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Em Direito, as
palavras podem ter
significados
Lei nº ... Decreto-
diferentes.
ex.: enorme -> burro Lei (DL) nº ...
Assembleia da República
Governo
(emanada) (emanado)
Não confundir
correto e justo!
ex.: Alice e Bernardo *Aluguer: Coisas móveis (carros)
são casados; Carlos e *Arrendamento: Coisas imóveis (casas)
Daniela são casados
Encontram-se à saída
de um motel, em que Acórdão
Sentença
Alice e Carlos estavam
a sair juntos e Decisão de 3 juízes
BernardoDecisão dea1 juiz
e Daniela
entrar juntos (traição). Tribunal Coletivo
Tribunal Singular
Depois desta situação
constrangedora, Crime aplicável a uma pena
Tribunal 1ª
Carlos sugere ir cada estância acima de 5 anos
um com a sua mulher
para casa. Justo? Não,
porque o Carlos já
tinha estado lá dentro Necessidade de regras
e o Bernardo e a Os seres animados, para se orientarem na vida, em princípio,
Daniela não, mas é o seguem o que os seus instintos lhes indicam. Todavia, sob
mais correto. este aspeto, podemos constatar à partida que o homem é um
ser inacabado, na medida em que – ao contrário do que
sucede com os animais – os instintos que possui não são suficientes para ele se orientar na vida.
Deste modo, precisa de regras que o conduzam na vida e que lhe digam como se deve
comportar.
Não sendo os seus comportamentos determinados essencialmente por instintos, é
precisamente nas regras que os homens encontram os modelos de orientação para as suas
condutas. A sua vida de convivência social, a realidade social, são ordenadas e disciplinadas por
regras sem as quais não consegue viver em sociedade, e até o simples modo de vestir obedece a
regras conforme as situações e as convivências sociais.
As regras dizem ao homem o que está certo ou errado, justo ou injusto, o que vale e o que não
vale, e são padrões de conduta que emanam das mais variadas instituições que representam
as estruturas da organização social em que o homem está inserido.
Contudo, as regras não têm todas a mesma natureza ou importância; conforme a sua origem
varia a força vinculativa com que se impõem.
1.1. As instituições
Desde o seu nascimento o homem encontra-se envolvido num determinado
ambiente que o rodeia e o influencia, ou seja, num contexto em que foi exposto e
que atua sobre ele. Quer dizer, o homem, desde o seu nascimento sente a conivência
humana que o rodeia. E esta convivência com outros homens acompanha-o durante
toda a sua vida, uma vez que apenas em sociedade humana consegue (sobre)viver.
Mas, para se orientar necessita, como vimos, de regras.
Estas regras emanam de “instituições”. Por esta razão, para viver em sociedade, o
homem precisa de instituições.
As instituições poderão ser definidas como conjuntos na realidade social que, como
organizações sociais, estabelecem para quem a elas pertence regras de conduta ou de
comportamento que têm carácter normativo (norma = regra) e que, ao serem
observadas, garantem a segurança nas relações entre os homens abrangidos por elas.
É precisamente nas instituições em que está inserido (familiares, educativas,
económicas, culturais, desportivas, políticas, etc.) com as suas normas próprias e
padrões de conduta com a sua grande variedade, que o homem aprende viver
regradamente em sociedade com os outros.
Muitas vezes, as regras de convivência nem sequer são sentidas, porque na consciência
das pessoas já estão completamente interiorizadas como habituais.
A primeira instituição em que o homem está inserido e começa a ser socializado é a
família, em que é exposto ao ambiente social em que começa a sua aprendizagem
do mundo.
Obviamente, também as regras ou normas jurídicas são parte da realidade social que
elas visam ordenar.
A natureza social do homem – que tanto pertence ao mundo natural como ao
mundo cultural em que nenhum dos dois se sobrepõe ao outro e que estão
interrelacionados – determina que ele tenha necessidade de estar inserido em
instituições sociais que lhe dão estabilidade, orientação e regras nas suas condutas e
que, ao mesmo tempo, o condicionam.
O homem é um ser social que evolui e se realiza na convivência com os outros,
apresentando-nos uma natureza ambivalente como indivíduo autónomo e ser social.
Por mais individualista que um homem queira ser, ele continua inevitavelmente um
ser social. A sua humanidade específica está intrínseca e inseparavelmente ligada à
sua sociabilidade e a sociedade é uma forma de vida necessária por natureza ao
homem, essencial à constituição da humanidade do homem. Por outro lado, a
conduta do homem enquanto ser social precisa de uma “ordem” que legitima a sua
atuação, de uma organização que implica a existência de regras ou normas que o
disciplinam. A necessidade de organização implica a existência de regras ou normas
que disciplinem a conduta do homem que, enquanto ser social, precisa de uma
“ordem” que legitime a sua atuação.
Os homens distinguem-se e caracterizam-se por uma extrema complexidade, por
uma individualidade derivada das vivências que a identificam, havendo assim
diferenças consideráveis entre uns e outros, dotes naturais muito desiguais,
mentalidades e comportamentos diferenciados, sendo estes comportamentos nem
sempre “racionais” e dificilmente previsíveis e muitas vezes determinados por
ressentimentos, antipatias, ou invejas e, mesmo nas relações comerciais, não apenas
por uma racionalidade económica.
Sendo assim, vemos que são as diferenças entre eles que mais caracterizam os
homens; diferenças essas que, com toda a sua diversidade e multiplicidade, em caso
algum afetam os homens na sua igualdade em dignidade e direitos (e obrigações)
decorrente da natureza humana e comum a todos os seres humanos, mas estão
perfeitamente de acordo com elas.
Na verdade, todos os homens são todos iguais como homens, têm a mesma
natureza humana, mas como indivíduos são todos diferentes.
Contudo, embora dando estabilidade e orientação às condutas dos homens, as
próprias instituições estão naturalmente sujeitas à evolução (cultural, científica,
económica, política, social). Todavia, não obstante todas estas evoluções, a família –
ou os vários modelos familiares que foram surgindo – manteve a sua função
institucional de sempre: a inserção do homem na sociedade (sua socialização
primária), a aprendizagem de viver em comunidade, ou seja, de viver num ambiente
humano.
Ordem Natural Ordem Social
Explica a natureza das coisas e Criada pelo Homem e depende da
não depende da vontade do escolha do Homem, indicando como se
Homem (pré-existente). Regula devem comportar, dando segurança e
as relações humanas a partir liberdade. Permite que o ser humano se
de uma ideia de justiça complete enquanto pessoa, uma vez
Artigo 402.º que não está biologicamente preparado
para integrar socialmente.
Ordem
Religiosa
Ordem de Ordem Ordem
Não confundir
com Direito Trato Social Moral Normativa
Canônico
Seguimos certas
regras que visam
regular o
relacionamento Visa uma Visa o Função de
do indivíduo com convivência aperfeiçoamento manter, a
a sua entidade mais interno e é partir das suas
divina. saudável, mas composta por regras, a paz
Em alguns países não acarreta valores éticos e social sendo
essas regras até sanções morais que a baseado em
são a lei (ex.: 10 jurídicas sociedade acha critérios de
mandatos na correto justiça
Religião Católica).
Exprime-se Há sanções para
através de usos e quem viola uma Vai de
Há sanções convenções regra moral (não encontro aos
divinas, como ir sociais que são jurídica), tais bons costumes
para o inferno impostas pela como: remorsos (não muda
cortesia, etiqueta e peso na mesmo que as
e moda (...) O seu consciência ideias mudem)
não cumprimento
Há normas
gera um
jurídicas que
sentimento de
encaminham para Caso a quebra da Sanções jurídicas
reprovação por ordem moral for
Tribunal pena de prisão,
Eclesiástico parte da contra uma norma pena de multa,
(julgam-se os sociedade há uma sanção trabalho de
crimes religiosos) jurídica comunidade,
(ex.: não gostar da pagamento de uma
ex.: rir num vizinha do lado e indeminização
funeral matá-la – pena de
prisão e peso na
consciência)
Características da Ordem Jurídica Normativa
1. Alteridade: Basta haver 2 pessoas para haver regras jurídicas
2. Necessidade: de regulamentar a convivência entre os humanos, ou seja,
necessidade de resolver conflitos e determinar qual interesse deve
prevalecer numa determinada questão
3. Exterioridade: o Direito só condena comportamentos exteriorizados e feitos.
Todavia, a premeditação é importante para o Direito se executado, pois é um
fator agravante de um crime (pensou em matar ou foi acidental)
4. Estatalidade: as normas provêm do Estado
- Teoria Honismo Jurídico: Estado é a única entidade que pode criar e aplicar
as normas jurídicas
- Teoria Pluralismo Jurídico: Apesar do Estado criar e aplicar as normas, não
lhe é exclusivo
5. Imperatividade: Tudo o que resulte da lei é uma ordem, ou seja, as regras
jurídicas são imperativas (ex.: até posso não pagar algo mas lido com as
consequências)
6. Coercibilidade: O que nos obriga a cumprir a força que o Direito tem de se
aplicar se as normas não forem cumpridas (diferente de coação que pode ser
moral - chantagem, coação física - obrigar alguém fisicamente a fazer algo
contra a sua vontade e medidas de coação - prisão preventiva)
*coação = força que a própria norma tem para impedir que desrespeitem as
regras*
Ordem = Conjunto de
regras Ordem Jurídica e Ordem Moral
A interligação entre as A ordem moral é relevante do ponto de vista
duas ordens (moral e jurídico. Aquilo que é moralmente correto, hoje na
normativa) tocam-se sociedade, é diferente do que em tempos
anteriores era. Sendo assim, a moral é variável e
depende do meio onde estamos inseridos.
Posto isto, a relação entre a moral e ordem jurídica é estreita. Deve acontecer
um ajusto do Direito à moral que evolui: o legislador não deve escrever o que a
sociedade entende como certo ou errado.
Entre o conflito de uma regra moral e uma regra jurídica deve prevalecer a
regra jurídica, tal como se pode comprovar no
Artigo 8.º, n 2º No entanto, o Direito não pode
Problemática
(ninguém do Direito
pode desobedecer Justo
a uma regra jurídica desconhecer
justificando que é injusto)
a moral, caso contrário
Se uma norma O está
legislador vincula
em vigor todosàs mesmas
é justa regras.
pode surgir um conflito entre a lei em
Linhas doutrinais: vigor e as conceções morais.
Jus Naturalismo
Justiça Uma vez que o Direito se legitima pela ideia de
Direito
(igualdade) justiça, não pode ignorar a moral. Defendem,
assim, a existência do direito natural.
Alguns dizem que a fonte O direito é inalterável no que diz respeitos a
criadora é um Deus, porque determinados valores fundamentais inerentes à
não sabemos a origem, se é
natureza humana, valores esses que o direito
divina ou se é do estado
natural das coisas (é pré- positivo tem que respeitar.
existente, pois já existe antes Não precisa de estar escrito e assenta nos valores
de nós). E é supralegal, visto fundamentais como a justiça, sendo válido em
que se sobrepõe à lei e gira em qualquer parte do mundo. Surge na natureza das
volta da natureza essencial do coisas e é anterior a qualquer vontade (“é porque
homem que é comum a todos tem de ser”)
(jamais o direito positivo pode
O Direito natural por um lado serve para legitimar
estar acima)
o direito positivo e, por outro, corrige o direito
vigente com o intuito de o tornar mais justo
Na medida em que o pensamento jusnaturalista invoca a moral como alicerce do direito,
constitui a crítica da moralidade ao direito positivo. É patente que uma contradição generalizada
entre o direito positivo e as normas da moral provoca uma crise social. Em casos extremos esta
crise pode resultar numa revolução como mostra o exemplo da Revolução Francesa de 1789
fomentada por exigências jusnaturalistas fundamentadas na razão.
O pensamento jusnaturalista racionalista teve um êxito enorme nas legislações dos séculos
XVIII e XIX, nas quais ganhou a sua expressão (de maneira que a antinomia entre direito positivo
e direito natural deixou de ser sentida por muito tempo porque as leis estavam em sintonia com
o direito natural de modo que se desvaneceu a consciência de que as leis podiam ser não justas
em virtude de não respeitarem valores de justiça superiores).
O pensamento jusnaturalista acabou por ser afastado ainda no século XIX, pela Escola
histórica do direito (defendia que o direito é um fenómeno histórico que nasce do espírito do
povo, dos seus costumes, em que se manifesta e que traduz a mentalidade da respetiva
comunidade) e pelo jus-positivismo.
Devido aos atos legislativos dos regimes totalitários do século XX que cometeram violações
gravíssimas do direito (e da justiça e da moral) com as suas leis atentatórias aos valores da
humanidade, voltou a haver uma consciencialização da antinomia entre o direito positivo e os
princípios superiores de um direito natural que levou a um renascimento do jus-naturalismo.
Pode-se concluir que sempre se chama pelo direito natural e pelos seus princípios quando o
Nãopositivo
direito podeestiver
haver empositivismo extremo
crise por se ter afastado em Direito (artigo 9.º)
daquele.
Obrigação natural
Dever que eu devia
Obrigações legais: fazer cumprir o
cumprir, mas se não
dever jurídico através de
Pode-se transformar cumprir,
em o Direito não
mecanismos legais.
me pode impor esse
cumprimento, pois não
tem legitimidade nem
Quando não é cumprido o dever,
força para o fazer.
o Direito penaliza, obrigando a
Todavia, deve ser
pagar uma sanção:
cumprido, por
Obrigação civil questões morais/éticas
Tem tutela jurídica
e judicial, ou seja,
existem mecanismos
para fazer a pessoa
cumprir, caso a
mesma não o faça
voluntariamente.
Artigo 309.º
Ex.: O António emprestou 50000€ ao Tomé que teria de devolver em 5 anos.
Passado 25 anos encontram-se e Tomé diz que lhe vai pagar, o que António acha uma palhaçada.
Vai a tribunal exigir que lhe pague o dinheiro, mas o juiz diz que já passou demasiado tempo –
prescreveu
*Se fosse pedir a Tribunal passados 20 anos, o colega tinha obrigação civil de lhe pagar, passando o
tempo já não é juridicamente obrigado (só moralmente, pois seria o mais correto – obrigação natural)
Tipologia das normas
Norma Jurídica
Comprador Vendedor
Direito: receber carro Direito: receber o €
Dever: pagar carro Dever: entregar carro
Direito Subjetivo
Direito subjetivo
em sentido amplo
Toda a gente tem liberdade contratual (art. 405.º), dentro dos limites da lei.
Quando o contrato com alguém cria um vínculo com outra pessoa, essa passa
a ter obrigação (art. 397.º)
Sobre o direito subjetivo absoluto:
Apesar deste ser o princípio no âmbito da responsabilidade civil
extracontratual, cada vez mais temos responsabilidade
independentemente da culpa: responsabilidade pelo risco – aquele que
exerce determinada atividade e dela retire vantagens também tem que
indemnizar pelos danos causados (princípio “ubi comanda, ibi comanda” –
quem tira vantagens de uma determinada situação também tem que arcar
com as suas desvantagens – ex.: art. 500.º e 503.º)
Dolo Negligência
Modalidade da culpa Modalidade da culpa leve
mais grave (intencional) Não é propositado, mas
Modo de agir não teve cuidado com o
fraudulosamente com que deveria
uma pessoa ex.: Hora da sesta e estão todas
ex.: Crianças de 2 anos as crianças a dormir, então vou
sozinhos numa sala. Vou lá atender o telemóvel à porta,
fora fumar um cigarro e estando sempre a espreitar. De
abandono a sala. Acontece repente, acontece algo: não foi
algo, tenho culpa. intencional, mas não fui
cuidadosa
Inimputabilidade
Não tem noção das consequências dos seus atos (menores de 7
anos)
ex.: um menino de 2 anos mata outro menino, tem culpa? Não.
Só tem culpa quem tem capacidade/maturidade de saúde para
entender que o seu ato vai causar algo grave.
Então, uma pessoa inimputável não é suscetível de culpa.
Relação jurídica
Facto jurídico
involuntário
Prescrição
O passar do tempo
Efeito jurídico (Perda da tutela
(consequência) jurídica)
Prazo ordinário da
prescrição
20 anos
Tempo para exercer
o direito subjetivo
(art. 309.º)
EXCEÇÕES
ex. 1: O Rafael deve-me 5000€ há 10 anos + juros (4%)
Eu tenho o direito subjetivo de exigir o € do capital e
juros. Passaram 10 anos, então só posso exigir os juros de
5 anos e posso apenas pretender o restante (art. 310.º)
Lei no tempo:
- Prescrição
- Caducidade
- Usucapião: proprietário de um bem fica sem a coisa, porque outra pessoa
tomou posse dela.
ex.: O André tem um automóvel e vende à Francisca que tem 60 dias para registar e
acaba por não o fazer (a consequência seria pagar em dobro) – sendo assim, o
automóvel continua a pertencer a André. Este aproveita o facto de ter o registo em
nome dele e vende o automóvel à Carlota, que regista!
O carro é de quem? Da Carlota. Essa compra e venda devia ser nula, mas a lei castiga a
Francisca por não ter cumprido os requisitos que a lei manda. E, apesar do automóvel ser
materialmente vendido à Francisca primeiro, ela não foi cumpridora ao contrário da
Carlota, então ela fica com o automóvel (parece injusto)
O que é a justiça?
Não há uma definição exata e objetiva de justiça.
Porém, temos sentimentos iminentes em nós baseados em valores éticos e
morais que nos fazem conseguir identificar se algo é justo ou injusto perante
certas atitudes/relações sociais.
Esta dificuldade de definir justiça não está só em nós, como está presente em
toda a sociedade.
O que para nós hoje é justo, para outro país ou noutra altura pode não ser,
uma vez que o conceito de justo pode variar conforme a nossa religião, as
nossas convicções morais, determinadas visões/convicções que condicionam a
nossa perspetiva (...)
Sendo assim, só podemos falar verdadeiramente de justiça quando falamos
de relações sociais reguladas pela lei (situações jurídicas). Os legisladores vão
à base do sentimento comum daquilo que é justo/injusto e aplicam a lei (o
Direito diz o que é justo ou injusto num contrato)
Há situações que dizemos erradamente que são injustas, pois não foram
geradas pelo homem/ordem jurídica. São, por isso, infortúnios.
Injustiça Infortúnios
Resultam de acasos da
≠
natureza (ex.: lugar de
nascimento, haver pessoas
mais bonitas)
As desigualdades criadas
por infortúnios não
devem ser atenuadas
pelo homem?
ex.: Uma pessoa nasce com
uma deficiência física. É
injusto? Não. Injusto é a
pessoa não estar incluída na
sociedade
A segurança e a justiça não se Fins do Direito
contrariam, complementam-se (ex.:
caso julgado – “o juiz decide e está (objetivo)
decidido”, no entanto há um prazo
de 40 dias para recurso antes da
decisão se tornar definitiva). Num
conflito entre as duas, o legislador
prefere a segurança. Segurança Jurídica
- Garantir paz social
- Proteger os cidadãos face
Justiça ≠ Arbitrariedade ao Estado
tomar decisão sem - Previsibilidade das nossas
critério, “eu quero e posso” ações = certeza jurídica (sei
Justiça luta contra o que posso e o que não
posso fazer)
- Segurança social – normas
Elementos que protegem o cidadão
lógico formais (habitação social, ...)
- Tutelar a confiança
- Imparcialidade e
independência dos
tribunais (o juiz não pode
ser condenado pela decisão
Elementos que toma) (Art. 6º)
gerais
Proporcionalidade
(reciprocidade)
Para uma medida ser
justa tem que ser Igualdade na
Impessoalidade Alteridade proporcional. Quando
aplicação da lei
Não podemos As regras jurídicas uma pessoa pratica um
Respeitar o princípio de
julgar determinada para serem justas ato para com outra,
igualdade não é tratar
situação como têm que regular as tem que repor o
toda a gente igual. Se o
sendo injusta, convivências entre equilíbrio, mas tem de
fizermos, estamos a
opinião esta as pessoas. A ideia corrigir o ato de forma
desrespeitar diferenças
resultado de de ordem jurídica é proporcional (se causei
(ex.: Todos andamos,
sentimentos de proteger as 10, não posso dar 5)
mas há debilitados. A
amizade/ódio (...) pessoas e os bens
pessoa é diferente?
porque isso vai – justiça penal Dignidade da Sim, porque se a
tornar a nossa (ex.: homicídio) pessoa humana considerarmos igual
visão corrompida. Historicamente, há vamos discriminá-la,
Temos de olhar pessoas que foram visto que é necessário
para a regra de tratadas como coisas: criar alternativas para a
forma imparcial não interessa a cor, aproximar da nossa
(ex.: juiz/senhorio) orientação (...), é realidade).
pessoa e basta – Saber que é diferente e
todos tem de ter a não fazer nada para
mesma dignidade. aniquilar é
discriminação
0
Modalidades da justiça
2. Comutativa
Visa pôr termo a desigualdades, normalmente associada ao direito privado - as
pessoas têm direito a estar numa posição de equilíbrio para com o outro.
Voluntária/Sinalagmática (sinalagma = prestação/contraprestação)
As vezes este equilíbrio é posto em causa por um ato lícito que causa dano a
alguém (ninguém tem direito a lesar o direito de alguém). Então, o equilíbrio
entre as pessoas resulta da vontade delas próprias, sem estarem coagidas.
O contrato é sempre um ato voluntário e resulta da vontade de ambas partes
A uma prestação de uma parte resulta uma contraprestação (dou algo para a
outra pessoa dar: art. 405.º). Ou seja, é entendido pelas duas partes como
justa e equilibrada – justiça é o que resulta da vontade livre das partes.
ex.: na compra e venda de uma coisa, uma parte tem de entregar a coisa vendida e a
outra parte tem de entregar o preço / vendo um bem a 100€ por 100€, os outros
podem achar um mau negócio, mas se as partes concordam há equilíbrio
Genético (Origem/Formação de
contratos)
Sinalagma
Funcional (Execução do
contrato)
Do ponto de vista social devemos dar lugar à pessoa que não tem
condições, mas no fundo estaríamos a usar a cultura da vitimização, estamos
a apagar as conquistas que cada um deve ter.
A justiça social é muito perigosa por causa da vitimização: uma pessoa é
problemática, porque nasceu num meio difícil cheio de drogas e violência. Essa
pessoa mata alguém – não pode ter a sua atitude atenuada devido ao meio em
que viveu, pois quem morreu não tem culpa disso. Da mesma maneira que
alguém nasce num meio assim e se torna ladrão, há quem nasce e vire
advogado (são responsáveis por si mesmos – autorresponsabilização)
No entanto
Apesar de haver leis claras, existem normas em que o legislador usa expressões que são
suscetíveis a criar dúvidas e não diz em lado nenhum o que quer dizer, parecendo assim
contraditório, pois temos leis claras e outras que podem ser interpretadas de múltiplas
formas.
Estes conceitos sem definição que geram muitas dúvidas são os “conceitos jurídicos
indeterminados” ou “cláusulas gerais” (uma técnica). Ao usar este tipo de expressões
sem significado concreto, estamos a criar uma imagem de insegurança, mas para
existirem têm de ter uma vantagem significativa para se arriscar “este preço”.
Porém, há uma vantagem: permite que uma lei que foi feita há 20 anos continue atual
sem ser necessário alterá-la. Como não há definição concreta, o seu conceito torna-se
tão amplo que pode ser aplicado ao tempo em que estamos. O legislador ao não
determinar o significado daquela expressão vai permitir que o julgador não fique
preso àquela expressão, permitindo não ter um significado desatualizado.
Também nos deparamos com a desvantagem do juiz, sendo uma pessoa cheia de
experiências pessoais, pode ceder à tentação de preencher os conceitos com a sua
opinião pessoal. Claro que este se deve abstrair daquilo que ele próprio defende, mas
sabemos que há sempre erros judiciais (por isso há sempre uma possibilidade de irmos a
recurso, pedindo uma segunda opinião para perceber se aquela decisão se enquadra no
resto da sociedade atual). Este deve ir de acordo com o que a sociedade entende!
Os conceitos jurídicos indeterminados e as cláusulas gerais são
distintas, mas por vezes são usadas juntas.
Boa-fé
O que é atuar de boa-fé? Dizer a verdade,
agir com lealdade, etc.
No entanto, a lei nem sempre é concreta.
Boa-fé
“Dizer a verdade, agir com lealdade, etc.”
A boa-fé pode ser:
Concluindo, tem vezes que a lei define, outras que não e outras que define pela negativa
Prestações Sociais
Poder Político
Conjunto de medidas e normas para governar um território,
mediante determinada política. Poder de, segundo a ideologia que
tiver dominada no momento, traçar leis/legislar leis, organizar os
organismos de acordo com a ideologia política, governando o país
≠ Soberania:
- suprema: não existe nada em termos internos que se sobreponha
ao Estado
- independente: porque o Estado é soberano é tratado de igual para
igual em faze de outros estados estrangeiros
Território
Espaço físico dentro de fronteiras delimitadas (solo, subsolo, aéreo,
costa marítima)
Povo
Comunidade unida por um vínculo: nacionalidade
População
Conjunto de pessoas que vivem num determinado território,
independentemente se são nacionais ou estrangeiros
Nação
Comunidade unida pela sua etnia, língua e tradições. Não carece de
ter território
Funções do Estado
Garantir a paz interna, a segurança externa, legislar e aplicar a lei.
Legislativa: Elaborar/Criar leis
Atos legislativos (Art. 112.º nº1 da Constituição que define o que são os
atos legislativos – são leis, decretos de lei e decretos de lei regionais)
Quem tem a função legislativa é a Assembleia da República e Governo.
Jurisdicional: Os tribunais são o órgão de soberania que administram
justiça em nome do povo, lutam pela reparação da violação da legalidade
democrática, lutam pela defesa dos cidadãos, resolvem conflitos entre
interesses privados e públicos
Administrativa (executiva): Administração pública que é organizada pelo
Estado visa proteger o interesse da coletividade e visa executar leis,
estando sujeita ao princípio da legalidade (ex.: Autoridade Tributária).
Pertence à ordem legislativa – Governo
Política: Deve traçar aquilo que o país deve seguir (delimitadora de
poder) e delineia o resto, pois a lei obedece à política traçada. Sendo
assim, os “atores” políticos têm que garantir a prossecução dos
interesses da coletividade - garantidos pela Assembleia e Presidente
Nas relações entre o Estado e as pessoas que dele fazem parte podemos
distinguir:
“Status passivo” – Compreende os deveres dos indivíduos perante o Estado
(ex.: cumprimento do serviço militar obrigatório, pagar imposto)
“Status activus” – Direito de os indivíduos participarem na vida do Estado
(ex.: participar nas eleições e poder ser elegido)
“Status negativus” – Direitos de defesa dos indivíduos contra o Estado
(ex.: direitos, liberdades e garantias previstas constitucionalmente)
“Status positivus” – Direitos do indivíduo à proteção pelo Estado
(ex.: subsídio de desemprego, assistência na doença)
“Ramos do Direito”
Direito Interno
Direito Público
Ramos de Direito que regulam as relações entre nós e o Estado.
Princípio da Legalidade: nenhuma entidade pública pode tomar uma
decisão sob um particular sem estar na lei
Direito Constitucional ou Público: lei principal do Estado, qualquer lei
contra a Constituição é inconstitucional – organiza o funcionamento dos
órgãos do Estado e os direitos dos cidadãos
Direito Administrativo: regula a administração pública e os atos dos seus
órgãos e entidades, bem como os direitos entre estes e os particulares
Direito Fiscal: Que tipo de impostos existem, que atos são isentos
Direito Penal: Protege bens/direitos fundamentais da sociedade (diz o que
é crime e o que não é). O seu princípio fundamental é “não há crime sem
lei”, ou seja, não há crime sem que essa conduta esteja na legislação, só há
pena se houver crime e a lei disser
Direito Processual: Regula o processo de direitos substantivos (diz quais
são os direitos e deveres, mas só diz, não especifica) – é adjetivo ou
instrumental, pois ajuda a concretizar (diz como fazer, como recorrer,
onde nos temos de dirigir, mas não há direitos nem deveres, só
informa - ex.: civil, penal, laboral, ...
Direito Privado
= Direito civil: Princípio da autonomia privada- regula as relações entre
particulares no seu quotidiano ou entre particulares e o Estado quando
não está dotado no seu poder de imperium
Direito Comercial: regula as relações entre comerciantes e os atos de
comércio
Direito do Trabalho: só regula as relações de trabalho subordinado
(relações com contratos de trabalho)
Direito de Autoridade: Regula os direitos de autor, intérpretes (...)
Direito Internacional Privado: Regula relações jurídicas entre particulares
de diferentes Estados
Direito das Sociedades Comerciais
O Direito Bancário teve tamanha extensão que acabou por se autonomizar do Direito
Comercial – há um interesse
Como sabemos a que público
Direitoem causa na atividade
pertence cada ram comercial (os bancos
fazem disso atividade comercial captando poupanças, injetam dinheiro na economia
através de empréstimos. O sistema financeiro só funciona em conjunto com o
sistema bancário). Mas também há interesses particulares
Como tem características do Público e do Privado é considerado Direito Híbrido
Como consigo distinguir quais os ramos do direito público e do privado?
Através de 3 teorias:
Geral:
Não é feita para uma categoria específica de pessoas, pois não há normas
individuais, a norma é feita para todos - todos são iguais perante a lei (e as
normas feitas na Constituição encaminhadas ao Presidente da República? A
norma não é feita para o professor Marcelo/Cavaco, mas sim para quem exercer
o cargo de Presidente da República).
Assim, independentemente de como o ato foi praticado, aplica-se a lei -
Princípio da Igualdade (a norma aplica-se de maneira geral a toda a gente,
sem distinção)
Abstrata:
É feita de forma abstrata, não é feita para uma situação em concreto, mas
sim para uma “situação tipo” em que prevê um comportamento de forma
abstrata e aqueles que se encaixarem são aplicados a essa norma
Não há normas que digam “quem envenenar a outra pessoa e a conduzir à
morte”, “quem carregar uma pistola e utilizá-la para matar” – só há “matar”
(a norma não é feita só para uma forma de matar)
Ou seja, da maneira que não é feito para alguém particular, também não é
feita para uma situação concreta
As normas não são Trabalho: 483º, 220º, 874º e 879º, 122º, 1324º,
Estrutura da norma
individuais nem 1305º, 787º, 1601º, 921º, 805º, 503º,2152º,
1766º
específicas,
Composta são gerais
por 2 partes:
e abstratas
1. Previsão/Hipótese (art. 483, nº1, 1ª parte)
“Factie specie” 3.
Cenário idealizado pelo legislador que pode acontecer na vida prática Hipoteticidade
(o legislado põe a situação como hipótese, imagina a situação que pode A norma
acontecer) jurídica só se
ex.: norma diz “Quem matar outrem é punido com pena de prisão de 8 aplica se a
a 16 anos” – o legislador tem em conta o cenário e coloca-o de forma hipótese
geral e abstrata (a parte da norma em que o legislador escreve algo que prevista na
pode acontecer é a hipótese/previsão) norma se
2. Estatuição/Injunção (art. 483, nº1, 2ª parte) verificar em
Consequências que o legislador determina para o caso de acontecer o concreto (se
cenário que idealizou acontecer em
ex.: norma acima – se acontecer o cenário na realidade, qual a consequência concreto a
jurídica? Pena de prisão situação que se
Tipos de consequências: prevê)
1. Sanções – positivas ou negativas ex.: se ninguém
2. Orientações – pode não dar nenhuma sanção, mas diz o que fazer burlar ninguém,
3. Estatutos – art. 122.º: quem não tiver 18 anos é menor não se aplica
ex.: alguém que fica falido (cenário hipotético: insolvente) norma de burla
4. Poderes – lei atribui poderes (ex.: se tiver 18 anos, posso votar)
Factos jurídicos
Voluntários Involuntários
Depende da vontade do Não dependem da
seu agente vontade do homem
(ex.: morrer)
Os seus efeitos são
determinados pela lei
(ex.: prescrição), pois não
acontece pela vontade
Lícitos Ilícitos
Não lesa o direito de ninguém, mas tem Geram responsabilidade civil, de ninguém
relevância jurídica. então os efeitos jurídicos são
1.Simples atos jurídicos – Resulta da determinados pela lei (justiça
vontade e os efeitos jurídicos resultam da comutativa corretiva – lei manda
lei, ou seja, o facto é voluntário, produto corrigir)
da vontade humana, mas o efeito causado Quando eu pratico o facto
por ele já não deriva da vontade, mas é jurídico porque quero, maneira
determinado pela lei voluntária, e lesei o direito de
(ex.: pagar impostos) outra pessoa tenho que
Sendo assim, apela ao cumprimento de indemnizar.
uma obrigação que se vai extinguindo (ex.:
ao pagar um montante a alguém extingo a
dívida).
Atos de ciência – Atos Reais – Atos quase
Negiociais
2. Negócios Jurídicos – Fonte geradora de
obrigações, os atos são determinados pela
vontade e os efeitos jurídicos são produto
da vontade humana
Negócios jurídicos
Originam relações jurídicas em que há 1 direito para uma parte e dever
jurídico para a outra – entre eles há vínculo normativo (artigo 397.º)
Bilaterais Unilaterais
(contratos) Para se formalizar basta uma
Para existir um contrato é preciso simples declaração negocial/de
existir duas declarações de vontade, mas não é necessária
vontade opostas – não há contrato uma declaração oposta
quando eu vendo algo, mas sim ex.: “ofereço recompensa a quem
quando há compra e venda encontrar a minha gata”
A pessoa que se vincula a pagar € já
tem o negócio jurídico formalizado
(declaração feita)
O credor é indeterminado, mas é
determinável – quem encontrar o gato
Artigo 459.º CC – promessa público
(gera obrigações)
Contratos bilaterais Contratos unilaterais
Ambas as partes Apenas uma parte tem
têm obrigações obrigações
(ex.: compra e venda) (ex.: vou doar a minha casa
à Débora - ela só aceita)
Quando praticamos
negócios jurídicos é um
ato voluntário lícito.
O único facto jurídico
que depende da
vontade são os negócios
jurídicos
(os outros factos é a lei
Negócio jurídico
unilateral
DIFERENTE
Contrato unilateral
Os factos jurídicos, para realmente o serem, têm de gerar consequências.
Há factos cujos efeitos são estipulados pela lei e outros em que as partes o
determinam.
ex.: se eu faço um contrato de compra e venda, não posso fugir à lei – art. 879.º
Transferir-se a coisa, pagar o preço (...) são efeitos que só se produzem porque
quisemos. Porém, a prescrição acontece independentemente se queremos ou
não, porque é a lei que a determina
Sendo assim, dos efeitos jurídicos produzidos pelo facto jurídico pode resultar:
Sendo o facto jurídico criador de uma relação jurídica entre duas ou mais
pessoas, estas passam a ser sujeitos desta relação com os seus direitos e
deveres recíprocos, ou seja, fica estabelecida uma vinculação jurídica mútua
cujo conteúdo é determinado pela vontade das próprias pessoas.
Os efeitos jurídicos produzidos pelo facto consistem na aquisição de um
direito subjetivo (absoluto, relativo ou potestativo) por um dos sujeitos e a
imposição de um dever jurídico ao outro (ou obrigação/sujeição)
No caso de o direito adquirido envolver uma atribuição patrimonial (ex.:
aquisição da propriedade) ou consistir no estabelecimento de um estado civil
(ex.: estado de casado) o conteúdo do direito ou do estado civil é
determinado em abstrato pela lei e não pela vontade dos sujeitos da relação.
Só podem ser sujeitas de relações jurídicas pessoas jurídicas (assume efeitos
jurídicos da relação):
Personalidade jurídica
Todos nós somos pessoas jurídicas e para o ser é fundamental ter
personalidade jurídica.
E quando a adquirimos? No nascimento: não é a lei que nos dá ou tira a
personalidade jurídica, limita-se a reconhecê-la. No entanto, o nascimento
tem de ser completo e com vida (Art. 66.º) e o termo da mesma extingue
com a morte (art. 68. º)
Capacidade jurídica
Da personalidade flui a capacidade jurídica (qualidade da pessoa jurídica).
Pode ser, então, sujeito de relações jurídicas, ser titular de direitos
subjetivos e de obrigações.
No entanto, uma coisa Contudo, salvo disposições legais em contrário (situações em que a evolução
é ter capacidade de física e mental do homem o impeça de vir a ser sujeito de determinadas
ter, outra é capacidade relações jurídicas estritamente pessoais tais como casar, perfilhar, testar) –
de agir, ou seja, nós art. 67.º
temos direitos, mas Adquire direitos de personalidade (art. 70º a 81º) – direitos inatos e
não podemos agir nem absolutos.
exercer direito se não Capacidade negocial
tivermos outra Capacidade para poder adquirir estes direitos e de assumir as suas
capacidade: obrigações) - o que cada um de nós tem de ter para exercermos sozinhos
As pessoas singulares adquirem a capacidade de agir e de participar no
tráfico jurídico negocial com a maioridade (art. 130.º).
De gozo
Precisamos de ter para negócios estritamente pessoais, ou seja, há
certos negócios que só os próprios podem participar, ninguém nos
pode representar ou substituir (insuprível), tal como:
- Testar (para poder declarar: art. 2189.º)
- Perfilhar (só eu posso fazer – art. 1850.º)
- Casar (ato individual, ninguém pode casar por mim – art. 1601.º,
não pode casar quem é menor de 16 anos. ou seja, uma pessoa com
15 anos tem personalidade e capacidade jurídica, mas não tem
capacidade negocial de gozo)
De exercício
Capacidade de agir por nós mesmos.
Os menores (artigo 122.º) carecem da capacidade de exercício (artigo
123.º), não podem praticar validamente atos próprios com efeitos
jurídicos válidos. Para evitar que fiquem excluídos do tráfico jurídico
geral a lei prevê que a sua incapacidade é suprida por um
representante legal que age em vez deles e em seu nome. Este age,
mas nunca se torna titular dos direitos e obrigações que negociou.
Ex.: Suponhamos que uma criança vende um imóvel por 200000€, de
quem é o dinheiro? Criança (dinheiro bloqueado, mas não é dos pais)
Capacidade delitual
Ter capacidade para responder pelos seus próprios atos.
Se eu pratiquei um ato ilícito, vou ter de ser responsável, ou seja, vou ter
de indemnizar. Se eu posso indemnizar, tenho esta capacidade.
Quem não a tem são todos os inimputáveis (artigo 488.º, n.º1 e n.º2), não
responde pelas consequências dos atos – menores de 7 anos
Pessoa coletiva – Conjuntos de pessoas cujo objetivo é a realização de
um fim comum.
o Sociedades: a finalidade é obter lucro
o Fundações: pessoa coletiva que prossegue um fim de interesse
comum utilizando o dinheiro da fundação
o Associações: grupo de pessoas que visam um fim para os seus
associados (ex.: DECO promove fim comum, a proteção do
cidadão, mas não pretende ter fins lucrativos)
o Cooperativas: assenta no princípio de ajuda dos cooperantes com
vista num fim (ex.: universidade – cooperativa de ensino)
Personalidade jurídica
Só tem personalidade jurídica quando a lei a reconhece como tal.
A lei exige um registo (art. 158.º), então a personalidade está à
disposição do legislador.
Por isso, tal como a lei atribui, também pode retirar em casos
justificados (art. 182.º, nº2)
Capacidade jurídica
Também adquirem a capacidade jurídica (artigo 160.º) que abrange
todos os direitos e obrigações necessários ou convenientes à
prossecução dos seus fins.
Têm também direitos de personalidade, e entre eles,
nomeadamente o direito ao nome.
Capacidade negocial
Quanto à capacidade de agir das pessoas coletivas constatamos que
ela não é comparável com a das pessoas singulares.
As pessoas colectivas não podem ser menores nem podem celebrar
negócios estritamente pessoais e, de modo igual, também não
podem beneficiar do regime do acompanhamento.
A sua capacidade de participar no tráfico jurídico geral está
condicionada pelo princípio da especialidade do fim e é assegurada
pelos regimes consagrados no artigo 163.º (agir por meio da
representação orgânica ou voluntária) e a sua responsabilidade
extracontratual (e delitual) decorre do artigo 165.º (assumir os
efeitos de determinados atos praticados por agentes ao serviço da
pessoa colectiva).
Ser ≠ Exercer
Ter ≠ Agir
Cap. Cap.
jurídica neg
Classificação das normas jurídicas
1) Critério territorial
Nacional/Universal: Aplica-se em todo o território nacional
Local: Aplica-se numa circunscrição territorial delimitada (pode ser uma
norma só para o “Centro”, só para o “Litoral”, só para o “Porto” ...)
Regional: Aplica-se apenas nas regiões autónomas
2) Âmbito Pessoal
Norma geral: Fixa a regra para um tipo de situações (o legislador prevê
uma situação e para essa situação estabelece uma regra). Considera-se o
regime regra, ou seja, garante o princípio de igualdade (ex.: art. 2033.º)
Norma excecional/”ius singulare”: Toda a regra tem uma exceção, ou
seja, regime jurídico oposto ao regime regra
Só pode considerar-se exceção aquilo que taxativamente o legislador
descreve. A norma excecional nunca se pode aplicar a situações que,
apesar de semelhantes às situações reguladas na norma excecional, não
constam diretamente da norma. Isto é, jamais pode usar-se a analogia em
normas excecionais e também não podem nunca as normas excecionais
serem complementadas pelas normas gerais
Norma especial: Diferente do regime regra, mas não o contraria, é uma
norma mais específica e personalizada
(pode ser completada com o regime-regra)
*No confronto entre uma norma especial e norma geral, deve o interprete
considerar primeiro o a norma especial*
(Regime regra)
Normas especiais
Norma excecional
Resumindo
A norma jurídica geral fixa o regime para determinadas situações, garantindo o princípio
da igualdade (aplicação da lei igual para todos). Contudo, existe algumas situações em que,
mesmo não sendo totalmente diferentes da situação prevista na situação geral, carecem
de tratamento personalizado, mais específico: normas especiais.
No confronto entre uma norma especial e uma norma geral, deve o intérprete
considerar, em primeiro lugar, a norma especial, podendo complementar o regime
especial com o regime geral (ex.: artigo 7.º, n.º 3).
Por outro lado, o legislador entende que há certas situações que, não sendo especiais,
não podem submeter-se ao regime regra, por entender que a aplicação do regime regra
a estas situações não seria justo, então reclama uma situação oposta à do regime regra.
A norma excecional transmite um desvio ao princípio regra, mas são casos ponderados.
Não se pode recorrer sempre às analogias, pois seria o caos tendo em conta que muitas
pessoas iam tentar incluir nas normas excecionais o desvio da regra
3) Critério que relaciona a aplicação da norma com a vontade
dos destinatários (relaciona 2 fatores: perceber se a norma se aplica
independentemente da vontade dos destinatários ou se a norma só é
aplicável se os destinatários quiserem)
Lei imperfeita: Norma que se for violada não traz qualquer consequência
jurídica, não tem sanção. Temos de fazer determinada coisa, mas se não
fizermos não acontece nada
ex.: o Governo tem de providenciar o emprego para todos. Então e as taxas de
desemprego? Apesar disso, o Governo não tem sanção jurídica
5) Quanto à plenitude do sentido
Há leis no Código Civil que, ao ler, não necessitamos de recorrer a outras normas
para entender o seu regime jurídico. No entanto, há normas em que o legislador
não dá o regime jurídico e remete para outras normas.
Basicamente, se uma situação tem solução e surge outra situação que o
legislador entende que já lhe deu resposta, não volta a repetir, apenas remete
para a respetiva norma, pois a norma sozinha não dá a resposta inteira: só com a
conjugação das duas é que conseguimos perceber o regime político.
Remissões = Remissões
Extrassistemáticas Intrassistemáticas
Implícitas Explícitas
Legal
Judiciais
de facto
Estabelecimento da
paternidade na
constância do matrimónio
Relativas Híbridas
Estabelecimento da
Absolutas paternidade fora da
5) Quanto à plenitude do sentido
Exemplo geral
Artigo 1485.º
É uma norma que está inserida num capítulo que se chama “uso e habituação” e diz
“(...) extingue-se pelos mesmos modos que o usufruto”, ou seja, não sei quais são as
normas, mas sei que a norma referida é intrassistemática, pois faz parte do
ordenamento português. Ainda, está explícita por texto, porque não nos indica o
artigo, temos de o procurar. Mais à frente este artigo faz remissão para a “alínea c) do
artigo 1239.º”, sendo explícito por artigo.
Como sabemos, então, quais os modos de constituição do direito do uso e habitação?
“Mesmos modos que o usufruto” (explícito por texto): ir à norma que sabemos que
começa no Art. 1440.º (contrato, tratamento, usucapião e a disposição na lei).
Contudo, no Art. 1485.º deparamo-nos com uma remissão explícita por artigo que nos
diz que o usucapião não é permitido, devendo cortar essa parte da nossa resposta.
Como se fazem as remissões:
Ficção legal
A lei finge a verificação ou ocorrência de um facto
que na realidade não se verificou/ocorreu
ex.: se o Francisco me deve 5000€ e tinha de pagar e não
pagou, vai ter de pagar o € e juros, mas não vou conseguir
que o faça se não o interpelar (“paga o que deves!”). Ele só
terá de o fazer quando entrar em amora (atraso e juros),
então imponho uma data avisando que pagará juros se não
me pagar até o dia especificado. O Francisco sabe que ando
atrás dele para o interpelar, então foge e quando recebe a
carta recusa-a (evita ser notificado)
Porque evita receber a minha carta? Enquanto não tiver
data não paga juros, age de má-fé.
Então a lei finge, finge que foi interpelado para que se
possa aplicar o regime de amora: “o devedor que de má-fé
diz não ter sido notificado, finge que foi” -
Artigo 805.º n.º 2, alínea c) – finge-se que no dia que
recusou a carta que foi notificado
A lei nega a existência de um facto que ocorreu
fingindo que ele nunca ocorreu.
ex.: 2 pessoas casaram-se e tiveram uma grande festa
(prova que houve o casamento). Enquanto o casamento
não for registado, não se consideram casados - Artigo
1669º - Porque a lei nega e finge? Obriga a registar
A lei ignora a favor de determinadas pessoas a
ocorrência de certos factos que aconteceram.
ex.: A vende um carro a B que não regista
A vende novamente a C regista
A lei ignora a primeira venda
Presunção: São sempre factos que não sabemos se acontecem
ou não, nós só presumimos com base em algo
(ex.: presumir que vai chover porque está nublado) - Artigo 349.º
Porque o fazemos? Razões de experiência, através de um facto
A presunção legal que conhecemos e relacionamos com outro. Sendo assim, são
permite-me só ter de ilações/conclusões (a lei presume um facto se houver um facto
provar uma coisa e a provado). Em certos casos o legislador diz “se me provar este
lei presume outra, facto, eu vou presumir este, porque normalmente este está
passando o ônus de associado a esse”, porque a lei sabe que exigir a uma pessoa
prova para a outra. provar os 2 é muito difícil
Legal: Ilação que a lei tira de um facto conhecido para
afirmar um facto desconhecido – para serem legais têm
de vir da lei (Artigo 350.º)
Relativa (maior parte das presunções legais)
Estas estão presentes quando a lei presume um facto,
com a vantagem de a pessoa que for prejudicada pela
presunção possa provar a sua inocência, ou seja, possa
afastar essa presunção provando que aquilo que é
normal acontecer não aconteceu. Basicamente, a lei
permite que a pessoa prejudicada diga (ex.: o Francisco
Quando se diz
ficou de me entregar 1000€. Acontece que não se
“presume-se” é relativo
encontrou comigo para me entregar o dinheiro.
Normalmente, quando se falta a este tipo de
compromissos é porque o devedor não pretende pagar ao
credor. Posto isto, a lei presume que se o devedor não
cumpriu ele é culpado. Mas e se, ele ao ir para o ponto de
encontro, foi atropelado e entra em coma? Ele tem culpa
de não ter cumprido? Não! Assim que o Francisco acordar
do coma e tiver em condições combinará outra data.
Então, a lei vai presumir que o Francisco teve culpa, mas
ele pode provar que o que é normal acontecer, não foi
possível no seu caso. Contudo, se a lei não presumisse a
Qual o efeito de ônus de culpa do Francisco, quem é que tinha de a provar? Eu. E
prova? A inversão das como o conseguiria fazer? O juiz dá-me o ônus de prova,
regras do ônus de prova ou seja, o juiz diz-me “prova que ele te deve e a lei ajuda-te
Artigos 341.º e 342.º a presumir a culpa dele”. No entanto, já não é necessário
Exceção à regra: Art.344.º pois, como prejudica o Francisco, quem tem de procurar
afastar a culpa é ele.
Se não houvesse presunção legal eu tinha 2 coisas para
provar – que ele me deve e que não me pagou com culpa.
Existindo, tenho só de provar que me deve e o ônus de
culpa inverte-se para o Francisco. Ou seja, eu provo uma
coisa e o Francisco prova outra.)
Quem alega um facto tem de o provar (ex.: se todos os
alunos devessem 5000€ à professora e só o Afonso é que
pagou, se a professora alegar que não pagou, quem tem de
provar algo é o Afonso.)
A prova faz-se pela positiva, daí não ser a prof. a ter de provar
Absoluta (excecionalmente)
A lei presume o facto, mas não permite que ninguém
tente contradizer.
Quando se diz Então, quando a lei presume de forma absoluta
“presume-se sempre” ninguém se pode afastar, presume e não admite prova
é absoluto em contrário (ex.: houve uma simulação de negócio e
Alberto foi ao registo e registou essa simulação. Chega
Bruno e adquire o imóvel mesmo sabendo da simulação,
mesmo sabendo que pode ficar sem ele, ou seja, age de
má-fé - Artigo 243.º, nº3)
Híbrida (só existem em contexto de filiação)
Estas admitem ser afastadas, mas não precisam de
mostrar prova em contrário.
Para afastar a culpa basta alegar improbabilidade
(o que foi presumido é improvável) ou
sérias dúvidas (do que foi presumido)
- Estabelecimento da paternidade na constância do
matrimónio: Artigo 1826.º e 1839.º, nº2
- Estabelecimento da paternidade fora da constância
do matrimónio: Artigo 1871.º (quando filhos nascem de
pais não casados).
No caso de um senhor viver com alguém e nascer um filho
nada parecido pode afirmar sérias dúvidas
A mãe de uma criança é sempre certa, mas o pai não
(ex. geral: o António casou com Laura e, para ter uma vida
melhor, emigra durante 2 anos de maneira a conseguir
obter mais dinheiro. Fica 2 anos sem voltar a Portugal e
quando regressa, Laura diz-lhe que tem um filho dele com
1 ano.
Quem é o pai da criança? Artigo 1826.º “tem como pai o
marido da mãe”, o António – termos legais.
No entanto, a lei faz presunções com a normalidade,
António sabe que é impossível ser o pai e nem precisa de
fazer testes porque esteve fora, então não tem de provar
sequer, apenas tem de apresentar factos, manifestando
improbabilidade. Ao artigo 1826.º contrapomos com Artigo
1839.º, nº2.)
Tipo de prova:
- Relatório do perito;
- Prova por Inspeção ao Local (Intenção de levar o Juiz ao local);
- Prova testemunhal; [Crime de falsas declarações (perjúrio)]; - Abertura
de processo-crime paralelo para julgar o crime.
Tutela e heterotutela
Para que servem os direitos subjetivos se não houver mecanismos que obriguem as pessoas
a protegê-los? Não serviria de nada, porém um Estado quando dá direitos cria
paralelamente mecanismos que façam com que os outros cumpram os deveres.
Num Estado de Direito como o nosso, não é possível nós próprios salvaguardarmos os
nossos direitos (se alguém me agredir não posso fazer justiça pelas minhas próprias mãos).
A lei vedou isto, então é preciso que alguém os proteja:
Tutela preventiva
Possível tomar medidas antes da violação
ex.: uma pessoa deve-me 50000€ e sabe que vou exigir o pagamento, mas eu
sei que se for intentar uma ação provavelmente, enquanto demora o
processo judicial, a pessoa vai dissipar todo o seu património (desviar todos os
bens de maneira a que eu não consiga obrigar a pessoa a pagar, porque teria
de os penhorar, mas quando isso acontecer a pessoa já não tem nada)
Se eu começar a perceber que não me paga ou não tem intenções de tal
porque ate já começou a vender os seus bens e há um receio de dissipar todo
o seu património, posso lançar uma providência calcular (peço ao juiz para
arrestar todos os bens da pessoa, ou seja, “carimbar” os bens em que as
pessoas podem vender os bens mas vão carimbados por mim, então não vale
de nada a pessoa vender porque quem compra já sabe que corre o risco de
perder)
ex.: Gonçalo e Beatriz são namorados e trocam fotografias íntimas
A Beatriz termina com o Gonçalo, e este vinga-se pegando nessas fotos e
metendo nas redes sociais
Isto prejudica o direito à imagem e privacidade da Beatriz
Ela precisa de esperar que ele o faça para ela reagir? Não
Se ela quiser lança uma providência calcular para que o juiz o proíba de o
fazer - Artigo 72.º, n.º 2
ex.: quando se dita a alguém uma OTC (previsão em casa), evitando a sua fuga
- daí prisão preventiva, evitar que fujam
o Sanções penais
Derivam da prática de um crime e tem de estar especificada na lei
que é crime: “não pode haver crime sem que haja uma lei a dizer que
é crime”
Prisão
Reservada para crimes para certa gravidade, muito dificilmente é
aplicada, sendo que se a pena for de 5 anos nem chega a entrar
no estabelecimento prisional
Multa
“Arguido condenado a uma pena de multa” é verdadeiramente
penal, coima não é multa, é uma contraordenação que não dá
pagamento de multa, mas sim de coima – não foi multada, foi coimada
(“apanhei uma multa no transito” é errado, aplica-se uma coima)
ex.: condenado a uma pena de multa de 120 dias à razão diária de 50€,
ou seja, 120x50 – multa essa paga ao estado e não ao lesado
Se for uma lesão à integridade física o juiz fixa uma pena de multa
(consequência da responsabilidade penal, paga-se ao Estado). No
entanto, se o lesado pedir uma indeminização face à
responsabilidade civil, e o arguido não tiver bens para pagar, o
ofendido fica sem dinheiro. Contudo, se o arguido não pagar a multa
converte-se em pena de prisão
Admoestação: Sermão do juiz
Trabalho a favor da comunidade
Não é propriamente uma pena. Esta surge na consequência de
em vez de pagar uma pena de multa tem de trabalhar em favor
da comunidade
Medidas de segurança
Podem ser penais (já visto em cima) e podem ser preventivas,
como o caso de um assassino ter um tratamento da sua
condicionante e não volta a sair de lá enquanto não estiver
tratado
Há que distinguir se quem contribuiu para o estado de necessidade foi o agente,
caso em que só ele deve indemnizar; ou se o agente em nada contribuiu para o
estado de necessidade, sendo que neste caso a indemnização será fixada de
forma equitativa entre três pessoas, o agente, aquele que beneficiou do estado
de necessidade e aquele que para ele contribuiu.
Negócios jurídicos
Praticar negócios jurídicos é um ato voluntário lícito.
O único facto jurídico que depende da vontade são os negócios jurídicos: eu vejo na lei
os efeitos do contrato de compra e venda, se quiser estes efeitos eu realizo o contrato,
se não quiser não faço o contrato.
Na celebração de negócios jurídicos, se eu quero aqueles efeitos do negócio eu tenho
de o praticar de acordo com a lei, assim o negócio fica perfeitamente válido e eu tenho
os efeitos que queria, caso contrário a lei invalida-o (sanciona-me, negando os efeitos)
Quando faço um negócio tenho de respeitar as condições que a lei impõe (se a lei as
estabelece, só gera efeitos se forem respeitadas). As condições são:
Substancial/material
Para celebrar certo tipos de negócios, a lei impõe uma forma.
ex.: Artigo 877.º – a lei está a exigir uma condição substancial, é requisito o
pressuposto que os netos e filhos consistam
ex.: Artigo 125.º – um menor não pode praticar negócios sozinho, pois não tem
capacidade negocial de exercício, mas pode fazê-lo se tiver representação dos pais
Se faltar forma, efeito jurídico:
Anulabilidade, os efeitos produzem-se apenas provisoriamente, perdem-se
retroativamente.
De acordo com o artigo 287.º, n.º 1, 1.º parte, têm legitimidade para arguir a
anulabilidade as pessoas em cujo interesse a lei a estabeleceu (que pode ser, por
exemplo, a vítima de um dolo ou de uma coação moral). O direito de pedir a
anulação é um direito potestativo extintivo.
Há tipos de negócios que para o Direito nem sequer existem, então não há produção
de efeitos nenhuns.
Exemplo de negócio jurídico inexistente (Art. 1630.º)
Celebração de casamento do mesmo sexo era inexistente para o direito, não
havia efeitos nenhuns (já foi revogado, agora já produz efeitos)
Coação física, ou seja, obriga/força a pessoa a assinar.
O negócio assim celebrado é inexistente, não produz qualquer tipo de efeito
– Artigo 246.º
Coação moral: o negócio é anulável – Artigo 256.º
Nulidade Anulabilidade
Artigo 286.º e 289.º Artigo 287.º, 288.º e 289.º
Pode ser declarada oficiosamente Não pode ser declarada oficiosamente
(o juiz é obrigado a declarar)
Só pode ser invocada enquanto o negócio não
Pode ser invocado a todo o tempo, qualquer estiver cumprido, ou estando cumprido
altura dentro de 1 ano após a sessação do vício
(há prazo – Artigo 287.º, n. º1 e 2)
Porque a lei determina que o negócio feito sob coação moral/chantagem é anulável?
Vai ser anulável porque viola o interesse do particular, ou seja, protege o coagido/particular
Fontes do Direito Português
Quando falamos em fontes de direitos, falamos de onde nasce o direito (origem)
Devemos fazer uma divisória entre: (Ver “O problema das fontes do direito
em geral” Ponto 12 sumário
Fontes imediatas
Apesar do Artigo 1.º referir ainda que também são fontes de direito
imediatas as normas corporativas, nós já tínhamos visto que este artigo
não foi objeto de nenhuma revisão desde a sua elaboração (1966 –
período anterior ao 25 de abril e nessa altura ainda vigorava um regime
estadual que não é o atual).
Nessa época existiam corporações (conjuntos de pessoas que se reuniam
de acordo com determinado setor para autorregular esse setor, como, por
exemplo, a pesca). Ou seja, as normas ditadas pelas corporações eram
normas que traziam direito objetivo.
Só que atualmente, com a revolução de 1974, as corporações deixaram de
existir e, “normas corporativas” já não existem no sentido originário no
Artigo 1.º, há apenas uma parte da doutrina que tenta atualizar esta
norma e diz que as corporações antigas são as atuais ordens nacionais.
o Lei
Sendo assim, só temos uma fonte de direito imediata que é a lei.
Fontes mediatas
Existem, mas por si só não têm força vinculativa, não podem ditar direito.
Só são relevantes se for possível serem utilizadas com base na lei. É a lei
que tem de lhes dar essa força para poderem ditar o direito objetivo.
o Usos
(diferente de costume, pois este tem “corpus”, prática repetida por toda
a sociedade, ex.: Natal e bacalhau)
Existem determinadas zonas do país onde é usual uma determinada
prática
ex.: é usual, antes de comprar um veículo, fazer um teste drive durante o
fim de semana – isto não é lei, não é fonte de direito.
Todavia, se a lei disser que se deve atender ao uso da terra, este
passa a ser fonte de direito, porque o uso sozinho não tinha força
vinculativa nenhuma, mas como a própria lei mandou atender aos
usos, o uso passou a ser fonte de direito – regra que as pessoas
devem reger-se, porque a lei permitiu isso (referido no Artigo 3.º)
o Equidade (“amaciador” da lei)
Só pode ser utilizada se a lei permitir - Artigo 4.º
Os usos e a equidade são fontes de direito desde que a lei lhes confira.
Fontes involuntárias
Não tem o propósito de criar direito, no entanto, acabam por influenciar a
sua criação.
1. Jurisprudência
É o conjunto de decisões tomadas por qualquer Tribunal português.
Acórdão - decisão emitida por três juízes
Sentenças - decisão emitida por um juiz
A jurisprudência acaba por ser uma decisão tomada pelo juiz num determinado
caso, aplicando uma determinada lei e, às vezes, nessa aplicação o juiz faz
determinadas interpretações.
Interpretações essas que podem não ser a nossa interpretação: “O advogado perde a
causa, porque não tem a mesma interpretação, pois se tivesse não a teria perdido.”.
Quando um juiz aplica a lei, ele acaba por interpretar essa mesma lei num
determinado sentido e, às vezes, as decisões dos tribunais podem levar,
involuntariamente, a que o legislador se aperceba de determinadas falhas no
entendimento da lei
Ocorrendo isto, o legislador apercebe-se que a jurisprudência está a chamar à
atenção para alguns aspetos menos positivos da lei, e então sente-se tentado a
fazer novas leis, a alterá-las de acordo com determinado sentido ou outro.
Portanto, quando um juiz dita uma decisão (jurisprudência) não quer criar direito,
mas pode, mais tarde, levar à criação de direito.
A jurisprudência não tem força vinculativa, isto é, aquilo que é decidido num caso, não
vincula os juízes para casos posteriores. Não há casos iguais, há sempre uma variante
ou outra que muda o cenário. No caso do direito português, não há precedência das
decisões, cada caso é um caso. Cada juiz irá analisar aquele caso, irá aplicar a lei
consoante a sua interpretação (há quem entenda que isto é um problema porque a
sorte pode mudar de acordo com o juiz, mas não pode acontecer porque se os casos
são idênticos a lei é a mesma, a solução deve ser a mesma)
A decisão de um tribunal final tem força vinculativa para que caso?
Num caso sub judice, ou seja, para o caso que está a ser julgado.
Só há um tipo de decisão jurisprudencial, isto é, só há um tipo de um tribunal
específico que essa decisão vincula toda a gente: decisão do Tribunal Constitucional
quando declara uma norma inconstitucional com força obrigatória e geral.
Esta decisão, deste tribunal em particular, quando declara certa norma
inconstitucional com força obrigatória e geral, essa norma tem força de lei, no
sentido que vincula toda a gente– Artigo 282.º, n.º 1 da CRP.
Contudo, é a única decisão que vincula toda a gente.
Se formos ao Código Civil, o Artigo 2.º foi revogado, não está mais em vigor, houve
uma lei que veio cessar a sua vigência.
Assentos - decisões imitidas pelo plenário do Supremo Tribunal de Justiça (todos
os juízes e conselheiros juntos, não era por secções).
Se a lei é a mesma, a sua interpretação devia ser igual para todos os juízes, só
que há juízes que interpretam de maneira diferente: existiam correntes
jurisprudenciais contraditórias, ou seja, para a mesma questão, tribunais decidiam
da maneira A e tribunais decidiam de maneira B.
Quando este conflito começava a ser demasiado evidente (a haver muitas decisões
num sentido e muitas decisões em outro sentido) o Supremo Tribunal de Justiça
constatava com uma divisão na jurisprudência, os juízes não se estavam a entender.
Os juízes quando vão decidir determinada matéria eles invocam a lei e dizem: “A lei
deve ser interpretada neste sentido porque até fulano diz...”.
E quem é esse fulano? O tal doutrinador, aquele estudioso do direito, aquele que
estudou, analisou, escreveu e debruçou sobre aquele assunto e, portanto, quando assim
é, quando o doutrinador é bom e capaz de influenciar, influencia não só uma decisão do
tribunal, como também a criação de direito.
A doutrina por si só, sozinha, não cria direito, mas sem dúvida nenhuma que
influencia a sua criação e as decisões.
LEI – Para serem conhecidas, devem ser publicadas. Para serem obrigatórias tem de
ser publicadas no Diário da República.
Artigos importantes:
Artigo 3.º da LF
(Este artigo diz-nos que o Diário da República tem uma 1.ª série e uma 2.ª
série. A 1.ª série normalmente é onde são publicadas as leis de maior
relevância, de maior aplicação geral: leis constitucionais, leis orgânicas,
basicamente leis de fácil consulta, que são aplicadas a uma generalidade da
população. Na 2.ª série, são publicadas questões mais administrativas,
como verificamos neste artigo – se quisermos saber os resultados para as
autarquias locais, é aqui que são publicados, na 2.ª série.)
Cessação da vigência da lei
Como é que a lei termina? Artigo 7.º
Lei Revoga
revogada
Lei Lei
Lei
revogatória revogatória
revogada
Revoga da L1 da L2
Explicação do esquema:
- Lei 1 revogada pela Lei 2. Sendo assim, a Lei 2 é uma lei revogatória.
- Posteriormente, a Lei 3 vem revogar a lei 2. Então, a Lei 3 passa a ser uma lei
revogatória (neste caso lei revogatória da Lei 2) e a Lei 2 passa a ser uma lei revogada.
Lei Revoga
Revogo a Lei 2 e
revogada determino a
repristinação da Lei 1
O problema é:
Quando eu estabeleço relações jurídicas com outras pessoas através da elaboração e
contratação de negócios jurídicos e a produção desses efeitos desses negócios
jurídicos/relação jurídica se prolonga no tempo.
Exemplos:
O casamento é suposto que não seja instantâneo, mas sim que as pessoas sejam casadas para a
vida toda.
Um contrato de arrendamento pode ser feito para 1 ano, 5 anos - não é instantâneo, é um
contrato para muito tempo. Os efeitos, os direitos e as obrigações derivadas de um contrato de
arrendamento não são produzidas de forma instantânea, nem mesmo num contrato de compra
e venda.
A compra e venda de um café foi a pronto pagamento
No entanto, existem compras e vendas em que o preço é pago às prestações
Um contrato de crédito, ou seja, eu vou a um banco e peço, por exemplo, a concessão de um
mútuo crédito bancário e o banco concede o crédito para adquirir uma habitação. Normalmente
é um crédito feito para 30 anos.
O que é que isto quer dizer? Nós temos de ter uma previsibilidade, nós queremos
expetativas legitimas em relação àquilo que vai acontecer com a nossa relação jurídica,
com o nosso negócio. Aliás, quando estabelecemos uma determinada relação jurídica,
nós fazemo-lo ao abrigo da lei que está em vigor e fazemo-lo na expetativa que aquilo
que a lei prevê se venha a verificar no futuro, de modo que qualquer alteração
legislativa não possa significar uma frustração das nossas expectativas.
Se eu faço um contrato ao abrigo de uma lei que está em vigor atualmente e se com
base nessa lei eu tenho a expectativa de no futuro adquirir certo direito, é de esperar
que, enquanto a minha relação jurídica está a produzir efeitos, não esteja sujeita a ficar
frustrada por uma alteração da lei é (ex.: diz que já não vou adquirir esse direito)
Quando uma lei é alterada e apanha relações jurídicas que já estejam em curso (que
já tinham sido realizadas antes e estão a produzir efeitos), esta nova lei aplica-se a essas
relações jurídicas ou só vai aplicar-se às novas relações jurídicas que venham a
constituir-se após a entrada em vigor da lei nova?
Aquilo que melhor responde às expectativas das pessoas é esta segunda opção – esta
nova lei só venha aplicar-se a relações jurídicas novas, ou seja, novos negócios
jurídicos/relações jurídicas que venham a constituir-se após a entrada em vigor da lei
nova, daí em diante.
Portanto, se a lei nova só se aplicar às relações jurídicas e aos seus efeitos
constituídos daí em diante, ou seja, após a sua entrada em vigor e excluindo as
relações jurídicas anteriores, nós dizemos que esta lei é não retroativa.
Caso prático:
Lei nova permite
divórcio
Ana e Bruno
casaram – 1960
(Divórcio não era permitido) Daqui para a frente, a Ana pode pedir o divórcio
efeitos
Só a morte os
podia separar Ana questiona-se: “Posso-me divorciar?”. O
Bruno responde-lhe: “Não, porque a regra diz que
a lei só dispõe para o futuro, ou seja, o divorcio só
é permitido para casamentos que venham a ser
constituídos depois da entrada da lei que
permitiu o divórcio. Quando casaste comigo
sabias que só a morte é que nos podia separar,
por isso não podes frustrar aqui a minha
expectativa de eu ficar contigo para sempre”.
Chega à conclusão de que, por via de regra, ela não poderia porque o princípio da não
retroatividade diz que a lei nova só se aplica a relações novas, ou seja, a casamentos
após a entrada em vigor da lei. Contudo, toda a regra tem exceções e essa exceção é
haver retroatividade, isto é, esta lei nova vai poder ser aplicada a factos passados, vai
poder ser aplicada a relações jurídicas constituídas antes da lei nova, mas que ainda
estejam a produzir efeitos.
Para entender melhor:
(aplica-se à RJ A)
Entre a relação jurídica e a entrada em vigor da lei nova nós encontramos os efeitos
passados do facto passado.
A partir da entrada em vigor da lei nova, encontramos os efeitos futuros do facto
passado – futuros porque se vão produzir após a entrada em vigor da lei nova, mas
que ainda derivam do facto passado (daí a linha tracejada estar toda em amarelo,
porque referem-se à relação jurídica A).
Já o tracejado a lilás, refere-se aos efeitos jurídicos da relação jurídica B que se
produzem após a entrada em vigor da lei nova, daí serem efeitos futuros do facto
futuro.
Factos/relações jurídicas criados antes da entrada em vigor da lei nova são factos
passados porque são anteriores.
Se a lei nova se aplicar a estas relações anteriores, ou seja, se aplicar a factos
passados, a lei nova é retroativa.
Quando é que a lei nova não é retroativa? Quando a lei nova só se aplica aos factos
futuros, ou seja, a relações jurídicas constituídas daí para a frente.
Retroatividade da lei (a exceção)
LN
FACTO
PASSADO
RJ 1 RJ 2 RJ 3
Efeitos futuros do facto passado
Efeitos passados/produzidos
Efeitos futuros do facto futuro
Retroatividade da lei – a lei nova não vai aplicar-se apenas a relações novas, mas
também a relações constituídas antes da entrada em vigor, mas somente
após efeitos jurídicos que ainda estejam a verificar-se após a sua entrada em vigor.
Com que intensidade é que a lei nova vai ser retroativa em Portugal?
A regra é que a lei nova não seja retroativa, como vimos no Artigo 12.º, n.º 1, 1.ª parte,
isto é, a lei só dispõe para o futuro.
Graus de retroatividade
Grau máximo – não há em Portugal, exceto num caso
Grau médio
Grau mínimo – aplica-se em Portugal
Se houver retroatividade será retroatividade em grau mínimo.
GRAU DE
RETROATIVIDADE
Tudo isto para dizer que não há retroatividade em Direito Penal quando este é um
direito incriminatório, isto é, quando o Direito Penal vem trazer a consagração de
novos crimes ou o agravamento de penas – menos favorável.
ex.: Hoje sai uma lei que diz que é proibido sair de casa com roupa azul.
Quem saiu ontem e nos dias anteriores, não cometeu crime absolutamente nenhum, mas se
a partir de hoje vestir, já é crime.
Se o Direito Penal for incriminador, trouxer uma pena maior: nunca é retroativo
Se o Direito Penal vier aliviar as penas, ou seja, vier trazer o regime jurídico mais
favorável ao arguido, então ela é retroativa - Artigo 29.º, n.º 4 da CRP, esta
retroatividade designa-se por Retroatividade in Mitius
O Artigo 29.º, n.º 1 da CRP diz-nos que se não houver uma pena/medida/lei que diga
antes de eu cometer o crime que é crime, eu não posso ser penalizada por isso, mas se
vier uma lei descriminalizar, eu já posso aplicar.
Direito Fiscal
Artigo 103.º, n.º 3 da CRP - Artigo 12.º, n.º 1 da Lei Geral Tributária
Este artigo diz-nos que ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que
não tenham sido criados nos termos da Constituição, que tenham
natureza retroativa ou cujo a liquidação em cobrança não se faça nos
termos da lei.
Ou seja,
Não posso pagar um imposto criado agora relativamente aos meus
rendimentos aferidos em 2017, porque eu em 2017 paguei os impostos
que eram devidos e que estavam tipificados na lei.
Se agora decidirem criar um novo imposto, com certeza que eu terei de
pagar esse novo imposto, mas em relação aos meus rendimentos daí para
a frente. Eu não posso agora permitir que este novo imposto criado venha
tributar factos ocorridos no passado quando não existia imposto.
ex.: A professora foi apanhada por um imposto que considera retroativo, pois em
2011 o Dr. Paços Coelho era Primeiro-Ministro e criou um imposto chamado
imposto extraordinário. Basicamente, esta lei obrigava a pagar uma taxa
extraordinária de IRS, ou seja, para além do IRS normal, determinadas categorias
de rendimentos tinham de pagar uma taxa extra. Acontece que esta lei saiu em
meados de setembro, mas queria abranger rendimentos desde janeiro. Na altura
houve muita revolta porque as pessoas diziam que esta lei não podia ser aplicada
a janeiro, já que os impostos não podem ser retroativos.
Esta lei nova não se pode aplicar à Mariana, visto que lhe reduziria o período a
que ela tinha direito ao subsídio de desemprego.
Esta lei pode aplicar-se às pessoas que entrem no subsídio de desemprego após
a entrada em vigor da lei.
Direito Processual
Não é direito substantivo, é direito adjetivo ou instrumental, ou seja, é o
direito que não cria, não dá direitos, mas sim diz-nos o procedimento, as
regras a seguir
ex.: Como é que devo exigir o pagamento de uma quantia?
Como é que devo intentar uma ação?
Basicamente, não é um direito que me dê direitos substantivos, não me
dá direitos subjetivos, mas é um direito instrumental que me ajuda a que
exigir os meus direitos.
A nível de Direito Processual a regra é de que as leis processuais são de
entrada em vigor imediata, isto é, quando a lei processual muda a
entrada dessa nova lei é imediata.
LN
RJ 1 RJ 2 RJ 3
No entanto,
Relação jurídica 2 – há um conflito, pois nasce enquanto a lei antiga está em
vigor, entretanto a lei nova cessa a vigência da lei antiga e começa a vigorar, e a
relação jurídica 2 continua a produzir efeitos, ou seja, temos uma relação jurídica
duradoura que está em contacto com 2 leis - a lei nova aplica-se às relações
anteriores – retroativa
Há um problema.
Disposições transitórias
Caráter formal: lei nova diz qual a lei que se aplica às relações jurídicas
já constituídas (lei antiga ou lei nova)
ex.: O meu avô fez um testamento em 1960 em que dizia a quem destinava os
seus bens e nomeou um testamenteiro (este fica responsável por ver se o
testamento é cumprido) - o Marco como testamenteiro tem obrigações
O meu avô faleceu em 1970 e qual o Código em vigor? Varela.
No entanto, fiz o testamento à luz do de Seabra.
Quais as obrigações que o Marco tem de observar enquanto testamenteiro?
Tem de verificar se há leis transitórias, então vai à lei que aprova o Código –
Artigo 23.º com título “Testamentaria”
Sendo assim, tem de obedecer às obrigações do Código de Seabra (lei antiga)
Caráter material: a lei nova não se limita a dizer qual a lei que se aplica,
ela traz um regime misto/híbrido, ou seja, a lei nova traz um regime que
não é exatamente igual ao regime antigo nem ao novo, mistura os dois
para suavizar a transição – suaviza a transição
ex.: o que se entendia pelo filho bastardo? Resultado de um adultério.
Muitos dos pais que tinham filhos ilegítimos, não deixavam que o nome deles
aparecesse no registo civil como sendo pai da criança (aparecia no cartão de
cidadão “filho de pai incógnito”) – isto era permitido ao abrigo da lei antiga
Hoje, não é possível ser filho de pai incógnito.
O meu avô usou a lei antiga, o que acontece hoje?
Mantém-se tudo secreto, mas se o bastardo quiser que o nome do pai apareça
pede uma certidão de registo de nascimento (o nome do pai é revelado)
Ou seja, não é um regime totalmente igual ao antigo nem totalmente igual ao
regime novo, é um misto – Artigo 20.º (se não for passada uma certidão
continua secreto)
Sustentar com:
1ª parte 2ª parte
(até ao ponto e vírgula) (desde ponto e vírgula ao fim)
LN fala sobre momento da Lei nova versa sobre o conteúdo
constituição da relação jurídica (direitos e deveres) das relações
jurídicas concluídas e em curso
Lei nova versa sobre
Como sabemos
quando a lei se
abstrai ou não?
O problema:
Estatuto do contrato: saber se a lei nova altera o conteúdo da relação jurídica
abstraindo ou não do contrato que originou a relação jurídica.
A lei precisa de respeitar o que as partes decidiram no contrato, então o regime
jurídico de uma relação jurídica que foi definido pela vontade das partes, não
pode ser alterado pela lei
(não seria seguro fazer um contrato e saber que uma lei nova poderia vir alterar)
A lei, por via de regra, respeita sempre a vontade das partes – abstrai-se
(quem estabelece contratos rege-se pela lei em vigor no momento)
ART. 878.º - norma dispositiva supletiva
ex.: eu e a mariana vamos fazer um contrato a prestações
Concordamos com a norma: contrato de compra e venda e quem paga sou eu
(compradora) “quem paga as despesas é o comprador”
Sai uma lei nova em que diz que quem a carrega despesas é o vendedor
Aplica-se a nós? Não, porque é norma dispositiva supletiva
Quando a lei diz “na falta de convenção em contrário” refere-se ao facto que esteve na
origem da relação jurídica
Se não se abstrai, não se aplica a nós. Porquê?
Se a lei fosse retroativa mudaria as nossas vontades, mas a lei não muda a vontade
do contrato
Diferente:
Quando a lei quer igualar os direitos das pessoas que estão num contrato (novos
ou antigos)
ex.: no caso de morte de pai ou mãe
Lei antiga: o trabalhador pode ficar 5 dias em casa
Lei nova: o trabalhador tem direito a 20 dias em casa
Esta lei aplica-se apenas a quem começou a trabalhar agora ou a todos?
Iguala todos os trabalhadores
Se a lei se abstrai é retroativa, então quando não se abstrai a lei nova não é
retroativa – interpretação enunciativa “a contrário sensu”, ou seja, lemos o
contrário do que estava escrito (ex.: norma excecional como contrário da regra)
DIFERENTE
Factos pressupostos/passados
Factos do passado que temos de respeitar, pois é um pressuposto para
eu ingressar em algo
Este facto tem efeito retroativo, ou seja, produz efeitos para trás, apagando tudo
o que foi feito
Isto significa que os factos têm efeitos retroativos (não tem nada a ver com leis
nem com conflito), mas sim de factos que dá para desfazer o que está para trás
Artigo 13.º
Norma dispositiva interpretativa
Visa interpretar expressões ambíguas usadas pelas partes nos contratos
As partes quando elaboraram um contrato usaram determinadas expressões duvidosas.
Se as partes não definem o seu conteúdo, a norma dispositiva interpretativa
interpreta o sentido (“se as partes não explicam, a norma jurídica explica”)
Não é o mesmo que lei interpretativa - a lei visa interpretar expressões ambíguas
usadas na lei pelo legislador. As leis quando tem expressões duvidosas podem ser
interpretadas de maneira diferente (perigoso), então o legislador faz uma lei
interpretativa que só tem uma finalidade – esclarecer qual o sentido com que
deve valer uma lei anterior que está a gerar dúvidas
01/01/2017 01/01/2022
Sentença z
Lei X
Escrita de uma forma Processo
que, ao ser aplicada, fez aberto Lei interpretativa
com que houvesse (interpretação autêntica feita pelo
várias decisões sobre o legislador e é vinculativa para todos)
mesmo assunto.
O legislador considera que a lei X deve ser interpretada, pois gera muitas
dúvidas, então decide em 1/01/2022 fazer uma lei interpretativa
A partir desse dia não há mais dúvidas. Mas e as decisões que foram tomadas antes?
Quando uma lei é nova e é retroativa tem grau mínimo, o que está para trás
não se altera
No entanto, uma lei interpretativa não é uma lei nova, então o regime de
retroatividade da lei interpretativa não se fixa pelo Artigo 12.º, mas sim pelo
Artigo 13.º
Não tem grau máximo, nem médio, nem mínimo, é um grau intermédio entre
o mínimo e o médio – Artigo 13.º, n.º 1
Neste n.º 1 é consagrado que a lei interpretativa integra-se na lei interpretada,
ficando salvo os efeitos já produzidos pelo cumprimento da obrigação, por
sentença passada em julgado, por transação
Lei interpretativa integra-se na lei interpretada e altera tudo o que for produzir, exceto o que está no n.º 1
Tenho 30 dias para contestar:
30 dias p/ contestação
10/03/2020
Citada
17/03/2020 LN 6/4/2020 LA 9/4/2020
Hipótese A – Entra em vigor uma lei nova que diz que o prazo para contestar é de 20 dias
Hipótese B – Entra em vigor uma lei nova que diz que o prazo para contestar é de 45 dias
Conforme a lei nova venha aumentar ou encurtar o prazo, o regime jurídico a aplicar é
distinto, pois a contagem do novo prazo começa a contar a partir de um tempo
diferente.
(Devemos contar o prazo antigo até ao fim e ver quando acaba e depois pegar no
prazo novo e contar a partir da entrada em vigor da lei nova e ver quando
O dever de obediência à lei acaba – comparar no fim)
Artigo 6.º
Dirige-se a todas as pessoas em geral
Recorda-nos que o facto de não conhecermos a lei não nos torna isentos das
consequências previstas nela.
Se quem violasse a lei usasse este argumento e estivesse desculpado, acabaria a
segurança jurídica.
Ainda,
Nós até podemos conhecer a lei, mas se fizermos uma interpretação errada
da lei, podemos cumprir uma lei de maneira errada. Então, este artigo não
desculpabiliza estas más interpretações.
Artigo 8.º
Tem como destinatário o juiz, e impõe-lhe duas obrigações
O juiz é independente no exercício da sua função, mas deve ser obediente à
lei. Na realidade, é independente relativamente a outros órgãos, mas é
dependente da lei objetiva. O juiz não pode julgar o caso com base na sua
opinião, tem de julgar de acordo com o que a lei lhe diz para fazer.
O juiz não pode recusar julgar, tem essa obrigação.
Como é que o juiz está vinculado à lei e depois tem que julgar um caso que pode
não ter lei? A própria lei reconhece que tem limitações e o legislador sabe que há
situações da vida real que não previu.
Sendo assim, o legislador ao saber que pode ser lacunoso, diz que o juiz tem de
julgar na mesma com base na lei e dá-lhe ferramentas para ultrapassar a falha.
É, então, consagrado o princípio da decisão de non liquet que proíbe o juiz de
dizer que não julga, tem sempre de julgar
No seu nº2 é dito que ninguém pode invocar a moral para não cumprir uma
lei, mesmo que entenda que a lei não é justa, tenho de a cumprir.
E no seu nº3 é dito que o juiz no julgamento das causas que lhe são submetidas
tem de ter consideração todos os casos que mereçam um tratamento análogo,
pois não podemos ter situações idênticas com decisões contraditórias (ter em
conta os acórdãos uniformizadores).
Desta forma, para afastar a obscuridade da lei, o juiz deverá esclarecer o sentido dela
através dos instrumentos da interpretação previstos no Artigo 9.º, e para ultrapassar a
falta de lei (uma lacuna) deverá aplicar as regras da integração que a própria lei lhe
fornece para o efeito que estão previstas no Artigo 10.º.
Interpretação da lei
Importante distinguir desde o ínicio:
Uma coisa é interpretação da lei, outra coisa é interpretação das declarações de
vontade das partes nos negócios jurídicos.
A lei que está escrita pode gerar dúvidas e temos regras para interpretar aquilo
que o legislador quis dizer – interpretação da lei
Nas declarações de vontade, num contrato, posso emitir uma declaração que
acho que é interpretada num sentido e a outra parte interpreta noutro,
gerando dúvidas também e sendo necessário perceber o que as partes
quiseram dizer – interpretação de declarações negociais, captar a vontade do
declarante (norma dispositiva interpretativa)
As regras que sigo para interpretar as partes não são as mesmas para interpretar a lei.
Só iremos aprender as regras para interpretar a lei – Artigo 9.º
Para a interpretar:
1º devemos apurar os factos relevantes do caso, saber com precisão o que se passou.
Então o problema da interpretação surge precisamente na situação em que temos
um caso concreto a resolver e, recorrendo ao silogismo judiciário e analisando a
hipótese legal a que queremos subsumir os factos do caso, a hipótese legal da norma
jurídica em questão não nos aparece como clara, mas equívoca.
A solução do problema há-de ser encontrada com o recurso às regras de
interpretação e integração das leis (artigo 8.º)
1. Modalidades da interpretação
Tendo assim ficado assente que a interpretação é uma inevitabilidade, ela
apresenta-se sob várias modalidades.
Interpretação autêntica
É vinculativa e é feita pelo legislador através de uma lei interpretativa, ou seja,
o legislador faz uma lei e a lei gera dúvidas, então faz uma lei interpretativa que
interpreta outra, fixando o sentido e alcance com que essa lei deve valer.
A partir do momento em que o legislador faz uma lei interpretativa não pode
mais ninguém interpretar de uma maneira diferente.
(Artigo 13º)
Interpretação jurisprudencial
Deixa de existir depois da revogação do artigo 2º, os acórdãos uniformizadores
não têm esta função embora contribuam para a formação do direito
jurisprudencial.
É feita pelos tribunais ao julgar os casos, mas não tem força vinculativa.
O juiz para decidir deve obediência à lei, ao aplicar a lei interpreta-a num sentido
e aplica-a nesse sentido, fazendo uma interpretação.
No entanto, é vinculativa no caso sub judice, caso objeto de julgamento (não
vincula os juízes posteriores, só é vinculativa naquele caso)
Exceção: decisão do tribunal constitucional que declara uma norma/lei
inconstitucional com força obrigatória e geral (art. 282.º CRP) é vinculativa
Interpretação doutrinal
É feita por juristas e estudiosos do direito.
Não é vinculativa, o juiz pode ser sensível à interpretação de um doutrinador,
mas não passa disso.
Interpretação administrativa
É feita por órgãos públicos no sentido de explicitar o sentido com que esse
órgão deve interpretar e aplicar certas normas, mas não é vinculativa.
Por exemplo, a Autoridade Tributária emite internamente a interpretação a
adotar quanto a determinadas normas, vinculando os seus funcionários, não
vincula externamente, só influencia.
Teoria subjetivista
Diz que na busca do resultado da interpretação aquilo que devemos procurar é o
propósito do legislador, o que ele pretendeu.
Devemos ler a lei e tentar perceber o que ele queria dizer
Teoria objetivista
Defende que se deve procurar a vontade autónoma da lei, porque a lei quando
é feita desliga de quem a fez – o legislador de hoje não é o de amanhã, mas a lei
sim, então a lei tem de ter vontade própria, tem de ser feita para vigorar
independentemente de quem a fez
A lei sobrevive a quem a fez e ao contexto em que foi feita.
*Positivistas só olham para o que está escrito*
Teoria mista
Concilia as duas teorias anteriores.
É evidente que quando vamos interpretar uma lei temos de tentar perceber qual
foi o propósito da pessoa quando a fez. Se eu souber a intenção do legislador eu
vou conseguir interpretá-la muito melhor.
No entanto, não posso somente considerar o que o legislador queria.
Artigo 9.º
Este artigo mostra-nos que não basta a vontade da lei, é preciso valorizar o
pensamento do legislador e que tenha o mínimo de correspondência.
(se virmos que o legislador pensa no caso A e escreve B não há correspondência)
Ex.: olhamos para a letra da lei e vemos que o legislador quer que a lei se aplique
ao caso A, B e C. Mas quando analisamos o seu pensamento reparamos que só
queria A e B, então a lei não pode ser aplicada ao caso C, pois não foi pensado
pelo legislador.
3. Elementos da interpretação
1) Elemento gramatical
Letra da lei (Literal)
Quando interpretamos algo, lemos em primeiro lugar.
Para fazer juízos de interpretação é necessário ler.
Deve-se partir do princípio de que o legislador se exprimiu corretamente e que
o fez numa linguagem acessível aos destinatários
2) Elemento histórico
Procura entender a norma a partir do contexto em que foi feita até aos
precedentes legislativos.
Então, implica que leiamos o preâmbulo da lei (a lei tem um texto prévio que o
legislador diz quais foram as motivações dele para fazer a lei)
- ratio legis
- Antecedentes Normativos
- Trabalhos Preparativos
3) Elemento sistemático
O nosso ordenamento jurídico tem de ser coerente, o legislador não repete
matérias, faz remissões, é coerente e não se repete.
Quando eu estou a interpretar nunca o posso fazer de maneira unitária, tenho
de interpretá-la num contexto, pois não está isolada e deve ser harmonizada
dentro do sistema.
- Contexto da lei
- Lugares Paralelos
Interpretação enunciativa:
Quando se faz uma dedução a partir do que está escrito - ler o que está
implícito na norma, mas não está expresso
Como o fazermos? Temos de usar argumentos lógico:
a) a contrario sensu só pode ser usado em normas de cariz excecional,
se eu ler o contrário da regra excecional chego à regra
(ex.: não retroativa é regra, retroativa é exceção, conseguimos
entender o contrário)
b) a maiori ad minus se a lei permite o mais, também permite o menos
ex.: eu posso andar na auto-estrada com o limite de 90 km/h, é necessária
uma norma que diga que posso andar ao 90km? Não, se permite andar a
120km/h, permite que ande a 100km/h e 90km/h.
Se a lei permite algo mais grave, permite em princípio algo mais leve
c) a minori ad maius se a lei proíbe o menos também proíbe o mais
ex.: Casal casado com bem comum – casa.
O que é mais grave? Uma pessoa que venda a casa sem consentimento do
outro ou que apenas a hipoteca? Vender.
Suponhamos que há uma lei que diz que um dos conjugues não pode
hipotecar sem consentimento. E vender pode? É logico que se não se pode
hipotecar, não se pode fazer algo ainda mais grave.
Lacunas da lei
Ausências de lei.
Existe quando estamos perante a falta uma norma jurídica necessária para resolver
um caso concreto que exige uma solução jurídica.
Podem ser:
Voluntárias (o legislador sabe que a situação reclama uma solução e não dá
voluntariamente porque não se sente preparado)
Involuntárias (o legislador não previu a situação, não consegue prever tudo)
Iniciais (a situação no momento em que a lei vai ser feita já existia, mas o legislador
não previu)
Subsequentes (quando o legislador fez a lei para aquela situação ainda não se
colocava uma situação nova, mas a realidade evoluiu e surgiu uma questão que não
tinha pensado, então irá legislar sobre ela)
A integração das lacunas vem regulada no artigo 10.º, sintonizado com o artigo 8.º:
a existência de uma lacuna nunca pode ter como resultado que um caso concreto fique
por decidir por parte do julgador uma vez que o artigo 8.º não lhe permite invocar a
falta de lei.