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DISCIPLINA: Introdução ao Estudo do Direito Tema:2.

As ordens normativas:
Usos Sociais;
Normas Religiosas;
Normas Morais.

AS ORDENS NORMATIVAS

O Homem é um ser que vive em sociedade e não se concebe que possa viver isolado.
Somente vivendo em sociedade é que ele pode conservar a sua espécie, assegurar sua
subsistência e satisfazer as suas necessidades.
A convivência em sociedade só é possível, se existir um conjunto de princípios ou regras que
pautam as condutas humanas, que visam instituir a ordem, a paz, a segurança, a justiça e
diminuir os conflitos de interesses que surgem nas relações sociais.
Neste sentido, existem várias ORDENS NORMATIVAS que regulam a vida do Homem em
sociedade, das quais se destacam as seguintes :

1. USOS SOCIAIS
Usos sociais – são práticas geralmente admitidas numa comunidade ou em algum
dos seus sectores.
Na literatura jurídica é comum a utilização de expressões "usos convencionais", "máximas de
vida social", "normas de urbanidade", "bons modos", "regras de cortesia", "regras de decoro
social", etc., todas se referem a mesma ou quase mesma realidade.
Os usos sociais surgem de forma espontânea nas sociedades e variam de acordo com as
épocas e os Países mas em geral são numerosíssimos. A maioria dos nossos actos depende
deles.
Exemplo:
A forma de vestir é um uso,
A maneira de nos comportar com outras pessoas,
A forma de organizarmos os aspectos das nossas vidas, etc.

Com frequência os usos sociais são impostos por pressão da comunidade e a sua
inobservância é acompanhada de sanções que podem ser muito eficazes.
Ex: Expulsão do grupo social de que se faz parte, reprovação mas ou menos pública ou geral,
etc.

Estas normas impõem um dever - ser e estão como tais munidas de sanção estando porém
fora de causa a ideia de coercibilidade própria do direito.
Certos usos sociais são mais respeitados e apreciados que bastantes normas jurídicas. Houve
casos em que um uso durou séculos, contrariando todas espécies de proibições jurídicas,
morais e religiosas. Foi o caso do duelo ou desafio, que só desapareceu por volta dos anos 30
do século passado, e mais por efeito da evolução dos costumes e da mentalidade, que em

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consequência da legislação que proibia. A gorjeta é outro uso social que resistiu
vitoriosamente aos não poucos esforços que, por diversas razões, foram feitos para lhe pôr
termo.

2. NORMAS RELIGIOSAS
Refere-se às normas criadas por um Ser transcendente e ordena as condutas dos crentes nas
suas relações com Deus. Apresentam características próprias com as quais se distinguem das
demais normas sociais.
Na sua maioria são emanadas directamente pelo Deus e transcritas em bíblias e outras são
criadas pela classe eclesiástica. As primeiras referem-se a relação entre o ser humano e o
divino e as outras a organização e funcionamento das igrejas, visando a aplicação e
desenvolvimento das primeiras, por isso tem um carácter positivo. A sua violação pode
determinar a aplicação de sanções religiosas (Ex: excomunhão).

Características das normas religiosas

● Instrumentais – preparam ou tornam possível o que não pertence ao mundo terreno.

● Intra-individuais – destinam-se directa e fundamentalmente ao íntimo do homem


crente embora não deixem também de impor um certo comportamento exterior. Ex:
Pode se identificar um muçulmano ou um padre através da indumentária ou
comportamento.

● Sanções - pertencem ao foro exclusivo das igrejas e portanto são insusceptíveis de


imposição pelo Estado, dizem respeito a crença e a fé numa vida ultra-terrena na qual
cada homem receberá a retribuição da sua conduta. O remorso é também uma forma
de sanção imediata.

Subjacente e como suporte da ordem religiosa está a "ideia fundamental" da religião de que
vivemos uma vida transitória que não tem em si a medida do seu valor mas que se mede
segundo valores eternos a luz da ideia de uma vida ultra-terrena, na qual os homens serão
julgados segundo o valor ético da sua própria existência.
Não se pode dizer que as normas religiosas (por ex. o mandamento que proíbe matar ou o
preceito que impõe que amemos ao próximo como a nós mesmos estão ausentes das relações
entre os homens), tão só constituem do ponto de vista puramente religioso deveres do homem
para com Deus e não direitos dos homens uns para com os outros.
Podemos distinguir dois tipos de normas religiosas, as primeiras chamadas normas de origem
divina e normas criadas pela hierarquia eclesiástica – que regulam a organização e prática
religiosa das comunidades crentes. Dirigidas por autoridades hierarquicamente escalonadas.
As normas eclesiásticas têm carácter positivo pois são escritas pelos homens e tem em vista
aplicação e ao desenvolvimento das primeiras.

3. Normas Morais

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A norma moral pressupõe a consciência de um dever, de uma conduta que temos que
observar. Onde há moralidade dificilmente há desvios, crimes.

A sua infracção está associada a censura moral, quer dizer ao juízo de que não se fez o que se
devia, de que essa conduta é má, causando, por conseguinte, um remorso no seu autor.

O Direito e a moral se distinguem nos seguintes aspectos:


O direito caracteriza-se pela exterioridade e a moral pela interioridade.
No direito há bilateralidade e na moral unilateralidade.
O direito e a moral têm uma relação de interajuda, embora sejam distintos.

Exterioridade do Direito e interioridade da moral


O direito regula o comportamento exterior dos homens e a moral o seu comportamento
interior. A exterioridade do direito e a interioridade da moral manifestam-se ainda na forma
como as respectivas normas obrigam.
A moral exige que cumpramos o nosso dever pelo sentimento pleno do dever. O direito é
menos exigente, satisfaz-se com a conduta conforme a lei. Enfim, num caso reclama-se a
moralidade e noutro legalidade.
O Direito é ainda exterior por se concretizar numa vontade estranha imposta às pessoas que
lhe estão submetidas e, assim, envolver a nota de coercibilidade para forçar as vontades
rebeldes. Diferentemente, a moral é ainda interior por se impor as consciências mediante
adesão espontânea, como fruto da própria personalidade moral.

A moral é unilateral e o direito bilateral


A moral dirige-se ao homem e manda-lhe praticar o bem como forma de atingir a perfeição,
encara o homem não nas suas relações com o seu semelhante mas em si isoladamente. A
moral prescreve o que cada um deve fazer para atingir a perfeição e o Direito prescreve a
cada um como deve proceder no interesse dos outros.
A moral decreta só deveres, o Direito, em contrapartida dos deveres que estabelece,
reconhece direitos.

Exemplos:
A moral diz: "ama ao teu próximo" mas não diz ao próximo que: "tens direito a esse amor". O
Direito, pelo contrário, diz ao devedor: "pagar", e voltando-se ao mesmo tempo para o credor,
afirma: "tens direito a exigir esse pagamento".
A moral é norma dos deveres; o Direito é a norma dos deveres, mas também das faculdades
ou prerrogativas que se lhes contrapõem.
Relação de interajuda entre Direito e a Moral
Há, e deve haver, cada vez mais, uma interajuda entre o Direito e a Moral, no sentido de que
cada uma destas ordens normativas deve procurar fortalecer a outra sem contudo destruir o
que há de específico em cada uma.

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