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Na sua ânsia de realização pessoal a 1ª linha de atração é acolhida no seio da sociedade, como
uma “unidade de ordem” que emprega uma pluralidade de pessoas na realização de um fim
comum.
“Sociedade” serve para designar uma “micro sociedade” em função de relações de proximidade
face a uma determinada localização (ex: clube desportivo, a vizinhança…), como a “macro
sociedade” numa relação de pertença territorial mais alargada (ex: um país, a ONU…).
Sociedade:
O conceito de sociedade pressupõe um conjunto de virtudes cívicas dos seus membros para
atingirem um escopo de realização comum.
Ex. de sociedades: comunidades religiosas; comunidades étnicas; turmas; ONU…
Exige que os membros do grupo social, qualquer que ele seja, hajam concertadamente de forma
interdependente, mediante uma atuação concatenada ou conjugada de esforços de forma a
atingirem o fim ou o escopo social que é inerente à criação e subsistência da sociedade.
O Homem é, por natureza, um animal social ou um animal político, que carece de viver em
multidão.
O sistema de normas aplicável é identificado com o “Direito”, com a ordem jurídica, por causa
da regulamentação normativa da vida do Homem em sociedade.
Assim, o Direito é o conjunto de regras obrigatórias que numa sociedade regulam os conflitos
entre os respetivos sujeitos e processos de exercício e transmissão do poder.
É do Direito que se tiram as regras jurídicas, sendo que estas podem ser acionadas pela força.
Em caso de incumprimento, encontra-se previsto um leque de normas sancionatórias que
visam dar, pela forma adequada, uma resposta concreta e precisa face à gravidade de cada
situação concreta.
• Natureza Social do Ser Humano: “Ubi homo, ubi societas” (Onde existe Homem, existe
Sociedade”). Esta característica permite uma melhor compreensão do conceito de
Direito, aonde as diferentes teses propõem uma explicação.
o Tese 1: defende a existência natural e evolutiva, sendo que desde sempre
existiu sociedade.
o Tese 2: defende que nem sempre o Ser Humano viveu em sociedade, sendo que
foi forçado a viver num sistema social.
• Filiação social do sujeito: “Ubi societas, ibi Jus” (Onde há sociedade, há Direito”). A
convivência social traduz-se na padronização de condutas que assegurem a
harmonização de atividades entre si.
• Objetivo de promover solidariedade de interesses (existência de normas) e a resolução
de conflitos de interesses (eficácia das normas): 2 conceitos operativos onde o Direito
é diretamente influente na sociedade e na vida ativa dos indivíduos.
O Direito garante um grau mínimo de segurança que assegura o limiar da convivência social,
ou seja, é um instrumento fundamental de ordenação social efetuada à luz da realização da
justiça.
b. Simbologia do Direito
O Direito encontra-se representado desde a antiguidade clássica, através da observação das
mitologias egípcia, grega e romana.
I. Mitologia Egípcia
• Maet ou Maat é a deusa da Justiça e do Equilíbrio, a norma eterna que rege o universo.
É a precisão, a verdade, a ordem e a retidão.
• Representada por uma mulher jovem exibindo na cabeça uma pluma.
• Filha de Rá (Deus Sol) e de Tot.
• A principal obrigação dos faraós egípcios era fazer com que Maat se
cumprisse para que não reinasse a desordem e a iniquidade.
• Identificada na simbologia hieroglífica egípcia pela pena de avestruz, a
pena de Maat = a Justiça.
O Direito é uma palavra que reveste várias aceções. Pode referir-se o Direito com 4 sentidos
diferentes:
• Sentido normativo;
• Sentido objetivo;
• Sentido subjetivo;
• Sentido de saber jurídico;
1. Sentido Normativo
É neste sentido que se fala de direito natural e direito positivo, de direito nacional e de direito
da União Europeia e de direito internacional…
É aqui que se insere o termo “ordem jurídica” ou “ordenamento jurídico”, tendo em vista a
realização da ordem social segundo a justiça, de forma atribuir a cada um aquilo que é seu.
Também o sistema jurídico ou a ordenação jurídica, enquanto unidade ou conjunto de normas
(ex: normas do direito civil que integram o Código Civil).
2. Sentido Objetivo
É o objeto, o conteúdo ou o âmbito do direito normativo. (ex: direito de propriedade previsto nos
artigos 1302º a 1348º CC).
3. Sentido subjetivo
Neste domínio pode reter-se que se entende o Direito numa relação pessoalizada, subjetivada,
em que a propósito de determinado direito em termos objetivos se concretiza a relação de
forma a pessoalizá-la, a permitir a certas pessoas especificamente consideradas a atribuição
concreta de determinados direitos.
4. Saber jurídico
Direito no sentido de jurisprudência, enquanto ciência ou arte do justo. Refere-se à ciência e a
arte jurídica, que visa discernir o que é justo, declará-lo e promover a sua realização. Refere-
se, assim, como exemplo, ramo da ciência, os impostos, a Justiça, os tribunais ou o lugar de
realização e aplicação da justiça…
O Direito é:
• Um fenómeno histórico, mas não se acha inteiramente condicionado pela história, pois
apresenta uma constante axiológica.
• Uma realidade cultural, porque é o resultado da experiência do homem.
• Bilateral. A bilateralidade-atributiva é específica do fenómeno jurídico, já que apenas
ele confere a possibilidade de se exigir um comportamento.
• Tem um aspeto fáctico – em que o Direito se atenta para a sua efetividade social e
histórica;
• Tem um lado axiológico – o Direito cuida de um valor (Justiça);
• Tem um aspeto normativo – o Direito visto como ordenamento e a sua ciência.
Assim, o fenómeno jurídico compõe-se de:
Necessidade Prende-se com a exigência própria de uma ordem jurídica sem a qual
qualquer sociedade não poderia atingir o seu escopo social, ficando
colocada perante a ausência de regras de comportamento equivalentes a
normas jurídicas, numa situação de precariedade ou mesmo de difícil
subsistência.
Alteridade Intersubjetividade ou bilateralidade que pressupõe a existência de uma
integração social do Homem, de uma relação de interdependência entre
vários homens e mulheres destinada a atingir, através de uma forma
conjugada de atuação, a prossecução de objetivos e de finalidades
comuns.
O Direito é tido como uma realidade reacional, é que se torna necessário
e ganha pleno sentido. O Direito pressupõe relações intersubjetivas que
regula através das suas normas e que faz assentar na existência de
relações jurídicas entre os sujeitos da sociedade.
Imperatividade O Direito se trata de uma ordem ética ou normativa dotada de regras
jurídicas. Ordena determinados comportamentos e existe que os mesmos
sejam voluntariamente cumpridos, podendo impô-los, se necessário, pela
força.
A imperatividade é uma característica de que o Direito não pode
prescindir, porque traduz uma manifestação da força do próprio sistema
normativo, isso implica, ainda que paradoxalmente, a sua fraqueza.
Coercibilidade É decorrente do Direito e um dos traços identificadores de outras ordens
sociais. Esta característica do Direito identifica-se tradicionalmente com a
possibilidade de imposição coativa, se necessário pela força e contra a
vontade dos seus destinatários, das normas e sanções jurídicas.
Exterioridade Diz respeito a ações e coisas exteriores, que constituem o seu objeto
material, e traduz-se na demonstração dos comportamentos
interiorizados pelo Homem, numa manifestação de vontade revelada,
numa atuação que vá para além dos pensamentos, para que certa
conduta material ou comportamento fáctico possa revelar do seu ponto
de vista jurídico.
O Direito não intervém na ausência de comportamentos exteriorizados. O
Direito é dirigido à ordenação da conduta de outrem, não versa toda a
matéria da virtude moral, mas apenas acerca das ações exteriores e das
coisas.
a. Direito Positivo
O direito positivo surge no âmbito de uma corrente de pensamento mais vasta que é o chamado
positivismo jurídico. Trata-se de uma doutrina do direito que considera que só é Direito aquilo
que é regulado pelo Estado, sendo esse objeto de enquadramento e de estudo, e cujos esforços
giram em torno de uma reflexão sobre a sua interpretação.
Não existe necessariamente uma relação entre o direito, a moral e a justiça. As noções de justiça
e de moral são relativas, mutáveis no tempo e sem força política para se imporem contra a
vontade de quem cria as normas jurídicas, ou seja, o próprio Estado.
Situa-se no domínio da corrente filosófica do direito designada por positivismo jurídico e pode
definir-se como “o conjunto de princípios e de reras que regem a vida social de determinado
poo m determinada época”. Direitamente ligado ao conceito de vigência, a disciplina da conduta
humana e inclui as leis votadas pelo poder competente, os regulamentos e as demais
disposições normativas, qualquer que seja a sua espécie. É variável.
O direito é um produto da vontade do Estado. Existem duas teorias principais destinadas a
explicar as relações entre direito e o Estado:
b. Direito Natural
Identifica-se com a corrente de pensamento designada por jusnaturalismo, é uma teoria que
possui a existência de um direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e válido em
qualquer lugar. Para os jusnaturalistas o conteúdo do direito positivo não pode ser conhecido
sem alguma referência ao direito natural.
Há diversas teorias do direito natural que divergem quanto ao papel da moral na determinação
da autoridade das normas legais. Trata-se de um direito que antecede e que subordina o direito
positivo, de origem política ou social que não deveria entrar em conflito com as regras do direito
natural e, se entrar, corre o risco de perder a sua validade intrínseca.
• Da justiça;
• Da segurança jurídica ou da certeza jurídica;
Da proteção da confiança legítima;
a. A Justiça
A Justiça é um valor umbilicalmente inseparável do Direito havendo uma relação essencial. A
ordem jurídica é uma ordem de convivência humana segundo a Justiça. O Direito é o próprio
objeto da Justiça. É a própria coisa justa, o objeto da virtude da Justiça. O Direito é a técnica do
bom e do justo.
A própria lei é uma regra que serve de medida da Justiça e que prescreve a sua realização e que
indica a retidão da conduta.
A exigência da segurança jurídica ou da certeza do Direito traduz um valor essencial que impõe
uma verdadeira obrigação de informação que recai sobre o Estado legislador acerca da
determinação prévia dos cenários e quadros normativos aplicáveis.
Exige a estabilidade do sistema jurídico que inclui a utilização de regras hermenêuticas
destinadas à interpretação e integração de lacunas que revistam uma aplicação comum, como
a disponibilização de um regime normativo próprio no que concerne à aplicação das leis no
tempo ou ao fenómeno da sua sucessão temporal.
• A obrigação de informação
A obrigação de informação recai sobre o Estado e, dentro deste, sobre quem exerce o poder
legislativo. A necessidade de conhecimento das leis em momento anterior ao da sua entrada
em vigor, com inteira suficiência para permitir aceder ao conteúdo do seu regime normativo
e ao conjunto de prescrições aplicáveis à sociedade e aos mecanismos jurídicos dirigidos aos
destinatários que estiverem contidos no seu campo de previsão, de modo especial.
A obrigação de informação que resulta do princípio da segurança jurídica começa por impor
a adoção de normas positivas, gerais e abstratas, ou seja, de leis escritas, adotada no âmbito
de um quadro normativo preciso e com um conteúdo abrangente, isto é, dirigidas a
categorias de sujeitos indeterminados e a situações abstratamente consideradas, do ponto
de vista da sua aplicação. O que implica a aplicação da lei de acordo com critérios
preestabelecidos e devidamente divulgados e conhecidos, para prevenir o arbítrio e a
incerteza quanto ao seu destino.
No âmbito desta função informativa ainda podemos situar o movimento de codificação das
leis, que permite a sistematização e arrumação de matérias em conjuntos compilados de
normas, onde se encontra essencial destas leis, com vista a facilitar o seu conhecimento e
estudo apropriado (ex: Código Civil).
Para a segurança e certeza do Direito também reveste particular acuidade e a forma como se
encontram estabelecidas as regras hermenêuticas, ou seja, as regras específicas relativas à
interpretação das leis e à integração de lacunas e à aplicação das leis no tempo ou ao
fenómeno da sucessão das leis.
a. Regras Hermenêuticas
As regras hermenêuticas encontram previsão específica expressa na legislação civil.
• Interpretação da lei (art. 9 CC) – fixação do sentido e alcance da lei, entre os quais se
destaca, como ponto de partida da interpretação, a própria letra da lei e a partir daí,
tendo como sustento um mínimo de correspondência verbal, pode em seguida
proceder-se à reconstituição do pensamento do legislador, tendo em conta vários
fatores ou critérios interpretativos, como a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
• Integração ou preenchimento das lacunas da lei (art. 10 CC) – torna-se premente
quando existem buracos ou vazios legislativos, ou seja, casos que a lei não preveja –
casos omissos – em que procedem razões justificativas da sua necessidade de
regulamentação. A interpretação das lacunas faz-se através do recurso à norma
aplicável aos casos análogos, e na sua falta, são resolvidos segunda a norma hipotética.
A aplicação analógica da lei apenas pode ter lugar em relação a normas gerais, de
aplicação corrente.
Nas normas excecionais que se destinam a vigorar em condições excecionais e, muitas
vezes, em certos momentos temporais específicos ou que revestem caráter isolado,
estas não comportam integração por via da aplicação analógica da lei, embora possam
ser objeto de uma interpretação extensiva (art. 11 CC);
• Aplicação das leis no tempo – existem regras próprias previstas na legislação civil
(art.12/13 CC). Neste domínio vale o princípio geral de que a lei só dispõe para o futuro,
ou seja, ainda que lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular. Esta regra
– irretroatividade das leis – torna-se visível no domínio jurídico penal.
Parte I – O Direito: Introdução e Enquadramento
CAPÍTULO 2º - SISTEMAS E RAMOS DO DIREITO
1) Os sistemas de Direito
Os primórdios e os fundamentos históricos do Direito ao longo das civilizações antigas dão
sentido à descrição dos diferentes ramos do Direito e o modo como estes se agrupam, em
torno das matérias de que se ocupam as principais áreas de intervenção jurídica no que
concerne aos inúmeros fenómenos de regulação da vida em sociedade.
Estudando os critérios que levam à unidade da ordem jurídica, a História do Direito (parte da
História que estuda a ordem jurídica) é composta:
• Pela História das Fontes do Direito;
• Pela História das Instituições;
• Pela dogmática;
A História do Direito estuda como foram encontradas soluções normativas que regulavam a
vida em sociedade, estudando povos desaparecidos e reconstituindo ordens jurídicas que
vigoraram no passado.
• O direito da antiguidade clássica egípcia (3000 a.C.) incluía uma compilação de leis civis
que, tendo sido provavelmente dividida em 12 livros, se baseava no conceito de Maat e
se caracterizava pela tradição, pela retórica, pela igualdade social e pela imparcialidade.
• O mais antigo texto legal que diz respeito à codificação do direito antigo data por volta
de 2100 a.C. com o Código de Ur-Nammu, que descreve costumes antigos
transformados em leis e confere enfatização a penas pecuniárias para delitos diversos.
o A família;
o Os escravos;
• O Código de Manu, surge cerca de 1500 anos depois. É parte de uma coleção de livros
bramânicos e que se constitui na legislação do mundo indiano, bem como veio a
estabelecer o sistema de castas na sociedade Hindu. Historicamente, as leis de Manu
são tidas como a primeira organização geral da sociedade sob forte motivação religiosa
e política. Este Código é uma compilação das civilizações mais antigas.
• O advento da nova escrita desenvolvida a partir dos fenícios foi a sua maior conquista
devido à sua necessidade para o comércio, mas que permitiu uma expansão homogénea
do Direito num mundo cada vez mais interligado.
• O advento da nova fonética regista-se o mais antigo conjunto de leis relevante para os
modernos sistemas do direito – a Torá do Velho Testamento. Na forma de imperativos
morais, como os Dez Mandamentos, contém recomendações para uma boa sociedade.
• O direito romano foi depois fortemente influenciado pelos ensinamentos gregos, mas
as suas regras detalhadas e sofisticadas foram desenvolvidas por juristas profissionais.
Com a ascensão e a queda do Império Romano, o direito foi adaptado para lidar com
as mudanças sociais e passou por um grande esforço de codificação. O documento de
maior relevo no Direito Antigo é a Lei das XII Tábuas (451 a 449 a.C.) tidas como as
primeiras fontes de Direito.
O movimento da codificação conheceu o seu período áureo por ordem do Imperador
Justiniano I que elaborou algumas compilações de grande influência na história: Corpus
Juris Civilis. O Digesto era o conjunto de trechos de obras de jurisconsultos. O Código
foi uma coleção de constituições imperiais e as Institutas eram a exposição do Direito
destinada a estudos jurídicos.
O conhecimento do direito romano perdeu-se na Europa Ocidental durante a Idade
Média. O direito romano e o sistema jurídico baseado nele afetaram o
desenvolvimento do direito em todo o mundo. É o fundamento dos códigos da maior
parte dos países da Europa e desempenhou um importante papel no surgimento da
ideia de uma cultura europeia comum.
• Na Inglaterra medieval, os juízes reais começaram a desenvolver um conjunto de
precedentes que viria a tornar-se a Common Law.
• Aos poucos, formou-se na Europa medieval a Lex Mercatoria, que permitiu aos
mercadores comerciar com base em práticas padronizadas. Quando o nacionalismo
recrudesceu nos séculos XVIII e XIX, a Lex Mercatoria foi incorporada no direito interno
dos diversos países do continente europeu nos respetivos códigos civis (ex: Código
Napoleónio e Código Civil Alemão).
• Na Índia antiga o Arthashastra e o Manusmriti constituíam tratados influentes na Índia
e eram consultados em questões jurídicas. Esta tradição hinduísta, juntamente com o
direito muçulmano, foi suplantada pela Common Law quando a Índia se tornou parte
do Império Britânico. A tradição jurídica do leste da Ásia reflete uma mistura singular
entre o religioso e o secular.
• O Japão foi o primeiro país da área a modernizar o seu sistema jurídico seguindo o
exemplo ocidental, ao importar parte dos códigos francês e alemão.
• O direito chinês tradicional foi modernizado segundo o padrão ocidental nos anos
finais da dinastia Qing. O direito da República Popular da China sofreu forte influência
do direito socialista soviético.
1. O sistema romano-germânico
O sistema romano-germânico do Direito é formado pelo conjunto dos direitos nacionais que
sofrem forte influência do direito romano e do seu estudo ao longo dos anos. Em termos
geográficos, pertencem a esta família e os direitos atuais da maioria dos países europeus (à
exceção do Reino Unido e da Irlanda), para além de outras regiões do globo como a América
Latina ou o Japão.
A base deste sistema é o antigo direito romano, que influenciou os modernos ordenamentos
jurídicos, incluindo o direito português, através da recuperação e elaboração científica do
Corpus Iuris Civilis.
O qualificativo “romano-germânico” pretende realçar o papel decisivo do direito romano como
a contribuição do direito dos países germânicos e a importância que estes tiveram na
edificação da ciência jurídica moderna, ainda que de base essencialmente romanística.
Este sistema permite identificar alguns dos seus aspetos peculiares:
• Assenta no primado da lei – a fonte de Direito de maior relevância é a lei conferindo
destaque especial à lei escrita e genérica.
• Prefere os direitos codificados;
• Apresenta um elevado grau de apuramento técnico.
Assim, trata-se de uma família jurídica que confere primazia à lei, caracterizada pelo facto de a
regra de direito ser escrita e genérica. O que permite a sua interpretação e aplicação ao caso
concreto pelos tribunais.
A generalização acabou por permitir o fenómeno da codificação do direito, pelo qual as regras
genéricas são compiladas em códigos de leis e posteriormente aplicadas pelos juristas e pelos
tribunais. A sistematização codificada do Direito não consegue abranger todas as matérias
jurídicas, embora procure organizar e abordar as disciplinas mais importantes no interior de
cada uma. A codificação exige diversas áreas de especialização, o que explica por força da sua
relativa autonomia e reconhecido grau de complexidade.
O tratamento e a sistematização diferenciados e autónomos que o movimento da codificação
originou acabou por implicar maior concisão das matérias, melhor concentração do objeto
jurídico de cada disciplina e mais clareza e rigor com evidentes vantagens em termos de
organização e de clareza da própria lei escrita.
O sistema emanado desta matriz influenciou praticamente todo o ordenamento jurídico
português atual e continua a revestir enorme importância.
2. O sistema anglo-saxónico
O sistema anglo-saxónico é formado a partir do direito originário da Inglaterra após a
conquistas normanda e surge da necessidade de criação de um sistema de direito comum
(Common Law) aplicável não só a todo o reino como a toda a área de influência do vasto Império
Britânico, e aí assenta a pedra angular do ordenamento inglês.
Este sistema é o produto de uma larga tradição e é formado casuisticamente através da
atividade desenvolvida pelos tribunais reais de justiça. É um direito não escrito e não codificado.
A base desta família do direito é jurisprudencial, cujo cerne é a regra do stare decisis, regra do
precedente, pela qual as decisões judiciais anteriores devem ser respeitadas no momento em
que é apreciado um caso concreto.
O sistema jurídico inglês é um sistema de base jurisprudencial e casuística, conferindo
supremacia às fontes não escritas do Direito, entre as quais releva para além dos princípios
erais de direito não escritos.
A lei não é desconhecida como fonte de Direito. As leis revestem uma importância puramente
acessória, como fator de mero enquadramento do Direito.
Tipos de Sistemas:
a. Sistema muçulmano
Com uma base religiosa não apresenta fronteira entre a religião e o Direito. A fonte
essencial de direito é:
• O Alcorão;
• Os costumes;
• Os bons exemplos do Profeta (divergência de interpretação dividindo o mundo
muçulmano em xiismo e sunismo);
A origem de direito pauta por ser revelado, logo sagrado e dogmático, a tendência imutável
no tempo e no espaço. Já a estrutura é heterogénea e de sistema variável.
A aplicação deste sistema é de critério pessoal onde a xaria é comum a todos os
muçulmanos, independentemente da nacionalidade e do local onde vivem.
É um sistema completo e universal (sem distinção entre temporal e espiritual) que inclui
regras, sendo estas o somatório de todas as ações, direitos e deveres humanas e onde o
interesse comunitário predomina sobre o individual. Com a evolução temporal, têm sido
adotadas diferentes vias de aplicação do direito islâmico nas sociedades modernas:
• O Modelo liberal – dá primazia à Constituição, seguindo-se a lei ordinária e a xaria;
Ex: Tunísia, Marrocos
• O Modelo intermédio – surge primeiro a Constituição, depois a xaria e a lei
ordinária;
Ex: Egipto
• Modelo fundamentalista – tem mais importância a xaria, seguindo-se a Constituição
e depois as restantes leis;
Ex: Irão, Arábia Saudita
b. Sistema ocidental
Este sistema resulta da herança de diferenças técnicas que levaram à diferenciação entre as
ordens jurídicas. As influências maiores foram:
• A civilizacionalidade da Cristandade;
• O Direito Romano;
• A integração de elementos aquando das invasões bárbaras;
• A universalização civilizacional europeia;
c. Subsistema romanístico
Dito como sendo o tipo de direito vigente na Europa Ocidental, proveniente do Direito
Romano e influenciado pelo racionalismo iluminista e movimento de codificação.
Tem a lei como fonte do Direito, tendo o costume e a jurisprudência um papel reduzido ou
acessório, e como características a uniformidade de institutos e ramos do Direito, aonde
magistratura judicial é exercida por profissionais de carreira (sem depender do prestígio
social).
O estudo do Direito é feito de forma teórica em faculdades de Direito, bem como a
elaboração de novas leis.
d. Subsistema anglo-saxónico
O sistema anglo-saxónico é formado a partir do direito original da Inglaterra após a conquista
normanda e surge da necessidade de criação de um sistema de direito comum aplicável não só
a todo o reino como a toda a área de influência do vasto Império Britânico e, aí assenta a pedra
angular do ordenamento inglês.
É um produto de uma larga tradição e que é formado casuisticamente através da atividade
desenvolvida pelos tribunais reais de justiça. É um direito não escrito e não codificado.
Este sistema de Direito está presente na Grã-Bretanha, EUA e antigas colónias britânicas.
Com uma evolução linear de início com a prevalência das fontes consuetudinárias e
posteriormente adoção da regra do precedente como fonte de Direito, isto é, existem leis
(statutory law) mas a base do sistema são as decisões judiciais, as decisões tomadas por
tribunais superiores em casos idênticos.
A escolha de juízes recai sobre advogados experientes, sendo as funções dos juízes nos
tribunais superiores muito prestigiadas.
O estudo do Direito é feito de forma prática, através da análise de casos.
e. Direito Português
Inicia-se em 1140 (data da fundação da Nação) e consistia numa conjugação dos tipos de Direito
Romano, Germânico e Visigótico.
A História do Direito Português pode ser dividida em diferentes períodos:
• Período do Direito consuetudinário e foraleiro – existia uma dispersão na aplicação do
Direito a nível local. O poder real limitava-se a outorgar os instrumentos de autogoverno
nos concelhos.
• Período de influência do Direito Comum – marcado pelo regresso às fontes romanas
para resolver casos concretos, o que originou castas de letrados capazes de estudar os
textos romanos, bem como escolas de estudo para os mesmos.
• Período de influência iluminista – pretendia regressar à pureza do Direito romano
adaptando-o à época e ao racionalismo. A Lei da Boa Razão, elemento característico
deste tempo, determinava que as questões deveriam ser resolvidas por leis práticas e
estilos da Corte, e na falta de lei recorria-se ao costume (desde que fosse conforme a
Boa Razão; não contrariasse as leis e que tivesse mais de 100 anos), pelo que se
continuando sem solução recorria-se então ao Direito Romano.
• Período de influência liberal e individualista – marcado pelo constitucionalismo
monárquico, triunfo do individualismo e da glorificação da propriedade e liberdade
económica, acabando com as corporações.
• Período corporativo – deu-se com o golpe militar de 28 de maio de 1926 que originou
um regime conservador de doutrinas corporativas e autoritárias que alterou o Direito
vigente e teve uma grande expressão no Código Civil de 1966.
• Período atual – aonde a substituição do regime originou uma democracia com os ideais
do Estado Social de Direito. A adesão à CEE (1986) levou à aproximação do Direito
público e privado e a reforma do Código Civil em 1978 retirou a carga conservadora da
versão original.
2) Os Ramos do Direito
A classificação dos ramos do Direito é, mais ou menos, universal e existe independentemente
dos sistemas jurídicos onde são aplicados. É usual distinguir-se:
Em qualquer dos casos todos se encontram num plano de igualdade, de paridade de interesses
e de posições jurídicas, que não variam em função dos planos de observação.
Os critérios que permitem delimitar o interesse público do interesse privado são:
• O critério dos sujeitos – é determinado pela qualidade de cada interveniente;
• O critério do interesse preponderante – depende do interesse específico e da razão de
ser que motiva a intervenção do Estado ou de qualquer ente público em determinada
relação estabelecida com um particular;
A existência de um interesse público preponderante implica que o Estado intervenha nessa
relação de direito público no exercício de especiais prerrogativas de autoridade pública.
1. Direito Interno/Nacional
Ramos do direito nacional ou interno que correspondem ao Direito que se aplica no conjunto
do território do Estado Português – Direito Português.
Direito Interno – designação técnica que os internacionalistas costumam atribuir ao direito nacional de
um Estado e que corresponde às normas jurídicas internas que são um produto da vontade do Estado, do
qual emanam na conformidade das regras que ele próprio estabelece.
Esta noção exige a compreensão do conceito território para a definição da própria noção de
Estado e para a aplicação do Direito num determinado país.
É usual distinguir-se neste ramo do Direito entre Direito Internacional Público e Direito
Internacional Privado.
1) Enquadramento e Noção
A temática das fontes do direito – em que sobressai a lei – adquire maior relevância com o
movimento de codificação do direito vivido pelos sistemas europeus, desde o século XIX, já que
o direito legislado ou positivado passa a ter um valor significativo.
As fontes do direito são as formas de expressão do direito positivo, sendo caracterizadas como
meios de exteriorização e reconhecimento das normas jurídicas.
a. A lei
Para a lei (única fonte de direito produzida intencionalmente) está estabelecida uma definição
própria de acordo com a qual são todas as disposições genéricas provindas dos órgãos
estaduais competentes. Com esta amplitude, as leis bastam-se com um conteúdo genérico no
que diz respeito à sua aplicação, que pode abranger todo o tipo de matérias (Abstração aplica-
se a situações abstratas. Não estão determinadas em concreto. Genérica aplica-se a qualquer
pessoa).
b. Normas corporativas
As normas corporativas (certas leis especiais, pois estão dentro das leis) correspondem às regras
ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como os respetivos
estatutos e regulamentos internos.
b. A jurisprudência
O saber jurídico é identificado com o Direito no sentido de jurisprudência, enquanto ciência
ou arte do justo. Fundamental realçar a importância crescente das decisões jurídicas, o que leva
a ter em consideração a elevada credibilidade e autenticidade dos seus critérios, que estão na
origem de uma força verdadeiramente criadora de direito.
A jurisprudência é o conjunto das decisões proferidas em tribunal sobre determinada matéria.
É uma doutrina resultante de várias e reiteradas decisões proferidas por tribunais superiores
sobre determinada matéria. Assim, é mais usual o intérprete preocupar-se em obter uma
decisão por parte do julgador com base em posições anteriormente proferidas pelos tribunais,
para as manter ou fazer evoluir. Por sua vez, são mais escassos os casos em que o costume ou
outras fontes de natureza diversa surgem como modos reveladores da vontade jurídica.
c. O costume
É o conjunto de regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e
prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada
sociedade e cultura específica vigente em determinado momento histórico.
Para que um costume seja considerado fonte de direito é necessário que seja:
• Contínuo:
• Constante:
• Obrigatório:
• Quanto à natureza:
o Costume popular;
o Costume erudito;
• Quanto ao conteúdo:
o Praeter legem – regula certos aspetos não abrangidos pela lei, mas que
completa o sistema legislativo;
o Secundum legem – secunda a lei, que a confirma e apoia. A norma jurídica por
ele criada confirma ou interpreta a lei previamente existente;
o Contra legem (ou ab-rogatório) – é oposto ou contrário à lei. As normas
costumeiras não vão para além da lei, nem sequer a confirmam, limitam-se a
contrariar as normas de direito escrito existentes. Procedem implicitamente à
revogação de disposições legais por resultar na não aplicação da lei em virtude
do desuso, falta de costume ou desábito. Isto trata das leis anacrónicas, ou seja,
leis que envelhecem durante o seu período de vigência e que não foram
revogadas por obra do legislador (ex: 292º, 293º CRP e 1039º CC).
Estes 3 tipos de costume delimitados em função do seu conteúdo acabam por permitir atingir 3
importantes funções do direito:
• Suprir a lacunas da lei;
d. A doutrina
A doutrina é o resultado do estudo de pensadores, universitários, juristas e filósofos do direito
sobre os fenómenos ligados ao relacionamento e à conduta humana e à sua aplicação ao
campo jurídico. É importante na elaboração da norma jurídica e na sua interpretação e aplicação
pelos tribunais. É essencial:
e. Os usos
Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis
quando a lei o determine.
Os usos apresentam 2 requisitos para poderem valer como fonte do direito:
• Requisito formal – para serem atendíveis, deve a lei para eles expressamente remeter;
• Requisito material – relevam aqueles que não sejam contrários aos princípios da boa
fé;
• Os usos constituem uma prática seguida e mais ou menos generalizada, aplicável nos
mais variados domínios específicos nos quais revela, sendo utilizados como um
verdadeiro padrão de referência. O costume exige uma prática generalizada e reiterada
ao longo do tempo e a convicção de que é obrigatório, pois não constitui uma solução
alternativa, mas apenas a única que é legítimo adotar.
• Os usos apenas são atendíveis se a lei para eles remeter, se os validar expressamente
enquanto fonte do direito. O costume vale de forma espontânea, independentemente
de qualquer vontade ou intenção legislativa no que diz respeito à produção dos seus
efeitos ou às suas consequências normativas.
Os usos têm um valor inferior ao da lei, que não podem contrariar. Só são válidos se for a
própria lei a permiti-lo. Revestem natureza inferior às normas corporativas, em relação aos
quais se não podem sobrepor.
f. A equidade
a. Quanto à natureza
As fontes formais podem ser diretas (próprias ou puras) e indiretas (impróprias).
• As fontes diretas ou próprias são aquelas cujas naturezas jurídicas é exclusiva de uma
determinada fonte (ex: caso da lei ou das normas corporativas), que tem como única
finalidade servir como modo de produção do direito (ex: Constituição; revisões
constitucionais…).
b. Quanto ao órgão
• Fontes estaduais – surgem por determinação e através do poder do Estado (ex: lei geral;
normas corporativas; princípios gerais de direito…).
• Fontes não estaduais – têm uma origem espontânea que, por essência, não são o
resultado de uma vontade específica de um órgão de produção jurídica, nem
consubstanciam qualquer ato do Estado (ex: costume; doutrina).
Fontes acessórias – oferecem uma importância relativamente menor já que são invocadas
pelo intérprete para uma mais adequada e completa interpretação da norma ou, então, em
casos de expressa omissão legislativa. Aqui enquadram-se todas as fontes.
Parte II – As fontes, o Sistema Legislativo e a Dimensão Normativa do
Direito
CAPÍTULO 3º - A DIMENSÃO NORMATIVA DO DIREITO
1) A norma jurídica
a. Enquadramento e noção
A ordem jurídica é composta por princípios e por normas de conteúdo jurídico. Na regulação
da vida em sociedade ressalta no ordenamento jurídico uma dimensão normativa do Direito
que caracteriza um verdadeiro sistema, o sistema jurídico, integrado de forma coerente e
lógica por um corpo de regras de conduta.
Os princípios jurídicos valem por si mesmos. Os que têm natureza superior de valores do
Direito são imanentes à própria construção do Direito, quer estejam ou não vertidos em
normas jurídicas (ex: princípio da certeza jurídica; princípio da segurança jurídica).
Se umas vezes os princípios de natureza jurídica estão vertidos nas próprias normas jurídicas,
outras vezes as normas jurídicas não refletem necessariamente um princípio jurídico – são
meras regras sociais de conduta de conteúdo jurídico (ex: princípio da igualdade).
Os princípios e as normas que integram o direito caracterizam o sistema jurídico que entre nós
dá primazia à lei escrita ou positiva, ou seja, à norma jurídica.
b. Características
A norma jurídica é um elemento fundamental da ordem jurídica. É um tipo de norma que
contém traços característicos que a permite distinguir das demais normas de comportamento
próprias das ordens sociais.
A ordem ética ou normativa assenta em normas que têm cumulativamente de ser:
• Hipotéticas;
• Gerais;
• Abstratas;
Estes 3 elementos são as características da norma jurídica.
1. A Hipoteticidade
É uma característica da norma jurídica que se refere à verificação futura de uma certa condição.
A norma há-de ser preenchida e a sua aplicação fica consequentemente dependente da
verificação do evento que a norma em si mesma encerra.
A norma jurídica existe para ser aplicada a uma determinada situação de verificação hipotética,
que não consiste num dado assente. A lei aplica-se a situações hipoteticamente consideras do
ponto de vista do seu campo material de aplicação (ex: art. 66 CC).
2. A generalidade
Consiste na sua aplicação a um conjunto não identificado ou identificável de destinatários. O
importante é considerar que são todos aqueles a quem a norma se dirige, aqueles que estão
integrados no seu campo material de qualidade de cada um dos sujeitos.
• Normas jurídicas de conteúdo plural – têm uma apetência para ser aplicadas a mais do
que um destinatário em idênticas condições, já que pressupõe um número amplo
destinatários ou, ao menos, mais do que um destinatário hipoteticamente considerável.
• Normas jurídicas de conteúdo singular – têm uma apetência para ser aplicadas a um só
destinatário em idênticas condições (em cada momento histórico), sem que percam a
sua natureza normativa e a característica da generalidade implica à norma (ex: normas
jurídicas relativas ao cargo do Presidente da República);
3. A abstração
Traduz a sua aplicação indiferenciada a um conjunto não determinado de situações. A norma
jurídica contém um campo material de aplicação que, do ponto de vista objetivo, abarca todas
as situações possíveis que cabem no seu interior, o que permite depois a sua concretização face
às diversas equações da vida social.
Existe uma possibilidade de aplicação não circunstanciada da norma jurídica, que faz com que
a mesma se possa aplicar casuisticamente, ou seja, caso a caso, perante condições concretas
que se integram no seu campo de aplicação (ex: art. 874 CC);
c. Estrutura
Em relação à sua estrutura, a norma jurídica pode ser analisada numa dupla perspetiva
completamente diferenciada em função de cada um dos seus 2 elementos:
• Normas jurídicas perfeitas – toda a norma jurídica que tem um campo de previsão e
uma estatuição;
• Normas jurídicas imperfeitas – apenas contempla um campo de previsão e que se
encontra despida de qualquer tipo de estatuição;
Em termos lógicos a previsão antecede a estatuição, já que esta é a reação adequada daquela.
Mas, não existem qualquer exigência que impeça o contrário, ou seja, a colocação da
estatuição antes do segmento destinado à previsão (ex: art. 66 CC).
2) Espécies de Normas Jurídicas
O Direito apresenta uma dimensão normativa em que a lei escrita (norma jurídica) adquire um
relevo preponderante. Assim, surgem na sequência de variadas composições normativas tipos
de normas como:
4. Normas sancionatórias
Caracterizam-se pela aplicação de sanções de natureza diferente. É possível distinguir 5 espécies
de normas sancionatórias.
• Normas compulsórias:
o Destinam-se a impelir, a obrigar, a agir, a adotar um certo comportamento por
via forçada compulsiva ou compulsória.
o A sanção pecuniária compulsória e o direito de retenção permitem
compreender a existência de mecanismos destinados a forçar o cumprimento
da prestação devida, assentes em normas que sancionam determinadas
condutas e que estabelecem as vias adequadas à obtenção do crédito, ou mais
amplamente ainda, à eficácia do direito.
• Normas Reconstitutivas:
o Destinam-se a reconstruir uma determinada situação e que se posicionam num
momento anterior à ocorrência de determinados eventos.
o Aplicam-se as normas deste tipo como sanção adequada à reparação de um
determinado prejuízo.
o Procura-se reconstituir a situação natural, a situação que existia antes da
violação de determinado direito que motiva uma alternativa à obrigação de
indemnizar.
o Princípio da regra aplicável – é a reconstituição natural como sanção a aplicar.
A indemnização em dinheiro só intervém como último ratio. Assim, só é fixada
em dinheiro em 3 situações:
§ Se a reconstituição natural não for possível;
§ Se a reconstituição natural não reparar integralmente os danos;
§ Se a reconstituição natural for excessivamente onerosa para o devedor;
• Normas de natureza indemnizatória:
o Integram o dinheiro indemnizatório, que assenta na obrigação de indemnizar.
Reportam-se a normas jurídicas que só podem ser acionadas no caso de não ser
viável a aplicação das sanções reconstitutivas.
o Os pressupostos ou elementos suscetíveis de originar a obrigação de indemnizar
são:
§ Um ato ilícito e culposo;
§ Um dano ou um prejuízo;
§ Um nexo de causalidade entre o facto e o dano;
o Além do facto danoso e do dano propriamente dito ainda deve existir uma
articulação assente num princípio de razoabilidade, que conduza à identificação
de uma causa adequada entre o facto e o dano. O facto há-de ter aptidão para
provocar determinado dano. O dano há-de ser o resultado de determinado
facto em concreto. Relação de causalidade apenas chamada causa adequada à
produção do resultado e, por isso, toma o nome de relação de causalidade
adequada.
o Tem vários tipos de responsabilidade civil:
A responsabilidade civil por Abrange uma indemnização assente num facto ilícito e
factos ilícitos (ou culposo (ex: 483 CC).
Quanto ao
responsabilidade subjetiva)
facto
A responsabilidade civil Abrange factos de verificação independente da culpa
pelo risco (ou (ex: 502 CC).
responsabilidade objetiva
Quanto ao Abrange todo o tipo de prejuízo de natureza
dano A responsabilidade civil por patrimonial, ou seja, suscetível de quantificação
danos patrimoniais pecuniária e, por via de regra, apoiado em documentos
de suporte, muitas vezes de natureza meramente
contabilística (ex: 483 CC).
São suscetíveis de reparação, concretizada no valor
patrimonial do dano.
Abrange aquele tipo de prejuízo que, por natureza, é
insuscetível de quantificação pecuniária – não existem
documentos de suporte e o prejuízo corresponde a um
A responsabilidade civil por
valor imaterial cuja determinação oferece alguma
danos não patrimoniais (ou
relativa dificuldade.
morais)
São suscetíveis de compensação, ou seja, estes danos
são mais difíceis de indemnizar por ia de uma
compensação, traduzida numa aproximação simbólica
ao valor imaterial do dano.
Quanto à A responsabilidade civil a A lei refere-se a esta matéria no âmbito do cálculo da
título de danos emergentes indemnização ao mencionar que o dever se indemnizar
extensão da
lesão compreende não só o prejuízo causado – os danos
A responsabilidade civil a emergentes – como os benefícios que o lesado deixou
título de lucros cessantes
de obter em consequência da lesão – os lucros
cessantes (ex: 564 CC)
Quanto aos Responsabilidade civil Reporta-se a uma única pessoa. Só um sujeito –
sujeitos individual devedor – se encontra perante um dever de
indemnizar.
Pressupõe que várias pessoas respondam pela
Responsabilidade civil obrigação de indemnização.
solidária A solidariedade tem como consequência o direito de o
credor exigir de qualquer dos devedores toda a
prestação ou parte dela, proporcional ou não à quota
do interpelado. Mas, se exigir judicialmente a um deles
a totalidade ou parte da prestação, fica inibido de
proceder judicialmente contra os outros pelo que ao
primeiro tenha exigido.
A obrigação é solidária quando cada um dos devedores
responde pela prestação integral e esta a todos libera,
ou quando cada um dos credores tem a faculdade de
exigir, por si só, a prestação integral e esta libera o
devedor para com todos eles (ex: 512 CC).
Para que a obrigação de indemnizar seja solidária, além
de existirem vários devedores, tem a mesma de
resultar ou da lei ou da vontade expressa das partes
neste sentido (ex: 513 CC).
• Normas preventivas:
o Registo de normas sancionatórias assenta em normas jurídicas que
consubstanciam verdadeiras normas sancionatórias.
o São sanções destinadas a evitar violações do direito, que revestem natureza
preventiva.
o Este tipo de normas, apesar de pressuporem a existência de um incumprimento
ou de uma violação do direito, pretendem reagir face a esse incumprimento
limitando a possibilidade de ocorrência de situações futuras equivalentes.
• Normas punitivas:
o Prevê a realização de uma punição pela ocorrência de um comportamento
proibido e, com este sentido, ofensivo do direito.
o Como consequência de um comportamento ilegal, traduzido numa ação ou
numa omissão violadora do direito, o sistema normativo dispara as armas que
possui no seu arsenal de instrumentação jurídica.
o Existem normas sancionatórias de natureza punitiva inseridas noutros
domínios. São várias as situações que a lei contempla neste domínio, podendo
referir-se a 3:
§ Remoção do tutor:
• Permite ao tribunal remover a tutela se houver incumprimento
dos deveres próprios do cargo ou inaptidão para o seu exercício
e ainda por facto superveniente à investidura no cargo que
implique alguma das situações que impediriam a sua
nomeação.
§ Incapacidade sucessória (ou incapacidade por indignidade ou por
motivo de indignidade sucessória):
• Permite ao tribunal afastar os hereros, ou seja, as pessoas com
capacidade sucessória no interior das classes sucessíveis, caso
se verifique um dos motivos graves que podem justificar o seu
afastamento como:
o Condenação por um homicídio doloso, ainda que não
consumado, ou por crime de denuncia caluniosa ou
falso testemunho praticados contra o autor da
sucessão ou contra o cônjuge, descendente,
ascendente adotante ou adotado.
o Indução do autor da sucessão a fazer, revogar,
modificar ou a impedi-lo de realizar o testamento;
o Subtração, ocultação, inutilização, falsificação ou
supressão do testamento, antes ou depois da morte do
autor da sucessão, ou o aproveitamento de algum
desses factos.
§ Remoção do cabeça-de-casal (ou cargo de cabeça-de-casal):
• Permite ao tribunal remover o cabeça-de-casal, que é aquele a
quem incumbe a administração da herança até à sua liquidação
e partilha, sem prejuízo das demais sanções que no caso
couberem se forem praticados atos que revelem
incumprimento dos deveres próprios do cargo ou inaptidão
para o seu exercício como:
o Ocultação dolosa da inexistência de bens pertencentes
à herança ou de doações feitas pelo falecido, bem
como a denuncia dolosa de doações ou encargos
inexistentes;
o Não administração do património hereditário com
prudência e zelo;
o Não incompetência para o exercício do cargo;
1) A origem do conceito
Historicamente, o ordenamento jurídico baseava-se no enquadramento dos sujeitos titulares
de direitos e obrigações face à legislação vigente no direito romano. No século XIX surgiu na
Alemanha a Escola das Pandectas que se apoiava na interpretação da norma jurídica buscando
a finalidade almejada pelo legislador no momento da tipificação e regulamentação do facto
social. Foi por meio desta filosofia que surgiu o conceito de relação jurídica.
O Código Civil Alemão serviu de inspiração à elaboração atual do Código Civil Português.
A partir daí, o Direito passou a ser observado sob o prisma da relação jurídica como meio de
formação de direitos e deveres entre sujeitos.
O nosso Código Civil está estruturado em 5 livros:
a. Noção
Para a compreensão do conceito “relação jurídica” é necessário olhar para 3 teorias explicativas
do fenómeno:
A relação jurídica decorre da lei e estabelece direitos e obrigações para aqueles que intervêm
nessa relação. Para que exista a relação jurídica carece de 2 requisitos:
Ideias-Chave
Relação Relação da vida social em que são intervenientes 2 ou mais pessoas
Intersubjetiva e que formam as partes intervenientes – ou uma parte de cada lado
corresponde a um único sujeito ou vários sujeitos integram a mesma
parte (ex: comprador-vendedor).
Vínculo Vínculo que une as pessoas que intervêm na relação jurídica em
Específico torno de um determinado interesse e que as coloca em campos
opostos – a uma parte há-de corresponder a um direito subjetivo que
terá como contrapartida a correlativa obrigação jurídica relativa à
outra parte.
Facto jurídico Facto social que adquire significado jurídico, cujos efeitos
encontram hipoteticamente previstos e são veiculados pela lei –
implica a inclusão da relação na norma jurídica abstrata e a
caracterização tanto do direito subjetivo como da obrigação jurídica
como fenómeno abrangidos e regulados pelo Direito.
Assim, relação jurídica é “toda a relação da vida social regulada pelo Direito e que consiste
na atribuição a um sujeito de um direito subjetivo e na adstrição de outro sujeito a uma
vinculação jurídica”.
b. Estrutura
Tem 3 componentes:
• Sujeitos da relação jurídica - Relação entre homens e mulheres onde cada qual possui
uma situação jurídica própria, consistente na posição que ocupa na relação jurídica
como titular de direitos e deveres.
Situação jurídica ativa Posição de agente portador do direito subjetivo. É o credor da prestação ou
da obrigação principal. É o beneficiário principal da relação, o titular do
direito subjetivo.
Sujeito ativo jurídica Posição do possuidor de um dever jurídico. É o titular do dever jurídico, é
passiva aquele sobre quem recai a obrigação de cumprimento. É o devedor da
prestação principal.
• Objeto da relação jurídica – é a força motriz da relação. A relação jurídica gira em torno
do seu objeto, podendo reportar-se às coisas e às prestações sobre as quais recai.
c. Classificação
A relação jurídica pode ser:
• Pública ou privada;
Utilizamos o critério dos sujeitos ou o interesse preponderante relevante para distinguir a
relação jurídica pública da privada.
• As pessoas;
• As coisas;
• Os factos jurídicos;
• O exercício e tutela dos direitos;
Cada um destes elementos permite caracterizar a relação jurídica por identificação de cada um
dos seus quatro componentes:
• Os sujeitos:
o São os intervenientes sobre os quais se estabelecem os vínculos de
atributividade e que tanto podem ser pessoais singulares ou físicas ou
indivíduos como pessoas coletivas, jurídicas ou morais.
• O objeto:
o Permite estabelecer uma distinção entre o objeto imediato e o objeto mediato
§ Objeto mediato – refere-se ao conteúdo da própria relação jurídica,
que se caracteriza pelo conjunto de direitos subjetivos e de adstrições
jurídicas (obrigações, deveres, vinculações, ónus ou encargos);
§ Objeto imediato – compreende as realidades sobre que recaem esses
mesmos direitos e adstrições (as coisas que constituem a sua parte mais
significativa e as prestações);
• O facto jurídico:
o Repousa nos acontecimentos da vida do Homem em sociedade convertendo-se
em factos jurídicos.
• A garantia:
o Caracteriza a relação jurídica no plano do exercício e tutela dos direitos.
o Aponta para a importância do sistema de heterotutela, da tutela pública ou
tutela judicial propriamente dita, por contraposição ao sistema da aututela, da
tutela privada ou da “vindicta privativa” do Direito.
o Contempla exceções no que diz respeito à tutela do direito, que o próprio
ordenamento jurídico ressalva e tipifica através da lei:
§ Legítima defesa;
§ Ação direta;
§ Estado de necessidade;
Nestes casos permite-se o recurso à própria força desde que não seja possível, em tempo útil,
recorrer aos meios coercitivos normais, os tribunais e as autoridades judiciárias, e contanto
que os meios empregues não sejam desproporcionados ou excessivos face aos fins em vista
permitidos pelo legislador.
a. As pessoas singulares
a. Personalidade Jurídica
As pessoas singulares, pessoas físicas ou individuais são os principais sujeitos da relação
jurídica e correspondem à própria essência e dignidade do Homem. Toda a pessoa, após o
nascimento completo com vida, adquire personalidade jurídica (art.66 CC), a qual apenas cessa
com a morte (art. 68 CC).
A personalidade jurídica é uma qualidade atribuída pelo Direito que consiste na suscetibilidade
de ser titular de direitos e de estar adstrito a vinculações. Esta acarreta um conjunto de direitos
que são uma sua consequência – direitos de personalidade que correspondem à Iª geração de
direitos fundamentais, que se encontram disseminados na lei, e que compreende:
• Direitos;
• Liberdades;
• Garantias pessoas;
Os direitos de personalidade são direitos:
• Absolutos – lhes cabe uma proteção erga omnes, pois todos impõem um dever geral de
respeito;
• Imateriais – por natureza, não tendo qualquer relevo físico. Não têm valor patrimonial
e são passíveis de quantificação pecuniária;
• Indisponíveis – o seu titular não pode de eles dispor livremente e não podem ser
cedidos por qualquer forma;
• Intransmissíveis – o seu titular não pode de eles dispor em vida ou após a sua morte,
uma vez que, entretanto, se extinguem;
• Irrenunciáveis – não permitem ao seu titular rejeitar as suas responsabilidades ou
abdicar de qualquer dos direitos que lhe estão conferidos;
Está consagrada na lei uma tutela geral da personalidade que é substanciada em 4 vias
principais:
• É conferida proteção normativa aos indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça
de ofensa à sua personalidade física ou moral;
• Mesmo depois de cessar a personalidade por força da morte, os direitos de
personalidade continuam a merecer proteção jurídica adequada;
• Não pode haver limitação voluntária dos direitos de personalidade, sendo a mesma
revogável, e, se for contrária aos princípios da ordem pública, é nula;
• Existe responsabilidade civil geradora da obrigação de indemnizar pelos prejuízos
causados devido a ofensas ou violações destes direitos, em termos gerais e em termos
especiais;
b. Capacidade jurídica
Do conceito de personalidade jurídica deriva um aspeto quantitativo e que se prende com a
maior ou menor capacidade de exercício dos direitos de que se é titular: a capacidade jurídica.
As pessoas só podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposições em
contrário, se tiverem capacidade jurídica.
Esta noção é específica das pessoas singulares e é uma capacidade jurídica genérica, já que
abrange todos os direitos e vinculações reativos a quaisquer relações jurídicas, para usar a
expressão legal própria.
Assim, a capacidade jurídica permite separar a sua análise em 3 categorias diferentes:
• De formas de suprimento:
o São as vias de atuação estabelecidas pelo Direito com vista ao efetivo exercício
dos direitos e cumprimento das vinculações do incapaz.
o Admite formas diferentes quanto ao grau de variação da incapacidade que
implicam:
§ A assistência – nos casos de menor gravidade. É a forma de suprimento
dos inabilitados. Ex: como o incapaz pode agir pessoalmente, mas não o pode
fazer de forma livre, que permite ao incapaz agir pessoalmente, ainda que
tenha de se fazer acompanhar por outrem que lhe presta colaboração para o
ato.
§ A representação – nos casos de maior gravidade. É a forma de
suprimento da incapacidade dos menores e dos interditos. Ex: como o
incapaz agir através de outrem, já que não o pode fazer por si próprio e os atos
praticados pelo representante em nome e por conta do incapaz refletem-se na
esfera jurídica deste, enquanto representado.
• De meios de suprimento:
o São situações criadas pelo Direito que permitem solucionar os problemas
técnico-jurídicos resultantes da incapacidade de exercício que variam
consoante a incapacidade que pretendem suprir (ex: caso do poder paternal; caso
das responsabilidades parentais; caso da tutela).
o Os meios de suprimento da incapacidade são:
§ No caso dos menores – o poder parental, a tutela e a administração
de bens;
§ No caso dos interditos – a tutela;
§ No caso dos inabilitados – a curadoria;
As incapacidades resultam de um regime próprio que a lei prevê e podem ser de 3 tipos
diferentes:
Há uma única exceção que permite ao menor entre 16 e 18 anos a equiparação de pleno direito
à maioridade por via do casamento – emancipação.
A emancipação atribui ao menor a plena capacidade de exercício de direitos, habilitando-o a
reger a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior. A emancipação só
pode ter lugar por via do casamento, que é a única causa que a pode originar. O que quer dizer
que implicar a autorização dos pais, se exercerem o poder paternal, ou do tutor, podendo em
casos excecionais essa falta de autorização ser suprida pelo conservador do registo civil.
A falta de autorização dos pais ou do tutor para o casamento do menor constitui um
impedimento impediente à celebração do casamento e tem um regime sancionatório próprio.
Este regime relativamente benévolo só se aplica se o menor tiver mais de 16 aos (entre 16 e 18
anos). Se tiver uma idade inferior a 16 anos constitui um impedimento dirimente, que obsta ao
casamento da pessoa a quem respeita e implica a respetiva anulação.
Também existem exceções previstas na lei com caráter taxativo que são aquelas e não outras
que permitem ao menor praticar certos atos que se considera estarem ao seu alcance, como:
• Atos de administração ou disposição de bens que o maior de 16 anos haja adquirido por
seu trabalho;
• Negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que só impliquem despesas ou
disposições de bens, de pequena importância.
• Negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer.
Todos os demais atos que não estejam legalmente excecionados e sejam praticados pelo menor
são suscetíveis de anulação, tendo para isso legitimidade as pessoas que a lei menciona, sendo
elas:
• O progenitor que exerça o poder parental, o tutor ou o administrador de bens, até 1 ano
depois de o negócio ter sido praticado, contado a partir da data do seu conhecimento,
mas nunca depois de o menor atingir a maioridade ou a emancipação;
• Próprio menor, até 1 ano depois de atingir a maioridade ou a emancipação (contando
que o menor não usou de dolo – ou seja, não tenha agido intencionalmente com o
objetivo de enganar aquele com quem negociou fazendo-se passar por maior ou
emancipado);
• Qualquer herdeiro do menor, até 1 ano após a sua morte;
A incapacidade dos menores exige uma forma de suprimento específica, sendo esta a
representação, uma vez que pode agir de forma livre, mas não o pode fazer pessoalmente, pois
necessita de se fazer apresentar, agindo o representante em seu nome e por conta dos seus
interesses. Os meios de atuação do representante se repercutem na esfera jurídica do menor.
Os meios de suprimento adequado a ultrapassar a incapacidade de exercício são:
• O poder parental;
• A tutela;
• A administração de bens;
O termo da incapacidade dos menores, que se atinge com a maioridade ou a emancipação faz
naturalmente cessar qualquer dos meios de suprimento existentes, uma vez que o menor fica
nessa altura apto para o exercício de todos os direitos e adstrição a todos os vínculos
decorrentes de qualquer relação jurídica.
Meios de Suprimento
Determina as responsabilidades parentais a que os filhos estão sujeitos até
à maioridade ou emancipação. O seu conteúdo implica:
• Em relação aos pais – a obrigação de velar pela segurança e saúde dos
Poder filhos, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los e
Paternal administrar os seus bens, o que é sempre e unicamente determinado
pelo próprio interesse dos filhos;
• Em relação aos filhos – o dever de obediência aos pais, os quais podem
ter em conta a opinião dos filhos. Reconhecer-lhes autonomia na
organização da sua vida.
O poder de presentação dos pais compreende o exercício de todos os
direitos e o cumprimento de todas as obrigações dos filhos, excetuando os
atos puramente pessoais, aqueles que o menor tem direito de praticar
pessoal e livremente e os atos respeitantes a bens cuja administração não
pertença aos pais.
A irrenunciabilidade das responsabilidades parentais implica que os pais
não possam renunciar a este tipo de responsabilidades nem a qualquer dos
direitos que a lei especialmente lhes confere.
As responsabilidades parentais que incumbem aos pais decorrem de um
vínculo natural que se prende com o nascimento dos filhos e com a filiação
que, no caso da mãe, resulta do próprio facto do nascimento e, no caso do
pai, se presume, sendo o pai marido da mãe, ou então é estabelecida pelo
reconhecimento, nos casos de filiação fora do casamento, que tanto pode
ser originada por um ato de perfilhação ou de uma decisão judicial, como
no âmbito de uma ação de investigação da paternidade.
Todavia, existem meios de suprimento do poder paternal, ficando os pais
naturais impedidos de representarem os filhos menores:
• A tutela;
• A administração e bens;
Tutela Tem obrigatoriamente lugar em relação ao menor em 4 situações
particulares:
• Se os pais houveram falecido;
• Se os pais estiverem inibidos do poder parental quanto à regência da
pessoa do filho;
• Se os pais estiverem há ais de 6 meses impedidos de facto de exercer
o poder parental;
• Se os pais forem incógnitos;
Em qualquer uma destas situações deve o tribunal de menores promover
oficiosamente a instauração da tutela.
Os órgãos da tutela, a quem cabe o seu exercício, são um tutor e um
conselho de família, sendo esses cargos confirmados pelo tribunal de
menores, que também acompanha a sua atividade sob adequada vigilância.
O cargo de tutor deverá recair sobre a pessoa designada pelos próprios
pais ou pelo tribunal de menores.
O tutor tem os mesmos direitos e obrigações dos pais, devendo exercer a
tutela com a diligência de um bom pai de família, que é um conceito de
Direito Civil padrão utilizado como ponto de referência da conduta exigível.
Em casos em que não existem pessoas em condições de exercer tutela, o
menor é confiado à assistência pública, sendo o diretor do estabelecimento
público ou particular a exercer as funções de tutor.
Administração É obrigatoriamente instituído em 2 situações:
dos bens • Quando os pais tenham sido apenas excluídos, inibidos ou
suspensos da administração de todos os bens do incapaz ou de
alguns desses, se por outro título se não encontrar designado o
administrador.
• Quando a entidade competente para designar o tutor confie a
outrem, no todo ou em parte, a administração dos bens do menor.
O administrador é o representante legal do menor nos atos relativos aos
bens cuja administração lhe pertença e, no âmbito da sua administração,
tem os mesmos direitos e deveres do tutor. Este deve exercer a
administração também com a mesma diligência de um bom pai de família.
Formas de remoção e exoneração do tutor ou do administrador de bens
• Pela maioridade;
• Pela emancipação;
• Pela adoção;
• Pelo termo da inibição do poder paternal;
• Pelo estabelecimento da maternidade ou paternidade;
• Pelo apadrinhamento civil;
Interdição Inabilitação
Trata-se da incapacidade de que É outro tipo de incapacidade que
impede o exercício dos direitos veda o exercício dos direitos do
de todos aqueles que por individuo que pode ter na sua
anomalia psíquica, surdez-mudez origem uma anomalia psíquica,
ou cegueira se mostrem surdez-mudez ou cegueira,
O que é? incapazes de governar suas embora de caráter permanente,
pessoas e bens que não seja de tal modo grave
que justifique a sua interdição,
assim como aqueles que, pela sua
habitual prodigalidade ou pelo
abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes se mostrem
incapazes de reger
venientemente o seu património.
A inabilitação repousa no
conjunto de normas que se
dirigem à interdição, ressalvadas
algumas matérias de maior
especificidade. Por essa razão a lei
remete a título supletivo para o
regime da interdição, em relação
a tudo o que não esteja
especialmente regulado na lei.
Podem ser originadas a partir: origem baseada em razões de
• De razões de saúde que saúde como em maus hábitos de
Origem das Causas impedem, em absoluto, o vida que impedem, em absoluto,
sujeito incapaz de se o sujeito incapaz de governar
governar a título pessoal e de adequadamente os seus bens.
administrar os seus bens.
A maiores e no momento É aplicável a maiores, embora
anterior à aquisição da também possa ser instaurada no
maioridade, para impedir a momento anterior à aquisição da
obtenção da capacidade de maioridade para impedir a
exercício por parte de um menor obtenção da capacidade de
que se encontre nestas exercício por parte de um menor
A quem se aplica? condições, mantendo-se o poder que se encontre nessas
paterna ou qualquer outro dos condições. O inabilitado é
meios de suprimento do poder igualmente equiparado ao menor
paternal, quando o seu exercício e é-lhe aplicável o correspondente
não seja possível. regime no que diz respeito:
O interdito é equiparado ao • À sua incapacidade;
menor e é-lhe aplicável o • Ao suprimento da
incapacidade;
correspondente regime no que • Às exceções à
diz respeito: incapacidade, matéria já
• À sua incapacidade; abordada em momento
• Ao suprimento da anterior e para a qual se
incapacidade; remete;
• Às exceções à incapacidade;
É uma medida bastante grave, A inabilitação reveste menor
pois inibe uma pessoa (até gravidade face à interdição. É
adulta) de praticar os atos apresentada a seguir àquele tipo
correspondentes aos seus de incapacidade, quer por a
direitos e obrigações. Perde o própria lei o dizer – os fatores que
estatuto próprio de um adulto a determinam não devem ser de
tal modo graves que justifiquem a
interdição.
A inabilitação é uma medida de
relativa gravidade. Inibe uma
pessoa (até adulta) de praticar os
Gravidade atos correspondentes aos seus
direitos e obrigações, mas
reveste causas que têm menos
importância do ponto de vista
das suas consequências. A
própria lei diz que se aplica a
inabilitação se as suas causas não
forem de tal modo graves que
justifiquem a interdição.
A inabilitação apenas atinge a
incapacidade de o indivíduo gerar
convenientemente o seu
património.
Meios de Suprimento
Da Interdição Inabilitação
Tutela Curadoria
O tutor deve especialmente cuidar da saúde Os inabilitados são assistidos por um curador,
do interdito, podendo para esse efeito as cujas autorizações estão sujeitos os atos de
alienar bens deste, necessários à obtenção da disposição de bens entre vivos e todos os
receita destinada a suportar encargos, depois que, em atenção às circunstancia de cada
da devida autorização que deve ser dada pelo caso, forem especificados na sentença
tribunal. definitiva de inabilitação, podendo a
A relação tutelar entre tutor e tutelado cessa autorização do curador ser judicialmente
com o termo da interdição que, apesar de suprida.
assentar numa sentença que determina a A figura do curador é mencionada na lei em
interdição definitiva, não tem diferentes conteúdos:
necessariamente efeitos perpétuos no • Curador;
tempo. • Curador provisório;
• Curador definitivo;
A relação cautelar entre curador e curatelado
cessa com o termo da inabilitação que,
apesar de assentar numa sentença que
determina a inabilitação definitiva, não tem
necessariamente efeitos perpétuos no
tempo.
2) Pessoas coletivas
As pessoas coletivas, pessoas morais ou pessoas jurídicas são uma ficção do Direito resultando
de uma técnica de personificação jurídica que permite a criação de entes coletivos constituídos
por várias pessoas singulares, para assumirem funções sociais e atingirem determinados
objetivos e finalidades melhor alcançados através de grupos de indivíduos.
A pessoa coletiva distingue-se da soma dos seus membros, uma vez que tem uma
individualidade jurídica própria. É usual distinguir-se face à pessoa coletiva:
• Personalidade jurídica;
• Capacidade jurídica;
As pessoas coletivas encontram o seu campo de regulamentação inicial na lei civil que começa
por estabelecer disposições geral aplicáveis a diferentes tipos de pessoas coletivas:
• Associações que não tenham por fim o lucro económico dos seus associados;
• As fundações de interesse geral;
• As sociedades;
Na sua estrutura enquadra-se separadamente:
• As associações;
• As fundações;
• As associações sem personalidade jurídica;
• Comissões especiais;
a. Personalidade jurídica
A personalidade jurídica das pessoas coletivas varia consoante a sua espécie. Trata-se de uma
técnica de personificação que lhes confere existência e verdadeira autonomia jurídica.
Existem regras que levem à sua criação formal e que diferem consoante o tipo de pessoa
coletiva.
Personalidade Jurídica
Associações Fundações
Como Através de uma por escritura Pelo reconhecimento, o qual é
adquirem pública ou por outro meio individual e da competência da
personalidade legalmente admitido, desde que autoridade administrativa.
jurídica? contenham as especificações
É um ato individual e de
obrigatórias. competência da autoridade
administrativa.
São pessoas coletivas que têm por
finalidade o desenvolvimento de
uma determinada atividade de
acordo com o objetivo pretendido
pelo seu instituidor.
São constituídas por escritura O regime legal aplicável à instituição
Forma pública ou por outro meio da fundação e à sua revogação
específica legalmente admitido, devendo implica que estas pessoas coletivas
constatar dessa escritura podem ser instituídas por ato entre
determinados elementos (ex: ato de vivos ou por testamento, valendo
constituição da associação; os como aceitação dos bens a elas
estatutos; as suas alterações). destinados o reconhecimento
Relevam de modo especial 2 respetivo.
elementos nucleares da pessoa O reconhecimento pode ser
coletiva: requerido:
• Ato de constituição – elemento • Pelo instituidor;
central da pessoa coletiva e • Pelos seus herdeiros;
deve especificar os bens ou • Pelos executores
serviços com os associados testamentários;
concorrem para o seu • Pela autoridade competente;
património social, a
denominação, o fim, a sede, a As fundações são edificadas a partir
forma do seu funcionamento e de 2 instrumentos jurídicos, da
a sua duração. responsabilidade pessoal do
• Estatutos – permitem regular instituidor:
matérias como a escolha da • Ato de Instituição – serve para o
sede da pessoa coletiva; a instituidor indicar o fim da
designação dos respetivos fundação e especificar os bens
órgãos; a sua representação, que lhe são destinados;
em juízo e fora dele…; • Estatutos – podem ser lavrados
ou completados por pessoa
diversa do instituidor. Podem ser
modificados a todo o tempo pela
autoridade competente para o
reconhecimento;
Exige-se a publicação do ato de Exige o reconhecimento que é um
constituição da associação, dos ato casuístico e individual, através
estatutos e das suas alterações, do qual a autoridade administrativa
Condição de que contém as especificações competente, pressupondo a
Publicidade obrigatórias e que se encontram autorização prévia e o parecer
vertidos no instrumento público favorável de diversas entidades.
notarial, e é promovida pelo próprio O reconhecimento de uma fundação
notário, a expensas da associação. pressupõe 2 coisas:
A publicação serve para provocar a • O fim da fundação considerado
produção de efeitos jurídicos em de interesse social relevante;
relação a terceiros. • Suficiência de bens afeitos à
fundação face à necessidade de
prossecução da sua finalidade
social;
As associações podem ser criadas As fundações podem ser criadas por
Duração por certo período de tempo ou por certo período de tempo ou por
tempo indeterminado. tempo indeterminado.
As causas extintivas das associações As causas extintivas das instituições
são mais amplas e reguladas na lei: são:
Causas extintivas automáticas: Causas extintivas automáticas:
• Uma deliberação da assembleia • Decurso prazo, se tiverem sido
Causas de geral nesse sentido; constituídas temporariamente;
Extinção • O decurso do prazo, se tiverem • Verificação de qualquer outra
sido constituídas causa extintiva prevista no ato de
temporariamente; instituição;
• A verificação de qualquer outra • Por decisão judicial que declare a
causa extintiva prevista no ato sua insolvência;
de constituição ou nos
estatutos; Causas extintivas por vontade
• O falecimento ou expressa da entidade competente
desaparecimento de todos os para o reconhecimento:
associados; b. Quando o fim se tenha esgotado
• Por decisão judicial que declare ou se haja tornado impossível;
a sua insolvência; c. Quando o fim real não coincida
com o fim expresso no ato de
Causas extintivas por decisão instituição;
judicial: d. Quando o fim seja
• Quando o seu fim tenha sistematicamente prosseguido
esgotado ou se haja tornado por meios ilícitos ou imorais;
impossível; e. Quando a sua existência se torne
• Quando o seu fim real não contrária à ordem pública;
coincida com o fim expresso no
ato de constituição ou nos
estatutos;
• Quando o seu fim seja
sistematicamente prosseguido
por meios ilícitos ou imorais;
• Quando a sua inexistência se
torna contrário à ordem
pública;
b. A capacidade jurídica
A aquisição da personalidade jurídica da pessoa coletiva implica a obtenção de capacidade
jurídica para o exercício dos direitos e para a administração a vinculações jurídicas norteados
pela finalidade subjacente à sua criação e pelo objeto ou escopo social determinado nos seus
atos constitutivos ou institutivos e respetivos estatutos.
A capacidade jurídica sujeita ao princípio da especialidade – abrange apenas os direitos e
obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins.
Estão excluídos da capacidade jurídica das pessoas coletivas:
• Os direitos e obrigações independentes dos seus atos constitutivos;
• Os direitos e obrigações vedados por lei;
• Os direitos e obrigações que sejam, por natureza, inseparáveis da personalidade jurídica
das pessoas singulares;
A questão da incapacidade de exercício, no âmbito da qual se estudam os meios e as formas de
suprimento da incapacidade, é privativa das pessoas singulares, pelo que não se coloca a
relevância do tema às pessoas coletivas.
a. As coisas
Tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas. Exclui tudo o que
esteja fora do comércio, ou seja, todas as coisas que não podem ser objeto
de direitos privados, o que inclui 2 categorias:
Noção • Os bens dominais (domínio público);
• O que, por natureza, seja insuscetível de apropriação individual;
Coisa é tudo aquilo que, estando no comércio, isto é, integrando direitos
privados e sendo suscetível de apropriação individual, pode ser objeto de
relações jurídicas.
Seguindo uma linha de evolução de importância decrescente:
• Coisas móveis ≠ Coisas imóveis
• Coisas simples ≠ Coisas compostas
Classificação • Coisas fungíveis ≠ Coisas não fungíveis
• Coisas consumíveis ≠ Coisas não consumíveis
• Coisas divisíveis ≠ Coisas indivisíveis
• Coisas principais ≠ Coisas acessórias
• Coisas presentes ≠ Coisas futuras
Frutos Benfeitorias
Os frutos seguem um regime próprio. O fruto Correspondem a todas as despesas feitas
de uma coisa tudo o que ela produz para conservar ou melhorar a coisa.
periodicamente, sem prejuízo da sua
substância.
Classificação
Podem-se classificar em: Podem-se distinguir em:
• Frutos naturais – os que provém • Benfeitorias necessárias – são as que têm
diretamente das coisas; por fim evitar a perda, destruição ou
• Frutos civis – são as rendas ou interesses deterioração da coisa;
que a coisa produz em consequência de • Benfeitorias úteis – são as que, não
uma relação jurídica e da sua utilização sendo indispensáveis para a sua
económica. conservação, aumentam, todavia, o valor
• Frutos das universalidades de animais – da coisa.
são as crias não destinadas à substituição • Benfeitorias voluptuárias – são as que,
das cabeças que por qualquer causa não sendo indispensáveis para a sua
vierem a faltar, os despojos, e todos os conservação nem lhe aumentando o
proventos auferidos, ainda que a título valor, servem para recreio do
eventual. benfeitorizante.
b. As prestações
Noção As prestações integram o objeto mediato da relação jurídica e
constituem a finalidade subjacente a uma determinada obrigação.
São as realidades sobre que recaem os direitos e as vinculações que
fazem parte e são característicos da relação jurídica, sendo aqui
analisadas na perspetiva da sua inserção no elemento objetivo das
obrigações.
Podem ter um conteúdo positivo ou negativo.
São constituídas por:
Constituição • Elementos subjetivos;
• Elementos objetivos;
• Um vínculo jurídico;
4) O facto jurídico
Corresponde aos factos juridicamente relevantes, ou seja, aos factos sociais que adquirem
significação jurídica e cujos efeitos se encontram hipoteticamente determinados na lei.
Assim, a relação jurídica tem como pressuposto um facto que adquire significação jurídica se a
lei o tem como idóneo à produção de determinados efeitos, estatuídos ou tutelado. Todo o
evento, já um acontecimento natural, já uma ação humana, converte-se em facto jurídico, se
em condições de exercer essa função. O facto origina uma relação concreta e típica entre
sujeitos determinados ou determináveis.
1. Facto jurídico
Facto jurídico ou facto jurídico em sentido amplo pode-se definir como todo o acontecimento
da vida social que é juridicamente relevante de origem natural ou humana que gere
consequências jurídicas.
O facto jurídico em sentido amplo é o facto causado pela natureza que se repercute no âmbito
jurídico. Entram apenas factos da natureza, independentes de ato humano como dado
essencial, é considerado, pois um facto jurídico.
O facto jurídico humano implica que a conduta do agente não esteja ou esteja dependente de
um certo estímulo subjacente à realização de uma pretensão como consequências jurídicas.
Pode ser:
Voluntário Involuntário
Corresponde ao ato jurídico em sentido É aquele que acarreta consequências
amplo, que abrange o ato jurídico em sentido jurídicas (facto jurídico), mas que são alheias
restrito e o negócio jurídico. à vontade do agente.
• Ato jurídico em sentido restrito – se Consubstancia um facto jurídico stricto sensu.
objetiva a mera realização da vontade do
agente (produz feitos que a lei prevê);
• Negócio jurídico – se procura criar
normas para regular o interesse das
partes, harmonizando vontades que, na
aparência, surgem como antagónicas (ex:
contrato);
O facto jurídico humano é um facto jurídico
voluntário se os efeitos jurídicos gerados são
os desejados e esperados pelo agente.
O facto jurídico em sentido restrito diverge do ato jurídico ou do ato jurídico em sentido amplo
Distingue-se do ato jurídico porque embora pressuponham ambos a
produção de efeitos jurídicos:
Ato jurídico/ • O facto jurídico é um facto involuntário, não depende da vontade
Ato jurídico humana;
em sentido • O ato jurídico é um facto voluntário quanto à sua origem e quanto aos
amplo seus efeitos.
Pode classificar-se em ato jurídico em sentido restrito ou em negócio
jurídico.
O ato volutivo é irrelevante porque os efeitos advêm automaticamente da
lei, logo o efeito jurídico alcançado não é perseguido pelo agente.
O ato jurídico em sentido amplo é aquele que, decorrente da vontade
humana, produz efeitos jurídicos. Trata-se de duas vontades distintas:
• Corresponde ao facto jurídico em sentido restrito porque diz respeito
ao comportamento a realizar;
• Corresponde ao ato jurídico porque refere-se diretamente aos efeitos
jurídicos produzidos e à possibilidade de modificação ou de
determinação da repercussão jurídica que determinado ato irá sofrer.
Pode classificar-se em ato jurídico em sentido restrito ou em negócio
jurídico.
Negócio O ato jurídico em sentido restrito diferencia-se do negócio jurídico no que
Jurídico diz respeito à vontade do agente, que não pode modificar os efeitos
jurídicos previstos na lei.
Os efeitos são o resultado principalmente da manifestação de vontade do
agente. A decisão de celebração de um negócio jurídico ou de um contrato.
2. Ato jurídico
Os atos jurídicos ou atos jurídicos em sentido amplo subdividem-se em:
Derivam do comportamento humano, nos quais os efeitos jurídicos
Ato jurídico em estão fundamentalmente previstos na lei.
sentido estrito A manifestação de vontade não fica subordinada ao campo da
autonomia privada do agente, pois o agente não possui faculdade de
moldar os efeitos que a sua manifestação de vontade irá produzir.
Apenas se efetiva o pressuposto fático contido na norma jurídica.
Negócios jurídicos Condicionam os seus efeitos jurídicos, principalmente à livre
manifestação de vontade das partes.
Os negócios jurídicos recebem na nossa lei uma contextualização
própria e que se aplica por definição, a título subsidiário, aos atos
jurídicos.
3. Negócio Jurídico
É um facto jurídico voluntário, constituído por uma ou mais manifestações de vontade,
dirigidas à produção de certos efeitos jurídicos.
É o resultado de duas ou mais declarações de vontade, de sentido contrário, que estipulam
diferentes consequências jurídicas, realizadas por diferentes sujeitos de direito no âmbito de
uma determinada relação jurídica e no exercício da autonomia da vontade das partes.
O seu fundamento é a manifestação de vontade das partes, isto é, dos sujeitos intervenientes
numa relação jurídica.
Trata-se de um domínio que é típico do direito privado e que determina a validade de todo o
comportamento humano caso não colida com uma proibição de comportamento de natureza
legal.
5. Principal ≠ acessório
Principal Acessório
Existe por si mesmo e independentemente Está subordinado a um outro negócio
de qualquer. jurídico, perante o qual se encontra numa
posição de dependência formal.
Nulidade Anulabilidade
Determina que esta seja invocável Determina que esta seja arguida
Noção a todo o tempo. Do ponto de vista apenas durante um determinado
da legitimidade para pedir a período de tempo correspondente a 1
declaração de nulidade, por fazê-lo ano, contando a partir do momento
qualquer interessada e pode ser em que ocorra o vício que lhe serve de
declarada oficiosamente pelo fundamento, embora, se a lei o
tribunal sem dependência de entender, possa ser imposto um prazo
arguição pelas partes interessadas. diferente.
Trata-se de uma forma de Findo o prazo destinado a arguir a
invalidade de grande gravidade e anulabilidade do negócio jurídico
permite a sua invocação por
qualquer pessoa e ao longo de um convola-se e, para a ordem jurídica,
período indeterminado de tempo, passa a ser irremediavelmente válido.
bem como não pode ser sanada A anulabilidade por via de confirmação
por via de confirmação. implica a possibilidade de confirmação
do negócio realizado, mesmo que
tenha por fundamento um vício que
conduza à sua invalidade que é sanado
como se tratasse de um negócio válido.
A conformação compete à pessoa a
quem pertencer o direito de anulação
e tem também eficácia retroativa.
Tem um efeito retroativo, ou seja, Tem um efeito retroativo, ou seja,
retrocede no tempo até ao retrocede no tempo até ao momento
momento da prática do ato ou do da prática do ato ou do negócio
Quanto aos negócio jurídico, apagando todas jurídico, apagando todas as
as consequências que o mesmo consequências que o mesmo tenha,
seus efeitos
tenha, desde então, produzido. desde então, produzido.
Deve ser restituído tudo o que
tiver sido prestado ou, se a
restituição em espécie não for
possível, o valor correspondente.
Pode haver lugar à redução.
4) A garantia
Refere-se à necessidade de tutela dos direitos e cumprimento dos deveres junto dos órgãos
competentes que, num Estado de Direito, apenas podem ser os tribunais.
No nosso sistema, de heterotutela do direito, está vedado o recurso à própria força ou à
autotutela, em que a vontade se faz não da parte de quem tem razão, mas do lado do mais forte.
O ordenamento jurídico tem regras de funcionamento que conduzem à validade do Direito e
à subsistência da própria sociedade e que não se compadecem com um sistema de tutela
privada, de vingança da vítima ou de lei imposta pelo mais forte.
Impõe o estudo da garantia a análise dos limites quanto ao exercício dos direitos a propósito de
2 áreas:
• A proibição do abuso do direito e Colisão de direitos;
• Situações excecionais de tutela dos direitos:
o Ação direita;
o Legítima defesa;
o Estado de necessidade;
2. Legítima Defesa
Ato de afastar qualquer agressão atual e contrária à lei contra a pessoa ou património do
agente ou de terceiro, desde de que não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo
causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
Exige:
• Que esteja em causa a necessidade de recurso à força para realizar ou assegurar a
proteção da pessoa ou do património do próprio agente ou de terceiro;
• Que a conduta revista um caráter preventivo e ao mesmo tempo anterior à
consumação do prejuízo que se pretende evitar, já que reporta a um momento em
que ainda é possível afastar uma determinada agressão em curso;
• Que o recurso à força se torne indispensável pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais;
• Que a ação do agente se torne irremediável no sentido de poder unicamente visar
afastar uma agressão que é em si mesma considerada ilícita;
• Que deve ser respeitado um critério de ponderação ou de razoabilidade inerente à
conduta do agente e que implica que não ultrapasse a medida do necessário para
evitar o prejuízo que pretende evitar;
Assim, a defesa só é considerada legítima se os meios e os instrumentos utilizados forem
proporcionais à agressão sofrida.
Se houver excesso de defesa está-se além da legítima defesa e isso não afasta já a ilicitude do
facto. Nesse caso, o ato apenas se considera justificado, mesmo havendo excesso de legítima
defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.
3. Estado de Necessidade
Ação destinada a destruir ou a danificar qualquer coisa alheia com o fim de remover o perigo
atual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro.
O estado de necessidade pode ser praticado em proveito próprio ou de terceiros. Não é passível
de censura, por dele estar excluída a ilicitude do facto por si praticado, nem é suscetível de
responsabilização do ponto de vista do ressarcimento dos prejuízos causados.
O estado de necessidade só pode ser alegado se a situação do perigo não for provocada pelo
próprio indivíduo ou não for por ele prevista.
Exige:
• Que esteja em causa a necessidade de recurso à força para realizar ou assegurar a
proteção da pessoa ou do património do próprio agente ou de terceiro;
• Que a conduta revista um caráter preventivo e ao mesmo tempo anterior à
consumação do prejuízo que se pretende evitar, já que reporta a um momento em
que ainda é possível afastar uma determinada agressão em curso;
• Que o recurso à força se torne indispensável pela impossibilidade de recorrer em
tempo útil aos meios coercivos normais;
• Que a ação do agente se torne irremediável no sentido de poder unicamente de
permitir destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover um perigo;
• Que a ponderação dos interesses em jogo determina a existência de um potencial
prejuízo manifestamente superior ao prejuízo consubstanciado na destruição ou
danificação da coisa alheia;
• Que deve ser respeitado um critério de ponderação ou de razoabilidade inerente à
conduta do agente e que implica que não ultrapasse a medida do necessário para
evitar o prejuízo que pretende evitar;
O agente enquanto autor da destruição ou do dano é obrigado a indemnizar o lesado (dono
da coisa alheia) pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por culpa exclusiva. Ou então
o tribunal pode fixar uma indeminização equitativa e condenar nela não só o agente, como
aqueles que tiraram proveito do ato ou contribuíram para o estado de necessidade.