Você está na página 1de 40

Direito Privado | Ema Glória

Princípios do Direito Privado

INTRODUÇÃO
“O Direito é universal no sentido de que existe em todas as sociedades do
globo, quer no presente, quer no passado, tanto quanto a história nos permite
conhecer.

Esta ideia ou caraterística do Direito é expressa pelo brocardo latino “ubi


societas, ibi ius” (onde há uma comunidade há direito), no entanto não significa
que o Direito se revele da mesma forma e tenha o mesmo conteúdo no espaço
e no tempo, que seja uniforme nas normas de conduta que estabelece e nas
suas formas de produção e de revelação, mas essencialmente que em todas
as sociedades existe uma distinção entre o que é permitido e o que é proibido.

O Direito é constante e universal, mas não é uniforme, pois existiu e existe em


todas as comunidades humanas politicamente organizadas, mas tem um
conteúdo variável no espaço e no tempo.

O Direito é necessário para promover a cooperação e para resolver os conflitos


de interesse.”

CONCEITO DE DIREITO

“O Direito está em toda a parte. O Estado regista quase tudo: o nosso


nascimento e morte, a nossa identidade, as nossas declarações de bens, o
nosso emprego, entre outros.

O Direito regula quase tudo na nossa vida desde que nascemos até que
morremos. Regula as relações entre pais e filhos, entre os cônjuges, entre
patrões e empregados…”

A NATUREZA SOCIAL DO HOMEM

O homem é um ser cuja natureza é essencialmente social: “O Homem é um


animal político porque nasceu para viver em comunidade (polis)” - Aristóteles.

1
Direito Privado | Ema Glória

O Homem é dotado de sentimentos e de razão, precisa de comunicar, de trocar


experiências, de utilizar o produto do trabalho alheio, porque é impossível criar
sozinho tudo o que necessita para viver.

“unus homo, nullhus homo”, ou seja, o homem que viva absolutamente isolado,
sem uma comunidade social mais ou menos extensa, não é homem: é um
nada.

ORDEM

Ordem: conjunto de elementos que traduzem realidades que observamos


diariamente.

Ordem Natural:

 Fenómenos naturais existentes que ultrapassam o Homem, que o


sobrepõem;
 Não pode ser violada.
Ex: catástrofes naturais, leis da física

Ordem Social:

 fenómenos inerentes à presença do Homem (relações do Homem na


comunidade);
 Ser social obriga à criação de regras.

 Ordem Técnica (plano de dever):


 Reporta-se a certas atividades do Homem para alcançar
determinados objetivos;
 São regras (ordens) contrárias à regra condicional “se”;

2
Direito Privado | Ema Glória

Ex: se eu quiser aquecer uma sopa no microondas eu sei que

tenho de ligar a ficha…TENHO DE CUMPRIR AS REGRAS;

 Se eu quero cumprir o meu objetivo tenho de cumprir as regras.

 Ordem Fáctica (plano de ser):

 Descrição do comportamento humano;

 Constatações de factos com base nos conhecimentos do Homem;

Ex: se houver uma guerra a economia cai.

se os jovens ganharem mal ficam mais tempo dependentes

dos pais.

Ordens Normativas:

 Visam orientar/disciplinar a conduta humana;

 Têm caráter imperativo, ou seja, estas violam-se.

 Ordem de trato social:

 Usos ou convencionalismos sociais destinados a tornar a

convivência mais agradável;

 Trata das regras de cortesia (regras de etiqueta/boa educação)

entre a sociedade;

Ex: “Olá, boa tarde”

 Ordem Religiosa:

3
Direito Privado | Ema Glória

 Relacionamento do Homem com divindades, com ideias próprias,

presentes na mente de cada um que a integra com

sanções/consequências próprias (“Deus castiga”);

 Normas criadas por um Ser transcendente e ordenam as

condutas dos crentes nas suas relações com Deus.

 Ordem Moral:

 Define os deveres da natureza épica de cada indivíduo ou de um

conjunto de indivíduos;

 Têm sanção intrínseca/psicológica (culpa, consciência pesada);

 De acordo, com Cabral de Moncada, a moral é constituída pelo

“conjunto de preceitos, conceções e regras, altamente

obrigatórios para com a consciência, pelos quais se rege, antes e

para além do direito, algumas vezes até em conflito com ele, a

conduta dos homens numa sociedade”.

 Moral Individual:

 Faz parte da consciência de cada um de nós.

Ex: interior do remorso, desgosto de si

 Moral Social:

 Conjunto de regras éticas de cada país, por

exemplo;

 Comum a todos os membros de uma sociedade.

 Moral Particular:

 Regras específicas de determinadas profissões;

Ex: advogados

4
Direito Privado | Ema Glória

 Ordem Jurídica:

 Regula os aspetos mais importantes da convivência social;

 Traduz-se/exprime-se em regras jurídicas, que têm como objetivo a

Justiça, Segurança e Bem-Estar.

As Regras Jurídicas têm 2 elementos fundamentais:

 Previsão: prevê um determinado acontecimento.

 Estatuição: é a consequência estabelecida para tal acontecimento.

Ex: Art. 130º CC; “Aquele que perfizer 18 anos” - Previsão

; “adquire plena capacidade de exercício…” - Estatuição

Direito ≠ Moral

CRITÉRIOS PARA DISTINGUIR O DIREITO DA MORAL:

1. Critério Teleológico: Atende aos fins. O Direito tem um fim social, ou


seja, tem em vista a realização da justiça para assegurar a paz social
necessária à convivência em liberdade (regular a vida da sociedade); a
Moral tem um fim pessoal, isto é, interessa-se pela realização plena do
homem.

2. Critério do Objeto: A Moral incide sobre a interioridade (de cada um) e


o Direito sobre a exterioridade (o que se exterioriza – comportamento).
Ao Direito não é diferente a interioridade.
Ex: Eu posso ter matado alguém sem essa intenção, ou então com o
desejo de o fazer.

5
Direito Privado | Ema Glória

3. Critério da Imperatividade: A Moral é unilateral, pois impõe


determinados deveres (morais), sem poder obrigar; impõe deveres, mas
não reconhece direitos; não prevê sanções.
O Direito é bilateral, podendo ser exigido, uma vez que reconhece
direitos; prevê sanções.
Ex: estabelecimento de um contrato

Obrigações Naturais- não podemos exigir juridicamente.

4. Critério da Autonomia: A Moral é autónoma, porque vem da


consciência de cada indivíduo; é um imperativo categórico de cada um.
O Direito é heterónomo, pois vem de entidades exteriores que impõe o
cumprimento de regras jurídicas que se sobrepõem ao regime.

5. Critério do Mínimo Ético: O Direito é a parte mais importante da Moral;


é o que consideramos que tem mesmo de ser assim.
Ex: as regras de trânsito são regras jurídicas, mas muitas destas regras
não têm nada de moral, são apenas regras que se criaram porque é
mais fácil que o trânsito circule daquela maneira.

CARATERIZAÇÃO DO DIREITO:

 Necessidade- O Direito é essencial para a regulação da vida em


sociedade.
A sociedade não sobrevive sem direito porque para que se garanta a
paz e ordem pública, são necessárias regras jurídicas.
Estamos perante uma ideia que segundo o Direito só deve regular aquilo
que é necessário dado que as regras jurídicas não devem tratar de tudo
quanto sejam matérias relativamente às quais não existe relevância na
sociedade.
Ex: regras de cortesia

6
Direito Privado | Ema Glória

 Imperatividade- A ideia de que o Direito deve ser acatado e respeitado,


através do tribunal, polícia, entre outros.
O Direito é obrigatório e genericamente a ideia de imperatividade está
presente quando se fala de direito e regras jurídicas. O direito é mais
imperativo numas regras e menos noutras, como tudo, mas como é
genérico origina uma tendência a que a sociedade acate as regras.
Ex: Covid, todos acatam as regras jurídicas, porém como há uma grande
proliferação das regras, nem todos as conhecem e portanto, não as
acatam, por isso, o direito só garante a sua imperatividade se for efetivo
e claro. Ainda que a violem, a imperatividade continua presente gerando
uma sanção. As sanções garantem a imperatividade do Direito.

 Exterioridade- O Direito e as regras jurídicas só dão valor aquilo que se


exterioriza, ao que se manifesta, aos comportamentos observados.
Tudo o que seja interior (pensamentos) não são relevantes para o
direito.
Ex: O António pensa em matar o vizinho; não é exteriorizado porque ele
não disse a ninguém, apenas pensou. Só tem a ver com a consciência
moral.

 Estadualidade/Estatalidade- O Direito tendencialmente é proveniente


do Estado, emanadas as regras pelos órgãos com competências
legislativas (Assembleia da República e Governo). No entanto, algumas
provêm de outro quadro normativo (ex: regras que provêm da UE,
produzidas pelos órgãos da UE e aplicadas em diversos Estados). É
uma caraterística tendencial.
Ex: Declaração dos Direitos do Homem, ultrapassam o Estado, mas é
aplicado em todos os Estados-membros da UE, logo não é estadual.

 Coercibilidade- Suscetibilidade do uso da força (força física e coação).


Em regra, a aplicação do Direito pode exigir o uso da força, ainda que
nem todas as regras possam ser impostas pelo uso da força (tribunais,
polícia…- meios de coação do Direito).

7
Direito Privado | Ema Glória

Excecionalmente, o Direito permite que os titulares utilizem a força para


garantir os seus direitos quando o Direito não o consegue.
Ex: estádio de futebol, quando se chama a polícia para intervir devido ao
desrespeito pelas regras jurídicas por parte dos adeptos. Faz-se isto
para garantir o cumprimento das regras.

FINS DO DIREITO:
O Direito, geralmente, tem fins e propósitos.

1. Justiça- A Justiça é ser justo e dar a cada um o que lhe pertence,


ou seja, justo é que cada um receba o que lhe compete (sanções
para os culpados, etc.). A ideia de que o Direito visa apenas a
justiça é difícil de conceber.

Existem 3 modalidades de Justiça:


 Comutativa- Tem por fim corrigir as desigualdades nas
relações entre os particulares. Fala-se em tudo quanto sejam
regras que garantem o equilíbrio nas relações entre
particulares.
Ex: num contrato, há um equilíbrio de bens
 Distributiva- Tem como finalidade assegurar a distribuição
equilibrada dos bens do Estado pela comunidade. O Estado
tem de ser justo.
Ex: quando o Estado garante o ensino, saúde…deve fazê-lo de
forma justa. Não é tratar todos por igual, se uma pessoa vive
na rua irá tratar de lhe fornecer comida.
 Geral- Contributo que as pessoas dão para a comunidade;
cada um de nós participa de forma justa.
Ex: quem ganha mais paga mais impostos, quem ganha menos
paga menos impostos

Para que haja Justiça é necessário que haja IGUALDADE!

8
Direito Privado | Ema Glória

Existem 3 Princípios muito importantes para garantir o respeito


pelo fim da Justiça:

 Princípio da Igualdade- Tratar de forma igual aquilo que é


igual na sua essência e tratar de forma desigual aquilo que é
desigual na sua essência.
Ex: uma pessoa recebe 5.000€ e outra 1.500€ e eu exijo
1.000€ a cada uma – é injusto. Devemos ser tratados de forma
igual; não devemos ser discriminados pela nossa orientação
sexual…mas, quanto aos rendimentos pessoais deve ser
diferente.
 Princípio da Proporcionalidade- As soluções que o Direito
apresenta têm de ser equilibradas conforme o que pretende
garantir. Tem de ser apta para aquilo que quero tratar.
Ex: tenho um conjunto de animais contaminados com um vírus
cuja vacina existe, no entanto, eu decido matá-los a todos. – É
uma solução desadequada e excessiva.
 Princípio da Imparcialidade- É essencial que os poderes
públicos, quando atuam, respeitem a imparcialidade e não
beneficiem quem lhes convém; não deve de olhar a quem.
O Direito pela Justiça garante-se pela Imparcialidade.

2. Segurança Jurídica

Vista sob 3 formas:


 Ideia da paz social- Finalidade de nos garantir uma
comunidade segura; deve garantir a tranquilidade.
 Ideia de certeza do Direito- Só se verifica segurança se as
pessoas souberem aquilo que é o Direito aplicável a cada
momento; deve ser certo.
 Ideia de que é o limite face ao poder- É uma segurança para
as pessoas. O Direito é efetivamente uma proteção para a

9
Direito Privado | Ema Glória

comunidade, pois assim garante-se que, quem manda não faz


o que quer porque há Direito.
O Direito é uma proteção.

Nem sempre a Justiça prevalece sobre a Segurança Jurídica. A Justiça nem


sempre é um valor absoluto, destacamos nesse caso alguns princípios que o
comprovam:

 Caso Julgado- Uma vez esgotadas todas as vias de recurso em tribunal


a decisão final é irreversível.
Quando se forma caso julgado, não é possível recorrer a mais nenhum
tribunal, no entanto, pode haver INJUSTIÇAS. Nem sempre é a justiça
que vinga.

 Prescrição- Impossibilidade de fazer valer o direito por decurso de


tempo.
O estado perde o direito de fazer prevalecer a sua punição.

Ex: Guardas nazis

3. Bem-Estar Económico e Social- As regras jurídicas apelam ao


bem-estar das pessoas:
 Direito Habitação
 Direito Educação
 Direito Acesso à justiça

O modelo do nosso estado é de um Estado Prestador (que está pensado no


sentido do bem-estar dos cidadãos, através de bens sociais essenciais), ou
seja, é alcançado o bem-estar comum da sociedade.

“Prestações sociais”

RAMOS DO DIREITO

10
Direito Privado | Ema Glória

O direito está ramificado/dividido em várias áreas, em função daquilo que se


quer regular.

Ex: Relação entre pais e filhos, Direito da Família.

Direito Público ≠ Direito Privado

- Visam a satisfação de - Visam a satisfação de


interesses públicos. interesses privados.
- Regulam os interesses do - Regulam as relações
estado comum. entre particulares.

Atualmente é muito difícil distinguir ambos porque o Direito Público influencia o


Direito Privado e vice-versa.

Por isso, existem 3 critérios para distinguir o direito publico do privado, ainda
que sejam bastante “criticados”.

Critério para distinguir o Direito Público do Direito Privado:

 Critério da Natureza dos Interesses- Integram o Direito Público as


normas que assegurem a realização dos interesses próprios da
comunidade, ou seja, coletivos/públicos.
Ao direito privado pertencem as normas dirigidas à satisfação de
interesses que só dizem respeito aos indivíduos.
 Critério da qualidade dos sujeitos- O Direito Público regula as
situações em que intervém o estado ou entes públicos.
O Direito Privado regula as situações/relações dos particulares.
 Critério da posição dos sujeitos- No Direito Público o estado tem uma
posição superior.
No Direito Privado regula as situações em que os sujeitos estão em
posição paridade.

Ramo do Direito Público

11
Direito Privado | Ema Glória

Direito Internacional Público- Direito que regula a comunidade internacional.


Não regula apenas a relação entre estados, mas também as relações entre
estados e organizações internacionais (nações unidas).

Direito Constitucional- Trata de aspetos como a organização do poder político,


caraterização do estado como soberano, princípios que regem a própria
atividade do estado, ponto de vista do poder político, direitos fundamentais dos
cidadãos.

Direito Administrativo- Regula a atividade e organização da administração


pública.

Direito Fiscal- Regula/ trata da definição e cobrança de impostos.

Ramo do Direito Privado

Direito Civil- Regula/ disciplina a vida das pessoas e as relações entre as


pessoas.

Elemento fundamental do Direito Privado, dentro do mesmo estão o:

 Direito das Obrigações: (Art.379ºCC), regula as situações pelas quais


alguém está vinculado a realizar uma prestação a favor de outra.
Ex: devedor face a credor
 Direitos Reais/Coisas: Trata do direito das pessoas sobre as coisas.
Ex: propriedade de uma casa
 Direito da Família: Regula a constituição da família e as relações da
mesma.
Ex: Casamento, divórcio, adoção
 Direito das Sucessões: Regula a circunstância da morte.
Ex: testamentos; quem hera o quê?

Direito Privado Especial (Direitos da pessoa)

Direito do Trabalho- Regula as relações de trabalho de forma especial face


aquilo que são as normas gerais de contratos de trabalho.

12
Direito Privado | Ema Glória

Direito Processual- Trata regras aplicáveis ao funcionamento dos tribunais,


regras próprias da articulação das pessoas e dos processos.

Direito Penal- Trata dos crimes e das penas.

FONTES DO DIREITO (Lei, Costume, Jurisprudência e Doutrina)

 Tudo o que diz respeito à formação e revelação das normas jurídicas.

 Fontes Imediatas- Produzem normas jurídicas sem necessidade de


reconhecimento de outra qualquer fonte; produzem diretamente normas
jurídicas.

 LEI- a lei produz diretamente sem depender do que quer que seja,
normas jurídicas.
A lei é uma salvaguarda do Direito.
A lei produz imediata e diretamente normas jurídicas.

 Fontes Mediatas- Só são reconhecidas como fontes de Direito na medida


em que a lei lhes dá esse valor; só se a lei determinar.

Exemplos:
o Assentos- são as decisões do Supremo Tribunal de Justiça com
obrigatoriedade, ou seja, decisões que para serem adotadas, tinham de
ser seguidas por todos os tribunais com uma vinculatividade como se
da lei se tratasse.
O que resultava dos assentos tinha efetivamente uma obrigatoriedade
para a generalidade do tribunal e, portanto, nesse sentido, estávamos
perante uma decisão do tribunal que é uma forma de revelação e
produção de normas jurídicas para toda a comunidade.
Atualmente, estes já não vigoram em Portugal, sendo apenas uma
referência histórica que fazemos.
o Usos- são práticas sociais reiteradas (hábitos), às quais o direito
reconhece o valor.

13
Direito Privado | Ema Glória

o Equidade- fontes mediatas do Direito, mas dificilmente é considerado


fonte do Direito.

 Costume, como fonte do Direito- É uma prática social reiterada com


uma convicção de obrigatoriedade; têm uma convicção de “tem de ser
assim”; noção de dever.

o Elemento Objetivo: Prática social reiterada


o Elemento Subjetivo: Convicção de obrigatoriedade

 Relação entre o Costume e a Lei


o Secudum Legem: coincidem a lei e os costumes; costumes de
acordo com a lei.
Ex: lealdade entre marido e mulher
o Practer Legem: o costume transcende a lei; vai para além da
lei, mas não a contraria. O costume trata de matérias
relativamente às quais a lei não se pronuncia. Trata de
matérias que são reguladas pela lei.

o Contra Legem: contra a lei; a lei proíbe o costume; costume e


lei em contradição.

Ex: em Portugal é proibido matar os touros, no entanto, no


Alentejo é costume matarem os touros na arena. Porém,
atualmente, a lei permite que um dia (exceção), 1 vez por ano,
eles o possam fazer.

 Jurisprudência- Conjunto de decisões dos tribunais para a resolução


de casos concretos; não é fonte de Direito, mas há EXCEÇÕES.

 Normas Jurídicas: regras de Direito aplicáveis à generalidade da


comunidade.

14
Direito Privado | Ema Glória

 Da jurisprudência vêm regras para toda a comunidade?


NÃO!!!

o As decisões dos tribunais valem, em regra, apenas e só para


aquele processo, para aquelas pessoas. Portanto, as soluções
dos tribunais são soluções, respostas dadas pelos tribunais para
determinado assunto. Não vinculam, não são
obrigatórias

o Em sistemas jurídicos como o nosso (Romano-Germâncio) vale o


princípio de acordo com o que os juízes são livres de decidir, não
estão vinculados às decisões dos seus colegas.

Princípio da Liberdade Decisória

É livre de decidir, devendo apenas limitar-se a aplicar a lei na


interpretação que ele lhe dá. Ao contrário do que acontece nos
países anglo-saxónicos (Estados-Unidos…) em que vigora a regra
de precedente judicial, o juiz quando decide um caso verifica
casos similares.
Se já houve decisão de caso similar num determinado sentido, só
excecionalmente é que eu posso decidir de forma diferente (se
não houver um precedente).

Está vinculado a seguir o mesmo

Em regra, em sistemas como o nosso, a jurisprudência não é


fonte de Direito.
Exceções: acórdãos (decisões do tribunal constitucional
português), são decisões que se debruçam sobre matérias de
inconstitucionalidade relativamente às quais, por vezes, é
atribuída a chamada força obrigatória geral.

15
Direito Privado | Ema Glória

Por vezes, o tribunal constitucional emana decisões em que


decide, por exemplo, que uma determinada lei viola a constituição
(a mãe de todas as leis). Perante uma situação destas, a
jurisprudência é fonte de Direito porque está a criar regra para
toda a comunidade ao dizer que tal lei não se aplica.

 Decisões dos Tribunais:


o Sentença- decisão praticada por um juiz singular.
o Acórdão- decisão praticada por um conjunto de juízes.

 Tribunal de Justiça da União Europeia- decide sobretudo a


conformidade da legislação portuguesa com o Direito da União
Europeia.
 Tribunal dos Direitos do Homem- é um recurso aos particulares
acerca da violação dos seus direitos.
 Doutrina- Trabalho/saber dos conhecimentos dos grandes mestres; se
a lei nada disser venham os mestres (Antigamente). Tem/pode ter
relevo, mas não é fonte do Direito (Atualmente).

o Hoje, a Doutrina não é uma verdadeira fonte de Direito, não se


encontrando referência para a resolução de casos através da
mesma.
Não produzem as regras, mas têm influência, são opiniões
consideradas, não vem nada de obrigatório para eu seguir.

A LEI COMO FONTE DO DIREITO

 É, talvez, a única que garante que nós temos uma tentativa, uma procura, de
uma sociedade em que se aplica regras para toda a comunidade (gerais).

- Direito
 Lei - Fonte de Direito
- Ato da AR

16
Direito Privado | Ema Glória

 Também o Governo pode fazer atos legislativos, atos com força de lei.

Decretos-Lei

 Lei em sentido formal- ato com determinado procedimento, emanado por


um órgão com competência legislativa, etc.
 Lei em sentido material- ato que contém regras jurídicas (normas).

o No art.1º CC é adotada a noção material pela lei, no sentido de


considerar que a lei é tudo aquilo que sejam normas gerais e abstratas
(para um conjunto indeterminado de destinatários e com um número
indefinido de situações).
Já na constituição é dada uma noção formal de lei, pois considera que a
lei é tudo o que seja um ato que revista a forma de lei. Interessa-lhe única
e exclusivamente a forma do ato e não o seu conteúdo propriamente dito.
Na verdade, no nosso direito português, acaba por ser a conjugação
destas duas noções. A lei será sempre um ato que foi emanado por um
órgão com competência legislativa (Governo, AR, Assembleias
Legislativas das RA) e tipicamente não será uma lei medida, com um
destinatário concreto, destinando-se à comunidade para regular um
conjunto indefinido de situações.
Art.112º CRP

 Regulamentos- atos que vêm concretizar a lei, vêm posteriormente à


lei.

 Resolução do Conselho de Ministros- atos normativos, não são leis,


ainda que devam ser respeitados (têm força obrigatória).

 Princípio da Prevalência da Lei- a lei é o ato que tem proveniência


sobre os demais atos normativos, ao qual é dado mais valor, não
podendo qualquer outro ato normativo revogar ou afastar a lei. A lei só
pode ser revogada por lei ou decreto-lei.

17
Direito Privado | Ema Glória

É parâmetro de atuação dos órgãos do poder, sendo o “travão” para os


órgãos de execução; garantia dos direitos fundamentais; separação dos
poderes legislativo e executivo.
Muitas das leis feitas em Portugal são feitas por indicação da UE, que
estabelece regras para todos os Estados que, posteriormente, os
adaptam ao seu território. O facto de Portugal pertencer à UE condiciona
a elaboração das nossas leis.

o Regulamento- todos os países têm que o aplicar imediatamente e como


o disseram de forma igual.
o Diretivas- estabelece um prazo para todos países cumprirem
determinados objetivos, dando liberdade quanto ao modo de atuação
das mesmas.

 Princípios Fundamentais de Direito (igualdade, dignidade…) - são a


expressão de grande valor; orientações que constituem uma fonte de Direito
por estarem integradas na lei. Servem para conformar o próprio direito.

 Hierarquia das Fontes- certos autores consideram que devemos colocar


sempre em 1º lugar a CONSTITUIÇÃO.

Outros, consideram o DIREITO DA UE a principal, como fonte de direito,


pelo que deve estar no topo (uma vez que a própria CRP assume que o
Direito português se deve conformar e adaptar àquilo que são as regras do
DUE).

VALORES NEGATIVOS DO ATO JURÍDICO

 Ato Jurídico- facto humano ou voluntário com relevância.

Quando estamos perante um ato jurídico praticado por 2 pessoas, caso haja
uma conjugação de vontades, podemos estar perante a formação de um
Negócio Jurídico.

18
Direito Privado | Ema Glória

No Direito Privado o princípio que vale é o Princípio da Autonomia


Privada.
A regra é que pode ser tudo feito, salvo aquilo que é proibido, ou seja, eu
tenho a liberdade para praticar os atos jurídicos que eu quiser, salvo aqueles
que forem proibidos.

Esta ideia da Autonomia Privada tem limites, ou seja, há barreiras que a


ordem jurídica não permite que sejam ultrapassadas. Por exemplo, apesar
do Princípio Geral da Autonomia Privada é evidente que uma pessoa que
tenha perturbação mental terá restrições à possibilidade da prática de atos
jurídicos, nomeadamente a celebração de contratos, para a sua própria
segurança e de terceiros (exemplo, casar enquanto menor).

Quando os atos jurídicos não respeitam aquilo que são os limites/barreiras


que a lei estabelece, os atos jurídicos serão contrários à lei.

 Ilegalidade- termo que designa a situação de violação da lei por parte de um


ato jurídico.

 Ilicitude- desconformidade com a lei em que já se pressupõe a posição


subjetiva de um agente, não pressupõe que seja possível identificar no
determinado sujeito uma atuação intencional que leva a um resultado,
entretanto aqui já é uma situação em que conseguimos imputar com a
responsabilidade a uma determinada pessoa (responsabilidade civil,
criminal…).

O ato ilícito não fica indiferente na ordem jurídica, perante uma circunstância
de ilicitude haverão consequências*.

*Invalidade- quando a lei considera que um determinado ato não tem valor.

o Nulidade- é valorado negativamente pela ordem jurídica desde a sua


génese. O ato nulo é sempre nulo, sempre inválido; ou seja, quando o
juiz verifica que um ato é nulo limita-se a declarar que é nulo.
Ato em que houve rejeição pela ordem jurídica. Inapto para ser válido.

19
Direito Privado | Ema Glória

o Anulabilidade- é inválido, mas produz efeitos até que seja declarada a


invalidade, isto é, se não for invocada/declarada a invalidade o ato
continua vivo, produz efeitos e tem valor; se não for invocada esta
invalidade, esta situação torna o ato anulável e até pode acontecer que
o mesmo seja visto como um ato válido.

 Inexistência- situação em que o Direito considera que não existe. O direito


ficciona que nada aconteceu. É de tal modo contrário à ordem jurídica que é
considerada inexistente.
Por exemplo, casamento celebrado sem vontade de 1 das partes.

 Ineficácia- reporta-se às situações em que o Direito disser que um ato não


cumpriu os requisitos legais, portanto não pode produzir efeitos.

 A lei portuguesa estabelece algumas regras para que a mesma tenha a sua
vigência, vida e eficácia.

Art.5º CC, epígrafe

Para a lei ser eficaz e obrigatória tem de ser publicada.

Uma lei aprovada não significa que tenha sido publicada, logo, tem de ser
aprovada, ir para o PR para que seja promulgada e depois é que é
publicada.

"Ignorantia Legis non excusat"

A ignorância da lei não nos desonera de a respeitar, ou seja, a partir do


momento que a lei e publicada temos de a obedecer e não podemos invocar
o seu desconhecimento.

 Vacatio Legis- período de tempo entre a publicação da lei e a sua entrada


em vigor. Se a publicação da lei não tiver data para entrar em vigor, são 5
dias. Serve para que a comunidade tenha um período de adaptação da
legislação.

20
Direito Privado | Ema Glória

Art. 2, nº4 Prazo, conta sempre a partir do dia seguinte.


Conta-se todos os dias.

 Retificações- De acordo com a lei portuguesa, é possível que se corrijam


lapsos gramaticais...daquilo que são os diplomas publicados. A legislação,
ato de publicação...é feito por pessoas e há erros/falhas, por isso existe a
possibilidade de corrigir os mesmos.
A retificação tem prazo de 60 dias após a publicação da gralha.
Se não forem respeitados os 60 dias o ato é nulo, não tem valor nenhum.

RETIFICAR NÃO É ALTERAR!

Esquema Mental

 PR, aprova determinado ato, depois esse ato vai para os serviços da AR,
depois será revisto, vai para o PR e por fim é publicado.
Uma vez publicado ganha caraterísticas, obrigatoriedade e eficácia, vai ter
de ser efetivamente aplicado quando entra em vigor.
Entra em vigor após a vacatio legis.

CESSAÇÃO DA VIGÊNCIA DA LEI


 Regra, é que se cessa a lei quando se entender que a mesma já na deve
vigorar por alguma razão (revoga-se, altera-se...).
 Caducidade- ocorre por superveniência de um facto jurídico. Pode
resultar de um facto temporário que, decorrido a sua vigência, caduca; ou
do desaparecimento dos pressupostos de aplicação da lei. (Art.7º, nº1
CC).

 O mecanismo típico para a cessação da sua vigência é a revogação (Art.


7º CC).

Se uma lei não tem vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se for
revogada por outra lei.

21
Direito Privado | Ema Glória

o Revogação Expressa- declarado que há uma cessação da vigência de


outra lei.
o Revogação Tácita- quando existe uma incompatibilidade entre a nova
lei e a precedente.

A Revogação pode ser:

Total- Revoga tudo.

Parcial- Revoga uma parte

Revogação Simples- limito-me a dizer que a lei em vigor está revogada, mas
não se aprova o novo regime (não interessa).

Revogação Substitutiva- se revogo um regime e aprovo outro em sua


substituição. Exemplo, revogo um CC e aprovo outro CC.

Revogação Global- a nova lei regula toda a matéria da lei anterior.

Revogação Individualizada- a lei nova revoga uma parte da matéria.

Art.7º, nº3
Revogação Revogação

Lei 1 Lei 2 Lei 3

(1995) (2004) (2020)

o O facto de a lei 3 revogar a lei 2, não significa que a lei 1 volte a vigorar.
o A circunstância de eu “eliminar” a lei 2 do ordenamento jurídico, não
significa que a lei 1 renasça, isto é, a revogação da lei revogatória (lei 2
pela lei 3) não implica o renascimento da lei que está a revogar (lei 1).
o Ou seja, salvo se for expressamente a intenção do legislador, o facto da
lei 3 revogar a lei 2 não significa que a lei 1 renasce (lei 1 não
ressuscita).

22
Direito Privado | Ema Glória

TIPOS DE REGRAS JURÍDICAS

Caraterizam-se pela:

Generalidade- a regra jurídica não se aplica apenas a uma pessoa, é para


toda a gente.

Abstração- não se aplica a um caso específico, mas sim, a um conjunto


indeterminado de situações.

 Regras Precetivas- impõem um determinado comportamento.


 Regras Permissivas- consente/autoriza uma determinada conduta.
 Regras Proibitivas- impedem determinados comportamentos.
 Regras Interpretativas- esclarecem/definem o sentido de uma determinada
fonte de Direito.
 Regras Inovadoras- regras que trazem uma nova solução jurídica.
 Regras Remissivas- remetem para outras a solução jurídica. Exemplo,
limite de velocidade para veículos ligeiros…para veículos pesados há o
art….
 Regras Injuntivas- aplicam-se haja ou não declaração de vontade dos
sujeitos nesse sentido.
 Regras Dispositivas- aplicam-se quando as partes nada preveem.
 Regras Excecionais- apresenta uma solução contrária à solução normal.
 Regras Especiais- a regra especial não contraria a regra geral.
 Regras Comuns- aplicam-se à generalidade das pessoas.
 Regras Particulares- aplicam-se a pessoas particulares, a certas categorias
de pessoas.

SANÇÕES

 O Direito prevê sanções;

O Direito não é sancionatório, ou seja, nem todas as regras jurídicas têm


sanções.

23
Direito Privado | Ema Glória

A Doutrina divide as sanções em Positivas e Negativas, no entanto não é o


mais correto.

Quando o professor fala de sanções refere-se às Negativas, ou seja, às


consequências desfavoráveis para a violação de uma norma jurídica.

Critérios:

 Relativo ao bem sobre o qual incidem: podem ser sanções pessoais


(ex: pena de prisão) ou patrimonial (ex: multa).

 Natureza da Infração:
o Sanções Criminais- crime
o Sanções Disciplinares- regra disciplinar
o Sanções Administrativos- procedimentos administrativos
o Sanções Civis- direito civil

 Finalidade da Sanção (propósito da sanção, para que serve):


(à parte) Sanção Positiva- não é um bom termo, mas quer dizer bónus
ou prémio, por uma boa ação.

TIPOS DE SANÇÕES

 Reconstitutivas: visam refazer uma situação como se não tivesse havido


qualquer violação da norma jurídica. Ex: art.562º; 566º, nº1

1. Reconstituição em Espécie (“in natura”): repor a situação tal


como estava antes da violação da norma.
Exemplo, acidentes de carro, a reparação do carro é uma
reconstituição in natura.
2. Indemnização Específica: em vez de ser a reconstituição do
bem danificado é a do bem danificado por um equivalente.
Exemplo, computador danificado não tem arranjo, compra-se um
igual, um novo ou o mais aproximado, com o danificado.

24
Direito Privado | Ema Glória

3. Execução Específica: 1º Entrega Judicial da Coisa (Art.827º)


documento para entregar, mas que não é entregue. O tribunal
pode sancionar o devedor a entregar o documento.
2º Prestação de Facto Fungível (Art.828º)(Positivo)
possibilidade de ser feito por outrem.
3º Prestação de Facto Negativo (Art.829º) era obrigado a não
fazer nada, mas fez.
Exemplo, "Não se pode construir neste terraço", e a pessoa
constrói. A construção pode ser demolida e fica à custa da
pessoa que estava obrigada a não o fazer.
4º Obrigação do Contrator (Art.830°) alguém estava obrigado a
celebrar um contrato mas faltou à obrigação.

 Sanções Compensatórias: não sendo possível a reconstituição, a


solução terá de ser optada pelo dinheiro.
Exemplo, a morte de alguém (não dá para reconstituir ou renascer, por
isso a sanção é a indemnização.
Art.566º, nº1 a reconstituição não é possível, a reconstituição é
demasiado cara (onerosa).
Exemplo, arranjo de um carro que valha mais do que o próprio carro.

TIPOS DE DANOS

 Danos não patrimoniais/danos morais: Art.496°


 Danos Patrimoniais: exemplo, casa e carro.
 Danos Emergentes e Lucros Cessantes

Exemplo: atropelar
Art.564º, nº1 um taxista, vão-se
Art.564º, nº1 pagar as despesas hospitalares e o
“Prejuízo
tempo causado”
que esteve “Benefícios que o lesado
sem trabalhar.
deixou de obter”
Danos Emergentes

Lucros Cessantes

25
Direito Privado | Ema Glória

 Sanções Punitivas- visam aplicar o castigo ao infrator perante a violação


das normas.
o Sanções Punitivas Criminais- são as mais graves, porque
correspondem à violação das regras penais (prisão, perda da
liberdade).
o Sanções Punitivas Administrativas- visam aplicar castigo perante
violação entre as relações da Administração (Estado) e particulares.
Exemplo, ASAE fecha restaurante
o Sanções Punitivas Disciplinares- situações em que há obrigatoriedade
de ter certo comportamento. Relações entre empregador e trabalhador.
 Sanções Preventivas- o objetivo primordial é evitar futuras violações do
Direito. Não pretendem aplicar um castigo.
Exemplo, um enfermeiro é apanhado a matar um doente.
1º é preso, perde a Liberdade,
2º quando sair da prisão é-lhe tirada a cédula profissional (deixa de ser
enfermeiro)
 Sanções Compulsórias- pretendem levar o infrator a adotar
determinada conduta. Pressionar alguém a cumprir o que deve.
Ex: Art.829º, a) CC
Art.754º, nº1 CC

TUTELA PRIVADA DOS DIREITOS

 Tipicamente, encontramos no direito português aquilo que é um conjunto de


mecanismos de tutela pública dos direitos.
A regra no direito português é de que os direitos das pessoas são
acautelados, salvaguardados pelos meios públicos, pelos meios do estado e
da força pública.
 A pessoa/cidadão tem no estado uma garantia de proteção dos seus
direitos, no entanto, no direito há excecionalmente a possibilidade de me
certas situações serem objeto de tutela privada (cidadãos podem
salvaguardar os seus direitos pelas próprias mãos.

Art.337º CC

26
Direito Privado | Ema Glória

 Legítima Defesa- ato que afasta uma agressão ou um ato ilícito contra a
pessoa ou o seu património (pode ser pessoal ou de terceiros).
Exemplo, dar um murro a alguém que está a roubar uma velhota.

Requisitos:

o Impossibilidade de recurso aos meios sancionatórios da força pública.

o Existência de uma agressão - Ilícita (murro);


- Atual ou iminente;
- Pessoal ou patrimonial.
- A forma como me estou a defender deve ser
o Proporcionalidade proporcional à agressão;
- A defesa não deve ser maior do que a
agressão.

Art.337º, nº2

Permite-se o excesso de legítima defesa se for devido a perturbação ou medo


não culposo (Art.487º, nº2) do agente.

 Erro- falsa precessão da realidade

Art.338º

Pensar que o individuo me vai bater, mas não vai. Eu dou-lhe um murro. É um
erro. Desculpável ou Indesculpável (leva a indemnização).

 Estado de Necessidade- Não há agressão! É uma situação de perigo.


Art.339°

Requisitos:

o Impossibilidade de recurso aos meios da força pública.

o Reação a uma situação de perigo - Próprio (sobre mim).


- Alheio (terceiros);
- Atual;
o Destruição ou dano de alguma
- Eminente;
coisa, não de uma pessoa. - Pessoal;
Exemplo, acidente, carro em - Patrimonial. 27
chamas com uma pessoa lá
dentro, a porta não abre. Parte-
se o vidro do carro para tirar a
Direito Privado | Ema Glória

 Ação Direta- Consiste no recurso à força para evitar a inutilização prática de


um Direito. Esta ação direta pode consistir numa apropriação, destruição ou
deterioração de uma coisa, para eliminar a resistência irregularmente oposta
ao exercício de um direito ou noutro caso análogo. Art.336º CC.

Requisitos:

o Impossibilidade de recurso aos meios sancionatórios da força pública, em


tempo útil para evitar a inutilização de um direito.

o A ação direta tem por base o exercício de um direito próprio.

NÃO PODE HAVER AÇÃO DIRETA A FAVOR DE TERCEIROS!

o A ação direta pode consistir na realização desse direito, como por exemplo,
se obtiver a restituição de uma determinada coisa que me pertence a ação
direta pode consistir em segurar o exercício do direito (exemplo, devedor vai
fugir com uma mala de dinheiro para o estrangeiro, eu vejo e tiro-lhe a mala.

o A ação direta pode ter por base a atuação quanto a uma pessoa, que
apresenta uma resistência ao exercício do direito.

NÃO TEM POR BASE A IDEIA DE AGRESSÃO!

o A força com que eu vou reagir tem de respeitar um requisito fundamental:


 NECESSIDADE DE NÃO SER EXCESSIVO; SER MENOS VIOLENTO.

Exemplo, uma mãe que está a tentar fugir com o filho sem dizer nada ao pai; o
pai vê-os e como não tem tempo de chamar uma autoridade pública puxa o
filho para não entrar no avião.

28
Direito Privado | Ema Glória

Exemplo, quando um determinado anel foi roubado e a pessoa a quem o


roubaram vê claramente que o anel que tinha o seu nome está na mão de outra
pessoa, como não tem tempo para chamar a polícia tira-lhe o anel do dedo.

Art.338º CC- Erro

 Direito de Retenção- é a faculdade que, em determinadas situações o


credor goza de reter uma coisa do devedor para o coagir, a cumprir a sua
obrigação, ou seja, em certas situações em que de facto alguém pelo crédito
sobre outrem e este não procede ao respetivo pagamento e eu tenho uma
coisa do devedor em minha posse, a lei portuguesa, há de facto a
possibilidade de exercer o direito de retenção para “forçar” o credor a pagar
aquilo que deve.
Exemplo, relógio estragado numa relojoaria, enquanto não pagar o arranjo
não e dão o relógio. Art.754º CC

Requisitos:

o Uma coisa estar na posse do credor, não enquanto proprietário, mas apenas
ter uma coisa de outrem em sua posse.

o Tem de existir uma relação entre o crédito e a coisa detida, ou seja, eu não
posso dizer que alguém me deve dinheiro há 20 anos e eu agora tenho o
telemóvel da pessoa na mão e já não o entrego.
 QUEM DETÉM A COISA É O CREDOR!
 O DEVEDOR TEM DE SER AQUELE A QUEM EU TENHO DE
RESTITUIR A COISA!

 Direito de Resistência- No direito português existe a possibilidade dos


cidadãos se defenderem contra atuações das entidades públicas ou privadas
que ponham em causa os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir
pela força qualquer agressão se não for possível recorrer à autoridade
pública.

05.01.21

29
Direito Privado | Ema Glória

Tipicamente quando se trata desta matéria de interpretação é feita uma


esquematização daquilo que são as várias modalidades de interpretação.

Critérios:

 Modalidades de Interpretação quanto à fonte

 Interpretação Autêntica- aquela que está prevista no Art.13º CC; aquela


que é feita por um ato com o mesmo valor da fonte interpretada, isto é,
quando estamos perante uma interpretação autêntica de uma lei estamos
perante uma situação em que uma nova lei vem interpretar a lei anterior.
Ex: AR aprova um novo código da estrada e há dúvidas em 2 ou 3 artigos
desse código. A AR pode emanar e aprovar para depois ser publicada uma
lei interpretativa desse código da estrada, ou seja, vem esclarecer em que
termos devem ser interpretadas certas regras constantes desse código.
Sendo uma lei interpretativa de outra lei tem o mesmo valor que a que foi
interpretada. É uma lei que interpreta outra lei, isto significa que estamos
obrigados a seguir esta interpretação.
 Interpretação Oficial- aquela que é emanada por entidades oficiais; esta
interpretação oficial não nos vincula (cidadãos), vincula apenas os que
trabalham para ele (os funcionários do ministério vão ter que lhe obedecer).
Ex: a mesma situação em que havia dúvidas sobre o código da estrada e o
ministro fazia uma publicação a dizer que se deve interpretar de alguma
forma.
 Interpretação Judicial- aquela que é feita pelos tribunais ou juízes. Os
tribunais, diariamente, quando estão a apreciar casos fazem interpretação
judicial. Só tem força vinculativa naquele processo e não para toda a
comunidade.
 Interpretação Doutrinal- aquela que é seguida pela doutrina, por exemplo se
olharmos para os manuais de direito encontramos dezenas de
interpretações doutrinais sobre as mais variadas matérias. O trabalho da
doutrina da interpretação das regras jurídicas. Não tem caráter obrigatório
nem vinculativo.
 Interpretação Particular- aquela que é feita pelo cidadão comum não jurista;
não tem força vinculativa, é de caráter pessoal.

30
Direito Privado | Ema Glória

 Critério do Fim/Propósito da Interpretação

Discutiu-se muito ao longo dos séculos qual é que era o objetivo, o propósito e
a finalidade quando estamos a interpretar.

 Teses Subjetivistas- defendem que quando estamos a interpretar devemos


tentar encontrar o sentido da lei que o legislador lhe deu. Devemos tentar
descortinar o pensamento do legislador, aquilo que está na cabeça do
sujeito que fez a lei. Esta tese traz algumas complicações, pois não é fácil
identificar o pensamento do sujeito que fez o CC em 1966.
 Teses Objetivistas- defendem o contrário, quando interpretamos devemos
“desligar” daquilo que foi o pensamento do legislador. Se o legislador
escreveu ou não aquilo que queria o problema foi dele.
 Teses Vistas- procura um pouco das duas coisas, olhar para o que lá está
escrito sem tirar vista aquilo que esteve na prática aquela solução, ou seja,
uma solução conciliadora.
 Teses Historicistas por contradição às teses Atualistas- para aqueles que
defendem as teses historicistas o sentido da lei deve ser aquele que se retira
do momento em que a lei foi criada; devemos ver o seu sentido quando foi
feita. As teses atualistas deve-se procurar extrair o sentido da lei no
momento em que estamos a interpretar.

Art.9º CC- Interpretação da lei

 Critério dos Resultados da Interpretação (sentido da lei)

O critério dos resultados apresenta 2 grandes elementos:

 Elemento Literal- é o corpo da lei, ou seja, quando falamos em elemento


literal estamos a falar das palavras que estão lá escritas e daquilo que é o
texto da lei. É importante ter em conta que o elemento literal é sempre um
elemento de referência, aquilo que lá está escrito é a nossa primeira base.
 Elemento Lógico- são as circunstâncias que ultrapassam aquilo que lá está
escrito, mas que não podem ser esquecidas. São as circunstâncias que

31
Direito Privado | Ema Glória

ultrapassam a letra da lei, mas que nos ajudam a perceber o seu sentido;
são eles:
o Elemento Histórico- tem a ver com a evolução histórica e temporal da
feitura da lei. Contexto histórico em torno da feitura da lei.
Quando estamos a interpretar uma lei vou tentar perceber aquele
enquadramento olhando para documentos, por exemplo os chamados
trabalhos preparatórios (todo o conjunto de elementos que existem a
propósito de soluções que acabaram por ser publicadas). Às vezes para
interpretar uma lei no que diz respeito ao elemento histórico é importante
o precedente normativo.
Occasio Legis (ocasião da lei), contexto político, jurídico e histórico em
que foi feita a lei; que é fundamental para sabermos a razão das coisas.
Exemplo, se um extraterrestre caísse na terra e visse estas leis que nos
obrigam a andar de máscara na rua, occasio legis é fundamental para
perceber o porquê de andarmos todos com máscara na rua, contexto da
pandemia.
o Elemento Sistemático- a interpretação nunca pode olhar para a regra
jurídica como se fosse uma ilha. A leitura que eu faça do art.100º do CC
nunca pode ser uma leitura exata, não posso ler o artigo e achar que
está lá a resposta para todos os meus males, tenho de atender à
unidade do sistema jurídico. Quando estou a ler o artigo da matéria do
casamento tenho de perceber o regime do casamento em Portugal;
quando estou a tratar de um divórcio eu tenho de perceber as regras em
torno do divórcio, as regras em torno do casamento porque só se
divorcia quem casa, tenho no fundo de perceber tudo, não posso olhar
para as coisas isoladamente tenho sempre de ter em conta o conjunto
das restantes normas. Todas as normas se interligam.
o Elemento Teleológico- aquele que deve estar sempre presente com a
seguinte pergunta: “Qual é o fim/necessidade/serve d(esta) lei?”.
Quando olhamos para uma lei e não sabemos como a devemos ler ou
aplicá-la, a pergunta que devemos fazer é “Qual foi o propósito ou a
necessidade de fazer esta lei?”.

A partir destes elementos fazemos vários tipos de interpretação, sendo elas:

32
Direito Privado | Ema Glória

 Interpretação Declarativa- verifica-se quando da análise dos elementos


lógicos e do elemento literal resulta que o legislador disse exatamente o
que queria dizer; é perfeitamente claro e percetível.
 Interpretação Extensiva- aquela que é feita quando se verifica que dos
elementos lógicos e do elemento literal resulta que o legislador disse
menos do que aquilo que queria ter dito, vamos estender a todas as
situações que deviam estar regidas??? por aquela situação.
 Interpretação Restritiva- tem lugar quando da análise do elemento literal
e lógicos retiramos que os elementos literais (palavras) foram mais
amplos do que aquilo que se pretendia aos do elemento lógico. Vemos
aquilo que está escrito e tem mais do que aquilo que se pretendia no
elemento lógico; vamos comprimir os do elemento literal aos do
elemento lógico.

08.01

 Interpretação Ab-rogante: é aquela que surge quando o sentido da lei é


incompreensível/indecifrável, portanto não podemos extrair
verdadeiramente o conteúdo da lei. Nós, no fundo da análise que
fazemos do elemento lógico e do elemento literal, ficamos confusos e
sem a verdadeira perceção daquilo que é o sentido que o legislador quis
dar àquelas regras e portanto, da análise que fazemos do elemento
sistemático em confrontação com elemento literal, com a letra da lei,
temos uma enorme dificuldade a chegar a uma conclusão. Pode ter dois
tipos:
o Interpretação ab-rogante lógica – aquela situação que temos uma
incongruência entre as várias normas que estamos a interpretar, o
que nos leva a uma impossibilidade prática de solução. Da análise
que fazemos das normas jurídicas perante as quais nós estamos,
concluímos que não há possibilidade de chegar a qualquer solução
nesses termos. Exemplo:

33
Direito Privado | Ema Glória

- No CC havia duas regras, uma regra que dizia que a personalidade


jurídica se adquire no momento do nascimento completo e com vida;
e outra que a personalidade jurídica cessa no momento dos
nascimentos. Conclui-se que não pode ser assim, existe uma
incompatibilidade. Este trabalho é feito porque estamos a interpretar
logo chega-se a certas conclusões. Nesta situação estamos perante
uma lacuna/vazio legal porque há um conflito, uma situação á qual
tenho de resolver. Pode se remeter ao regime legal revogado quando
há um lapso.
o Interpretação ab-rogante valorativa – que ocorre quando os valores
subjacentes às normas jurídicas são incompatíveis. Os preceitos
apresentam critérios valorativos opostos, portanto há aqui um
problema de valoração das normas jurídicas, ou seja, aquilo que é a
tutela por exemplo se uma determinada norma está simultaneamente
a defender dois valores fundamentais de direito completamente
incompatíveis entre si chegaremos a conclusão de que não deve ser
assim. Esta interpretação tem um problema, por isso grande parte da
doutrina não a considera admissível. Implica que eu faça uma
valoração daquilo que é solução jurídica, e retira a conclusão
considerando que é injusto, que é desigual e, portanto, estou a fazer
uma caracterização valorativa. Isto coloca sérios problemas no que
toca à justiça, a segurança jurídica e muitas mais fontes de direito. Na
interpretação ab-rogante valorativa nós estamos a fazer um juízo de
valor sobre as soluções jurídicas e estamos a concluir que as coisas
não devem ser assim (preconceção pessoal) (não concebo que as
regras sejam concebidas nestes termos). A lei deve ser uniforme,
igual para todos.
 Interpretação Enunciativa (inferência lógica de regras jurídicas) – aquela
interpretação em que o intérprete deduz de um preceito uma regra que
ali está virtualmente contida. Temos uma situação em que perante
aquela regra, nos termos que está redigida, consigo retirar uma regra
que está subjacente aquela, ou seja, havendo esta regra assim dentro
desta há mais outra coisa que pode ser retirada. Alguns autores
consideram que este tipo de interpretação leva à apreciação valorativa,
34
Direito Privado | Ema Glória

sendo que leva a situações menos rigorosas. Faz-se através dos


argumentos lógicos jurídicos:
o A minori ad maius: significa que a lei que proíbe o menos, proíbe o
mais. Por exemplo, se eu tenho uma lei que me diz que é proibido
espreitar para dentro de uma sala, então também proíbe entrar na
sala. A lei que proíbe um fenómeno mais restrito, está a proibir um
fenómeno mais amplo.
o A maiori ad minus: a lei que permite o mais, permite o menos. Por
exemplo, se me é permitido vender este telemóvel, também me
permite emprestá-lo.
o Argumento a contrário: da regra excecional eu retiro o princípio regra
oposto. Por exemplo, todos os automóveis anteriores a 2005 estão
obrigados à verificação das emissões de carbono, tendo nós um carro
de 2006 não temos de fazer a inspeção, isto é, os veículos anteriores
a 2005 têm de fazer a inspeção A CONTRÁRIO os posteriores a 2005
não têm de fazer. Da regra excecional eu tiro o regime oposto.

 Interpretação Corretiva: não considerar de acordo com o professor.


Situação em que o intérprete por considerar inoportuno e inadequado o
sentido que está na lei, corrige a própria lei, faz uma interpretação que é
uma alteração do sentido da própria lei. Chega a conclusão de que o
sentido da lei deve ser outro, defendendo a sua própria correção. A
verdade é que a admissibilidade da interpretação corretiva também é
pouco viável. Existe no código civil uma restrição há interpretação das
leis (CC art.8º nº2).

12.01

Integração de lacunas

Por vezes acontece uma situação no nosso ordenamento que é a circunstância


de verificarmos que à luz do direito que conhecemos e no qual procuramos
uma determinada solução não encontramos verdadeiramente uma solução, e

35
Direito Privado | Ema Glória

portanto, deparamo-nos com a existência de uma lacuna jurídica- ausência de


uma regra jurídica para reger uma certa matéria, ou seja, há uma peça que
está em falta que é a regulação de uma determinada matéria.
Para haver lacuna têm de estar sempre preenchidos 2 requisitos:
 Inexistência de regra jurídica para uma determinada situação;
 Imprescindibilidade da regulação dessa mesma matéria- só há uma
verdadeira lacuna se aquilo que é a regulação jurídica em falta for
necessária. Uma situação que o direito não pode ignorar.

Espécies/tipos de lacunas

 Lacunas Voluntárias- aquela que resulta da circunstância de um legislador;


decorre da vontade intencional do legislador em não regular uma
determinada matéria; lacuna assumida.
VS
 Lacunas Involuntárias- mais encontradas; aquelas que ocorrem sem que o
legislador tenha tido intenção da sua verificação; o legislador não pensou,
não refletiu sobre uma determinada situação e simplesmente não previu,
portanto, não estipulou essa mesma situação.

 Lacunas Iniciais- surgem quando aparece a nova lei, surge no momento que
o legislador legisla; há qualquer coisa em falta, não está correta; legislação
sai e imediatamente se constata que algo não está bem.
VS
 Lacunas Posteriores- surgem por motivo de uma evolução técnica ou
tecnológica, tenhamos de concluir que a legislação não está atualizada.
Ex: contratos compra e venda por internet, regulamento de um contrato de
compra e venda e verificamos que o contrato de compra e venda não
pensava no caso da venda por internet, mas atualmente isso é uma
realidade, não estava regulada especificamente esta situação, está
desatualizada, não prevê uma nova situação.

Uma regra jurídica contempla sempre 2 elementos- a previsão (situação de


facto) e a estatuição (consequência jurídica).

36
Direito Privado | Ema Glória

 Lacunas da Previsão- resultam da falta de previsão de uma situação de


facto, situação da vida que está esquecida e, portanto, é uma lacuna de
previsão.
VS
 Lacunas da Estatuição- resulta da circunstância de não estar prevista uma
jurídica para uma determinada situação de facto, ou seja, apesar de se
prever uma situação de facto não se prevê uma consequência jurídica.
Ex: requerimento para o acesso ao Ensino Superior (situação de facto) tem
de ser entregue no prazo previsto na seguinte lei, mas não está o prazo na
lei.

 Lacuna da Lei- surge ao nível do direito legislado; lacunas que existem no


direito legislado.
o Manifestas- quando a lei não contém nenhuma norma jurídica.
o Ocultas- pode dar-se o caso de encontrarmos uma norma jurídica
aplicável a um conjunto vasto de situações, mas há lá uma situação
específica que está em falta.
o Colisão- situação em que 2 regras jurídicas dizem uma coisa em seu
contrário. Quando isto acontece anulam-se.
Ex: é permitido entrar na faculdade de direito sem máscara (art.1º); é
proibido entrar na faculdade de direito sem máscara (art.2º).
VS
 Lacuna do Direito- verificam-se a um nível mais amplo do ordenamento
jurídico. Ex: resulta da ausência de regulamento do Direito da Família,
estamos perante lacunas que não são lacunas de lei, mas sim do direito, são
matérias essenciais que põem em causa o próprio ordenamento e a
sistemática do ordenamento.

Importância das Lacunas

1. Imprevisibilidade- a sociedade permanentemente está em constante


desenvolvimento e evolução; o que será o mundo daqui a 10, 20, 30 anos,
não há tempo para o legislador reagir.

37
Direito Privado | Ema Glória

Ex: privacidade nas redes sociais, hoje discutimos isto, mas há 10 anos não.
Há uma imprevisibilidade que leva o surgimento de lacunas.

2. Hipótese do próprio legislador não querer regular uma determinada situação-


o que acontece é que pode não estar preparado, é preciso mais estudos,
mais desenvolvimento e, portanto, não estamos em condições de regular
uma determinada situação. No entanto, há uma efetiva necessidade de
resolver existência de lacunas no nosso ordenamento jurídico; os juízes não
se podem abster de julgar pela circunstância de existir uma lacuna.
Art.8º, nº1 CC é claro quanto ao tribunal não se poder abster de julgar
Nenhum tribunal se pode abster de julgar por haver uma lacuna, neste caso,
o direito tem de dar uma resposta para uma situação em que há uma lacuna.
O direito dá a resposta de integração de lacunas- preenchimento do vazio,
vazio que é a própria lacuna e vamos preencher esse vazio.

Como se processa a integração lacunas- através de um processo sugerido


pelo art.10º CC que é o recurso à analogia. Analogia é o processo que por
excelência é adotado para integrar lacunas.
Pode ser de 3 tipos:
 Analogia Legis- Art.10º CC. Pressupõe o recurso a uma regra jurídica
determinada. Verifica-se quando os casos que o direito não prevê são
regulados segundo a norma aplicada aos casos análogos, ou seja, optamos
pela analogia legis quando observamos a existência de regra jurídica que
regula um caso similar, caso análogo- art.10, nº2 para haver integração de
lacunas por analogia legis temos de verificar:
1. Similitude de situações fácticas (uma que é regulada pelo Direito e outra
que não é regulada pelo Direito).
2. Identidade de razões legais que justifica a aplicação do regime do facto
regulado ao facto não regulado.

Para haver analogia não basta a existência de 2 situações de facto similares,


é preciso também que se a razão do legislador/aquilo que foi a razão para o
legislador legislar aquela situação que eu identifiquei como similar é uma
razão que teria aplicação no meu caso concreto.

38
Direito Privado | Ema Glória

LIMITES:

 Art.11º;
 Normas do Direito Penal, não há crimes por analogia; só é crime aquilo que
está tipificado na lei;
 Matéria de impostos, não se cria impostos por analogia; só pagamos
impostos relativamente às situações que estão identificadas na lei;
 Restrição de Direitos, Liberdades e Garantias, os militares em Portugal têm
algumas restrições, por exemplo, não podem participar em manifestações,
não podemos dizer que os professores também não podem participar nestes
atos

Difícil distinguir analogia legis de interpretação extensiva

 Analogia Juris- pressupõe o recurso a um princípio jurídico; há algumas


dúvidas que seja admissível esta analogia em Portugal, de acordo com o
art.10º, apenas fala da norma aplicada aos casos análogos; no caso
português parece ter-se preocupado apenas com a analogia legis. É mais
complexa, tem uma grande margem de liberdade para o intérprete, o mesmo
vai tentar extrair uma regra; a ideia de podermos a partir de um princípio
procurar resolver casos de omissão legislativa não é de todo fácil.

A INTEGRAÇÃO DE LACUNAS SÓ VALE PARA O CASO CONCRETO!!!

 Art.3º CC- Norma que o intérprete criaria: neste caso a resolução faz-se
através do espírito geral do sistema; criação de norma jurídica para o caso
concreto.

Na falta de um caso análogo

De acordo com o Art.10º nº3, quem está a integrar a lacuna deve agir como se
fosse legislador e criar uma norma tomando em consideração o sistema
jurídico, ou seja, as regras, os princípios jurídicos, os interesses envolvidos.

39
Direito Privado | Ema Glória

Embora se pretenda solucionar uma situação concreta, a verdade é que o


integrador da lacuna deve criar uma norma que em abstrato possa ser aplicada
a uma indeterminabilidade de destinatários e de situações.

40

Você também pode gostar