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AVALIAÇÃO DE DIREITO PRIVADO

TEMA 3
O PRINCÍPIO E O FIM DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A personalidade jurídica, adquire-se no momento do nascimento completo


(quando é cortado o cordão umbilical) e com vida (art.66º, nº1 CC), ou seja,
todo o ser humano tem esta condição. O facto de um recém-nascido ter
personalidade jurídica, não significa que tenha capacidade jurídica- são dois
termos distintos, mas que se interligam.
Considerando, o art.67º CC, as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário. Com isto, podemos
referir que a capacidade jurídica é uma consequência da personalidade
jurídica, ou seja, quem tem personalidade jurídica pode vir a adquirir
capacidade jurídica (capacidade de gozo, depende de alguém ter direitos;
capacidade de exercício, pode ser derivada, que está relacionada com o maior
acompanhado ou originária, quando se atinge a maioridade), sendo ambas
irrenunciáveis (art.69º CC).
Na doutrina, existem três teorias respeitantes à personalidade jurídica, a
teoria natalista- em que a personalidade jurídica só se adquire com o
nascimento completo e com vida, tal como refere o nosso CC no art.66º, nº1; a
teoria concepcionista- em que a personalidade jurídica se adquire antes do
nascimento, a partir do momento em que exista a fecundação; e a teoria da
personalidade condicionada- em que a personalidade jurídica é adquirida com
o nascimento completo e com vida, embora os direitos do nascituro estejam
suspensos, adquirindo a personalidade por completo quando nasce com
vida.
No que respeita à personalidade jurídica, irei abordar duas temáticas
sociais, a saber- o aborto e a eutanásia, os quais têm criado um amplo debate
de ideias acerca da sua aplicação. Face ao exposto, é importante compreender
o papel do Direito perante estas práticas.
O aborto, é a interrupção da gestação com a extração ou expulsão do
embrião, ou do feto (OMS).
O aborto foi legalizado em Portugal no ano de 2007, para tentar erradicar o
aborto ilegal que provocava graves problemas de saúde à mulher. A partir de
então, foi permitido o aborto voluntário até às 10 semanas de gestação, por
opção da mulher (art.142º, alínea e) do Código Penal), porém e de acordo com
o art.140º, nº3 CP, caso haja consentimento por parte da mesma “ao aborto
praticado por terceiro, ou que, por facto próprio ou alheio, se fizer abortar, é
punida com pena de prisão até 3 anos.”. No entanto, a mulher grávida pode
recorrer à prática, desde que reúna alguns dos requisitos estabelecidos na Lei,
art.142º do Código Penal, a lei prevê que quem não cumpra os mesmos seja
punido.
Quanto a esta prática considero importante que a integridade física e
psíquica da mulher sejam sempre ponderadas como uma máxima, dado que é
um acontecimento que só a ela lhe diz respeito e a irá marcar para toda a vida,
prevalecendo aqui questões éticas, morais e religiosas.
Apesar da sua legalização, o aborto é irá ser sempre considerado um tabu,
muito embora se assista à adaptação e desenvolvimento da sociedade na
aceitação desta prática.
A eutanásia, é a morte medicamente assistida como forma de poupar o
paciente a mais sofrimento.
Em Portugal, no dia 29 de janeiro de 2021, a eutanásia foi despenalizada a
partir de 5 projetos de lei.
Considerando que até ao momento o Presidente da República ainda não
promulgou, vetou ou enviou para o Tribunal Constitucional o diploma, não é
possível requerer a aplicação desta prática, com base na Lei nº 74/98 de 11 de
novembro, art.1º, nº1 e art.5º, nº1 CC.
A eutanásia sempre foi uma temática muito debatida, dado estar ligada a
questões morais, religiosas e éticas e ser difícil a concordância por todos os
membros da sociedade, pois coloca-se a decisão de escolher entre “matar”
para poupar o sofrimento de alguém de quem gostamos muito ou deixar viver o
paciente, sabendo que mesmo assim, nunca mais poderá voltar a ter uma vida
digna.
Quanto a esta prática, considero importante que a mesma deva ser uma
opção de escolha, tendo sempre em conta que seja a vontade expressa ou
presumida da pessoa- Principio da dignidade da pessoa humana.
Assim, de acordo com a última temática apresentada, o fim da personalidade
jurídica “cessa com a morte”, art.68º, nº1 CC.
Cabe ainda referir que após a morte, um cadáver não pode ser titular de
direitos, no entanto, beneficia da proteção a que se refere o art.71º, n.º 1 CC.
Esta abordagem, permite-me fazer a seguinte reflexão, tanto o direito à vida
como à morte devem ser respeitadas, pois todos nós temos o direito a viver e a
morrer de forma digna. Quanto a estas temáticas devemos ter sempre em
conta as circunstâncias, o desenvolvimento e as consequências de cada caso
em concreto. Contudo, enquanto forem outras famílias e outras pessoas a
escolher entre matar ou manter vivo, morrer ou viver, nunca sentiremos a dor
que é ter de decidir. Embora existam suportes legais que viabilizam tais
práticas a escolha será sempre de cada um de nós.

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