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Introdução ao Direito

Em Direito, as
palavras podem ter
significados
Lei nº ... Decreto-
diferentes.
ex.: enorme -> burro Lei (DL) nº ...
Assembleia da República
Governo
(emanada) (emanado)

Não confundir
correto e justo!
ex.: Alice e Bernardo *Aluguer: Coisas móveis (carros)
são casados; Carlos e *Arrendamento: Coisas imóveis (casas)
Daniela são casados
Encontram-se à saída
de um motel, em que Acórdão
Sentença
Alice e Carlos estavam
a sair juntos e Decisão de 3 juízes
BernardoDecisão dea1 juiz
e Daniela
entrar juntos (traição). Tribunal Coletivo
Tribunal Singular
Depois desta situação
constrangedora, Crime aplicável a uma pena
Tribunal 1ª
Carlos sugere ir cada estância acima de 5 anos
um com a sua mulher
para casa. Justo? Não,
porque o Carlos já
tinha estado lá dentro Necessidade de regras
e o Bernardo e a Os seres animados, para se orientarem na vida, em princípio,
Daniela não, mas é o seguem o que os seus instintos lhes indicam. Todavia, sob
mais correto. este aspeto, podemos constatar à partida que o homem é um
ser inacabado, na medida em que – ao contrário do que
sucede com os animais – os instintos que possui não são suficientes para ele se orientar na vida.
Deste modo, precisa de regras que o conduzam na vida e que lhe digam como se deve
comportar.
Não sendo os seus comportamentos determinados essencialmente por instintos, é
precisamente nas regras que os homens encontram os modelos de orientação para as suas
condutas. A sua vida de convivência social, a realidade social, são ordenadas e disciplinadas por
regras sem as quais não consegue viver em sociedade, e até o simples modo de vestir obedece a
regras conforme as situações e as convivências sociais.
As regras dizem ao homem o que está certo ou errado, justo ou injusto, o que vale e o que não
vale, e são padrões de conduta que emanam das mais variadas instituições que representam
as estruturas da organização social em que o homem está inserido.
Contudo, as regras não têm todas a mesma natureza ou importância; conforme a sua origem
varia a força vinculativa com que se impõem.

1.1. As instituições
Desde o seu nascimento o homem encontra-se envolvido num determinado
ambiente que o rodeia e o influencia, ou seja, num contexto em que foi exposto e
que atua sobre ele. Quer dizer, o homem, desde o seu nascimento sente a conivência
humana que o rodeia. E esta convivência com outros homens acompanha-o durante
toda a sua vida, uma vez que apenas em sociedade humana consegue (sobre)viver.
Mas, para se orientar necessita, como vimos, de regras.
Estas regras emanam de “instituições”. Por esta razão, para viver em sociedade, o
homem precisa de instituições.
As instituições poderão ser definidas como conjuntos na realidade social que, como
organizações sociais, estabelecem para quem a elas pertence regras de conduta ou de
comportamento que têm carácter normativo (norma = regra) e que, ao serem
observadas, garantem a segurança nas relações entre os homens abrangidos por elas.
É precisamente nas instituições em que está inserido (familiares, educativas,
económicas, culturais, desportivas, políticas, etc.) com as suas normas próprias e
padrões de conduta com a sua grande variedade, que o homem aprende viver
regradamente em sociedade com os outros.
Muitas vezes, as regras de convivência nem sequer são sentidas, porque na consciência
das pessoas já estão completamente interiorizadas como habituais.
A primeira instituição em que o homem está inserido e começa a ser socializado é a
família, em que é exposto ao ambiente social em que começa a sua aprendizagem
do mundo.
Obviamente, também as regras ou normas jurídicas são parte da realidade social que
elas visam ordenar.
A natureza social do homem – que tanto pertence ao mundo natural como ao
mundo cultural em que nenhum dos dois se sobrepõe ao outro e que estão
interrelacionados – determina que ele tenha necessidade de estar inserido em
instituições sociais que lhe dão estabilidade, orientação e regras nas suas condutas e
que, ao mesmo tempo, o condicionam.
O homem é um ser social que evolui e se realiza na convivência com os outros,
apresentando-nos uma natureza ambivalente como indivíduo autónomo e ser social.

Por mais individualista que um homem queira ser, ele continua inevitavelmente um
ser social. A sua humanidade específica está intrínseca e inseparavelmente ligada à
sua sociabilidade e a sociedade é uma forma de vida necessária por natureza ao
homem, essencial à constituição da humanidade do homem. Por outro lado, a
conduta do homem enquanto ser social precisa de uma “ordem” que legitima a sua
atuação, de uma organização que implica a existência de regras ou normas que o
disciplinam. A necessidade de organização implica a existência de regras ou normas
que disciplinem a conduta do homem que, enquanto ser social, precisa de uma
“ordem” que legitime a sua atuação.
Os homens distinguem-se e caracterizam-se por uma extrema complexidade, por
uma individualidade derivada das vivências que a identificam, havendo assim
diferenças consideráveis entre uns e outros, dotes naturais muito desiguais,
mentalidades e comportamentos diferenciados, sendo estes comportamentos nem
sempre “racionais” e dificilmente previsíveis e muitas vezes determinados por
ressentimentos, antipatias, ou invejas e, mesmo nas relações comerciais, não apenas
por uma racionalidade económica.
Sendo assim, vemos que são as diferenças entre eles que mais caracterizam os
homens; diferenças essas que, com toda a sua diversidade e multiplicidade, em caso
algum afetam os homens na sua igualdade em dignidade e direitos (e obrigações)
decorrente da natureza humana e comum a todos os seres humanos, mas estão
perfeitamente de acordo com elas.
Na verdade, todos os homens são todos iguais como homens, têm a mesma
natureza humana, mas como indivíduos são todos diferentes.
Contudo, embora dando estabilidade e orientação às condutas dos homens, as
próprias instituições estão naturalmente sujeitas à evolução (cultural, científica,
económica, política, social). Todavia, não obstante todas estas evoluções, a família –
ou os vários modelos familiares que foram surgindo – manteve a sua função
institucional de sempre: a inserção do homem na sociedade (sua socialização
primária), a aprendizagem de viver em comunidade, ou seja, de viver num ambiente
humano.
Ordem Natural Ordem Social
Explica a natureza das coisas e Criada pelo Homem e depende da
não depende da vontade do escolha do Homem, indicando como se
Homem (pré-existente). Regula devem comportar, dando segurança e
as relações humanas a partir liberdade. Permite que o ser humano se
de uma ideia de justiça complete enquanto pessoa, uma vez
Artigo 402.º que não está biologicamente preparado
para integrar socialmente.

Ordem
Religiosa
Ordem de Ordem Ordem
Não confundir
com Direito Trato Social Moral Normativa
Canônico

Seguimos certas
regras que visam
regular o
relacionamento Visa uma Visa o Função de
do indivíduo com convivência aperfeiçoamento manter, a
a sua entidade mais interno e é partir das suas
divina. saudável, mas composta por regras, a paz
Em alguns países não acarreta valores éticos e social sendo
essas regras até sanções morais que a baseado em
são a lei (ex.: 10 jurídicas sociedade acha critérios de
mandatos na correto justiça
Religião Católica).
Exprime-se Há sanções para
através de usos e quem viola uma Vai de
Há sanções convenções regra moral (não encontro aos
divinas, como ir sociais que são jurídica), tais bons costumes
para o inferno impostas pela como: remorsos (não muda
cortesia, etiqueta e peso na mesmo que as
e moda (...) O seu consciência ideias mudem)
não cumprimento
Há normas
gera um
jurídicas que
sentimento de
encaminham para Caso a quebra da Sanções jurídicas
reprovação por ordem moral for
Tribunal pena de prisão,
Eclesiástico parte da contra uma norma pena de multa,
(julgam-se os sociedade há uma sanção trabalho de
crimes religiosos) jurídica comunidade,
(ex.: não gostar da pagamento de uma
ex.: rir num vizinha do lado e indeminização
funeral matá-la – pena de
prisão e peso na
consciência)
Características da Ordem Jurídica Normativa
1. Alteridade: Basta haver 2 pessoas para haver regras jurídicas
2. Necessidade: de regulamentar a convivência entre os humanos, ou seja,
necessidade de resolver conflitos e determinar qual interesse deve
prevalecer numa determinada questão
3. Exterioridade: o Direito só condena comportamentos exteriorizados e feitos.
Todavia, a premeditação é importante para o Direito se executado, pois é um
fator agravante de um crime (pensou em matar ou foi acidental)
4. Estatalidade: as normas provêm do Estado
- Teoria Honismo Jurídico: Estado é a única entidade que pode criar e aplicar
as normas jurídicas
- Teoria Pluralismo Jurídico: Apesar do Estado criar e aplicar as normas, não
lhe é exclusivo
5. Imperatividade: Tudo o que resulte da lei é uma ordem, ou seja, as regras
jurídicas são imperativas (ex.: até posso não pagar algo mas lido com as
consequências)
6. Coercibilidade: O que nos obriga a cumprir  a força que o Direito tem de se
aplicar se as normas não forem cumpridas (diferente de coação que pode ser
moral - chantagem, coação física - obrigar alguém fisicamente a fazer algo
contra a sua vontade e medidas de coação - prisão preventiva)
*coação = força que a própria norma tem para impedir que desrespeitem as
regras*

Ordem = Conjunto de
regras Ordem Jurídica e Ordem Moral
A interligação entre as A ordem moral é relevante do ponto de vista
duas ordens (moral e jurídico. Aquilo que é moralmente correto, hoje na
normativa) tocam-se sociedade, é diferente do que em tempos
anteriores era. Sendo assim, a moral é variável e
depende do meio onde estamos inseridos.
Posto isto, a relação entre a moral e ordem jurídica é estreita. Deve acontecer
um ajusto do Direito à moral que evolui: o legislador não deve escrever o que a
sociedade entende como certo ou errado.
Entre o conflito de uma regra moral e uma regra jurídica deve prevalecer a
regra jurídica, tal como se pode comprovar no
Artigo 8.º, n 2º No entanto, o Direito não pode
Problemática
(ninguém do Direito
pode desobedecer Justo
a uma regra jurídica desconhecer
justificando que é injusto)
a moral, caso contrário
Se uma norma O está
legislador vincula
em vigor todosàs mesmas
é justa regras.
pode surgir um conflito entre a lei em
Linhas doutrinais: vigor e as conceções morais.

Jus Positivismo Resulta da vontade/elaboração do Homem


Direito Positivo
Positivo O direito é feito pelo homem
(escrito)
(escrito) A lei é um ato de vontade do legislador
e o jurista deve aplicá-la sem fazer
juízos morais sobre a mesma
Desde a antiguidade houve sempre quem se interrogasse se acima do direito positivo,
que vigora e consta das leis, haverá́ um outro direito: o direito natural, que prevalece
sobre o primeiro e em que este encontra a sua última fonte de validade e justificação,
podendo este direito natural emergir ou da natureza ou da vontade de Deus.

Jus Naturalismo
Justiça Uma vez que o Direito se legitima pela ideia de
Direito
(igualdade) justiça, não pode ignorar a moral. Defendem,
assim, a existência do direito natural.
Alguns dizem que a fonte O direito é inalterável no que diz respeitos a
criadora é um Deus, porque determinados valores fundamentais inerentes à
não sabemos a origem, se é
natureza humana, valores esses que o direito
divina ou se é do estado
natural das coisas (é pré- positivo tem que respeitar.
existente, pois já existe antes Não precisa de estar escrito e assenta nos valores
de nós). E é supralegal, visto fundamentais como a justiça, sendo válido em
que se sobrepõe à lei e gira em qualquer parte do mundo. Surge na natureza das
volta da natureza essencial do coisas e é anterior a qualquer vontade (“é porque
homem que é comum a todos tem de ser”)
(jamais o direito positivo pode
O Direito natural por um lado serve para legitimar
estar acima)
o direito positivo e, por outro, corrige o direito
vigente com o intuito de o tornar mais justo
Na medida em que o pensamento jusnaturalista invoca a moral como alicerce do direito,
constitui a crítica da moralidade ao direito positivo. É patente que uma contradição generalizada
entre o direito positivo e as normas da moral provoca uma crise social. Em casos extremos esta
crise pode resultar numa revolução como mostra o exemplo da Revolução Francesa de 1789
fomentada por exigências jusnaturalistas fundamentadas na razão.
O pensamento jusnaturalista racionalista teve um êxito enorme nas legislações dos séculos
XVIII e XIX, nas quais ganhou a sua expressão (de maneira que a antinomia entre direito positivo
e direito natural deixou de ser sentida por muito tempo porque as leis estavam em sintonia com
o direito natural de modo que se desvaneceu a consciência de que as leis podiam ser não justas
em virtude de não respeitarem valores de justiça superiores).
O pensamento jusnaturalista acabou por ser afastado ainda no século XIX, pela Escola
histórica do direito (defendia que o direito é um fenómeno histórico que nasce do espírito do
povo, dos seus costumes, em que se manifesta e que traduz a mentalidade da respetiva
comunidade) e pelo jus-positivismo.
Devido aos atos legislativos dos regimes totalitários do século XX que cometeram violações
gravíssimas do direito (e da justiça e da moral) com as suas leis atentatórias aos valores da
humanidade, voltou a haver uma consciencialização da antinomia entre o direito positivo e os
princípios superiores de um direito natural que levou a um renascimento do jus-naturalismo.
Pode-se concluir que sempre se chama pelo direito natural e pelos seus princípios quando o
Nãopositivo
direito podeestiver
haver empositivismo extremo
crise por se ter afastado em Direito (artigo 9.º)
daquele.

“O que conta é o que está na lei. Nada mais interessa.”


Numa interpretação de uma norma jurídica não se pode simplesmente ler o
que está escrito e não considerar mais coisas. A lei deve ser sempre o ponto de
partida, mas não é o suficiente! Devemos sempre fazer um processo
interpretativo, considerando o pensamento do legislador quando fez a lei: o
processo formativo da lei é bastante importante, como por exemplo, ao aceder a
atas na Assembleia da República.
Sendo assim, o positivismo extremo é errado: deve-se interpretar a lei da
forma mais profunda possível, procurando outras realidades.

Estar obrigado a ... VS Estar moralmente


Art. 879.º obrigado a ...

Pode impor uma


sanção, pois estar
obrigado é estar Obrigação moral
juridicamente obrigado
- somos punidos

Obrigação natural
Dever que eu devia
Obrigações legais: fazer cumprir o
cumprir, mas se não
dever jurídico através de
Pode-se transformar cumprir,
em o Direito não
mecanismos legais.
me pode impor esse
cumprimento, pois não
tem legitimidade nem
Quando não é cumprido o dever,
força para o fazer.
o Direito penaliza, obrigando a
Todavia, deve ser
pagar uma sanção:
cumprido, por
Obrigação civil questões morais/éticas
Tem tutela jurídica
e judicial, ou seja,
existem mecanismos
para fazer a pessoa
cumprir, caso a
mesma não o faça
voluntariamente.

Artigo 309.º
Ex.: O António emprestou 50000€ ao Tomé que teria de devolver em 5 anos.
Passado 25 anos encontram-se e Tomé diz que lhe vai pagar, o que António acha uma palhaçada.
Vai a tribunal exigir que lhe pague o dinheiro, mas o juiz diz que já passou demasiado tempo –
prescreveu
*Se fosse pedir a Tribunal passados 20 anos, o colega tinha obrigação civil de lhe pagar, passando o
tempo já não é juridicamente obrigado (só moralmente, pois seria o mais correto – obrigação natural)
Tipologia das normas
Norma Jurídica

Norma Imperativa Norma proibitiva Norma permissiva


“Tu deves” (obrigação) “Tu não podes” “Tu podes”
Impõe a ação de um (abstenção) (pode ou não utilizar,
determinado Implica uma omissão sem sanções)
comportamento (viola a (violamos a noma fazendo Concede poderes aos
norma fazendo o que o que não se deve fazer) destinatários
não devia) ex.: Art. 1038.º alínea c/d ex.: Art. 1305.º
ex.: Art. 879.º alínea b/c *não aplicar um destino *ampla liberdade, mas
*obrigação de entregar a diferente para o qual dentro dos limites da lei*
coisa e pagar o preço* contratamos*
Formas de
resolver/cessar um contrato

1. Resolução: Alegar justa causa, um fundamento válido – pode ser legal ou


contratual – uma causa que fosse acordado no contrato e que se
acontecesse, o contrato cessava
2. Revogação: Ambas as partes acordam em cessar o contrato, com acordo
de ambas (não é necessário existir causa)
3. Denúncia: Uma das partes cessa o contrato sem precisar de justa causa,
porém tem de pré-avisar, respeitando o período de 30-60 dias (conforme o
contrato). Em suma, não precisamos de justificar, só de pré-avisar – pode
ser necessário dar tempo à casa em certos casos*
4. Caducidade: Determinado contrato tem data para o seu fim. Chegando a
essa data, o contrato caduca se não houver renovação

Qual é a diferença entre a caducidade e a revogação?


 Na caducidade, para uma lei terminar não é necessária intervenção legislativa,
ou seja, a lei caduca de forma automática – ipso facto – não é preciso que outra lei
venha dizer que a lei a caducou, a caducidade ocorre de maneira automática.
 A revogação, para existir, é necessário que uma lei seja revogada por outra. A
lei que foi revogada chamamos de lei revogada, a lei que revogou a outra,
chamamos de lei revogatória.
Ordem Jurídica
Conjunto de todas as normas jurídicas vigentes no nosso país
(Direito objetivo/Positivado – escrito)
Direito Objetivo Direito Subjetivo
Direito positivista (law) vs. (right – it’s my right)
Conjunto de leis escritas universais/normas jurídicas Direito de uma pessoa poder exigir de outrem uma determinada
num código ou diplomas legais que visam garantir a ação (ex.: prestação), desde que seja suportado numa norma
paz social, sendo que estas normas se pautam por jurídica de Direito Objetivo.
critérios de justiça. Concede poder a alguém e confia Não há Direito Subjetivo se não disser a norma do Direito
que a pessoa não vai exceder-se e abusar do poder que Objetivo que lhe dá esse direito (sem sustentação legal).
tem (Art. 334.º) *prescreve e enfraquece*
Visa manter a paz social, segurança jurídica e a justiça. Poder ou faculdade de exigir (Ter tutela judicial, ou seja,
proteção da lei), ou pretender de outrem um determinado
comportamento positivo(Fazer) ou negativo(Não Fazer);
(Direitos subjetivos propriamente ditos), ou, de per si (por si só),
unilateralmente ou apoiado numa decisão judicial, produzir
efeitos jurídicos numa esfera jurídica de outrem sem que este se
possa opor ou reagir, encontrando-se num estado de sujeição.
(Direitos potestativos)

ex.: Partem-me o telemóvel – é ilícito (artigo 1305.º - Direito à Propriedade)


Direito à indeminização – artigo 483.º
Invoca a norma do Direito Objetivo que fundamenta os meus direitos subjetivos, pois
violaram ilicitamente o meu direito (outrem)

Ilicitude: violação de direitos de outra pessoa previstos na lei


Relação jurídica: Ligação entre 2 pessoas quando é juridicamente relevante

Relação jurídica entre 2 titulares


Titular ativo: Tem um direito (credor)
Titular passivo: Tem um dever jurídico (devedor)

Tipos de relação jurídica


Simples: Temos 2 pessoas em que uma tem o direito e a outra tem o dever
ex.: dever de pagar, direito de receber
Complexas: Acontece quando de um lado temos direitos e deveres e do outro
também, ou seja, são interligados, pois os direitos de um são os deveres do outro
e os deveres do outro são os direitos da outra parte.
ex.: Carro

Comprador Vendedor
Direito: receber carro Direito: receber o €
Dever: pagar carro Dever: entregar carro
Direito Subjetivo
Direito subjetivo
em sentido amplo

Direito subjetivo em Direito Potestativo


sentido estrito Poder ou faculdade de, sozinho
Direito de cooperação, pois para o (só de per si) ou integrado por
meu direito ser cumprido é uma decisão judicial, produzir
necessário que a outra parte faça. efeitos (titular ativo) jurídicos na
Poder ou faculdade de exigir ou esfera jurídica de outrem sem
pretender de outrem um que outrem possa opor-se,
determinado comportamento ficando num total estado de
Positivo (praticar algo, “facere”) sujeição (titular passivo).
ou Negativo (abster de Ou seja, nasce havendo uma
praticar algo, “non facere”) relação jurídica. Além disso pode
- Quando exijo um comportamento caducar caso não seja exercido
a alguém é porque tem no tempo explícito na lei e
dever jurídico extingue-se depois de exercido
É impossível violar o Direito
Potestativo, porque não pode
contestar, opor-se, não tem
Constitutivo direitos nem deveres. Só pode
Pretende criar uma nova suportar os efeitos e nunca pode
relação jurídica (já existe violar o direito.
outra), não pretende
extingui-la nem modificá-la.
ex.:
A e B = relação de vizinhança

terreno Extintivo Modificativo


Uma pessoa termina uma A relação jurídica existe e
A
relação jurídica com outra uma pessoa altera os termos
mesmo que essa não queira (a da relação pré-existente
B
outra pessoa encontra-se em ex.: Beto e Marta são casados
estado de sujeição) com regime de bens de
B consegue aceder à via pública, ex.: Beto e Marta são casados. comunhão adquirida. A Marta
mas o A não consegue sem Marta trabalha muito e Beto não trabalha muito e o Beto gasta
passar pelo terreno de B. faz nada, então Marta quer o muito. A relação jurídica
A impõe a constituição de uma divórcio e Beto não quer. Não tem mantém-se, mas o regime de
servidão de passagem e o B não de querer – em tribunal, Marta bens altera-se para separação
tem hipótese – art. 1550.º invoca o seu direito potestativo de bens – ex.: art. 1568.º
Direito do A: passar extintivo para pedir o divórcio
Dever do B: deixar passar (relação jurídica: casamento)
- Nova relação jurídica
Direito Subjetivo em sentido estrito

Direito Subjetivo Relativo Direito Subjetivo Absoluto


Direitos de crédito Direito de exclusão
*curta duração, pois visam o *longa duração*
cumprimento da obrigação e O seu titular consegue realizar
extinguem-se com ele* o seu direito sem intervenção
Poder que alguém tem de exigir de outrem
de outrem o cumprimento de (direito que não caduca nem
uma prestação: coisa, serviço prescreve – art. 298.º)
ou pecuniária (monetária) ERGA OMNES = impõe-se a
Sendo assim um direito de toda a comunidade
colaboração, visto que o titular
do direito (ativo) não consegue Artigo 483.º para
Artigo 562.º (repor o dano)
ver o seu direito realizado se o
-> quem viola um direito
devedor (passivo) não colaborar
subjetivo absoluto, gera a:
INTER PARTES = impõe-se a 2 responsabilidade civil
pessoas e as restantes não se extracontratual (não há
intrometem (art. 406.º, nº2) contrato com a comunidade e
baseia-se no princípio da culpa)
Artigo 798.º -> quem viola o
No caso de um dano moral:
direito subjetivo relativo:
Artigo 496.º (compensação)
responsabilidade civil
contratual - obrigação de
indeminização (para
indemnizar é necessário que o
comportamento seja culposo,
Direito de domínio Direito de
ex.: se quando ia pagar fui
atropelado não tive culpa) Incidem diretamente sobre personalidade
alguma coisa Ligados à pessoa
(ex.: direito à propriedade: Artigo 70.º
art. 1305.º - pode ser (ex.: direito à vida,
sobre coisas materiais ou direito à imagem –
imateriais, no caso animal art. 79.º com excessão
art. 1305.º A) do art. 72.º sobre
*todos os direitos de celebridades)
domínio são absolutos*

Toda a gente tem liberdade contratual (art. 405.º), dentro dos limites da lei.
Quando o contrato com alguém cria um vínculo com outra pessoa, essa passa
a ter obrigação (art. 397.º)
Sobre o direito subjetivo absoluto:
Apesar deste ser o princípio no âmbito da responsabilidade civil
extracontratual, cada vez mais temos responsabilidade
independentemente da culpa: responsabilidade pelo risco – aquele que
exerce determinada atividade e dela retire vantagens também tem que
indemnizar pelos danos causados (princípio “ubi comanda, ibi comanda” –
quem tira vantagens de uma determinada situação também tem que arcar
com as suas desvantagens – ex.: art. 500.º e 503.º)

Exemplos do direito subjetivo absoluto:


1. Tiro o código ao Diogo. Causei-lhe um dano porque lhe roubei a
propriedade. Como é que o volto a colocar no mesmo patamar?
Devolvendo o código.
2. O Diogo bateu no meu carro. Como é que me coloca no mesmo
patamar? Reparando o meu carro.
Porém, como demora 3 meses, gastei imenso dinheiro no Uber. Como é
que me coloca no mesmo patamar? Paga as viagens também.
3. E se não for possível arranjar o carro? Se houver um carro exatamente
igual, dar esse carro (art. 562.º). Se não houver nenhum igual, dar o valor
em dinheiro que seja equivalente ao preço (art. 566.º - calcular danos do
carro + Uber + ... = pagar tudo)
Apesar de não ter ficado exatamente na mesma posição, não fiquei a
perder.

INDEMINIZAÇÃO – CAUSAR DANO

Alguém morreu no acidente. Quanto custa a vida da pessoa?


Não se consegue quantificar, logo não se pede dinheiro.
Quando não se indemniza, chamamos de compensação (danos
suficientemente graves)
Claro que a compensação não serve para a pessoa anular a dor, mas
permite compensá-la, comprando algo que lhe dê conforto.

O Direito subjetivo absoluto é de longa duração, mas há exceções:


ex.: maço de tabaco (consumo) – se fumar numa semana é de
curta duração
CULPA

Dolo Negligência
Modalidade da culpa Modalidade da culpa leve
mais grave (intencional) Não é propositado, mas
Modo de agir não teve cuidado com o
fraudulosamente com que deveria
uma pessoa ex.: Hora da sesta e estão todas
ex.: Crianças de 2 anos as crianças a dormir, então vou
sozinhos numa sala. Vou lá atender o telemóvel à porta,
fora fumar um cigarro e estando sempre a espreitar. De
abandono a sala. Acontece repente, acontece algo: não foi
algo, tenho culpa. intencional, mas não fui
cuidadosa

Mas afinal o que é a culpa?


 Imputabilidade
Entende a consequência dos seus atos

 Inimputabilidade
Não tem noção das consequências dos seus atos (menores de 7
anos)
ex.: um menino de 2 anos mata outro menino, tem culpa? Não.
Só tem culpa quem tem capacidade/maturidade de saúde para
entender que o seu ato vai causar algo grave.
Então, uma pessoa inimputável não é suscetível de culpa.

Sendo assim, para haver responsabilidade civil não basta haver


responsabilidade civil, é necessário haver comportamento culposo
(imputabilidade)
Exigir vs. Pretender
Tutela jurídica/judicial Perder tutela
Só posso impor se tiver jurídica/judicial
O Estado protege o (fora do prazo)
cidadão por um período Só se pode pretender,
de tempo para que este não se pode obrigar. Ou
possa exercer o seu seja, pode alegar que
direito e, se o fizer, o tem um direito, mas não
ordenamento jurídico pode coagir ninguém a
protege-o e dá-lhe cumpri-lo, pois perdeu a
mecanismos judiciais tutela jurídica = direito
para obrigar a outra subjetivo enfraquecido
parte = direito subjetivo (direito conferido pela
forte ordem jurídica, mas já
não tem tutela judicial)

No direito subjetivo temos uma:

Relação jurídica

Titular ativo do Titular passivo


direito subjetivo do direito
subjetivo

Dever jurídico Obrigação


Obrigação civil natural
(caso passe o prazo)
(caso passe o prazo)

Há factos jurídicos que tem consequências jurídicas: a celebração de


um contrato jurídico gera efeitos jurídicos (neste caso depende da vontade
das pessoas), a morte é um acontecimento que gera efeitos jurídicos.
Decurso do tempo

Facto jurídico
involuntário
Prescrição
O passar do tempo
Efeito jurídico (Perda da tutela
(consequência) jurídica)

Prazo ordinário da
prescrição
20 anos
Tempo para exercer
o direito subjetivo
(art. 309.º)

EXCEÇÕES
ex. 1: O Rafael deve-me 5000€ há 10 anos + juros (4%)
Eu tenho o direito subjetivo de exigir o € do capital e
juros. Passaram 10 anos, então só posso exigir os juros de
5 anos e posso apenas pretender o restante (art. 310.º)

ex. 2: Vou passar férias a um hotel, mas não quero pagar.


Quanto tempo tem o hotel para exigir o dinheiro?
- Estudantes: 2 anos (art. 317.º)
- Restantes: 6 meses (art. 318.º)
Após este tempo, o hotel tem o direito subjetivo
enfraquecido. Ou seja, durante 6 meses/2 anos tenho a
obrigação civil de pagar, passado esse tempo tenho
apenas a obrigação natural de o fazer

ex. 3: A Vodafone hoje, dezembro, mete uma ação por


não ter pago em janeiro. Pode?
Sim, mas não sou obrigada a pagar porque já passaram
mais de 3 meses, então a prescrição está do meu lado
Prescrição e caducidade são muito diferentes.

Prescrição vs. Caducidade


Aplica-se aos atos Possibilidade dada
subjetivos e caracteriza-se pela lei para exercer
por ser o prazo a partir do um direito potestativo
qual um direito deixa de num determinado
ser juridicamente exigível período. Se não for
(art. 309.º, 310.º, 316.º e exercido
317.º) Não desaparece. extingue-se por
Continua, mas fraco, sem completo/caducidade
tutela (pode passar a ser
apenas uma obrigação
natural: art. 402.º)
ex.: O Diogo deve-me Apreciação oficiosa:
5000€. Ao fim de 21 anos A Beatriz quer muito uma joia e eu
vai a tribunal. O juiz vê a
não quero dar, então ela ameaça
ação e repara que ele não
alegou a prescrição. expor fotos minhas. Acabo por dar.
Ele pode declarar? Não! O direito de pedir a anulação do
negócio é potestativo e tenho 1 ano
para anulá-lo.
Ao fim de 14 meses vou a tribunal,
o juiz vai declarar a ação extinta por
caducidade (art. 303.º) – é obrigado
a declará-lo

Lei no tempo:
- Prescrição
- Caducidade
- Usucapião: proprietário de um bem fica sem a coisa, porque outra pessoa
tomou posse dela.
ex.: O André tem um automóvel e vende à Francisca que tem 60 dias para registar e
acaba por não o fazer (a consequência seria pagar em dobro) – sendo assim, o
automóvel continua a pertencer a André. Este aproveita o facto de ter o registo em
nome dele e vende o automóvel à Carlota, que regista!
O carro é de quem? Da Carlota. Essa compra e venda devia ser nula, mas a lei castiga a
Francisca por não ter cumprido os requisitos que a lei manda. E, apesar do automóvel ser
materialmente vendido à Francisca primeiro, ela não foi cumpridora ao contrário da
Carlota, então ela fica com o automóvel (parece injusto)
O que é a justiça?
 Não há uma definição exata e objetiva de justiça.
 Porém, temos sentimentos iminentes em nós baseados em valores éticos e
morais que nos fazem conseguir identificar se algo é justo ou injusto perante
certas atitudes/relações sociais.
 Esta dificuldade de definir justiça não está só em nós, como está presente em
toda a sociedade.
 O que para nós hoje é justo, para outro país ou noutra altura pode não ser,
uma vez que o conceito de justo pode variar conforme a nossa religião, as
nossas convicções morais, determinadas visões/convicções que condicionam a
nossa perspetiva (...)
 Sendo assim, só podemos falar verdadeiramente de justiça quando falamos
de relações sociais reguladas pela lei (situações jurídicas). Os legisladores vão
à base do sentimento comum daquilo que é justo/injusto e aplicam a lei (o
Direito diz o que é justo ou injusto num contrato)

 Há situações que dizemos erradamente que são injustas, pois não foram
geradas pelo homem/ordem jurídica. São, por isso, infortúnios.

Injustiça Infortúnios
Resultam de acasos da

natureza (ex.: lugar de
nascimento, haver pessoas
mais bonitas)

As desigualdades criadas
por infortúnios não
devem ser atenuadas
pelo homem?
ex.: Uma pessoa nasce com
uma deficiência física. É
injusto? Não. Injusto é a
pessoa não estar incluída na
sociedade
A segurança e a justiça não se Fins do Direito
contrariam, complementam-se (ex.:
caso julgado – “o juiz decide e está (objetivo)
decidido”, no entanto há um prazo
de 40 dias para recurso antes da
decisão se tornar definitiva). Num
conflito entre as duas, o legislador
prefere a segurança. Segurança Jurídica
- Garantir paz social
- Proteger os cidadãos face
Justiça ≠ Arbitrariedade ao Estado
tomar decisão sem - Previsibilidade das nossas
critério, “eu quero e posso” ações = certeza jurídica (sei
Justiça luta contra o que posso e o que não
posso fazer)
- Segurança social – normas
Elementos que protegem o cidadão
lógico formais (habitação social, ...)
- Tutelar a confiança
- Imparcialidade e
independência dos
tribunais (o juiz não pode
ser condenado pela decisão
Elementos que toma) (Art. 6º)
gerais

Proporcionalidade
(reciprocidade)
Para uma medida ser
justa tem que ser Igualdade na
Impessoalidade Alteridade proporcional. Quando
aplicação da lei
Não podemos As regras jurídicas uma pessoa pratica um
Respeitar o princípio de
julgar determinada para serem justas ato para com outra,
igualdade não é tratar
situação como têm que regular as tem que repor o
toda a gente igual. Se o
sendo injusta, convivências entre equilíbrio, mas tem de
fizermos, estamos a
opinião esta as pessoas. A ideia corrigir o ato de forma
desrespeitar diferenças
resultado de de ordem jurídica é proporcional (se causei
(ex.: Todos andamos,
sentimentos de proteger as 10, não posso dar 5)
mas há debilitados. A
amizade/ódio (...) pessoas e os bens
pessoa é diferente?
porque isso vai – justiça penal Dignidade da Sim, porque se a
tornar a nossa (ex.: homicídio) pessoa humana considerarmos igual
visão corrompida. Historicamente, há vamos discriminá-la,
Temos de olhar pessoas que foram visto que é necessário
para a regra de tratadas como coisas: criar alternativas para a
forma imparcial não interessa a cor, aproximar da nossa
(ex.: juiz/senhorio) orientação (...), é realidade).
pessoa e basta – Saber que é diferente e
todos tem de ter a não fazer nada para
mesma dignidade. aniquilar é
discriminação
0
Modalidades da justiça

1. Contributiva (geral e legal)


Prevê a obrigação de toda a gente contribuir para as despesas públicas através de
impostos, taxas – obrigação de todos contribuírem para encargos comuns
Despesa pública: vivemos em sociedade, esta acarreta despesas comuns
(ex.: Estado paga escolas e hospitais e este dinheiro vem da receita e uma parte
da receita vem dos impostos)
Todavia, tem que haver proporcionalidade na prestação, pois todos devem
contribuir consoante os seus rendimentos.

2. Comutativa
Visa pôr termo a desigualdades, normalmente associada ao direito privado - as
pessoas têm direito a estar numa posição de equilíbrio para com o outro.
 Voluntária/Sinalagmática (sinalagma = prestação/contraprestação)
As vezes este equilíbrio é posto em causa por um ato lícito que causa dano a
alguém (ninguém tem direito a lesar o direito de alguém). Então, o equilíbrio
entre as pessoas resulta da vontade delas próprias, sem estarem coagidas.
O contrato é sempre um ato voluntário e resulta da vontade de ambas partes
A uma prestação de uma parte resulta uma contraprestação (dou algo para a
outra pessoa dar: art. 405.º). Ou seja, é entendido pelas duas partes como
justa e equilibrada – justiça é o que resulta da vontade livre das partes.
ex.: na compra e venda de uma coisa, uma parte tem de entregar a coisa vendida e a
outra parte tem de entregar o preço / vendo um bem a 100€ por 100€, os outros
podem achar um mau negócio, mas se as partes concordam há equilíbrio

Genético (Origem/Formação de
contratos)

Sinalagma

Funcional (Execução do
contrato)

Funcional (Eu cumpro, pq tu também cumpres)


Genético (Eu obrigo-me, pq tu também te obrigas.)
 Involuntária/Corretiva
A lei impõe a justiça, a lei manda corrigir a justiça.
O equilíbrio natural foi posto em causa e a lei vai mandar repor esse equilíbrio.
Não resulta da vontade, mas da posição da lei – art. 483.º
Ou seja, alguém que é alvo de um facto ilícito, deverá ser indemnizado pelos
danos que lhe foram causados
ex.: Indemnizar – medida corretiva por parte do legislador, obriga a repor

3. Distributiva (repartição equativa dos bens para atenuar as desigualdades)


Associada ao direito público, pois os organismos públicos repartem bens a favor
de cidadãos necessitados e merecedores de apoio
Prestação sem contraprestação – dar sem esperar algo em troca
Ex.: Pessoas demasiado novas para a reforma e demasiado velhas para trabalhar. Se
ninguém os ajudar, como sobrevivem? Gera-se uma desigualdade.
Solução: rendimento social de inserção (subsídio do desemprego dado a certas
pessoas para atingirem uma posição de igualdade), ou seja, existem prestações
sociais (ajudas económicas) com o objetivo de aproximarem a possibilidade de
chegarem a certos patamares como sobreviver e ter emprego que lhes permita
uma igualdade
*Para alimentarmos esta justiça, é necessária a justiça contributiva

 Há mais uma modalidade que ninguém sabe definir, mas é um conceito de


conotação positiva – Justiça social

Pode ser contributiva ou distributiva e tem


tendência para juridicar situações que não lhe
dizem respeito: não passa de uma falácia que leva à
cultura da vitimização e da culpabilização.

Se alguém vive num meio desfavorável, temos de melhorar: se não há


metros, criam-se autocarros = JUSTIÇA SOCIAL (aniquilar desigualdades)

ex.: A Joana não tem condições económicas e tem média de 17.


O Bernardo tem ótimas condições económicas e tem média de 17.
Não posso ajudar a Joana só porque não tem dinheiro, pois ambos lutaram e
têm mérito (média =).
Se ajudássemos quem tem pouco dinheiro, não estávamos a usar a
impessoalidade, pois estaríamos a “ativar” o nosso sentimento de caridade;
Mas: Se a Joana tivesse pouco dinheiro e média de 17 e o Bernardo muito
dinheiro e média de 14, ajudaríamos a pessoa com melhor média porque lutou
para a ter.

Do ponto de vista social devemos dar lugar à pessoa que não tem
condições, mas no fundo estaríamos a usar a cultura da vitimização, estamos
a apagar as conquistas que cada um deve ter.
A justiça social é muito perigosa por causa da vitimização: uma pessoa é
problemática, porque nasceu num meio difícil cheio de drogas e violência. Essa
pessoa mata alguém – não pode ter a sua atitude atenuada devido ao meio em
que viveu, pois quem morreu não tem culpa disso. Da mesma maneira que
alguém nasce num meio assim e se torna ladrão, há quem nasce e vire
advogado (são responsáveis por si mesmos – autorresponsabilização)

IUS STRICTUM IUS AEQUUM


Aplicação escrita e rígida da lei e (art. 4.º)
obedece ao princípio da Justiça do caso concreto
legalidade (garantia dos cidadãos (é a exceção)
perante o Estado – temos uma Aplicação maleável da lei
previsibilidade do que nos pode O legislador autoriza legalmente
acontecer, porque consultamos a o julgador (juiz) a considerar as
lei: o Tribunal não pode dar uma circunstâncias do caso em
sentença baseando-se nos factos concreto e assim, possa afastar-
sem encaixar na lei, tem de dar a se da dureza da lei e possa
sentença que a lei manda dar, encontrar uma solução legal que
não a que o juiz quer) proteja o lesado (art. 494.º -
Tudo isto pode levar a uma autoriza o juiz a
solução injusta, pois obedece à amenizar/atenuar o rigor do
“Dura lex, sed lex” – a lei é dura, art. 483.º se o dono for
mas é para cumprir) produzido por mera culpa)
ex.: Eu vou a passear e vejo uma
casa a arder e com uma senhora
idosa com o seu gato. Posto isto,
decido salvá-la. Quando o fiz, destruí
as tulipas (3000€) – destruo
propriedade privada. O estado de
necessidade justifica o meu
comportamento? SIM – art. 339.º
Art. 339.º, nº2 – tenho de pagar o
que destruí se provoquei perigo
Causei o incêndio? NÃO.
Se a lei fosse rígida teria de pagar
indeminização, neste caso quem
pagaria seria a senhora das limpezas
que deixou o fogão ligado
(só pode ser assim, porque o juiz
pode manear a lei)
Relação entre justiça e segurança
A segurança jurídica traz ordem e paz social e deve estar ao serviço da ideia da justiça e
legitimar-se perante ela. A ideia de justiça por seu lado, subjacente às leis, deve ter a
aceitação da sociedade à que as leis se dirigem e acompanhar a evolução desta sociedade.
Há uma certa comunicação, uma interacção, entre quem faz as leis e o sentir da sociedade.
Quer dizer, a “mentalidade legislativa” deve ter em consideração a realidade vivida pelas
pessoas às quais as leis se destinam. No caso de isto não se verificar, achando o legislador
que pode ignorar a realidade, as leis desfasadas do sentir geral podem acabar por constituir
um mero colete-de-forças. As leis podem ser adequadas justamente por terem deixado de
estar ao serviço da justiça.
A segurança criada deste modo não contribui para a paz social. Situações muito graves da
falta de sintonia entre as leis e convicções de justiça existentes na realidade social podem
legitimar o direito à resistência.
Há muitas razões em virtude das quais a lei considera a segurança como particularmente
relevante como sucede, por exemplo, quando estão em causa o estado civil das pessoas
(por exemplo, o estado de casado) e sua capacidade negocial (por exemplo, com a aquisição
da maioridade), ou a atribuição e o conteúdo de direitos patrimoniais (para sabermos o que
pertence a quem e em que termos), ou a circulação de bens (onde, como vimos, o comércio
jurídico exige confiança, estabilidade e previsibilidade das regras jurídicas), ou no que
respeita à fixação de prazos. Nestas situações referidas as relações entre justiça e segurança
estão em sintonia.

 Situações de conflito entre justiça e segurança


As relações entre justiça e segurança podem apresentar-se como difíceis em
determinadas situações em que a praticabilidade do direito pode exigir que o valor
da segurança prevaleça sobre o da justiça.
Mas, analisando bem estas situações em questão veremos que uma verdadeira
contradição entre justiça e segurança não se verifica: também a segurança se baseia
numa ordem jurídica legitimada pela ideia da justiça que pondera os interesses em
causa. As relações entre justiça e segurança são complementares à procura da
obtenção de um resultado adequado e justo.
Podemos destacar alguns exemplos em que podemos encontrar situações de
(aparente) conflito entre as ideias de segurança e de justiça:

 Artigo 6º que determina que a ignorância ou má interpretação da lei não


justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nelas
estabelecidas, ou seja, há segurança na aplicação da lei, embora um infrator de
uma norma que não conheceu se sinta injustiçado
 Caso julgado: quando há um litígio o processo vai a julgamento num tribunal e
termina com uma sentença transitada em julgado que cria certeza, mas pode
ser injusta. No entanto, a decisão com base na “verdade processual” pode ser
outra, pois os respetivos factos não chegaram ao seu conhecimento devido a
insuficiências. Há um trânsito em julgado, a lei opta em benefício da
segurança pôr termo ao litígio (em situações excecionais, a lei permite revisão
de uma decisão transitada em julgado
 Não retroatividade da lei, sendo a retroatividade anomalia que pode ser um
atentado contra as pessoas que confiaram na previsibilidade dos efeitos dos

e também corresponde a uma exigência da justiça que os efeitos produzidos


se mantêm. Mas, excecionalmente a retroactividade pode afetar os
efeitos produzidos se ela vier a beneficiar quem for abrangida por ela.
seus atos praticados com base em normas em vigor que agora já não valem. A
não retroactividade da aplicação de uma lei satisfaz a exigência da segurança

Leis claras e conceitos indeterminados


É muito importante que as leis sejam feitas com termos claros/precisos, evitando
expressões ambíguas e o direito tem necessidade de dar certezas ao destinatário.
Sendo assim, o legislador quando formula uma norma tem de o fazer de maneira clara
e não pode suscitar dúvidas.
A lei é escrita na língua portuguesa que, por vezes, é traiçoeira, pois uma palavra
pode ter vários significados, por isso o legislador tem o cuidado de definir
determinados conceitos.
Art. 122.º
Menor é aquele que ainda não tem 18 anos – o legislador explica o significado de
menor, logo sempre que a lei usar esta palavra, se não sabemos o significado devemos
recorrer ao artigo que explicita a sua noção
Art 204.º
Especifica o que se entende por coisas imóveis – quando no art. 285.º referir “bens
imóveis” já sabemos que se refere à explicação do art. 204.º
Livro 2 do Código Civil
É todo ele sobre o regime jurídico das obrigações, por isso, para que não restem
dúvidas, o legislador logo no 1.º artigo define o que é uma obrigação (art. 397.º).

Estas definições significam o quê?


O legislador só se limita a definir o que as palavras significam para que ninguém
confunda o seu significado com o uso recorrente. Além disso, desta forma não gera
incerteza/insegurança para quem lê, criando assim uma segurança jurídica
Graças às definições que o legislador nos dá, nós temos segurança daquilo que
estamos a falar.

No entanto
Apesar de haver leis claras, existem normas em que o legislador usa expressões que são
suscetíveis a criar dúvidas e não diz em lado nenhum o que quer dizer, parecendo assim
contraditório, pois temos leis claras e outras que podem ser interpretadas de múltiplas
formas.
Estes conceitos sem definição que geram muitas dúvidas são os “conceitos jurídicos
indeterminados” ou “cláusulas gerais” (uma técnica). Ao usar este tipo de expressões
sem significado concreto, estamos a criar uma imagem de insegurança, mas para
existirem têm de ter uma vantagem significativa para se arriscar “este preço”.
Porém, há uma vantagem: permite que uma lei que foi feita há 20 anos continue atual
sem ser necessário alterá-la. Como não há definição concreta, o seu conceito torna-se
tão amplo que pode ser aplicado ao tempo em que estamos. O legislador ao não
determinar o significado daquela expressão vai permitir que o julgador não fique
preso àquela expressão, permitindo não ter um significado desatualizado.
Também nos deparamos com a desvantagem do juiz, sendo uma pessoa cheia de
experiências pessoais, pode ceder à tentação de preencher os conceitos com a sua
opinião pessoal. Claro que este se deve abstrair daquilo que ele próprio defende, mas
sabemos que há sempre erros judiciais (por isso há sempre uma possibilidade de irmos a
recurso, pedindo uma segunda opinião para perceber se aquela decisão se enquadra no
resto da sociedade atual). Este deve ir de acordo com o que a sociedade entende!
Os conceitos jurídicos indeterminados e as cláusulas gerais são
distintas, mas por vezes são usadas juntas.

Conceitos jurídicos Cláusulas gerais


indeterminados Expressão que gera dúvidas, mas
Conceito criado pela lei e para preencher o seu significado
indeterminados porque não tem não se olha para o caso, mas sim
o significado afixado na lei para a sociedade. O juiz para
Estes conceitos são preenchidos de preencher uma cláusula geral vai
acordo com determinada situação olhar para o que a sociedade
(ex.: “superior interesse da entende por ético/justo.
criança” – artigo 1794.º - os pais ex.: “bons costumes” – o juiz
estão divorciados, os filhos são quando for determinar se aquele
menores, logo é necessário regular caso é bom ou não conforme os
as questões paternais. Se o pai bons costumes, vai olhar para
estiver no Algarve e a mãe no aquilo que a sociedade entende
Porto, local da escola do filho, a por bons costumes, vai usar
criança não pode passar 1 semana valores morais da sociedade e
com um e outra com outro, senão tomar a sua decisão a partir daí
perdia aulas. Posto isto, o juiz (art. 280.º nº2 foi feito em 1996,
define qual o superior interesse da mas a lei mantém-se igual, os bons
criança em questão, costumes já mudaram, porém
independentemente do que os cabe ao juiz atualizar-se dos bons
pais acham. Este decidiria que a costumes da sociedade atual)
criança deveria ficar no Porto com ex.: justa causa (art. 1170.º nº2)
a mãe e que o pai podia visitar ex.: boa-fé (art 1295.º nº1 a)]
quando quisesse)
ex.: “bom pai de família” –
art. 1446.º

Boa-fé
O que é atuar de boa-fé? Dizer a verdade,
agir com lealdade, etc.
No entanto, a lei nem sempre é concreta.
Boa-fé
“Dizer a verdade, agir com lealdade, etc.”
A boa-fé pode ser:

 Objetiva: Padrão de conduta, norma de conduta em que todos devemos


atuar com transparência, sem enganar (art. 227.º)

 Subjetiva: Defende o estado subjetivo de alguém – conhecia um facto e


ocultou ou faz algo sabendo que prejudica. Às vezes aparece na lei, outras
não (cláusula geral), o juiz é que tem de aferir se a pessoa estava ou não de
boa-fé (se ela conhecia ou não determinado facto).
ex.: Alice vendeu o carro a João (1/03/2021) que tem até 1/05/2021 para registar.
Já que não o faz, como Alice ainda tem o carro em sua posse vende a Tomás em
3/03/2021. Esta venda é válida? Não!
“Nemo plus iuris” – direitos reais, ninguém pode vender o que não tem.
No entanto, Tomás regista o carro no mesmo dia em que o compra. João e Tomás
estão de boa-fé, porque desconhecem os factos, mas o juiz defende o Tomás, pois
registou o carro (se ele soubesse da venda e comprasse o carro, a lei não o protegia)
 Lei define: Nem sempre define da mesma maneira, há normas que o
legislador define boa-fé de forma distinta porque depende do contexto
(art. 243.º, nº2 – boa-fé consiste na ignorância da simulação ao tempo em
que foram constituídos os respetivos direitos; porém, diferente do art.
291.º nº3 – para este artigo é aquele que desconhece sem culpa que o
negócio foi nulo ou anulado). Por vezes é reconhecida a boa-fé pela
negativa: má-fé (art. 119.º nº3)
 Lei não define: A lei não define o que é boa-fé (ex.: art. 892.º - o que é o
comportamento de boa-fé? Não sabemos. O art. 227.º e 762.º - em
nenhum deles a lei define o que á boa-fé)

Concluindo, tem vezes que a lei define, outras que não e outras que define pela negativa

*Contrato de compra e venda – eficácia real (art. 408.º)


Não preciso de entregar o carro nem precisam de me pagar para o carro ser do
outro, a partir do momento em que há um contrato já é considerado que é
cumprido
- A lei diz que os bens que são sujeitos a registo - navios, carros (...) - quem compra deve
registar essa aquisição no prazo de 60 dias e se não o fizer paga o registo em dobro
Leis onde as palavras são ambíguas (misturas de coisas opostas)

 Artigo 253.º - Dolo ilícito


Alguém delibaria outra pessoa
ex.: Vou comprar um carro e o vendedor alega que o carro nunca teve um
acidente, mas na verdade já teve vários, só foi soldado. Neste caso, o juiz,
mediante o que for provado no processo, vai dizer se é dolo típico (não é ilícito)
ou não (lícito).

 Artigo 496.º - Danos morais


O que é um dano suficientemente grave que merece compensação? E um que
não merece? A quem é que compete definir a sua gravidade?
Compete ao juiz “quantificar” os danos ditos graves que merecem tutela jurídica.
No entanto, nem todos os danos morais são suscetíveis a compensação, mas ao
longo do tempo, o juiz vai mudando o entendimento daquilo que era grave ou
não.
ex.: Animal envenenado – até 2017, a perda de um animal era considerada um dano
moral, mas não suficientemente grave para ter compensação. Hoje em dia, a perda de
um animal é suficientemente grave (a norma mantém-se, mas há uma evolução)
ex.: Acidente de trabalho – antes discutia-se o dano da pessoa lesionada, devido à
causa danos secundários (fertilidade do homem). Hoje, a mulher pode pedir uma
compensação porque já é considerado suficientemente grave para tal (antes não
interessava se prejudicava a vida sexual)

A lei não muda – muda o preenchimento da palavra


“Vida corrente” – “pequena importância”
Art. 123.º: menor não pode praticar negócios (ex.: avó deixa a casa, não
pode vender a casa para ir viajar com 17 anos. Mas pode vender para pagar tratamento
no hospital)
Art. 127.º: há sempre uma exceção (ex.: o menor pode realizar negócios correntes,
tais como comprar pão, etc. – pequena importância-> no art. 123.º não teria
capacidades para fazer negócios, mas neste já tem)
Mas e se o menor vender o telemóvel por 300€? Grande ou pequena
importância? Decide-se tendo em consideração fatores como a sua posse
económica. Se a família do menor tiver um baixo rendimento, será de grande
importância, mas se o menor for filho do CR7 será de pequena importância.
*A lei penal é mais clara, que entende que o bem furtado é de pequena importância
até uma unidade (102€), mas na lei civil o legislador não definiu*

 “Bonus pater familie” – bom pai de família


O que é um bom pai de família? É definido conforme o padrão médio de uma
pessoa normal, ou seja, de como alguém reagia a determinado acontecimento.
Se a infração daquela pessoa tiver fugido muito do padrão, temos um grau
considerável de culpa.
Relações do poder
Qual é o principal criador de normas jurídicas (direito objetivo)?
Assembleia da República e Governo, o Estado – dita as leis de acordo com
a ideologia política.

Sec. XIV-XVI 1789 Pré e Durante


Renascimento Rev. Francesa Industrialização Atual

Estado Liberal Estado de Direito Social Estado de Direito da


Estado Monárquico
Princípio da Intervenção do Estado Previdência Social
Absolutista
Legalidade na Economia (Justiça Social)
- Direitos Sociais

Prestações Sociais

Para entender o Estado Moderno, devemos entender os seguintes conceitos:

 Poder Político
Conjunto de medidas e normas para governar um território,
mediante determinada política. Poder de, segundo a ideologia que
tiver dominada no momento, traçar leis/legislar leis, organizar os
organismos de acordo com a ideologia política, governando o país
≠ Soberania:
- suprema: não existe nada em termos internos que se sobreponha
ao Estado
- independente: porque o Estado é soberano é tratado de igual para
igual em faze de outros estados estrangeiros

 Território
Espaço físico dentro de fronteiras delimitadas (solo, subsolo, aéreo,
costa marítima)

 Povo
Comunidade unida por um vínculo: nacionalidade
 População
Conjunto de pessoas que vivem num determinado território,
independentemente se são nacionais ou estrangeiros

 Nação
Comunidade unida pela sua etnia, língua e tradições. Não carece de
ter território

Funções do Estado
Garantir a paz interna, a segurança externa, legislar e aplicar a lei.
 Legislativa: Elaborar/Criar leis
Atos legislativos (Art. 112.º nº1 da Constituição que define o que são os
atos legislativos – são leis, decretos de lei e decretos de lei regionais)
Quem tem a função legislativa é a Assembleia da República e Governo.
 Jurisdicional: Os tribunais são o órgão de soberania que administram
justiça em nome do povo, lutam pela reparação da violação da legalidade
democrática, lutam pela defesa dos cidadãos, resolvem conflitos entre
interesses privados e públicos
 Administrativa (executiva): Administração pública que é organizada pelo
Estado visa proteger o interesse da coletividade e visa executar leis,
estando sujeita ao princípio da legalidade (ex.: Autoridade Tributária).
Pertence à ordem legislativa – Governo
 Política: Deve traçar aquilo que o país deve seguir (delimitadora de
poder) e delineia o resto, pois a lei obedece à política traçada. Sendo
assim, os “atores” políticos têm que garantir a prossecução dos
interesses da coletividade - garantidos pela Assembleia e Presidente

Há uma interdependência dos poderes (art. 111.º Constituição), mas não


há interferência ( art. 202º Constituição – juízes independentes, não
permitem ingerência nessa função)
Perigo: Corromper um juiz – ingerência – princípio de igualdade violado
Art. 111.º CRP – Princípio da separação de poderes
Isto quer dizer que os órgãos de soberania devem respeitar a separação de
poderes, não deve exigir-se numa função que não lhes cabe.
Ou seja, se um juiz tem função jurisdicional, não lhe cabe gerir a função
legislativa. Porém, quanto maior for o nível de corrupção, mais isto
acontece (daí este princípio ser uma falácia, está aplicado numa teoria,
mas não na prática).

Art. 202.º CRP – Função jurisdicional


De todas as funções, a que temos de ter cuidado para não interferir é a
jurisdicional, porque se houver corrupção na justiça não será igual para
todos. Esta é a única função que garante que a justiça é igual para toda a
sociedade.

 Na sequência do nascimento do Estado de Direito liberal passou a haver o


controlo judicial das leis e da sua aplicação e, muito hesitantemente, também dos
actos da Administração. O cidadão possui direitos subjectivos públicos que pode
invocar contra o Estado para se defender, ou para exigir um determinado
comportamento a que correspondem deveres do Estado, ou ao pôr limites ao
exercício dos poderes do Estado. Na medida em que qualquer cidadão está
submetido ao poder do Estado existe uma relação geral de poder (allgemeines
Gewaltverhältnis) entre o Estado e o cidadão.

Ao mesmo tempo surgem também relações especiais de poder entre o Estado e


seus cidadãos que resultam de relações específicas e diferenciadas entre o
Estado e seus cidadãos. A este respeito distinguem-se vários estados de
relacionamento.

Nas relações entre o Estado e as pessoas que dele fazem parte podemos
distinguir:
 “Status passivo” – Compreende os deveres dos indivíduos perante o Estado
(ex.: cumprimento do serviço militar obrigatório, pagar imposto)
 “Status activus” – Direito de os indivíduos participarem na vida do Estado
(ex.: participar nas eleições e poder ser elegido)
 “Status negativus” – Direitos de defesa dos indivíduos contra o Estado
(ex.: direitos, liberdades e garantias previstas constitucionalmente)
 “Status positivus” – Direitos do indivíduo à proteção pelo Estado
(ex.: subsídio de desemprego, assistência na doença)
“Ramos do Direito”

 Direito Internacional Público


Regula as relações entre os sujeitos do direito internacional, ou seja, trata
questões como a paz, a fome, o desenvolvimento do país (direitos adjetivos
– como se age) – art. 8.º CRP

 Direito Interno
 Direito Público
Ramos de Direito que regulam as relações entre nós e o Estado.
Princípio da Legalidade: nenhuma entidade pública pode tomar uma
decisão sob um particular sem estar na lei
Direito Constitucional ou Público: lei principal do Estado, qualquer lei
contra a Constituição é inconstitucional – organiza o funcionamento dos
órgãos do Estado e os direitos dos cidadãos
 Direito Administrativo: regula a administração pública e os atos dos seus
órgãos e entidades, bem como os direitos entre estes e os particulares
 Direito Fiscal: Que tipo de impostos existem, que atos são isentos
 Direito Penal: Protege bens/direitos fundamentais da sociedade (diz o que
é crime e o que não é). O seu princípio fundamental é “não há crime sem
lei”, ou seja, não há crime sem que essa conduta esteja na legislação, só há
pena se houver crime e a lei disser
 Direito Processual: Regula o processo de direitos substantivos (diz quais
são os direitos e deveres, mas só diz, não especifica) – é adjetivo ou
instrumental, pois ajuda a concretizar (diz como fazer, como recorrer,
onde nos temos de dirigir, mas não há direitos nem deveres, só
informa - ex.: civil, penal, laboral, ...
 Direito Privado
= Direito civil: Princípio da autonomia privada- regula as relações entre
particulares no seu quotidiano ou entre particulares e o Estado quando
não está dotado no seu poder de imperium
 Direito Comercial: regula as relações entre comerciantes e os atos de
comércio
Direito do Trabalho: só regula as relações de trabalho subordinado
(relações com contratos de trabalho)
 Direito de Autoridade: Regula os direitos de autor, intérpretes (...)
 Direito Internacional Privado: Regula relações jurídicas entre particulares
de diferentes Estados
 Direito das Sociedades Comerciais

O Direito Bancário teve tamanha extensão que acabou por se autonomizar do Direito
Comercial – há um interesse
Como sabemos a que público
Direitoem causa na atividade
pertence cada ram comercial (os bancos
fazem disso atividade comercial captando poupanças, injetam dinheiro na economia
através de empréstimos. O sistema financeiro só funciona em conjunto com o
sistema bancário). Mas também há interesses particulares
Como tem características do Público e do Privado é considerado Direito Híbrido
Como consigo distinguir quais os ramos do direito público e do privado?
Através de 3 teorias:

 Teoria dos Interesses


Há quem diga que ao olhar para uma norma, sabemos logo se esta é
pública ou privada.
Se o interesse que a norma está a proteger for privada, é direito
privado. Se a norma preservar interesses públicos, é direito público
Porém, não se aplica esta teoria sozinha, visto que há normas de
cariz privado que protegem direitos públicos
Ex.: art. 875.º - sempre que compramos um imóvel temos de pagar
impostos (momento da escritura – imposto de selo e transmissão), se
não fosse preciso escritura pública ou documento particular
autenticado, fugíamos aos impostos, com isto estamos a proteger o
direito público numa norma privada.

Teoria falhada, nova teoria:

 Teoria da supra ordenação


Se a norma jurídica está a regulamentar uma relação jurídica
estabelecida entre o Estado e o cidadão – Direito Público
Se a norma jurídica regulamentar uma relação jurídica entre
particulares – Direito Privado

Esta teoria também não funciona. Porquê?


Porque muitas vezes o Estado intervém em relações jurídicas despido do
poder de Estado (ex.: escolas que entram em obras e dão aulas em
contentores. Tem de pôr os contentores em terrenos fora da escola/que não
lhe pertencem. Sendo estes terrenos de particulares, o Estado faz um contrato
de arrendamento com o proprietário. Contudo, não o faz enquanto Estado,
intervém despido do seu poder atuando como um cidadão normal)

 Teoria da posição dos sujeitos


Tudo depende do papel/posição em que o Estado está interdito –
relações, organismos públicos: público.
Ex.: O Estado não nos convida a pagar impostos, obriga-nos
(superioridade).
Se o Estado estiver numa posição de igualdade – direito privado

Conclusão: Junção das 3 teorias, porque sozinhas não funcionam


Norma jurídica
O que é?
Regra
Critério material que visa resolver casos concretos (nem sempre todas
as normas visam resolver os casos – ex. noções: artigo 204.º e 397.º)
Há normas que não trazem sanções negativas, mas dizem-nos como
devemos proceder (ex.: encontro um tesouro no quintal, posso ficar com
ele? Há uma norma que diz o que devemos fazer: avisar autoridades)
Há normas que só estabelecem estatutos (ex.: artigo para definir o que
são menores de idade)
Só prevê factos jurídicos, acontecimentos da vida real que tenha
relevância jurídica

Características da norma jurídica

 Geral:
Não é feita para uma categoria específica de pessoas, pois não há normas
individuais, a norma é feita para todos - todos são iguais perante a lei (e as
normas feitas na Constituição encaminhadas ao Presidente da República? A
norma não é feita para o professor Marcelo/Cavaco, mas sim para quem exercer
o cargo de Presidente da República).
Assim, independentemente de como o ato foi praticado, aplica-se a lei -
Princípio da Igualdade (a norma aplica-se de maneira geral a toda a gente,
sem distinção)

 Abstrata:
É feita de forma abstrata, não é feita para uma situação em concreto, mas
sim para uma “situação tipo” em que prevê um comportamento de forma
abstrata e aqueles que se encaixarem são aplicados a essa norma
Não há normas que digam “quem envenenar a outra pessoa e a conduzir à
morte”, “quem carregar uma pistola e utilizá-la para matar” – só há “matar”
(a norma não é feita só para uma forma de matar)
Ou seja, da maneira que não é feito para alguém particular, também não é
feita para uma situação concreta

As normas não são Trabalho: 483º, 220º, 874º e 879º, 122º, 1324º,
Estrutura da norma
individuais nem 1305º, 787º, 1601º, 921º, 805º, 503º,2152º,
1766º
específicas,
Composta são gerais
por 2 partes:
e abstratas
1. Previsão/Hipótese (art. 483, nº1, 1ª parte)
“Factie specie” 3.
Cenário idealizado pelo legislador que pode acontecer na vida prática Hipoteticidade
(o legislado põe a situação como hipótese, imagina a situação que pode A norma
acontecer) jurídica só se
ex.: norma diz “Quem matar outrem é punido com pena de prisão de 8 aplica se a
a 16 anos” – o legislador tem em conta o cenário e coloca-o de forma hipótese
geral e abstrata (a parte da norma em que o legislador escreve algo que prevista na
pode acontecer é a hipótese/previsão) norma se
2. Estatuição/Injunção (art. 483, nº1, 2ª parte) verificar em
Consequências que o legislador determina para o caso de acontecer o concreto (se
cenário que idealizou acontecer em
ex.: norma acima – se acontecer o cenário na realidade, qual a consequência concreto a
jurídica? Pena de prisão situação que se
Tipos de consequências: prevê)
1. Sanções – positivas ou negativas ex.: se ninguém
2. Orientações – pode não dar nenhuma sanção, mas diz o que fazer burlar ninguém,
3. Estatutos – art. 122.º: quem não tiver 18 anos é menor não se aplica
ex.: alguém que fica falido (cenário hipotético: insolvente) norma de burla
4. Poderes – lei atribui poderes (ex.: se tiver 18 anos, posso votar)

Normalmente, as normas têm ambas as partes, sendo a primeira a previsão e depois


a estatuição. Contudo, nem sempre têm as 2 partes (art. 122.º só com previsão e
art. 123.º só com estatuição) ou seguem esta ordem (art. 270.º, n.º 1).
E, ainda, há normas com dupla previsão e estatuição.

Como se aplica uma norma a um caso? Silogismo judiciário


(depois da subjunção)
Associamos duas premissas – silogismo
Premissa: “O leão é o rei da selva. O macaco é um Norma jurídica
animal da selva. O leão é rei do macaco” Premissa maior
Previsão
1
Focando nos factos que são relevantes,
devemos enquadrá-los numa norma Quem matar outrem
jurídica (artigo mais adequado) que --------------|---------------
2 Estatuição
preveja este comportamento de maneira
abstrata - subsunção jurídica
É punido com pena de
Depois de encontrar a norma, devemos ver prisão de 8 a 16 anos
qual é a respetiva consequência e, por fim,
aplicar a estatuição ao caso concreto 3
Caso concreto que sucedeu
(Ana é punida)
Premissa menor
Factos jurídicos (o que está previsto nas normas?) “Ana esfaqueou no peito de
Bento, que veio a falecer”
Um facto jurídico afeta a situação jurídica da pessoa. Deste modo, são
factos jurídicos todos os acontecimentos que geram efeitos jurídicos (estes
podem ser voluntários/humanos ou involuntários/naturais)

Acontecimentos que não produzem efeitos jurídicos, por mais relevantes


e frequentes que possam ser na vida social, são factos ajurídicos.

Factos jurídicos

Voluntários Involuntários
Depende da vontade do Não dependem da
seu agente vontade do homem
(ex.: morrer)
Os seus efeitos são
determinados pela lei
(ex.: prescrição), pois não
acontece pela vontade
Lícitos Ilícitos
Não lesa o direito de ninguém, mas tem Geram responsabilidade civil, de ninguém
relevância jurídica. então os efeitos jurídicos são
1.Simples atos jurídicos – Resulta da determinados pela lei (justiça
vontade e os efeitos jurídicos resultam da comutativa corretiva – lei manda
lei, ou seja, o facto é voluntário, produto corrigir)
da vontade humana, mas o efeito causado Quando eu pratico o facto
por ele já não deriva da vontade, mas é jurídico porque quero, maneira
determinado pela lei voluntária, e lesei o direito de
(ex.: pagar impostos) outra pessoa tenho que
Sendo assim, apela ao cumprimento de indemnizar.
uma obrigação que se vai extinguindo (ex.:
ao pagar um montante a alguém extingo a
dívida).
Atos de ciência – Atos Reais – Atos quase
Negiociais
2. Negócios Jurídicos – Fonte geradora de
obrigações, os atos são determinados pela
vontade e os efeitos jurídicos são produto
da vontade humana

Negócios jurídicos
Originam relações jurídicas em que há 1 direito para uma parte e dever
jurídico para a outra – entre eles há vínculo normativo (artigo 397.º)
Bilaterais Unilaterais
(contratos) Para se formalizar basta uma
Para existir um contrato é preciso simples declaração negocial/de
existir duas declarações de vontade, mas não é necessária
vontade opostas – não há contrato uma declaração oposta
quando eu vendo algo, mas sim ex.: “ofereço recompensa a quem
quando há compra e venda encontrar a minha gata”
A pessoa que se vincula a pagar € já
tem o negócio jurídico formalizado
(declaração feita)
O credor é indeterminado, mas é
determinável – quem encontrar o gato
Artigo 459.º CC – promessa público
(gera obrigações)
Contratos bilaterais Contratos unilaterais
Ambas as partes Apenas uma parte tem
têm obrigações obrigações
(ex.: compra e venda) (ex.: vou doar a minha casa
à Débora - ela só aceita)

Quando praticamos
negócios jurídicos é um
ato voluntário lícito.
O único facto jurídico
que depende da
vontade são os negócios
jurídicos
(os outros factos é a lei

Negócio jurídico
unilateral
DIFERENTE
Contrato unilateral
Os factos jurídicos, para realmente o serem, têm de gerar consequências.
Há factos cujos efeitos são estipulados pela lei e outros em que as partes o
determinam.
 ex.: se eu faço um contrato de compra e venda, não posso fugir à lei – art. 879.º
Transferir-se a coisa, pagar o preço (...) são efeitos que só se produzem porque
quisemos. Porém, a prescrição acontece independentemente se queremos ou
não, porque é a lei que a determina

Sendo assim, dos efeitos jurídicos produzidos pelo facto jurídico pode resultar:

1. Relação jurídica (estabelece um vínculo entre 2 ou mais pessoas)


2. Estado da pessoa (ex.: estado civil) que define a situação ou uma
qualidade própria da pessoa – qualidade jurídica

 Sendo o facto jurídico criador de uma relação jurídica entre duas ou mais
pessoas, estas passam a ser sujeitos desta relação com os seus direitos e
deveres recíprocos, ou seja, fica estabelecida uma vinculação jurídica mútua
cujo conteúdo é determinado pela vontade das próprias pessoas.
Os efeitos jurídicos produzidos pelo facto consistem na aquisição de um
direito subjetivo (absoluto, relativo ou potestativo) por um dos sujeitos e a
imposição de um dever jurídico ao outro (ou obrigação/sujeição)
 No caso de o direito adquirido envolver uma atribuição patrimonial (ex.:
aquisição da propriedade) ou consistir no estabelecimento de um estado civil
(ex.: estado de casado) o conteúdo do direito ou do estado civil é
determinado em abstrato pela lei e não pela vontade dos sujeitos da relação.
Só podem ser sujeitas de relações jurídicas pessoas jurídicas (assume efeitos
jurídicos da relação):

 Pessoa singular – o Homem

 Personalidade jurídica
Todos nós somos pessoas jurídicas e para o ser é fundamental ter
personalidade jurídica.
E quando a adquirimos? No nascimento: não é a lei que nos dá ou tira a
personalidade jurídica, limita-se a reconhecê-la. No entanto, o nascimento
tem de ser completo e com vida (Art. 66.º) e o termo da mesma extingue
com a morte (art. 68. º)
 Capacidade jurídica
Da personalidade flui a capacidade jurídica (qualidade da pessoa jurídica).
Pode ser, então, sujeito de relações jurídicas, ser titular de direitos
subjetivos e de obrigações.
No entanto, uma coisa Contudo, salvo disposições legais em contrário (situações em que a evolução
é ter capacidade de física e mental do homem o impeça de vir a ser sujeito de determinadas
ter, outra é capacidade relações jurídicas estritamente pessoais tais como casar, perfilhar, testar) –
de agir, ou seja, nós art. 67.º
temos direitos, mas Adquire direitos de personalidade (art. 70º a 81º) – direitos inatos e
não podemos agir nem absolutos.
exercer direito se não  Capacidade negocial
tivermos outra Capacidade para poder adquirir estes direitos e de assumir as suas
capacidade: obrigações) - o que cada um de nós tem de ter para exercermos sozinhos
As pessoas singulares adquirem a capacidade de agir e de participar no
tráfico jurídico negocial com a maioridade (art. 130.º).
 De gozo
Precisamos de ter para negócios estritamente pessoais, ou seja, há
certos negócios que só os próprios podem participar, ninguém nos
pode representar ou substituir (insuprível), tal como:
- Testar (para poder declarar: art. 2189.º)
- Perfilhar (só eu posso fazer – art. 1850.º)
- Casar (ato individual, ninguém pode casar por mim – art. 1601.º,
não pode casar quem é menor de 16 anos. ou seja, uma pessoa com
15 anos tem personalidade e capacidade jurídica, mas não tem
capacidade negocial de gozo)
 De exercício
Capacidade de agir por nós mesmos.
Os menores (artigo 122.º) carecem da capacidade de exercício (artigo
123.º), não podem praticar validamente atos próprios com efeitos
jurídicos válidos. Para evitar que fiquem excluídos do tráfico jurídico
geral a lei prevê que a sua incapacidade é suprida por um
representante legal que age em vez deles e em seu nome. Este age,
mas nunca se torna titular dos direitos e obrigações que negociou.
Ex.: Suponhamos que uma criança vende um imóvel por 200000€, de
quem é o dinheiro? Criança (dinheiro bloqueado, mas não é dos pais)
 Capacidade delitual
Ter capacidade para responder pelos seus próprios atos.
Se eu pratiquei um ato ilícito, vou ter de ser responsável, ou seja, vou ter
de indemnizar. Se eu posso indemnizar, tenho esta capacidade.
Quem não a tem são todos os inimputáveis (artigo 488.º, n.º1 e n.º2), não
responde pelas consequências dos atos – menores de 7 anos
 Pessoa coletiva – Conjuntos de pessoas cujo objetivo é a realização de
um fim comum.
o Sociedades: a finalidade é obter lucro
o Fundações: pessoa coletiva que prossegue um fim de interesse
comum utilizando o dinheiro da fundação
o Associações: grupo de pessoas que visam um fim para os seus
associados (ex.: DECO promove fim comum, a proteção do
cidadão, mas não pretende ter fins lucrativos)
o Cooperativas: assenta no princípio de ajuda dos cooperantes com
vista num fim (ex.: universidade – cooperativa de ensino)

 Personalidade jurídica
Só tem personalidade jurídica quando a lei a reconhece como tal.
A lei exige um registo (art. 158.º), então a personalidade está à
disposição do legislador.
Por isso, tal como a lei atribui, também pode retirar em casos
justificados (art. 182.º, nº2)

 Capacidade jurídica
Também adquirem a capacidade jurídica (artigo 160.º) que abrange
todos os direitos e obrigações necessários ou convenientes à
prossecução dos seus fins.
Têm também direitos de personalidade, e entre eles,
nomeadamente o direito ao nome.

 Capacidade negocial
Quanto à capacidade de agir das pessoas coletivas constatamos que
ela não é comparável com a das pessoas singulares.
As pessoas colectivas não podem ser menores nem podem celebrar
negócios estritamente pessoais e, de modo igual, também não
podem beneficiar do regime do acompanhamento.
A sua capacidade de participar no tráfico jurídico geral está
condicionada pelo princípio da especialidade do fim e é assegurada
pelos regimes consagrados no artigo 163.º (agir por meio da
representação orgânica ou voluntária) e a sua responsabilidade
extracontratual (e delitual) decorre do artigo 165.º (assumir os
efeitos de determinados atos praticados por agentes ao serviço da
pessoa colectiva).

Ser ≠ Exercer
Ter ≠ Agir

Cap. Cap.
jurídica neg
Classificação das normas jurídicas

1) Critério territorial
 Nacional/Universal: Aplica-se em todo o território nacional
 Local: Aplica-se numa circunscrição territorial delimitada (pode ser uma
norma só para o “Centro”, só para o “Litoral”, só para o “Porto” ...)
 Regional: Aplica-se apenas nas regiões autónomas

2) Âmbito Pessoal
 Norma geral: Fixa a regra para um tipo de situações (o legislador prevê
uma situação e para essa situação estabelece uma regra). Considera-se o
regime regra, ou seja, garante o princípio de igualdade (ex.: art. 2033.º)
 Norma excecional/”ius singulare”: Toda a regra tem uma exceção, ou
seja, regime jurídico oposto ao regime regra
Só pode considerar-se exceção aquilo que taxativamente o legislador
descreve. A norma excecional nunca se pode aplicar a situações que,
apesar de semelhantes às situações reguladas na norma excecional, não
constam diretamente da norma. Isto é, jamais pode usar-se a analogia em
normas excecionais e também não podem nunca as normas excecionais
serem complementadas pelas normas gerais
 Norma especial: Diferente do regime regra, mas não o contraria, é uma
norma mais específica e personalizada
(pode ser completada com o regime-regra)

*No confronto entre uma norma especial e norma geral, deve o interprete
considerar primeiro o a norma especial*

Opostas Norma geral Complementares

(Regime regra)
Normas especiais
Norma excecional

Nos primeiros artigos do código de trabalho


Código Civil: geral
diz que o que não estiver lá explícito, estará
Código de trabalho: especial no Código Civil (complementares)

Ex: norma geral - Art 219 Art. 309.º


Ex: norma excecional Art. 875.º, 947.º e 1069.º Art. 310.º, 316.º e 317.º

Resumindo
A norma jurídica geral fixa o regime para determinadas situações, garantindo o princípio
da igualdade (aplicação da lei igual para todos). Contudo, existe algumas situações em que,
mesmo não sendo totalmente diferentes da situação prevista na situação geral, carecem
de tratamento personalizado, mais específico: normas especiais.

No confronto entre uma norma especial e uma norma geral, deve o intérprete
considerar, em primeiro lugar, a norma especial, podendo complementar o regime
especial com o regime geral (ex.: artigo 7.º, n.º 3).

Por outro lado, o legislador entende que há certas situações que, não sendo especiais,
não podem submeter-se ao regime regra, por entender que a aplicação do regime regra
a estas situações não seria justo, então reclama uma situação oposta à do regime regra.

Assim sendo, cada situação excecional corresponde a um desvio ao princípio da


igualdade. Só pode considerar-se exceção aquilo que o legislador descreve. O mesmo é
dizer que as normas excecionais são de elenco fechado e não podem nunca aplicar-se as
normas excecionais serem complementadas pelas normas gerais, pois contêm regimes
opostos.

Exemplo de uma norma geral:


 Artigo 2033.º, n.º 1 – todo nós temos capacidade sucessória, ou seja, todos nós
temos capacidade de ser herdeiros
 No entanto: Artigo 2034.º (exceção) – situações que impedem as regras gerais, que
merecem um tratamento singular – ius singulare

Artigo 11.º - Analogia


Não há na lei previsão para a norma jurídica, o legislador esqueceu-se de regular aquela
situação – lacuna jurídica
Há um caso omisso, logo não há lei, o juiz não julga. Porém, o tribunal não pode invocar
falta de lei (Artigo 8.º), então vamos buscá-la ao Artigo 10.º: para ultrapassar lacunas
deve-se usar as analogias que são as normas que previam algo semelhante à situação a
ser tratada. Ao encontrar uma norma com previsão semelhante, aproveita-se aquela
norma para resolver o caso.

A norma excecional transmite um desvio ao princípio regra, mas são casos ponderados.
Não se pode recorrer sempre às analogias, pois seria o caos tendo em conta que muitas
pessoas iam tentar incluir nas normas excecionais o desvio da regra
3) Critério que relaciona a aplicação da norma com a vontade
dos destinatários (relaciona 2 fatores: perceber se a norma se aplica
independentemente da vontade dos destinatários ou se a norma só é
aplicável se os destinatários quiserem)

 Normas imperativas: Aplica-se sempre e não pode ser afastada por


nenhuma das partes, ou seja, aplicam se independentemente dos
destinatários concordarem ou não (regime jurídico estipulado pela lei) –
ex.: 22 dias de férias por ano, não interessa se concordam + Artigo 294.º
 Percetivas: Impõe deveres/comportamentos - “deve”
 Proibitivas: Impõe proibições - “não pode” (sanção)
Refere-se a expressões ambíguas usadas em contratos., a lei
interpretativa é usada em expressões ambíguas usadas em leis e
normas.

 Normas dispositivas: Só vai aplicar-se se ambas as partes quiserem, ou seja,


se ambas as partes não estipularem algo que não a afasta – a aplicabilidade
depende dos destinatários (constam no Código Civil – “na falta de disposição
em contrário”). É, portanto, uma norma que pode ser afastada
o Permissivas/atributivas/facultativas/concessivas:
Atribuem poderes/faculdades, então, as pessoas se quiserem usam,
se não quiserem não usufruem – “tu podes”
(ex.: direito ao voto - Artigo 1305.º)
o Interpretativas: Tem como objetivo interpretar determinadas
expressões de significado ambíguo que as partes usam na redação
dos seus negócios. Quando as partes estão a fazer o seu contrato e
usam expressões duvidosas: ou as próprias partes do contrato
dizem o significado daquela expressão ou (não referindo o
significado) a norma interpretativa fá-lo e se não quiserem esse
significado, as partes que prevejam.
ex.: Ana aluga o prédio à Maria por uso estival (tempo de verão). A
Maria entende que tem o apartamento de 22 de junho a 22 de
setembro, enquanto a Ana só considera o mês de agosto.
Há aqui um significado ambíguo – se não definirmos as datas no
contrato, a norma vai considerar o Artigo 1402.º (“uso estival é o que
começa em 1 de abril e termina em 1 de novembro”)
o Supletivas: Visa suprir/ultrapassar a falta de certos elementos
essenciais à boa execução de um negócio jurídico e que as partes
desse negócio se esqueceram de prever ou não quiseram prever por
concordarem com o regime definido
ex.: eu compro o computador por 1500€ e vendem me por 1500€
Tem de me dar o computador hoje e amanhã pago
Onde encontro a pessoa para pagar? É essencial para a resolução do
contrato o local de cumprimento – a norma diz (Art 885.º, n.º 2)
ex2.: alguém tem de me entregar algo, mas não disse onde – Art. 773.º

4) Quanto ao tipo de sanção que a norma aplica

 Lei mais que perfeita: Quando um negócio jurídico é feito de maneira a


violar esta norma, tem como consequência sanções civis, penais e
contravencionais
o Para o ato: é inválido
o Para os autores: ações penais e contraordenacionais
Ex.: a Mariana faz um contrato de compra e venda com a Débora de 50kg de
heroína. O objeto desde negócio é legalmente possível? Não. E qual é a
consequência? Artigo 892.º - nulo.
A Ana e a Débora vão ser condenadas pelo crime de tráfico de droga (ataca o
objeto e os autores)

 Lei perfeita: A violação da norma tem como consequência sanções civis


Consequência para o ato – as pessoas praticaram o ato, ele é nulo, mas
elas não sofreram nada
O que acontece se fizer uma venda de um imóvel somente por documento
particular? Artigo 220.º - nulidade. E sou punida? Não, mas o negócio é nulo

 Lei menos que perfeita: A violação das normas implica uma


contraordenação para a pessoa que praticou o ato, mas o negócio
praticado é válido. No entanto, as pessoas por terem desrespeitado a
norma, vão ter consequências
ex.: vamos a uma discoteca que fecha as 2h, mas após essa hora continuamos lá
dentro a comprar, os negócios são válidos, contudo o dono será penalizado

 Lei imperfeita: Norma que se for violada não traz qualquer consequência
jurídica, não tem sanção. Temos de fazer determinada coisa, mas se não
fizermos não acontece nada
ex.: o Governo tem de providenciar o emprego para todos. Então e as taxas de
desemprego? Apesar disso, o Governo não tem sanção jurídica
5) Quanto à plenitude do sentido
Há leis no Código Civil que, ao ler, não necessitamos de recorrer a outras normas
para entender o seu regime jurídico. No entanto, há normas em que o legislador
não dá o regime jurídico e remete para outras normas.
Basicamente, se uma situação tem solução e surge outra situação que o
legislador entende que já lhe deu resposta, não volta a repetir, apenas remete
para a respetiva norma, pois a norma sozinha não dá a resposta inteira: só com a
conjugação das duas é que conseguimos perceber o regime político.

Norma autónoma Norma não autónoma


Artigo 130.º

Remissões = Remissões

Extrassistemáticas Intrassistemáticas

Implícitas Explícitas

Ficção legal Presunção Por texto Por artigo


- A lei finge
- A lei nega
- A lei ignora

Legal
Judiciais
de facto
Estabelecimento da
paternidade na
constância do matrimónio
Relativas Híbridas
Estabelecimento da
Absolutas paternidade fora da
5) Quanto à plenitude do sentido

 Norma autónoma – Sozinha tem o seu regime definido de forma


plena/completa, não necessita de ser conjugada com outras normas
(ex.: Artigo 130.º que diz o que pretende sem necessitar de remeter para
nada, pois refere de forma concreta que quem for maior de idade adquire
plena capacidade de exercício de direitos)

 Norma não autónoma – Sozinha não responde, precisa de outra


ordem, remete para outra. A própria norma diz-nos que temos de
procurar o resto do regime político em outra norma. Esta faz:
o Remissões
 Intrassistemática: Remete para outra norma e essa outra
norma faz parte do mesmo sistema jurídico (ex.: norma que
pertence ao ordenamento jurídico português e remete para outra que
também pertence – Se o Código Civil remeter para outro Código como o
Comercial é intrassistemática)
 Extrassistemática: Remete para outras normas que não fazem
parte do sistema jurídico português (Se a norma atirar para o
ordenamento jurídico francês/espanhol ou direito canônico ou
entidades da Santa Sé – eclesiásticos) – Art. 1625.º
o Remissões
 Explícita: O legislador diz de forma expressa que tem de ser
conjugada com outras normas, diz que o regime jurídico só é
completo se for visto em outra norma
 Por artigo: Está explícito que temos de completar com
outra norma (A norma x remete para y)
 Por texto: O legislador não prescreve o artigo, só diz
qual é a norma que regula aquela resposta, temos de
procurar o artigo respetivo (Procurar nas normas sobre o
usufruto – sabemos que temos de complementar com os
artigos de usufruto)

Exemplo geral
Artigo 1485.º
É uma norma que está inserida num capítulo que se chama “uso e habituação” e diz
“(...) extingue-se pelos mesmos modos que o usufruto”, ou seja, não sei quais são as
normas, mas sei que a norma referida é intrassistemática, pois faz parte do
ordenamento português. Ainda, está explícita por texto, porque não nos indica o
artigo, temos de o procurar. Mais à frente este artigo faz remissão para a “alínea c) do
artigo 1239.º”, sendo explícito por artigo.
Como sabemos, então, quais os modos de constituição do direito do uso e habitação?
“Mesmos modos que o usufruto” (explícito por texto): ir à norma que sabemos que
começa no Art. 1440.º (contrato, tratamento, usucapião e a disposição na lei).
Contudo, no Art. 1485.º deparamo-nos com uma remissão explícita por artigo que nos
diz que o usucapião não é permitido, devendo cortar essa parte da nossa resposta.
Como se fazem as remissões:

 Implícita: Às vezes o legislador não é claro e remete-nos para


outros regimes, mas não nos diz diretamente quais são, nós é
que temos de entender

 Ficção legal
 A lei finge a verificação ou ocorrência de um facto
que na realidade não se verificou/ocorreu
ex.: se o Francisco me deve 5000€ e tinha de pagar e não
pagou, vai ter de pagar o € e juros, mas não vou conseguir
que o faça se não o interpelar (“paga o que deves!”). Ele só
terá de o fazer quando entrar em amora (atraso e juros),
então imponho uma data avisando que pagará juros se não
me pagar até o dia especificado. O Francisco sabe que ando
atrás dele para o interpelar, então foge e quando recebe a
carta recusa-a (evita ser notificado)
Porque evita receber a minha carta? Enquanto não tiver
data não paga juros, age de má-fé.
Então a lei finge, finge que foi interpelado para que se
possa aplicar o regime de amora: “o devedor que de má-fé
diz não ter sido notificado, finge que foi” -
Artigo 805.º n.º 2, alínea c) – finge-se que no dia que
recusou a carta que foi notificado
 A lei nega a existência de um facto que ocorreu
fingindo que ele nunca ocorreu.
ex.: 2 pessoas casaram-se e tiveram uma grande festa
(prova que houve o casamento). Enquanto o casamento
não for registado, não se consideram casados - Artigo
1669º - Porque a lei nega e finge? Obriga a registar
 A lei ignora a favor de determinadas pessoas a
ocorrência de certos factos que aconteceram.
ex.: A vende um carro a B que não regista
A vende novamente a C regista
A lei ignora a primeira venda
 Presunção: São sempre factos que não sabemos se acontecem
ou não, nós só presumimos com base em algo
(ex.: presumir que vai chover porque está nublado) - Artigo 349.º
Porque o fazemos? Razões de experiência, através de um facto
A presunção legal que conhecemos e relacionamos com outro. Sendo assim, são
permite-me só ter de ilações/conclusões (a lei presume um facto se houver um facto
provar uma coisa e a provado). Em certos casos o legislador diz “se me provar este
lei presume outra, facto, eu vou presumir este, porque normalmente este está
passando o ônus de associado a esse”, porque a lei sabe que exigir a uma pessoa
prova para a outra. provar os 2 é muito difícil
 Legal: Ilação que a lei tira de um facto conhecido para
afirmar um facto desconhecido – para serem legais têm
de vir da lei (Artigo 350.º)
 Relativa (maior parte das presunções legais)
Estas estão presentes quando a lei presume um facto,
com a vantagem de a pessoa que for prejudicada pela
presunção possa provar a sua inocência, ou seja, possa
afastar essa presunção provando que aquilo que é
normal acontecer não aconteceu. Basicamente, a lei
permite que a pessoa prejudicada diga (ex.: o Francisco
Quando se diz
ficou de me entregar 1000€. Acontece que não se
“presume-se” é relativo
encontrou comigo para me entregar o dinheiro.
Normalmente, quando se falta a este tipo de
compromissos é porque o devedor não pretende pagar ao
credor. Posto isto, a lei presume que se o devedor não
cumpriu ele é culpado. Mas e se, ele ao ir para o ponto de
encontro, foi atropelado e entra em coma? Ele tem culpa
de não ter cumprido? Não! Assim que o Francisco acordar
do coma e tiver em condições combinará outra data.
Então, a lei vai presumir que o Francisco teve culpa, mas
ele pode provar que o que é normal acontecer, não foi
possível no seu caso. Contudo, se a lei não presumisse a
Qual o efeito de ônus de culpa do Francisco, quem é que tinha de a provar? Eu. E
prova? A inversão das como o conseguiria fazer? O juiz dá-me o ônus de prova,
regras do ônus de prova ou seja, o juiz diz-me “prova que ele te deve e a lei ajuda-te
Artigos 341.º e 342.º a presumir a culpa dele”. No entanto, já não é necessário
Exceção à regra: Art.344.º pois, como prejudica o Francisco, quem tem de procurar
afastar a culpa é ele.
Se não houvesse presunção legal eu tinha 2 coisas para
provar – que ele me deve e que não me pagou com culpa.
Existindo, tenho só de provar que me deve e o ônus de
culpa inverte-se para o Francisco. Ou seja, eu provo uma
coisa e o Francisco prova outra.)
Quem alega um facto tem de o provar (ex.: se todos os
alunos devessem 5000€ à professora e só o Afonso é que
pagou, se a professora alegar que não pagou, quem tem de
provar algo é o Afonso.)
A prova faz-se pela positiva, daí não ser a prof. a ter de provar
 Absoluta (excecionalmente)
A lei presume o facto, mas não permite que ninguém
tente contradizer.
Quando se diz Então, quando a lei presume de forma absoluta
“presume-se sempre” ninguém se pode afastar, presume e não admite prova
é absoluto em contrário (ex.: houve uma simulação de negócio e
Alberto foi ao registo e registou essa simulação. Chega
Bruno e adquire o imóvel mesmo sabendo da simulação,
mesmo sabendo que pode ficar sem ele, ou seja, age de
má-fé - Artigo 243.º, nº3)
 Híbrida (só existem em contexto de filiação)
Estas admitem ser afastadas, mas não precisam de
mostrar prova em contrário.
Para afastar a culpa basta alegar improbabilidade
(o que foi presumido é improvável) ou
sérias dúvidas (do que foi presumido)
- Estabelecimento da paternidade na constância do
matrimónio: Artigo 1826.º e 1839.º, nº2
- Estabelecimento da paternidade fora da constância
do matrimónio: Artigo 1871.º (quando filhos nascem de
pais não casados).
No caso de um senhor viver com alguém e nascer um filho
nada parecido pode afirmar sérias dúvidas
A mãe de uma criança é sempre certa, mas o pai não
(ex. geral: o António casou com Laura e, para ter uma vida
melhor, emigra durante 2 anos de maneira a conseguir
obter mais dinheiro. Fica 2 anos sem voltar a Portugal e
quando regressa, Laura diz-lhe que tem um filho dele com
1 ano.
Quem é o pai da criança? Artigo 1826.º “tem como pai o
marido da mãe”, o António – termos legais.
No entanto, a lei faz presunções com a normalidade,
António sabe que é impossível ser o pai e nem precisa de
fazer testes porque esteve fora, então não tem de provar
sequer, apenas tem de apresentar factos, manifestando
improbabilidade. Ao artigo 1826.º contrapomos com Artigo
1839.º, nº2.)

Qual a finalidade das ficções legais?


Qual a finalidade das presunções legais?
Em que circunstâncias pode o julgador tirar ilações de um facto conhecido para firmar factos desconhecidos?
O q entende por presunções híbridas?
O que entende por heterotutela?
Quais os meios de autotutela que conhece?
 Judicial/de facto (Artigo 351.º)
Ilação que o julgador tira de um facto conhecido para
afirmar um facto desconhecido.
ex.: dentro do carro seguem 4 pessoas e este circula a
120km/h (velocidade normal) na autoestrada.
Há um embate e 3 passageiros ficam remetidos no carro, já o
condutor é projetado para fora do automóvel.
A seguradora afirma que a culpa é dele porque devia ter cinto
e não sofreria os danos, mas o condutor alega que ia com
cinto em tribunal. Por sua vez, a seguradora contrapôs.
Como se prova que ia com cinto? O juiz manda investigar o
cinto – o perito analisa e verifica que o cinto não partiu e está
impecável, não mostrando ter reagido a um embate
Em tribunal: presunção do juiz, se o cinto estivesse colocado e
se estava bom, não saíria vidro fora, então presume que o
condutor não levava cinto de segurança - Artigo 351.º
(há certos factos que não podem ser provados com
testemunhas, mas só com documento, como por exemplo, os
facto de uma escritura pública só podem ser provados por
documento, ninguém pode testemunhar as provas)
Casos que não são possíveis provas testemunhais, não sendo
possível presunções judiciais: Artigo 392.º, 393.º e 394.º
Concluindo, se não houver nada que impeça a prova
testemunhal, há presunção judicial, se houver não há
presunção

Diferença nas presunções

Se a conclusão for tirada pela lei, ou


seja, se for a lei que presume:
presunção legal.
Se for o juiz, o julgador a presumir:
presunção judicial

Tipo de prova:
- Relatório do perito;
- Prova por Inspeção ao Local (Intenção de levar o Juiz ao local);
- Prova testemunhal; [Crime de falsas declarações (perjúrio)]; - Abertura
de processo-crime paralelo para julgar o crime.
Tutela e heterotutela
Para que servem os direitos subjetivos se não houver mecanismos que obriguem as pessoas
a protegê-los? Não serviria de nada, porém um Estado quando dá direitos cria
paralelamente mecanismos que façam com que os outros cumpram os deveres.
Num Estado de Direito como o nosso, não é possível nós próprios salvaguardarmos os
nossos direitos (se alguém me agredir não posso fazer justiça pelas minhas próprias mãos).
A lei vedou isto, então é preciso que alguém os proteja:

 Tutela pública/Heterotutela: Todos têm acesso aos tribunais


(Artigo 20.º CRP), então não se pode fazer justiça pelas próprias mãos
(Artigo 1º do Código de Processo Civil)
Esta consiste na consagração de mecanismos legais a partir dos quais se
exerce a proteção jurídica dos direitos, assegurando o cumprimento das
normas jurídicas e aplicando (coercivamente se necessário) as consequências
jurídicas para a violação das mesmas.

o Tutela judicial: A heterotutela pressupõe regularmente o recurso aos


tribunais judiciais, tribunais estes que administram a justiça em nome do
povo. Para garantir os nossos direitos temos de recorrer a tribunal, pois a
heterotutela não permite que o façamos nós mesmos
ex.: Artigo 817º para o caso de incumprimento de uma obrigação, são apreciados
os factos e decidido o litígio com a sentença que condena o devedor.
Os tribunais são independentes e apenas sujeitos à lei e os juízes não
podem ser responsabilizados pelas suas decisões, salvas as excepções.
As decisões devem ser tomadas de maneira estritamente imparcial e
justa. No entanto, nada garante que o juiz não se mostre sensível em
alguns momentos.
O princípio da irresponsabilidade do juiz tem sido defendido. Todavia, do
mesmo modo que sucede em relação a todas as profissões prestadores
de serviços, também o juiz deve ser, se for caso disso, responsabilizado.
Como os tribunais judiciais se agregam? A sua hierarquia:
1. Tribunal de Justiça
2. Tribunal de Relação – tribunais de 2ª instância
3. Tribunais de Comarca – tribunais de 1ª instância

o Tutela administrativa: Não é preciso ir diretamente para tribunal


A Administração é distinta da Jurisdição e a sua finalidade consiste
essencialmente em realizar os objetivos próprios da Administração e do
Estado, nomeadamente, praticar actos administrativos, impor planos ou
leis ou encerrar estabelecimentos comerciais por razões de saúde pública.
A tutela dos cidadãos é assegurada pelas garantias dadas pela própria
Administração, cujos atos obedecem ao princípio da legalidade e são
praticados de forma imparcial e isenta, que criam confiança nos cidadãos
Hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais
1. Supremo tribunal administrativo
2. Tribunais centrais
3. Tribunais administrativos e fiscais (TAF´S)
Outros meios de tutela de Direito

 Tutela preventiva
Possível tomar medidas antes da violação

Esta pretende prevenir a violação: muitas vezes a ameaça iminente que o


nosso direito vai ser violado permite-nos, em tempo útil, evitar a violação.
Sendo assim, não preciso de esperar que o meu direito seja violado para
agir e evitar a violação. Podemos recorrer a mecanismos legais, tais como a
providência calcular que é uma espécie de um processo rápido que nos
permite ter do juiz uma sentença antes do processo ocorrer.

 ex.: uma pessoa deve-me 50000€ e sabe que vou exigir o pagamento, mas eu
sei que se for intentar uma ação provavelmente, enquanto demora o
processo judicial, a pessoa vai dissipar todo o seu património (desviar todos os
bens de maneira a que eu não consiga obrigar a pessoa a pagar, porque teria
de os penhorar, mas quando isso acontecer a pessoa já não tem nada)
Se eu começar a perceber que não me paga ou não tem intenções de tal
porque ate já começou a vender os seus bens e há um receio de dissipar todo
o seu património, posso lançar uma providência calcular (peço ao juiz para
arrestar todos os bens da pessoa, ou seja, “carimbar” os bens em que as
pessoas podem vender os bens mas vão carimbados por mim, então não vale
de nada a pessoa vender porque quem compra já sabe que corre o risco de
perder)
 ex.: Gonçalo e Beatriz são namorados e trocam fotografias íntimas
A Beatriz termina com o Gonçalo, e este vinga-se pegando nessas fotos e
metendo nas redes sociais
Isto prejudica o direito à imagem e privacidade da Beatriz
Ela precisa de esperar que ele o faça para ela reagir? Não
Se ela quiser lança uma providência calcular para que o juiz o proíba de o
fazer - Artigo 72.º, n.º 2
 ex.: quando se dita a alguém uma OTC (previsão em casa), evitando a sua fuga
- daí prisão preventiva, evitar que fujam

Medidas de segurança: Pode ser penal, mas também é preventiva.


ex.: a uma pessoa que tem uma patologia de assassinos em série, o que se pode fazer-
lhe? Internar a pessoa num estabelecimento de saúde mental, não só para a tratar, mas
também para a colocar num local onde ela não possa sair e cometer mais crimes

Há uma contraposição com a tutela repressiva. Esta ocorre quando o direito


já foi violado e o que pretendemos é repor o dano causado pela violação
(ex.: quando uma pessoa não paga já violou o direito de crédito, então queremos
intentar uma ação para recuperar o dinheiro) – já houve uma violação, quer fazer
com o que foi violado seja restaurado.
 Tutela compulsiva
Visa compelir (levar a que alguém adote um comportamento devido)
ex.: o Ivo tem até dia 31 de janeiro para me pagar e se não o fizeres acresce juros.
Prefere pagar com juros ou sem juros? Quantos mais dias passarem mais paga,
isto obriga o devedor a pagar rapidamente – o que visa compelir aqui é pagar
Estas medidas normalmente são impostas por:
o Aplicada por entidades
Ex.: finanças (para pagar)
Contudo,
o Aplicada entre particulares
O direito objetivo tem normas que permitem ser usadas por particulares
para outro particular de forma a compelir o outro, ou seja, uma pessoa
impõe a outra pessoa uma medida para que a outra parte tenha uma
atitude devida para connosco:
 Direito de retenção (Art. 754.º/755.º)
Podemos proteger o direito sem precisar de uma ação
Suponhamos que fui a uma oficina para fazer revisão ao carro e afirmo
que podem fazer tudo que é necessário.
Quando chego lá, o dono diz que tenho de pagar 800€
E eu digo que vou levar o carro e depois venho pagar
O que o dono da oficina pode fazer? Reter o veículo – enquanto não
trouxer o dinheiro o veículo fica retido
Se eu precisar do carro irei pagar de imediato
(forma de compelir o devedor a pagar)
No entanto, este direito só pode ser aplicado quando a coisa
devida estiver diretamente ligada com o direito que se pretende
salvaguardar (o dono pode reter o veículo porque está a salvaguardar o
seu dinheiro)
Não pode ser aplicado aqui:
Vou buscar o carro, pede 800 euros e eu pago
E o dono diz-me “a minha mulher disse que foi buscar um casaco lavado
e não pagou, então o carro fica retido”
Não está diretamente ligado (a mulher podia ter retido o casaco)
 Cláusula penal (Art. 810.º)
Cláusula inserida dentro de um contrato
ex.: a Débora e eu fazemos um contrato de prestação de serviços e
nesse contrato colocamos uma cláusula penal, ou seja, ambas as partes
acordam que têm de pagar a outra em caso de incumprimento do
contrato - a cláusula penal vai me compelir a cumprir
 Possibilidade de se invocar uma exceção de não
cumprimento do contrato (Art. 428.º)
Só é possível ser aplicada em contratos bilaterais ou plurilaterais,
ambas as partes ficam dependentes uma da outra, ambas
assumem obrigações.
ex.: de que forma posso compelir a Débora a pagar?
Não cumpro a minha obrigação de entrega enquanto não me pagar.
Não cumpro enquanto não cumprirem
 Tutela reconstitutiva
Ideia de obrigar a pessoa a reconstituir o dano que provocou, ou seja, visa
reconstituir a situação que existia antes da violação.

Os danos podem ser:


 Patrimoniais: traduz-se num valor monetário (ex.: direito à
propriedade)
 Não patrimoniais/morais: não consigo traduzir num valor monetário
(ex.: direito à vida)

A função destas medidas é reparar o dano, que pode ser:

1. Reconstituição natural (Art. 562.º)


Sempre que possível esta deve ser a medida compensatória
A pessoa tem de voltar exatamente ao estado que estava antes da
violação, se não for possível ser devolvido o que lhe foi tirado deve
obter o mais idêntico possível
Caso não seja possível:

2. Indeminização por equivalente pecuniário (Art. 566.º)


Entrega-se montante em equivalente
Só existe para danos patrimoniais – todo o dano que se consegue
quantificar em dinheiro.

3. Compensação (Art 496.º e 493.º, n.º 1)


Para danos morais, aplica-se a compensação.
Ex: partir braço - não há nada que pague a dor
 Tutela punitiva
Visa punir condutas ilegais e temos como destaque as sanções penais.

o Sanções penais
Derivam da prática de um crime e tem de estar especificada na lei
que é crime: “não pode haver crime sem que haja uma lei a dizer que
é crime”
 Prisão
Reservada para crimes para certa gravidade, muito dificilmente é
aplicada, sendo que se a pena for de 5 anos nem chega a entrar
no estabelecimento prisional
 Multa
“Arguido condenado a uma pena de multa” é verdadeiramente
penal, coima não é multa, é uma contraordenação que não dá
pagamento de multa, mas sim de coima – não foi multada, foi coimada
(“apanhei uma multa no transito” é errado, aplica-se uma coima)
ex.: condenado a uma pena de multa de 120 dias à razão diária de 50€,
ou seja, 120x50 – multa essa paga ao estado e não ao lesado
Se for uma lesão à integridade física o juiz fixa uma pena de multa
(consequência da responsabilidade penal, paga-se ao Estado). No
entanto, se o lesado pedir uma indeminização face à
responsabilidade civil, e o arguido não tiver bens para pagar, o
ofendido fica sem dinheiro. Contudo, se o arguido não pagar a multa
converte-se em pena de prisão
 Admoestação: Sermão do juiz
 Trabalho a favor da comunidade
Não é propriamente uma pena. Esta surge na consequência de
em vez de pagar uma pena de multa tem de trabalhar em favor
da comunidade
 Medidas de segurança
Podem ser penais (já visto em cima) e podem ser preventivas,
como o caso de um assassino ter um tratamento da sua
condicionante e não volta a sair de lá enquanto não estiver
tratado

o Sanções punitivas civis


Há quem entenda que o direito civil não é compatível com a punição,
no entanto há tutela punitiva de caráter civil – o direito civil pode ter a
tencionalidade de punir
ex.: jogador de futebol não pode consumir determinadas substâncias, se
o fizer pode ser suspenso ou expulso (carater punitivo)
Autotutela
Excecionalmente, podemos recorrer à autotutela, mas só se tiver estabelecido
na lei. Ou todos os requisitos estão verificados ou não se pode:

 Legítima defesa (Artigo 337.º)


Pode agir em legítima defesa:
 Aquele que se deparar com uma agressão humana contra a sua pessoa, o
seu património ou contra a pessoa ou património de terceiros
 Agressão essa que tem de ser atual (está a ser produzida no momento)
ou iminente (está prestes a acontecer, ex.: ameaçam uma facada)
 Se não for possível recorrer a meios coercivos normais em tempo útil:
a tempo de não sofrer o dano
Quem age em legítima defesa tem de agir com “animus defendendi”, ou seja,
quem atua deve atuar em modo proporcional com o único intuito de travar a
agressão, não causando um dano manifestamente superior àquele que visa evitar
Todavia, pode haver excesso de legítima defesa:
Muitas vezes a pessoa que está a defender-se está com medo e a maneira como
reage acaba por ser excessiva
(ex.: uma mulher ouve há alguns dias que há um grupo de 3 homens que andam a violar
mulheres e, quando sai do trabalho, depara-se com 3 pessoas encarapuçadas.
O que acontece? Vê uma ameaça iminente, então pega no que tem na mala e fura os
olhos de um e os outros, que vêm para ajudar o outro, acabam por sofrer o mesmo
dano. Neste caso, há um excesso.
E pode ser desculpabilizado? Se o excesso for de perturbação - Artigo 337.º n. º2 –
Como saber se o excesso é culposo? Através do bom pai de família. O legislador tem de
avaliar se outra pessoa reagiria assim nessa situação – Artigo 487.º, n. º2

 Ação direta (Artigo 336.º)


Para agir em ação direta:
 É necessário estar a defender um direito próprio
 Tem de ser impossível o recurso a meios coercivos normais em tempo útil
 Não pode sacrificar interesses ou direitos superiores ao que visa proteger
Sendo assim, a ação direta não pode ser usada em relação a terceiros.
E consiste na apropriação ou destruição de uma coisa ou na eliminação de
resistência que foi oposta aquando do exercício do direito daquele que age
em ação direta (quando estou a exercer o meu direito e alguém resiste
perante esse direito, eu posso extinguir esta resistência).
ex.: vivo numa casa arrendada, pago todas as rendas certamente e o meu senhorio
quer que eu saia. Quando chego ele mudou a fechadura
Se eu pago não é meu direito usufruir da casa?
Posso partir a fechadura em vez de chamar a GNR pois iriam tomar ocorrência e não
agiriam rapidamente (já eu não podia ficar a viver na rua)
 Estado de necessidade (Artigo 339.º)
Usamos o estado de necessidade:
 Para remover o perigo atual proveniente de uma coisa ou de num animal
 Se estiver a proteger o interesse da própria pessoa ou de terceiros
(ex.: alguém está numa casa a arder e eu ajudo).
 Só se não for possível o recurso aos meios coercivos normais em tempo útil
 Não se pode causar danos manifestamente superiores aos que visa evitar
Atua de forma lícita aquele que destrói ou danifica uma coisa alheia para remover
o perigo atual proveniente de uma coisa ou de um animal (se formos atacados
por um animal e o matar, agi por estado de necessidade e não legitima defesa)

o Estado de necessidade defensivo


Destruir a coisa proveniente de onde vem o perigo
ex.: se houvesse um perigo ao meu património proveniente de um animal e
não houvesse outro meio de o deter seria lícito matá-lo
o Estado de necessidade agressivo
Utilizar outra coisa para remover um perigo que está a ocorrer, mas o
perigo não é proveniente do que é destruído
(ex.: carro arder, e eu para parar o fogo parto o vidro de uma montra para
chegar a um extintor)

Há que distinguir se quem contribuiu para o estado de necessidade foi o agente,
caso em que só ele deve indemnizar; ou se o agente em nada contribuiu para o
estado de necessidade, sendo que neste caso a indemnização será fixada de
forma equitativa entre três pessoas, o agente, aquele que beneficiou do estado
de necessidade e aquele que para ele contribuiu.

 Direito de resistência (Artigo 21.º CRP)


É ilícito resistir a ordens dadas por autoridades se essas ordens forem
desprovidas de fundamento legal, forem abusivas ou forem arbitrárias.
Ressalva-se o particular caso referido no Artigo 271.º n.º 3 da CRP que
determina a sessação do dever de obediência dos trabalhadores e
funcionários a ordens dadas pelos superiores hierárquicos se tais ordens
implicarem a prática de um crime (o funcionário não pode praticar um
crime se disserem para o fazer)

Negócios jurídicos
Praticar negócios jurídicos é um ato voluntário lícito.
O único facto jurídico que depende da vontade são os negócios jurídicos: eu vejo na lei
os efeitos do contrato de compra e venda, se quiser estes efeitos eu realizo o contrato,
se não quiser não faço o contrato.
Na celebração de negócios jurídicos, se eu quero aqueles efeitos do negócio eu tenho
de o praticar de acordo com a lei, assim o negócio fica perfeitamente válido e eu tenho
os efeitos que queria, caso contrário a lei invalida-o (sanciona-me, negando os efeitos)
Quando faço um negócio tenho de respeitar as condições que a lei impõe (se a lei as
estabelece, só gera efeitos se forem respeitadas). As condições são:

Condição de validade imposta por lei:


 Formal
A lei impõe uma forma para a celebração do contrato.
ex.: para o negócio de uma compra e venda ser válido tem de ser feita uma
escritura (exceções - Art. 119.º)
Ao realizar o negócio verbalmente estou a desrespeitar a lei e o efeito de violar
uma condição de validade formal tem como consequência o negócio tornar-se
nulo (Artigo 220.º).
Efeito jurídico:
Nulidade, não se produz os efeitos pretendidos por ambas as partes.
A declaração judicial de nulidade tem natureza declarativa porque não é ela
que produz a nulidade, uma vez que um negócio nulo já o é desde o
momento da sua celebração e, por conseguinte, não produz os efeitos
pretendidos pelas partes. Deste modo, a sentença limita-se a constatar este
facto e a declará-lo.

 Substancial/material
Para celebrar certo tipos de negócios, a lei impõe uma forma.
ex.: Artigo 877.º – a lei está a exigir uma condição substancial, é requisito o
pressuposto que os netos e filhos consistam
ex.: Artigo 125.º – um menor não pode praticar negócios sozinho, pois não tem
capacidade negocial de exercício, mas pode fazê-lo se tiver representação dos pais
Se faltar forma, efeito jurídico:
Anulabilidade, os efeitos produzem-se apenas provisoriamente, perdem-se
retroativamente.
De acordo com o artigo 287.º, n.º 1, 1.º parte, têm legitimidade para arguir a
anulabilidade as pessoas em cujo interesse a lei a estabeleceu (que pode ser, por
exemplo, a vítima de um dolo ou de uma coação moral). O direito de pedir a
anulação é um direito potestativo extintivo.
Há tipos de negócios que para o Direito nem sequer existem, então não há produção
de efeitos nenhuns.
Exemplo de negócio jurídico inexistente (Art. 1630.º)
 Celebração de casamento do mesmo sexo era inexistente para o direito, não
havia efeitos nenhuns (já foi revogado, agora já produz efeitos)
 Coação física, ou seja, obriga/força a pessoa a assinar.
O negócio assim celebrado é inexistente, não produz qualquer tipo de efeito
– Artigo 246.º
Coação moral: o negócio é anulável – Artigo 256.º

Nulidade Anulabilidade
Artigo 286.º e 289.º Artigo 287.º, 288.º e 289.º
Pode ser declarada oficiosamente Não pode ser declarada oficiosamente
(o juiz é obrigado a declarar)
Só pode ser invocada enquanto o negócio não
Pode ser invocado a todo o tempo, qualquer estiver cumprido, ou estando cumprido
altura dentro de 1 ano após a sessação do vício
(há prazo – Artigo 287.º, n. º1 e 2)

Só pode ser invocada pela pessoa em cujo


interesse a lei determinou a possibilidade de o
Pode ser invocada por qualquer interessado negócio ser anulado (ex.: num negócio jurídico
feito sobre coação moral só pode invocar a
anulabilidade a pessoa coagida)

Só são anuláveis os negócios jurídicos que


Só são nulos os negócios jurídicos que violem violem normas que protejam interesses
normas que protejam interesses públicos particulares

É sanável (o negócio anulável pode tornar-se


válido), por duas formas:
Confirmação: uma pessoa em vez de invocar a
É insanável. anulabilidade, confirma, então o negócio
O negócio nulo nunca pode deixar de o ser – torna-se válido (Art. 288.º)
o vicio formal/violação de um bom costume Decurso do tempo: o direito de anulabilidade
tem prazo para se reclamado – o direito
potestativo extintivo de pedir a anulabilidade
de negócio jurídico caducou
O negócio jurídico anulável produz efeitos
jurídicos provisoriamente, isto é, produz
A nulidade impede a produção dos efeitos efeitos enquanto não for declarada
jurídicos pretendidos pelas partes judicialmente a anulabilidade, pois a partir da
(excecionalmente a lei pode determinar em declaração judicial há lugar à restituição de
alguns casos que um negócio nulo produza a tudo o que tiver sido prestado, ou seja, a
É nulo o negócio que viola
nulidade) os bons costumes? declaração judicial de anulabilidade produz
Sim, põe em causa a ordem pública efeito retroativos à data da celebração
do negócio

Porque a lei determina que o negócio feito sob coação moral/chantagem é anulável?
Vai ser anulável porque viola o interesse do particular, ou seja, protege o coagido/particular
Fontes do Direito Português
Quando falamos em fontes de direitos, falamos de onde nasce o direito (origem)
Devemos fazer uma divisória entre: (Ver “O problema das fontes do direito
em geral” Ponto 12 sumário

 Fontes imediatas
Apesar do Artigo 1.º referir ainda que também são fontes de direito
imediatas as normas corporativas, nós já tínhamos visto que este artigo
não foi objeto de nenhuma revisão desde a sua elaboração (1966 –
período anterior ao 25 de abril e nessa altura ainda vigorava um regime
estadual que não é o atual).
Nessa época existiam corporações (conjuntos de pessoas que se reuniam
de acordo com determinado setor para autorregular esse setor, como, por
exemplo, a pesca). Ou seja, as normas ditadas pelas corporações eram
normas que traziam direito objetivo.
Só que atualmente, com a revolução de 1974, as corporações deixaram de
existir e, “normas corporativas” já não existem no sentido originário no
Artigo 1.º, há apenas uma parte da doutrina que tenta atualizar esta
norma e diz que as corporações antigas são as atuais ordens nacionais.
o Lei
Sendo assim, só temos uma fonte de direito imediata que é a lei.

 Fontes mediatas
Existem, mas por si só não têm força vinculativa, não podem ditar direito.
Só são relevantes se for possível serem utilizadas com base na lei. É a lei
que tem de lhes dar essa força para poderem ditar o direito objetivo.
o Usos
(diferente de costume, pois este tem “corpus”, prática repetida por toda
a sociedade, ex.: Natal e bacalhau)
Existem determinadas zonas do país onde é usual uma determinada
prática
ex.: é usual, antes de comprar um veículo, fazer um teste drive durante o
fim de semana – isto não é lei, não é fonte de direito.
Todavia, se a lei disser que se deve atender ao uso da terra, este
passa a ser fonte de direito, porque o uso sozinho não tinha força
vinculativa nenhuma, mas como a própria lei mandou atender aos
usos, o uso passou a ser fonte de direito – regra que as pessoas
devem reger-se, porque a lei permitiu isso (referido no Artigo 3.º)
o Equidade (“amaciador” da lei)
Só pode ser utilizada se a lei permitir - Artigo 4.º
Os usos e a equidade são fontes de direito desde que a lei lhes confira.

Temos, na realidade, atualmente, apenas 3 fontes de direito.


Se eliminarmos as normas corporativas, temos a lei, usos e equidade.
Sempre que a lei é fonte imediata, o usos e equidade são a fonte mediata,
porque precisa que a lei lhe confira isso.
 Fontes voluntárias
Lei
Além de ser uma fonte de direito imediata é uma fonte de direito
voluntária, porque quando ela é criada, é criada com o intuito de criar
direito. É criada com o propósito de trazer novos direitos, novos deveres.

 Fontes involuntárias
Não tem o propósito de criar direito, no entanto, acabam por influenciar a
sua criação.

 É inútil o que o legislador faz. Porquê?


Uma lei pode ser vigente, mas isso não quer dizer que seja válida.
Por exemplo, se uma determinada lei violar certos princípios gerais e se for
considerada por toda a comunidade onde vai ser aplicada como moralmente
incorreta, injusta ou violadora de direitos fundamentais, ela pode estar em vigor,
mas a maior parte das pessoas não a aceita, não a considera válida.
 Imaginemos agora uma lei altamente discriminatória, uma lei que, por exemplo,
diferenciava as pessoas de acordo com a sua condição socioeconómica, de acordo
com o seu género, orientação sexual, de acordo com a sua origem. Este tipo de lei no
nosso ordenamento jurídico atual, seria considerado uma lei válida?
Poderia ser vigente, estar em vigor, mas a maior parte da população não a
consideraria válida. Porquê?
Porque ela viola os princípios fundamentais e esses princípios são orientadores do
legislador quando faz uma lei. O legislador não pode fazer uma lei que os contrarie,
pois a lei seria inválida, ninguém olha para aquele conteúdo, nem ninguém o
executa. A sociedade não vê aquela norma como válida e aumenta a resistência ao
seu cumprimento.

 O que é que isto quer dizer?


Acima da lei, que aparentemente nos surge como primeira fonte de direito, estão os
princípios gerais de direito e estes não estão escritos em lado nenhum. Nem tem de
estar visto que fazem parte de uma sociedade evoluída. No entanto, alguns têm reflexo
na Constituição.
Sendo assim, os Princípios Gerais de Direito são fonte de direito e o legislador tem de os
seguir. Estes são indispensáveis à validade da lei e superiores à lei.

Para a lei vigente e a lei válida serem mais claras:


O período Germânico, a história da Alemanha
Havia leis escritas, positivadas, em vigor no período Nazi e que eram leis vigentes.
Leis que determinavam perseguição dos judeus eram válidas?
Não, pois estavam a meter em causa os princípios fundamentais de justiça, a dignidade
da pessoa.
Então o Artigo 1.º prevê todas as fontes de direito?
Não prevê todas.
Em primeiro lugar, as normas cooperativas já não existem.
As leis existem, normas primárias são fontes de direito.
O Artigo 3.º fala sobre os usos, o Artigo 4.º sobre a equidade.
E ainda há outras fontes superiores que não estão escritas em lado nenhum:
os Princípios Fundamentais de Justiça, a que deve obedecer a lei.
Contudo, há outro tipo de fontes que não são consideradas fontes de direito no
nosso ordenamento jurídico, mas que acabam por involuntariamente
moldar/influenciar a criação de direito:

1. Jurisprudência
É o conjunto de decisões tomadas por qualquer Tribunal português.
 Acórdão - decisão emitida por três juízes
 Sentenças - decisão emitida por um juiz
A jurisprudência acaba por ser uma decisão tomada pelo juiz num determinado
caso, aplicando uma determinada lei e, às vezes, nessa aplicação o juiz faz
determinadas interpretações.
Interpretações essas que podem não ser a nossa interpretação: “O advogado perde a
causa, porque não tem a mesma interpretação, pois se tivesse não a teria perdido.”.
Quando um juiz aplica a lei, ele acaba por interpretar essa mesma lei num
determinado sentido e, às vezes, as decisões dos tribunais podem levar,
involuntariamente, a que o legislador se aperceba de determinadas falhas no
entendimento da lei
Ocorrendo isto, o legislador apercebe-se que a jurisprudência está a chamar à
atenção para alguns aspetos menos positivos da lei, e então sente-se tentado a
fazer novas leis, a alterá-las de acordo com determinado sentido ou outro.
Portanto, quando um juiz dita uma decisão (jurisprudência) não quer criar direito,
mas pode, mais tarde, levar à criação de direito.
A jurisprudência não tem força vinculativa, isto é, aquilo que é decidido num caso, não
vincula os juízes para casos posteriores. Não há casos iguais, há sempre uma variante
ou outra que muda o cenário. No caso do direito português, não há precedência das
decisões, cada caso é um caso. Cada juiz irá analisar aquele caso, irá aplicar a lei
consoante a sua interpretação (há quem entenda que isto é um problema porque a
sorte pode mudar de acordo com o juiz, mas não pode acontecer porque se os casos
são idênticos a lei é a mesma, a solução deve ser a mesma)
A decisão de um tribunal final tem força vinculativa para que caso?
Num caso sub judice, ou seja, para o caso que está a ser julgado.
Só há um tipo de decisão jurisprudencial, isto é, só há um tipo de um tribunal
específico que essa decisão vincula toda a gente: decisão do Tribunal Constitucional
quando declara uma norma inconstitucional com força obrigatória e geral.
Esta decisão, deste tribunal em particular, quando declara certa norma
inconstitucional com força obrigatória e geral, essa norma tem força de lei, no
sentido que vincula toda a gente– Artigo 282.º, n.º 1 da CRP.
Contudo, é a única decisão que vincula toda a gente.
Se formos ao Código Civil, o Artigo 2.º foi revogado, não está mais em vigor, houve
uma lei que veio cessar a sua vigência.
Assentos - decisões imitidas pelo plenário do Supremo Tribunal de Justiça (todos
os juízes e conselheiros juntos, não era por secções).

 Se a lei é a mesma, a sua interpretação devia ser igual para todos os juízes, só
que há juízes que interpretam de maneira diferente: existiam correntes
jurisprudenciais contraditórias, ou seja, para a mesma questão, tribunais decidiam
da maneira A e tribunais decidiam de maneira B.
Quando este conflito começava a ser demasiado evidente (a haver muitas decisões
num sentido e muitas decisões em outro sentido) o Supremo Tribunal de Justiça
constatava com uma divisão na jurisprudência, os juízes não se estavam a entender.

 Então, como é que se ia decidir aquele assunto específico?


O Supremo reunia todos os juízes conselheiros, pegavam na questão contraditória
(questão que estava a ser decidida de maneira contrária pela jurisprudência) e
diziam qual era o sentido que se devia julgar, formando um assento.
A partir do momento em que o Supremo formava um assento sobre aquela
questão, ninguém mais podia decidir de forma contrária à que o assento decidiu. O
assento vinha destruir o conflito, vinha sedimentar como é que se devia julgar.
Esse assento era obrigatório e quase que criava uma nova regra, um novo direito, e
não podemos ter assentos com força de lei, senão o poder judicial usa o poder
legislativo.
Posto isto, os assentos foram revogados, mas os assentos imitidos antes desta
revogação, não perderam totalmente o valor, transformaram-se naquilo que ainda
hoje existe: Acórdãos uniformizadores de jurisprudência.

 Ainda hoje há acórdãos uniformizadores de jurisprudência, pois continua a haver


contrariedade, juízes que num caso interpretam de uma maneira e em outro caso
de outra.
Contudo, enquanto nos assentos ninguém podia decidir contrário àquilo que o
assento dizia, nos acórdãos uniformizadores de jurisprudência pode haver juízes
que decidam o contrário.

 Os acórdãos uniformizadores não têm força vinculativa como tinha o assento.


Mas não podemos negar que na teoria um juiz do Tribunal da Relação ou de 1.ª
Instância, possa decidir contrariamente ao acórdão.
No entanto, é improvável que decida contrariamente a um acórdão uniformizador
que foi emitido pelo Supremo Tribunal, pois essa decisão provavelmente seria
objeto de recurso (a parte que perdeu vai recorrer para o Supremo e este vai
decidir como já tinha feito)
Sendo assim, não é prudente que um juiz decida contrariamente a um acórdão
uniformizador de jurisprudência que já veio dizer que aquela questão é isenta de
dúvidas e que deve ser decidida naqueles modos. Se, efetivamente, já foi ditado um
acórdão uniformizador, os juízes voluntariamente (pois não são obrigados) aceitam
aquilo que foi ditado, enquanto nos assentos, quando existiam, mesmo que não
concordassem, tinham de seguir aquilo.
2. Doutrina
São os estudos, os artigos, os manuais, as obras científicas, as conferências, as
palestras (escritas e faladas) por quem tem uma boa reputação, pois a boa doutrina de
um bom doutrinador influencia a criação do direito e até a aplicação dele.

 Os juízes quando vão decidir determinada matéria eles invocam a lei e dizem: “A lei
deve ser interpretada neste sentido porque até fulano diz...”.
E quem é esse fulano? O tal doutrinador, aquele estudioso do direito, aquele que
estudou, analisou, escreveu e debruçou sobre aquele assunto e, portanto, quando assim
é, quando o doutrinador é bom e capaz de influenciar, influencia não só uma decisão do
tribunal, como também a criação de direito.

Exemplo de um bom doutrinador é o Professor Doutor Hörster


O pensamento que ele tem em relação a determinados artigos influencia o Direito.
Aliás, há imensos acórdãos em que a jurisprudência cita o professor Hörster.

 A doutrina por si só, sozinha, não cria direito, mas sem dúvida nenhuma que
influencia a sua criação e as decisões.

Que fontes de direito há no Direito Português?


Lei – fonte imediata + Usos e equidade – fonte mediata

A jurisprudência e a doutrina são circunstâncias que podem levar a uma


alteração da lei
Focando numa fonte de direito importante:

LEI – Para serem conhecidas, devem ser publicadas. Para serem obrigatórias tem de
ser publicadas no Diário da República.

 Lei n.º 74/98 de 11 de novembro:

Esta lei é conhecida como Lei dos Formulários.


É a lei que vem dizer onde é que se publica uma lei, quando é que ela
entra em vigor, quando é que ela não pode entrar em vigor, em que série
do Diário da República é que ela vai ser publicada (já sabemos que a lei se
torna obrigatória quando é aplicada no Jornal Oficial que é o Diário da República
– torna-se obrigatória, mas não entra logo em vigor, só entra em vigor no dia em
que ela disser, e se não disser esta lei formulária diz-nos que a lei entra em vigor
no 5.º dia após a publicação da lei)

Artigos importantes:

 Artigo 1.º, n.º 1 da Lei dos Formulários


Remissão para o Artigo 5.º, n.º 1 do Código Civil
(Juntos transmitem que a lei só se torna obrigatória/eficaz depois de publicada)

 Artigo 2.º, n.º 1 da LF (é o artigo mais importante) sublinhar “não


podendo, em caso algum...) + Artigo 2.º, n.º 2 da LF (sublinhar “5
dias após”)
Remissão para Artigo 5.º, n.º 2 do Código Civil
(A lei nunca pode entrar em vigor no dia em que é publicada, quanto muito
pode entrar em vigor no dia a seguir. Se a lei disser que entra em vigor
imediatamente significa que entra no dia a seguir. Se a própria lei não
disser o dia, o Art. 2.º, n.º 2 diz-nos que esta entra no 5.º dia após a
publicação – não conta o dia do evento)

 Artigo 2.º, n.º 2 da LF


Remissão para Artigo 279.º, b) do Código Civil
(Este artigo explicita que o dia da publicação da lei não conta para o prazo
dos cinco dias – entra em vigor no 5.º dia após a sua publicação, se é
publicada dia 5 de janeiro, o dia 5 não conta, começa a contar dia 6 – o
primeiro dia é sempre o dia a seguir à publicação)

 Artigo 3.º da LF
(Este artigo diz-nos que o Diário da República tem uma 1.ª série e uma 2.ª
série. A 1.ª série normalmente é onde são publicadas as leis de maior
relevância, de maior aplicação geral: leis constitucionais, leis orgânicas,
basicamente leis de fácil consulta, que são aplicadas a uma generalidade da
população. Na 2.ª série, são publicadas questões mais administrativas,
como verificamos neste artigo – se quisermos saber os resultados para as
autarquias locais, é aqui que são publicados, na 2.ª série.)
Cessação da vigência da lei
Como é que a lei termina? Artigo 7.º

Caducidade da lei Revogação


(diferente da caducidade de direitos - não É necessária intervenção legislativa, ou
necessita de intervenção legislativa) seja, é necessário que haja uma lei
Forma de a lei cessar a sua vigência, (revogatória) que revogue
caduca automaticamente outra (revogada - cessou a sua vigência
porque entrou em vigor uma lei nova que
Leis temporárias – prazo veio revogar a anterior)
A lei tem um prazo fixo de validade: “esta
medida dura até x” Global
(ex.: leis da pandemia podem ser temporárias, Lei revogatória revoga totalmente a lei revogada
pois têm um prazo)
Parcial
Lei revogatória revoga apenas uma parte da lei
Leis transitórias – situação provisória
revogada (há uma parte da lei revogada que
Criadas para uma situação que não é continua em vigor, pois só uma parte dela é
definitiva, é uma situação que está a ocorrer que foi revogada).
Se a situação desaparecer, a lei também Sendo assim, vamos ter uma lei revogatória
desaparece por caducidade que traz um novo regime
(ex.: Covid – as leis que não têm data, caducam (por exemplo), mas que vai manter-se
quando a pandemia acabar) em vigor juntamente com uma
parte da lei revogada que a lei
A lei perde o seu campo de aplicação revogatória não revogou
A lei deixa de ter destinatários ex.: lei com 10 artigos, outra lei revoga 5 artigos - a
lei continua a vigorar nos outros 5
para se aplicar
ex.: Se existisse uma lei aplicada a todos que
frequentam o 1.º ano, no ano letivo 2021/2022. Maneiras como pode fazer essa revogação
Quando não existir mais nenhuma pessoa a
Expressa
frequentar esse ano letivo, a lei desaparece.
Uma lei só cessa a sua vigência por
revogação quando outra lei disser que a
revogou (lei revogada e revogatória)
Para descobrir qual está em rigor: Tácita
A lei nova não diz explicitamente que revogou a lei
Critério da posterioridade x ou y, mas nós entendemos que há essa
Lei mais recente revoga lei mais antiga
revogação, pois se compararmos uma lei com
Critério da hierarquia/superioridade outra verificamos que não dizem o mesmo.
Lei inferior não revoga lei hierarquicamente Conseguimos, então, identificar esta revogação
superior, ou seja, uma lei para revogar outra quando detetamos 2 leis sobre a mesma matéria,
tem de estar num patamar acima ou no mas contraditórias entre si, coisa que não pode
mesmo patamar (ex.: no mesmo patamar acontecer dentro do ordenamento jurídico
estão as Leis e Decretos de lei da Assembleia português (só sobrevive a que não for revogada, se
da República, podem revogar-se mutuamente) nenhuma disser que revogou, há uma delas que
revogou a outra de forma tácita, não foi expressa).
Critério da especialidade (Art. 7.º, n. º3)
Lei (norma) geral não revoga lei especial,
exceto se for a intenção do legislador

Para entendermos a cessação da vigência da lei:

Princípio da não Repristinação/Renascimento da Lei


(Artigo 7.º, n.º 4 CC)

Esta é a regra geral


O que revogou está revogado, nunca mais renasce

Lei Revoga
revogada

Lei 1 Lei 2 Lei 3

Lei Lei
Lei
revogatória revogatória
revogada
Revoga da L1 da L2

Explicação do esquema:

- Lei 1 revogada pela Lei 2. Sendo assim, a Lei 2 é uma lei revogatória.
- Posteriormente, a Lei 3 vem revogar a lei 2. Então, a Lei 3 passa a ser uma lei
revogatória (neste caso lei revogatória da Lei 2) e a Lei 2 passa a ser uma lei revogada.

Significado do Princípio da Não Repristinação:


Lá pelo facto de a Lei 2 ter sido revogada pela Lei 3, a Lei 1 não pode renascer, ou
seja, a Lei 2 revogou a Lei 1, e sendo esta também revogada, a matéria da Lei 1
mantém-se revogada, não renasce.
Basicamente, se a Lei 2 revogou a Lei 1, está revogada, desapareceu, cessou, não
interessa. Se a Lei 2 agora está a ser revogada também desaparece, cessa.
(REGRA)
Contudo, existem duas exceções:

 Artigo 282.º, n.º 1 da CRP


Uma decisão do Tribunal Constitucional que vem declarar uma
determinada lei inconstitucional com força obrigatória e geral, a decisão
seria vinculativa para toda a gente.
Por exemplo:
Se a Lei 3 vir a ser declarada pelo Tribunal Constitucional, como
inconstitucional com força obrigatória e geral - O que é que acontece à lei
que a Lei 3 revogou?
Este artigo diz-nos que a Lei 2 renasce (repristinação da lei)
Se o Tribunal Constitucional declara que uma lei revogatória é
inconstitucional isso determina que as leis que foram revogadas por essa
lei inconstitucional, renascem.

Lei Revoga
Revogo a Lei 2 e
revogada determino a
repristinação da Lei 1

Lei 1 Lei 2 Lei 3

Lei Lei Lei


revogada revogatória revogatória
Revoga da L1 da L2

Repristinação Renasce Foi declarada pelo Tribunal


Volta a entrar em vigor Constitucional inconstitucional
com força obrigatória e geral

 Desde que o legislador diga expressamente


Esta exceção não está na lei, então não podemos fazer remissão no artigo.
Por via de regra, quando a lei revogatória é revogada isso não determina que aquilo
que a lei revogatória revogou, volte a entrar em vigor.
Mas se o legislador revoga a Lei 2 e diz na Lei 3: “Revogo a Lei 2 e determino a
repristinação da Lei 1”  O legislador pode dizer “eu revogo a lei revogatória e
Sendo a Lei 3 considerada inconstitucional renasce a Lei 2, mas a lei 1 não, continua
determino que aquilo que esta lei revogatória revogou, volte a entrar em vigor”
revogada. Só se o legislador disser que aquilo que a lei revogatória revogou volta a
entrar em vigor é que renasce a Lei 1, ficando a 2 revogada.
Aplicação da lei no tempo
O normal é que uma lei entre em vigor e nós realizemos os nossos negócios jurídicos,
pautemos a nossa conduta, pelas leis que estão em vigor.

 Todavia, os nossos negócios jurídicos/relações jurídicas nem sempre produzem os


seus efeitos de forma instantânea
(é claro que se eu for fazer uma compra e venda de um café, chego lá, peço um café, pago o café
e bebo, em princípio não há aqui um conflito de leis. A lei que está em vigor no momento diz
que quem compra uma coisa tem de pagar o preço)

O problema é:
Quando eu estabeleço relações jurídicas com outras pessoas através da elaboração e
contratação de negócios jurídicos e a produção desses efeitos desses negócios
jurídicos/relação jurídica se prolonga no tempo.
Exemplos:
O casamento é suposto que não seja instantâneo, mas sim que as pessoas sejam casadas para a
vida toda.
Um contrato de arrendamento pode ser feito para 1 ano, 5 anos - não é instantâneo, é um
contrato para muito tempo. Os efeitos, os direitos e as obrigações derivadas de um contrato de
arrendamento não são produzidas de forma instantânea, nem mesmo num contrato de compra
e venda.
A compra e venda de um café foi a pronto pagamento
No entanto, existem compras e vendas em que o preço é pago às prestações
Um contrato de crédito, ou seja, eu vou a um banco e peço, por exemplo, a concessão de um
mútuo crédito bancário e o banco concede o crédito para adquirir uma habitação. Normalmente
é um crédito feito para 30 anos.

O que é que isto quer dizer? Nós temos de ter uma previsibilidade, nós queremos
expetativas legitimas em relação àquilo que vai acontecer com a nossa relação jurídica,
com o nosso negócio. Aliás, quando estabelecemos uma determinada relação jurídica,
nós fazemo-lo ao abrigo da lei que está em vigor e fazemo-lo na expetativa que aquilo
que a lei prevê se venha a verificar no futuro, de modo que qualquer alteração
legislativa não possa significar uma frustração das nossas expectativas.
Se eu faço um contrato ao abrigo de uma lei que está em vigor atualmente e se com
base nessa lei eu tenho a expectativa de no futuro adquirir certo direito, é de esperar
que, enquanto a minha relação jurídica está a produzir efeitos, não esteja sujeita a ficar
frustrada por uma alteração da lei é (ex.: diz que já não vou adquirir esse direito)

 Quando uma lei é alterada e apanha relações jurídicas que já estejam em curso (que
já tinham sido realizadas antes e estão a produzir efeitos), esta nova lei aplica-se a essas
relações jurídicas ou só vai aplicar-se às novas relações jurídicas que venham a
constituir-se após a entrada em vigor da lei nova?
Aquilo que melhor responde às expectativas das pessoas é esta segunda opção – esta
nova lei só venha aplicar-se a relações jurídicas novas, ou seja, novos negócios
jurídicos/relações jurídicas que venham a constituir-se após a entrada em vigor da lei
nova, daí em diante.
Portanto, se a lei nova só se aplicar às relações jurídicas e aos seus efeitos
constituídos daí em diante, ou seja, após a sua entrada em vigor e excluindo as
relações jurídicas anteriores, nós dizemos que esta lei é não retroativa.

Princípio da não retroatividade da lei


Regra geral - Art. 12.º, n.º 1, 1ª parte
“A lei só dispõe para o futuro”
Está em vigor

Entrada em vigor da lei nova

Lei em vigor (lei antiga) Lei nova

Caso prático:
Lei nova permite
divórcio
Ana e Bruno
casaram – 1960

(Divórcio não era permitido) Daqui para a frente, a Ana pode pedir o divórcio

efeitos
Só a morte os
podia separar Ana questiona-se: “Posso-me divorciar?”. O
Bruno responde-lhe: “Não, porque a regra diz que
a lei só dispõe para o futuro, ou seja, o divorcio só
é permitido para casamentos que venham a ser
constituídos depois da entrada da lei que
permitiu o divórcio. Quando casaste comigo
sabias que só a morte é que nos podia separar,
por isso não podes frustrar aqui a minha
expectativa de eu ficar contigo para sempre”.

Chega à conclusão de que, por via de regra, ela não poderia porque o princípio da não
retroatividade diz que a lei nova só se aplica a relações novas, ou seja, a casamentos
após a entrada em vigor da lei. Contudo, toda a regra tem exceções e essa exceção é
haver retroatividade, isto é, esta lei nova vai poder ser aplicada a factos passados, vai
poder ser aplicada a relações jurídicas constituídas antes da lei nova, mas que ainda
estejam a produzir efeitos.
Para entender melhor:

(anterior à lei nova) (posterior à lei nova)

(aplica-se à RJ A)

 A Relação Jurídica A é um facto anterior à entrada em vigor da lei nova, daí


chamarmos facto passado.
 A Relação Jurídica B é um facto posterior à entrada em vigor da lei nova, daí
chamarmos facto futuro.
Ou seja:
Relações já constituídas: factos passados
Relações a constituir: factos futuros

 Entre a relação jurídica e a entrada em vigor da lei nova nós encontramos os efeitos
passados do facto passado.
 A partir da entrada em vigor da lei nova, encontramos os efeitos futuros do facto
passado – futuros porque se vão produzir após a entrada em vigor da lei nova, mas
que ainda derivam do facto passado (daí a linha tracejada estar toda em amarelo,
porque referem-se à relação jurídica A).
 Já o tracejado a lilás, refere-se aos efeitos jurídicos da relação jurídica B que se
produzem após a entrada em vigor da lei nova, daí serem efeitos futuros do facto
futuro.

Factos/relações jurídicas criados antes da entrada em vigor da lei nova são factos
passados porque são anteriores.
Se a lei nova se aplicar a estas relações anteriores, ou seja, se aplicar a factos
passados, a lei nova é retroativa.
Quando é que a lei nova não é retroativa? Quando a lei nova só se aplica aos factos
futuros, ou seja, a relações jurídicas constituídas daí para a frente.
Retroatividade da lei (a exceção)

 Nos contratos há coisas que posso alterar e há coisas que não.


 Quando eu faço um contrato de compra e venda, os direitos e deveres que
emergem desse contrato estão estipulados na lei.
A lei diz que a parte que compra tem de pagar o preço e a parte que vende tem de
entregar a coisa e ainda há um efeito translativo da propriedade
(quem comprou passa a ser o proprietário)
 Estes efeitos são efeitos jurídicos que derivam do contrato e que estão
previstos na lei – não consigo afastar isto

 Todavia, nada me impede de, no meu contrato, eu acrescentar a estes direitos


e obrigações outros.
(ex.: posso comprar o pc à Débora e ela é obrigada, por força da lei, a entregar-me o
pc e eu a pagar. No entanto, no meu contrato com ela, além destes direitos que não
podemos mexer porque são imperativos pois estão na lei, posso acrescentar outros –
posso dizer que a Débora tem de formatar o computador)
 Eu estou a acrescentar coisas, o que quer dizer que nesta relação jurídica há
um regime jurídico que não posso fugir (lei), mas há outro tipo de regimes
jurídicos que posso acrescentar ao contrato.

 Às vezes a lei altera-se no sentido de mudar normas imperativas (a lei quer


abranger todas as relações jurídicas)
E às vezes a altera-se no sentido de mudar normas dispositivas, ou seja, mudar
normas que a lei tinha consagrado de uma maneira, mas agora vai mudar. Mas
como são dispositivas (resulta da vontade das partes), a lei nova não pode
afetar as relações jurídicas anteriores.

LN
FACTO
PASSADO

RJ 1 RJ 2 RJ 3
Efeitos futuros do facto passado
Efeitos passados/produzidos
Efeitos futuros do facto futuro

Retroatividade da lei – a lei nova não vai aplicar-se apenas a relações novas, mas
também a relações constituídas antes da entrada em vigor, mas somente
após efeitos jurídicos que ainda estejam a verificar-se após a sua entrada em vigor.
Com que intensidade é que a lei nova vai ser retroativa em Portugal?
A regra é que a lei nova não seja retroativa, como vimos no Artigo 12.º, n.º 1, 1.ª parte,
isto é, a lei só dispõe para o futuro.

 No entanto, há exceções, ou seja, a lei nova pode ser retroativa.


Se a lei nova for retroativa ela aplicar-se-á exatamente a quê?
A regra é o grau mínimo.

Graus de retroatividade
 Grau máximo – não há em Portugal, exceto num caso
 Grau médio
 Grau mínimo – aplica-se em Portugal
Se houver retroatividade será retroatividade em grau mínimo.

 Se a lei nova for retroativa a que é que ela se aplica?


Ao facto futuro e aos efeitos, ela foi feita para vigorar para o futuro.
 A lei nova aplica-se ao facto passado também?
Sim, mas não mexe nos efeitos passados do facto passado, só mexe nos efeitos futuros
do facto passado.

Em suma, sendo a lei nova retroativa:


Vai aplicar-se a todas as normas de relações jurídicas, mas também às relações
constituídas antes, somente nos efeitos que se vierem a produzir após a entrada em
vigor, ou seja, efeitos futuros do facto passado. Não mexe naquilo que está produzido
(efeitos passados do facto passado) – grau mínimo.
Retroatividade da lei:
Significa que a lei não se aplica só às relações novas, mas também às relações
jurídicas constituídas antes da entrada em vigor dela e que ainda estejam a
produzir efeitos – prevista em Artigo 12.º, n.º 1, 2ª parte (depois do ;)

GRAU DE
RETROATIVIDADE

Mínimo/normal Médio/agravado Máximo/extremo


(Artigo 12.º, n.º 1, 2ª parte) A lei Se a lei nova fosse Não se aplica no nosso ordenamento jurídico
nova aplica-se apenas aos efeitos retroativa iria A lei nova iria desfazer todos os factos
futuros dos factos passados, aplicar-se a todos os passados e efeitos passados
respeitando efeitos passados já (viola o princípio da separação de poderes – o
(não mexendo) produzidos com a poder legislativo intervinha no poder judicial,
todos os efeitos passados de exceção das pois este aplicar-se-ia a todas as situações,
factos passados já produzidos. sentenças judiciais mesmo aquelas decididas em tribunal)
Os efeitos produzidos são (iria respeitá-las).
inalteráveis, mas os que agora Algo que já foi No entanto, há um caso no nosso Direito em
vão continuar a produzir-se já sentenciado não se que pode ser aplicado:
estão em abrigo da nova lei mexe Processo Penal
- Grau que se aplica em Portugal (quando a lei penal nova é favorável para o
Diferença: arguido pode ser aplicada –
No grau máximo não se Artigo 29.º, n.º 4 da CRP)
respeitam as decisões judiciais
Tipos de direitos dos graus de retroatividade
(Casos particulares)
 Direito Penal
Há um princípio basilar ao Direito Penal que diz que não pode haver nenhum crime,
nem nenhuma pena aplicável por condutas que não estejam anteriormente
tipificadas como crime.
Ou seja, hoje pratiquei um determinado ato - hoje não é crime, mas amanhã surge
uma lei que diz que aquilo que pratiquei ontem é crime.
Eu não posso ser responsável criminalmente, porque quando eu pratiquei o ato, não
era crime e, para haver crime, tem de haver uma lei anterior que diga que é crime.
Assim que a lei sai a dizer que é crime, só é considerado crime os atos que se
surgirem a partir do dia em que entra em vigor.

 Tudo isto para dizer que não há retroatividade em Direito Penal quando este é um
direito incriminatório, isto é, quando o Direito Penal vem trazer a consagração de
novos crimes ou o agravamento de penas – menos favorável.
ex.: Hoje sai uma lei que diz que é proibido sair de casa com roupa azul.
Quem saiu ontem e nos dias anteriores, não cometeu crime absolutamente nenhum, mas se
a partir de hoje vestir, já é crime.

 Também não pode haver retroatividade em Direito Penal quando:


“O furto que já estava previsto como crime era punido como pena de prisão até 120 dias,
mas agora quem furtar nem que seja uma caneta no supermercado, é condenado a 5 anos de
prisão.”.
Não pode ser retroativo, porque é um direito penal mais pesado.

 Por vezes, temos um Direito Penal mais favorável ao arguido


ex.: Foi criado um novo crime relativo às expressões de assédio dirigidas às mulheres. Se
alguém foi condenado por ter cometido um desses tipos de assédio e a pessoa estava a
cumprir pena e vier agora uma lei nova descriminalizar este crime, o que acontece à pessoa
penalizada?
Se ainda tivesse a cumprir a pena (ex.: pagar uma multa), ao sair uma lei nova que
descriminaliza este comportamento, ele já não tinha de cumprir a pena porque esta lei
penal é mais favorável ao arguido.
ex.2: Uma pessoa está presa condenada a 5 anos de prisão efetiva por um crime que prefine
pena de prisão máxima de 8 anos. Até à data já cumpriu 4 anos de prisão de pena efetiva,
faltando apenas 1 ano. No entanto, sai uma nova lei que diz que o crime em questão só pode
ser punido com pena de prisão até 3 anos. Se a pessoa já cumpriu os 3 anos é imediatamente
solta.
Tudo isto porque o direito penal/nova lei é-lhe mais favorável, então aplica-se
retroativamente e em grau máximo, ou seja, mesmo que a sentença já tenha sido
ditada e a causa já esteja decidida, aplica-se. Quem está preso é devolvido à
liberdade, quem está em pena não tem de a cumprir.

 Se o Direito Penal for incriminador, trouxer uma pena maior: nunca é retroativo
 Se o Direito Penal vier aliviar as penas, ou seja, vier trazer o regime jurídico mais
favorável ao arguido, então ela é retroativa - Artigo 29.º, n.º 4 da CRP, esta
retroatividade designa-se por Retroatividade in Mitius

O Artigo 29.º, n.º 1 da CRP diz-nos que se não houver uma pena/medida/lei que diga
antes de eu cometer o crime que é crime, eu não posso ser penalizada por isso, mas se
vier uma lei descriminalizar, eu já posso aplicar.
 Direito Fiscal
Artigo 103.º, n.º 3 da CRP - Artigo 12.º, n.º 1 da Lei Geral Tributária
Este artigo diz-nos que ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que
não tenham sido criados nos termos da Constituição, que tenham
natureza retroativa ou cujo a liquidação em cobrança não se faça nos
termos da lei.
Ou seja,
 Não posso pagar um imposto criado agora relativamente aos meus
rendimentos aferidos em 2017, porque eu em 2017 paguei os impostos
que eram devidos e que estavam tipificados na lei.
Se agora decidirem criar um novo imposto, com certeza que eu terei de
pagar esse novo imposto, mas em relação aos meus rendimentos daí para
a frente. Eu não posso agora permitir que este novo imposto criado venha
tributar factos ocorridos no passado quando não existia imposto.
ex.: A professora foi apanhada por um imposto que considera retroativo, pois em
2011 o Dr. Paços Coelho era Primeiro-Ministro e criou um imposto chamado
imposto extraordinário. Basicamente, esta lei obrigava a pagar uma taxa
extraordinária de IRS, ou seja, para além do IRS normal, determinadas categorias
de rendimentos tinham de pagar uma taxa extra. Acontece que esta lei saiu em
meados de setembro, mas queria abranger rendimentos desde janeiro. Na altura
houve muita revolta porque as pessoas diziam que esta lei não podia ser aplicada
a janeiro, já que os impostos não podem ser retroativos.

 Artigo 18.º, n.º 3 da CRP


Este artigo diz-nos que nunca pode haver retroatividade e fala-nos de
direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagradas.
O número 3 diz-nos que uma lei nova que venha restringir direitos,
liberdades e garantias não pode nunca ser retroativa.
ex.: A Mariana trabalhava, mas foi despedida e tem direito a subsídio de
desemprego. No momento em que a Mariana recebe subsídio de desemprego,
o período em que ela pode estar nele é de 3 anos – ganhou o direito de estar
no subsídio de desemprego durante 3 anos.
Enquanto a Mariana está a gozar o subsídio de desemprego ao fim de, por
exemplo, 1 ano sai uma lei nova que diz que o subsídio de desemprego só será
de 1 ano e meio, não se pode ter mais tempo.
A Mariana já não tinha adquirido o direito a 3 anos de subsídio de desemprego?

Esta lei nova não se pode aplicar à Mariana, visto que lhe reduziria o período a
que ela tinha direito ao subsídio de desemprego.
Esta lei pode aplicar-se às pessoas que entrem no subsídio de desemprego após
a entrada em vigor da lei.
 Direito Processual
Não é direito substantivo, é direito adjetivo ou instrumental, ou seja, é o
direito que não cria, não dá direitos, mas sim diz-nos o procedimento, as
regras a seguir
ex.: Como é que devo exigir o pagamento de uma quantia?
Como é que devo intentar uma ação?
Basicamente, não é um direito que me dê direitos substantivos, não me
dá direitos subjetivos, mas é um direito instrumental que me ajuda a que
exigir os meus direitos.
A nível de Direito Processual a regra é de que as leis processuais são de
entrada em vigor imediata, isto é, quando a lei processual muda a
entrada dessa nova lei é imediata.

Algumas normas que falam diretamente disto:

 Artigo 136.º, n.º 1 do Código do Processo Civil


Este artigo diz que a lei que vigora para a prática de atos processuais é
aquela que estiver em vigor no momento em que eles são praticados.
Portanto, se estou no âmbito de um processo judicial e ainda não
pratiquei o respetivo ato (ex.: prazo de prenuncia, prazo para contestar)
uma lei processual dá-me o direito de responder a um articulado.
Se o ato já está praticado, está praticado. Se não tiver sido, é praticado
nos termos da lei nova, por isso é que a sua entrada é imediata.

 Artigo 5.º, n.º 1 do Código do Processo Civil


Este artigo diz que a entrada da lei nova também é de aplicação imediata.
Contudo, é preciso ter atenção que no âmbito do direito processual penal
discute-se muito a questão de saber se a nova regra poderá ou não ser
prejudicial ao arguido.
Se a nova regra processual for prejudicial ao arguido, então entende-se
que não se aplica, mas se for uma regra processual que não restringe
direitos, à partida isso implica que seja de aplicação imediata.
Resumindo, em regra é de aplicação imediata, mas se resultar dali um
agravamento da defesa do arguido, uma quebra na harmonia do
processo, ela não se aplica.
(Não é preciso sabermos esta regra particular)
Conflito da lei no tempo

Para haver conflito:


 2 leis sobre a mesma matéria com conteúdo/regime diferente que se
+ sucedem uma à outra
 Relação jurídica duradoura (produz os efeitos ao longo do tempo) nasce ao
abrigo de uma lei e prolonga os seus efeitos jurídicos quando entra em
vigor uma nova lei (relação jurídica tem contacto com 2 leis distintas)
(comprar um café, paga-se e acaba a relação jurídica. Mas um contrato de
arrendamento dura – não pode ser uma relação que se esgote num só momento)

LN

Se a lei nova só se aplicar à RJ 3 e


seguintes, a lei nova não é retroativa

RJ 1 RJ 2 RJ 3

Relação Jurídica 1 – Não há nenhum conflito da lei no tempo


(nasceu e morreu ao abrigo da lei antiga, quando a lei nova nasce a 1 já tinha morrido)
Relação jurídica 3 - Não há nenhum conflito da lei no tempo
(nasceu ao abrigo da nova lei)

No entanto,
Relação jurídica 2 – há um conflito, pois nasce enquanto a lei antiga está em
vigor, entretanto a lei nova cessa a vigência da lei antiga e começa a vigorar, e a
relação jurídica 2 continua a produzir efeitos, ou seja, temos uma relação jurídica
duradoura que está em contacto com 2 leis - a lei nova aplica-se às relações
anteriores – retroativa

Há um problema.

Como se resolve o conflito?


Enquadrando o problema:
Relação jurídica 2: relação jurídica duradoura que produz os seus efeitos ao longo
do tempo. Nasce ao abrigo de uma lei e, entretanto, enquanto a relação está a
produzir efeitos, entra em vigor uma nova lei.

Qual é o regime jurídico a aplicar à relação jurídica 2?


A nova lei ou a lei em vigor quando ela nasceu?
Para saber qual a lei a aplicar-se:

Normas finais - nem todas as leis tem


A própria lei nova resolve o conflito, ou seja, às vezes a lei nova traz a solução
(Não precisamos de aplicar o Artigo 12.º)
Pode vir na lei nova explícito:
 Norma revogatória (quando a lei nova faz uma revogação expressa, diz a lei que
revoga – “a presente lei revoga a lei x”)
 Entrada em vigor (quando uma lei nova é publicada ela própria diz quando entra em
vigor na parte final, e se não disser entra em vigor no 5º dia após a sua publicação –
Artigo 5.º, n.º 2 CC + Artigo 2.º, n.º 2 LF)

 Disposições transitórias

 Caráter formal: lei nova diz qual a lei que se aplica às relações jurídicas
já constituídas (lei antiga ou lei nova)
ex.: O meu avô fez um testamento em 1960 em que dizia a quem destinava os
seus bens e nomeou um testamenteiro (este fica responsável por ver se o
testamento é cumprido) - o Marco como testamenteiro tem obrigações
O meu avô faleceu em 1970 e qual o Código em vigor? Varela.
No entanto, fiz o testamento à luz do de Seabra.
Quais as obrigações que o Marco tem de observar enquanto testamenteiro?
Tem de verificar se há leis transitórias, então vai à lei que aprova o Código –
Artigo 23.º com título “Testamentaria”
Sendo assim, tem de obedecer às obrigações do Código de Seabra (lei antiga)

 Caráter material: a lei nova não se limita a dizer qual a lei que se aplica,
ela traz um regime misto/híbrido, ou seja, a lei nova traz um regime que
não é exatamente igual ao regime antigo nem ao novo, mistura os dois
para suavizar a transição – suaviza a transição
ex.: o que se entendia pelo filho bastardo? Resultado de um adultério.
Muitos dos pais que tinham filhos ilegítimos, não deixavam que o nome deles
aparecesse no registo civil como sendo pai da criança (aparecia no cartão de
cidadão “filho de pai incógnito”) – isto era permitido ao abrigo da lei antiga
Hoje, não é possível ser filho de pai incógnito.
O meu avô usou a lei antiga, o que acontece hoje?
Mantém-se tudo secreto, mas se o bastardo quiser que o nome do pai apareça
pede uma certidão de registo de nascimento (o nome do pai é revelado)
Ou seja, não é um regime totalmente igual ao antigo nem totalmente igual ao
regime novo, é um misto – Artigo 20.º (se não for passada uma certidão
continua secreto)

 Contudo, nem sempre a lei nova traz disposições transitórias


(não traz respostas).
No entanto, se trouxer é a primeira coisa que temos de verificar.
Quando a lei nova não tem disposições transitórias, o que se deve fazer?
 A resposta varia consoante a lei ser retroativa ou não retroativa

 Artigo 12.º, n.º 1

 1ª parte: Princípio da não retroatividade


Por via de regra, como a lei nova não responde ao problema, nós teríamos
que aplicar o princípio geral: “a lei nova só dispõe para o futuro”
Ou seja, se a lei nova não for retroativa as relações jurídicas constituídas
anteriormente continuarão a vigorar e a reger-se pela lei antiga (lei que
estava em vigor quando a relação jurídica nasceu)
Sendo assim, a lei nova vai apenas aplicar-se às relações jurídicas novas que
se venham a constituir depois da sua entrada em vigor

Excecionalmente, admite-se que a lei nova possa aplicar-se a relações jurídicas


constituídas antes da sua entrada em vigor (além das novas relações jurídicas).

 2ª parte: Exceção retroativa – grau mínimo


A lei nova pode aplicar-se a relações passadas, mas só com efeitos futuros,
ou seja, às relações jurídicas antigas que continuam a produzir efeitos,
porque a lei nova não altera o que já está produzido
(ex.: direitos de conteúdo patrimonial, direitos relativos ao estado civil)

No caso em concreto caímos na regra ou na exceção?

Sustentar com:

 Artigo 12.º, n.º 2


Regras complementares
Artigo 12.º, n.º 2
Regras complementares ao princípio geral

1ª parte 2ª parte
(até ao ponto e vírgula) (desde ponto e vírgula ao fim)
LN fala sobre momento da Lei nova versa sobre o conteúdo
constituição da relação jurídica (direitos e deveres) das relações
jurídicas concluídas e em curso
Lei nova versa sobre

Condições de validade Condições de Lei nova abstrai-se A Lei nova não se


formal validade substancial (não valora) do abstrai do facto
Sempre que a lei altera a Sempre que a lei der facto que esteja na que esteve na
forma da celebração condições prévias: origem da relação origem da relação
do negócio requisitos que a lei
jurídica ou do jurídica ou do
Se não respeitar a forma impõe para celebrar um
exigida por lei (violar uma contrato direito subjetivo direito subjetivo
norma imperativa), o Ex.: A e B casados em (mexe numa norma Acontece quando o
negócio é nulo – art. 220.º regime de comunhão de imperativa) legislador muda o
ex.: um menor não pode adquiridos. A e B ex.: se a lei nova atribui conteúdo de 1
realizar compras e vendas adquiriram um imóvel. A uma nova obrigação a relação jurídica que
sozinho, pois não tem pode vender o imóvel sem casados, a lei não quer foi estabelecido pelo
capacidade e, se o fizer, o consentimento do B? saber se são casados pelo contrato
negócio é anulável Para que haja uma venda civil ou pela igreja – só
ex.: comprar a lua válida é necessário o quer saber do estatuto
(impossível – art. 280.º) consentimento do de casados LEI NOVA NÃO
Para celebrar um negócio conjugue (condição RETROATIVA
preciso de respeitar as substancial) Quando a lei nova
formas que a lei dá ex.: menor pode casar? LEI NOVA altera uma norma
(ex.: lei antiga exige Não, não tem capacidade RETROATIVA dispositiva supletiva ou
documento particular, lei de gozo – se não tiver este
Grau mínimo interpretativa, a lei
nova exige documento requisito não celebra o
ex.: se a lei nova nova não esquece o
particular autenticado – negócio
acrescenta um direito que foi consagrado
muda a forma) aos casados (divórcio), pelas partes no
tem de abranger os
contrato (origem da
novos casados, incluindo
os que já eram
relação), não pode
A lei traz novas condições para celebrar o negócio aplicar-se ao contrato,
Se a lei que estiver em vigor no momento da O legislador pretende
igualar toda a gente porque altera a
celebração do negócio depois se alterar só vale minha vontade
para relações jurídicas novas Exceção:
Contratos de longa duração
(ex.: contrato de crédito de
LEI NOVA NÃO RETROATIVA habitação) e se beneficiar a
(quando estamos a fazer uma relação jurídica não parte mais fraca da relação
estamos preocupados com as alterações do futuro) jurídica
Exceção:
- Retroatividade in mitius
Lei nova ser conformativa (A lei nova não pode
(retroativa)
alterar a vontade das partes)
Sobre a exceção das leis confirmativas do Artigo 12.º, n.º 2, 1ª parte:
Por via de regra, a lei é não retroativa (dispõe para o futuro).
No entanto, quando se fala das condições de validade formal/substancial, as leis
confirmativas são retroativas excecionalmente. Muitas vezes há regimes jurídicos
estabelecidos para certos contratos que consideramos severos, e às vezes esta
exigência faz com que as pessoas não as cumpram
ex.: Compras e vendas de imóveis pede documento particular autenticado (art. 875.º)
Há imensos negócios de compra e venda com apenas documento particular, não vão
ao notário – pela força de lei o negócio é inválido
Isto faz com que o legislador olhe para o regime antigo e considere certas coisas
demasiado formais, então rege uma nova lei
A lei nova diz que escrituras para terrenos com fins agrícolas pode ser feito por
documentos particulares. Ou seja, ao abrigo da lei antiga era inválido,
agora é válido (a lei em vez de anular o negócio, confirmou-os)
Esta lei não podia ser retroativa, no entanto, como o legislador atenua um regime
severo de formalidade e ao abrigo desse regime muitos negócios anteriores passam
a ser válidos – nós dizemos que a lei conformativa é retroativa – exceção da 1ª parte
– só se vier atenuar

Quando a lei não se abstrai, no Artigo 12.º, n.º 2, 2ª parte


As relações jurídicas que constituímos a partir de contratos têm um conteúdo
(direitos e deveres) estipulados por lei. No entanto, há uma parte da relação
jurídica que é moldada com a vontade de ambas as partes
ex.: compra e venda de computador
Eu e a Mariana entendemos que o pc seja entregue e o preço seja pago no Hawaii
O lugar do pagamento foi imposto por lei ou fomos nós que decidimos?
Nós, resultou da nossa vontade
Então quando a lei nova vem mudar o lugar de cumprimento das prestações, esta
tem o poder de apagar o que eu e a Mariana quisemos? O legislador dá-nos o poder
de estabelecermos o regime jurídico que quisermos para a nossa relação jurídica e
depois com uma lei nova tira o poder?
Sempre que o legislador com uma lei nova altera o conteúdo da relação jurídica
que as partes não podiam mexer, estamos na 1ª parte.
Mas sempre que a lei nova vem alterar o conteúdo da relação jurídica que foi
determinado pelas partes (a lei nova vem mexer no que foi fixado pelas partes no
contrato) essa lei não pode ser retroativa, a lei nova não pode alterar a vontade das
partes - normas dispositivas supletivas e normas dispositivas interpretativas

Como sabemos
quando a lei se
abstrai ou não?
O problema:
Estatuto do contrato: saber se a lei nova altera o conteúdo da relação jurídica
abstraindo ou não do contrato que originou a relação jurídica.
A lei precisa de respeitar o que as partes decidiram no contrato, então o regime
jurídico de uma relação jurídica que foi definido pela vontade das partes, não
pode ser alterado pela lei
(não seria seguro fazer um contrato e saber que uma lei nova poderia vir alterar)
A lei, por via de regra, respeita sempre a vontade das partes – abstrai-se
(quem estabelece contratos rege-se pela lei em vigor no momento)
ART. 878.º - norma dispositiva supletiva
ex.: eu e a mariana vamos fazer um contrato a prestações
Concordamos com a norma: contrato de compra e venda e quem paga sou eu
(compradora)  “quem paga as despesas é o comprador”
Sai uma lei nova em que diz que quem a carrega despesas é o vendedor
Aplica-se a nós? Não, porque é norma dispositiva supletiva
Quando a lei diz “na falta de convenção em contrário” refere-se ao facto que esteve na
origem da relação jurídica
Se não se abstrai, não se aplica a nós. Porquê?
Se a lei fosse retroativa mudaria as nossas vontades, mas a lei não muda a vontade
do contrato

Diferente:
Quando a lei quer igualar os direitos das pessoas que estão num contrato (novos
ou antigos)
ex.: no caso de morte de pai ou mãe
Lei antiga: o trabalhador pode ficar 5 dias em casa
Lei nova: o trabalhador tem direito a 20 dias em casa
Esta lei aplica-se apenas a quem começou a trabalhar agora ou a todos?
Iguala todos os trabalhadores

 Se a lei se abstrai é retroativa, então quando não se abstrai a lei nova não é
retroativa – interpretação enunciativa “a contrário sensu”, ou seja, lemos o
contrário do que estava escrito (ex.: norma excecional como contrário da regra)

DIFERENTE
 Factos pressupostos/passados
Factos do passado que temos de respeitar, pois é um pressuposto para
eu ingressar em algo

ex.: estou no 12.º ano e quero ir para a Portucalense


Para ingressar era necessário o exame de português
Enquanto estou no 12.º ano sai uma lei que diz que para ingressar na
Portucalense é obrigatório entrar com português e latim
A lei nova considera o meu passado – não tenho latim então vou para outra
universidade, não entro nesta
No entanto,
Neste momento sou aluna da Portucalense e sai uma lei a dizer que é
preciso ter latim para frequentar a universidade
Não tive latim, mas esta lei não se pode aplicar a mim, pois já adquiri o
estatuto de aluno, não tenho de me reger pelas novas regras de entrada

NÃO TEM NADA A VER COM RETROATIVIDADE


Trata-se de saber quais são as condições de aplicação de uma determinada lei
A lei não diz que se aplica ao passado, a lei diz que para aceder ao estatuto
de estudante da universidade que vão olhar para o meu passado, não é
aplicar ao meu passado, é considerar o que tenho ou não tenho

ex.: eu quero ser educadora de infância e candidato-me a um concurso


O concurso escolhe-me para educadora de infância
Depois de 2 meses de exercer sai uma lei que diz “não pode ser funcionário em
nenhum estabelecimento que contenha menores pessoas que tenham sido
condenadas nos últimos 5 anos por crime sexual a menores”
Há 3 anos fui condenada por abuso sexual a menores.
Posso continuar a trabalhar na cresce? Posso, porque a lei não se aplica, pois
já sou educadora de infância – só se aplica a quem se candidatar agora

Não se fala de retroatividade, aqui falamos de respeitar as condições para


ingressar num determinado estatuto que estão em vigor no momento

Não confundir retroatividade com aplicabilidade de uma lei nova a factos


passados quanto aos efeitos futuros – para se aplicar uma lei tem que se
considerar o passado da pessoa (factos pressupostos)
DIFERENTE

 Factos que tem efeitos retroativos


Quando produzo um facto, esse vai ter implicações no passado

Os negócios podem ser anulados.


Um negócio anulável produz efeitos jurídicos provisórios
(a condição de anulabilidade produz efeitos retroativos desde a data de
celebração do negócio)

ex.: a Mariana obriga-me a dar-lhe uma joia, porque me ameaça


Se eu for coagida posso pedir a anulabilidade do negócio durante 1 ano
Quando o negócio for declarado anulado, essa declaração da anulabilidade
tem efeito retroativo – Artigo 289.º - ou seja, tudo que foi produzido
durante esse tempo vai ser desfeito/restituído

Este facto tem efeito retroativo, ou seja, produz efeitos para trás, apagando tudo
o que foi feito
Isto significa que os factos têm efeitos retroativos (não tem nada a ver com leis
nem com conflito), mas sim de factos que dá para desfazer o que está para trás

Não confundir retroatividade da lei com retroatividade de um facto

Artigo 13.º
Norma dispositiva interpretativa
Visa interpretar expressões ambíguas usadas pelas partes nos contratos
As partes quando elaboraram um contrato usaram determinadas expressões duvidosas.
Se as partes não definem o seu conteúdo, a norma dispositiva interpretativa
interpreta o sentido (“se as partes não explicam, a norma jurídica explica”)
Não é o mesmo que lei interpretativa - a lei visa interpretar expressões ambíguas
usadas na lei pelo legislador. As leis quando tem expressões duvidosas podem ser
interpretadas de maneira diferente (perigoso), então o legislador faz uma lei
interpretativa que só tem uma finalidade – esclarecer qual o sentido com que
deve valer uma lei anterior que está a gerar dúvidas

01/01/2017 01/01/2022
Sentença z

Lei X
Escrita de uma forma Processo
que, ao ser aplicada, fez aberto Lei interpretativa
com que houvesse (interpretação autêntica feita pelo
várias decisões sobre o legislador e é vinculativa para todos)
mesmo assunto.

O legislador considera que a lei X deve ser interpretada, pois gera muitas
dúvidas, então decide em 1/01/2022 fazer uma lei interpretativa

A partir desse dia não há mais dúvidas. Mas e as decisões que foram tomadas antes?
 Quando uma lei é nova e é retroativa tem grau mínimo, o que está para trás
não se altera
 No entanto, uma lei interpretativa não é uma lei nova, então o regime de
retroatividade da lei interpretativa não se fixa pelo Artigo 12.º, mas sim pelo
Artigo 13.º

 Todas as leis interpretativas são retroativas – esta lei junta-se à lei


interpretada e a partir dali deve aplicar-se com o sentido da lei interpretativa

 Não tem grau máximo, nem médio, nem mínimo, é um grau intermédio entre
o mínimo e o médio – Artigo 13.º, n.º 1
Neste n.º 1 é consagrado que a lei interpretativa integra-se na lei interpretada,
ficando salvo os efeitos já produzidos pelo cumprimento da obrigação, por
sentença passada em julgado, por transação

 Artigo 13.º, n.º 2


“A desistência
Conflito da leiedoa confissão
tempo não homologadas
– Prazo em curso pelo tribunal podem ser revogadas
pelo desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for favorável”
Emex.: sentença zsou
10//03/2020 volta a serpelo
citada reaberta, pois
tribunal ainda
que não
tenho transitou
uma ação do Bruno contra mim.

Lei interpretativa integra-se na lei interpretada e altera tudo o que for produzir, exceto o que está no n.º 1
Tenho 30 dias para contestar:

30 dias p/ contestação

10/03/2020
Citada
17/03/2020 LN 6/4/2020 LA 9/4/2020

Lei iniciou vigência


Passaram 7 dias
Artigo 279.º, b)

Hipótese A – Entra em vigor uma lei nova que diz que o prazo para contestar é de 20 dias

A lei nova encurta o prazo (Art. 297, n.º1)


Uma lei nova que encurta o prazo aplica-se aos prazos em curso
mas o prazo dessa lei nova só se conta a partir da entrada em
vigor da lei nova (17/03/2020)

Afinal quando é que acaba o prazo para mim?


Quando fui citada deram-me 30 dias porque era o que estava na lei. Enquanto o meu
caso está a decorrer, dizem que é de 20 dias (o prazo que está em curso começa a
contar ao abrigo de uma lei e a meio sai outra)
Acabaria dia 06/04/2020 – contei o prazo de 20 dias a partir da entrada em vigor da LN
A lei antiga acabava dia 9/04 e a lei nova acabava dia 6/04, a lei que se aplica é a nova.
O legislador pretende encurtar o prazo, então não faz sentido ao abrigo da lei nova, o
prazo ser mais longo que a lei antiga.

Hipótese B – Entra em vigor uma lei nova que diz que o prazo para contestar é de 45 dias

A lei nova aumenta o prazo (Artigo 297.º, n.º 2)

Conforme a lei nova venha aumentar ou encurtar o prazo, o regime jurídico a aplicar é
distinto, pois a contagem do novo prazo começa a contar a partir de um tempo
diferente.

Quando há um conflito de leis sobre a alteração de prazos em curso, o artigo a aplicar é o


Artigo 297.º (normalmente, a lei nova que encurta o prazo aplica-se aos prazos em
curso, “a não ser que segundo a lei antiga falte menos tempo para o prazo completar”)

(Devemos contar o prazo antigo até ao fim e ver quando acaba e depois pegar no
prazo novo e contar a partir da entrada em vigor da lei nova e ver quando
O dever de obediência à lei acaba – comparar no fim)

Artigo 297.º, alínea e)


Nota: se o prazo acabar num feriado/domingo, transfere-se para o 1º dia útil
Antes de estudar as regras sobre a interpretação da lei, devemos ter atenção a dois
artigos que procuram garantir a observância das leis.

 Artigo 6.º
Dirige-se a todas as pessoas em geral
 Recorda-nos que o facto de não conhecermos a lei não nos torna isentos das
consequências previstas nela.
Se quem violasse a lei usasse este argumento e estivesse desculpado, acabaria a
segurança jurídica.
Ainda,
 Nós até podemos conhecer a lei, mas se fizermos uma interpretação errada
da lei, podemos cumprir uma lei de maneira errada. Então, este artigo não
desculpabiliza estas más interpretações.

Então é vital que saibamos como devemos interpretar uma lei.

 Artigo 8.º
Tem como destinatário o juiz, e impõe-lhe duas obrigações
 O juiz é independente no exercício da sua função, mas deve ser obediente à
lei. Na realidade, é independente relativamente a outros órgãos, mas é
dependente da lei objetiva. O juiz não pode julgar o caso com base na sua
opinião, tem de julgar de acordo com o que a lei lhe diz para fazer.
 O juiz não pode recusar julgar, tem essa obrigação.
Como é que o juiz está vinculado à lei e depois tem que julgar um caso que pode
não ter lei? A própria lei reconhece que tem limitações e o legislador sabe que há
situações da vida real que não previu.
Sendo assim, o legislador ao saber que pode ser lacunoso, diz que o juiz tem de
julgar na mesma com base na lei e dá-lhe ferramentas para ultrapassar a falha.
É, então, consagrado o princípio da decisão de non liquet que proíbe o juiz de
dizer que não julga, tem sempre de julgar
 No seu nº2 é dito que ninguém pode invocar a moral para não cumprir uma
lei, mesmo que entenda que a lei não é justa, tenho de a cumprir.
E no seu nº3 é dito que o juiz no julgamento das causas que lhe são submetidas
tem de ter consideração todos os casos que mereçam um tratamento análogo,
pois não podemos ter situações idênticas com decisões contraditórias (ter em
conta os acórdãos uniformizadores).

Desta forma, para afastar a obscuridade da lei, o juiz deverá esclarecer o sentido dela
através dos instrumentos da interpretação previstos no Artigo 9.º, e para ultrapassar a
falta de lei (uma lacuna) deverá aplicar as regras da integração que a própria lei lhe
fornece para o efeito que estão previstas no Artigo 10.º.

Interpretação da lei
Importante distinguir desde o ínicio:
Uma coisa é interpretação da lei, outra coisa é interpretação das declarações de
vontade das partes nos negócios jurídicos.
 A lei que está escrita pode gerar dúvidas e temos regras para interpretar aquilo
que o legislador quis dizer – interpretação da lei
 Nas declarações de vontade, num contrato, posso emitir uma declaração que
acho que é interpretada num sentido e a outra parte interpreta noutro,
gerando dúvidas também e sendo necessário perceber o que as partes
quiseram dizer – interpretação de declarações negociais, captar a vontade do
declarante (norma dispositiva interpretativa)

As regras que sigo para interpretar as partes não são as mesmas para interpretar a lei.
Só iremos aprender as regras para interpretar a lei – Artigo 9.º

Para a interpretar:

1º devemos apurar os factos relevantes do caso, saber com precisão o que se passou.
Então o problema da interpretação surge precisamente na situação em que temos
um caso concreto a resolver e, recorrendo ao silogismo judiciário e analisando a
hipótese legal a que queremos subsumir os factos do caso, a hipótese legal da norma
jurídica em questão não nos aparece como clara, mas equívoca.
A solução do problema há-de ser encontrada com o recurso às regras de
interpretação e integração das leis (artigo 8.º)

2º A finalidade da interpretação é tornar claro o que é obscuro. Por isso, podemos


pensar que um texto claro não necessita de ser interpretado. Todavia, afirma-se que
a própria conclusão de um texto ser claro é já o resultado de uma interpretação.
Resulta daí a relevância da língua para o direito. No que respeita às normas jurídicas,
a língua tem que exprimir um entendimento comum que é partilhado pelo legislador,
os destinatários das normas jurídicas e os seus aplicadores.

3º Da língua também faz parte a pré-compreensão jurídica com que se abordam os


problemas, tanto do lado de um jurista como também do lado de um leigo jurídico
cuja sensibilidade ainda não é influenciada por qualquer pensamento “técnico-
jurídico.
Por pré-compreensão jurídica entende-se a relevância de determinadas reflexões
prévias, a existência de preconceitos ou de eventuais prejuízos morais quanto a
certos factos, sendo estes fatores o resultado das experiências exclusivas da vida de
cada um.

1. Modalidades da interpretação
Tendo assim ficado assente que a interpretação é uma inevitabilidade, ela
apresenta-se sob várias modalidades.

 Interpretação autêntica
É vinculativa e é feita pelo legislador através de uma lei interpretativa, ou seja,
o legislador faz uma lei e a lei gera dúvidas, então faz uma lei interpretativa que
interpreta outra, fixando o sentido e alcance com que essa lei deve valer.
A partir do momento em que o legislador faz uma lei interpretativa não pode
mais ninguém interpretar de uma maneira diferente.
(Artigo 13º)

 Interpretação jurisprudencial
Deixa de existir depois da revogação do artigo 2º, os acórdãos uniformizadores
não têm esta função embora contribuam para a formação do direito
jurisprudencial.
É feita pelos tribunais ao julgar os casos, mas não tem força vinculativa.
O juiz para decidir deve obediência à lei, ao aplicar a lei interpreta-a num sentido
e aplica-a nesse sentido, fazendo uma interpretação.
No entanto, é vinculativa no caso sub judice, caso objeto de julgamento (não
vincula os juízes posteriores, só é vinculativa naquele caso)
Exceção: decisão do tribunal constitucional que declara uma norma/lei
inconstitucional com força obrigatória e geral (art. 282.º CRP) é vinculativa

 Interpretação doutrinal
É feita por juristas e estudiosos do direito.
Não é vinculativa, o juiz pode ser sensível à interpretação de um doutrinador,
mas não passa disso.

 Interpretação administrativa
É feita por órgãos públicos no sentido de explicitar o sentido com que esse
órgão deve interpretar e aplicar certas normas, mas não é vinculativa.
Por exemplo, a Autoridade Tributária emite internamente a interpretação a
adotar quanto a determinadas normas, vinculando os seus funcionários, não
vincula externamente, só influencia.

A única que é vinculativa é a interpretação autêntica e a jurisprudencial é apenas no


caso que está a ser julgado e no caso da decisão.
As outras são só influenciáveis.
2. Fins da interpretação
Os fins traduzem-se nas teorias.

 Teoria subjetivista
Diz que na busca do resultado da interpretação aquilo que devemos procurar é o
propósito do legislador, o que ele pretendeu.
Devemos ler a lei e tentar perceber o que ele queria dizer

 Teoria objetivista
Defende que se deve procurar a vontade autónoma da lei, porque a lei quando
é feita desliga de quem a fez – o legislador de hoje não é o de amanhã, mas a lei
sim, então a lei tem de ter vontade própria, tem de ser feita para vigorar
independentemente de quem a fez
A lei sobrevive a quem a fez e ao contexto em que foi feita.
*Positivistas só olham para o que está escrito*

 Teoria mista
Concilia as duas teorias anteriores.
É evidente que quando vamos interpretar uma lei temos de tentar perceber qual
foi o propósito da pessoa quando a fez. Se eu souber a intenção do legislador eu
vou conseguir interpretá-la muito melhor.
No entanto, não posso somente considerar o que o legislador queria.
Artigo 9.º
Este artigo mostra-nos que não basta a vontade da lei, é preciso valorizar o
pensamento do legislador e que tenha o mínimo de correspondência.
(se virmos que o legislador pensa no caso A e escreve B não há correspondência)
Ex.: olhamos para a letra da lei e vemos que o legislador quer que a lei se aplique
ao caso A, B e C. Mas quando analisamos o seu pensamento reparamos que só
queria A e B, então a lei não pode ser aplicada ao caso C, pois não foi pensado
pelo legislador.
3. Elementos da interpretação

1) Elemento gramatical
Letra da lei (Literal)
Quando interpretamos algo, lemos em primeiro lugar.
Para fazer juízos de interpretação é necessário ler.
Deve-se partir do princípio de que o legislador se exprimiu corretamente e que
o fez numa linguagem acessível aos destinatários

Em todo o caso, não pode ser considerado pelo intérprete o pensamento


legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência.
Os elementos que visam procurar o pensamento do legislador:
- Função Positiva
- Função Negativa

2) Elemento histórico
Procura entender a norma a partir do contexto em que foi feita até aos
precedentes legislativos.
Então, implica que leiamos o preâmbulo da lei (a lei tem um texto prévio que o
legislador diz quais foram as motivações dele para fazer a lei)
- ratio legis
- Antecedentes Normativos
- Trabalhos Preparativos

3) Elemento sistemático
O nosso ordenamento jurídico tem de ser coerente, o legislador não repete
matérias, faz remissões, é coerente e não se repete.
Quando eu estou a interpretar nunca o posso fazer de maneira unitária, tenho
de interpretá-la num contexto, pois não está isolada e deve ser harmonizada
dentro do sistema.
- Contexto da lei
- Lugares Paralelos

4) Elemento racional (teleológico)


Atende à ratio legis, ou seja, os objetivos que a lei pretende alcançar, o motivo
para o legislador escrever a lei.

Quando faço a junção dos elementos, chego a resultados de interpretação.


4. Resultados da interpretação
 Interpretação declarativa: o legislador disse exatamente aquilo que ele
pensou e que queria. Eu procurei a vontade dele, olhei para a lei e coincidiu
perfeitamente, o legislador expressou-se da forma mais correta possível.
(Letra da Lei = Espirito da Lei)

 Interpretação restritiva: eu procurei o pensamento do legislador, vi o que ele


pretendia e chego a conclusão que escreveu muito mais do que queria – ele
pensou e fez a lei para abranger situações A e B, e quando leio a lei cabe a
situação A, B e C. Então temos de restringir a letra da lei de maneira a fazê-la
coincidir com o pensamento do legislador, só se aplica a lei às situações que o
legislador pensou.
(Letra da Lei « Espirito da Lei)

 Interpretação extensiva: o legislador faz o contrário, o legislador pensou em


fazer uma norma para as situações A, B e C e ao procurar entender o seu
pensamento, eu entendi que queria abranger estas normas.
No entanto, parece que só cabe o caso A e B, mas não há dúvidas que
também é feita para a lei C e no preâmbulo da lei diz que se aplica também a
lei C. Mas o legislador não se expressou da melhor forma, cometendo um
lapso. Mesmo assim, consigo perceber através dos elementos lógicos que o
legislador também fez a lei para o caso C, então estendo a letra da lei
aplicando-a ao caso C (caso pensado)
Letra da Lei » Espirito da Lei)

 Interpretação revogatória: o legislador contrariou-se - pensou sobre o caso A


e escreveu sobre a C, a norma não se aplica, é revogada.
(Letra da Lei ≠ Espirito da lei)

 Interpretação enunciativa:
Quando se faz uma dedução a partir do que está escrito - ler o que está
implícito na norma, mas não está expresso
Como o fazermos? Temos de usar argumentos lógico:
a) a contrario sensu  só pode ser usado em normas de cariz excecional,
se eu ler o contrário da regra excecional chego à regra
(ex.: não retroativa é regra, retroativa é exceção, conseguimos
entender o contrário)
b) a maiori ad minus  se a lei permite o mais, também permite o menos
ex.: eu posso andar na auto-estrada com o limite de 90 km/h, é necessária
uma norma que diga que posso andar ao 90km? Não, se permite andar a
120km/h, permite que ande a 100km/h e 90km/h.
Se a lei permite algo mais grave, permite em princípio algo mais leve
c) a minori ad maius  se a lei proíbe o menos também proíbe o mais
ex.: Casal casado com bem comum – casa.
O que é mais grave? Uma pessoa que venda a casa sem consentimento do
outro ou que apenas a hipoteca? Vender.
Suponhamos que há uma lei que diz que um dos conjugues não pode
hipotecar sem consentimento. E vender pode? É logico que se não se pode
hipotecar, não se pode fazer algo ainda mais grave.

Lacunas da lei
Ausências de lei.

Existe quando estamos perante a falta uma norma jurídica necessária para resolver
um caso concreto que exige uma solução jurídica.

Podem ser:
 Voluntárias (o legislador sabe que a situação reclama uma solução e não dá
voluntariamente porque não se sente preparado)
 Involuntárias (o legislador não previu a situação, não consegue prever tudo)
 Iniciais (a situação no momento em que a lei vai ser feita já existia, mas o legislador
não previu)
 Subsequentes (quando o legislador fez a lei para aquela situação ainda não se
colocava uma situação nova, mas a realidade evoluiu e surgiu uma questão que não
tinha pensado, então irá legislar sobre ela)

A integração das lacunas vem regulada no artigo 10.º, sintonizado com o artigo 8.º:
a existência de uma lacuna nunca pode ter como resultado que um caso concreto fique
por decidir por parte do julgador uma vez que o artigo 8.º não lhe permite invocar a
falta de lei.

Sendo assim, as lacunas são:


Normas jurídicas que não existem para determinadas situações: casos omissos (tem de
ser solucionados pelo direito, mas não tem lei aplicável a essa situação)
Nesses casos temos de colmatar esta falha
Como se ultrapassa as lacunas da lei?
O juiz em 1º lugar tem de recorrer obrigatoriamente à analogia e se não for possível
recorre à norma ad hoc.
o Analogia - Artigo 10.º
O juiz depara-se com um caso que não tem lei, então procura no ordenamento
jurídico português uma previsão legal que contemple uma situação idêntica, que
possa aproveitar a solução jurídica da lei para aplicar ao seu caso
ex.: pessoas que vivem em união de facto há mais de 2 anos tem os mesmos direitos à
partida que os casados, mas não está previsto na lei que um unido de facto tem pensão
de sobrevivência. A convenção do banco diz que o banco pagaria uma pensão de
Atenção: no artigo 9.º estão espelhados todos estes tópicos
Nº 3 quando vemos uma lei partimos do princípio de que o legislador se expressou bem –
presunção relativa, pois o legislador pode ter-se enganado.
Como afasto a presunção de que o legislador se soube expressar corretamente?
Para chegarmos aos resultados de sabermos que se expressou mal, tive de interpretar a lei.
Ao fazê-lo, se chego a conclusão de que ele não se expressou bem consigo afastar presunção
do artigo 9.º, presunção essa que pode ser afastada mediante interpretação em contrário
alimentos ao conjugue sobrevivo (se B falecesse, o banco daria a A pensão de alimentos,
no entanto não são casados então o banco recusa-se) - não há lei, mas a situação é
idêntica – tendo em conta que a lei diz que pessoas unidas há mais de 2 anos tem os
mesmos direitos que conjugues, o conjugue sobrevivo é análogo a um unido de facto há
mais de 2 anos
O juiz não procura casos, procura normas jurídicas que na sua previsão prevejam
casos análogos
o Norma ad hoc
Não há nenhuma norma que preveja um caso idêntico.
Neste caso, a maneira de ultrapassar a lacuna é a criação de uma norma ad hoc,
que vai ser criada para colmatar a lacuna existente: o juiz constatou que não há
possibilidade de usar analogia, então o artigo 10.º, nº 3 pede diretamente ao juiz
para, momentaneamente, se retirar do papel de juiz e fingir que é o legislador,
fazendo uma norma como se fosse o legislador (geral e abstrata)
O juiz tem de se abstrair do caso em concreto e criar a norma com previsão e
estatuição, uma norma que ultrapasse lacuna e depois de o fazer, pode aplicar a
norma ao caso em causa.
Depois da decisão estar tomada, a norma desaparece.

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