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Introdução ao Direito

hugo cunha lança


As pessoas
Artigo 66.º (Começo da personalidade)
1. A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida.*
2. Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento.

Artigo 67.º (Capacidade jurídica)


As pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em
contrário: nisto consiste a sua capacidade jurídica.

Artigo 68.º (Termo da personalidade)


1. A personalidade cessa com a morte.
2. Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a outra pessoa, presume-
se, em caso de dúvida, que uma e outra faleceram ao mesmo tempo.
3. Tem-se por falecida a pessoa cujo cadáver não foi encontrado ou reconhecido, quando o
desaparecimento se tiver dado em circunstâncias que não permitam duvidar da morte
dela.
* Código de Seabra exigia figura humana…

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As pessoas
Associações
Artigo 167.º (Acto de constituição e estatutos)

1. O acto de constituição da associação especificará os bens ou serviços com que os associados


concorrem para o património social, a denominação, fim e sede da pessoa colectiva, a forma do seu funcionamento,
assim como a sua duração, quando a associação se não constitua por tempo indeterminado.
2. Os estatutos podem especificar ainda os direitos e obrigações dos associados, as condições da sua admissão, saída e exclusão, bem
como os termos da extinção da pessoa colectiva e consequente devolução do seu património.

Fundações
Artigo 185.º (Instituição e sua revogação)

1 - Asfundações visam a prossecução de fins de interesse social ,


podendo ser instituídas por ato entre vivos ou por testamento.
2 - A instituição por atos entre vivos deve constar de escritura pública, salvo o disposto em lei especial, e torna-se irrevogável logo
que seja requerido o reconhecimento ou principie o respetivo processo oficioso.
3. Aos herdeiros do instituidor não é permitido revogar a instituição, sem prejuízo do disposto acerca da sucessão legitimária.
4 - O ato de instituição, bem como os seus estatutos e suas alterações devem ser publicitados nos termos legalmente previstos para
as sociedades comerciais, não produzindo efeitos em relação a terceiros enquanto não o forem.

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As pessoas não humanas?!
Dos animais
Artigo 201.º-B - Animais

Os animais são seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de


proteção jurídica em virtude da sua natureza.
Artigo 201.º-C Proteção jurídica dos animais
A proteção jurídica dos animais opera por via das disposições do presente código e de
legislação especial.

Artigo 201.º-D Regime subsidiário


Na ausência de lei especial, são aplicáveis subsidiariamente aos animais as disposições
relativas às coisas, desde que não sejam incompatíveis com a sua natureza.

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As pessoas não humanas?!
Dos crimes contra animais de companhia
Artigo 387.º Maus tratos a animais de companhia
1 - Quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de
companhia é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias.
2 - Se dos factos previstos no número anterior resultar a morte do animal, a privação de importante órgão ou membro
ou a afetação grave e permanente da sua capacidade de locomoção, o agente é punido com pena de prisão até dois
anos ou com pena de multa até 240 dias.

Artigo 388.º Abandono de animais de companhia.


Quem, tendo o dever de guardar, vigiar ou assistir animal de companhia, o abandonar, pondo desse modo em perigo a
sua alimentação e a prestação de cuidados que lhe são devidos, é punido com pena de prisão até seis meses ou com
pena de multa até 60 dias.

Artigo 389.º Conceito de animal de companhia


1 - Para efeitos do disposto neste título, entende-se por animal
de companhia qualquer animal detido ou
destinado a ser detido por seres humanos, designadamente no seu lar, para seu
entretenimento e companhia.
2 - O disposto no número anterior não se aplica a factos relacionados com a utilização de animais para fins de
exploração agrícola, pecuária ou agroindustrial, assim como não se aplica a factos relacionados com a utilização de
animais para fins de espetáculo comercial ou outros fins legalmente previstos.

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As pessoas (jurídicas)
(i) personalidade jurídica - “é a susceptibilidade de ser titular de
direitos e obrigações” (Castro Mendes, Direito Civil, I, p. 169)
(“qualidade que assume o homo sapiens quando age no palco do
Direito”, Menezes Cordeiro, Direito Civil, p. 293)

(ii) capacidade jurídica de gozo - “é a medida de direitos e


obrigações de que uma pessoa é susceptível” (Castro Mendes,
Direito Civil, I, p. 174)

A capacidade jurídica de exercício - “é a susceptibilidade de


exercer os direitos e cumprir os seus deveres, pessoal e livremente”
(Castro Mendes, Direito Civil, I, p. 177)
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Estatuto Jurídico do Nascituro (ou Embrião)

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Uma mulher está grávida. O que tem na barriga:

uma pessoa ou uma coisa?

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Personalidade Jurídica
“A fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre nas trompas. Resulta
daí um novo ser, composto por genes cedidos pela mãe e pelo pai. Inicialmente
formado por uma única célula, diz-se um zigoto. Ficam imediatamente definidos
o sexo e as múltiplas características genéticas do individuo. Nessa mesma
semana, o zigoto divide-se em várias células, vindo a constituir um blastocisto. A
massa celular interior, que se transforma no embrião… No sexto dia após a
fecundação, verifica-se a nidificação ou implantação do embrião. Ele adere
à parede do útero materno.” (Menezes Cordeiro, Direito Civil, p. 257).

“O cérebro desenvolve-se no final da terceira semana. O coração inicia


batimentos no inicio da quarta semana. Na nona semana inicia-se o período
fetal: o embrião apresenta-se como um pequeno ser humano de
50 cm”. (Menezes Cordeiro, Direito Civil, p. 258)

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Estatuto Jurídico do Nascituro ou Embrião
- Código Hamurabi (1700 a. C.) – punia a morte de uma pessoa
dentro de uma pessoa;

- Antigo Testamento – se alguns homens renhirem e um deles


ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, mas
ficando ela com vida, será obrigado a ressarcir o dano…

- Juramento de Hipócrates (IV a.c.) – proibia a administração de


úvula abortiva;

- Platão e Aristóteles – concordavam com o aborto; bem como


com o infanticídio!
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Estatuto Jurídico do Nascituro ou Embrião
- A questão da ilicitude do aborto: qual o bem jurídico
protegido? Vida humana intra-uterina?

- A licitude da pílula do dia seguinte, do aborto/IVG até às


10 semanas e a violação;

- O aborto eugénico: a questão das más formações congénitas;

- A discussão penal do aborto como inversão de valores e as


noções de legalidade e criminalização (ou ainda como o humor
derruba as mais fortes doutrinas);
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Interrupção da gravidez não punível
Artigo 142.º Interrupção da gravidez não punível (CP)
1 - Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico, ou sob a sua direcção, em estabelecimento de
saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grávida, quando:
a) Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão para o corpo
ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida;
perigo de morte ou de grave e duradoura lesão para o
b) Se mostrar indicada para evitar
corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida e for realizada nas primeiras 12 semanas
de gravidez;

c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de grave
doença ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24
semanas de gravidez, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser
praticada a todo o tempo;

d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e a interrupção


for realizada nas primeiras 16 semanas.

e) For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.


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Estatuto Jurídico do Nascituro ou Embrião
- O violinista de Judith Jarvis Thompson;
- O nascituro tem direito à vida?
a) Sim: ficam proibidos os abortos sem justificação forte e
podem ser tomadas medidas para garantir o
nascimento saudável;
b) Não: se o nascituro é uma coisa, é livre o aborto e as
experiências médicas durante a gravidez; a questão da
vontade da mãe e a putativa palavra do pai?

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O feto é parte do organismo da mulher?
Não. “O código genético do feto é diferente do da
sua mãe” (Pedro Galvão)

“Os fetos não são pessoas. Não têm a


menor capacidade de agir racionalmente. Não têm
sequer consciência de si, ou seja, são incapazes de
se conceberem enquanto sujeitos de uma vida
mental” (Pedro Galvão)
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Quando começamos a existir?
O que somos nós?
(i) – animalismo – somos um organismo? (a questão
das gémeas siamesas)
(ii) - a alma? Cada um de nós é um corpo vivo e uma alma

mente
(iii) - - cada um de nós é uma mente. A mente
de uma pessoa humana está realizada no seu cérebro e
existe enquanto o cérebro conserva a capacidade de
consciência. E o cérebro apenas se desenvolve depois
da vigésima semana de gestação.
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Estatuto Jurídico do Nascituro ou Embrião
Questões jurídicas pertinentes:

- O início da personalidade jurídica desde a conceção;


- A indemnização pela vida indesejada (wrongful life);
- A indemnização por nascimento com doenças provocadas na gravidez;
- A indemnização por nascimento com doenças provocadas por
comportamentos (de risco) da mãe na gravidez;
- O internamento compulsivo da mulher grávida ou a aplicação de sanções
pecuniárias compulsórias;
- O problema da utilização dos excedentes dos embriões na fertilização in
vitro;
- O direito à indemnização do nascituro pela morte do pai (ou mesmo da
mãe)!

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Termo da Personalidade: a morte

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Termo da Personalidade: a morte
“É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor
ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação
com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito
liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira;
não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e
pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da
ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender
que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto
subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma
ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as
formas”.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'


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Termo da Personalidade: a morte
- O momento da morte como critério médico;

- Da tradicional paragem do coração, pela passagem pela paragem respiratória, à


morte cerebral (ou cortical – morte do tronco cerebral): a cessação irreversível
das funções do tronco cerebral;

- Sendo o critério da morte cerebral tão problemático, como se impôs tão facilmente?
“Por ser útil. Declarada a morte dos pacientes cerebralmente mortos, pode-se desligar os
seus organismos dos sistemas de apoio de vida sem suscitar muitas preocupações éticas,
libertando assim recursos médicos valiosos e criando uma boa fonte de órgãos para
transplantes” (Pedro Galvão).

- A morte como cessação dos direitos pessoais do falecido e a


transmissão dos direitos patrimoniais do falecido;
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O Estatuto Jurídico do Cadáver
- O cadáver como res extra commercium;

- O destino: inumação ou cremação;

- O respeito devido aos mortos: tutela penal;

- A tutela da imagem do falecido (remissão);

- A doação de órgãos;

- A eutanásia (remissão).
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O respeito devido aos mortos
Artigo 71.º (Ofensa a pessoas já falecidas)

1. Os direitos de personalidade gozam


igualmente de protecção depois da morte
do respectivo titular.
2. Tem legitimidade, neste caso, para requerer as providências
previstas no n.º 2 do artigo anterior o cônjuge sobrevivo ou qualquer
descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro do falecido.
3. Se a ilicitude da ofensa resultar de falta de consentimento, só as
pessoas que o deveriam prestar têm legitimidade, conjunta ou
separadamente, para requerer providências a que o número anterior
se refere.

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A doação de órgãos
Qualquer pessoa, ao falecer, é um potencial dador de
órgãos ou tecidos para transplante, desde que, em vida,
não se tenha manifestado contra esta possibilidade,
nomeadamente através de inscrição no Registo Nacional de Não-Dadores. (No caso de se tratar de
uma pessoa menor de idade ou mentalmente incapaz, é válida a vontade de quem detenha o poder
paternal). No entanto, para que possa haver doação de órgãos têm que reunir-se um conjunto de
circunstâncias:

(i) o dador tem que falecer num Hospital


(ii) depois de se verificar a paragem irreversível das funções cerebrais ou cardio-respiratórias, o corpo
tem que ser mantido artificialmente, desde o momento da morte até ao momento da extração dos
órgãos.
(iii) é necessário que se conheça, com exatidão, a causa da morte.
(iv) não são aceites como dadores indivíduos que sejam, na altura da morte, portadores de uma
doença infeto-contagiosa, de um tumor maligno ou de uma doença com repercussão nos órgãos a
transplantar. Também são contra-indicações, embora relativas, para a doação, uma história clínica de
Hipertensão Arterial, de Diabetes ou a idade avançada.

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Testamento Vital
O Testamento Vital é um documento, registado eletronicamente, onde é

manifestar o tipo de tratamento, ou


possível

os cuidados de saúde, que se pretende,


ou não, receber, quando incapaz de
expressar a (sua) vontade. O Testamento Vital permite,
também, a nomeação de um ou mais procuradores de cuidados de saúde.
O registo do Testamento Vital, no Registo Nacional do Testamento Vital
(RENTEV), permitirá a disponibilização atempada da informação constante no
Testamento para consulta, pelos médicos.

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