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I.

Parte I – O Direito: Introdução e Enquadramento


CAPÍTULO 1º - O DIREITO: NOÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

1) Razão de ser do Direito

a. Caracterização e Definição de Sociedade


É indiscutível que o Homem é um ser eminentemente social (um “animal social” ou um “animal
político”).

No contexto de vida em sociedade, o Homem precisa de regras/leis para a sua sobrevivência. O


Direito serve para regular a vida em sociedade. Assim, onde há Homem há Direito.

Na sua ânsia de realização pessoal a 1ª linha de atração é acolhida no seio da sociedade, como
uma “unidade de ordem” que emprega uma pluralidade de pessoas na realização de um fim
comum.

“Sociedade” serve para designar uma “micro sociedade” em função de relações de proximidade
face a uma determinada localização (ex: clube desportivo, a vizinhança…), como a “macro
sociedade” numa relação de pertença territorial mais alargada (ex: um país, a ONU…).

O Homem desempenha uma função de participação na satisfação de necessidades coletivas,


estando delimitados os seus direitos e os seus deveres recíprocos perante o grupo.

b. O que é uma sociedade?


Em sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos,
preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma sociedade.

Sociedade:

• É um grupo de indivíduos que formam um sistema semiaberto, no qual a maior parte


das intenções é feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo.
• É uma rede de relacionamentos entre pessoas.
• É uma comunidade independente.
• É um grupo de pessoas vivendo juntos numa comunidade organizada em diferentes
partes, estas que se ajudam e interagem de forma variedade para o mesmo fim (de
caráter permanente).

Está implícito no significado de sociedade que os seus membros compartilham interesses ou


preocupações mútuas sobre um determinado objetivo que é de todo comum.

O conceito de sociedade pressupõe um conjunto de virtudes cívicas dos seus membros para
atingirem um escopo de realização comum.
Ex. de sociedades: comunidades religiosas; comunidades étnicas; turmas; ONU…

O conceito de sociedade pressupõe a verificação de 3 elementos que o caracterizam:


• Uma forma conjugada de atuação;
• A existência de finalidades ou objetivos comuns;
• A estabilidade ou caráter permanente;

1) Forma conjugada de atuação

Exige que os membros do grupo social, qualquer que ele seja, hajam concertadamente de forma
interdependente, mediante uma atuação concatenada ou conjugada de esforços de forma a
atingirem o fim ou o escopo social que é inerente à criação e subsistência da sociedade.

2) Existência de finalidades ou objetivos comuns


Todos se comportam de forma relacionada com vista a satisfazer individualmente ou em grupo
as diversas necessidades do conjunto social.

3) Estabilidade ou caráter permanente

Impõe um caráter estável ou permanente, laços de perenidade, uma continuidade na relação


de pertença face ao todo social, para que a ligação existente não seja temporalmente volátil ou
inconstante face à passagem do tempo.

Uma determinada comunidade em que concorrem os 3 referidos elementos atinge a


qualificação de “sociedade”.
Sociedade: um grupo de pessoas que exercem entre si, uma forma conjugada e interdependente de
atuação, para atingirem as finalidades ou os objetivos sociais pretendidos comuns a todos os seus
membros, com um caráter estável ou permanente.

A existência de um ser social pressupões, naturalmente, uma dinâmica de grupo assente na


aplicação de regras comuns de convivência (ou de sobrevivência), de normas genéricas de
comportamento humano que são específicas de determinada sociedade. Implica que cada um
desempenhe uma missão concreta que é necessária para a existência do conjunto. Numa
sociedade territorial existem inúmeras profissões que são exercidas individualmente para ou a
satisfação das mais diversas necessidades sociais.
Ex: os políticos que asseguram o exercício da atividade organizativa do Estado.

Esta atividade globalmente considerada encontra-se submetida a uma ordem própria,


aplicando-se-lhe um conjunto de regras, de normas, ou de lis que lha são específicas.

Onde há Homem há sociedade e onde há sociedade há Direito. Onde há Homem há Direito.

O Homem é, por natureza, um animal social ou um animal político, que carece de viver em
multidão.

1.2) Ordem Jurídica enquanto Ordem social


Numa sociedade existem regras de conduta impostas para a sobrevivência de todos os seus
membros.
Se interligarmos o conceito de sociedade com o território do Estado, identificamos a sociedade
nacional com o país (com Portugal), onde ressaltam normas cuja aplicação se estende a todo o
conjunto estadual.

O sistema de normas aplicável é identificado com o “Direito”, com a ordem jurídica, por causa
da regulamentação normativa da vida do Homem em sociedade.

a. Ordem Natural vs Ordem Social


Ordem Natural Ordem Social
• Rege os fenómenos da Natureza; • Manipula as regras sociais, onde é
• Traduz-se em leis absolutas e inalteráveis possível interferir;
ao longo dos tempos; • São factos sociais alteráveis pelo Homem;
• As leis da Natureza corrigem-se, mas não • São violáveis e, por isso, pressupõe
se violam; mecanismos aptos a sancionar essa
• Não dá para interferir; violação;
Ex: lei da vida; lei da gravidade • Ordem de liberdade;

b. Ordem de Mero-Facto vs Ordem Ético-Normativa


No interior da Ordem Social é possível distinguir entre: Ordem de Mero-Facto e Ordem Ético-
Normativa.

Ordem de Mero-facto Ordem Ético-Normativa


• Analisa e explica realidades sociais; • Regula condutas humanas às quais
• Pressupõe a análise dos factos (análises imprime orientações determinadas com
frias); um certo sentido de orientação;
• Situa-se no campo do “ser”; • Situa-se no campo do “dever ser”;
• Apoia o direito jurídico sem carga • Controla e regula as ordens com carga
normativa; normativa;
• A observação de certos factos sociais • A noma é utilizada para regular a vida em
pode conduzir à obtenção de leis que sociedade, dirigindo-se comportamentos
caracterizam e descrevem a realidade; humanos e impedindo a verificação de
situações socialmente indesejáveis.
No interior desta ordem social é possível
verificar outros tipos de ordem:
• Direito/Jurídica (exterioridade);
• Religiosa (interioridade);
• Moral (interioridade);
• Trato Social (interioridade);

Ordem Jurídica • Ordem normativa intersubjetiva protegida coativamente, que visa


(do Direito) regular o exercício e transmissão de poder entre indivíduos.
• Comporta normas éticas ou de conduta.
• Pressupõe a existência de leis.
• Caracteriza-se pela imperatividade das suas normas e pela sua
violabilidade.
• Destina-se a regular os aspetos juridicamente relevantes dos
comportamentos do Homem na sua vida em sociedade.
• É heterónomo, ou seja, imposto de fora para dentro.
• É bilateral, ou seja, existem relações com mais do que 2 partes.
• É coercível, pois há consequências em função do comportamento.
• Normas específicas do mundo do Direito.
• Distingue-se pela sua característica interna, ou seja, pelo seu
conteúdo íntimo, pois é da própria essência de qualquer norma
jurídica.
• Compõem-se de:
o Situações jurídicas;
o Meios de criação das normas;
o Sistema de normas;
o Meios de imposição das normas;

Ordem • Ordenar a conduta do Ser Humano em função da sua relação com


Religiosa Deus, tendo com fundamento a Fé.
• Disciplina a relação do Homem com um transcendente que
corresponde a um Ser Supremo, à Divindade.
• Nasceu da necessidade de agrupar esforços móveis no sentido da
propagação da Fé face a uma orientação determinada da religião.
• Leis sociais aplicáveis no âmbito da ordem religiosa pretendem
impor ao Homem a adoção de determinadas condutas externas.
• Se dirigem ao modo íntimo de atuação, à formação de uma
convicção interior, destinada à sua própria salvação.
• É autónoma, ou seja, imposta pela consciência ao Homem;
• É unilateral, ou seja, diz respeito apenas ao indivíduo;
É incoercível, pois não é exigível por ninguém se reduzindo a um mero
de ver de consciência.
Ordem Moral • Ordenar a conduta humana por referência ao valor fundamental do
Bem;
• Visa a realização plena do Homem de um ponto de vista da
interiorização de condutas;
• Tanto o Direito como a Moral são formas de controlo social;
• Nem todas as regras morais são jurídicas;
• É autónoma, ou seja, é imposta pela consciência ao Homem;
• É unilateral, ou seja, diz respeito apenas ao indivíduo;
• É incoercível, pois não é exigível por ninguém, reduzindo-se a um
mero dever de consciência.
Ex: dar esmola a um pobre;

Ordem de Trato • Conjunto de regras de cortesia e de urbanidade, cujo respeito


Social facilita o desenvolvimento das relações humanas no seio da
sociedade, assegurando a segurança mínima dos indivíduos.
• Concerne à atuação do Homem em função de condutas
interiorizadas;
• Destina-se a regular comportamentos da vida em sociedade,
embora não seja tida como necessária para a sua subsistência e
conservação.
• As suas regras dependem:
o Da evolução cultural;
o Da educação;
o Da condição social;
• São desejáveis mas não são imprescindíveis para a convivência
social;
• O incumprimento das regras pressupõe a existência de sanções
flutuantes, voláteis, determinadas do ponto de vista das suas
consequências.
• São espontâneas, embora assentes em tradições ou em regras
de protocolo, e variam consoante o meio em que se aplicam.
• Não traduz qualquer comportamento verdadeiramente
castigador ou sancionatório.
• É autónoma, bilateral e incoercível.
Ex: saudar um vizinho;

2) Noção, dimensão e características do Direito


a. Noção de Direito
O Direito é um elemento regulador central na Ordem jurídica, equiparado à mesma.
Direito: conjunto sistemático de normas adotadas por órgãos próprios, de acordo com processos
formalmente aptos a emiti-los, e que serve para regular a vida do Homem em sociedade.

A noção pressupõe a juridicidade como uma dimensão essencial do Homem, corresponde à de


uma ordem social e a uma ordem ética ou normativa, já que exige a valoração de certos
comportamentos relevantes à luz do Direito.

Assim, o Direito é o conjunto de regras obrigatórias que numa sociedade regulam os conflitos
entre os respetivos sujeitos e processos de exercício e transmissão do poder.

As regras do Direito impostas através as normas jurídicas são imperativas e destinam-se a


atingir a satisfação do bem comum, sendo, portanto, imprescindíveis à sobrevivência da
sociedade.

É do Direito que se tiram as regras jurídicas, sendo que estas podem ser acionadas pela força.
Em caso de incumprimento, encontra-se previsto um leque de normas sancionatórias que
visam dar, pela forma adequada, uma resposta concreta e precisa face à gravidade de cada
situação concreta.

O Direito é um elemento social ativo no quotidiano por diversas razões:

• Natureza Social do Ser Humano: “Ubi homo, ubi societas” (Onde existe Homem, existe
Sociedade”). Esta característica permite uma melhor compreensão do conceito de
Direito, aonde as diferentes teses propõem uma explicação.
o Tese 1: defende a existência natural e evolutiva, sendo que desde sempre
existiu sociedade.
o Tese 2: defende que nem sempre o Ser Humano viveu em sociedade, sendo que
foi forçado a viver num sistema social.
• Filiação social do sujeito: “Ubi societas, ibi Jus” (Onde há sociedade, há Direito”). A
convivência social traduz-se na padronização de condutas que assegurem a
harmonização de atividades entre si.
• Objetivo de promover solidariedade de interesses (existência de normas) e a resolução
de conflitos de interesses (eficácia das normas): 2 conceitos operativos onde o Direito
é diretamente influente na sociedade e na vida ativa dos indivíduos.

O Direito garante um grau mínimo de segurança que assegura o limiar da convivência social,
ou seja, é um instrumento fundamental de ordenação social efetuada à luz da realização da
justiça.

b. Simbologia do Direito
O Direito encontra-se representado desde a antiguidade clássica, através da observação das
mitologias egípcia, grega e romana.

I. Mitologia Egípcia
• Maet ou Maat é a deusa da Justiça e do Equilíbrio, a norma eterna que rege o universo.
É a precisão, a verdade, a ordem e a retidão.
• Representada por uma mulher jovem exibindo na cabeça uma pluma.
• Filha de Rá (Deus Sol) e de Tot.
• A principal obrigação dos faraós egípcios era fazer com que Maat se
cumprisse para que não reinasse a desordem e a iniquidade.
• Identificada na simbologia hieroglífica egípcia pela pena de avestruz, a
pena de Maat = a Justiça.

II. Mitologia Grega


• Diké (Dice) é a Deusa grega dos Julgamentos e da Justiça, vingadora das violações das
leis.
• Representada de pé, descalça e com os olhos bem abertos
(símbolo da procura da verdade). Com a mão direita sustentava uma
espada (simbolizando a “força”, elemento inseparável do Direito) e na
mão esquerda sustentava uma balança de 2 pratos (igualdade buscada
pelo Direito), sem que o fiel tivesse ao equilibrado.
• Filha de Zeus e de Témis.
• Para os gregos o Justo (Direito) era identificado com o igual
(Igualdade).

III. Mitologia Romana


• Iustitia (Justiça) Deusa que personificava Justiça.
• Representada de pé durante a exposição do Direito de olhos vendados
(símbolo da imparcialidade da Justiça e igualdade dos Direitos). Empunhava
com as duas mãos a balança sem a espada ou com ela (esta na mão direita),
em posição de descanso para que pudesse ser utilizada de pé e de olhos
vendados.
• Os romanos pretendiam atingir a “prudentia”, ou seja, o equilíbrio
entre o “abstrato” (o ideal) e o “concreto” (a prática).

O Direito é uma palavra que reveste várias aceções. Pode referir-se o Direito com 4 sentidos
diferentes:

• Sentido normativo;
• Sentido objetivo;
• Sentido subjetivo;
• Sentido de saber jurídico;

1. Sentido Normativo

O sentido normativo do Direito corresponde:

• À norma ou ao conjunto de normas jurídicas;


• Ao ordenamento jurídico;
• Ao conjunto de princípios jurídicos aplicáveis;

É neste sentido que se fala de direito natural e direito positivo, de direito nacional e de direito
da União Europeia e de direito internacional…

É aqui que se insere o termo “ordem jurídica” ou “ordenamento jurídico”, tendo em vista a
realização da ordem social segundo a justiça, de forma atribuir a cada um aquilo que é seu.
Também o sistema jurídico ou a ordenação jurídica, enquanto unidade ou conjunto de normas
(ex: normas do direito civil que integram o Código Civil).

2. Sentido Objetivo

É o objeto, o conteúdo ou o âmbito do direito normativo. (ex: direito de propriedade previsto nos
artigos 1302º a 1348º CC).

3. Sentido subjetivo

Corresponde ao poder ou faculdade jurídica reconhecida a um determinado sujeito, ou seja, à


faculdade de agir ao abrigo de uma norma jurídica, à situação jurídica ou faculdade que alguém
tem de exigir, possuir ou reter uma coisa. (ex: direito de receber o preço acordado na relação
estabelecida com o comprador – 879º CC)

Neste domínio pode reter-se que se entende o Direito numa relação pessoalizada, subjetivada,
em que a propósito de determinado direito em termos objetivos se concretiza a relação de
forma a pessoalizá-la, a permitir a certas pessoas especificamente consideradas a atribuição
concreta de determinados direitos.

4. Saber jurídico
Direito no sentido de jurisprudência, enquanto ciência ou arte do justo. Refere-se à ciência e a
arte jurídica, que visa discernir o que é justo, declará-lo e promover a sua realização. Refere-
se, assim, como exemplo, ramo da ciência, os impostos, a Justiça, os tribunais ou o lugar de
realização e aplicação da justiça…

2.2) A tripla dimensão do Direito


O Direito apresenta uma tripla dimensão – teoria tridimensional do Direito – na qual os
elementos da tríade – facto, valor e norma jurídica. Assim, qualquer facto da vida social
(acontecimento, ação) possui um valor (aspeto axiológico) e para tal uma determinada norma
jurídica.
A Teoria Tridimensional define o Direito como uma realidade histórico-cultural tridimensional
(assente no facto social, no Direito como valor do justo e na norma jurídica), ordenada de forma
bilateral atributiva, segundo valores de convivência.

O Direito é:

• Um fenómeno histórico, mas não se acha inteiramente condicionado pela história, pois
apresenta uma constante axiológica.
• Uma realidade cultural, porque é o resultado da experiência do homem.
• Bilateral. A bilateralidade-atributiva é específica do fenómeno jurídico, já que apenas
ele confere a possibilidade de se exigir um comportamento.

O Direito é comporto por 3 dimensões:

• Tem um aspeto fáctico – em que o Direito se atenta para a sua efetividade social e
histórica;
• Tem um lado axiológico – o Direito cuida de um valor (Justiça);
• Tem um aspeto normativo – o Direito visto como ordenamento e a sua ciência.
Assim, o fenómeno jurídico compõe-se de:

• Um facto subjacente (facto económico, geográfico…);


• Um valor, que confere determinada significação a esse facto;
• De uma norma, que representa a relação ou medida que integra os demais elementos;

2.3) Características do Direito


O Direito é uma realidade jurídica dotada de um conjunto de características específicas:

Necessidade Prende-se com a exigência própria de uma ordem jurídica sem a qual
qualquer sociedade não poderia atingir o seu escopo social, ficando
colocada perante a ausência de regras de comportamento equivalentes a
normas jurídicas, numa situação de precariedade ou mesmo de difícil
subsistência.
Alteridade Intersubjetividade ou bilateralidade que pressupõe a existência de uma
integração social do Homem, de uma relação de interdependência entre
vários homens e mulheres destinada a atingir, através de uma forma
conjugada de atuação, a prossecução de objetivos e de finalidades
comuns.
O Direito é tido como uma realidade reacional, é que se torna necessário
e ganha pleno sentido. O Direito pressupõe relações intersubjetivas que
regula através das suas normas e que faz assentar na existência de
relações jurídicas entre os sujeitos da sociedade.
Imperatividade O Direito se trata de uma ordem ética ou normativa dotada de regras
jurídicas. Ordena determinados comportamentos e existe que os mesmos
sejam voluntariamente cumpridos, podendo impô-los, se necessário, pela
força.
A imperatividade é uma característica de que o Direito não pode
prescindir, porque traduz uma manifestação da força do próprio sistema
normativo, isso implica, ainda que paradoxalmente, a sua fraqueza.
Coercibilidade É decorrente do Direito e um dos traços identificadores de outras ordens
sociais. Esta característica do Direito identifica-se tradicionalmente com a
possibilidade de imposição coativa, se necessário pela força e contra a
vontade dos seus destinatários, das normas e sanções jurídicas.
Exterioridade Diz respeito a ações e coisas exteriores, que constituem o seu objeto
material, e traduz-se na demonstração dos comportamentos
interiorizados pelo Homem, numa manifestação de vontade revelada,
numa atuação que vá para além dos pensamentos, para que certa
conduta material ou comportamento fáctico possa revelar do seu ponto
de vista jurídico.
O Direito não intervém na ausência de comportamentos exteriorizados. O
Direito é dirigido à ordenação da conduta de outrem, não versa toda a
matéria da virtude moral, mas apenas acerca das ações exteriores e das
coisas.

3) A legitimação material do Direito


Para melhor compreensão e delimitação da realidade jurídica impõe-se fazer uma curta, mas
suficiente reflexão acerca da necessidade de legitimação material do Direito. Assim, recorre-se
à distinção entre o direito positivo e o direito natural.

a.1) O direito positivo e o direito natural

a. Direito Positivo
O direito positivo surge no âmbito de uma corrente de pensamento mais vasta que é o chamado
positivismo jurídico. Trata-se de uma doutrina do direito que considera que só é Direito aquilo
que é regulado pelo Estado, sendo esse objeto de enquadramento e de estudo, e cujos esforços
giram em torno de uma reflexão sobre a sua interpretação.

O Direito constitui um produto da ação e vontade humana e não da imposição da natureza, da


razão ou mesmo de Deus, como afirma a corrente oposta, designada por jusnaturalismo. O
positivismo jurídico, o direito moderno (positivo) é algo imposto pela vontade humana
concretizada através do Estado e destinada a regular a conduta dos seres humanos no seio social
e de acordo com as finalidades humanas (aspetos teleológicos).

Não existe necessariamente uma relação entre o direito, a moral e a justiça. As noções de justiça
e de moral são relativas, mutáveis no tempo e sem força política para se imporem contra a
vontade de quem cria as normas jurídicas, ou seja, o próprio Estado.
Situa-se no domínio da corrente filosófica do direito designada por positivismo jurídico e pode
definir-se como “o conjunto de princípios e de reras que regem a vida social de determinado
poo m determinada época”. Direitamente ligado ao conceito de vigência, a disciplina da conduta
humana e inclui as leis votadas pelo poder competente, os regulamentos e as demais
disposições normativas, qualquer que seja a sua espécie. É variável.
O direito é um produto da vontade do Estado. Existem duas teorias principais destinadas a
explicar as relações entre direito e o Estado:

• A teoria dualista – o direito positivo e o Estado são duas realidades distintas.


• A teoria monista – Só existe um direito, o direito positivo, com o qual o Estado se
confunde. Iguala o direito positivo ao Estado que o produz.

b. Direito Natural

Identifica-se com a corrente de pensamento designada por jusnaturalismo, é uma teoria que
possui a existência de um direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e válido em
qualquer lugar. Para os jusnaturalistas o conteúdo do direito positivo não pode ser conhecido
sem alguma referência ao direito natural.
Há diversas teorias do direito natural que divergem quanto ao papel da moral na determinação
da autoridade das normas legais. Trata-se de um direito que antecede e que subordina o direito
positivo, de origem política ou social que não deveria entrar em conflito com as regras do direito
natural e, se entrar, corre o risco de perder a sua validade intrínseca.

a.2) O sentido ético do Direito


O Direito carece de um sentido ético para a sua legitimação material intrínseca, para que um
mero conjunto de exigências formais e procedimentais corresponda a uma certa razão que
justifique o Direito existente em certo momento.

Depois de materialmente justificado de um ponto de vista ético, o Direito exige a realização no


seu interior de determinados valores jurídicos.

O conjunto de diplomas aqui em causa estrutura e aponta para a criação sucessiva de 3


complexas e distintas fases:

1. Fase da subversão do Estado de Direito


a. Implica a suspensão de princípios e de regras constitucionais;
b. A alteração do sistema legislativo constitucional sem revisão da Constituição;
c. A instituição de um sistema de partido único;
2. Fase de apuramento genético da progressiva esterilização de indesejáveis
3. Fase de concretização do programa de genocídio massificado.

a.3) Os valores prosseguidos pelo Direito


O sentido ético do Direito, que é responsável pela legitimação material intrínseca das normas
jurídicas, não deixa de contemplar alguns valores de suma importância para o sistema jurídico.
É o caso:

• Da justiça;
• Da segurança jurídica ou da certeza jurídica;
Da proteção da confiança legítima;

a. A Justiça
A Justiça é um valor umbilicalmente inseparável do Direito havendo uma relação essencial. A
ordem jurídica é uma ordem de convivência humana segundo a Justiça. O Direito é o próprio
objeto da Justiça. É a própria coisa justa, o objeto da virtude da Justiça. O Direito é a técnica do
bom e do justo.
A própria lei é uma regra que serve de medida da Justiça e que prescreve a sua realização e que
indica a retidão da conduta.

A Justiça é sinónimo de virtude em geral, de soma de todas as virtudes, consistindo em cada um


fazer o que lhe compete. Daí que o Homem Justo seja o Homem Bom, o Homem Virtuoso. A
Justiça corresponde ao conjunto de virtudes sociais, de virtudes que regem as relações entre os
homens em sociedade e que os impelem a combater o bom combate.

A justiça restringe-se à divisão de bens entre os homens na comunidade social, à atribuição a


cada um daquilo que lhe é devido, que é seu, que lhe pertence.

b. Princípio da Segurança Jurídica


O princípio da segurança jurídica ou da certeza jurídica constitui um principio geral de Direito
que é basilar dos nossos sistemas normativos e que se retira da noção de Estado de Direito
Democrático. É outro dos valores imanentes ao Direito e indispensável para que cada um saia
com o que pode contar num domínio de estabilidade das regras sociais de comportamento.

Na sociedade, a ordem de regulação de conduta deve permitir a informação antecipada do que


é permitido e colocar com antecedência os cenários relativos ao que é proibido, para dar a
possibilidade às pessoas de avaliarem os seus comportamentos de forma a ajustá-los ao Direito
estabilizando-os depois no âmbito de relações jurídicas entre si estabelecidas.

A exigência da segurança jurídica ou da certeza do Direito traduz um valor essencial que impõe
uma verdadeira obrigação de informação que recai sobre o Estado legislador acerca da
determinação prévia dos cenários e quadros normativos aplicáveis.
Exige a estabilidade do sistema jurídico que inclui a utilização de regras hermenêuticas
destinadas à interpretação e integração de lacunas que revistam uma aplicação comum, como
a disponibilização de um regime normativo próprio no que concerne à aplicação das leis no
tempo ou ao fenómeno da sua sucessão temporal.

• A obrigação de informação

A obrigação de informação recai sobre o Estado e, dentro deste, sobre quem exerce o poder
legislativo. A necessidade de conhecimento das leis em momento anterior ao da sua entrada
em vigor, com inteira suficiência para permitir aceder ao conteúdo do seu regime normativo
e ao conjunto de prescrições aplicáveis à sociedade e aos mecanismos jurídicos dirigidos aos
destinatários que estiverem contidos no seu campo de previsão, de modo especial.
A obrigação de informação que resulta do princípio da segurança jurídica começa por impor
a adoção de normas positivas, gerais e abstratas, ou seja, de leis escritas, adotada no âmbito
de um quadro normativo preciso e com um conteúdo abrangente, isto é, dirigidas a
categorias de sujeitos indeterminados e a situações abstratamente consideradas, do ponto
de vista da sua aplicação. O que implica a aplicação da lei de acordo com critérios
preestabelecidos e devidamente divulgados e conhecidos, para prevenir o arbítrio e a
incerteza quanto ao seu destino.

A lei é obrigatoriamente sujeita a publicação (art.5 CC), sendo a publicação condição de


eficácia do ato jurídico ou legislativo. A lei carece de publicação, só se tornando eficaz depois
de publicada. A falta de publicidade implique como sanção, a ineficácia jurídica da lei (art.10
CC). Se a lei é sujeita a publicação exigível que medeie um determinado período de tempo
entre o momento da sua publicação e o da sua entrada em vigor, ou seja, entre o momento
em que se torna conhecida e aquele necessariamente posterior, em que inicia a produção
dos seus efeitos jurídicos.

No âmbito desta função informativa ainda podemos situar o movimento de codificação das
leis, que permite a sistematização e arrumação de matérias em conjuntos compilados de
normas, onde se encontra essencial destas leis, com vista a facilitar o seu conhecimento e
estudo apropriado (ex: Código Civil).

Esta necessidade de informação e de conhecimento do conjunto de leis aplicáveis em dado


momento histórico é tanto mais significativa cativo do seu incumprimento (art. 6 CC).
Para a segurança ou incerteza do Direito certos negócios celebrados em determinadas
condições devem ser invalidados e arredados do sistema jurídico:
• Quando se refira a condições ilícitas ou impossíveis (art. 271 CC);
• Quando desrespeitem os requisitos de validade exigidos para o objeto negocial (art.
280 CC);
• Quando o fim for contrário à lei ou à ordem pública ou ofensivo dos bons costumes
(art. 281 CC);
• Quando sejam usurários (art. 282 CC);
• Quando forem celebrados contra a lei (art. 294 CC);

Para a segurança e certeza do Direito também reveste particular acuidade e a forma como se
encontram estabelecidas as regras hermenêuticas, ou seja, as regras específicas relativas à
interpretação das leis e à integração de lacunas e à aplicação das leis no tempo ou ao
fenómeno da sucessão das leis.

a. Regras Hermenêuticas
As regras hermenêuticas encontram previsão específica expressa na legislação civil.

• Interpretação da lei (art. 9 CC) – fixação do sentido e alcance da lei, entre os quais se
destaca, como ponto de partida da interpretação, a própria letra da lei e a partir daí,
tendo como sustento um mínimo de correspondência verbal, pode em seguida
proceder-se à reconstituição do pensamento do legislador, tendo em conta vários
fatores ou critérios interpretativos, como a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
• Integração ou preenchimento das lacunas da lei (art. 10 CC) – torna-se premente
quando existem buracos ou vazios legislativos, ou seja, casos que a lei não preveja –
casos omissos – em que procedem razões justificativas da sua necessidade de
regulamentação. A interpretação das lacunas faz-se através do recurso à norma
aplicável aos casos análogos, e na sua falta, são resolvidos segunda a norma hipotética.
A aplicação analógica da lei apenas pode ter lugar em relação a normas gerais, de
aplicação corrente.
Nas normas excecionais que se destinam a vigorar em condições excecionais e, muitas
vezes, em certos momentos temporais específicos ou que revestem caráter isolado,
estas não comportam integração por via da aplicação analógica da lei, embora possam
ser objeto de uma interpretação extensiva (art. 11 CC);
• Aplicação das leis no tempo – existem regras próprias previstas na legislação civil
(art.12/13 CC). Neste domínio vale o princípio geral de que a lei só dispõe para o futuro,
ou seja, ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular. Esta regra
– irretroatividade das leis – torna-se visível no domínio jurídico penal.
Parte I – O Direito: Introdução e Enquadramento
CAPÍTULO 2º - SISTEMAS E RAMOS DO DIREITO
1) Os sistemas de Direito
Os primórdios e os fundamentos históricos do Direito ao longo das civilizações antigas dão
sentido à descrição dos diferentes ramos do Direito e o modo como estes se agrupam, em
torno das matérias de que se ocupam as principais áreas de intervenção jurídica no que
concerne aos inúmeros fenómenos de regulação da vida em sociedade.
Estudando os critérios que levam à unidade da ordem jurídica, a História do Direito (parte da
História que estuda a ordem jurídica) é composta:
• Pela História das Fontes do Direito;
• Pela História das Instituições;
• Pela dogmática;
A História do Direito estuda como foram encontradas soluções normativas que regulavam a
vida em sociedade, estudando povos desaparecidos e reconstituindo ordens jurídicas que
vigoraram no passado.

1.1) Os antigos sistemas de Direito


A sistemática do direito e a sua organização em famílias jurídicas subjaz à própria história do
Direito e está ligada ao desenvolvimento das mais antigas civilizações.

• O direito da antiguidade clássica egípcia (3000 a.C.) incluía uma compilação de leis civis
que, tendo sido provavelmente dividida em 12 livros, se baseava no conceito de Maat e
se caracterizava pela tradição, pela retórica, pela igualdade social e pela imparcialidade.

• O mais antigo texto legal que diz respeito à codificação do direito antigo data por volta
de 2100 a.C. com o Código de Ur-Nammu, que descreve costumes antigos
transformados em leis e confere enfatização a penas pecuniárias para delitos diversos.

• O Código de Hamurabi é erradamente considerado como o mais antigo texto legal


conhecido, embora seja, na verdade, o mais antigo texto jurídico quase completo que
chegou até aos nossos dias. Apresenta o direito babilónico codificado e inscrito em
pedra para que o povo pudesse vê-lo no mercado. Tinha como pontos principais:
o A lei de Talião (ou Lei da Pena de Talião) – consistia na rigorosa reciprocidade
do crime e da pena – “retaliação”. Hoje é frequentemente expressa pela
máxima “olho por olho, dente por dente”, e é muitas vezes usada como sinal de
um sistema de autotutela do direito.
o O falso testemunho;
o O roubo e a recetação;
o O estupro;

o A família;
o Os escravos;
• O Código de Manu, surge cerca de 1500 anos depois. É parte de uma coleção de livros
bramânicos e que se constitui na legislação do mundo indiano, bem como veio a
estabelecer o sistema de castas na sociedade Hindu. Historicamente, as leis de Manu
são tidas como a primeira organização geral da sociedade sob forte motivação religiosa
e política. Este Código é uma compilação das civilizações mais antigas.

• O advento da nova escrita desenvolvida a partir dos fenícios foi a sua maior conquista
devido à sua necessidade para o comércio, mas que permitiu uma expansão homogénea
do Direito num mundo cada vez mais interligado.

• O advento da nova fonética regista-se o mais antigo conjunto de leis relevante para os
modernos sistemas do direito – a Torá do Velho Testamento. Na forma de imperativos
morais, como os Dez Mandamentos, contém recomendações para uma boa sociedade.

• A antiga cidade-Estado grega de Atenas foi a primeira sociedade baseada na ampla


inclusão dos seus cidadãos, com exceção das mulheres e dos escravos. Embora Atenas
não tenha desenvolvido uma ciência jurídica nem tivesse uma palavra para o conceito
abstrato de “direito”, o antigo direito grego continha grandes inovações constitucionais
no desenvolvimento da democracia.

• O direito romano foi depois fortemente influenciado pelos ensinamentos gregos, mas
as suas regras detalhadas e sofisticadas foram desenvolvidas por juristas profissionais.
Com a ascensão e a queda do Império Romano, o direito foi adaptado para lidar com
as mudanças sociais e passou por um grande esforço de codificação. O documento de
maior relevo no Direito Antigo é a Lei das XII Tábuas (451 a 449 a.C.) tidas como as
primeiras fontes de Direito.
O movimento da codificação conheceu o seu período áureo por ordem do Imperador
Justiniano I que elaborou algumas compilações de grande influência na história: Corpus
Juris Civilis. O Digesto era o conjunto de trechos de obras de jurisconsultos. O Código
foi uma coleção de constituições imperiais e as Institutas eram a exposição do Direito
destinada a estudos jurídicos.
O conhecimento do direito romano perdeu-se na Europa Ocidental durante a Idade
Média. O direito romano e o sistema jurídico baseado nele afetaram o
desenvolvimento do direito em todo o mundo. É o fundamento dos códigos da maior
parte dos países da Europa e desempenhou um importante papel no surgimento da
ideia de uma cultura europeia comum.
• Na Inglaterra medieval, os juízes reais começaram a desenvolver um conjunto de
precedentes que viria a tornar-se a Common Law.
• Aos poucos, formou-se na Europa medieval a Lex Mercatoria, que permitiu aos
mercadores comerciar com base em práticas padronizadas. Quando o nacionalismo
recrudesceu nos séculos XVIII e XIX, a Lex Mercatoria foi incorporada no direito interno
dos diversos países do continente europeu nos respetivos códigos civis (ex: Código
Napoleónio e Código Civil Alemão).
• Na Índia antiga o Arthashastra e o Manusmriti constituíam tratados influentes na Índia
e eram consultados em questões jurídicas. Esta tradição hinduísta, juntamente com o
direito muçulmano, foi suplantada pela Common Law quando a Índia se tornou parte
do Império Britânico. A tradição jurídica do leste da Ásia reflete uma mistura singular
entre o religioso e o secular.
• O Japão foi o primeiro país da área a modernizar o seu sistema jurídico seguindo o
exemplo ocidental, ao importar parte dos códigos francês e alemão.
• O direito chinês tradicional foi modernizado segundo o padrão ocidental nos anos
finais da dinastia Qing. O direito da República Popular da China sofreu forte influência
do direito socialista soviético.

1.2) Os modernos sistemas de Direito


A evolução que o Direito sofreu, desde a antiguidade clássica, ao longo das civilizações,
desaguando na pluralidade de ordenamentos jurídicos estaduais modernos.
Os dois principais sistemas jurídicos ou famílias do Direito da atualidade são:
• O sistema romano-germânico;
• O sistema anglo-saxónico (ou da Common Law);
Existem outros sistemas também relevantes como o dos direitos socialistas, o direito
muçulmano, o direito hindu, o direito judaico, o direito asiático…

1. O sistema romano-germânico
O sistema romano-germânico do Direito é formado pelo conjunto dos direitos nacionais que
sofrem forte influência do direito romano e do seu estudo ao longo dos anos. Em termos
geográficos, pertencem a esta família e os direitos atuais da maioria dos países europeus (à
exceção do Reino Unido e da Irlanda), para além de outras regiões do globo como a América
Latina ou o Japão.
A base deste sistema é o antigo direito romano, que influenciou os modernos ordenamentos
jurídicos, incluindo o direito português, através da recuperação e elaboração científica do
Corpus Iuris Civilis.
O qualificativo “romano-germânico” pretende realçar o papel decisivo do direito romano como
a contribuição do direito dos países germânicos e a importância que estes tiveram na
edificação da ciência jurídica moderna, ainda que de base essencialmente romanística.
Este sistema permite identificar alguns dos seus aspetos peculiares:
• Assenta no primado da lei – a fonte de Direito de maior relevância é a lei conferindo
destaque especial à lei escrita e genérica.
• Prefere os direitos codificados;
• Apresenta um elevado grau de apuramento técnico.
Assim, trata-se de uma família jurídica que confere primazia à lei, caracterizada pelo facto de a
regra de direito ser escrita e genérica. O que permite a sua interpretação e aplicação ao caso
concreto pelos tribunais.
A generalização acabou por permitir o fenómeno da codificação do direito, pelo qual as regras
genéricas são compiladas em códigos de leis e posteriormente aplicadas pelos juristas e pelos
tribunais. A sistematização codificada do Direito não consegue abranger todas as matérias
jurídicas, embora procure organizar e abordar as disciplinas mais importantes no interior de
cada uma. A codificação exige diversas áreas de especialização, o que explica por força da sua
relativa autonomia e reconhecido grau de complexidade.
O tratamento e a sistematização diferenciados e autónomos que o movimento da codificação
originou acabou por implicar maior concisão das matérias, melhor concentração do objeto
jurídico de cada disciplina e mais clareza e rigor com evidentes vantagens em termos de
organização e de clareza da própria lei escrita.
O sistema emanado desta matriz influenciou praticamente todo o ordenamento jurídico
português atual e continua a revestir enorme importância.
2. O sistema anglo-saxónico
O sistema anglo-saxónico é formado a partir do direito originário da Inglaterra após a
conquistas normanda e surge da necessidade de criação de um sistema de direito comum
(Common Law) aplicável não só a todo o reino como a toda a área de influência do vasto Império
Britânico, e aí assenta a pedra angular do ordenamento inglês.
Este sistema é o produto de uma larga tradição e é formado casuisticamente através da
atividade desenvolvida pelos tribunais reais de justiça. É um direito não escrito e não codificado.
A base desta família do direito é jurisprudencial, cujo cerne é a regra do stare decisis, regra do
precedente, pela qual as decisões judiciais anteriores devem ser respeitadas no momento em
que é apreciado um caso concreto.
O sistema jurídico inglês é um sistema de base jurisprudencial e casuística, conferindo
supremacia às fontes não escritas do Direito, entre as quais releva para além dos princípios
erais de direito não escritos.
A lei não é desconhecida como fonte de Direito. As leis revestem uma importância puramente
acessória, como fator de mero enquadramento do Direito.

Tipos de Sistemas:
a. Sistema muçulmano
Com uma base religiosa não apresenta fronteira entre a religião e o Direito. A fonte
essencial de direito é:
• O Alcorão;
• Os costumes;
• Os bons exemplos do Profeta (divergência de interpretação dividindo o mundo
muçulmano em xiismo e sunismo);
A origem de direito pauta por ser revelado, logo sagrado e dogmático, a tendência imutável
no tempo e no espaço. Já a estrutura é heterogénea e de sistema variável.
A aplicação deste sistema é de critério pessoal onde a xaria é comum a todos os
muçulmanos, independentemente da nacionalidade e do local onde vivem.
É um sistema completo e universal (sem distinção entre temporal e espiritual) que inclui
regras, sendo estas o somatório de todas as ações, direitos e deveres humanas e onde o
interesse comunitário predomina sobre o individual. Com a evolução temporal, têm sido
adotadas diferentes vias de aplicação do direito islâmico nas sociedades modernas:
• O Modelo liberal – dá primazia à Constituição, seguindo-se a lei ordinária e a xaria;
Ex: Tunísia, Marrocos
• O Modelo intermédio – surge primeiro a Constituição, depois a xaria e a lei
ordinária;
Ex: Egipto
• Modelo fundamentalista – tem mais importância a xaria, seguindo-se a Constituição
e depois as restantes leis;
Ex: Irão, Arábia Saudita

b. Sistema ocidental
Este sistema resulta da herança de diferenças técnicas que levaram à diferenciação entre as
ordens jurídicas. As influências maiores foram:
• A civilizacionalidade da Cristandade;
• O Direito Romano;
• A integração de elementos aquando das invasões bárbaras;
• A universalização civilizacional europeia;

c. Subsistema romanístico
Dito como sendo o tipo de direito vigente na Europa Ocidental, proveniente do Direito
Romano e influenciado pelo racionalismo iluminista e movimento de codificação.
Tem a lei como fonte do Direito, tendo o costume e a jurisprudência um papel reduzido ou
acessório, e como características a uniformidade de institutos e ramos do Direito, aonde
magistratura judicial é exercida por profissionais de carreira (sem depender do prestígio
social).
O estudo do Direito é feito de forma teórica em faculdades de Direito, bem como a
elaboração de novas leis.

d. Subsistema anglo-saxónico
O sistema anglo-saxónico é formado a partir do direito original da Inglaterra após a conquista
normanda e surge da necessidade de criação de um sistema de direito comum aplicável não só
a todo o reino como a toda a área de influência do vasto Império Britânico e, aí assenta a pedra
angular do ordenamento inglês.
É um produto de uma larga tradição e que é formado casuisticamente através da atividade
desenvolvida pelos tribunais reais de justiça. É um direito não escrito e não codificado.
Este sistema de Direito está presente na Grã-Bretanha, EUA e antigas colónias britânicas.
Com uma evolução linear de início com a prevalência das fontes consuetudinárias e
posteriormente adoção da regra do precedente como fonte de Direito, isto é, existem leis
(statutory law) mas a base do sistema são as decisões judiciais, as decisões tomadas por
tribunais superiores em casos idênticos.
A escolha de juízes recai sobre advogados experientes, sendo as funções dos juízes nos
tribunais superiores muito prestigiadas.
O estudo do Direito é feito de forma prática, através da análise de casos.

e. Direito Português
Inicia-se em 1140 (data da fundação da Nação) e consistia numa conjugação dos tipos de Direito
Romano, Germânico e Visigótico.
A História do Direito Português pode ser dividida em diferentes períodos:
• Período do Direito consuetudinário e foraleiro – existia uma dispersão na aplicação do
Direito a nível local. O poder real limitava-se a outorgar os instrumentos de autogoverno
nos concelhos.
• Período de influência do Direito Comum – marcado pelo regresso às fontes romanas
para resolver casos concretos, o que originou castas de letrados capazes de estudar os
textos romanos, bem como escolas de estudo para os mesmos.
• Período de influência iluminista – pretendia regressar à pureza do Direito romano
adaptando-o à época e ao racionalismo. A Lei da Boa Razão, elemento característico
deste tempo, determinava que as questões deveriam ser resolvidas por leis práticas e
estilos da Corte, e na falta de lei recorria-se ao costume (desde que fosse conforme a
Boa Razão; não contrariasse as leis e que tivesse mais de 100 anos), pelo que se
continuando sem solução recorria-se então ao Direito Romano.
• Período de influência liberal e individualista – marcado pelo constitucionalismo
monárquico, triunfo do individualismo e da glorificação da propriedade e liberdade
económica, acabando com as corporações.
• Período corporativo – deu-se com o golpe militar de 28 de maio de 1926 que originou
um regime conservador de doutrinas corporativas e autoritárias que alterou o Direito
vigente e teve uma grande expressão no Código Civil de 1966.
• Período atual – aonde a substituição do regime originou uma democracia com os ideais
do Estado Social de Direito. A adesão à CEE (1986) levou à aproximação do Direito
público e privado e a reforma do Código Civil em 1978 retirou a carga conservadora da
versão original.

2) Os Ramos do Direito
A classificação dos ramos do Direito é, mais ou menos, universal e existe independentemente
dos sistemas jurídicos onde são aplicados. É usual distinguir-se:

• Direito público ≠ Direito privado;


• Direito substantivo ≠ Direito processual;

• Direito Interno ≠ Direito da União Europeia ≠ Direito internacional;

2.1) Direito público ≠ Direito privado

Direito publico Direito Privado


Aplica-se ao Estado e aos demais entes Aplica-se aos entes privados (quer sejam
públicos. pessoas singulares ou pessoas coletivas).
Segue um principio próprio, onde só é Baseia-se na autonomia da vontade privada,
permitido o que for como tal expressamente (princípio da autonomia ou o princípio da
previsto na lei (princípio da legalidade ou autonomia da vontade privada), segundo o qual
é permitido tudo o que não for proibido por
principio da competência limitada a autonomia da
vontade), o que permite ao Estado impor-selei. Assim, as pessoas têm a possibilidade de
com base numa posição, não negociável, de negociar, de estipular e de aceitar as normas
superioridade face aos particulares. e as cláusulas contratuais que desejam
aplicar entre si.
Os Ramos do Direito Público Os Ramos do Direito Privado
Os ramos do direito público visam defender o Os ramos do direito privado visam defender
interesse público e resultam de especiais os interesses particulares de natureza
prerrogativas de autoridade que podem ser individual ou interesses particulares que
exercidas pelos vários sujeitos do direito incluem a proteção de valores importantes
público (Estado e os demais entes públicos). da sociedade.
Exemplos: Exemplos:
• Direito administrativo; • Direito da família;
• Direito constitucional; • Direito das obrigações;
• Direito fiscal; • Direito das coisas ou direitos reais;
• Direito penal; • Direito comercial;
• Direito da segurança social; • Direito empresarial;
• Direito do trabalho;
• Direito militar; • Direito bancário;
• Direito eleitoral; • Direito dos seguros;
• Direito dos registos e do notariado; • Direito dos consumidores;
• Direito do urbanismo; • Direito de autor;
• Direito do ambiente; • Direito da informática;
• Direito do desporto;
• Direito marítimo;
• Direito aeronáutico;

Em qualquer dos casos todos se encontram num plano de igualdade, de paridade de interesses
e de posições jurídicas, que não variam em função dos planos de observação.
Os critérios que permitem delimitar o interesse público do interesse privado são:
• O critério dos sujeitos – é determinado pela qualidade de cada interveniente;
• O critério do interesse preponderante – depende do interesse específico e da razão de
ser que motiva a intervenção do Estado ou de qualquer ente público em determinada
relação estabelecida com um particular;
A existência de um interesse público preponderante implica que o Estado intervenha nessa
relação de direito público no exercício de especiais prerrogativas de autoridade pública.

a. Direito substantivo ≠ Direito processual

Direito substantivo ou material Direito processual, adjetivo ou formal


Refere-se aos ramos do Direito que regulam Refere-se a cada um dos ramos do direito
princípios e normas jurídicas privativas de substantivo ou material em movimento,
determinada área ou conjunto de matérias e logo, à dinâmica do processo e à sua
que se encontra normalmente codificado tramitação nos tribunais na área
com nome dado à disciplina que ocupa; correspondente ao direito substantivo ou
material.
Os Ramos do Direito Substancial Os Ramos do Direito Processual
No lado do direito público: No lado do direito público
• Direito administrativo; • Direito processual administrativo;
• Direito público; • Direito processual penal;
• Direito fiscal; • Direito processual fiscal;
• Direito militar;
• Direito penal; No lado do direito privado:
• Direito processual civil;
• Direito pro
No lado do direito privado: • cessual do trabalho;
• Direito civil;
• Direito do trabalho;

b. Direito Interno ≠ Direito da União Europeia ≠ Direito internacional

1. Direito Interno/Nacional
Ramos do direito nacional ou interno que correspondem ao Direito que se aplica no conjunto
do território do Estado Português – Direito Português.
Direito Interno – designação técnica que os internacionalistas costumam atribuir ao direito nacional de
um Estado e que corresponde às normas jurídicas internas que são um produto da vontade do Estado, do
qual emanam na conformidade das regras que ele próprio estabelece.

Esta noção exige a compreensão do conceito território para a definição da própria noção de
Estado e para a aplicação do Direito num determinado país.

O termo território refere-se à superfície terreste de um Estado, seja ele


soberano ou não. É definido como o espaço físico sobre o qual o Estado
Território exerce o seu poder soberano ou é o âmbito de validade da ordem
jurídica estatal.
O território é uma das condições para a existência e o reconhecimento
de um país, sendo os outros dois a nação e o Estado.
A noção de Estado pressupõe a existência de uma pessoa de direito
internacional e implica certas características como:
Noção de Estado • Uma população permanente;
• Um território definido;
• Um poder político organizado (um governo);
• A capacidade de entrar em relações com os outros Estados;
O reconhecimento internacional do Estado apenas ocorre quando
existe soberania. Há determinados casos de entidades soberanas que
não são consideradas Estados como:
• Estados sem território ou nações sem território;
• Estados com território, mas que não são considerados soberanos:
o Estados não soberanos;
o Estados dependentes, exíguos ou vassalos;
o Estados semissoberanos;

Existe ainda o caso especial da Cidade do Vaticano que é um exemplo


de um exíguo Estado soberano na ordem internacional.

2. Direito da União Europeia (originário e derivado)


O Direito da União Europeia refere-se ao conjunto de princípios e de normas jurídicas que
caracterizam uma ordem jurídica própria e com características específicas, que tanto se
distingue do direito internacional como do direito interno de cada Estado-Membro.
Na sua origem encontra as 3 primitivas Comunidades Europeias:
• A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) – 1951;
• A Comunidade Económica Europeia (CEE) – 1957;
• A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EA) – 1957;

A União é uma organização supranacional integrada por Estados-Membros soberanos e que


tem por destinatários vários sujeitos de direito:
• As Instituições e os órgãos da União – organização assume e manifesta a sua vontade
normativa;
• Os Estados-Membros – os países europeus democráticos que começaram por integrar
as primitivas Comunidades e depois a União ou aqueles que conseguiram assegurar a
respetiva adesão;
• Os particulares – empresas e indivíduos a quem direita ou indiretamente se aplicam as
pertinentes regras de direito;
Os órgãos da União contribuem ativamente para auxiliar a ação da organização no âmbito das
suas variadas competências.

3. Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado


O Direito internacional é constituído por normas adotadas no quadro interestadual por
processos fixados pelo costume ou por tratados internacionais. É o ramo do Direito que se
aplica às relações entre os Estados Soberanos e na ordem internacional às relações entre os
Estados Soberanos e as organizações internacionais de que aqueles fazem parte.
O Estado é dotado de soberania e esta manifesta-se de duas maneiras:

Na vertente interna de aplicação da Na vertente externa


soberania
O Estado encontra-se acima dos demais O Estado está em pé de igualdade com os
sujeitos de direito, constituindo-se na demais Estados soberanos que constituem a
autoridade máxima existente no seu comunidade ou a sociedade internacional.
território. Os Estados são juridicamente iguais (princípio
O Estado impõe a ordem jurídica interna e da igualdade jurídica dos Estados) e não existe
garante uma sanção no caso de violação uma entidade central e superior ao conjunto
(relação de subordinação); dos Estados, com a prerrogativa de impor o
cumprimento da ordem jurídica internacional
e de aplicar uma sanção para essa violação.

É usual distinguir-se neste ramo do Direito entre Direito Internacional Público e Direito
Internacional Privado.

Direito Internacional Público Direito Internacional Privado


Inclui: Dedica-se ao estudo do conflito de leis no
• As normas e os princípios de direito espaço, ou seja, conjunto de normas
internacional geral ou comum (fazem jurídicas criado por uma autoridade política
parte integrante); autónoma, que dispõe de uma ordem
• As normas constantes das convenções jurídica autónoma, com o propósito de
internacionais (vigoram na ordem resolver os conflitos de lais no espaço.
interna); Trata-se de um conjunto de regras de direito
• As normas emanadas dos órgãos interno que indica ao juiz local que lei deverá
competentes das organizações ser aplicada a um caso que envolva ou tenha
internacionais (o Direito Internacional relação, através de um determinado
vigora no Direito Português. Faz parte do elemento de conexão, com mais do que um
Direito Português); país.
Variantes deste ramo do Direito Variantes deste ramo do Direito
• Direito Penal Internacional; • No caso português, o Direito Internacional
• Direito Internacional Humanitário ou Direito Privado encontra-se regulado no próprio
Internacional dos Conflitos Armados; Código Civil, no âmbito de um capítulo
intitulado Direitos dos Estrangeiros e conflitos
• Direito Internacional Marítimo ou Direito
de leis.
Marítimo Internacional;
• Direito Internacional Aeronáutico ou Direito
Aeronáutico Internacional;
Parte II – As fontes, o Sistema Legislativo e a Dimensão No rmativa do
Direito
CAPÍTULO 1º - O SISTEMA DE FONTES DO DIREITO

1) Enquadramento e Noção
A temática das fontes do direito – em que sobressai a lei – adquire maior relevância com o
movimento de codificação do direito vivido pelos sistemas europeus, desde o século XIX, já que
o direito legislado ou positivado passa a ter um valor significativo.
As fontes do direito são as formas de expressão do direito positivo, sendo caracterizadas como
meios de exteriorização e reconhecimento das normas jurídicas.

A expressão fonte do direito pode ser entendida como:

• A origem ou causa do direito;

• O repositório de onde é possível extrair informação e o próprio conhecimento sobre


o direito;
No entanto, a lei (mais importante fonte no interior da família romano-germânica e, por sua vez, no
ordenamento jurídico português) não é única, nem tão-pouco a interpretação e aplicação da lei é
imune a outras fontes do direito de menor recorte que influenciam decisivamente o seu
sentido e o seu alcance (ex: princípios gerais de direito; jurisprudência; costume; doutrina; equidade…).
As fontes do direito permitem a alusão a diversas expressões com significados diferentes:

• Em sentido histórico – primórdios ou as circunstâncias que estão na origem remota da


regra do direito (art. 292/293 CC);

• Em sentido sociológico – condicionalismos e paradigmas sociais que determinam o


surgimento de certas realidades jurídicas em determinada sociedade;

• Em sentido lógico ou sistemático – relação existente entre segmentos normativos entre


si coerentes;

• Em sentido teleológico – à ultima ratio da norma jurídica, à última vontade do


legislador;

• Em sentido orgânico – abrangem os diversos órgãos do Estado competentes para emitir


e adotar as prescrições normativas;

• Em sentido instrumental – instrumentos ou textos legislativos onde se encontram


encerradas as regras de conduta de caráter jurídico, agrupadas e sistematizadas de
acordo com um sentido aglutinador comum;

• Em sentido técnico-jurídico ou formal – modos de formação/produção e de revelação


da vontade jurídica;

2) Fontes em sentido imediato e mediato


A referência às fontes do direito em sentido técnico-jurídico ou formal encerra em si mesma 2
segmentos diferentes:

• Os modos de formação – coincidem com as fontes do direito em sentido imediato ou


direto;

• Os modos de revelação da vontade jurídica – coincidem com as fontes do direito em


sentido mediato ou indireto;

• Correspondem aos modos de formação das normas jurídicas,


ou seja, a sua entrada no sistema do ordenamento.
• Está em causa o resultado de um processo próprio apto a
produzir e a emitir a vontade jurídica. Portanto, não será
Fontes em sentido espontâneo, mas sim produzido de acordo com procedimentos
previamente estabelecidos e através de fases bem delimitadas
imediato/direito
que permitem alcançar um processo legiferante típico que está
na origem das normas jurídicas, adotadas pelos órgãos
competentes.
• Trata-se de um produto da vontade do Estado em que a lei
adquire elementar preponderância. A lei encontra-se inserida
na categoria das fontes imediatas ou direitos pelo próprio
legislador.
• Correspondem com os modos de revelação da vontade
jurídica.
Fontes em sentido • Trata-se de um direito revelado, sem ser o resultado de um
imediato/indiretas processo próprio e intencionalmente dirigido à produção
normativa.
• Podem considerar-se nesta categoria as seguintes fontes do
direito, indicadas por ordem de importância decrescente:
os princípios gerais de direito » a jurisprudência » o costume
» a doutrina » os usos » a equidade

2.1) Fontes em sentido imediato/direito

a. A lei

Para a lei (única fonte de direito produzida intencionalmente) está estabelecida uma definição
própria de acordo com a qual são todas as disposições genéricas provindas dos órgãos
estaduais competentes. Com esta amplitude, as leis bastam-se com um conteúdo genérico no
que diz respeito à sua aplicação, que pode abranger todo o tipo de matérias (Abstração aplica-
se a situações abstratas. Não estão determinadas em concreto. Genérica aplica-se a qualquer
pessoa).

b. Normas corporativas
As normas corporativas (certas leis especiais, pois estão dentro das leis) correspondem às regras
ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como os respetivos
estatutos e regulamentos internos.

As normas corporativas são privativas dos organismos com representatividade em função de


diversificadas categorias e consubstanciam as regras próprias de determinadas atividades, arte
ou ofício, incluindo os estatutos e os atos regulamentares relativos à composição, organização
e funcionamento interno dos respetivos órgãos (dirigem-se a uma certa classe atividades ou
organizações).

2.2) Fontes em sentido mediato/indireto


No sistema das fontes podem referir-se:

a. Os princípios gerais do direito


Conjunto de princípios que dão significado e melhor permitem compreender a realidade
jurídica. São enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a
compreensão do ordenamento jurídico na sua interpretação, aplicação e integração, podendo
estar mesmo na origem da elaboração de novas regras de direito.
São alicerces do ordenamento jurídico, informando o sistema independentemente de estarem
positivados através de uma norma legal.
Os princípios gerais de direito são sempre válidos, independentemente de estarem ou não
contidos na lei escrita, ou seja, positivados (ex: principio da certeza jurídica ou da segurança jurídica
não estão positivados).

No âmbito desta fonte do direito distinguem-se os princípios gerais de direito de natureza


material e os princípios gerais de direito de natureza formal.

• Princípios que revestem um âmbito valorativo, que são como


Princípios Gerais de as pedras angulares do sistema e que pairam ao nível da
Direito de Natureza constelação das estrelas para dar sentido ao próprio direito.
Material • São princípios gerais de natureza fundamental (ex: princípio da
segurança jurídica ou principio da certeza jurídica; princípio da
proteção da confiança legítima).
• O sistema deve obediência, que devem ser acatados e
respeitados do ponto de vista formal, sob pena de se tornar
inválida a regra jurídica (ex: princípio da legalidade; princípio da
universalidade; princípio da tutela jurisdicional efetiva; principio da
aplicação das leis no tempo).

Princípios Gerais de Ainda é possível distinguir entre:


Direito de Natureza • Princípios gerais de direito de vocação genérica – princípios
Formal aplicáveis em termos genéricos (ex: princípio da legalidade;
princípio da tutela jurisdicional efetiva; principio da responsabilidade
das entidades públicas; direito administrativo);
• Princípios gerais de direito de aplicação especial – dizem
respeito a áreas específicas do direito no âmbito dos quais
relevam (ex: principio “ne bis in idem”; princípio da prossecução do
interesse público; princípio da igualdade de direitos e deveres dos
cônjuges);

b. A jurisprudência
O saber jurídico é identificado com o Direito no sentido de jurisprudência, enquanto ciência
ou arte do justo. Fundamental realçar a importância crescente das decisões jurídicas, o que leva
a ter em consideração a elevada credibilidade e autenticidade dos seus critérios, que estão na
origem de uma força verdadeiramente criadora de direito.
A jurisprudência é o conjunto das decisões proferidas em tribunal sobre determinada matéria.
É uma doutrina resultante de várias e reiteradas decisões proferidas por tribunais superiores
sobre determinada matéria. Assim, é mais usual o intérprete preocupar-se em obter uma
decisão por parte do julgador com base em posições anteriormente proferidas pelos tribunais,
para as manter ou fazer evoluir. Por sua vez, são mais escassos os casos em que o costume ou
outras fontes de natureza diversa surgem como modos reveladores da vontade jurídica.

c. O costume
É o conjunto de regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e
prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada
sociedade e cultura específica vigente em determinado momento histórico.

Assim, o costume é uma prática social reiterada acompanhada da convicção da sua


obrigatoriedade. É integrado por 2 elementos que o geram e o justificam:

• Um elemento material – o corpus ou consuetudo – prática social reiterada de um


determinado comportamento (repetição constante e uniforme de uma certa prática
social);

• Um elemento psicológico – o animus – convicção subjetiva ou psicológica da


obrigatoriedade de um tal comportamento enquanto representativo de valores
essenciais para uma sociedade (é a convicção de que a prática social reiterada,
constante e uniforme é necessária e obrigatória).

A verificação simultânea destes 2 requisitos concorre para a existência e verificação de um


costume, permitindo a essencialidade destes 2 elementos distinguir o costume de um mero
uso ou hábito social. A obediência a uma conduta por parte de uma coletividade configura um
uso, mas é a reiteração desse uso que forma o costume.
Portanto, o costume é uma maneira que a sociedade tem de se manifestar do ponto de vista
cultural e acaba por originar regras que, embora não sendo escritas, como as leis, se tornam
observáveis pela própria constituição e regulação do facto da vida social.

Enquanto o costume é espontâneo e se expressa oralmente, a lei demanda de um órgão do


Estado (exercício do poder legislativo), através de um processo próprio de elaboração, e
expressa-se por via de uma fórmula escrita. O costume é a regra de conduta criada
espontaneamente pela consciência comum do povo, que a observa através de um modo
constante e uniforme, e sob a forte convicção de que corresponde a uma verdadeira
necessidade jurídica.

Para que um costume seja considerado fonte de direito é necessário que seja:
• Contínuo:

o Factos esporádicos não são considerados costume;

• Constante:

o A repetição dos factos deve ser diuturna;


o Deve ter uma longa duração;
o Produzir-se sem alterações de sentido;
o Não deve implicar dúvidas quanto à sua aplicação;

• Obrigatório:

o Não pode ser facultativo;


o Não está assim dependente ou sujeito à simples vontade das partes
interessadas;

• Não pode ser antijurídico:

o Não pode traduzir ou implicar um sentido contrário à ética jurídica;


o Não pode consubstanciar uma prática contrária à moral ou aos bons costumes
dominantes;
o Não podem ser contrários aos princípios da boa fé;
O costume integra o direito consuetudinário ou costumeiro que é formado a partir do conjunto
dos costumes espontâneos e vigentes numa certa sociedade, em certo momento histórico que
não passa por um processo intencional de criação de leis. É dividido em 2 modos fundamentais:

• Quanto à natureza:

o Costume popular;
o Costume erudito;

• Quanto ao conteúdo:
o Praeter legem – regula certos aspetos não abrangidos pela lei, mas que
completa o sistema legislativo;
o Secundum legem – secunda a lei, que a confirma e apoia. A norma jurídica por
ele criada confirma ou interpreta a lei previamente existente;
o Contra legem (ou ab-rogatório) – é oposto ou contrário à lei. As normas
costumeiras não vão para além da lei, nem sequer a confirmam, limitam-se a
contrariar as normas de direito escrito existentes. Procedem implicitamente à
revogação de disposições legais por resultar na não aplicação da lei em virtude
do desuso, falta de costume ou desábito. Isto trata das leis anacrónicas, ou seja,
leis que envelhecem durante o seu período de vigência e que não foram
revogadas por obra do legislador (ex: 292º, 293º CRP e 1039º CC).
Estes 3 tipos de costume delimitados em função do seu conteúdo acabam por permitir atingir 3
importantes funções do direito:
• Suprir a lacunas da lei;

• Servir de parâmetro para a interpretação da lei;

• Inspirar o legislador a normatizar condutas;


Assim, o costume apresenta 3 faces:

• É uma fonte suplementar da lei;

• É uma fonte de interpretação;

• É uma fonte da norma a legislar;

d. A doutrina
A doutrina é o resultado do estudo de pensadores, universitários, juristas e filósofos do direito
sobre os fenómenos ligados ao relacionamento e à conduta humana e à sua aplicação ao
campo jurídico. É importante na elaboração da norma jurídica e na sua interpretação e aplicação
pelos tribunais. É essencial:

• Para aclarar pontos;

• Para estabelecer novos parâmetros;

• Para descobrir caminhos ainda não pesquisados;

• Para melhorar e apresentar soluções mais justas, atualizadas e adequadas à realidade


social;

• Para interpretar as normas;

• Para pesquisar os factos e propor alternativas, com vista a auxiliar a construção


evolutiva, sempre necessário e constante, do Estado de Direito, através do
aperfeiçoamento do seu sistema jurídico;

e. Os usos
Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis
quando a lei o determine.
Os usos apresentam 2 requisitos para poderem valer como fonte do direito:

• Requisito formal – para serem atendíveis, deve a lei para eles expressamente remeter;

• Requisito material – relevam aqueles que não sejam contrários aos princípios da boa
fé;

Distinguisse os usos do costume no sentido em que:

• Os usos constituem uma prática seguida e mais ou menos generalizada, aplicável nos
mais variados domínios específicos nos quais revela, sendo utilizados como um
verdadeiro padrão de referência. O costume exige uma prática generalizada e reiterada
ao longo do tempo e a convicção de que é obrigatório, pois não constitui uma solução
alternativa, mas apenas a única que é legítimo adotar.

• Os usos apenas são atendíveis se a lei para eles remeter, se os validar expressamente
enquanto fonte do direito. O costume vale de forma espontânea, independentemente
de qualquer vontade ou intenção legislativa no que diz respeito à produção dos seus
efeitos ou às suas consequências normativas.
Os usos têm um valor inferior ao da lei, que não podem contrariar. Só são válidos se for a
própria lei a permiti-lo. Revestem natureza inferior às normas corporativas, em relação aos
quais se não podem sobrepor.

f. A equidade

Consiste na adaptação da regra existente à situação concreta observando-se os critérios de


justiça e de igualdade. A equidade adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais
justa. Ela é uma forma de se aplicar o Direito. Essa adaptação não pode ser de livre-arbítrio e
nem pode ser contrária ao conteúdo expresso da norma. Ela deve levar em conta a moral social
vigente, o regime político estatal e os princípios gerais do Direito.

3) Fontes em sentido material e formal


Outra classificação das fontes do direito são:

• As fontes em sentido material;

• As fontes em sentido formal:

o Fontes formais próprias e impróprias;


o Fontes formais estaduais e não estaduais;
o Fontes formais principais e acessórias;

• Fontes materiais são os fatores que criam o direito, dando origem


aos dispositivos válidos, sendo assim, todas as autoridades,
pessoas, grupos e situações que influenciam a criação do direito
em determinada sociedade.
• A ideia de fonte material liga-se às razões últimas, motivos lógicos
Fontes materiais ou morais, que guiaram o legislador, condições lógicas e éticas do
fenómeno jurídico que constituem objeto da sociologia jurídica.
do Direito
• As fontes materiais do direito são todos os fatores que
condicionam a formação das normas jurídicas, ou seja, que
implicam o conteúdo das fontes formais, sendo todas as razões
humanas que estabeleceram a feitura de uma lei específica, de um
determinado costume ou de um princípio geral de direito, como
razões económicas, sociológicas, políticas… que influenciaram a
criação de uma fonte formal.
• Os fatores sociais influenciaram a ordem jurídica ao longo do
processo de produção de normas jurídicas.
• Servem para identificar o modo como o direito se articula com os
seus destinatários, ou seja, como o direito se manifesta.
• Indica os lugares nos quais se encontram os dispositivos jurídicos e
Fontes formais do onde os destinatários das normas devem pesquisar sempre que
Direito desejam tomar conhecimento de uma norma em vigor.
• As fontes formais podem ser objeto de inúmeras classificações:
o Quanto à natureza;
o Quanto ao órgão;
o Quando ao grau de importância;

a. Quanto à natureza
As fontes formais podem ser diretas (próprias ou puras) e indiretas (impróprias).

• As fontes diretas ou próprias são aquelas cujas naturezas jurídicas é exclusiva de uma
determinada fonte (ex: caso da lei ou das normas corporativas), que tem como única
finalidade servir como modo de produção do direito (ex: Constituição; revisões
constitucionais…).

• As fontes indiretas ou impróprias são aquelas que assumem a função de fontes do


direito a título excecional ou residual (ex: jurisprudência, o costume ou a doutrina). Não
exclui a sua finalidade em servir como método de interpretação legal.

b. Quanto ao órgão

Podem ser classificados como:

• Fontes estaduais – surgem por determinação e através do poder do Estado (ex: lei geral;
normas corporativas; princípios gerais de direito…).

• Fontes não estaduais – têm uma origem espontânea que, por essência, não são o
resultado de uma vontade específica de um órgão de produção jurídica, nem
consubstanciam qualquer ato do Estado (ex: costume; doutrina).

c. Quanto ao grau de importância


As fontes formais ainda se podem distinguir em:

• Fontes principais – caracterizadas pela importância que é reconhecida à lei, considerada


em sentido figurativo ou geral e amplo, ou seja, não deixam espaço para o juiz julgar
com base em qualquer outra fonte, já que a lei é a expressão máxima do direito e o
ponto de partida necessário à sua interpretação e aplicação.

Fontes acessórias – oferecem uma importância relativamente menor já que são invocadas
pelo intérprete para uma mais adequada e completa interpretação da norma ou, então, em
casos de expressa omissão legislativa. Aqui enquadram-se todas as fontes.
Parte II – As fontes, o Sistema Legislativo e a Dimensão Normativa do
Direito
CAPÍTULO 3º - A DIMENSÃO NORMATIVA DO DIREITO

1) A norma jurídica
a. Enquadramento e noção
A ordem jurídica é composta por princípios e por normas de conteúdo jurídico. Na regulação
da vida em sociedade ressalta no ordenamento jurídico uma dimensão normativa do Direito
que caracteriza um verdadeiro sistema, o sistema jurídico, integrado de forma coerente e
lógica por um corpo de regras de conduta.
Os princípios jurídicos valem por si mesmos. Os que têm natureza superior de valores do
Direito são imanentes à própria construção do Direito, quer estejam ou não vertidos em
normas jurídicas (ex: princípio da certeza jurídica; princípio da segurança jurídica).
Se umas vezes os princípios de natureza jurídica estão vertidos nas próprias normas jurídicas,
outras vezes as normas jurídicas não refletem necessariamente um princípio jurídico – são
meras regras sociais de conduta de conteúdo jurídico (ex: princípio da igualdade).

Os princípios e as normas que integram o direito caracterizam o sistema jurídico que entre nós
dá primazia à lei escrita ou positiva, ou seja, à norma jurídica.

b. Características
A norma jurídica é um elemento fundamental da ordem jurídica. É um tipo de norma que
contém traços característicos que a permite distinguir das demais normas de comportamento
próprias das ordens sociais.
A ordem ética ou normativa assenta em normas que têm cumulativamente de ser:

• Hipotéticas;
• Gerais;
• Abstratas;
Estes 3 elementos são as características da norma jurídica.

1. A Hipoteticidade
É uma característica da norma jurídica que se refere à verificação futura de uma certa condição.
A norma há-de ser preenchida e a sua aplicação fica consequentemente dependente da
verificação do evento que a norma em si mesma encerra.

A norma jurídica existe para ser aplicada a uma determinada situação de verificação hipotética,
que não consiste num dado assente. A lei aplica-se a situações hipoteticamente consideras do
ponto de vista do seu campo material de aplicação (ex: art. 66 CC).

2. A generalidade
Consiste na sua aplicação a um conjunto não identificado ou identificável de destinatários. O
importante é considerar que são todos aqueles a quem a norma se dirige, aqueles que estão
integrados no seu campo material de qualidade de cada um dos sujeitos.

As normas jurídicas podem ser:

• Normas jurídicas de conteúdo plural – têm uma apetência para ser aplicadas a mais do
que um destinatário em idênticas condições, já que pressupõe um número amplo
destinatários ou, ao menos, mais do que um destinatário hipoteticamente considerável.
• Normas jurídicas de conteúdo singular – têm uma apetência para ser aplicadas a um só
destinatário em idênticas condições (em cada momento histórico), sem que percam a
sua natureza normativa e a característica da generalidade implica à norma (ex: normas
jurídicas relativas ao cargo do Presidente da República);

3. A abstração
Traduz a sua aplicação indiferenciada a um conjunto não determinado de situações. A norma
jurídica contém um campo material de aplicação que, do ponto de vista objetivo, abarca todas
as situações possíveis que cabem no seu interior, o que permite depois a sua concretização face
às diversas equações da vida social.
Existe uma possibilidade de aplicação não circunstanciada da norma jurídica, que faz com que
a mesma se possa aplicar casuisticamente, ou seja, caso a caso, perante condições concretas
que se integram no seu campo de aplicação (ex: art. 874 CC);

c. Estrutura
Em relação à sua estrutura, a norma jurídica pode ser analisada numa dupla perspetiva
completamente diferenciada em função de cada um dos seus 2 elementos:

• A previsão normativa – segmento em que a norma procede à descrição de determinada


conduta, em que estabelece o seu quadro fáctico ou a situação material em que
determina a sua aplicação;
• A estatuição jurídica – segmento em que a norma procede à determinação da sanção
correspondente ao preenchimento da conduta previamente estabelecida. É aquela
parte da norma jurídica que permite aplicar os seus mecanismos de reação, as suas
consequências jurídicas, uma vez ativado o seu campo de previsão.
Mas a estatuição não tem necessariamente de consubstanciar uma reação destinada a
sancionar uma qualquer violação do Direito: a estatuição é uma mera reação à
verificação do campo de previsão normativo (ex: art. 66 CC);
Assim, as normas jurídicas podem ser:

• Normas jurídicas perfeitas – toda a norma jurídica que tem um campo de previsão e
uma estatuição;
• Normas jurídicas imperfeitas – apenas contempla um campo de previsão e que se
encontra despida de qualquer tipo de estatuição;
Em termos lógicos a previsão antecede a estatuição, já que esta é a reação adequada daquela.
Mas, não existem qualquer exigência que impeça o contrário, ou seja, a colocação da
estatuição antes do segmento destinado à previsão (ex: art. 66 CC).
2) Espécies de Normas Jurídicas
O Direito apresenta uma dimensão normativa em que a lei escrita (norma jurídica) adquire um
relevo preponderante. Assim, surgem na sequência de variadas composições normativas tipos
de normas como:

• Normas de estatuição material ≠ Normas de estatuição jurídica


• Norma imperativas ≠ normas permissivas ≠ normas supletivas
• Normas gerais ≠ Normas especiais ≠Normas excecionais
• Normas sancionatórias

1. Normas de estatuição material ≠ Normas de estatuição jurídica


Estas normas dizem respeito à parte da estatuição, relativa à estrutura da norma (é uma
consequência). Impõe-se o preenchimento do campo de previsão da norma: as suas
consequências é que são de diferentes tipos.

Normas de estatuição material Normas de estatuição jurídica


São aquelas que implicam uma reação São aquelas em que a reação ou a
material, que determinam uma consequência da norma revestem um
consequência correspondente a um certo conteúdo verdadeiramente jurídico (ex:
comportamento social. (Exigem uma ação) – art.122/130 CC);
(ex: levar um livro);

As normas podem simultaneamente prever um segmento respeitante à parte da estatuição


material e outro segmento referente à parte da estatuição jurídica (ex: contrato de compra e
venda – art. 879 CC).

2. Normas imperativas, permissivas e supletivas


São aquelas que impõem um comportamento que obrigam à
adoção de uma determinada conduta, não conferindo qualquer
faculdade alternativa. Pode ser imposta por ação ou omissão.
Normas Imperativas Pode ser:
• Norma Preceptiva - uma norma cuja estatuição consagre
obrigatoriamente uma conduta positiva, uma ação – uma
obrigação de fazer;
• Norma proibitiva – uma obrigação de não fazer;
Normas Permissivas São aquelas que permitem uma certa conduta, conferem uma
determinada faculdade de atuação.
Normas Supletivas São aquelas que supõem a aplicação subsidiária da lei, caso nada
tenha sido estipulado em sentido diverso. É automaticamente
acionada se as partes não afastarem a sua aplicação (é
complementar).

3. Normas gerais, especiais e excecionais


Normais gerais Correspondem à categoria mais ampla das normas jurídicas e são
aplicáveis em condições ou em circunstâncias não diferenciadas.
Consagram um regime que, por natureza, afasta o regime regra.
Normas especiais Pressupõe que a norma especial se relacione com uma outra
norma, de vocação universal, e que por força dessa relação consiga
afastar a sua aplicação.
Destinam-se a vigorar durante um período de tempo
necessariamente limitado e que corresponde às circunstâncias
excecionais e atípicas que as motivaram. Tipo de normas a
Normas excecionais propósito da analogia, quando referimos que as normas excecionais
não comportam aplicação analógica, mas admitem interpretação
extensiva.
As suas características excecionais impedem o recurso a este tipo de
normas que integram lacunas da lei que, por natureza, se destinam
a uma aplicação em condições de normalidade padrão.

4. Normas sancionatórias
Caracterizam-se pela aplicação de sanções de natureza diferente. É possível distinguir 5 espécies
de normas sancionatórias.

• Normas compulsórias:
o Destinam-se a impelir, a obrigar, a agir, a adotar um certo comportamento por
via forçada compulsiva ou compulsória.
o A sanção pecuniária compulsória e o direito de retenção permitem
compreender a existência de mecanismos destinados a forçar o cumprimento
da prestação devida, assentes em normas que sancionam determinadas
condutas e que estabelecem as vias adequadas à obtenção do crédito, ou mais
amplamente ainda, à eficácia do direito.
• Normas Reconstitutivas:
o Destinam-se a reconstruir uma determinada situação e que se posicionam num
momento anterior à ocorrência de determinados eventos.
o Aplicam-se as normas deste tipo como sanção adequada à reparação de um
determinado prejuízo.
o Procura-se reconstituir a situação natural, a situação que existia antes da
violação de determinado direito que motiva uma alternativa à obrigação de
indemnizar.
o Princípio da regra aplicável – é a reconstituição natural como sanção a aplicar.
A indemnização em dinheiro só intervém como último ratio. Assim, só é fixada
em dinheiro em 3 situações:
§ Se a reconstituição natural não for possível;
§ Se a reconstituição natural não reparar integralmente os danos;
§ Se a reconstituição natural for excessivamente onerosa para o devedor;
• Normas de natureza indemnizatória:
o Integram o dinheiro indemnizatório, que assenta na obrigação de indemnizar.
Reportam-se a normas jurídicas que só podem ser acionadas no caso de não ser
viável a aplicação das sanções reconstitutivas.
o Os pressupostos ou elementos suscetíveis de originar a obrigação de indemnizar
são:
§ Um ato ilícito e culposo;
§ Um dano ou um prejuízo;
§ Um nexo de causalidade entre o facto e o dano;
o Além do facto danoso e do dano propriamente dito ainda deve existir uma
articulação assente num princípio de razoabilidade, que conduza à identificação
de uma causa adequada entre o facto e o dano. O facto há-de ter aptidão para
provocar determinado dano. O dano há-de ser o resultado de determinado
facto em concreto. Relação de causalidade apenas chamada causa adequada à
produção do resultado e, por isso, toma o nome de relação de causalidade
adequada.
o Tem vários tipos de responsabilidade civil:
A responsabilidade civil por Abrange uma indemnização assente num facto ilícito e
factos ilícitos (ou culposo (ex: 483 CC).
Quanto ao
responsabilidade subjetiva)
facto
A responsabilidade civil Abrange factos de verificação independente da culpa
pelo risco (ou (ex: 502 CC).
responsabilidade objetiva
Quanto ao Abrange todo o tipo de prejuízo de natureza
dano A responsabilidade civil por patrimonial, ou seja, suscetível de quantificação
danos patrimoniais pecuniária e, por via de regra, apoiado em documentos
de suporte, muitas vezes de natureza meramente
contabilística (ex: 483 CC).
São suscetíveis de reparação, concretizada no valor
patrimonial do dano.
Abrange aquele tipo de prejuízo que, por natureza, é
insuscetível de quantificação pecuniária – não existem
documentos de suporte e o prejuízo corresponde a um
A responsabilidade civil por
valor imaterial cuja determinação oferece alguma
danos não patrimoniais (ou
relativa dificuldade.
morais)
São suscetíveis de compensação, ou seja, estes danos
são mais difíceis de indemnizar por ia de uma
compensação, traduzida numa aproximação simbólica
ao valor imaterial do dano.
Quanto à A responsabilidade civil a A lei refere-se a esta matéria no âmbito do cálculo da
título de danos emergentes indemnização ao mencionar que o dever se indemnizar
extensão da
lesão compreende não só o prejuízo causado – os danos
A responsabilidade civil a emergentes – como os benefícios que o lesado deixou
título de lucros cessantes
de obter em consequência da lesão – os lucros
cessantes (ex: 564 CC)
Quanto aos Responsabilidade civil Reporta-se a uma única pessoa. Só um sujeito –
sujeitos individual devedor – se encontra perante um dever de
indemnizar.
Pressupõe que várias pessoas respondam pela
Responsabilidade civil obrigação de indemnização.
solidária A solidariedade tem como consequência o direito de o
credor exigir de qualquer dos devedores toda a
prestação ou parte dela, proporcional ou não à quota
do interpelado. Mas, se exigir judicialmente a um deles
a totalidade ou parte da prestação, fica inibido de
proceder judicialmente contra os outros pelo que ao
primeiro tenha exigido.
A obrigação é solidária quando cada um dos devedores
responde pela prestação integral e esta a todos libera,
ou quando cada um dos credores tem a faculdade de
exigir, por si só, a prestação integral e esta libera o
devedor para com todos eles (ex: 512 CC).
Para que a obrigação de indemnizar seja solidária, além
de existirem vários devedores, tem a mesma de
resultar ou da lei ou da vontade expressa das partes
neste sentido (ex: 513 CC).

• Normas preventivas:
o Registo de normas sancionatórias assenta em normas jurídicas que
consubstanciam verdadeiras normas sancionatórias.
o São sanções destinadas a evitar violações do direito, que revestem natureza
preventiva.
o Este tipo de normas, apesar de pressuporem a existência de um incumprimento
ou de uma violação do direito, pretendem reagir face a esse incumprimento
limitando a possibilidade de ocorrência de situações futuras equivalentes.
• Normas punitivas:
o Prevê a realização de uma punição pela ocorrência de um comportamento
proibido e, com este sentido, ofensivo do direito.
o Como consequência de um comportamento ilegal, traduzido numa ação ou
numa omissão violadora do direito, o sistema normativo dispara as armas que
possui no seu arsenal de instrumentação jurídica.
o Existem normas sancionatórias de natureza punitiva inseridas noutros
domínios. São várias as situações que a lei contempla neste domínio, podendo
referir-se a 3:
§ Remoção do tutor:
• Permite ao tribunal remover a tutela se houver incumprimento
dos deveres próprios do cargo ou inaptidão para o seu exercício
e ainda por facto superveniente à investidura no cargo que
implique alguma das situações que impediriam a sua
nomeação.
§ Incapacidade sucessória (ou incapacidade por indignidade ou por
motivo de indignidade sucessória):
• Permite ao tribunal afastar os hereros, ou seja, as pessoas com
capacidade sucessória no interior das classes sucessíveis, caso
se verifique um dos motivos graves que podem justificar o seu
afastamento como:
o Condenação por um homicídio doloso, ainda que não
consumado, ou por crime de denuncia caluniosa ou
falso testemunho praticados contra o autor da
sucessão ou contra o cônjuge, descendente,
ascendente adotante ou adotado.
o Indução do autor da sucessão a fazer, revogar,
modificar ou a impedi-lo de realizar o testamento;
o Subtração, ocultação, inutilização, falsificação ou
supressão do testamento, antes ou depois da morte do
autor da sucessão, ou o aproveitamento de algum
desses factos.
§ Remoção do cabeça-de-casal (ou cargo de cabeça-de-casal):
• Permite ao tribunal remover o cabeça-de-casal, que é aquele a
quem incumbe a administração da herança até à sua liquidação
e partilha, sem prejuízo das demais sanções que no caso
couberem se forem praticados atos que revelem
incumprimento dos deveres próprios do cargo ou inaptidão
para o seu exercício como:
o Ocultação dolosa da inexistência de bens pertencentes
à herança ou de doações feitas pelo falecido, bem
como a denuncia dolosa de doações ou encargos
inexistentes;
o Não administração do património hereditário com
prudência e zelo;
o Não incompetência para o exercício do cargo;

Parte III – A Relação Jurídica


CAPÍTULO 1º - ENQUADRAMENTO, NOÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA

1) A origem do conceito
Historicamente, o ordenamento jurídico baseava-se no enquadramento dos sujeitos titulares
de direitos e obrigações face à legislação vigente no direito romano. No século XIX surgiu na
Alemanha a Escola das Pandectas que se apoiava na interpretação da norma jurídica buscando
a finalidade almejada pelo legislador no momento da tipificação e regulamentação do facto
social. Foi por meio desta filosofia que surgiu o conceito de relação jurídica.

O Código Civil Alemão serviu de inspiração à elaboração atual do Código Civil Português.
A partir daí, o Direito passou a ser observado sob o prisma da relação jurídica como meio de
formação de direitos e deveres entre sujeitos.
O nosso Código Civil está estruturado em 5 livros:

• Livro I – Parte Geral;


• Livro II – Direito das Obrigações;
• Livro III – Direito das Coisas;
• Livro IV – Direito da Família;
• Livro V – Direito das Sucessões – subdivide-se:
o As pessoas;
o As coisas;
o Os factos jurídicos;
o O exercício da tutela dos direitos;

2) Noção, estrutura e classificação

a. Noção
Para a compreensão do conceito “relação jurídica” é necessário olhar para 3 teorias explicativas
do fenómeno:

Entende ser a relação jurídica o vínculo entre 2 ou mais sujeitos


Teoria Personalista estabelecido perante um objeto: “relação jurídica é aquela através da
qual juridicamente se vinculam duas pessoas, tendo por objeto um
interesse”.
Realça a existência de uma relação social, que vincula pelo menos 2
pessoas, que tem por objeto um interesse específico e que é tipificada
por uma norma jurídica.
A relação jurídica consiste na necessidade de determinado
Teoria Normativista comportamento a partir da existência de um facto que produza
efeitos jurídicos, indispensável à concretização de cada relação –
relação do sujeito com a norma jurídica.
Destaca a relação do sujeito com a norma jurídica.
Pauta-se na indeterminação do sujeito passivo. A relação jurídica não
envolve somente sujeitos. Tem um caráter genérico que possa
abarcar o liame jurídico entre:
Teoria Objetivista • Pessoas;
• Pessoas e coisas;
• Pessoas e lugares:
Coloca o acento tónico na ligação pautada pelo Direito entre pessoas,
entre pessoas e coisas e entre pessoas e lugares.

A relação jurídica decorre da lei e estabelece direitos e obrigações para aqueles que intervêm
nessa relação. Para que exista a relação jurídica carece de 2 requisitos:

• Uma relação intersubjetiva – um vínculo entre 2 ou mais pessoas;


• Esse vínculo tem de corresponder a uma “hipótese normativa”, de tal maneira que
derivem consequências obrigatórias no plano da experiencia.
Essa hipótese normativa traduz o facto jurídico, ou seja, o acontecimento concretizador da
norma abstrata que forma a relação intersubjetiva.

Ideias-Chave
Relação Relação da vida social em que são intervenientes 2 ou mais pessoas
Intersubjetiva e que formam as partes intervenientes – ou uma parte de cada lado
corresponde a um único sujeito ou vários sujeitos integram a mesma
parte (ex: comprador-vendedor).
Vínculo Vínculo que une as pessoas que intervêm na relação jurídica em
Específico torno de um determinado interesse e que as coloca em campos
opostos – a uma parte há-de corresponder a um direito subjetivo que
terá como contrapartida a correlativa obrigação jurídica relativa à
outra parte.
Facto jurídico Facto social que adquire significado jurídico, cujos efeitos
encontram hipoteticamente previstos e são veiculados pela lei –
implica a inclusão da relação na norma jurídica abstrata e a
caracterização tanto do direito subjetivo como da obrigação jurídica
como fenómeno abrangidos e regulados pelo Direito.

Assim, relação jurídica é “toda a relação da vida social regulada pelo Direito e que consiste
na atribuição a um sujeito de um direito subjetivo e na adstrição de outro sujeito a uma
vinculação jurídica”.
b. Estrutura
Tem 3 componentes:

• Sujeitos da relação jurídica - Relação entre homens e mulheres onde cada qual possui
uma situação jurídica própria, consistente na posição que ocupa na relação jurídica
como titular de direitos e deveres.
Situação jurídica ativa Posição de agente portador do direito subjetivo. É o credor da prestação ou
da obrigação principal. É o beneficiário principal da relação, o titular do
direito subjetivo.
Sujeito ativo jurídica Posição do possuidor de um dever jurídico. É o titular do dever jurídico, é
passiva aquele sobre quem recai a obrigação de cumprimento. É o devedor da
prestação principal.

• Objeto da relação jurídica – é a força motriz da relação. A relação jurídica gira em torno
do seu objeto, podendo reportar-se às coisas e às prestações sobre as quais recai.

• Vínculo de atributividade – ligação reconhecida juridicamente entre os sujeitos.


Assenta o interesse e a vontade dos sujeitos.

c. Classificação
A relação jurídica pode ser:

• Simples, complexa ou plúrima;


Relação Jurídica Único direito subjetivo correspondente a uma única obrigação jurídica.
Simples Traduz a existência de uma única parte, integrada por um único sujeito,
de cada lado da relação.
Implica mais do que um direito subjetivo correspondente a diferentes
Relação Jurídica obrigações jurídicas que recaem sobre diferentes sujeitos. Traduz a
Complexa existência de mais do que uma parte, podendo cada uma ser integrada
por um ou por vários sujeitos, de cada lado da relação.
Veicula mais do que um direito subjetivo, oriundos de um único titular,
Relação Jurídica correspondente a mais do que um dever jurídico – relações jurídicas
Plúrima com diversos titulares ativos ou passivos que, pela sua própria
natureza, não comportam cisão.
Traduz a existência de mais do que uma parte, podendo cada uma ser
integrada por um ou por vários sujeitos, de cada lado da relação.

• Pública ou privada;
Utilizamos o critério dos sujeitos ou o interesse preponderante relevante para distinguir a
relação jurídica pública da privada.

Relação Jurídica Pública Relação Jurídica Privada


Apenas intervém entes públicos ou que se É aquela que se estabelece entre sujeitos de
estabelece entre entes públicos e privados, direito privado ou entre entes e o Estado ou
mas que depende da realização de um outros entes públicos, se todos estiverem
interesse público que permite a todos ou colocados num plano idêntico, no qual
apenas a um dos sujeitos, o Estado, o adquirem uma posição de igualdade face ais
exercício de especiais prerrogativas públicas, interesses em jogo.
conferindo-lhes uma posição de supremacia.
• Absoluta ou relativa;
Relação Jurídica Absoluta Relação Jurídica Relativa
Refere-se a direitos jurídicos absolutos, de Inclui direitos a que correspondem deveres
imposição universal, que tanto recaem sobre jurídicos cuja eficácia é circunscrita apenas a
o imediato interveniente colocado no lado determinadas pessoas, designadamente
passivo da relação, o devedor, bem como aquelas que têm intervenção na relação.
sobre todos aqueles, terceiros à relação, que
estão vinculados a uma obrigação jurídica
traduzida num dever geral de respeito.

c. Caracterização dos seus elementos


A relação jurídica apresenta uma estrutura que pode ser caracterizada por referência
individualizada a cada um dos seus elementos. Corresponde à sistematização legislativa contida
na nossa lei civil e distingue no Título II do Livro I:

• As pessoas;
• As coisas;
• Os factos jurídicos;
• O exercício e tutela dos direitos;
Cada um destes elementos permite caracterizar a relação jurídica por identificação de cada um
dos seus quatro componentes:

• Os sujeitos:
o São os intervenientes sobre os quais se estabelecem os vínculos de
atributividade e que tanto podem ser pessoais singulares ou físicas ou
indivíduos como pessoas coletivas, jurídicas ou morais.
• O objeto:
o Permite estabelecer uma distinção entre o objeto imediato e o objeto mediato
§ Objeto mediato – refere-se ao conteúdo da própria relação jurídica,
que se caracteriza pelo conjunto de direitos subjetivos e de adstrições
jurídicas (obrigações, deveres, vinculações, ónus ou encargos);
§ Objeto imediato – compreende as realidades sobre que recaem esses
mesmos direitos e adstrições (as coisas que constituem a sua parte mais
significativa e as prestações);
• O facto jurídico:
o Repousa nos acontecimentos da vida do Homem em sociedade convertendo-se
em factos jurídicos.
• A garantia:
o Caracteriza a relação jurídica no plano do exercício e tutela dos direitos.
o Aponta para a importância do sistema de heterotutela, da tutela pública ou
tutela judicial propriamente dita, por contraposição ao sistema da aututela, da
tutela privada ou da “vindicta privativa” do Direito.
o Contempla exceções no que diz respeito à tutela do direito, que o próprio
ordenamento jurídico ressalva e tipifica através da lei:
§ Legítima defesa;
§ Ação direta;
§ Estado de necessidade;
Nestes casos permite-se o recurso à própria força desde que não seja possível, em tempo útil,
recorrer aos meios coercitivos normais, os tribunais e as autoridades judiciárias, e contanto
que os meios empregues não sejam desproporcionados ou excessivos face aos fins em vista
permitidos pelo legislador.

Parte III – A Relação Jurídica


CAPÍTULO 2º - OS ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA

1) Os sujeitos da relação jurídica


Os sujeitos da relação jurídica incluem duas categorias:
• As pessoas singulares;
• As pessoas coletivas;

a. As pessoas singulares

a. Personalidade Jurídica
As pessoas singulares, pessoas físicas ou individuais são os principais sujeitos da relação
jurídica e correspondem à própria essência e dignidade do Homem. Toda a pessoa, após o
nascimento completo com vida, adquire personalidade jurídica (art.66 CC), a qual apenas cessa
com a morte (art. 68 CC).
A personalidade jurídica é uma qualidade atribuída pelo Direito que consiste na suscetibilidade
de ser titular de direitos e de estar adstrito a vinculações. Esta acarreta um conjunto de direitos
que são uma sua consequência – direitos de personalidade que correspondem à Iª geração de
direitos fundamentais, que se encontram disseminados na lei, e que compreende:

• Direitos;
• Liberdades;
• Garantias pessoas;
Os direitos de personalidade são direitos:

• Absolutos – lhes cabe uma proteção erga omnes, pois todos impõem um dever geral de
respeito;
• Imateriais – por natureza, não tendo qualquer relevo físico. Não têm valor patrimonial
e são passíveis de quantificação pecuniária;
• Indisponíveis – o seu titular não pode de eles dispor livremente e não podem ser
cedidos por qualquer forma;
• Intransmissíveis – o seu titular não pode de eles dispor em vida ou após a sua morte,
uma vez que, entretanto, se extinguem;
• Irrenunciáveis – não permitem ao seu titular rejeitar as suas responsabilidades ou
abdicar de qualquer dos direitos que lhe estão conferidos;
Está consagrada na lei uma tutela geral da personalidade que é substanciada em 4 vias
principais:

• É conferida proteção normativa aos indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça
de ofensa à sua personalidade física ou moral;
• Mesmo depois de cessar a personalidade por força da morte, os direitos de
personalidade continuam a merecer proteção jurídica adequada;
• Não pode haver limitação voluntária dos direitos de personalidade, sendo a mesma
revogável, e, se for contrária aos princípios da ordem pública, é nula;
• Existe responsabilidade civil geradora da obrigação de indemnizar pelos prejuízos
causados devido a ofensas ou violações destes direitos, em termos gerais e em termos
especiais;

b. Capacidade jurídica
Do conceito de personalidade jurídica deriva um aspeto quantitativo e que se prende com a
maior ou menor capacidade de exercício dos direitos de que se é titular: a capacidade jurídica.
As pessoas só podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposições em
contrário, se tiverem capacidade jurídica.
Esta noção é específica das pessoas singulares e é uma capacidade jurídica genérica, já que
abrange todos os direitos e vinculações reativos a quaisquer relações jurídicas, para usar a
expressão legal própria.
Assim, a capacidade jurídica permite separar a sua análise em 3 categorias diferentes:

Capacidade jurídica É típica das pessoas singulares. Abrange todos os direitos e


genérica obrigações que cabem no âmbito de qualquer relação jurídica.
É característica das pessoas coletivas. Abrange apenas os direitos e as
obrigações que especificamente se referem a determinado escopo ou
Capacidade jurídica finalidade social.
específica ou No caso das pessoas coletivas, a sua capacidade jurídica é específica,
especial na medida em que abrange apenas os direitos e obrigações
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins,
determinados em função do contrato de sociedade e dos respeitos
estatutos sociais. Fala-se então de um princípio da especialidade, pelo
qual se norteiam as pessoas coletivas e pautam a sua atividade.
Capacidade jurídica Determina os direitos e as obrigações que abrangem situações muito
particular restritas e que se dirigem à prática de um conjunto muito fechado e
peculiar de atos no âmbito de relações jurídicas muito concretas (ex:
capacidade para perfilhar).

A capacidade jurídica pode classificar-se em:

Capacidade Jurídica de Exercício Capacidade Jurídica de Gozo


Corresponde à atuação jurídica desses Corresponde à titularidade de direitos e à
direitos e à efetivação dessas obrigações – adstrição a vinculações jurídicas – consiste na
consiste na medida dos direitos e das medida dos direitos e das vinculações que
vinculações que uma pessoa pode exercer e uma pessoa pode ser titular e a que pode
cumprir por si mesmo (pessoal e livremente). estar adstrita.
Faz determinar, na ausência, a incapacidade,
pois pressupõem a inaptidão para o exercício
de direitos e para a efetivação dos
correspondentes vínculos jurídicos, pelo
menos, de forma livre e pessoal. Esta matéria
é privativa porque faz parte da natureza das
pessoas singulares, não adquirindo qualquer
relevo no domínio das pessoas coletivas.
b. A incapacidade
O Direito permite suprir a ausência de capacidade de exercício ou ultrapassar a incapacidade
de exercício através:

• De formas de suprimento:
o São as vias de atuação estabelecidas pelo Direito com vista ao efetivo exercício
dos direitos e cumprimento das vinculações do incapaz.
o Admite formas diferentes quanto ao grau de variação da incapacidade que
implicam:
§ A assistência – nos casos de menor gravidade. É a forma de suprimento
dos inabilitados. Ex: como o incapaz pode agir pessoalmente, mas não o pode
fazer de forma livre, que permite ao incapaz agir pessoalmente, ainda que
tenha de se fazer acompanhar por outrem que lhe presta colaboração para o
ato.
§ A representação – nos casos de maior gravidade. É a forma de
suprimento da incapacidade dos menores e dos interditos. Ex: como o
incapaz agir através de outrem, já que não o pode fazer por si próprio e os atos
praticados pelo representante em nome e por conta do incapaz refletem-se na
esfera jurídica deste, enquanto representado.
• De meios de suprimento:
o São situações criadas pelo Direito que permitem solucionar os problemas
técnico-jurídicos resultantes da incapacidade de exercício que variam
consoante a incapacidade que pretendem suprir (ex: caso do poder paternal; caso
das responsabilidades parentais; caso da tutela).
o Os meios de suprimento da incapacidade são:
§ No caso dos menores – o poder parental, a tutela e a administração
de bens;
§ No caso dos interditos – a tutela;
§ No caso dos inabilitados – a curadoria;
As incapacidades resultam de um regime próprio que a lei prevê e podem ser de 3 tipos
diferentes:

• Incapacidade que resulta da idade, neste caso da menor idade.


• A partir da maioridade se atinge o grau necessário e suficiente de
conhecimento e de experiência de vida, para além do equilíbrio
psicológico, que implicam que, a partir daí, se possa reger
Incapacidade convenientemente a própria pessoa e o seu património, tomando as
por menoridade decisões aptas à convivência em sociedade.
• Esta incapacidade é privativa dos menores e é temporária, sabendo-
se que, em princípio, dura até se atingir a idade estabelecida
culminante então, com a aquisição plena da capacidade jurídica de
gozo e de exercício.
• É provocado por razões de saúde ou por situações da vida relacionadas
com certos tipos de deficiências físicas ou psíquicas.
• Tem como consequência a impossibilidade de o incapaz governar a sua
Interdição pessoa e os seus bens, ao passo que a inabilitação se prende com a
impossibilidade de o incapaz reger convenientemente o seu
património.
• Há-de implicar um regime mais gravoso para o incapaz.
• Tem uma natureza temporária e pode em qualquer altura originar
uma modificação da situação que as determinou, em função da
apreciação de novas evoluções na saúde ou na vida daqueles que
tenham sido declarados incapazes.
• Dirige-se apenas aos adultos ou menores a caminho de atingir a
maioridade para evitar a aquisição da capacidade jurídica.
• É provocado por razões de saúde ou por situações da vida relacionadas
com certos tipos de deficiências físicas ou psíquicas. Neste caso, pode
ter ainda na sua origem maus hábitos de consumo que geram
dependência psíquica.
Inabilitação • É um regime menos gravoso para o incapaz.
• Tem uma natureza temporária e pode em qualquer altura originar
uma modificação da situação que as determinou, em função da
apreciação de novas evoluções na saúde ou na vida daqueles que
tenham sido declarados incapazes.
• Dirige-se apenas aos adultos ou menores a caminho de atingir a
maioridade para evitar a aquisição da capacidade jurídica.

a. A incapacidade por menoridade


A incapacidade por menoridade prende-se com a idade. É incapaz em razão da idade ou por
menoridade quem tiver menos de 18 anos e isso implica a carência de capacidade para o
exercício de direitos. Só a aquisição da idade de 18 anos – maioridade – permite adquirir a plena
capacidade de exercício de direitos e adstrição a vinculações jurídicas, pois, só a partir dessa
altura é que o menor fica habilitado a reger a própria pessoa e a poder dispor dos seus bens.

Há uma única exceção que permite ao menor entre 16 e 18 anos a equiparação de pleno direito
à maioridade por via do casamento – emancipação.
A emancipação atribui ao menor a plena capacidade de exercício de direitos, habilitando-o a
reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior. A emancipação só
pode ter lugar por via do casamento, que é a única causa que a pode originar. O que quer dizer
que implicar a autorização dos pais, se exercerem o poder paternal, ou do tutor, podendo em
casos excecionais essa falta de autorização ser suprida pelo conservador do registo civil.
A falta de autorização dos pais ou do tutor para o casamento do menor constitui um
impedimento impediente à celebração do casamento e tem um regime sancionatório próprio.
Este regime relativamente benévolo só se aplica se o menor tiver mais de 16 aos (entre 16 e 18
anos). Se tiver uma idade inferior a 16 anos constitui um impedimento dirimente, que obsta ao
casamento da pessoa a quem respeita e implica a respetiva anulação.
Também existem exceções previstas na lei com caráter taxativo que são aquelas e não outras
que permitem ao menor praticar certos atos que se considera estarem ao seu alcance, como:
• Atos de administração ou disposição de bens que o maior de 16 anos haja adquirido por
seu trabalho;
• Negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que só impliquem despesas ou
disposições de bens, de pequena importância.
• Negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer.
Todos os demais atos que não estejam legalmente excecionados e sejam praticados pelo menor
são suscetíveis de anulação, tendo para isso legitimidade as pessoas que a lei menciona, sendo
elas:
• O progenitor que exerça o poder parental, o tutor ou o administrador de bens, até 1 ano
depois de o negócio ter sido praticado, contado a partir da data do seu conhecimento,
mas nunca depois de o menor atingir a maioridade ou a emancipação;
• Próprio menor, até 1 ano depois de atingir a maioridade ou a emancipação (contando
que o menor não usou de dolo – ou seja, não tenha agido intencionalmente com o
objetivo de enganar aquele com quem negociou fazendo-se passar por maior ou
emancipado);
• Qualquer herdeiro do menor, até 1 ano após a sua morte;

A incapacidade dos menores exige uma forma de suprimento específica, sendo esta a
representação, uma vez que pode agir de forma livre, mas não o pode fazer pessoalmente, pois
necessita de se fazer apresentar, agindo o representante em seu nome e por conta dos seus
interesses. Os meios de atuação do representante se repercutem na esfera jurídica do menor.
Os meios de suprimento adequado a ultrapassar a incapacidade de exercício são:
• O poder parental;
• A tutela;
• A administração de bens;
O termo da incapacidade dos menores, que se atinge com a maioridade ou a emancipação faz
naturalmente cessar qualquer dos meios de suprimento existentes, uma vez que o menor fica
nessa altura apto para o exercício de todos os direitos e adstrição a todos os vínculos
decorrentes de qualquer relação jurídica.

Meios de Suprimento
Determina as responsabilidades parentais a que os filhos estão sujeitos até
à maioridade ou emancipação. O seu conteúdo implica:
• Em relação aos pais – a obrigação de velar pela segurança e saúde dos
Poder filhos, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los e
Paternal administrar os seus bens, o que é sempre e unicamente determinado
pelo próprio interesse dos filhos;
• Em relação aos filhos – o dever de obediência aos pais, os quais podem
ter em conta a opinião dos filhos. Reconhecer-lhes autonomia na
organização da sua vida.
O poder de presentação dos pais compreende o exercício de todos os
direitos e o cumprimento de todas as obrigações dos filhos, excetuando os
atos puramente pessoais, aqueles que o menor tem direito de praticar
pessoal e livremente e os atos respeitantes a bens cuja administração não
pertença aos pais.
A irrenunciabilidade das responsabilidades parentais implica que os pais
não possam renunciar a este tipo de responsabilidades nem a qualquer dos
direitos que a lei especialmente lhes confere.
As responsabilidades parentais que incumbem aos pais decorrem de um
vínculo natural que se prende com o nascimento dos filhos e com a filiação
que, no caso da mãe, resulta do próprio facto do nascimento e, no caso do
pai, se presume, sendo o pai marido da mãe, ou então é estabelecida pelo
reconhecimento, nos casos de filiação fora do casamento, que tanto pode
ser originada por um ato de perfilhação ou de uma decisão judicial, como
no âmbito de uma ação de investigação da paternidade.
Todavia, existem meios de suprimento do poder paternal, ficando os pais
naturais impedidos de representarem os filhos menores:
• A tutela;
• A administração e bens;
Tutela Tem obrigatoriamente lugar em relação ao menor em 4 situações
particulares:
• Se os pais houveram falecido;
• Se os pais estiverem inibidos do poder parental quanto à regência da
pessoa do filho;
• Se os pais estiverem há ais de 6 meses impedidos de facto de exercer
o poder parental;
• Se os pais forem incógnitos;
Em qualquer uma destas situações deve o tribunal de menores promover
oficiosamente a instauração da tutela.
Os órgãos da tutela, a quem cabe o seu exercício, são um tutor e um
conselho de família, sendo esses cargos confirmados pelo tribunal de
menores, que também acompanha a sua atividade sob adequada vigilância.
O cargo de tutor deverá recair sobre a pessoa designada pelos próprios
pais ou pelo tribunal de menores.
O tutor tem os mesmos direitos e obrigações dos pais, devendo exercer a
tutela com a diligência de um bom pai de família, que é um conceito de
Direito Civil padrão utilizado como ponto de referência da conduta exigível.
Em casos em que não existem pessoas em condições de exercer tutela, o
menor é confiado à assistência pública, sendo o diretor do estabelecimento
público ou particular a exercer as funções de tutor.
Administração É obrigatoriamente instituído em 2 situações:
dos bens • Quando os pais tenham sido apenas excluídos, inibidos ou
suspensos da administração de todos os bens do incapaz ou de
alguns desses, se por outro título se não encontrar designado o
administrador.
• Quando a entidade competente para designar o tutor confie a
outrem, no todo ou em parte, a administração dos bens do menor.
O administrador é o representante legal do menor nos atos relativos aos
bens cuja administração lhe pertença e, no âmbito da sua administração,
tem os mesmos direitos e deveres do tutor. Este deve exercer a
administração também com a mesma diligência de um bom pai de família.
Formas de remoção e exoneração do tutor ou do administrador de bens
• Pela maioridade;
• Pela emancipação;
• Pela adoção;
• Pelo termo da inibição do poder paternal;
• Pelo estabelecimento da maternidade ou paternidade;
• Pelo apadrinhamento civil;

Interdição Inabilitação
Trata-se da incapacidade de que É outro tipo de incapacidade que
impede o exercício dos direitos veda o exercício dos direitos do
de todos aqueles que por individuo que pode ter na sua
anomalia psíquica, surdez-mudez origem uma anomalia psíquica,
ou cegueira se mostrem surdez-mudez ou cegueira,
O que é? incapazes de governar suas embora de caráter permanente,
pessoas e bens que não seja de tal modo grave
que justifique a sua interdição,
assim como aqueles que, pela sua
habitual prodigalidade ou pelo
abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes se mostrem
incapazes de reger
venientemente o seu património.
A inabilitação repousa no
conjunto de normas que se
dirigem à interdição, ressalvadas
algumas matérias de maior
especificidade. Por essa razão a lei
remete a título supletivo para o
regime da interdição, em relação
a tudo o que não esteja
especialmente regulado na lei.
Podem ser originadas a partir: origem baseada em razões de
• De razões de saúde que saúde como em maus hábitos de
Origem das Causas impedem, em absoluto, o vida que impedem, em absoluto,
sujeito incapaz de se o sujeito incapaz de governar
governar a título pessoal e de adequadamente os seus bens.
administrar os seus bens.
A maiores e no momento É aplicável a maiores, embora
anterior à aquisição da também possa ser instaurada no
maioridade, para impedir a momento anterior à aquisição da
obtenção da capacidade de maioridade para impedir a
exercício por parte de um menor obtenção da capacidade de
que se encontre nestas exercício por parte de um menor
A quem se aplica? condições, mantendo-se o poder que se encontre nessas
paterna ou qualquer outro dos condições. O inabilitado é
meios de suprimento do poder igualmente equiparado ao menor
paternal, quando o seu exercício e é-lhe aplicável o correspondente
não seja possível. regime no que diz respeito:
O interdito é equiparado ao • À sua incapacidade;
menor e é-lhe aplicável o • Ao suprimento da
incapacidade;
correspondente regime no que • Às exceções à
diz respeito: incapacidade, matéria já
• À sua incapacidade; abordada em momento
• Ao suprimento da anterior e para a qual se
incapacidade; remete;
• Às exceções à incapacidade;
É uma medida bastante grave, A inabilitação reveste menor
pois inibe uma pessoa (até gravidade face à interdição. É
adulta) de praticar os atos apresentada a seguir àquele tipo
correspondentes aos seus de incapacidade, quer por a
direitos e obrigações. Perde o própria lei o dizer – os fatores que
estatuto próprio de um adulto a determinam não devem ser de
tal modo graves que justifiquem a
interdição.
A inabilitação é uma medida de
relativa gravidade. Inibe uma
pessoa (até adulta) de praticar os
Gravidade atos correspondentes aos seus
direitos e obrigações, mas
reveste causas que têm menos
importância do ponto de vista
das suas consequências. A
própria lei diz que se aplica a
inabilitação se as suas causas não
forem de tal modo graves que
justifiquem a interdição.
A inabilitação apenas atinge a
incapacidade de o indivíduo gerar
convenientemente o seu
património.

Decretada por um tribunal Decretada por um tribunal judicial


judicial, pertencendo a e pela competência material para
competência material aos o fazer cabe aos tribunais comuns,
tribunais comuns, através de um através do processo próprio – a
processo próprio – a ação de ação de inabilitação. Até este
Quem a decreta? interdição. Até este findar, findar, podem ser decretadas
podem ser decretadas medidas medidas provisórias, através de
provisórias, através de uma uma providência cautelar que
providência cautelar que implique implique a nomeação de um
a nomeação de um tutor curador provisório. Pode também
provisório. Pode também ser ser decretada a inabilitação
decretada a interdição provisória provisória se houver necessidade
se houver necessidade urgente de urgente de providenciar quanto à
providenciar quanto à pessoa e pessoa e bens do inabilitado.
bens do interditando.
Uma vez declarada a interdição o Uma vez declarada a inabilitação
incapaz é declarado interdito e a o incapaz é declarado inabilitado
Consequências respetiva sentença de interdição e a respetiva sentença de
definitiva é objeto de publicação inabilitação definitiva é objeto de
para que todos possam ter publicação para que todos
conhecimento das limitações do possam ter conhecimento das
incapaz. limitações do incapaz.
Representatividade O interdito carece de O inabilitado carece de
representação, enquanto forma assistência, enquanto forma de
de suprimento da incapacidade, suprimento da incapacidade, uma
pois pode agir de forma livre, mas vez que pode agir pessoalmente,
não o pode fazer pessoalmente, mas não livremente. Neste caso,
porque necessita de se fazer o incapaz, para agir
representar, agindo o pessoalmente, tem de se fazer
representante em seu nome e por acompanhar por outrem, que lhe
conta dos seus interesses. Logo, presta colaboração para o ato.
os meios de atuação do
representante se repercutem na
esfera jurídica do interdito.
O meio de suprimento adequado O meio de suprimento adequado
a ultrapassar a incapacidade de a ultrapassar a incapacidade de
Meios de exercício do interdito é a tutela. exercício é a curadoria.
suprimento Quando este não é possível cabe
ao tribunal designar tutor, ouvido
o conselho de família.

Meios de Suprimento
Da Interdição Inabilitação
Tutela Curadoria
O tutor deve especialmente cuidar da saúde Os inabilitados são assistidos por um curador,
do interdito, podendo para esse efeito as cujas autorizações estão sujeitos os atos de
alienar bens deste, necessários à obtenção da disposição de bens entre vivos e todos os
receita destinada a suportar encargos, depois que, em atenção às circunstancia de cada
da devida autorização que deve ser dada pelo caso, forem especificados na sentença
tribunal. definitiva de inabilitação, podendo a
A relação tutelar entre tutor e tutelado cessa autorização do curador ser judicialmente
com o termo da interdição que, apesar de suprida.
assentar numa sentença que determina a A figura do curador é mencionada na lei em
interdição definitiva, não tem diferentes conteúdos:
necessariamente efeitos perpétuos no • Curador;
tempo. • Curador provisório;
• Curador definitivo;
A relação cautelar entre curador e curatelado
cessa com o termo da inabilitação que,
apesar de assentar numa sentença que
determina a inabilitação definitiva, não tem
necessariamente efeitos perpétuos no
tempo.
2) Pessoas coletivas
As pessoas coletivas, pessoas morais ou pessoas jurídicas são uma ficção do Direito resultando
de uma técnica de personificação jurídica que permite a criação de entes coletivos constituídos
por várias pessoas singulares, para assumirem funções sociais e atingirem determinados
objetivos e finalidades melhor alcançados através de grupos de indivíduos.
A pessoa coletiva distingue-se da soma dos seus membros, uma vez que tem uma
individualidade jurídica própria. É usual distinguir-se face à pessoa coletiva:
• Personalidade jurídica;
• Capacidade jurídica;
As pessoas coletivas encontram o seu campo de regulamentação inicial na lei civil que começa
por estabelecer disposições geral aplicáveis a diferentes tipos de pessoas coletivas:
• Associações que não tenham por fim o lucro económico dos seus associados;
• As fundações de interesse geral;
• As sociedades;
Na sua estrutura enquadra-se separadamente:

• As associações;
• As fundações;
• As associações sem personalidade jurídica;
• Comissões especiais;

a. Personalidade jurídica
A personalidade jurídica das pessoas coletivas varia consoante a sua espécie. Trata-se de uma
técnica de personificação que lhes confere existência e verdadeira autonomia jurídica.
Existem regras que levem à sua criação formal e que diferem consoante o tipo de pessoa
coletiva.

Personalidade Jurídica
Associações Fundações
Como Através de uma por escritura Pelo reconhecimento, o qual é
adquirem pública ou por outro meio individual e da competência da
personalidade legalmente admitido, desde que autoridade administrativa.
jurídica? contenham as especificações
É um ato individual e de
obrigatórias. competência da autoridade
administrativa.
São pessoas coletivas que têm por
finalidade o desenvolvimento de
uma determinada atividade de
acordo com o objetivo pretendido
pelo seu instituidor.
São constituídas por escritura O regime legal aplicável à instituição
Forma pública ou por outro meio da fundação e à sua revogação
específica legalmente admitido, devendo implica que estas pessoas coletivas
constatar dessa escritura podem ser instituídas por ato entre
determinados elementos (ex: ato de vivos ou por testamento, valendo
constituição da associação; os como aceitação dos bens a elas
estatutos; as suas alterações). destinados o reconhecimento
Relevam de modo especial 2 respetivo.
elementos nucleares da pessoa O reconhecimento pode ser
coletiva: requerido:
• Ato de constituição – elemento • Pelo instituidor;
central da pessoa coletiva e • Pelos seus herdeiros;
deve especificar os bens ou • Pelos executores
serviços com os associados testamentários;
concorrem para o seu • Pela autoridade competente;
património social, a
denominação, o fim, a sede, a As fundações são edificadas a partir
forma do seu funcionamento e de 2 instrumentos jurídicos, da
a sua duração. responsabilidade pessoal do
• Estatutos – permitem regular instituidor:
matérias como a escolha da • Ato de Instituição – serve para o
sede da pessoa coletiva; a instituidor indicar o fim da
designação dos respetivos fundação e especificar os bens
órgãos; a sua representação, que lhe são destinados;
em juízo e fora dele…; • Estatutos – podem ser lavrados
ou completados por pessoa
diversa do instituidor. Podem ser
modificados a todo o tempo pela
autoridade competente para o
reconhecimento;
Exige-se a publicação do ato de Exige o reconhecimento que é um
constituição da associação, dos ato casuístico e individual, através
estatutos e das suas alterações, do qual a autoridade administrativa
Condição de que contém as especificações competente, pressupondo a
Publicidade obrigatórias e que se encontram autorização prévia e o parecer
vertidos no instrumento público favorável de diversas entidades.
notarial, e é promovida pelo próprio O reconhecimento de uma fundação
notário, a expensas da associação. pressupõe 2 coisas:
A publicação serve para provocar a • O fim da fundação considerado
produção de efeitos jurídicos em de interesse social relevante;
relação a terceiros. • Suficiência de bens afeitos à
fundação face à necessidade de
prossecução da sua finalidade
social;
As associações podem ser criadas As fundações podem ser criadas por
Duração por certo período de tempo ou por certo período de tempo ou por
tempo indeterminado. tempo indeterminado.
As causas extintivas das associações As causas extintivas das instituições
são mais amplas e reguladas na lei: são:
Causas extintivas automáticas: Causas extintivas automáticas:
• Uma deliberação da assembleia • Decurso prazo, se tiverem sido
Causas de geral nesse sentido; constituídas temporariamente;
Extinção • O decurso do prazo, se tiverem • Verificação de qualquer outra
sido constituídas causa extintiva prevista no ato de
temporariamente; instituição;
• A verificação de qualquer outra • Por decisão judicial que declare a
causa extintiva prevista no ato sua insolvência;
de constituição ou nos
estatutos; Causas extintivas por vontade
• O falecimento ou expressa da entidade competente
desaparecimento de todos os para o reconhecimento:
associados; b. Quando o fim se tenha esgotado
• Por decisão judicial que declare ou se haja tornado impossível;
a sua insolvência; c. Quando o fim real não coincida
com o fim expresso no ato de
Causas extintivas por decisão instituição;
judicial: d. Quando o fim seja
• Quando o seu fim tenha sistematicamente prosseguido
esgotado ou se haja tornado por meios ilícitos ou imorais;
impossível; e. Quando a sua existência se torne
• Quando o seu fim real não contrária à ordem pública;
coincida com o fim expresso no
ato de constituição ou nos
estatutos;
• Quando o seu fim seja
sistematicamente prosseguido
por meios ilícitos ou imorais;
• Quando a sua inexistência se
torna contrário à ordem
pública;

b. A capacidade jurídica
A aquisição da personalidade jurídica da pessoa coletiva implica a obtenção de capacidade
jurídica para o exercício dos direitos e para a administração a vinculações jurídicas norteados
pela finalidade subjacente à sua criação e pelo objeto ou escopo social determinado nos seus
atos constitutivos ou institutivos e respetivos estatutos.
A capacidade jurídica sujeita ao princípio da especialidade – abrange apenas os direitos e
obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins.
Estão excluídos da capacidade jurídica das pessoas coletivas:
• Os direitos e obrigações independentes dos seus atos constitutivos;
• Os direitos e obrigações vedados por lei;
• Os direitos e obrigações que sejam, por natureza, inseparáveis da personalidade jurídica
das pessoas singulares;
A questão da incapacidade de exercício, no âmbito da qual se estudam os meios e as formas de
suprimento da incapacidade, é privativa das pessoas singulares, pelo que não se coloca a
relevância do tema às pessoas coletivas.

3) Objeto da relação jurídica


O objeto da relação jurídica constitui a força motriz da relação jurídica. Assim, a relação jurídica
gira em torno do seu objeto.
O objeto da relação jurídica permite estabelecer uma distinção entre:
Refere-se ao conteúdo da própria relação jurídica, que se
Objeto imediato caracteriza pelo conjunto de direitos subjetivos (lado ativo da
relação jurídica) e de adstrições ou vinculações jurídicas (lado
passivo da relação jurídica), que recaem sobre os diversos sujeitos
intervenientes.
Compreende as realidades sobre que recaem esses mesmos
Objeto mediato direitos e adstrições, ou seja, as coisas que constituem a sua parte
mais significativa, a que se juntam as prestações.

a. As coisas
Tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas. Exclui tudo o que
esteja fora do comércio, ou seja, todas as coisas que não podem ser objeto
de direitos privados, o que inclui 2 categorias:
Noção • Os bens dominais (domínio público);
• O que, por natureza, seja insuscetível de apropriação individual;
Coisa é tudo aquilo que, estando no comércio, isto é, integrando direitos
privados e sendo suscetível de apropriação individual, pode ser objeto de
relações jurídicas.
Seguindo uma linha de evolução de importância decrescente:
• Coisas móveis ≠ Coisas imóveis
• Coisas simples ≠ Coisas compostas
Classificação • Coisas fungíveis ≠ Coisas não fungíveis
• Coisas consumíveis ≠ Coisas não consumíveis
• Coisas divisíveis ≠ Coisas indivisíveis
• Coisas principais ≠ Coisas acessórias
• Coisas presentes ≠ Coisas futuras

1. Coisas móveis ≠ Coisas imóveis


Coisas imóveis Coisas móveis
Estão sujeitas a registo público. São coisas Não estão sujeitas a registo público. São
imóveis: coisas móveis todas aquelas que não se
• Os prédios rústicos do solo e as classificam como coisas imóveis:
construções nele existentes que não • Uma parte delimitada do solo e as
tenham autonomia e os prédios urbanos; construções nele existentes com
• As águas; autonomia económica;
• As árvores, os arbustos e os frutos • Qualquer edificação não incorporada no
materiais, enquanto estiverem ligados ao solo, ao menos com caráter duradouro;
solo; • As árvores, os arbustos e os frutos
• As partes integrantes dos prédios naturais, sem qualquer ligação ao solo;
rústicos e urbanos integrante toda a coisa • As partes não integrantes, ou seja, as
móvel ligado materialmente ao prédio coisas móveis não ligadas materialmente
com caráter de permanência; aos prédios ou então ligadas
• Os direitos inerentes aos imóveis materialmente aos prédios sem caráter
mencionados; de permanência;
• Os direitos inerentes a estes bens;
2. Coisas simples ≠ Coisas compostas
Coisas Simples Coisas Compostas
É toda a coisa que está estabelecida e única É a pluralidade de coisas móveis e singulares
pela sua própria natureza e que pode ser que, pertencendo à mesma pessoa, têm um
objeto de relações jurídicas próprias. destino unitário, o que pressupõe que entre
elas exista uma ligação provocado pelo
homem.

3. Coisas fungíveis ≠ Coisas não fungíveis


Coisas fungíveis Coisas não fungíveis (ou infungível)
É a que se determina pelo género, qualidade É um bem móvel que se pode substituir por
e quantidade, quando constitua objeto de outro do mesmo género, qualidade e
relações jurídicas e, por isso, pode ser quantidade.
substituído por outro da mesma espécie,
qualidade e quantidade.

A noção de fungibilidade tem a sua importância porque se estende também às obrigações de


fazer.
Obrigação fungível Obrigação não fungíveis (ou infungível)
É aquela que pode ser prestada por uma É aquela que só pode ser executada pelo
pessoa qualquer que não o devedor. devedor, por força de uma sua qualificação
especial.

4. Coisas consumíveis ≠ Coisas não consumíveis


Nota-se que um mesmo bem tanto pode ser consumível como não consumível, sendo o destino
a dar-lhe que configura a relatividade da distinção.
Coisas consumíveis Coisas não consumíveis (ou inconsumíveis)
É aquela cujo uso regular importa a sua É aquela cujo uso regular não importa a sua
destruição ou alineação, daí que tome destruição ou a sua alienação.
frequentemente o nome de coisa perecível
ou coisa deteriorável.

5. Coisas divisíveis ≠ Coisas não divisíveis


Coisas divisíveis Coisas não divisíveis (ou indivisíveis)
É aquela que pode ser fracionada sem É aquela que não pode ser fracionada sem
alteração da sua substância, diminuição de alteração da sua substância, diminuição de
valor ou prejuízo para o uso a que se destina. valor ou prejuízo para o uso a que se destina.
Uma coisa é divisível:
• Por natureza;
• Por determinação legal;
• Pela vontade das partes;

6. Coisas principais ≠ Coisas acessórias


Existe uma relação entre si de dependência – as coisas acessórias por via de regra pertencem à
coisa principal, embora tenham relativa individualidade e autonomia.
Coisas principais Coisas acessórias
É aquela coisa móvel que constitui uma parte É aquela coisa móvel que não constitui uma
integrante, ou seja, que está ligada parte integrante. Está afetada por forma
materialmente ao prédio com caráter de duradoura ao serviço ou ornamentação de
permanência e, por essa razão, integra-se na uma outra.
categoria das coisas imóveis.

7. Coisas presentes ≠ Coisas futuras


Coisas presentes Coisas futuras
É a que está em poder do disponente ou a É a que não está em poder do disponente ou
este tem direito ao tempo da declaração a que este não tem direito ao tempo da
negocial. declaração negocial.

Após a classificação relativa às coisas, a lei menciona também os frutos e as benfeitorias.

Frutos Benfeitorias
Os frutos seguem um regime próprio. O fruto Correspondem a todas as despesas feitas
de uma coisa tudo o que ela produz para conservar ou melhorar a coisa.
periodicamente, sem prejuízo da sua
substância.
Classificação
Podem-se classificar em: Podem-se distinguir em:
• Frutos naturais – os que provém • Benfeitorias necessárias – são as que têm
diretamente das coisas; por fim evitar a perda, destruição ou
• Frutos civis – são as rendas ou interesses deterioração da coisa;
que a coisa produz em consequência de • Benfeitorias úteis – são as que, não
uma relação jurídica e da sua utilização sendo indispensáveis para a sua
económica. conservação, aumentam, todavia, o valor
• Frutos das universalidades de animais – da coisa.
são as crias não destinadas à substituição • Benfeitorias voluptuárias – são as que,
das cabeças que por qualquer causa não sendo indispensáveis para a sua
vierem a faltar, os despojos, e todos os conservação nem lhe aumentando o
proventos auferidos, ainda que a título valor, servem para recreio do
eventual. benfeitorizante.
b. As prestações
Noção As prestações integram o objeto mediato da relação jurídica e
constituem a finalidade subjacente a uma determinada obrigação.
São as realidades sobre que recaem os direitos e as vinculações que
fazem parte e são característicos da relação jurídica, sendo aqui
analisadas na perspetiva da sua inserção no elemento objetivo das
obrigações.
Podem ter um conteúdo positivo ou negativo.
São constituídas por:
Constituição • Elementos subjetivos;
• Elementos objetivos;
• Um vínculo jurídico;

Elemento Subjetivo É formado pelas partes envolvidas, ou seja:


• Pelo credor;
• Pelo devedor;
Elemento Objetivo É formado pelo objeto da obrigação que consiste no cumprimento
de determinada prestação em favor do credor.
Vínculo Jurídico Determina a sujeição do devedor ao cumprimento de determinada
prestação em favor do credor.

Situam-se no contexto específico das:


Contextualização • Obrigações Civis;
• Obrigações Naturais;

Fundam-se num dever verdadeiramente jurídico e são as que


implicam o cumprimento da obrigação integral por parte do
Obrigações Civis devedor, que consiste na realização integral da prestação a que está
vinculado e permitem a realização coativa da prestação, na medida
em que não sendo a obrigação voluntariamente cumprida tem o
credor o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento.
Fundam-se num dever de ordem moral ou social que, apesar de
corresponder a um dever de justiça, não é judicialmente exigível.
Obrigações Naturais Permitem que o devedor não as cumpra e não dão o direito ao
credor de exigir a sua prestação, no entanto, se o devedor realizar o
pagamento da obrigação, não tem o credor o direito de a requerer
novamente, por não ser devido o pedido de restituição ou de
repetição do indevido.
Quanto à natureza do seu objeto:
• Funde-se na entrega de uma coisa – a prestação de coisa;
Natureza do Objeto • Traduz um comportamento fáctico – prestação de facto;
das prestações
A prestação de coisa pode consistir numa:
• Obrigação de dar;
• Obrigação de fazer;
• Obrigação de restituir;

Consiste na entrega de uma coisa ao credor ou que já a este


Obrigação de dar pertencia desde o momento em que se constitui a obrigação ou que
passou a pertencer-lhe a partir do momento em que ocorre essa
entrega.
Consiste na entrega de uma coisa ao credor, para este a usar e fruir,
Obrigação de logo, gozar, continuando a sua propriedade ou o correspondente
fazer/prestar direito a pertencer ao devedor, ou seja, àquele sobre quem recai a
prestação.
Obrigação de Consiste na devolução de uma coisa ao credor, para que este retome
restituir na sua posse a coisa que lhe pertence e de que é proprietário.
Comportamento A prestação de facto pode revestir num:
fáctico • Conteúdo positivo;
• Conteúdo negativo;

Consubstancia uma determinada atividade por parte do devedor


Conteúdo positivo que implica o cumprimento de uma obrigação de fazer (ex: parque de
estacionamento).
Consubstancia uma omissão ou um comportamento omissivo por
Conteúdo negativo parte do devedor que implica o cumprimento de uma obrigação de
não fazer (ex: quem está a guardar o parque não tem o direito de usar o
carro).

A prestação de facto consoante a natureza do facto sobre que incide


a prestação pode ser:
Natureza do facto • Prestação de um facto material – determina uma obrigação de
conteúdo material;
• Prestação de um facto jurídico – determina uma obrigação de
conteúdo jurídico;

4) O facto jurídico
Corresponde aos factos juridicamente relevantes, ou seja, aos factos sociais que adquirem
significação jurídica e cujos efeitos se encontram hipoteticamente determinados na lei.
Assim, a relação jurídica tem como pressuposto um facto que adquire significação jurídica se a
lei o tem como idóneo à produção de determinados efeitos, estatuídos ou tutelado. Todo o
evento, já um acontecimento natural, já uma ação humana, converte-se em facto jurídico, se
em condições de exercer essa função. O facto origina uma relação concreta e típica entre
sujeitos determinados ou determináveis.

a. Facto jurídico, ato jurídico e negócio jurídico

1. Facto jurídico
Facto jurídico ou facto jurídico em sentido amplo pode-se definir como todo o acontecimento
da vida social que é juridicamente relevante de origem natural ou humana que gere
consequências jurídicas.
O facto jurídico em sentido amplo é o facto causado pela natureza que se repercute no âmbito
jurídico. Entram apenas factos da natureza, independentes de ato humano como dado
essencial, é considerado, pois um facto jurídico.
O facto jurídico humano implica que a conduta do agente não esteja ou esteja dependente de
um certo estímulo subjacente à realização de uma pretensão como consequências jurídicas.
Pode ser:

Voluntário Involuntário
Corresponde ao ato jurídico em sentido É aquele que acarreta consequências
amplo, que abrange o ato jurídico em sentido jurídicas (facto jurídico), mas que são alheias
restrito e o negócio jurídico. à vontade do agente.
• Ato jurídico em sentido restrito – se Consubstancia um facto jurídico stricto sensu.
objetiva a mera realização da vontade do
agente (produz feitos que a lei prevê);
• Negócio jurídico – se procura criar
normas para regular o interesse das
partes, harmonizando vontades que, na
aparência, surgem como antagónicas (ex:
contrato);
O facto jurídico humano é um facto jurídico
voluntário se os efeitos jurídicos gerados são
os desejados e esperados pelo agente.

O facto jurídico em sentido restrito diverge do ato jurídico ou do ato jurídico em sentido amplo
Distingue-se do ato jurídico porque embora pressuponham ambos a
produção de efeitos jurídicos:
Ato jurídico/ • O facto jurídico é um facto involuntário, não depende da vontade
Ato jurídico humana;
em sentido • O ato jurídico é um facto voluntário quanto à sua origem e quanto aos
amplo seus efeitos.
Pode classificar-se em ato jurídico em sentido restrito ou em negócio
jurídico.
O ato volutivo é irrelevante porque os efeitos advêm automaticamente da
lei, logo o efeito jurídico alcançado não é perseguido pelo agente.
O ato jurídico em sentido amplo é aquele que, decorrente da vontade
humana, produz efeitos jurídicos. Trata-se de duas vontades distintas:
• Corresponde ao facto jurídico em sentido restrito porque diz respeito
ao comportamento a realizar;
• Corresponde ao ato jurídico porque refere-se diretamente aos efeitos
jurídicos produzidos e à possibilidade de modificação ou de
determinação da repercussão jurídica que determinado ato irá sofrer.
Pode classificar-se em ato jurídico em sentido restrito ou em negócio
jurídico.
Negócio O ato jurídico em sentido restrito diferencia-se do negócio jurídico no que
Jurídico diz respeito à vontade do agente, que não pode modificar os efeitos
jurídicos previstos na lei.
Os efeitos são o resultado principalmente da manifestação de vontade do
agente. A decisão de celebração de um negócio jurídico ou de um contrato.

2. Ato jurídico
Os atos jurídicos ou atos jurídicos em sentido amplo subdividem-se em:
Derivam do comportamento humano, nos quais os efeitos jurídicos
Ato jurídico em estão fundamentalmente previstos na lei.
sentido estrito A manifestação de vontade não fica subordinada ao campo da
autonomia privada do agente, pois o agente não possui faculdade de
moldar os efeitos que a sua manifestação de vontade irá produzir.
Apenas se efetiva o pressuposto fático contido na norma jurídica.
Negócios jurídicos Condicionam os seus efeitos jurídicos, principalmente à livre
manifestação de vontade das partes.
Os negócios jurídicos recebem na nossa lei uma contextualização
própria e que se aplica por definição, a título subsidiário, aos atos
jurídicos.

As duas correntes que estão no centro da teoria do negócio jurídico são:


Corrente O negócio jurídico assenta numa declaração de vontade, pela qua o
voluntarista agente pretende atingir determinado efeito permitido pela lei.
O que produz efeitos jurídicos é a vontade real, havendo um conflito entre
a vontade declarada e a vontade real (a intenção), sendo que a vontade
real prevalece.
Nem sempre o declarante manifesta a sua vontade dirigida a um
determinado fim querido e previamente conhecido. Assim, o negócio
jurídico apresenta um conteúdo normativo, que consiste num poder
Corrente privado de criar um ordenamento jurídico próprio.
objetivista A intenção do agente encontra-se em segundo plano, sendo antes
preponderante, como elemento produtor de efeitos jurídicos, a mera
declaração de vontade, pelo que, em conformidade, havendo um conflito
entre a vontade declarada e a vontade real (a intenção), sendo que a
vontade declarada prevalece

3. Negócio Jurídico
É um facto jurídico voluntário, constituído por uma ou mais manifestações de vontade,
dirigidas à produção de certos efeitos jurídicos.
É o resultado de duas ou mais declarações de vontade, de sentido contrário, que estipulam
diferentes consequências jurídicas, realizadas por diferentes sujeitos de direito no âmbito de
uma determinada relação jurídica e no exercício da autonomia da vontade das partes.
O seu fundamento é a manifestação de vontade das partes, isto é, dos sujeitos intervenientes
numa relação jurídica.
Trata-se de um domínio que é típico do direito privado e que determina a validade de todo o
comportamento humano caso não colida com uma proibição de comportamento de natureza
legal.

Direito Privado Direito Público


É característica a autonomia da vontade É característica a determinação de uma
privada. atuação conforme a previsão normativa.
É permitido tudo o que não for proibido por Apenas é permitido o que a lei
lei, logo tudo que se contiver dentro dos expressamente consentir.
limites da lei. É regido pelo principio da competência.
É regido pelo principio da autonomia da
vontade privada – é refletiva de modo
transparente ao longo das regras aplicáveis
ao negócio jurídico:
• Princípio da liberdade de forma;
• Principio da liberdade negocial;
• Principio da liberdade de estipulação
contratual;

O negócio jurídico tem várias classificações como:


1. Unilateral ≠ bilateral
Unilateral Bilateral
É o negócio jurídico que completa com Carece de duas declarações de vontade (ex:
apenas uma declaração de vontade (ex: contrato de compra e venda).
testamento). Ainda se separa em:
Ainda se separa em: • Negócio jurídico bilateral sinalagmático
• Negócio jurídico recetício – declaração – depende da existência de duas
de vontade manifestada tem de ser declarações de vontade que são
dirigida e comunicada a outra parte, para simultaneamente recíprocas e
que produza efeitos jurídicos. interdependentes, o que pressupõe que
• Negócio jurídico não recetício – é aquele uma ocorra ao mesmo tempo que a outra
em que basta a emissão de uma e que a realização de uma esteja
determinada declaração de vontade para condicionada à realização da outra;
que ocorra o negócio jurídico. • Negócio jurídico bilateral não
sinalagmático – é aquele em que existe
apenas um direito que recai sobre uma
das partes e que corresponde a uma
obrigação em relação à outra parte.

2. Singular ≠ plúrimo ≠ plural


Singular Plúrimo Plurilateral
É aquele que pressupõe Envolve 2 partes. Diz respeito ao negócio jurídico
apenas a vontade de uma que envolve a composição de
pessoa. mais do que duas vontades
paralelamente manifestadas e
atribuídas a diferentes partes,
embora apresentando um
interesse convergente.
3. Oneroso ≠ gratuito
Oneroso Gratuito
Ambos os contratantes auferem vantagens e Apenas uma parte aufere uma vantagem ou
sacrifícios e ocorre de uma forma recíproca. um benefício, outorgando-se essa vantagem
Ambas as partes podem antever as vantagens ou benefício sem que se exija uma
e os sacrifícios inerentes ao negócio que contraprestação em relação à outra parte.
pretendem realizar.

4. Inter-vivos ≠ mortis causa


Inter-Vivos Mortis Causa
Ou seja, entre pessoas vivas. Produz efeitos Tem por condição a morte de uma das
em vida dos respetivos intervenientes, partes, ou seja, cujos efeitos ficam suspensos
inserindo-se nesta categoria em especial (ex: até que se dê a morte do seu autor (ex:
contrato de casamento). testamento).

5. Principal ≠ acessório
Principal Acessório
Existe por si mesmo e independentemente Está subordinado a um outro negócio
de qualquer. jurídico, perante o qual se encontra numa
posição de dependência formal.

6. Não solene/informal ≠ solene/formal


Não solene/Informal/Consensual Solene/Formal
É aquele cuja validade não depende da É aquele cuja validade depende da
observância de uma forma especial, salvo observância de uma forma especial, que
quando a lei a exigir, e corresponde a um dos tanto pode ser estipulada pelas próprias
princípios norteadores de todo o negócio partes como resultar obrigatoriamente da lei.
jurídico realizado entre privados – principio
da liberdade de forma ou consensual.

b. Formas de invalidade do negócio jurídico


O negócio jurídico pode ser considerado inválido pela verificação de determinadas vicissitudes
que tanto podem implicar a nulidade como anulabilidade. O que depende da vontade
normativa e por isso é determinado na lei (a lei é que determina se um negócio jurídico é nulo
ou anulável).

Nulidade Anulabilidade
Determina que esta seja invocável Determina que esta seja arguida
Noção a todo o tempo. Do ponto de vista apenas durante um determinado
da legitimidade para pedir a período de tempo correspondente a 1
declaração de nulidade, por fazê-lo ano, contando a partir do momento
qualquer interessada e pode ser em que ocorra o vício que lhe serve de
declarada oficiosamente pelo fundamento, embora, se a lei o
tribunal sem dependência de entender, possa ser imposto um prazo
arguição pelas partes interessadas. diferente.
Trata-se de uma forma de Findo o prazo destinado a arguir a
invalidade de grande gravidade e anulabilidade do negócio jurídico
permite a sua invocação por
qualquer pessoa e ao longo de um convola-se e, para a ordem jurídica,
período indeterminado de tempo, passa a ser irremediavelmente válido.
bem como não pode ser sanada A anulabilidade por via de confirmação
por via de confirmação. implica a possibilidade de confirmação
do negócio realizado, mesmo que
tenha por fundamento um vício que
conduza à sua invalidade que é sanado
como se tratasse de um negócio válido.
A conformação compete à pessoa a
quem pertencer o direito de anulação
e tem também eficácia retroativa.
Tem um efeito retroativo, ou seja, Tem um efeito retroativo, ou seja,
retrocede no tempo até ao retrocede no tempo até ao momento
momento da prática do ato ou do da prática do ato ou do negócio
Quanto aos negócio jurídico, apagando todas jurídico, apagando todas as
as consequências que o mesmo consequências que o mesmo tenha,
seus efeitos
tenha, desde então, produzido. desde então, produzido.
Deve ser restituído tudo o que
tiver sido prestado ou, se a
restituição em espécie não for
possível, o valor correspondente.
Pode haver lugar à redução.

c. Modificação e extinção do negócio jurídico

1. Causas de modificação e de extinção


Existem factos que originam o negócio jurídico e outros que podem implicar a sua modificação
ou extinção.

Pode ocorrer por via:


Modificação • Da vontade das partes:
o Decorre da amplitude especificamente contida no princípio da
liberdade contratual;
• Por previsão legal:
o A própria lei pode no articulado da norma prever uma alteração
normal do negócio jurídico;
• Da alteração anormal das circunstâncias:
o Necessidade imperiosa de modificação do negócio jurídico, em
função da alteração dos pressupostos em que as partes fundaram
a sua vontade de negociar reportada a determinado momento
histórico.
Extinção Pode ocorrer por via:
• Revogação ou acordo de partes:
o Diz respeito ao negócio jurídico de duração indeterminada.
o Pode fazer extinguir o contrato de duração indeterminada;
• Resolução:
o Diz respeito ao negócio jurídico de duração indeterminada.
o É admitida quando fundada na lei ou em convenção e opera a sua
eficácia mediante declaração dirigida à outra parte.
• Denúncia:
o Diz respeito ao negócio jurídico de duração indeterminada.
o É determinada por simples manifestação de vontade de uma das
partes no negócio jurídico de duração indeterminada, sem
necessidade de contribuição nesse sentido da parte contrária, que
tento pode comprimir como estar em situação de incumprimento.
o Apenas revela na denúncia a vontade unilateral da parte que
pretende fazer cessar o negócio jurídico, independentemente da
causa que está na origem da sua manifestação de vontade.
• Caducidade:
o Diz respeito ao negócio jurídico de duração temporária.
o Faz extinguir os seus efeitos jurídicos.
o Relativamente ao tempo e à sua repercussão nas relações jurídicas,
quando, por força da lei ou por vontade das partes, um direito deva
ser exercido dentro de certo prazo.
o Uma das causas que leva à extinção da vontade negocial. Começa
a correr a partir do momento em que o direito puder se legalmente
exercido, se a lei não fixar outra data.
o Pode ser invocada por uma das partes ou declarada oficiosamente
pelo tribunal.

4) A garantia
Refere-se à necessidade de tutela dos direitos e cumprimento dos deveres junto dos órgãos
competentes que, num Estado de Direito, apenas podem ser os tribunais.
No nosso sistema, de heterotutela do direito, está vedado o recurso à própria força ou à
autotutela, em que a vontade se faz não da parte de quem tem razão, mas do lado do mais forte.
O ordenamento jurídico tem regras de funcionamento que conduzem à validade do Direito e
à subsistência da própria sociedade e que não se compadecem com um sistema de tutela
privada, de vingança da vítima ou de lei imposta pelo mais forte.
Impõe o estudo da garantia a análise dos limites quanto ao exercício dos direitos a propósito de
2 áreas:
• A proibição do abuso do direito e Colisão de direitos;
• Situações excecionais de tutela dos direitos:
o Ação direita;
o Legítima defesa;
o Estado de necessidade;

a. Exercício dos direitos


O exercício e a tutela dos direitos não são ilimitados. Sofre as restrições que são impostas pela
lei e que vão até aos confins de um espaço que é determinado:
• Pelo bom senso;
• Pela razoabilidade ou pela boa fé, os bons costumes;
• Pelo fim social ou económico desse direito;

b. A colisão de direitos iguais


A colisão de direitos iguais ou da mesma espécie implica que devam ceder os tribunais dos
correspondentes direitos, na medida do necessário, para que todos produzam igualmente o seu
efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes. Se os direitos em colisão forem
desiguais ou de espécies diferentes, prevalece o que deva considerar-se superior.
Assim, configuram-se 2 soluções legais:
• Devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos produzam
igualmente o seu efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes;
• Prevalece o direito que se considerar superior;
Há colisão quando vários direitos concorrem, de modo que o exercício de um deles impede ou
prejudica o exercício de outro.

c. Tutela dos direitos


Existem situações excecionais em que a lei admite o recurso à própria força.
1. Ação direta
Implica a licitude do recurso à força. Pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração
de uma coisa, na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito ou
noutro ato análogo. É exclusão da ilicitude que ação direta pressupõe abrange a defesa da
propriedade.
Exige:
• Que esteja em causa a necessidade de recurso à força para realizar ou assegurar o
próprio direito do agente;
• Que a conduta revista um caráter preventivo e ao mesmo tempo anterior à
consumação do prejuízo que se pretende evitar;
• Que o recurso à força se torne indispensável pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais;
• Que a ação do agente se torne irremediável no sentido de poder unicamente visar
evitar a inutilização prática do direito;
• Que deve ser respeitado um critério de ponderação ou de razoabilidade inerente à
conduta do agente e que implica que não ultrapasse a medida do necessário para
evitar o prejuízo que pretende evitar;

2. Legítima Defesa
Ato de afastar qualquer agressão atual e contrária à lei contra a pessoa ou património do
agente ou de terceiro, desde de que não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo
causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
Exige:
• Que esteja em causa a necessidade de recurso à força para realizar ou assegurar a
proteção da pessoa ou do património do próprio agente ou de terceiro;
• Que a conduta revista um caráter preventivo e ao mesmo tempo anterior à
consumação do prejuízo que se pretende evitar, já que reporta a um momento em
que ainda é possível afastar uma determinada agressão em curso;
• Que o recurso à força se torne indispensável pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais;
• Que a ação do agente se torne irremediável no sentido de poder unicamente visar
afastar uma agressão que é em si mesma considerada ilícita;
• Que deve ser respeitado um critério de ponderação ou de razoabilidade inerente à
conduta do agente e que implica que não ultrapasse a medida do necessário para
evitar o prejuízo que pretende evitar;
Assim, a defesa só é considerada legítima se os meios e os instrumentos utilizados forem
proporcionais à agressão sofrida.
Se houver excesso de defesa está-se além da legítima defesa e isso não afasta já a ilicitude do
facto. Nesse caso, o ato apenas se considera justificado, mesmo havendo excesso de legítima
defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.

3. Estado de Necessidade
Ação destinada a destruir ou a danificar qualquer coisa alheia com o fim de remover o perigo
atual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro.
O estado de necessidade pode ser praticado em proveito próprio ou de terceiros. Não é passível
de censura, por dele estar excluída a ilicitude do facto por si praticado, nem é suscetível de
responsabilização do ponto de vista do ressarcimento dos prejuízos causados.
O estado de necessidade só pode ser alegado se a situação do perigo não for provocada pelo
próprio indivíduo ou não for por ele prevista.
Exige:
• Que esteja em causa a necessidade de recurso à força para realizar ou assegurar a
proteção da pessoa ou do património do próprio agente ou de terceiro;
• Que a conduta revista um caráter preventivo e ao mesmo tempo anterior à
consumação do prejuízo que se pretende evitar, já que reporta a um momento em
que ainda é possível afastar uma determinada agressão em curso;
• Que o recurso à força se torne indispensável pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais;
• Que a ação do agente se torne irremediável no sentido de poder unicamente de
permitir destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover um perigo;
• Que a ponderação dos interesses em jogo determina a existência de um potencial
prejuízo manifestamente superior ao prejuízo consubstanciado na destruição ou
danificação da coisa alheia;
• Que deve ser respeitado um critério de ponderação ou de razoabilidade inerente à
conduta do agente e que implica que não ultrapasse a medida do necessário para
evitar o prejuízo que pretende evitar;
O agente enquanto autor da destruição ou do dano é obrigado a indemnizar o lesado (dono
da coisa alheia) pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por culpa exclusiva. Ou então
o tribunal pode fixar uma indeminização equitativa e condenar nela não só o agente, como
aqueles que tiraram proveito do ato ou contribuíram para o estado de necessidade.

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