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Introdução ao Estudo

do Direito II
Prof. Esp. Bruno Arraes
Conceito e divisão do direito
• Conceito de Direito: 4. Distinção entre "Ser" e "Dever Ser":
1. Mundo natural vs. Mundo jurídico.
1. Natureza Social do Homem: 2. Fenômenos naturais sujeitos a leis físicas,
1. Ser social, vive em grupos. imutáveis.
2. Convivência requer ordem e regras de 3. Mundo jurídico é o "dever ser", permite
conduta. escolha de conduta.
3. Restrições necessárias para limitar
atividades individuais. 5. Ciência do "Dever Ser":
1. Direito é a ciência que trata do "dever ser".
2. Objetivo do Direito: 2. Caracteriza-se pela liberdade na escolha de
1. Estabelecer regras para a vida em conduta.
sociedade.
2. Ordem jurídica define limites individuais. 6. Conclusão:
3. Permite coexistência harmoniosa. 1. Direito é a base das regras que possibilitam
a coexistência social.
3. Diversidade de Conceitos: 2. Enfoca o "dever ser" e molda a conduta em
1. Falta de consenso sobre a definição de sociedade.
direito.
2. Definição de Radbruch: "Conjunto de normas
que regulam a vida social."
Distinção entre o direito e a moral
1. Compreensão da Ética: 1. Nem tudo moral é jurídico, mas o direito é uma parte
da moral.
1. Conjunto de normas que inclui tanto as regras 2. Comparação de Bentham com círculos concêntricos.
jurídicas quanto as morais.
2. Conversão de Normas Morais em Jurídicas:
2. Similaridades entre Normas Jurídicas e Morais: 1. Tendência de normas morais tornarem-se jurídicas.
1. Ambas são regras de comportamento. 2. Exemplos: dever do pai proteger o filho, indenização
por acidentes de trabalho, aviso prévio.
2. Influenciam a conduta das pessoas.
5. Diferença Principal nas Regras Morais e Jurídicas:
3. Diferenciação Fundamental: 1. Sanção como Diferenciador:
1. Sanção: 1. A principal distinção entre regras morais e jurídicas é
1. Normas jurídicas possuem sanção imposta pelo a sanção associada.
Estado.
2. Normas jurídicas são respaldadas por força coercitiva
2. Normas morais têm sanção na consciência do legal.
indivíduo (remorso, arrependimento) sem coerção
externa.
6. Conclusão:
2. Campo de Ação:
1. Ética engloba tanto normas jurídicas quanto
1. Campo de ação das normas morais é mais amplo. morais.
2. Normas jurídicas têm foco mais restrito, apenas nas 2. Sanção e campo de ação são os principais fatores
regras coercitivas.
diferenciadores.
4. Relação entre Moral e Jurídico: 3. Normas morais podem influenciar o surgimento de
normas jurídicas.
1. Interseção e Divergência:
Direito positivo e direito natural
• Direito Positivo: • Busca uma ordem jurídica universal e eterna.

• Definição: O direito positivo refere-se ao conjunto de regras e• Enfoca: A ideia de direitos intrínsecos e inalienáveis que todos os
regulamentos legalmente estabelecidos e aplicáveis em um país e seres humanos possuem, independentemente de leis positivas.
período específicos.
• Comparação:
• Características:
• Válido e vigente num país e época determinados. • Direito Positivo: O direito positivo está intrinsecamente ligado à
• Baseia-se em leis promulgadas pelo poder competente. legalidade e à governança em uma sociedade específica. Ele varia de
país para país e ao longo do tempo, refletindo as normas que foram
• Inclui regulamentos, disposições normativas e legislação. adotadas pela autoridade legal competente. Por exemplo, o sistema
• Pode ser escrito ou não escrito. legal dos Estados Unidos difere do sistema legal da França.
• Pode ser de elaboração sistemática ou evoluir por meio de decisões
judiciais. • Direito Natural: O direito natural é uma concepção mais ampla de
justiça que pode influenciar o desenvolvimento do direito positivo. Ele
• Enfoca: A regulamentação da conduta social de um povo em um está mais relacionado aos princípios morais e à busca de um sistema
determinado contexto. de direito que seja intrinsecamente justo e humano. Por exemplo, os
direitos humanos, que são frequentemente considerados universais e
• Direito Natural: inalienáveis, têm suas raízes no conceito de direito natural.

• Definição: O direito natural refere-se a uma noção abstrata de justiça• Conclusão: Enquanto o direito positivo é o conjunto de regras
e direito, considerando princípios universais que transcendem o específicas que regem uma sociedade em um momento dado, o
contexto cultural ou temporal. direito natural é um ideal mais amplo e abstrato de justiça que
influencia a maneira como as leis são concebidas e interpretadas.
Ambos desempenham papéis cruciais na formação e evolução do
• Características: sistema jurídico.
• Representa um ideal de justiça superior e suprema.
• Baseia-se em princípios morais fundamentais.
• Não é vinculado a leis ou regulamentos específicos.
• Desenvolvimento do Jusnaturalismo: •Semelhante às normas morais, o direito natural tem a
tendência de se transformar em direito positivo ou
• Na época moderna, o direito natural evoluiu como modificar o direito existente.
jusnaturalismo.
• Princípios do direito natural podem ser incorporados ao
• Visto como uma expressão de princípios superiores direito positivo ao longo do tempo.
baseados na natureza racional e social humana.
• Exemplo de Divergência entre Direito Natural e
• Defendido por pensadores como Santo Agostinho, São Positivo:
Tomás de Aquino, doutores da Igreja e pensadores dos
séculos XVII e XVIII. • No caso de dívidas prescritas e dívidas de jogo (arts.
814 e 882):
• Hugo Grócio, no século XVI, fundou a nova Escola de • O direito positivo, conforme o artigo 814, declara que
Direito Natural, defendendo a coexistência de um direito dívidas de jogo não são obrigatórias, exceto se pagas
ideal e eterno ao lado do direito positivo. voluntariamente ou ganhas por dolo.
• O direito natural, por outro lado, pode considerar esses
• Complementaridade e Convergência: pagamentos como obrigatórios.
• Artigo 882 indica que não é possível repetir
• Não há uma contraposição direta entre direito natural e pagamentos feitos para dívidas prescritas ou
direito positivo. obrigações legalmente inexigíveis.

• Ambos tendem a convergir e inspirar-se mutuamente• Conclusão: O jusnaturalismo representa uma evolução
para alcançar ideais comuns. do direito natural na época moderna, com foco na
aplicação prática e nas relações entre o direito natural e
• O direito positivo busca realizar o ideal estabelecido pelo positivo. Essa relação não é de contraposição, mas de
direito natural. influência mútua, onde o direito positivo procura realizar
o ideal estabelecido pelo direito natural. A transformação
• O direito natural influencia o direito positivo em direção à do direito natural em direito positivo reflete a constante
perfeição. evolução das normas legais para se adequarem a
princípios morais e éticos.
• Transformação do Direito Natural em Direito
Positivo:
DIREITO NATURAL DIREITO POSITIVO

O QUE É É um direito pressuposto, sendo É definido e aplicado pelo


superior ao Estado. Estado.

VALIDADE
É válido por determinado tempo
Universal, imutável e atemporal.
e tem base territorial.

BASE
Nos princípios fundamentais, de Se fundamenta na ordem e
ordem abstrata. estabilidade da sociedade.

CARÁTER Informal. Formal.

INFRAÇÕES
O sujeito infrator não sofre
Sofre sanção jurídica.
sanção jurídica.

EXEMPLO
Direito à liberdade e à igualdade. A Constituição Federal.
Direito objetivo e direito subjetivo
• Direito Objetivo: • O direito objetivo e o direito subjetivo estão intrinsecamente ligados.

• Definição: Conjunto de normas gerais impostas pelo Estado, cujo não• O direito objetivo estabelece regras e normas gerais para a sociedade.
cumprimento pode ser coagido através da coerção.
• O direito subjetivo é a faculdade conferida às pessoas para agir de acordo com o
• Características: direito objetivo e buscar sua proteção.
• Regras legais que regem o comportamento geral.
• Exemplo: Suponhamos que existe uma norma no direito objetivo que estipula que
• Normas jurídicas (norma agendi) que guiam ações e condutas.
"todos os cidadãos têm o direito à liberdade de expressão". Isso é parte do direito
• Define o padrão de comportamento aceitável na sociedade. objetivo, pois é uma regra que todos devem seguir, garantindo a liberdade de
expressão para todos.
• Enfoca: Regras impostas pelo Estado para regular a conduta dos indivíduos.
• Agora, considerando o direito subjetivo, se um indivíduo deseja expressar sua
• Direito Subjetivo: opinião publicamente, ele possui o direito subjetivo de fazê-lo, derivado do direito
objetivo. Se alguém tentar restringir essa liberdade de expressão, o titular do
direito subjetivo pode invocar sua proteção, buscando a garantia de seu direito
• Definição: O poder que a ordem jurídica concede a alguém para agir e exigir
perante a lei.
comportamentos específicos de outros.
• Conclusão: O direito objetivo estabelece regras gerais para a sociedade,
• Características:
enquanto o direito subjetivo confere às pessoas a capacidade de agir de acordo
• Deriva do direito objetivo e é sua expressão prática. com essas regras e exigir comportamentos específicos de outros. Ambos os
• Oferece às pessoas a capacidade de satisfazer interesses individuais. conceitos estão profundamente interligados, com o direito subjetivo sendo a
manifestação prática do direito objetivo na vida das pessoas.
• Surge em conjunto com o direito objetivo.

• Enfoca: As faculdades individuais de agir e exigir, derivadas do direito objetivo.

• Interrelação:
Direito público e direito privado
• PERSPECTIVA ARCAICA: “Direito público é o que corresponde às coisas do Estado;
direito privado, o que pertence à utilidade das pessoas” (ULPIANO).
• Pelo critério adotado, da utilidade ou do interesse visado pela norma, o direito público
era o direito do Estado romano, o que dizia respeito aos negócios de interesse deste. O
direito privado, por sua vez, era o que disciplinava os interesses particulares, dos
cidadãos.
• PERSPECTIVA ATUAL: Não se pode, com efeito, dissociar o interesse público do
interesse privado, como se fossem antagônicos, mesmo porque, na maioria das vezes,
torna-se difícil distinguir o interesse protegido. As normas não costumam atingir apenas
o interesse do Estado ou do particular, mas entrelaçam-se e interpenetram-se.
Destinam-se elas, em sua generalidade, à proteção de
todos os interesses. Os dos particulares são também de natureza pública, tendo em
vista o bem comum, e vice-versa.
• Critério finalístico: assenta-se no direito jurídico tutelado. são de direito público as normas
em que predomina o interesse geral; e de direito privado as que visam atender imediatamente
o interesse dos indivíduos. Tal teoria constitui uma revivescência da distinção romana e ignora
que toda norma tem um escopo geral, ainda quando posta a serviço dos interesses particulares,
e, principalmente, que certas normas de interesse geral inserem-se no direito privado, como as
concernentes ao direito da família, por exemplo.
• Teoria do ius imperium: o direito público regula as relações do Estado e de outras entidades
com poder de autoridade, enquanto o direito privado disciplina as relações particulares entre si,
com base na igualdade jurídica e no poder de autodeterminação. Objeta-se que, no entanto,
todos são iguais perante o direito. Ademais, no direito privado também há relações jurídicas de
subordinação, como, por exemplo, as existentes entre pai e filhos, entre curador e curatelado
etc.
• DIREITO PRIVADO:
 Direito civil
 Direito comercial
 Direito agrário
 Direito marítimo Estes últimos, apesar de conterem um expressivo elenco de normal
 Direito do trabalho públicas, conservam a natureza privada, uma vez que tratam das
relações entre particulares em geral. Registre-se, no entanto, a
 Direito do consumidor existência de corrente divergente que os coloca no elenco do direito
 Direito aeronáutico público, especialmente o direito do trabalho.
• DIREITO PÚBLICO:
 Direito constitucional
 Direito administrativo
 Direito tributário
 Direito penal
 Direito processual (civil e penal)
 Direito internacional (público e privado)
 Direito ambiental
• Normas de ordem pública são as cogentes, de aplicação obrigatória. São as que se
impõem de modo absoluto, não sendo possível a sua derrogação pela vontade das partes.
Normas de ordem privada são as que vigoram enquanto a vontade dos interessados não
convencionar de forma diversa, tendo, pois, caráter supletivo.
• No direito civil predominam as normas de ordem privada, apesar de que, existam também normas
imperativas, de ordem pública, em elevada proporção, no direito de família, no das sucessões e
nos direitos reais. As normas supletivas são encontradas principalmente no direito das obrigações,
sendo aplicadas na ausência de manifestação das partes
Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB)
• Conteúdo e função: A vigente Lei de Introdução ao Código Civil (Dec.-Lei n. 4.657,
de 4-9-1942), atualmente denominada Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (Lei n. 12.376, de 30-12 2010), revogou a antiga, promulgada
simultaneamente com o Código Civil, substituindo-a em todo o seu conteúdo.
• Em 2010 tinha dezenove artigos, enquanto em 1942 continha vinte e um e, a partir
das inovações da Lei n. 13.655/2018, passou a ter trinta artigos.
• Trata-se de legislação anexa ao Código Civil, mas autônoma, dele não fazendo
parte. Embora se destine a facilitar a sua aplicação, tem caráter universal,
aplicando-se a todos os ramos do direito. Acompanha o Código Civil simplesmente
porque se trata do diploma considerado de maior importância. Na realidade constitui
um repositório de normas preliminar à totalidade do ordenamento jurídico nacional
CONTEÚDO DA LINDB
ESTRUTURA DA LINDB
• A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é, como o próprio nome
indica, aplicável a toda ordenação jurídica, pois tem as funções de:
• a) regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (arts. 1º e 2º),
apresentando soluções ao conflito de normas no tempo (art.6º) e no
espaço (arts. 7º a 19);
• b) fornecer critérios de hermenêutica (art. 5º);
• c) estabelecer mecanismos de integração de normas, quando houver
lacunas (art. 4º);
• d) garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo o erro
de direito (art. 3º) que a comprometeria, mas também a certeza, a
segurança e a estabilidade do ordenamento, preservando as situações
consolidadas em que o interesse individual prevalece (art. 6º). E também de
incrementar a segurança jurídica, como previsto nos arts. 20 a 30.
Fontes do Direito
• A expressão “fontes do direito” tem várias acepções. Tanto significa o poder de criar normas jurídicas quanto
a forma de expressão dessas normas. No último caso, dizem-se de cognição, constituindo-se no modo de
expressão das normas jurídicas. Nesse sentido, pode-se dizer que a lei é o objeto da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro e a principal fonte do direito.
• Podemos dizer, de forma sintética, reproduzindo a lição de Caio Mário da Silva Pereira, que fonte de direito
“é o meio técnico de realização do direito objetivo”.
• Fontes históricas: são aquelas das quais se socorrem os estudiosos, quando querem investigar a origem
histórica de um instituto jurídico ou de um sistema, como a Lei das XII Tábuas, o Digesto, as Institutas, o
Corpus Juris Civilis, as Ordenações do Reino etc. Atuais são as fontes às quais se reporta o indivíduo
para afirmar o seu direito, e o juiz, para fundamentar a sentença.
• Costume: a primeira fonte do direito, consubstanciada na observância reiterada de certas regras,
consolidadas pelo tempo e revestidas de autoridade. Trata-se do direito não escrito, conservado nos
sistemas de Common Law. Com o passar do tempo e a evolução
social, bem como a organização do Estado, o direito passa a emanar da autoridade, sob a forma de uma lei
imposta coativamente. Surge o
direito escrito, em contraposição ao anteriormente mencionado, adotado em quase todos os países do
Ocidente
Fontes do Direito
• Fontes formais: a lei, a analogia, o costume e os princípios gerais de direito (arts. 4º da LINDB
e 140 do CPC);
• Não formais: a doutrina e a jurisprudência.
• Jurisprudência: para alguns, não possa ser considerada, cientificamente, fonte formal de
direito, mas somente fonte meramente intelectual ou informativa (não formal), a realidade é
que, no plano da realidade prática, ela tem-se revelado fonte criadora do direito. Basta observar
a invocação da súmula oficial de jurisprudência nos tribunais superiores (STF e STJ,
principalmente) como verdadeira fonte formal, embora cientificamente lhe falte essa condição.
Essa situação se acentuou com a entrada em vigor, em 19 de março de 2007, da Lei n. 11.417,
de 19 de dezembro de 2006, que regulamentou o art. 103-A da Constituição Federal e alterou a
Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, disciplinando a edição, a revisão e o cancelamento de
enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal. Dentre as fontes formais, a lei
é a fonte principal, e as demais são fontes acessórias.
• Costuma-se, também, dividir as fontes do direito em diretas (ou imediatas) e indiretas (ou
mediatas). As primeiras são a lei e o costume, que por si só geram a regra jurídica; as
segundas são a doutrina e a jurisprudência, que contribuem para que a norma seja elaborada.
A lei
• A exigência de maior certeza e segurança para as relações jurídicas vem
provocando, hodiernamente, a supremacia da lei, da norma escrita
emanada do legislador, sobre as demais fontes, sendo mesmo
considerada a fonte primacial do direito. Malgrado nos países anglo-saxões,
como a Inglaterra, por exemplo, predomine o direito consuetudinário,
baseado nos usos e costumes e na atividade jurisdicional, tem-se
observado, mesmo entre eles, uma crescente influência do processo
legislativo.
• A legislação é o processo de criação das normas jurídicas escritas, de
observância geral, e, portanto, a fonte jurídica por excelência.
Principais características
• a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos, indistintamente. O seu
comando é abstrato, não podendo ser endereçada a determinada pessoa.
Essa é uma característica marcante da lei, pois perde ela essa conotação
quando particulariza o destinatário, não podendo ser assim denominada,
malgrado tenha emanado do poder competente. Todavia, não deixará de ser
lei aquela que, embora não se dirija a todos os membros da coletividade,
compreende contudo uma determinada categoria de indivíduos.
• Exemplo: O Estatuto dos Funcionários Públicos disciplina a situação jurídica
de certa categoria de pessoas sem deixar de ser lei e sem perder o caráter
de generalidade, porque não personaliza o destinatário.
Principais características
• B) Imperatividade: impõe um dever, uma conduta aos indivíduos. Não é próprio dela
aconselhar ou ensinar nem é de boa técnica formular o legislador definições, que são
obra de doutrina. A lei é uma ordem, um comando. Quando exige uma ação, impõe;
quando quer uma abstenção, proíbe.
• C) Autorizamento: é o fato de ser autorizante, segundo Goffredo da Silva Telles, que
distingue a lei das demais normas éticas. A norma jurídica, diz ele, autoriza que o
lesado pela violação exija o cumprimento dela ou a reparação pelo mal causado. É ela,
portanto, que autoriza e legitima o uso da faculdade de coagir.
Classificação
• Quanto à imperatividade, dividem-se em:
• a) Cogentes: também denominadas de ordem pública ou de imperatividade absoluta.
São mandamentais (ordenam ou determinam uma ação) ou proibitivas (impõem uma
abstenção). O art. 1.619 do Código Civil prescreve, por exemplo, que “o adotante há
de ser 16 (dezesseis) anos mais velho que o adotado”. E o art. 1.521 elenca as
pessoas que “não podem casar”.
• b) Não cogentes: também chamadas de dispositivas ou de imperatividade relativa.
Não determinam nem proíbem de modo absoluto determinada conduta, mas
permitem uma ação ou abstenção, ou suprem declaração de vontade não manifestada.
Distinguem-se em permissivas, quando permitem que os interessados disponham
como lhes convier, como a que permite às partes estipular, antes de celebrado o
casamento, quanto aos bens, o que lhes aprouver (CC, art. 1.639), e supletivas,
quando se aplicam na falta de manifestação de vontade das partes.
Classificação
• Segundo a sua natureza, as leis são:
• a) Substantivas – as que definem direitos e deveres e
estabelecem os seus requisitos e forma de exercício. São também
chamadas de materiais, porque tratam do direito material. O seu
conjunto é denominado direito substantivo, em contraposição às
leis processuais, que compõem o direito adjetivo.
• b) Adjetivas – são as que traçam os meios de realização dos
direitos, sendo também denominadas processuais ou formais.
Integram o direito adjetivo.
Classificação
• Quanto à sua hierarquia, as normas classificam-se em:

• a) Normas constitucionais – são as que constam da Constituição, às quais as demais devem amoldar-se. São as
mais importantes, por assegurarem os direitos fundamentais do homem, como indivíduo e como cidadão, e
disciplinarem a estrutura da nação e a organização do Estado. A Constituição Federal situa-se, com efeito, no topo
da escala hierárquica das leis, por traçar as normas fundamentais do Estado.

• b) Leis complementares – são as que se situam entre a norma constitucional e a lei ordinária, porque tratam de
matérias especiais, que não podem ser deliberadas em leis ordinárias e cuja aprovação exige quorum especial (CF,
arts. 59, parágrafo único, e destinam-se à regulamentação de textos constitucionais, quando o direito definido não é
autoexecutável e há necessidade de se estabelecerem os requisitos e a forma de sua aquisição e exercício.
Sobrepõem-se às ordinárias, que não podem contrariá-las.

• c) Leis ordinárias – são as que emanam dos órgãos investidos de função legislativa pela Constituição Federal,
mediante discussão e aprovação de projetos de lei submetidos às duas Casas do Congresso e, posteriormente, à
sanção e promulgação do Presidente da República e publicação no Diário Oficial da União.

• d) Leis delegadas – são elaboradas pelo Executivo, por autorização expressa do Legislativo, tendo a mesma
posição hierárquica das ordinárias (CF, art. 68, §§ 1º a 3º).

• e) Medidas provisórias – estão situadas no mesmo plano das ordinárias e das delegadas, malgrado não sejam
propriamente leis. São editadas pelo Poder Executivo (CF, art. 84, XXVI), que exerce função normativa, nos casos
previstos na Constituição Federal
Vigência da lei
• As leis também têm um ciclo vital: nascem, aplicam-se e permanecem em vigor até
serem revogadas. Esses momentos correspondem à determinação do início de sua
vigência, à continuidade de sua vigência e à cessação de sua vigência.
• Início da vigência: O processo de criação da lei passa por três fases: a da
elaboração, a da promulgação e a da publicação. Embora nasça com a
promulgação, só começa a vigorar com sua publicação no Diário Oficial. Com a
publicação, tem-se o início da vigência, tornando-se obrigatória, pois ninguém pode
escusar-se de cumpri-la alegando que não a conhece (LINDB, art. 3º)
• Revogação da lei: Cessa a vigência da lei com a sua revogação. Não se
destinando à vigência temporária, diz o art. 2º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro, “a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”.
A integração das normas jurídicas
• O legislador não consegue prever todas as situações para o presente e para o futuro,
pois o direito é dinâmico e está em constante movimento, acompanhando a
evolução da vida social, que traz em si novos fatos e conflitos. Ademais, os textos
legislativos devem ser concisos e seus conceitos enunciados em termos gerais.
• Tal estado de coisas provoca a existência de situações não previstas de modo
específico pelo legislador e que reclamam solução por parte do juiz. Como este não
pode eximir-se de proferir decisão sob o pretexto de que a lei é omissa, deve valer-se
dos mecanismos destinados a suprir as lacunas da lei, que são: a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
Analogia
• Há uma hierarquia na utilização desses mecanismos, figurando a analogia em primeiro
lugar. Somente podem ser utilizados os demais se a analogia não puder ser aplicada. Isso
porque o direito brasileiro consagra a supremacia da lei escrita. Quando o juiz utiliza-se da
analogia para solucionar determinado caso concreto, não está apartando-se da lei, mas
aplicando à hipótese não prevista em lei um dispositivo legal relativo a caso semelhante.
• Nisso se resume o emprego da analogia, que consiste em aplicar a caso não previsto a
norma legal concernente a uma hipótese análoga prevista e, por isso mesmo, tipificada. O
seu fundamento encontra-se no adágio romano ubi eadem ratio, ibi idem jus (ou legis
dispositio), que expressa o princípio de igualdade de tratamento. Com esse enunciado lógico
pretende-se dizer que a situações semelhantes deve-se aplicar a mesma regra de direito
(“quando se verifica a mesma razão da lei, deve haver a mesma solução „ou mesma
disposição legal‟”). Se um dos fatos já tem no sistema jurídico a sua regra, é essa que se
aplica
Analogia
• Para o emprego da analogia requer-se a presença de três requisitos:
• a) inexistência de dispositivo legal prevendo e disciplinando a hipótese do caso
concreto;
• b) semelhança entre a relação não contemplada e outra regulada na lei;
• c) identidade de fundamentos lógicos e jurídicos no ponto comum às duas situações
Costume
• O costume é, também, fonte supletiva em nosso sistema jurídico, porém, está
colocado em plano secundário, em relação à lei. O juiz só pode recorrer a ele depois de
esgotadas as possibilidades de suprir a lacuna pelo emprego da analogia. Daí dizer-se
que o costume se caracteriza como fonte subsidiária ou fonte supletiva.
• Difere da lei quanto à origem, posto que esta nasce de um processo legislativo, tendo
origem certa e determinada, enquanto o costume tem origem incerta e imprevista.
Distinguem-se, ainda, no tocante à forma, pois a lei apresenta-se sempre como texto
escrito, enquanto o costume é direito não escrito, consuetudinário, salvo no caso de
sua consolidação ou de recolhimento em repositórios em que possam ser consultadas.
Referências
• GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral-Volume 1. Saraiva
Educação SA, 2017.

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