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Introdução ao

estudo do Direito
Características da disciplina
Propedêutica: Possui caráter introdutório. Com conceitos fundamentais da Ciência Jurídica.

Enciclopédica: Oferece um conjunto de conhecimentos interdisciplinares aplicados ao direito.

Zetética: Propõe uma reflexão crítica sobre as instituições e normas jurídicas. Uma posição
zetética coloca o questionamento como princípio essencial.

Epistemológica: Ramo da filosofia atrelado à ciência. Nesse caso, é a análise da relação entre
direito e ciência.

Dogmática: Abordagem baseada em dogmas, por premissas inquestionáveis.

Teoria da Norma Jurídica


1. Sociedade: Conceito e tipologia
Conjunto de seres vivos que apresentam determinado padrão de comportamento.
Os Romanos percebem o direito na sociedade. Ubi societas ibi jus
‘’ Onde existe sociedade, existe o direito.’’

2. Determinismo biológico X Liberdade humana


As sociedades não humanas são regidas pelo determinismo biológico, pois as relações
sociais encontram-se previamente condicionadas no código genético dessas espécies. Já
nas sociedades humanas, o comportamento não é predeterminado, havendo assim, a
necessidade de controle social.
As sociedades humanas por sua vez são regidas pelo princípio da liberdade: a
capacidade racional da escolha autônoma de modelos de comportamento. Jean Sartre,
filósofo existencialista, afirma que o homem está condenado a ser livre, ou seja, somos
livres essencialmente, sendo escravos da nossa própria liberdade.

Ortega y Gasset, fundador da escola de Madrid, compreende que o ser humano é um


“centauro antológico’’. Fazendo referência ao ser da mitologia que é formado por parte
homem e parte cavalo. Essa mistura representa a dualidade em que o homem se
encontra, em conflito com os seus instintos animalescos e suas vontades humanas.

A sociedade humana pressupõe a harmonização das esferas de liberdade, caso não


existissem formas de controle social, estaríamos vivenciando a barbárie. A existência de
normas é fundamental para coexistir em sociedade.

Tomas Hobbes e o contratualismo social. Leviatã e o estado de natureza

3. Sistemas de controle social: conceitos e elementos constitutivos


Consiste no conjunto de instituições e de normas que regulam a vida humana em
sociedade, adequando as condutas humanas aos padrões normativos socialmente
aceitos, a fim de harmonizar as diversas esferas de liberdade individual.
Homo ferus, cada ser humano é um ser que carece de domesticação

Instituições: Espaços onde ocorrem a socialização dos indivíduos. (A família, escola, o


trabalho, instituições religiosas...)
A família é tida como a principal instituição social, é nela que os indivíduos formam sua
visão de mundo e onde aprendem as primeiras normas de convivência social, impactando
posteriormente o comportamento do ser em outras esferas de convivência.

Michael Foucault, autor francês, afirma em seu livro ‘’A microfísica do poder ‘’ que o
sistema de controle social opera a partir de uma rede conjugada de instituições que
veiculam as relações de poder, este poder se encontra disseminado nas relações sociais,
dividido entre macropoder (Estado) e micropoderes (instituições menores), ambos sendo
dependentes um do outro.

3.1 Normas jurídicas: Por outro lado as normas sociais são regras que estabelecem qual
deve ser o comportamento socialmente aceito, bem como qual deve ser a sanção a
ser a plicada aos infratores. Portanto, normas sociais são instâncias do dever ser.
(Mundo das ideias)

4.Tipos de normas sociais:


As normas técnicas são normas sociais que disciplinam a vida humana de modo
neutro, buscando a otimização dos resultados. A técnica procura realizar os fins em
detrimento dos meios. Para a técnica não interessa a discussão de valores, ou a
realização de uma ponderação de justo ou injusto, o que interessa são os resultados.
Ex. Normas da ABNT, Normas do manejo de armas de fogo, Normas de um curso de
direção.
Por sua vez, as normas éticas regulam o comportamento humano tendo em vista a
escolha de meios legítimos para a realização de determinados fins. A ética está,
portanto, comprometida com a realização da justiça com o respeito à dignidade
humana. Elas regulam o comportamento prescrevendo a busca de meios socialmente
legítimos - os fins não justificam os meios.
Ex. Normas éticas, etiqueta, direito.
A relação ente técnica e ética é dialética, havendo convergências e também
divergências.
Tipos de normas éticas:

São normas que disciplinam hábitos de


educação no trato com as pessoas e com
as coisas. Elas tratam de aspectos éticos
secundários ou acessórios de menor
relevância social.
Normas de etiqueta/ cortesia Normas de trato diário (bom dia, boa
tarde, até logo)
 Descortesia é o descumprimento da
norma de trato diário.
Comportamento que ofende uma
norma de etiqueta.
 A descortesia é punida através da
aplicação de uma sanção difusa:
uma sanção espontânea e plural
que brota da opinião pública.
As nomas morais disciplinam aspectos
mais relevantes a vida social quando
Moral comparada a etiqueta.
Ex. 10 mandamentos, dizer a verdade
 A sociedade não pode tolerar a
imoralidade comportamento que
transgride normas morais)
 A imoralidade é punida através da
aplicação de uma sanção difusa
mais intensa e severa.
As normas jurídicas constituem o chamado
Jurídicas mínimo ético da sociedade, fazendo parte
da última barreira do sistema de controle
social.
Ex. Normas do código penal >
Determinação de sentença
 O seu descumprimento acarreta no
comprometimento do mínimo
ético. A ilicitude fere os princípios
mínimos de convivência em
sociedade.
 A punição é definida por meio do
Estado, a partir do conjunto de
AULA 03 normas vigentes e previamente
estabelecidas.

Observações finais:
 As normas éticas são variáveis no tempo e no espaço, dependendo dos fatores
históricos e culturais de cada nação.
 Um mesmo comportamento pode ser qualificado de diferentes formas pelos tipos de
normas éticas, ora havendo convergências, hora havendo divergências. Logo,
temos comportamentos condicionados por diversas normas éticas.
 A maioria dos comportamentos humanos são lícitos e somente uma minoria está
situada no círculo da ilicitude. Tudo o que não está juridicamente proibido, está
juridicamente permitido.
 Embora as sanções jurídicas sejam aplicadas prioritariamente pelo estado, é possível
de forma episódica e na forma da lei a aplicação de sanções jurídicas pelos
particulares. [ex. Art. 25 do Código Penal Brasileiro: Entende-se em legítima defesa
quem, visando moderadamente dos meios necessários, repele injustamente
agressão, atual ou iminente, o direito seu ou de outrem.

Direito X Moral: Critérios distintivos


1. Bilateralidade X Unilateralidade
O direito pode ser considerado bilateral, pois as normas jurídicas disciplinam relações
intersubjetivas, atribuindo direitos subjetivos a sujeitos ativos e deveres jurídicos a
sujeitos passivos. Essa bilateralidade torna possível a exigibilidade do dever jurídico do
plano intersubjetivo. O dever jurídico pode ser exigido bilateralmente.
Ex.[Direito tributário, Contrato de locação
* A moral é unilateral pois as normas morais disciplinam a ação humano do sujeito
isoladamente considerado. (Cada um tem sua relação individual com a moral). Por isso
que, o dever moral não pode ser exigido institucionalmente.
2. Exterioridade X Interioridade
As normas jurídicas são exteriores pois elas disciplinam comportamentos que já estão de
algum modo materializados no mundo dos fatos. Interioridade consiste na ausência de
necessidade de materialização de um comportamento para que haja a incidência das
normas morais.
3. Autonomia X Heteronomia
O direito é heterônomo porque as normas jurídicas estabelecem preceitos obrigatórios
que não podem ser afastados pela vontade das partes. Por sua vez, as normas morais são
autônomas, pois elas são estabelecidas livremente pelos próprios sujeitos éticos (escolhas
individuais).
OBS: Em alguns países do Oriente Médio, as normas morais religiosas possuem
maior relevância comparadas ao direito.
4. Sanção organizada X Sanção difusa
As sanções jurídicas são organizadas por estarem pré-determinadas e por serem aplicadas
pelo estado. A sanção moral é difusa, sendo portanto aplicada pela opinião pública de
modo espontâneo e plural.{ex. cancelamento

5. Maior coercitividade X Menor coercitividade


Coerção é a ameaça no plano psicológico de aplicação de uma sanção ética, através do
medo de suportar um dado castigo. (Não existe sistema de controle social sem medo)
Nas sociedades ocidentais contemporâneas o direito se apresenta em regra como mais
coercitivo que a moral.
6. Maior coatividade X Menor coatividade
Coação é a manifestação concreta da força. Nas sociedades ocidentais contemporâneas o
direito é mais coativo que a moral.
AULA 04

Teoria dos Círculos éticos


Trata-se da parte da teoria geral do direito que se ocupa das relações estabelecidas entre o
direito e a moral.
 Círculos éticos concêntrica (visão jusnaturalista): Trata-se da concepção predominante na idade
antiga e na idade média que se fundamenta na ideia dos chamados direitos naturais. Segundo
ela, o direito seria o núcleo do mundo moral, havendo, portanto, uma necessária coincidência,
nesse sentido, ao observar o direito estaria o indivíduo necessariamente observando a moral,
assim como ao violar o direito, estaria o indivíduo ofendendo os preceitos de moralidade. Embora
tenha perdido força no ocidente, esta concepção ainda é hegemônica em muitas sociedades
orientais. – direitos inatos e universais que decorreriam de um código moral gravado na essência
humana (atuais direitos humanos – vida, liberdade, propriedade...)
Esta concepção é hoje criticada no mundo ocidental pois nem sempre existe uma coincidência do
direito com a moral, além do que, muitos autores criticam a suposta natureza absoluta e
universal dos direitos naturais(multiculturalismo).
 Círculos éticos separados (visão positivista): Surgida na idade moderna após as Revoluções liberais
burguesas dos séculos 17 e 18, segundo ela, moral e direito seriam esferas éticas totalmente
independentes. A moral regularia as relações privadas, enquanto o direito disciplinaria as
relações entre estado e indivíduos. Nesse sentido, os juristas não poderiam utilizar as suas
convicções morais para criar, interpretar e aplicar o direito. As convicções morais de cada
indivíduo não poderiam interferir na criação e aplicação das leis. Quando do direito se descola da
moral ele se transforma num instrumento de opressão. Tendo como exemplo, as ditaduras latino-
americanas e o nazismo na Alemanha, onde o conceito de moral era descolado do direito essa
‘’brecha’’ foi utilizada como justificativa para atitudes grotescas (que estavam previstas na lei,
mas fora do campo moral).

Embora o positivismo tenha o mérito de garantir o desenvolvimento do estado de direito e a


consolidação da democracia esta separação do direito em face da moral pode resultar em
profundas injustiças, oportunizando aplicações dogmáticas da lei. Tendo como exemplo, as
ditaduras latino-americanas e o nazismo na Alemanha, onde o conceito de moral era descolado
do direito essa ‘’brecha’’ foi utilizada como justificativa para atitudes grotescas (que estavam
previstas na lei, mas fora do campo moral).
 Círculos éticos secantes (Visão pós-positivista)
Parte da ideia de que o direito e a moral caminham juntos e se atrelados um ao outro, porem em
distintos locais na regulação do comportamento humano.
O direito foi reaproximado da moral, retomando-se o debate sobre a justiça. Tal concepção
consagra tanto a existência de zonas independentes como também uma zona crescente de
convergência do direito e da moral. Surge após a Segunda Guerra após a constatação dos limites
do positivismo.

 Teoria dos Direitos humanos.


 Debate sobre justiça.
 Valorização dos conceitos de equidade, equilíbrio e igualdade.

*Crítica a Teoria dos Direitos humanos:


Embora esta teoria tenha o mérito de oportunizar o debate sobre a justiça e contribuir,
através dos direitos humanos, para o fortalecimento do regime democrático, muitas
críticas podem ser feitas.
1. O discurso pode servir para propósitos ilegítimos.
2. A leitura moral do direito pode gerar aplicações arbitrárias no âmbito do sistema
de justiça.
3. A zona de intercessão ética pode gerar uma indefinição acerca dos limites e
função do direito e da moral.

AULA 05
Atributos das Normas Jurídicas
Pirâmide de Hans Kelsen:

(Atos administrativos)

(Contratos, Testamentos)

Para a verificação da validade, é necessário utilizar a pirâmide.

Validade: Compatibilidade vertical de uma norma jurídica inferior com uma norma jurídica
superior. Diz respeito a relação entre as normas.
Atos administrativos: Todas as normas produzidas pelo Estado. Manifestações de vontade
Existem dois tipos de validade:
 Validade Formal: Diz respeito a forma de criação das normas inferiores. A Norma superior
estabelece a competência e o procedimento de criação da norma inferior.
 Competência: Habilitação para criação de uma norma Constitucional. A lei distribui a
competência.
 Procedimento: Conjunto de ritos que devem ser obedecidos.
 Validade Material: É a compatibilidade do conteúdo de uma norma jurídica inferior com uma
norma jurídica superior.
Vigência: Tempo de validade da norma jurídica. (Tempo que ela dura)
 Vigência determinada: Normas que estabelecem previamente o término de sua validade.
{Medidas Provisórias (dura 60 dias e pode ser adiada apenas uma vez, em até 120 dias)

 Vigência indeterminada: Normas que não estabelecem o marco final de sua vigência
{Constituição Federal de 88

PS:O fenômeno da Cessação é conhecido como caducidade, que corresponde ao fim do seu
prazo de vigência.
O fenômeno da cessação da vigência indeterminada é conhecido como revogação: a
substituição de uma norma jurídica por outra norma de igual ou superior hierarquia que trata
do mesmo tema de modo diverso.

Tipos de revogação

 Expressa: Quando a substituição normativa é indicada textualmente.


 Tácita: São revogações não expressas que ocorrem quando há incompatibilidade lógica entre
as normas jurídicas.
{Revogação tácita da revogação da antiga lei de Imprensa pela Constituição de 88

 Total: É quando um novo diploma normativo altera todos os dispositivos normativos


anteriores.
 Parcial: Quando o novo diploma normativo não é compatível com o anterior. É quando um
novo diploma normativo altera um ou mais dispositivos normativos anteriores.
{Revogação expressa do código civil de 1916 pelo de 2002

Vacatio Legis: Período que uma lei leva para ser aplicada. Corresponde ao período entre a data
da publicação de uma lei e o início de sua vigência.
 Repristinação: É a restauração dos efeitos jurídicos de uma norma revogada pela
revogação da norma revogadora. Uma lei é criada para “recuperar” uma anterior que foi
revogada.
{Repristinação do direito tributário
PS: No Brasil só se admite a chamada Repristinação expressa.

Eficácia: Possibilidade concreta de produção dos efeitos jurídicos. Existem dois tipos de eficácia:
a técnica, também chamada de aplicabilidade e a social, também chamada de efetividade.
 Técnica: Uma norma jurídica é aplicável quando ela produz os seus efeitos
independentemente da criação de outra norma jurídica. Quando uma noma depende de
outra ela perde a sua aplicabilidade.
{Artigo 2 da CF
{Artigo 153 da CF
 Eficácia Social: Adequação fática da norma jurídica toda vez que os precitos normativos são
observados pelos agentes sociais.

Legitimidade: É a adequação valorativa da norma jurídica toda vez que, a norma é considerada
justa pela maioria da sociedade em dado contexto histórico/cultural.
Efetividade: A efetividade se revela no fato da norma jurídica se impor perante quem quer que
seja.

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