levanta. Um corpo
solitário em meio uma multidão. Um corpo cansado em meio a muitos fazeres. Um
corpo que não anda só. Um corpo forte. Um corpo frágil. Um corpo que carrega todos
os sentimentos do mundo. Um corpo que gera outros corpos. Um corpo que alimenta
outros corpos. Um corpo de Mãe.
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Os dois relatos acima não são exceção. Mulheres, artistas, esportistas, bem como
profissionais de outras áreas, ainda, no século XXI, encontram dificuldades e
desigualdades na relação maternidade/profissão. Casos de esportistas que perderam
total ou parcialmente seu patrocínio por conta de engravidarem são ainda comuns. Do
mesmo modo, vemos musicistas, artistas visuais, atrizes, precisando escolher entre a
maternidade e a vida profissional.
Ironicamente, em contrapartida, há toda uma pressão social e cultural para que uma
mulher decida pela maternidade. Mulheres que, corajosamente e por motivos que só
cabem a elas, optam pela não maternidade são indagadas e julgadas com afirmativas
como “você vai se arrepender na velhice”, “mulher foi feita para ter filhos” ou ““quando
terminar a vida sozinha não diga que não avisei”.
E, assim, mulheres seguem se equilibrando numa verdadeira “corda bamba”. Aquelas
que optam pela maternidade são confrontadas com desafios como os relatados acima
e brilhantemente definidos pela artista Clara Moreira: “Estruturalmente é difícil ser
artista no Brasil. Estruturalmente é difícil ser mãe no Brasil. Estruturalmente é difícil ser
cuidadora de pessoas no Brasil”. Aquelas que, por outro lado, optam por não ter filhos,
sentem a cobrança da sociedade pela obrigação do exercício da maternidade.
(A postagem da atleta Maria Elisa foi fundamental para a alteração no regulamento das
competições nacionais de vôlei de praia pela Confederação Brasileira de Voleibol para
18 meses desde o início da gravidez até o retorno ao circuito nacional, sem perda de
pontos. Anteriormente este prazo era de 12 meses).
FUNDAMENTOS – REFERENCIAL TEÓRICO
A maternidade das atletas de alto rendimento. Site TERRA. São Paulo, 11 de dez de
2019. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/dino/a-maternidade-das-atletas-
de-alto-rendimento,ef1c9312c26caac816123b1c7b010ecd0n13x7ag.html . Acesso em
12 de nov 2021.
BARLEM, C.; DILLON, L.; TRINDADE, L. "Ninguém pensa no lado humano de ser
mãe": atletas falam sobre conciliar carreira e gravidez. Disponível em:
https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/mulheres-falam-sobre-carreira-de-atleta-e-
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Área de Linguagens Cultural e Corporal
INSTITUTO MARIA DA PENHA. Lei Maria da Penha Comentada. 2018. Disponível em:
https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/lei-maria-da-penha-na-integra-e-
comentada.html. Acesso em 20 de jan 2022.
PIRES, B. Ser mãe ou jogar futebol, o dilema das mulheres que vivem da bola.
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/13/deportes/1560383306_048881.html. Acesso
em 12 de nov 2021.
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1. A Organização das Nações Unidas (ONU), pelo seu braço ONU Mulheres,
lançou a iniciativa “Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade
de gênero”, de forma a colaborar com o alcance das metas da Agenda 2030.
Esta iniciativa tem como principal objetivo a eliminação das desigualdades de
gênero. Tendo em vista a iniciativa da ONU Mulheres, bem como o ODS 3,
especificamente o indicador 3.7 que se refere ao planejamento reprodutivo,
discorra sobre a construção social do conceito de maternidade ao longo da
história mundial, relacionando como esta construção afeta a saúde mental e
bem-estar da mulher contemporânea. (Valor: 30 pontos)
2. A decisão de engravidar para uma mulher que vive do esporte no Brasil não é
fácil. O tema ainda é um tabu muito grande na área, uma vez que atletas de
alto rendimento lidam com a performance o tempo todo. Apesar de iniciativas
recentes por parte de algumas entidades esportivas brasileiras que protegem à
licença maternidade, muitos lugares ainda desrespeitam o simples direito de
uma atleta manifestar o desejo de ter um filho. Enumere e explique os principais
problemas e desafios enfrentados pelas atletas que optam pela maternidade
durante a carreira e exemplifique com pelo menos um caso do esporte
brasileiro. (Valor: 30 pontos)
OPORTUNIDADES – RESPOSTA
(Acesse no AVA em uma das disciplinas vigentes da fase, o ícone Trabalho, Link
Comentário e redija no formato de resposta-texto argumentativo entre 3.000 e 5.000
caracteres com espaço)