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DIREITO CONSTITUCIONAL

Prof. GUSTAVO BRÍGIDO


Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
VIDA INTRA-UTERINA – Não só o direito de
DESDE A estar vivo, mas
CONCEPÇÃO (Teoria direito a uma vida
Concepcionista) digna (mínimo
existencial).
LIBERDADE PRIMEIRA
DIMENSÃO
IGUALDADE SEGUNDA
DIMENSÃO
SEGURANÇA JURÍDICA
PROPRIEDADE SENTIDO AMPLO
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969)
(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
Artigo 4º - Direito à vida
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode
ser privado da vida arbitrariamente.
Ano: 2021 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TCE-RJ Provas: CESPE / CEBRASPE
- 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade: Ciências
Contábeis
Com relação aos direitos fundamentais, julgue o item a seguir.

O direito fundamental à vida é hierarquicamente superior aos demais direitos


fundamentais.
GABARITO. ERRADO.
Não existem normas hierarquicamente superiores dentro da Constituição.
Todas têm formalmente a mesma hierarquia, e em caso de colisão, o
intérprete deverá ponderar no caso concreto, verificando qual deve
prevalecer.
A pesquisa científica com células-tronco embrionárias, autorizada pela Lei
11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que
severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes
degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativamente, as atrofias
espinhais progressivas, as distrofias musculares, a esclerose múltipla e a lateral
amiotrófica, as neuropatias e as doenças do neurônio motor). A escolha feita pela Lei
de Biossegurança não significou um desprezo ou desapreço pelo embrião in vitro,
porém uma mais firme disposição para encurtar caminhos que possam levar à
superação do infortúnio alheio. Isso no âmbito de um ordenamento constitucional
que desde o seu preâmbulo qualifica "a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça" como valores supremos de uma sociedade
mais que tudo "fraterna". O que já significa incorporar o advento do
constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de
vida ou vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e
contra eventuais tramas do acaso e até dos golpes da própria natureza.
Contexto de solidária, compassiva ou fraternal legalidade que, longe de traduzir
desprezo ou desrespeito aos congelados embriões in vitro, significa apreço e
reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistência de
ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com
células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se
destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à
margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver
com dignidade (ministro Celso de Mello). (...) A Lei de Biossegurança
caracteriza-se como regração legal a salvo da mácula do açodamento, da
insuficiência protetiva ou do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa,
filosófica e eticamente sensível como a da biotecnologia na área da medicina e
da genética humana.
Trata-se de um conjunto normativo que parte do pressuposto da intrínseca
dignidade de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para
tanto. A Lei de Biossegurança não conceitua as categorias mentais ou entidades
biomédicas a que se refere, mas nem por isso impede a facilitada exegese dos
seus textos, pois é de se presumir que recepcionou tais categorias e as que lhe
são correlatas com o significado que elas portam no âmbito das ciências
médicas e biológicas.
[ADI 3.510, rel. min. Ayres Britto, j. 29-5-2008, P, DJE de 28-5-2010.]
Na inicial, pede-se a declaração de inconstitucionalidade, com eficácia para todos e
efeito vinculante, da interpretação dos arts. 124, 126 e 128, I e II, do CP (DL
2.848/1940) que impeça a antecipação terapêutica do parto na hipótese de gravidez
de feto anencéfalo, previamente diagnosticada por profissional habilitado. Pretende-
se o reconhecimento do direito da gestante de submeter-se ao citado procedimento
sem estar compelida a apresentar autorização judicial ou qualquer outra forma de
permissão do Estado. (...) O tema envolve a dignidade humana, o usufruto da vida, a
liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos
individuais, especificamente, os direitos sexuais e reprodutivos de milhares de
mulheres. No caso, não há colisão real entre direitos fundamentais, apenas conflito
aparente. (...) Cumpre rechaçar a assertiva de que a interrupção da gestação do feto
anencéfalo consubstancia aborto eugênico, aqui entendido no sentido negativo em
referência a práticas nazistas. O anencéfalo é um natimorto. Não há vida em potencial.
Logo não se pode cogitar de aborto eugênico, o qual pressupõe a vida extrauterina de
seres que discrepem de padrões imoralmente eleitos.
(...) Anencefalia e vida são termos antitéticos. Conforme demonstrado, o feto
anencéfalo não tem potencialidade de vida. Trata-se, na expressão adotada pelo
Conselho Federal de Medicina e por abalizados especialistas, de um natimorto
cerebral. Por ser absolutamente inviável, o anencéfalo não tem a expectativa nem é
ou será titular do direito à vida, motivo pelo qual aludi, no início do voto, a um conflito
apenas aparente entre direitos fundamentais. Em rigor, no outro lado da balança, em
contraposição aos direitos da mulher, não se encontra o direito à vida ou à dignidade
humana de quem está por vir, justamente porque não há ninguém por vir, não há
viabilidade de vida. Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em potencial. No
caso do anencéfalo, repito, não existe vida possível. (...) mesmo à falta de previsão
expressa no CP de 1940, parece-me lógico que o feto sem potencialidade de vida não
pode ser tutelado pelo tipo penal que protege a vida. (...) este Supremo Tribunal
proclamou que a Constituição "quando se reporta a ‘direitos da pessoa humana’ e até
dos ‘direitos e garantias individuais’ como cláusula pétrea está falando de direitos e
garantias do indivíduo-pessoa, que se faz destinatário dos direitos fundamentais ‘à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade' (...).
(...)." Ora, inexistindo potencialidade para tornar-se pessoa humana, não surge
justificativa para a tutela jurídico-penal, com maior razão quando eventual tutela
esbarra em direitos fundamentais da mulher, como se verá adiante. Enfim, cumpre
tomar de empréstimo o conceito jurídico de morte cerebral previsto na Lei
9.434/1997, para concluir ser de todo impróprio falar em direito à vida intrauterina ou
extrauterina do anencéfalo, o qual é um natimorto cerebral. (...) Está em jogo o direito
da mulher de autodeterminar-se, de escolher, de agir de acordo com a própria
vontade num caso de absoluta inviabilidade de vida extrauterina. Estão em jogo, em
última análise, a privacidade, a autonomia e a dignidade humana dessas mulheres.
Hão de ser respeitadas tanto as que optem por prosseguir com a gravidez – por
sentirem-se mais felizes assim ou por qualquer outro motivo que não nos cumpre
perquirir – quanto as que prefiram interromper a gravidez, para pôr fim ou, ao menos,
minimizar um estado de sofrimento. (...) Não se coaduna com o princípio da
proporcionalidade proteger apenas um dos seres da relação, privilegiar aquele que, no
caso da anencefalia, não tem sequer expectativa de vida extrauterina, aniquilando, em
contrapartida, os direitos da mulher, impingindo-lhe sacrifício desarrazoado.
A imposição estatal da manutenção de gravidez cujo resultado final será
irremediavelmente a morte do feto vai de encontro aos princípios basilares do sistema
constitucional, mais precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à
autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao reconhecimento pleno dos
direitos sexuais e reprodutivos de milhares de mulheres. (...) No caso, ainda que se
conceba o direito à vida do feto anencéfalo – o que, na minha óptica, é inadmissível,
consoante enfatizado –, tal direito cederia, em juízo de ponderação, em prol dos
direitos à dignidade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à autonomia, à
privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde, previstos,
respectivamente, nos arts. 1º, III; 5º, cabeça e II, III e X; e 6º, cabeça, da Constituição
da República. (...) Atuar com sapiência e justiça, calcados na Constituição da República
e desprovidos de qualquer dogma ou paradigma moral e religioso, obriga-nos a
garantir, sim, o direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor de tornar-
se ré em eventual ação por crime de aborto.
Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado na inicial, para declarar a
inconstitucionalidade da interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez
de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124, 126, e 128, I e II, do CP
brasileiro.
[ADPF 54, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 12-4-2012, P, DJE de 30-4-2013.]
Vide HC 84.025, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 4-3-2004, P, DJ de 25-6-2004
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
QUESTÃO TEMÁTICA
(Cespe/Sefaz-DF/Auditor/2020)Embora a Constituicão Federal de 1988 preveja
expressamente não distinção entre brasileiros, o próprio constituinte
estabeleceu, no texto constitucional, hipóteses de tratamentos distintos entre
homens e mulheres.
Gabarito: Correto.
A CF, ao assegurar a igualdade jurídica entre homens e mulheres (art. 5°, 1), faz
ressalva de que isso se dá nos termos que ela mesma, CF, determina. Assim, o
próprio texto constitucional prevê hipóteses de tratamento diferenciado em
prol das mulheres, com a finalidade de reduzir uma desigualdade fática
existente: é o caso da proteção ao mercado de trabalho da mulher e da licença-
maternidade maior do que a licença-paternidade (art. 7°), das regras
beneficiadas para algumas modalidades de aposentadoria (arts. 40 e 201) e do
serviço militar, que é obrigatório apenas para os homens (art. 143).
Ressalte-se que, além dessas hipóteses, outras podem ser criadas pela
legislação infraconstitucional (ou seja, o rol constitucional não é taxativo),
sempre que a finalidade for reduzir a desigualdade (é dizer, realizar a igualdade
material).
O STF decidiu que o princípio da igualdade exige que mulher grávida tenha
direito a remarcar o teste de aptidão física (TAF) em concursos públicos, ainda
que o edital não preveja tal possibilidade. A remarcação não é possível, porém,
por outros motivos (RE n. 1.058.333/PR, relator Ministro Luiz Fux).
QUESTÃO TEMÁTICA
Ano: 2021 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PRF Prova: CESPE / CEBRASPE -
2021 - PRF - Policial Rodoviário Federal
À luz da Constituição Federal de 1988 (CF), do Pacto de São José da Costa Rica e
do entendimento do Supremo Tribunal Federal, julgue o item que se segue,
relativo aos direitos humanos.
A alteração do gênero nos assentamentos de registro civil independe da
realização de procedimento cirúrgico, denominado transgenitalização, ou da
comprovação da realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, por
parte da pessoa interessada.
GABARITO. CERTO.
Informativo 892-STF: Os transgêneros, que assim o desejarem,
independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização de
tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do
prenome e do gênero (sexo) diretamente no registro civil. STF. Plenário. ADI
4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 28/2 e 1º/3/2018 (Info 892).

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