Você está na página 1de 25

Direitos Fundamentais

Em Espécie
(Art. 5° da CF/88)
 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”
O Art. 5° está em consonância com o nosso preâmbulo:

 “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em


Assembléia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com
a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Direito à vida
 É o maior de todos os direitos, até porque
sem ele os demais perdem seu significado.
Abrange diversos desdobramentos, dentre os
quais:
 a) o direito à existência;
 b) o direito à dignidade da pessoa humana;
 c) o direito à integridade;
 d) o direito à privacidade.
Direito à vida: existência

 O direito à existência “Consiste no direito de estar


vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida,
de permanecer vivo” (José Afonso da Silva).
 A vida é um processo:

CICLO VITAL
INÍCIO FIM
Direito à vida: existência

 Termo inicial do direito à vida, na sua


projeção de existência:
◦ Concepção genética: novo conjunto genético
(concepção ou fertilização)
◦ Nidação: fixação do óvulo na parede do útero
◦ Concepção Embriológica: 3ª semana
◦ Concepção Nemológica: atividade cerebral (8ª ou
20ª semana)
◦ Concepção Ecológica: capacidade de sobreviver
fora do útero, pulmões prontos (entre a 20ª e a
24ª semanas).
◦ Concepção Personalista: atribuição da
personalidade.
Direito à vida: existência

• Correntes doutrinárias sobre o nascituro:


– Teoria natalista: a personalidade tem início a partir
do nascimento com vida. Não há direitos sem sujeito,
e o nascituro não é um ser humano já formado.
– Teoria da personalidade condicional: o nascituro
tem personalidade, sob a condição de que nasça com
vida.
– Teoria concepcionista: desde a vida intra-uterina o
nascituro é pessoa, sendo portanto titular de direitos:
• Desde que haja vida viável, a partir da nidação; ou
• Desde a fertilização pura e simples.
Direito à vida: existência
STF:
“III - A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À VIDA
E OS DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO EMBRIÃO
PRÉ-IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe
sobre o início da vida humana ou o preciso instante em
que ela começa. Não faz de todo e qualquer estádio da
vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da
vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria "natalista", em contraposição às teorias
"concepcionista" ou da "personalidade condicional").
E quando se reporta a "direitos da pessoa humana" e até
dos "direitos e garantias individuais" como cláusula
pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-
pessoa, que se faz destinatário dos direitos
fundamentais "à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade", entre outros direitos e
garantias igualmente distinguidos com o timbre da
fundamentalidade (como direito à saúde e ao
planejamento familiar).
STF:
Mutismo constitucional hermeneuticamente
significante de transpasse de poder normativo para a
legislação ordinária. A potencialidade de algo para se
tornar pessoa humana já é meritória o bastante para
acobertá-la, infraconstitucionalmente, contra
tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural
continuidade fisiológica. Mas as três realidades não
se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto
e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não
existir pessoa humana embrionária, mas embrião de
pessoa humana. O embrião referido na Lei de
Biossegurança ("in vitro" apenas) não é uma vida a
caminho de outra vida virginalmente nova,
porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as
primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser
humano não tem factibilidade como projeto de vida
autônoma e irrepetível. O Direito infraconstitucional
protege por modo variado cada etapa do
desenvolvimento biológico do ser humano.
STF:
Os momentos da vida humana
anteriores ao nascimento devem ser
objeto de proteção pelo direito comum.
O embrião pré-implanto é um bem a
ser protegido, mas não uma pessoa no
sentido biográfico a que se refere a
Constituição.
IV - AS PESQUISAS COM CÉLULAS-
TRONCO NÃO CARACTERIZAM
ABORTO. (...)” (ADI 3510, Relator: 
Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno,
julgado em 29/05/2008)
Direito à vida: existência

O termo final do direito à vida, na sua projeção


de existência, é a morte, que pode ser:
- Natural; ou
- Provocada.
Considera-se morte a ausência de atividade
cerebral (morte encefálica), não a ausência de
batimento cardíaco: convenção humana.

Lei nº 9.434/97: “Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou


partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá
ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada
por dois médicos não participantes das equipes de remoção e
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos
definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina”.
Vide Resolução 1.480/1997 do CFM.
Direito à vida: existência

Em princípio toda morte provocada é ofensiva ao direito à vida,


mas há exceções admitidas pelo direito, como a legítima defesa
e o estado de necessidade.

Pena de morte:

Art. 5°, XLVII – “não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
do art. 84, XIX;”

- Fora da hipótese de guerra declarada é vedada, e é cláusula


pétrea (art. 60, § 4°, IV).
- A PEC 01/88, de 06-10-88, de autoria do Dep. Amaral
Neto, previa a pena de morte. Foi inadmitida pela CCJ da
Câmara em 04-12-1997, à unanimidade.
- Mesmo no caso de guerra externa a previsão de pena
morte tem que obedecer a proporcionalidade.
Direito à vida: dignidade
O direito à dignidade: não basta existir, a vida há que ser digna.
O direito à dignidade da pessoa humana é hoje considerado o
fundamento do próprio direito.
A dignidade é um princípio e um valor fundamental.

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Relação entre pessoas e coisas. Segundo Kant:
PESSOA:
Fim em si mesmo
Dignidade
Autonomia
Insubstituível
COISA
Meio, instrumento para realizar a dignidade
Preço:
Econômico
Afetivo
Direito à vida: dignidade

Declaração Universal dos Direitos do


Homem:
“Considerando que o reconhecimento da
dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo, (…)
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres
e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir
em relação umas às outras com espírito de
fraternidade.”
Direito à vida: dignidade
CF/88:
Art. 1º A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;
Direito à vida: dignidade

CF/88:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: (...)

Art. 226. (...) § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa


humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre
decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais
e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao jovem e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Direito à vida:
Dignidade x Existência
Eutanásia
Significado do termo “eutanásia”: “morte bela”, “morte
suave”, “morte tranquila”, “morte sem dor”, “morte sem
padecimento”.

Não confundir eutanásia com ortotanásia, que implica não


mais prolongar artificialmente a vida para não gerar mais
sofrimento.
A eutanásia não é admitida no nosso ordenamento, diante da
alegação de irrenunciabilidade do direito à vida.

“Não parece caracterizar eutanásia a consumação da


morte pelo desligamento de aparelhos que, artificialmente,
mantenham vivo o paciente, já clinicamente morto. Pois, em
verdade, vida já não existiria mais, senão vegetação
mecânica” (José Afonso da Silva)

 
RESOLUÇÃO CFM Nº 1931/2009
Código de Ética Médica.
(...)
XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico
evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos
desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos
os cuidados paliativos apropriados.

(...)
É vedado ao médico
Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou
de seu representante legal.
 
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o
médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa
do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante
legal.
Direito à vida: existência

Lei nº 9.434/97: “Art. 3º A retirada post mortem de


tecidos, órgãos ou partes do corpo humano
destinados a transplante ou tratamento deverá ser
precedida de diagnóstico de morte encefálica,
constatada e registrada por dois médicos não
participantes das equipes de remoção e transplante,
mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos por resolução do Conselho
Federal de Medicina”.
Direito à vida:
dignidade x existência
Eutanásia
Mesmo com o consentimento do paciente a
prática da eutanásia pode levar à responsabilização
penal do médico.
Código Penal:
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o
suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3
(três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por
qualquer causa, a capacidade de resistência.
A vedação à eutanásia ofende a
dignidade humana?
Direito à vida:
dignidade x existência
Aborto
O aborto deve ser tratado como crime ou como questão de
saúde pública?

EUA - O aborto é um direito da mulher até a 24ª semana;


JAPÃO - O aborto pode ser feito até a 21ª semana (mínimo hoje para o
feto sobreviver for a do útero – teoria ecológica) em casos de estupro,
risco físico ou risco econômico;
FRANÇA - O aborto pode ser feito até a 12ª semana, e após isso só se
houver risco à vida da mulher ou grave problema de saúde do feto;
CHILE - O aborto é proibido em qualquer circunstância, mesmo com
risco de vida para a mulher.
PORTUGAL - O aborto (interrupção voluntária da gravidez) foi
legalizado por referendo em 2007 (Lei nº 16/2007 de 17 de
Abril ) e é permitido até a 10ª semana de gravidez a pedido da
mulher, independentemente, das razões, após um período de reflexão
de 3 dias;
Direito à vida: dignidade x existência
Aborto

No Brasil o aborto é crime, nos termos do Código Penal:


Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem
lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante
não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental,
ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência.
Direito à vida: dignidade x existência
Aborto
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por
médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de
estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto
é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.
Direito à vida: dignidade x existência

Aborto
Ponderações de interesses:

1) Aborto terapêutico ou necessário, para


salvar a vida da gestante:

Existência x Existência

2) Aborto no caso de gravidez resultante de


estupro:
Existência x Dignidade/Honra
Direito à vida: dignidade x existência

Aborto

- ADPF 54 e aborto de feto anencefálico

- Sistema único de saúde e aborto

Você também pode gostar