Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
099/95
A Constituição de 1988, em seu art. 98, I, incumbiu a União (no Distrito Federal e nos Territórios) e os
Estados de criarem os Juizados Especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e de infrações penais de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação
e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.
§1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.
→ É em razão desses Juizados Especiais que grande parte da população tem acesso à jurisdição, apesar de ter
acesso à jurisdição com um juiz de direito ou um juiz togado (às vezes) ou, ainda, um juiz sentenciante (que é
um juiz leigo e que vai proferir uma decisão que vai, depois, ser homologada pelo juiz togado, que é o juiz com
formação específica em direito e aprovado em um concurso público de títulos e documentos, para a
magistratura).
Quando estamos estudando os Juizados Especiais, temos que falar de todos os Juizados Especiais, sejam
os Juizados Especiais Estaduais (apresentando a lei geral de Juizados Especiais, que é a lei nº 9099/95) e os
Juizados Especiais Federais ou das Fazendas Públicas (lei nº10259 e lei nº12153) que são, essencialmente,
muito parecidos.
Normas aplicáveis:
- art. 98, I, e § 1º, CF: é a previsão Constitucional dos Juizados Especiais
Art. 98 §1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.
- Lei 9099/95 (juizados especiais cíveis e criminais – JEC),
- Lei 10.259/01 (juizados especiais federais – JEF),
- Lei 12.153/09 (juizados especiais das fazendas públicas – JEFP).
➔ A lei 9099/95 (Lei Geral dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais) trata-se de uma lei geral, na medida que
ela também se aplica para as leis 10259 e para a lei 12153, no que as duas forem omissas. Já na omissão da
lei 9099/95, aplica-se, subsidiariamente, o CPC/2015 (o CPC aparece como norma de hetero integração para
as demais normas).
➔ Quando a gente fala na lei nº10259/01, temos que ela se aplica quando a União ou suas autarquias federais
ou, ainda, empresas públicas, estiverem litigando em causas de baixo valor (até 60 salários mínimos). Para
que se aplica a lei nº10259, é a União que tem que ser parte. Aplica-se a lei nº10259/01, mas,
subsidiariamente, a lei nº9099 (ou seja, se houver omissão na lei nº10259/01, ela será complementada com a
lei nº9099) e, havendo omissão nessas duas leis anteriores, aí aplica-se, subsidiariamente, o CPC/2015. Diante
disso, temos que a lei nº10259/01 é uma lei para as Fazendas Públicas Federais.
➔ Agora, quando a gente da lei nº12153, nós estamos falando que ela se aplica quando for parte estados, DF,
municípios ou suas respectivas autarquias, fundações de direito público, sociedade de economia mista
(mas apenas em alguns casos, que é quando forem assemelhadas) em causas de pequeno valor. Ou seja, há
1
um critério de alçada e esse critério de alçada prevê, claramente, um valor de até 60 salários mínimos. Aplica-
se a lei nº12153/2009 nas disposições que lhe são pertinentes, mas, subsidiariamente, a lei nº 9099 e se
houver omissão nessas duas leis anteriores, vai ser aplicado o procedimento do CPC (o CPC aparece em
heterointegração para as demais normas).
Embora a Lei nº 9.099/1995 seja omissa a respeito, é intuitivo que, nas lacunas das normas específicas do
Juizado Especial, terão cabimento as regras do novo Código de Processo Civil, mesmo porque o seu
art.318, 20 parágrafo único, contém a previsão genérica de que suas normas gerais sobre procedimento
comum aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especiais e aos processos de execução.
→ Além disso, o NCPC, em seu art.1.046, §2º, explicita que permanecem vigentes “as disposições
especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais
→ Completa nosso pensamento a norma fundamental do processo civil, inserida no art.1º do NCPC,
nesses termos: “o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as
normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-
se as disposições deste Código”.
No entanto, é importante ressaltar que nenhuma lacuna da Lei nº 9.099/1995 poderá ser preenchida
por regra do Código de Processo Civil que se mostre incompatível com os princípios informativos
que norteiam o Juizado Especial na sua concepção constitucional e na sua estruturação normativa
específica.
Então, temos uma sistemática apurada nos Juizados Especiais: a lei 9099/95 se aplica aos juizados
especiais Estaduais e, na omissão da lei nº 9099, aplica-se subsidiariamente, o CPC/2015, ou seja, omissão
a lei 9099, vai ser aplicado o Código de Processo Civil.
2
➢ Espécie de procedimento:
- 2ª corrente (minoritária): espécie de justiça especializada, assim como a justiça do trabalho e a justiça
eleitoral (o procedimento adotado é o comum dos juizados especiais).
→ A segunda corrente que é, por sua vez, minoritária, vai falar que seria justiça especializadas, mas, de
acordo com Magno, isso aqui não procede. Os Juizados Especiais são integrantes da justiça comum.
Então existem Juizados Especiais Estaduais que estão dentro da Justiça Estadual (justiça comum
estaduais) e existem os Juizados Especiais Federais, que estão dentro da Justiça Comum Federal,
porque teria a participação da União.
- entre eles, haverá aplicacão integrativa dos diversos diplomas normativos (aplicacão
,
intercomunicante). Em caso de omissão, aplica-se o Novo Código de Processo Civil.
3
→ Além disso, temos que saber que na omissão desses dispositivos legais, vai se aplicar o CPC.
Cuidado: para a lei nº9099, aplica-se o CPC em heterointegração; se está se tratando da lei
nº10259/01, antes de o CPC ser aplicado, aplica-se a lei nº9099 e, depois, o CPC; do mesmo modo,
quando o objeto é a lei nº12153, se aplica a lei nº9099 em heterointegração e, na omissão de ambas, o
CPC.
- os Juizados não se vinculam à Justiça comum, tendo estrutura própria e diferenciada. Essa estrutura
própria e diferenciada se compõe pelos seguintes auxiliares da Justiça:
a) juiz togado (de direito): é aquele aprovado no concurso público de títulos e documentos;
b) juiz leigo (bacharel em Direito com, no mínimo, 2 anos de prática na advocacia): ou seja, para ser
juiz leifo deve ser bacharel em direito com, no mínimo, dois anos de prática na advocacia.
Geralmente, produz sentenças simples e encaminha para o juiz togado, que terá que homologar
essa sentença.
c) conciliador (preferencialmente, bacharel em Direito, mas pode ser estudante); e
d) turma recursal (3 juízes togados em exercício no 1º grau): as Turmas Recursais são compostas
por três juízes togados no exercício de 1º grau. Quando a gente fala desses três juízes,
temos que normalmente são dois juízes do próprio juizado e um juiz de direito das
varas cíveis ou das varas de Fazenda Pública.
• COMPETÊNCIA
- A competência do Juizado Especial Estadual pode ser em razão do valor (demandas de até quarenta
salários mínimos) ou em razão da matéria, nos termos do art. 3o, da Lei no 9.099/95.
I – Critério do valor da causa: valor de causa até de até 40 salários mínimos, com possibilidade de renúncia
dos valores excedente.
Em razão deste critério, são atribuídas ao Juizado Especial Civil “as causas cujo valor não exceda a
quarenta salários mínimos” (art. 3º, I).
→ A determinação do valor da causa encontra disciplina nos arts.291 e 292 33 do NCPC, sistemática
que prevalece integralmente para os Juizados Especiais, à falta de regras próprias adotadas pela Lei
nº 9.099/1995.
OBS: Se houver impugnação ao valor atribuído à causa pelo autor, o procedimento a observar
nasolução do incidente é o do art.30 da Lei nº 9.099/1995, e não o do Código.
Portanto, quando se fala de competência do Juizado Estadual, essa competência é relativa, segundo
o critério de alçada (valor de causa), que é de até 40 salários mínimos.
Importante: De um até vinte salários mínimos dispensa-se a capacidade postulatória nos Juizados
Especiais, isto é, ninguém precisa de advogado quando se tratar de uma causa cujo valor não
ultrapasse vinte salários mínimos e que esteja em 1º grau de jurisdição.
Então, qualquer pessoa que se sentir lesada pode ir no Juizado Especial, lá tem setor próprio que é
chamado de atermação e na atermação as alegações vão ser apresentadas e essas alegações serão,
necessariamente, reduzidas a termo (o que equivale à petição inicial) e o processo começa a
tramitar sem a necessidade de advogado.
Agora, se se tratar de uma causa cujo valor varie entre 20 e 40 salários mínimos, há a necessidade
4
de advogado que, por sua vez, vai fazer a petição a encaminhar para o Juizado. Além disso, em grau
de recurso (ou seja, no 2º grau) perante as Turmas Recursais, é indispensável a participação de
advogado – então para interpor recurso a parte tem que estar, sempre, com um advogado.
(a) as causas enumeradas no art.275, II, do Código de Processo Civil de 1973, ou seja, todas aquelas que,
ratione materiae, deveriam, na Justiça contenciosa comum, seguir o antigo rito sumário (Lei nº 9.099,
art.3º, II). É sabido que esse rito foi abolido pelo NCPC, mas, por força do art.1.063 do NCPC, até a edição
de lei específica, os juizados especiais cíveis continuam competentes para o processamento e julgamento
das causas previstas naquele dispositivo. A maioria delas refere-se à cobrança de créditos (aluguéis, danos,
rendas, honorários, seguros etc.). Algumas, porém, referem-se a coisas, como as derivadas do
arrendamento rural e da parceria agrícola. Nas primeiras, o procedimento do Juizado Especial ficará restrito
ao teto de quarenta salários. Nas últimas, não haverá restrição ao valor da causa, por não se tratar de
cobrança de crédito (Lei nº 9.099, art.3º, §3º);
(b) as ações de despejo para uso próprio (art. 47, III, da Lei nº 8.245/1991), não importando o valor do
imóvel, porque não se trata de ação para reclamar crédito, mas sim coisas (Lei nº 9.099, art.3º, III);
(c) as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a quarenta vezes o salário mínimo
(NCPC, arts.560 e 567 36 ). As cumulações possíveis, de medida possessória e perdas e danos, não podem
cobrir créditos que ultrapassem o teto do art. 3º, I.
5
➢ Opção do autor pelos juizados especiais cíveis (facultatividade do Juizado Especial):
É amplamente admitida a possibilidade de o demandante optar em distribuir a sua demanda perante o
Juizado Especial Cível ou mesmo perante um Juízo Cível (observado o procedimento comum). Este
entendimento busca favorecer o acesso a Justiça e, ao mesmo tempo, encontra respaldo no art. 3º, § 3º,
da Lei nº 9.099/95.
Art. 3º § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao
limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
→ Portanto, o recurso ao Juizado Especial Civil decorre de opção do promovente da demanda.
Como o Juizado Especial é reservado às pequenas causas (CF, art.24, X), a opção por seu
procedimento importa, de antemão, renúncia, pelo autor, ao crédito que, eventualmente,
exceder o limite de quarenta vezes o salário mínimo (Lei nº 9.099/1995, art.3º, I e §3º).
Essa limitação, porém, não se aplica aos casos em que a demanda se encerra por meio de
conciliação, a qual será homologada pelo juiz, qualquer que seja o valor ajustado entre as
partes (art. 3º, §3º, in fine).
Portanto, nas hipóteses de competência ratione materiae (art. 3º, II), não importa, em
princípio, o valor da causa para que o litigante opte pelo seu processamento perante o
Juizado Especial. Aqui a franquia àquele juízo decorre da “menor complexidade da causa”,
por presunção legal (CF, art.98, I). Mas, se a sentença compreende, afinal, crédito cujo
quantum vier a ser apurado em valor superior ao limite do art.3º, I, a condenação ficará
restrita a ele. Assim, v.g., numa possessória onde se disputa a reintegração de posse mais
perdas e danos (art. 3º, IV). Se o prejuízo apurado for além de quarenta salários mínimos,
o autor reintegrado só poderá haver do réu o ressarcimento do valor de quarenta
salários.
OBS: ENUNCIADO 58 (Substitui o Enunciado 2) – As causas cíveis enumeradas no art. 275
II, do CPC admitem condenação superior a 40 salários mínimos e sua respectiva execução,
no próprio Juizado.
Sendo assim, ao falarmos dos Juizados Especiais Estaduais, a gente sabe que é uma opção do demandado.
→ Magno, por exemplo, não é obrigado ajuizar ações nos Juizados Especiais, mas a partir do momento
que ele se submete aos Juizados, a ação que ele ali propôs vai tramitar de acordo com a lei nº9099.
→ Desse modo, ele pode ajuizar uma causa, ainda que seja de 15 salários mínimos, por exemplo, na
justiça comum (no fórum) e nesse caso tal ajuizamento vai se dar pelo procedimento comum, que é
mais lento, é mais demorado, exige advogado, determina o pagamento de custas prévias e finais, mas
concede a possibilidade de ação rescisória.
Ademais, as hipóteses coincidem com as de cabimento do rito sumário (Enunciado 1, FONAJE– Fórum Nacional
dos Juizados Especiais). Apesar do fim do procedimento comum sumário no NCPC, continuará a ser opcional ao
autor o Juizado, vez que o procedimento comum da Justica̧ comum encampa o rito sumaríssimo.
→ ENUNCIADO 1 – O exercício do direito de ação no Juizado Especial Cível é facultativo para o autor.
➢ Princípios:
No art. 2º da Lei nº 9.099/95 se encontram os seus princípios orientadores, isto é, o Juizado especial
deverá orientar-se pelos critérios da oralidade (concentração do atos em audiência, imediatidade entre o
juiz e a fonte da prova oral, e identidade física do juiz), simplicidade, informalidade, economia processual,
celeridade e buscada auto composição (conciliação ou transação).
6
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a
transação.
a) Oralidade
Em relação ao princípio da oralidade, deve ser mencionado que o procedimento busca ser eminentemente
oral, reduzindo-se ao máximo as peças escritas. O art. 14 da citada Lei confirma esta assertiva, ao mencionar
que o pedido do autor pode ser formulado oralmente e reduzido a termo pelo serventuário. Igualmente,
também permite o art. 30 que a contestação seja oral e o art. 36 que a prova oral colhida em audiência não
será reduzida a escrito.
Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.
Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto arguição de suspeição
ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor.
Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes
trazidos nos depoimentos.
→ Portanto, quando se afirma que o processo se baseia no princípio da oralidade, quer-se dizer que ele é
predominantemente oral e que procura afastar as notórias causas de lentidão do processo
predominantemente escrito. O procedimento busca ser eminentemente oral, ruduzindo-se ao máximo
as peças escritas.
b) Informalidade
Já o princípio da informalidade, que é outro que merece destaque, admite que as intimações podem ser
realizadas sem maiores formalidades, já que pode ser realizado por qualquer outro meio de comunicação
(art. 19, Lei nº 9.099/95).
c) Celeridade
Por fim, o princípio da celeridade impõe que seja dada solução ao processo sem muita demora. Por esta
razão, aliás, é que a regra é que o recurso inominado (que busca invalidar/reformar a sentença) somente é
recebido no efeito devolutivo (exceto para evitar dano irreparável).
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de
menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.
§3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite
estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
7
- critério valorativo (critério do valor da causa – inciso I art. 3º): processo de conhecimento e execução
até 40 salários mínimos. Se o pedido for superior a 40 salários mínimos, há renúncia tácita ao excedente
(art. 3º, § 3º).
→ Portanto, o valor da causa deve ser até 40 salários mínimos, com possibilidade de renúncia dos valores
excedentes.
- critério material: artigos 3º, II e III, e 3º, §1º, I, Lei 9099/95, ou seja, as hipóteses do art. 275, II, CPC
(procedimento sumário) e no caso de despejo para uso próprio. Não há limite de valor (En. 58, FONAJE).
Portanto, não se pode falar que Juizado só julga causa de valor de até 40 salários mínimos.
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
§1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
I - dos seus julgados.
(a) as causas enumeradas no art.275, II, do Código de Processo Civil de 1973, ou seja, todas aquelas que,
ratione materiae, deveriam, na Justiça contenciosa comum, seguir o antigo rito sumário (Lei nº 9.099,
art.3º, II). É sabido que esse rito foi abolido pelo NCPC, mas, por força do art.1.063 do NCPC, até a edição
de lei específica, os juizados especiais cíveis continuam competentes para o processamento e julgamento
das causas previstas naquele dispositivo. A maioria delas refere-se à cobrança de créditos (aluguéis, danos,
rendas, honorários, seguros etc.). Algumas, porém, referem-se a coisas, como as derivadas do
arrendamento rural e da parceria agrícola. Nas primeiras, o procedimento do Juizado Especial ficará restrito
ao teto de quarenta salários. Nas últimas, não haverá restrição ao valor da causa, por não se tratar de
cobrança de crédito (Lei nº 9.099, art.3º, §3º);
OBS: ENUNCIADO 58 (Substitui o Enunciado 2) – As causas cíveis enumeradas no art. 275 II, do CPC
admitem condenação superior a 40 salários mínimos e sua respectiva execução, no próprio Juizado.
(b) as ações de despejo para uso próprio (art. 47, III, da Lei nº 8.245/1991), não importando o valor do
imóvel, porque não se trata de ação para reclamar crédito, mas sim coisas (Lei nº 9.099, art.3º, III);
IMPORTANTE: Portanto, não se pode falar que Juizado só julga causa de valor de até 40 salários
mínimos, ou seja, não podemos falar, diante do exposto, que a regra geral (que é o critério de alçada)
seja aplicável sempre, porque nessas hipóteses apresentadas dentro dos critérios materiais não
têm limites de valor.
Todavia, o NCPC, em seu art. 1.063, prevê que, até a edição de lei específica que venha alterar a Lei
nº 9.099, os Juizados continuam competentes para o processamento e julgamento das causas
previstas no art. 275, II, o qual foi revogado no NCPC. Esse artigo 1063 prevê a aplicação da lei
nº9099 para aquelas causas de procedimento comum sumário, que foram revogados pelo Código
de Processo Civil de 2015.
- critério misto: artigo 3º, IV, 9099/95 - ac es possessórias sobre imóveis de valor não
excedente a 40 salários mínimos.
Art. 3º IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste
artigo.
8
Não cabimento (art. 3º, § 2º): hipóteses que não cabem ações de Juizado
- causas de natureza alimentar (vão para a vara de família);
- causas falimentares (vara de falência);
- causas fiscais e de interesse da Fazenda Pública (cabíveis nos JEF e JEFP): nesse caso, aplica-se as leis de
Juizados da Fazenda Pública.
- causas relativas a acidente de trabalho (competência da Justiça do Trabalho quando o réu é o empregador
ou da Justiça Federal, quando o réu é o INSS):
- causas relativas ao estado e capacidade das pessoas (interdição);
- procedimentos especiais (En. 8, FONAJE), salvo as possessórias dentro da alçada prevista: portanto, não cabe
no caso dos procedimentos especiais, salvo se a pessoa abrir mão daquele procedimento especial e no caso
de algumas possessórias.
ENUNCIADO 8 – As ações cíveis sujeitas aos procedimentos especiais não são admissíveis nos
Juizados Especiais.
- Ações coletivas (En. 32, FONAJE), como é o caso da ação civil pública.
ENUNCIADO 139 (substitui o Enunciado 32) – A exclusão da competência do Sistema dos Juizados
Especiais quanto às demandas sobre direitos ou interesses difusos ou coletivos, dentre eles os
individuais homogêneos, aplica-se tanto para as demandas individuais de natureza multitudinária
quanto para as ações coletivas. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem
conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil coletiva, remeterão peças ao
Ministério Público e/ou à Defensoria Pública para as providências cabíveis (Alterado no
XXXVI Encontro – Belém/PA).
- causas de complexidade elevada (STF, RE 537.427; art. 3, caput): aquelas que precisam de perícia nos
moldes tradicionais. Portanto, não cabe quando depender de perícia formal, mas isso não significa que não
possa haver a realizac,ão de perícia, desde que seja, nos termos do art. 35, Lei 9099, perícia simplificada, ou
seja, perícia informal, onde só há oitiva doperito, sem laudo técnico.
Portanto, nesses casos que há necessidade de perícia, entende-se que a causa é de alta
complexidade e, nesse sentido, a ação deverá tramitar na Vara da Justiça Comum ou perante o
juiz de direito e não nos Juizados.
Portanto, não cabe quando depender de perícia formal, mas isso não significa
que não possa haver a realização de perícia, desde que seja, nos termos do
art. 35 da lei nº9099/95, perícia simplificada, ou seja, perícia informal, onde
há só oitiva do perito, sem laudo técnico. Quando a gente fala de perícia
informal, nós estamos falando de documentos que sejam capazes de substituir
a perícia.
Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança,
permitida às partes a apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das
partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de
sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
9
Competência territorial (art. 4º):
A escolha, entre os foros especiais é livre para o autor, não havendo ordem de preferência
entre eles. Em qualquer hipótese, caber-lhe-á sempre a opção pelo foro geral do domicílio
do réu, ainda que se trate de uma das situações especiais contempladas pela lei (art. 4º,
parágrafo único). Logo, não caberá ao demandado, na espécie, impugnar a opção exercida
pelo promovente.
Nos termos do art. 51, III, da Lei 9.099, a incompetência territorial no sistema dos juizados (aplica-se,
portanto, a todos os Juizados) pode ser reconhecida de ofício e acarreta a extinção do processo sem
resolução de mérito.
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei: III - quando for reconhecida a incompetência
territorial;
A gente sabe que a incompetência relativa, no fórum, não pode ser levantada de ofício
pelo juiz. Todavia, quando a gente fala de Juizados Especiais, a incompetência
relativa pode ser reconhecida de ofício e ao invés de gerar o declínio de
competência, no Juizado Especial enseja a extinção do processo sem
resolução de mérito.
ATENÇÃO: A Resolução Normativa nº 32/2015, do TJGO, reorganiza o sistema dos Juizados Especiais na
comarca de Goiânia, de modo que, para torná-lo mais isonômico e adequado à demanda crescente na
esfera cível e nas atividades do Juizado da Fazenda Pública, estabelece a distribuição dos feitos de
competência destes juizados seja feita, não por bairros ou regiões da capital, mas por meio de sistema
informatizado, considerando a estrutura e quantitativo dos juizados.
10
- pessoa física e capaz, exceto os cessionários de direito de pessoas jurídicas; -
- microempresa e empresa de pequeno porte (En. 47 e 48, FONAJE);
- pessoa jurídica qualificada como OSCIP;
- sociedade de crédito ao microempreendedor;
Art. 8º, § 1o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial:
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos
da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999;
§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de
conciliação.
2) Legitimidade passiva: também engloba as partes capazes, sendo quaisquer pessoas físicas ou jurídicos,
excluídos os que a lei proíbe.
OBS: Não podem ser parte – nem autor, nem réu (art. 8º, caput):
Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de
direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
- incapaz;
- preso;
- insolvente civil;
- massa falida e entes despersonalizados em geral (sg. jurisprudência do STJ);
- pessoa jurídica de direito público e empresa pública (só no JF ou JFP).
11
§4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por
preposto credenciado, munido de carta de preposição com poderes para transigir, sem haver
necessidade de vínculo empregatício.
Intervenção de terceiros (art. 10): não cabe (essa regra vale para todos os juizados), salvo recurso de
terceiro prejudicado e nomeação à autoria (sg. Câmara).
Portanto, não cabe intervenção de terceiros nos Juizados (essa regra vale para todos os
juizados), salvo recurso de terceiro prejudicado e nomeação à autoria.
Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência.
Admitir-se-á o litisconsórcio.
Procedimento:
Petição inicial ou atermação (arts. 14 e 15): deve constar o nome e a qualificação o das partes, os fatos e
fundamentos jurídicos e o pedido e seu valor. Não é requisito da petição inicial dos juizados a indicação das
testemunhas.
→ Os requisitos da petição inicial, previstos nos arts. 319 e 320 do NCPC, aplicam-se ao sistema dos Juizados
naquilo que for compatível (Ex: qualificação completa é aplicável; mas, a opcão pela realização ou não da
audiência de conciliação ou mediação não é aplicável, pois que cabível apenas no procedimento comum).
Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.
§ 2º É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a extensão da
obrigação.
§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas
ou formulários impressos.
Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última
hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.
Citação (art. 18): o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação. Não cabe citação por edital no
juizado.
12
Art.18. A citação far-se-á:
II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado;
III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória.
§ 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e hora para comparecimento do citando e advertência de
que, não comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais, e será proferido julgamento,
de plano.
→ A audiência de conciliação é marcada, onde visa alcançar um acordo. Se houver acordo, o processo é
extinto com resolução de mérito.
- Ausência à audiência de conciliação (arts. 21 a 23): se o ausente for o autor, o processo é extinto sem
resolução do mérito (por contumácia), com condenação ao pagamento de custas (art. 51, I); se o ausente
for o réu, há revelia (art. 20), ou seja, se o réu não comparecer pessoalmente, ele é tido como revel.
Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da
conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º
do art. 3º desta Lei.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
§ 1º Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado mediante sentença com
eficácia de título executivo.
§ 2º É cabível a conciliação não presencial conduzida pelo Juizado mediante o emprego dos recursos
tecnológicos disponíveis de transmissão de sons e imagens em tempo real, devendo o resultado da tentativa de
conciliação ser reduzido a escrito com os anexos pertinentes.
Art. 23. Se o demandado não comparecer ou recusar-se a participar da tentativa de conciliação não presencial,
o Juiz togado proferirá sentença.
Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma
prevista nesta Lei.
Da Revelia
Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de instrução e julgamento,
reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.
13
(i) a convergência dos litigantes para a solução conciliatória; ou
→ Diante do insucesso da conciliação, a lei permite às partes uma segunda modalidade de solução
negocial ou convencional, antes de passar ao procedimento judicial contencioso propriamente dito:
trata-se da conversão do feito em juízo arbitral (art. 24)
Fracassada a conciliação e não instalado o juízo arbitral, a audiência prosseguirá, em regra, rumo à
instrução e julgamento, na mesma sessão, ou seja, “imediatamente” (art. 27, caput).
→ Somente quando não for possível a imediata coleta das provas reputadas necessárias pelo juiz é
que será marcada uma nova audiência, cuja realização deverá ocorrer num dos quinze dias
subsequentes, ficando as partes e testemunhas (se presentes) desde logo cientes, sem
necessidade, portanto, de novas intimações (art. 27, parágrafo único).
Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e
julgamento, desde que não resulte prejuízo para a defesa.
Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização imediata, será a audiência designada para um dos
quinze dias subsequentes, cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes.
- Audiência de instrução e julgamento (art. 27): nova tentativa de conciliação: a ausência do réu à audiência
de instrução e julgamento importa em revelia (julgamento antecipado da lide; dispensa de intimação, salvo
se tiver procurador constituído nos autos);
→ Dentro da audiência de instrução há presentação da defesa/contestação (pode ser oral ou escrita;
cabe pedido contraposto fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia; não cabe
reconvencão);
→ Há, ainda, produção de provas (oitiva de até três testemunhas para cada parte; caso a parte queira
que a testemunha seja previamente intimada, deverá solicitar em no mínimo cinco dias antes da
audiência; o juiz pode realizar inspec,ão ou determinar que o fac,a pessoa de sua confianc,a);
OBS: Se houver necessidade de intimação das testemunhas, a parte tem que arrolar essas
testemunhas.
OBS: No que diz respeito à produção de prova, é cabível prova oral, mas isso se o juiz entender que é
caso de prova oral. É muito comum os juízes de Juizados julgarem antecipadamente a lide, de modo
que eles acabam ampliando as hipóteses do artigo 555 do CPC para julgamento antecipado.
- Sentença
- sem relatório (art. 38). Pode ser proferida por juiz leigo (mas sua sentença deve ser imediatamente
homologada pelo togado – art. 40).
14
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes
ocorridos em audiência, dispensado o relatório.
Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução proferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao
Juiz togado, que poderá homologá-la, proferir outra em substituição ou, antes de se manifestar, determinar
a realização de atos probatórios indispensáveis.
- Deve ser sempre líquida (artigo 38, parágrafo único), ainda que o pedido seja genérico.
Art. 38, Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o
pedido.
-Há isencão de sucumbência (custas e honorários) em 1º grau (arts. 54 e 55), salvo se houver litigância de
má-fé ou contumácia. No 2º grau, haverá condenação em sucumbência, se o recurso for improvido.
Das Despesas
Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento de
custas, taxas ou despesas.
Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas e honorários de advogado,
ressalvados os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as
custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do valor de
condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa.
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso improvido do devedor.
A Lei nº 9.099 previu, de maneira expressa, dois recursos: (i) recurso inominado, ou, simplesmente, recurso,
manejável contra sentença, menos a homologatória (art. 41, caput); (ii) os embargos de declaração,
interponíveis contra a sentença ou o acórdão (art. 48).
→ Portanto, pelo sistema do Juizado Especial, somente são possíveis os embargos de declaração e
o recurso inominado da sentença. Não existe agravo de instrumento nos Juizados Especiais Estaduais.
→ Também é possível recurso extraordinário ou reclamação das decisões proferidas pelas Turmas
Recursais.
→ Não é possível, porém, recorrer das decisões interlocutórias. Em razão disso, a jurisprudência vem
admitindo a impetração de mandado de segurança dirigido a Turma Recursal. Mas o tema é polêmico,
15
pois existem precedentes em sentido distinto do próprio STF.
OBS: A sentença de homologação da conciliação (art. 22, parágrafo único) ou do laudo arbitral (art. 26)
é irrecorrível.
1. Recurso inominado: artigo 41 – prazo de 10 dias. Precisa de preparo, advogado. Cabível desentença.
A sentença do juiz togado que põe fim ao processo, com ou sem julgamento de mérito, desafia
recurso, que a lei não nominou, mas que equivale à apelação do Código de Processo Civil.
→ Esse recurso, previsto no art.41 da Lei nº 9.099, não é endereçado ao Tribunal de Justiça. É
dirigido a um órgão recursal próprio do Juizado de Pequenas Causas, composto por três juízes
togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição (art. 41, §1º). A lei fala em “Turmas de
Recurso”, as quais terão de ser criadas e instaladas, de acordo com a lei local (CF, art.98, I).
O recurso inominado tem prazo de dez dias e aí precisa de preparo (ou seja, há a necessidade de
recolhimento de todas do processo de 1º grau + os portes de envio e retorno do recurso + as custas
de recurso inominado) e precisa de advogado para ser feito.
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso
para o próprio Juizado.
§1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no
primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.
Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no
Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco
dias, contados da ciência da decisão.
Quanto aos embargos de declaração, cabíveis contra a sentença de primeiro grau ou o acórdão da
Turma Julgadora (art. 48), o regime da Lei nº 9.099 é, em linhas gerais, o mesmo do Código de
Processo Civil, salvo apenas a multa para os embargos procrastinatórios, que não foi acolhida pela lei
especial.
O novo texto do art.48 alterado pela Lei 13.105/2015, prevê que os embargos de declaração
manejáveis no Juizado Especial, caberão nos mesmos casos previstos pelo Código de Processo Civil,
ou seja, quando (i) houver necessidade de esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
ou (ii) de suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de
ofício ou a requerimento; ou, ainda (iii) de corrigir erro material (NCPC, art.1.022).
Ademais, permite o art.49 que os embargos em questão sejam manejáveis por meio de petição
escrita ou oralmente, na hipótese, por exemplo, de sua interposição em audiência.
ATENÇÃO: os arts. 1.064 e 1.065 do NCPC alteraram a redac,ão dos arts. 48 e 50, da Lei nº 9.099/95,
respectivamente, para aplicar a mesma disciplina aos embargos de declarac,ão dada pelo novo código, ou
seja, não são mais cabíveis quando houver dúvida na decisão, mas sim obscuridade, contradic,ão, omissão
16
ou erro material, e a sua oposic,ão contra sentenca, não mais suspende, mas sim interrompe o prazo para
a interposic,ão de outros recursos.
Além disso, salienta-se que não cabe recurso especial, mas cabe recurso extraordinário para o Supremo
Tribunal Federal.
→ Havendo, porém, ofensa à Constituição, o recurso extraordinário será interponível, já que o art.102, III,
ao disciplinar aludido meio impugnativo, o afirma cabível contra qualquer julgamento de “única ou
última instância”, e não apenas aqueles proferidos por Tribunais de segundo grau (CF, art.102, III).
ENUNCIADO 63 – Contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os embargos declaratórios e o
Recurso Extraordinário.
Súmula 640 - É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por
turma recursal de juizado especial cível e criminal.
4. Não Cabe Recurso Especial (Súmula 203, STJ - Não cabe recurso especial contra decisão proferida por
órgão de segundo grau dos Juizados Especiais), mas pode caber reclamação por violação de precedente
judicial ou teratologia do acórdão da Turma Recursal (art. 988 e ss. do NCPC).
Não cabe, nem mesmo, recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça, visto
que não podem ser havidos como julgamento de última instância pelos Tribunais a
que alude o art.105, III, da Constituição.
5. Também não cabe ação rescisória – artigo 59, mas, no máximo, querela nullitatis em caso de nulidade de
citação ou coisa julgada inconstitucional.
A interpretação das regras contidas nesta lei sobre a execução no Juizado Estadual jamais foi pacífica,
tendo este panorama ficado ainda mais delicado com o advento da Lei no 11.232/05 e, também, da Lei no
11.382/06, que trouxeram diversas alterações nas execuções, sendo que algumas, em tese, até atenderiam
melhor aos princípios norteadores do Juizado (art. 2o, Lei no 9.099/95) do que as suas próprias normas
específicas.
Caso seja o cumprimento de uma sentença que imponha obrigação de pagar, o seu procedimento se
17
encontra no art. 52 e incisos. Nesta hipótese, haverá processo sincrético, sendo a execução de título judicial
considerada como uma segunda etapa. Para o seu início, é imprescindível que o interessado apresente um
requerimento (art. 52, inciso IV).
Vem sendo permitida a inclusão da multa de 10%, prevista no art. 523 (antigo art. 475-J do CPC/73), o que
já foi, inclusive, objeto de pelo menos dois enunciados do FONAJE (Fórum Nacional de Juizado Especial),
que são os de nº 97 e nº 105. Em seguida, o executado será intimado, embora atualmente existam dúvidas
a respeito de qual meio processual o mesmo poderá se valer para manifestar o seu inconformismo.
É que a Lei no 9.099/95 é expressa, em seu art. 52, inciso IX, que nas hipóteses de cumprimento de sentença
por obrigação de pagar, o executado se defende por meio de embargos. No CPC, esta defesa seria realizada
por meio de impugnação.
Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o
disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações:
IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da execução, versando sobre:
a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à revelia;
b) manifesto excesso de execução;
c) erro de cálculo;
d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, superveniente à sentença.
Caso seja uma execução por quantia certa lastreada em título extrajudicial, o procedimento passa a ser
fixado no art. 53 da lei específica. Neste outro rito, haverá necessidade de ser confeccionada uma petição
inicial que virá instruída de uma planilha atualizando a dívida. Deacordo com a lei específica, somente
após a realização da penhora é que será designada audiência de conciliação, ocasião em que os embargos
poderão ser oferecidos (art. 53, § 1o).
Realmente, uma interpretação literal deste dispositivo especial afastaria a incidência da norma geral
prevista no art. 736, que dispensa a penhora para fins de recebimento dos embargos. Mas, pela teoria do
diálogo das fontes, o tratamento deveria ser o mesmo, tanto para os embargos apresentados no juízo cível
como naqueles do Juizado Especial, pois realmente a norma mais nova (art. 736) estaria mais de acordo
com os princípios previstos na Lei no 9.099/95, por possibilitar um maior adiantamento dos atos
processuais. No entanto, o tema é bastante delicado e encontra-se longe de estar pacificado.
Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários
mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo Civil, com as modificações
introduzidas por esta Lei.
§1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a comparecer à audiência de
conciliação, quando poderá oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.
§2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e eficaz para a solução do litígio, se
possível com dispensa da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre outras
medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação em pagamento
ou a imediata adjudicação do bem penhorado.
§3º Não apresentados os embargos em audiência, ou julgados improcedentes, qualquer
das partes poderá requerer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do parágrafo anterior.
§4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo será
imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor.
Assim, em sede de execuc,ão aplica-se subsidiariamente o NCPC. Obrigações de fazer, não fazer e entrega
de coisa – tutela específica: arts. 497 e 498 (cominação de multa – pode ser em valor que supere a alçada);
18
quantia certa em título judicial – cumprimento de sentença (art. 523); e em título extrajudicial, aplica-se o art.
53 da Lei dos Juizados.
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se
procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que
assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a
reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração
da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.
Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela
específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela
quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a
escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.
Revisão
A Constituição de 1988 previu os Juizados Especiais, ela previu a sua criação pela União e
pelos Estados. Nós sabemos que nós temos vários intervenientes nos Juizados Especiais: os
juízes togados, que são aqueles que são aprovados em concursos públicos de títulos e
documentos; os juízes leigos, que são aqueles bacharéis em direito que tenham cumprido
um prazo mínimo de experiência e que se submetem, também, a um pequeno concurso de
títulos e documentos para que sejam designados juízes leigos; os conciliadores.
Dentre as normas aplicáveis nós temos, além da Constituição da República artigo 98, I e
§1º, a lei geral dos Juizados Especiais, que é a lei nº9099 e que se aplica aos Juizados
Especiais Estaduais, que não sejam de Fazendas Públicas. Além disso, caso haja alguma
omissão nessa norma (lei nº9099), aí vai ser aplicável o CPC. Então causas de até 40
salários mínimos são de competência dos Juizados Especiais, bem como outras hipóteses
que podem ultrapassar os 40 salários mínimos e que vamos voltar a falar daqui a pouco. A
19
lei nº10259, por sua vez, se aplica aos Juizados Especiais Federais, em que uma das partes
é a União ou uma de suas autarquias ou fundações públicas e, inclusive, empresas públicas
(como, por exemplo, a Caixa Econômica Federal) e se tratar de uma ação cujo valor de
causa não ultrapasse 40 salários mínimos. Ao contrário da lei dos Juizados Especiais Cíveis
Estaduais, no caso da lei nº10259 a competência é absoluta, sendo um critério de
competência absoluta em razão do valor de causa. A lei nº12153, por fim, trata dos
Juizados Especiais de Fazendas Públicas estaduais e municipais, cujo valor de causa é de 60
salários mínimos, quando autor ou réu seja estado, Distrito Federal, municípios ou algum
órgão integrante da sua administração pública indireta (por exemplo autarquias estaduais e
fundações públicas). A competência da lei nº12153 também é absoluta, de modo que não
existe a escolha de se ajuizar em um Juizado Especial de Fazenda Pública ou na vara de
Fazenda Pública, visto que existe a necessidade de submissão na devida competência.
Para a lei dos Juizados Especiais da Fazenda Pública da União, do Distrito Federal,
estaduais ou municipais nós temos que aplica-se, na sua especificidade, a lei nº10259/01
ou a lei nº12153/09. Na omissão dessas leis, busca-se a heterointegração na lei geral dos
Juizados Especiais, que é a lei nº9099/95. E, na omissão de todas essas leis busca-se, aí
sim, heterointegração no CPC.
As Turmas Recursais são compostas por juízes do próprio Juizado (juízes de direito ou
juízes federais) e, ainda, por juízes de direito de 1º grau de jurisdição que, supostamente,
têm mais experiência que os juízes dos Juizados. É muito comum que uma pessoa seja
aprovada em um concurso público de títulos e documentos e passe a integrar os Juizados
Especiais.
Nos Juizados Especiais Estaduais (da lei nº9099), nós temos uma faculdade do autor de
submeter ao Juizado ou ajuizar uma ação perante a vara cível da Justiça Comum Estadual.
O autor não é obrigado a se submeter aos Juizados, ele apenas tem vantagens para isso,
mas tem, também, desvantagens, de modo que o autor se submete se quiser. Desse modo,
trata-se de uma hipótese de competência relativa, não sujeita à exceção declinatória de
foro.
Entre os princípios dos Juizados, nós temos vários. O primeiro deles é a oralidade, além
disso nós temos a simplicidade (visto que existe, aqui, uma simplificação do procedimento),
a informalidade (que trata-se do desapego às formas do processo civil), a economia
processual (que é, basicamente, o aproveitamento dos atos processuais efetivamente
20
praticados), a busca pela celeridade (ou seja, é um procedimento mais rápido que efetiva o
direito material) e, ainda, nós temos a busca pela auto composição nas modalidade de
conciliação e transação (que são aquelas técnicas de autocomposição que foram criadas nos
primórdios da justiça e que são, de fato, fomentadas nesses Juizados).
Sobre o cabimento dos Juizados Especiais, temos que no artigo 3º da lei 9099 nós temos
um rol taxativo de hipóteses de ações que possam tramitar nos Juizados Especiais. A regra
é que cabem aquelas ações cujo valor não ultrapasse 40 salários mínimos, tendo, nesse
caso, um limite com base no valor de alçada (critério valorativo), em que é possível,
inclusive, a renúncia do valor excedente. Depois disso, nós temos, também, o critério
material, que está previsto nos incisos II e III do artigo 3º da lei nº9099, envolvendo todas
aquelas causas do antigo procedimento comum sumário e, ainda, as ações de despejo para
uso próprio. O Juizado, então, por força do artigo 1063 do CPC, tem uma regra de
ultratividade do artigo 275, II do CPC/1973, porque independentemente do valor de causa,
aquelas causas de procedimento comum sumário poderão ser ajuizadas no Juizado Especial,
sem limitação dos 40 salários mínimos (conforme Enunciado 58 do FONAJE). Existem,
ainda, um critério misto que seriam, de fato, as ações possessórias de imóveis cujo valor
não ultrapasse os 40 salários mínimos e, desse modo, imóveis de baixo valor venal de
mercado poderão ser ajuizados, ainda, nos Juizados Especiais.
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento
das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso
I deste artigo.
§3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito
excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
Não cabem ações nos Juizados Especiais, sobre alimentos familiares; sobre processos
falimentares; causas tributárias relacionadas com o interesse de Fazendas Públicas,
ressalvadas aquelas causas que devem ser ajuizadas nos Juizados Especiais Federais e de
Fazendas Públicas, obviamente; causas de acidente de trabalho, as quais devem ser
ajuizadas na Justiça Comum Estadual e nos Juizados Especiais; causas sobre o estado de
pessoas (ou seja, interdição, divórcio, reconhecimento de uniões estáveis e assim por
diante; procedimentos especiais, de acordo com o Enunciado nº8 do FONAJE, porque, de
fato, haverá renúncia do procedimento especial que é, na verdade, uma norma cogente;
ações coletivas (ou seja, ação civil pública, ações populares, mandados de segurança
coletiva e de injunção coletiva) e; por fim, causas de complexidade elevada, em que há
necessidade de curadores especiais (como, por exemplo, nas citações fictas por edital) ou,
mesmo, quando há necessidade de prova pericial técnica que, por sua vez, envolve a
complexidade da demanda. Nesses casos a ação vai ser extinta do Juizado e o juiz do
Juizado a parte à Justiça Comum.
No que diz respeito à competência territorial, aplica-se a regra do CPC (artigos 41, 42 e
43), que é o foro de domicílio do réu, mas é possível, também, naquelas causas de
obrigação, no lugar onde a obrigação deve ser satisfeita (especialmente no caso de
execuções). Para ações de indenização, todavia, é considerado o foro do domicílio do autor
ou o local onde o ato ou fato ilícito tenha ocorrido.
21
Art. 41. Considera-se autêntico o documento que instruir pedido de cooperação jurídica
internacional, inclusive tradução para a língua portuguesa, quando encaminhado ao Estado
brasileiro por meio de autoridade central ou por via diplomática, dispensando-se
ajuramentação, autenticação ou qualquer procedimento de legalização.
Parágrafo único. O disposto no caput não impede, quando necessária, a aplicação pelo
Estado brasileiro do princípio da reciprocidade de tratamento.
Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua
competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei.
A incompetência territorial, nos Juizados, pode ser reconhecida de ofício (ao contrário do
que acontece no CPC) e, também ao contrário do que ocorre no CPC, ela enseja a extinção
do processo sem resolução de mérito, não ensejando, portanto, o declínio da competência.
Sobre a legitimidade ativa, deve ser uma pessoa física e capaz. Em alguns casos é
admissível pessoas jurídicas quando se tratam de Microempresas (então nós temos Juizados
Especiais de Microempresas). Nós também temos que as pessoas jurídicas qualificadas
como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) também podem ser
parte nos Juizados Especiais, assim como as sociedades de crédito de
Microempreendedores.
A legitimidade passiva também só pode para pessoas físicas e jurídicas, não sendo
possível para incapazes ou quem não possua capacidade plena e nem para presos, porque
curador especial não atua nos Juizados Especiais. Nós tamos, ainda, que não é possível para
insolvência civil, porque existe uma atração de foro ao juízo universal do concurso de
credores e, da mesma forma, não é possível para massas falidas. Então a regra de entes
despersonalizados em geral, se aplica para o Juizado.
Nas causas de até 20 salários mínimos, as partes têm capacidade postulatória, não
precisando de advogado (artigo 9º). Na fase recursal, a assistência por advogado é
obrigatória, ainda que a causa seja inferior a 20 salários mínimos (§2º do artigo 41).
Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão
pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é
obrigatória.
Não existe hipótese, dentro dos Juizados, para intervenção de terceiros. O Alexandre
Freitas Câmara apresenta duas hipóteses, em que uma já foi extinta no CPC que seria a
nomeação à autoria (consistindo em, nada mais e nada menos, incidente de correção de
polo passivo) e, ainda o recurso de terceiro prejudicado, que iremos aprender em direito
processual civil IV e que está previsto no artigo 998 do CPC.
22
Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de
assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.
Sobre o procedimento, têm-se uma petição que, por sua vez, vai preencher os requisitos
do artigo 319, mas sem formalidades excessiva e, por isso, admite-se atermação no
Juizado. Devem ser juntados os documentos obrigatórios para a qualificação da demanda.
Depois disso a citação é feita pelo correio, com Aviso de Recebimento e ela é feita para que
o réu compareça em audiência de conciliação. Na audiência de conciliação, se o autor não
estiver presente haverá a extinção do processo sem resolução de mérito por contumácia,
condenando o autor no pagamento das custas processuais. Agora, se o réu for ausente,
automaticamente haverá decretação da revelia e essa revelia costuma ensejar a
procedência do pedido, nem que seja parcial. Além disso, nessa audiência, se não houver
acordo, é possível, caso não haja a necessidade de produção de outras provas, a conversão
da audiência de conciliação em audiência de instrução (e isso é o que nós chamamos de
flexibilidade procedimental). Todavia, se não houver acordo, mas houver a necessidade de
produção de provas em audiência de instrução, o juiz designa outra audiência, a ser
realizada com o juiz togado, sendo possível o arrolamento das testemunhas (desde que se
junte o rol com cinco dias de antecedência da audiência, podendo os juízes apresentarem
outros prazos, contudo) e na audiência de instrução é o momento no qual se deve
apresentar contestação escrita ou oral.
Não existe réplica na lei nº9099. Alguns juízes falam que se aplica, subsidiariamente, o
CPC e, assim, dá a palavra para a réplica oral (somente oral). Não existe a réplica escrita,
ou melhor, pelo menos a maioria dos juízes não dão esse prazo de réplica escrita.
Na contestação é possível ação de pedido contraposto, que é aquele que, com base na
mesma causa de pedir, o réu formula pedido em face do autor. Não se trata de uma
reconvenção, porque os requisitos são diferentes, apesar de ter identidade de juízo e
identidade de partes. Mas só cabe pedido contraposto nos Juizados Especiais. De acordo
com Humberto Theodoro e a Tereza Arruda Alvim, admite-se pedido contraposto, também,
em dissolução parcial de sociedades.
Quanto à produção de provas se tem a oitiva de testemunhas (até três testemunhas para
cada parte). Além disso, nós falamos que o juiz pode realizar a inspeção judicial, pode
determinar o interrogatório das partes de ofício, pode ouvir o depoimento pessoal das
partes.
Já no que diz respeito aos recursos contra a Turma Recursal, nós temos que é cabível
Recurso Extraordinário, não sendo cabível, contudo, Recurso Especial. O que pode caber é
reclamação constitucional, como vamos estudar em direito processual civil IV.
Não cabe ação rescisória, porque as decisões dos Juizados Especiais não se sujeitam à
relativização da coisa julgada material, ressalvadas aquelas hipóteses de que há a querela
nulitatis sanable ou insanable (e isso contrária às decisões homologatórias de acordo).
Art. 3o Lei no 10.259/01 Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de
competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de
desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de
lançamento fiscal;
IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de
sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2o Lei nº 12.153/09.Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do
Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3o, caput.
Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis
de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários
mínimos.
24
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por
improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, autarquias e
fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos
civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a
soma de 12 (doze) parcelas vincendas e de eventuais parcelas vencidas não poderá exceder o valor referido
no caput deste artigo.
Não é possível ao demandante escolher entre propor sua demanda em um destes juizados ou perante o juízo
cível.
Com efeito, o art. 3º, § 3º, da Lei nº 10.259/01, estabelece que “no foro onde estiver instalada Vara
do Juizado Especial, a sua competência é absoluta”. Portanto, tem competência absoluta.
→ Assim, não há opção ao autor: na localidade em que os juizados especiais federais estiverem
instalados, sua competência é absoluta; não há margem para escolha ao autor.
→ Vale dizer que há redação muito parecida com esta no art. 2º, par. 4º da Lei nº 12.153/09, que
cuida dos Juizados Especiais Fazendários: § 4o No foro onde estiver instalado Juizado Especial da
Fazenda Pública, a sua competência é absoluta.
OBS: Aqui não precisa de advogado, independentemente do valor, em 1º grau de jurisdição, mas
precisa de advogado nas turmas recursais.
25
- Ação popular, de improbidade administrativa e demandas sobre direitos ou interesses difusos,
coletivos ou individuais homogêneos (processo coletivo);
- execução fiscal;
- causas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
- anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo de natureza previdenciária e fiscal;
- discussão sobre pena de demissão imposta a servidor público civil (todas as demais sanões pode) ou sobre
sancão disciplinar aplicada a militar (não pode discutir nenhuma sancão
o);
- causas de maior complexidade.
Competência territorial:
- aplica-se o art. 109, § 2º, CF (secã
, o judiciária do domicílio do autor; ou do lugar do ato ou fato que deu
origem à demanda; ou onde esteja situada a coisa; ou no DF).
- onde não houver vara federal, a causa poderá ser proposta no juizado especial federal maispróximo.
Advogado (art. 9º): as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de competência do JEF,
salvo na fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória.
Recursos:
Pelo sistema do Juizado Especial Federal, somente são possíveis os embargos de declaração (de qualquer
sentença) e o recurso inominado da sentença definitiva. No Juizado Especial Fazendário, estes recursos são
possíveis independentemente da classificação da sentença.
Em regra geral, não é possível recorrer das decisões interlocutórias, salvo quando elas apreciarem tutela
provisória de urgência. Nesse caso, caberá recurso inominado de instrumento, em conformidade com os
arts. 5º e 4º da Lei nº 10.259/01.
26
Os recursos são os mesmos: embargos de declaração e recurso inominado
contra sentença de 1º grau. Existem, contudo, peculiaridades nos Recursos contra
as Turmas Recursais, então pode caber um recurso contra Agravo de Instrumento,
que eles chamam de Recurso Inominado de Instrumento contra decisões de tutela
provisória (único caso cabível nos Juizados Especiais de Fazendas Públicas) e as
execuções se dão, também, com a expedição de precatório ou de requisições de
pequeno valor.
Sendo obrigação de pagar reconhecida em título judicial, este procedimento será disciplinado pelo art. 17
da Lei no 10.259/01 e no art. 13 da Lei nº 12.153/09, que dispensa requerimento da parte interessada para
o seu início. Assim, bastará aguardar o trânsito em julgado da decisão para início do seu cumprimento, nos
termos dos citados dispositivos. Se a devedora for a União, Autarquia ou alguma Fundação, a requisição do
RPV (requisição de pequeno valor) será encaminhada à Presidência do Tribunal, para que seja viabilizado o
pagamento. No entanto, caso a dívida pecuniária seja devida por uma empresa pública federal (art. 6o,
inciso II, Lei no 10.259/01), o magistrado deverá expedir ofício à mesma, para que efetue o depósito do
valor devido dentro de sessenta dias, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal (CEF) ou do
Banco do Brasil (BB).
No entanto, quando se tratar de Estado, Distrito Federal, Município, Autarquias, Fundações e Empresas
Públicas a ele vinculadas, a forma de liquidação poderá ser regulada por meio de outros atos normativos.
Caso se trate de uma execução lastreada em título extrajudicial, a mesma deve observar o procedimento
previsto no art. 53 da Lei no 9.099/95, naquilo que for compatível, em razão do que prevê o art. 1o da Lei nº
10.259/01 e art. 27 da Lei nº 12.153/09. Por óbvio, a maneira de liquidação das obrigações pecuniárias
(requisição do RPV ou do precatório) deverá observar as mesmas ressalvas realizadas acima.
Em síntese, para a execução (arts. 16 e 17), em se tratando de condenacã, o em obrigac,ão de fazer, não
fazer ou entregar coisa, o juiz expedirá ofício à autoridade citada para causa, com cópia da sentenca ou
do acordo. Se tratar de obrigacão de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da decisão, o
pagamento será efetuado no prazo de 60 dias, contados da entrega da requisic,ão, por ordem do juiz, à
autoridade citada para a causa, na agência mais próxima da CEF ou do Banco do Brasil, independentemente
de precatório, em regra.
27
Não há opcão ao autor: na localidade em que os juizados especiais das fazendas públicas estiverem
instalados, sua competência é absoluta.
Competência territorial: como a Lei 12.153/09 é omissa, aplica-se a regra da Lei 9099/95.
Advogado: as partes têm capacidade postulatória em qualquer causa de competência do JEFP, salvo na
fase recursal, cuja assistência por advogado é obrigatória.
28
A partir disso, quando a gente fala de jurisdição civil coletiva, nós temos que verificar os seguintes dispositivos:
o Código de Defesa do Consumidor (lei nº8078/1990), porque a partir dos artigos 81 e seguintes dessa lei, nós
temos o microssistema de jurisdição coletiva. Esse Código é considerado como regras gerais de processo coletivo,
então o CDC vai ser aplicado para todas as ações coletivas. Mas nós temos uma situação muito complicada, porque
a lei de ação civil pública era de 1985, sendo, portanto, a 1ª lei de ação civil pública, apesar de já existir uma lei
anterior, que é a lei de ação popular (lei nº4717) e que também integra microssistema de ação civil coletiva.
Quando a gente fala do Código de Defesa do Consumidor, com base nos artigos mencionados acima,
percebemos que ele fala da defesa do consumidor em juízo. Assim, esses artigos suprem a falta de um Código de
processo coletivo. Alguns doutrinadores, inclusive, propugnam pela criação de um Código de Direito Processual
Coletivo e eles defendem isso justamente pelo fato de que a principal crítica da doutrina é que os juízes, os
promotores e a doutrina em geral se fundamentam num paradigma de processo civil individual, para regular as
regras de processo civil coletivo e nós temos até algumas interpretações que prejudicam a análise do processo civil
coletivo.
Esse Código de Defesa do Consumidor então seria, de fato, as regras gerais do processo coletivo. Contudo, após
a edição do CPC de 2015, nós tivemos um professor que se afastou desse posicionamento, caminhando, então, em
sentido contrário e este professor é o Marcelo Abelha Rodrigues (professor da Universidade Federal do Espírito
Santo). Ele fala, portanto, que deve ser aplicado, como regra geral, o CPC/2015.
Infelizmente, essa controvérsia envolve um descompenso sobre a edição do CPC/1025, porque neste Código,
apesar de a Comissão de juristas ter se manifestado no sentido de que ela não queria criar regras de processo
coletivo, nós temos que foram criadas essas regras. Uma das regras de processo coletivo que mais são relevantes
aqui, seria a que estava prevista no artigo 333 do CPC, que foi vetada e previa disposições de processo coletivo no
CPC (da conversão da ação individual em ação coletiva). Então havia essa disposição no CPC e a então presidente,
Dilma Rousseff, vetou, porque, de fato, não havia interesse político na criação desse código de processo coletivo,
tanto é que se fala na criação de um Código desse desde 1990 e até hoje ele não foi criado.
No entanto, assiste parcial razão ao professor Marcelo Abelha Rodrigues, quando ele fala que existem regras de
processo coletivo. Uma das regras de processo coletivo é o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
(IRDR) que, de fato, é um processo coletivo previsto no CPC. Outro processo coletivo previsto no CPC, mais
especificamente em seu artigo 1037 e diante, é o que fala do Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especiais
Repetitivos. Então hoje em dia existem regras de processo coletivo no CPC, mas como elas não são específicas, no
entender de Magno, para ação civil pública e para ação popular, então nós temos, sim, a utilização do CDC que,
por sua vez, vai ser tido como uma regra geral de processos coletivos.
A partir desse Código de Defesa do Consumidor, nós temos as regras específicas. A 1ª lei específica é a lei
nº7347/1985, que é a lei de ação civil pública. Essa lei de ação civil pública foi criada em 1985 e por um dos
expoentes do processo civil brasileiro, que é o professor José Carlos Barbosa Moreira em conjunto com outra
teórica, que foi a professora Ada Pellegrini. Essa lei foi, de fato, um marco de processo coletivo no Brasil e é essa
lei que vai ser objeto de estudo hoje.
Então quando a gente fala de microssistema coletivo da ação civil pública, nós temos que pensar, em 1º
lugar, em aplicar o Código de Defesa e Proteção do Consumidor. Em segundo lugar, serão aplicadas as
disposições específicas da lei nº7347, que é, como dito, a lei de ação civil pública. Em terceiro lugar, se teria a
aplicação do CPC/2015, no entender de Magno, em heterointegração de normas.
Para completar isso tudo, Magno faz, ainda, mais uma observação, visto que o microssistema de jurisdição
coletiva se completa com uma 4ª lei e essa 4ª lei é a lei nº4717/1965, que é a lei de ação popular. Quando a
gente fala da lei nº4717, isto é, a lei de ação popular, nós estamos falando que ela se aplicaria para aquelas ações
ajuizadas pelos cidadãos. A interpretação, aqui, seria 1º, com base no CDC; em 2º lugar a própria lei nº4717; em
terceiro lugar, e em heterointegração, o Código de Processo Civil de 2015.
Além desses atos normativos, que seriam um microssistema de jurisdição coletiva, ainda têm aquelas leis de
controle concentrado de constitucionalidade, que são, também, processos coletivos. Então entre essas leis, nós
29
temos a lei de ADI (isto é, lei de Ação Direta de Constitucionalidade), sendo a primeira a lei nº9868 (que é,
também, lei de ADC, isto é, Ação Declaratória de Constitucionalidade).
Nós temos, ainda, outra lei importante, que é a lei nº9882, que é a lei de Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) – se aplica a essas hipóteses de Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental, seja por norma infraconstitucional posterior ou anterior à Constituição, em função das cláusulas
pétreas. Nós temos outra lei, também, com relevância quando se trata de processo coletivo, que é a lei de Ação
Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ou ADI Interventiva), sendo esta uma lei mais recente, de nº12562.
Todas essas leis, então, integram a sistemática coletiva, especialmente o controle concentrado de
constitucionalidade.
Entretanto nós temos, também, leis de garantias constitucionais coletivas. Quando nós falamos de garantias
constitucionais coletivas, nós estaríamos falando da lei do Mandado de Segurança, que é a lei nº12016/2009, a
qual também prevê o Mandado de Segurança Coletivo e, além desta, a lei do Mandado de Injunção Coletivo (lei
nº13300/2016). Essas seriam, portanto, as leis que, de fato, integrariam o microssistema de jurisdição civil
coletivo.
Por questões de tempo, por questões de proteção curricular em outras normas e em outras disciplinas, nós
vamos nos restringir, na disciplina de direito processual civil II, à ação civil pública e à ação popular. Foi
apresentado quais são os atos normativos que integram o microssistema de jurisdição coletiva: mandado de
segurança coletivo, mandado de injunção coletivo, leis de controle concentrado de constitucionalidade (todas
essas integram a jurisdição civil coletiva). Todavia, sabemos que as ações de controle concentrado de
constitucionalidade somente se processam no Supremo Tribunal Federal, enquanto isso, quando nós falamos de
ação civil pública e ação popular, temos que elas se processam em 1º grau de jurisdição.
Além da lei nº7347 nós temos, também, a previsão constitucional da ação civil pública, que, por sua vez,
encontra-se prevista, especificamente, no artigo 129, III da CF que prevê a atribuição funcional do Ministério
Público para o ajuizamento da ação civil pública, com ou sem inquérito cível coletivo prévio.
O que é o inquérito civil? O inquérito civil é um processo administrativo que se processa perante o próprio
Ministério Público, em que ele tenta arrecadar provas para instruir uma futura ação civil pública. A doutrina
majoritária fala que o inquérito civil é um inquérito inquisitivo, da mesma forma que o inquérito penal, e que a
função dele é meramente instrutória, não havendo necessidade de contraditório e ampla defesa dentro do
inquérito civil. Nós temos teorias contemporâneas, a partir de processo democrático (ou processo justo), em que
alguns doutrinadores propugnam pela existência de contraditório e ampla defesa dentro do inquérito civil, mas na
prática o inquérito civil aparece como uma técnica de instrução probatória e como uma estratégia processual dos
membros do MP, para que não seja divulgada a estratégia do processo que, por sua vez, será utilizada nas ações
civis públicas (esse é o posicionamento doutrinário e jurisprudencial atual).
Além disso, é importante ressaltar que o inquérito civil não equivale ao inquérito penal, ou seja, aquela
participação do MP nos inquéritos penais, que são realizados perante a polícia judiciária, já foi afastada por
decisão do Supremo Tribunal Federal. Então não é disso que nós estamos falando, nós estamos falando de um
inquérito, feito no MP, para instruir uma futura ação civil pública que venha a ser ajuizada.
Na Constituição da República, inclusive, já se demonstra o cabimento da ação civil pública para a proteção do
patrimônio público, social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Isso demonstra que a ação
civil pública é, por excelência, a ação mais importante dentro de uma sistemática de tutela coletiva de interesses
difusos, coletivos, stricto sensu, individuais e homogêneos.
30
Além disso, no §1º desse artigo 129 da CF nós temos a legitimação ativa do Ministério Público para o
ajuizamento dessas ações, mas tal legitimação não afasta a legitimidade de outros terceiros, desde que ela esteja,
previamente, prevista em lei.
§1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros,
nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
2. Legitimidade Ativa (art. 5º da Lei 7.347/85)5: Quando a gente fala da legitimidade ativa, ela está prevista no
artigo 5º da lei nº7347/85 e não só nessa lei, mas essa lei em específico faz uma previsão expressa de quais
seriam os legitimados para ajuizar uma ação civil pública.
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (órgãos da Administração Pública direta, ou seja, a
Fazenda Pública stricto sensu);
São eles:
- Ministério Público
- Defensoria Pública
- União, Estados, Distrito Federal e Municípios
- Autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista
- Associações (civis):
✓ Constituídas há pelo menos um ano: prévia constituição é obrigatória
✓ Que incluam, dentro de suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
Finalmente nós temos a única possibilidade de abertura para a sociedade civil e tal
abertura caminha no sentido de que as associações, previamente constituídas por pelo
menos um ano, nos termos da lei civil, tenham a capacidade de ajuizar ação civil pública.
31
No entanto, para que essas associações ajuízem ação civil pública, deve ser incluído, no
Estatuto delas, a finalidade institucional de proteção do patrimônio público, social, do meio
ambiente, do consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos
raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico (cultural em geral). Então é preciso ter a previsão estatutária, mas, apesar
disso, em alguns casos o juiz vai poder dispensar essa prévia constituição por mais de um
ano.
✓ O requisito da pré constituição pode ser dispensado? (Art. 5º, §4º, Lei 7347/85) – temos uma dispensa
na lei dessa prévia constituição, pode ser dispensado pelo juiz, quando houver manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido.
§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido.
Então às vezes uma associação é criada com o fim de ajuizar uma ação civil pública e essa previsão encontra-se,
também, no artigo 82 do CDC. Isso porque o requisito de pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, quando
ele verificar um interesse público ou social naquela ação civil pública que foi recentemente ajuizada.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
§1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
bem jurídico a ser protegido.
Temos que ter ciência, ainda dentro de legitimidade, que existem teóricos de processos constitucionais
democráticos (dentre eles o professor Vicente Maciel e o também professor Fabrício Veiga Costa) que entendem
pela inconstitucionalidade desse artigo 82 do CDC, algo que o Supremo não definiu, pelo menos até a presente
data. Eles falam que todos os órgãos da sociedade deveriam ter legitimidade para ajuizar a ação civil pública,
inclusive as pessoas físicas. No entanto, e nesse ponto Magno concorda com o professor Marcelo Abelha
Rodrigues que, por sua vez, defende que o legislador entendeu que essas pessoas que estão no artigo 82 do CDC e
no artigo 5º da lei de ação civil pública, seriam as mais indicadas para tutelar os interesses coletivos, difusos,
individuais e homogêneos, especialmente porque eles têm uma estrutura melhor, são dotados de profissionais
com maior capacidade jurídica (Ministério Público, Defensoria Pública, os advogados da União, os procuradores
dos estados e dos municípios, os procuradores autárquicos, os procuradores de empresas públicas) para defender
esses interesses.
E a gente sabe que sabe que, na prática, isso é uma discussão doutrinária de “Sexo dos Anjos”, porque quem
ajuíza ação civil pública no nosso país é o Ministério Público. Em alguns casos, como quando está tentando tutelar
as tarifas de ônibus em Belo Horizonte, a Defensoria Pública ajuíza. Desse modo, a gente vê a União ajuizando
poucas ações civis públicas, a Defensoria Pública ajuizando pouquíssimas ações civis públicas e quem, de fato,
coloca a mão na massa aqui, para tutelar o interesse coletivo, é o Ministério Público, que é, de fato, o defensor da
sociedade, ele é o custus legis (isto é, fiscal da lei), sendo aquele que defende a sociedade quando ninguém quer
se comprometer.
32
→ IMPORTANTE: Para parte da doutrina, a legitimação é ordinária, pois a associação civil defende
interesse próprio, estatutário ou institucional, assim como o Estado também defende interesse
próprio. Há também uma parte da doutrina que entende que a legitimação para as ações civis
públicas ou coletivas é mista, ou seja, os legitimados ativos não só defendem interesse próprio à
reintegração do direito violado, como também defendem interesses individuais de cada um e de
todos os integrantes do grupo lesado. Outros entendem que a legitimação é autônoma, pois,
exceto quando da defesa de interesses individuais homogêneos ou coletivos (em que os
substituídos são pessoas determináveis), nas demais hipóteses (interesses difusos), o grupo lesado
não é determinável e assim não se poderia operar substituição processual de pessoas
indetermináveis.
Nós temos, ainda, a doutrina falando que a legitimidade é ordinária, a da associação civil, porque
ela vai defender interesse próprio, estatutário e institucional, bem como do Estado que defende
interesse próprio. Quando a gente fala de uma ação civil pública ou para tutelar interesse difuso ou,
ainda, coletivo, a gente verifica que existem mais de um legitimado, porque às vezes essa
legitimação é ordinária, porque o Ministério Público defende direito alheio em nome próprio. Diante
disso, temos várias doutrinas e correntes sobre a legitimidade, alguns vão falar, inclusive, que a
legitimidade é autônoma, ou seja, a do Ministério Público está definida na lei como é dele, mas a
gente mostra que eles podem ajuizar sozinhos essa ação ou eles podem ajuizar em conjunto e isso
demonstra o que nós chamamos de legitimidade ativa disjuntiva, dentro da ação civil pública (a
legitimidade ativa disjuntiva diz respeito a esse parâmetro).
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros
fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.
→ Portanto, quando a gente fala do artigo 1º da lei de ação civil pública, a gente sabe que existem vários
interesses e bens jurídicos tutelados: o meio ambiente seria, a princípio, necessariamente direitos
difusos; o consumidor, por sua vez, poderia dizer respeito a interesses coletivos (indivisíveis, mas
permite a determinação de quem são os atingidos por aquele determinado fato ou dano) ou
individuais homogêneos (diz respeito a direitos individuais de umas pessoas vinculadas a uma causa de
pedir próxima, a uma causa de pedir remota, sendo possível, contudo, individualizar as pessoas,
demonstrando que os direitos são divisíveis e determináveis, mas têm uma relação jurídica base e que
dá origem a esse direito); já os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico e cultural, em geral, são, necessariamente, interesses difusos, porque eles são indivisíveis
33
(a gente não consegue dividir, por exemplo, de quem é uma parte do meio ambiente, o meio
ambiente é um bem de todos, da mesma forma que os bens de valores culturais ou patrimônio
cultural) e, assim, temos que o interesse difuso é indivisível e o seu titular é indeterminável; infração à
ordem econômica ou economia popular, ou seja, violações a regras de direito econômico geram
ensejo a ações civis públicas; ordem urbanística, se alguém desrespeita o plano diretor de construção
de um loteamento em um determinado município, cabe o ajuizamento da ação civil pública pelo
próprio município, pelo MP ou mesmo pela Defensoria Pública naquele município; e é muito comum o
ajuizamento de ações civis públicas para proteger patrimônios históricos, em função de violações, seja
porque não foi respeitada uma determinada normativa ou porque um determinado proprietário
começou a derrubada de um patrimônio histórico tombado pelo instituto do patrimônio cultural.
Exceção: pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, FGTS ou outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados
Não cabem ações civis públicas que envolvam matéria tributária, porque isso seria uma forma de
violar a eficácia do controle concentrado de constitucionalidade. Desse modo, para tributos não se
ajuíza ação civil pública, sendo este o sentido da jurisprudência dominante, apesar de existir uma ou
outra jurisprudência minoritária na linha de que cabe, também, para ações tributárias. Da mesma
forma, contribuições previdenciárias, que envolvem extra fiscalidade de contribuições sociais, bem
como ocorre com o FGTS, que também tem natureza de contribuição extra fiscal. Sempre que tiver
um fundo institucional, que não seja possível determinar os beneficiários, não vai ser possível ajuizar
ação civil pública, como por exemplo nessa ação que está tramitando no Supremo Tribunal Federal,
que é um recurso extraordinário e está verificando a constitucionalidade da lei do FGTS, para
verificar se o índice de correção monetária que foi aplicado ao FGTS está adequado.
Atenção! O artigo 81 do CDC fala o que são interesses difusos para efeitos do Código, bem como traz uma
definição do que seria interesses ou direitos coletivos e, ainda, individuais homogêneos.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo.
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível (ultrapassa aquele consumidor ou um consumidor) de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum
(proprietários de veículos corsa fabricados em 2011/2012, porque tiveram uma origem em comum referente ao
defeito de fabricação relacionado ao air bag).
4. Procedimento
Em conformidade com a Lei nº 7347/85, não houve criação de um procedimento especifico para a ação
civil pública, de modo que em princípio o seu processamento segue o rito do CPC/2015. Porém, há algumas
particularidades que afastam a aplicação do CDC, seguindo as peculiaridades da lei especial (THEODORO,
2017, p. 8146).
Portanto, quando a gente fala de procedimento, temos que se aplica o procedimento comum
do CPC, com especificidades da lei nº7347 (essa é a regra de procedimento especial).
34
- Competência: a ação civil pública deve ser ajuizada no local de ocorrência do dano (onde houve o dano)
O art. 2° da Lei nº 7347/85 dispõe que: “as ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde
ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa”.
→ Entretanto, há uma certa divergência no Poder Judiciário em relação a competência quando os
interesses que devem ser protegidos são de âmbito nacional, pois, nessa hipótese, o dano pode
ocorrer em qualquer unidade da federação e a decisão de uma comarca ou subseção judiciária
surtirá efeitos em todo o território nacional. Há jurisprudência sobre esse aspecto, onde a
tendência é fixar como foro competente aquele que proporcionar maior celeridade no julgamento,
de acordo com a facilidade de instrução processual.
Em regra, a competência para processar e julgar a ACP, fica por conta do foro em que ocorreu o dano (art.
2º, caput). Caso haja interesse da União, suas autarquias e empresas públicas passarão a competência para
a Justiça Federal (art. 109, inciso I, da CR/88), mesmo que no local do dano não possua Vara Federal.
Exceções existem, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para os casos em que
houver ACPs de objeto comum, tanto na Justiça comum, quanto na Federal, em que configurada a
continência entre elas, devem ser reunidas na Justiça Federal (Súmula 489 do STJ). Cabe também, para os
casos de danos ao consumidor em que a lesão tenha ocorrido em mais de uma comarca. Neste caso, caberá
ao foro da Capital do Estado ou Distrito Federal, ou até mesmo para os casos em que abrange mais de um
Estado. Assim, haverá concorrência dos foros da Capital Estadual e do Distrito Federal, definido como
“competências territoriaisconcorrentes” (THEODORO, 2017, p. 813).
Portanto, a ação civil pública deve correr no foro do local em que se deu o
dano (Lei nº 7.347/1985, art.2º). Havendo interesse da União, suas autarquias
e empresas públicas, a competência passará para a Justiça Federal (CF, art.109,
I), mesmo que no local da verificação do dano inexista vara da Justiça Federal.
Aula:
Sobre a competência, têm-se que a ação civil pública deve ser aplicada no local de ocorrência do dano (onde
houve o dano). O acidente da SAMARCO deixou danos em vários locais (deixou em Minas Gerais, no Espírito Santo,
na Bahia) e nesse caso em que tem mais de um local de dano, nós vamos ter uma regra de prevenção, ou seja,
aquela ação civil pública que for distribuída em primeiro lugar.
Agora, existem previsões do STJ, sumuladas na súmula nº489 que diz que quando tem vários locais de dano, ao
invés de ser de competência da Justiça Comum Estadual, é melhor que todas as ações sejam reunidas na Justiça
Comum Federal, porque o juiz federal tem competência em todo o território nacional e ao ter competência em
todo o território nacional, essa regra do artigo 16 da ação civil pública, que fala que a decisão só produz efeitos
onde o juiz prolator da decisão tiver a sua competência territorial, acaba sendo relativizada.
35
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator,
exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Nesse viés, é melhor processar a ação civil pública na Justiça Comum Federal por esses motivos. Então, se
prefere juntar todas as ações perante a Justiça Comum Federal e, assim, a competência para processar e julgar
ação civil pública fica a cargo do local onde ocorreu o dano e, se houver interesse da União, suas autarquias, etc.
essa competência será da justiça Comum Federal ou, mesmo, quando nós tivermos vários locais, em vários estados
diferentes, que tiveram aquele mesmo dano.
- Publicidade
Por se tratar de um procedimento especial em que a lei permite o litisconsórcio facultativo, faz-se necessária a
publicação de edital no órgão oficial, para a comunicação aos interessados
Além disso, disso, há previsão legal da possibilidade do ajuizamento da ação ser amplamente divulgado nos
meios de comunicação social, conforme dispõe o art. 94, do Código de Defesa do Consumidor (CDC):
“proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no
processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por
parte dos órgãos de defesa do consumidor” (BRASIL, 1990).
Com isso, extrai-se a importância de dar publicidade dos atos processuais que envolvam interesses
coletivos, de forma que se encontre acessível a todos que queiram e tenham interesse em seu
conteúdo, zelando, assim, pelo importante princípio constitucional da publicidade.
O princípio da publicidade tem previsão normativa no art. 37 da CR/88, determinando que os atos
da administração pública direta e indireta dos entes federativos sejam acessíveis a todos aqueles
que por eles se interessarem, exceto, para proteger a intimidade ou se o interesse social exigir.
Portanto, a ação civil pública ainda tem que ser precedida de ampla publicidade. Isso porque nós temos um
litisconsórcio facultativo na ação civil pública. Então, quando a gente tem essa possibilidade de litisconsórcio
passivo unitário, nós temos que o juiz da vara vai publicar um edital chamando toda a sociedade para intervir
nessa ação civil pública que costuma-se falar que seriam os demais legitimados, mas, de uma forma ou de
outra, em que se tem uma ação individual em curso, também pode ser admitida, como litisconsórcio
facultativo do legitimado ativo, aquele que tenha ação individual em curso. Esse meio de divulgação também
está previsto no CDC, no artigo 94.
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no
processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte
dos órgãos de defesa do consumidor.
Proposta a ação, vai ser publicado o edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no
processo como litisconsortes, sem prejuízo da ampla divulgação pelos meios de divulgação social, por parte dos
órgãos de defesa do consumidor.
Atenção! O ajuizamento de ação civil pública não gera litispendência com as ações individuais que já estejam
em curso, no entanto a coisa julgada pode sim gerar.
Assim como nas ações de procedimento comum, há possibilidade de concessão de liminar também na ACP,
portanto, poderá o autor requerer liminarmente a medida cautelar na própria ação principal, sem a
necessidade de propor ação cautelar ou incidental, baseado no dispositivo legal do art. 12 da LACP:
36
“poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”
(BRASIL, 1985).
Cumpre ressaltar que ela pode ser de natureza cautelar ou antecipatória, sendo a primeira de natureza
assecuratória, visando garantir a utilidade da futura tutela definitiva, buscada com o provimento final, sem
antecipar a seu efeito, enquanto a segunda, tem natureza satisfativa, pois, antecipa no todo ou em parte, os
efeitos do provimento final (MASSON; ANDRADE; ANDRADE, 2011, p. 1807).
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
OBS: Essa liminar satisfativa nada mais é do que uma tutela provisória de urgência antecipatória, porque existe
uma coincidência entre o pedido final e o pedido antecipatório de tutela provisória de urgência
Nota-se que para a concessão de liminar, pode ou não haver prévia justificação, resguardado o
direito de a parte interessada requerer a suspensão da execução por meio do agravo de
instrumento, desde que seja pessoa jurídica de direito público. Caso a suspensão seja deferida,
ocasião que só ocorrerá por meio de decisão fundamentada, caberá agravo interno para turmas
julgadoras, de acordo com o § 1º, do art. 12 da LACP.
Portanto, pode haver a justificação prévia, com a realização de audiência de justificação para instruir o
pedido de tutela provisória de urgência, o que é normal, porque já está previsto no artigo 300, §2º do CPC e é
possível a fixação de astreintes (multa) para cumprimento de tutelas específicas de obrigação. Então é
possível ajuizar e pedir, em ação civil pública, pedidos condenatórios; pedidos constitutivos; pedidos
declaratórios; pedidos auto executivos de obrigação de fazer, não fazer, inibir, entregar coisa certa ou incerta;
tutelas preventivas de ilícito (que o professor Marinoni gosta muito de classificar como sendo pedidos
comuns em ações civis públicas) – tudo isso pode ser pleiteado nesse tipo de ação.
37
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
Caso concedida a cominação de multa liminarmente, o autor só poderá exigi-la do réu após o trânsito em
julgado da decisão que lhe foi favorável, ressaltando que será devida a partir do momento em que
houver configurado o descumprimento, conforme § 2º, do art. 12 LACP (BRASIL, 1985).
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a
agravo.
§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do
respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma
das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável
ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.
Caso haja condenação em dinheiro, o art. 13 da LACP determina que “[...] a indenização pelo dano causado
reverterá a um fundo gerido por Conselho Federal ou Conselhos Estaduais comparticipação do Ministério
Público e representantes da comunidade, a ser utilizado para a reconstituição dos bens lesados”. Ressalta-se
que a condenação na ACP pode ocorrer tanto em dinheiro, quanto em obrigação de fazer ou não fazer,
conforme estabelece o art. 3º da LACP.
→ Portanto, o artigo 13 da lei de ação civil pública prevê um Fundo Geral que vai receber o dinheiro
decorrente das indenizações coletivas. Esse Fundo vai ser gerido por Conselhos Federais e Estaduais, com
a participação do Ministério Público e ele vai, a princípio, reconstituir os bens lesados, mas não há uma
vinculação do dinheiro àquele determinado dano. O Fundo tem um grande volume de recursos, esse
Fundo existe e para que tenhamos acesso a ele, basta o preenchimento de um requerimento com os
requisitos fundamentais, para que se passe a ter acesso àquela destinação de recursos, porque esses
Fundos vão recebendo dinheiro de todas as ações civis públicas que vão sendo ajuizadas.
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por
um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e
representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.
§1º. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de
crédito, em conta com correção monetária.
§2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica nos
termos do disposto no art. 1º desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata o
caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional de
Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade
Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou local, respectivamente.
38
Com isso, conforme já mencionado anteriormente, a maioria dos doutrinadores entendem ser a
condenação em obrigação de fazer ou não fazer mais eficaz, pois o importante é a reparação do dano e não a
prestação pecuniária.
→ Como pensa Theodoro (2017, p. 816), a regra para os direitos difusos, é a reparação in natura, ou seja,
utilizar meio tendentes a eliminar o dano causado aos bens da comunidade, buscando pela
condenação a uma indenização somente nos casos em que o dano for irreversível.
→ Portanto, para os casos em que seja possível uma condenação por uma obrigação de fazer ou não
fazer, percebe a efetiva prestação da tutela jurisdicional, pois atendeu ao clamor em prol da sociedade
antes da efetivação do dano, enquanto que a prestação pecuniária ocorrerá em última hipótese,
quando não for mais possível a adoção de medidas passíveis de reverter o dano. Essa medida é
importante, na medida em que é utilizada como forma de frear o causador do dano a continuar suas
condutas que prejudicam uma comunidade, pois na maioria das vezes o dano causado traz prejuízos
que são insubstituíveis pelo dinheiro.
Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, com efeito erga omnes, o MP promoverá a
execução, facultado também aos demais legitimados que a promova, caso o autor permaneça inerte por
60 dias (Art. 15 da LACP).
→ Caso o pedido seja julgado improcedente por insuficiência de provas, facultado a qualquer
legitimado propor uma nova ação baseada no mesmo objetivo litigioso, ao qual se valerá de novas
provas.
Portanto, e o juiz julgar improcedente o pedido da ação civil pública, automaticamente, por
ausência de provas, isso não impede a renovação. Então a coisa julgada material, quando a
sentença de improcedência do pedido sem ausência de provas não produz efeitos exógenos, ou
seja, inova a relação jurídica processual.
OBS: Coisa julgada iutilidos: é a coisa julgada que beneficia toda a sociedade, que se estende a toda a sociedade e
essa coisa julgada está classificada no artigo 103 do CDC:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas (coisa julgada
secundum eventus litis), hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de
provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art.
81;
Como o processo é coletivo, ele beneficia a todos nós. Uma vez Magno ajuizou uma ação individual para um
portador de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) para conseguir o fornecimento de um medicamento que
se chama seretide, que é uma bombinha. Esse medicamento é muito caro. Quando Magno ajuizou a ação, veio o
Ministério Público, emitindo parecer inicial, falando que já havia tido ação civil pública que foi julgada procedente
para a concessão desse medicamento, de modo que Magno não precisaria mais dessa ação auto executiva
individual, podendo ele, simplesmente, pegar cópia da sentença da ação civil pública coletiva e promover a
execução individual dessa sentença coletiva. Após o trânsito em julgado, com efeito erga omnes, o Ministério
Público promoverá a execução da parcela coletiva e facultará, aos demais legitimados, que promova, caso o autor
permaneça inerte por sessenta dias. Então é, simplesmente, ajuizar a liquidação da sentença e, depois, a execução
individual e foi isso que o promotor falou para Magno no caso citado. Diante disso, quando a gente fala de
determinado grupo, categoria ou classe, todos os portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica que é o
exemplo dado.
39
Também não produz efeitos ultra partes, entretanto, se for julgado improcedente por insuficiência de provas.
Então a coisa julgada secundum eventus litis também não produz efeitos ultra partes e, assim, só beneficia as
partes no caso de procedência do pedido.
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores
(coisa julgada in utilibus), na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos
integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
O ajuizamento de ação civil pública não prejudica o ajuizamento de ações individuais, então não há
litispendência por isso e é justamente isso que fala esse §1º (a interpretação do §1º está vinculada a essa
hipótese).
§2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem
intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
Se houver improcedência do pedido, ainda assim os interessados que não interviram como litisconsortes,
depois daquela publicação de edital, eles poderão ajuizar ação individual.
§3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho
de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente
ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Cuidado! O artigo 16 foi reptado parcialmente inconstitucional pelo STF.
§4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
A gente sabe que a sentença penal condenatória é título executivo judicial, a autorizar a propositura de
liquidação pelo procedimento comum, que é o que nós chamamos de ação cível ex delicto.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem
litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem
os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua
suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Caso o pedido seja julgado improcedente por insuficiência de provas, é facultado a qualquer legitimado propor
uma novação baseada no mesmo objetivo litigioso, ao qual se valerá de novas provas.
- Quanto às custas e honorários processuais, a lei determina sua exigia somente para os casos que for
comprovada má fé, devendo a condenação perfazer em custas, honorários e despesas processuais, conforme
expõe o art. 18 da LACP.
→ Não se aplica condenações em custas e honorários ao autor da ação civil pública, salvo se ficar
comprovada a má-fé. Então se o autor ajuíza ação civil pública e perde, se não ficar comprovada a
litigância de má-fé dentro do processo, ele não vai ser condenado em custas processuais e honorários
advocatícios, em função do princípio da sucumbência.
- A sentença de procedência do pedido coletiva, que reconheça a condenação genérica, deve estar sujeita à
liquidação individual, antes da execução, porque só cabe cumprimento de sentença depois que o título executivo
for líquido, certo e exigível.
- Finalmente, deve ser apresentado o que é TAC (Termo de Ajustamento de Condutas). Os legitimados para a ação
civil pública podem assinar Termos de Ajustamento de Condutas com os causadores dos danos (aqueles
patrimônios e bens jurídicos tutelados) a qualquer tempo, seja antes de ele ajuizar a ação civil pública, aí o TAC vai
40
ser um título executivo extrajudicial ou depois do ajuizamento da ação civil pública. Se esse Termo de Ajustamento
de Conduta é homologado pelo juiz, ele passa a ser o que nós chamamos de título executivo judicial, a autorizar o
que nós chamamos de cumprimento de sentença. É obrigatório que o TAC preencha os requisitos do artigo 583 do
CPC para autorizar a futura execução, ou seja, que ele tenha obrigação certa (que não exista dúvida ou
controvérsia sobre a obrigação constante no TAC), líquida (que exista determinação da natureza da obrigação ou
da quantia devida, que é o quantum debeatur) e exigível (que a obrigação constante no título executivo não esteja
constante de termo ou de condição).
41
Perguntas
Quais ações tramitam em 1ª instância? A ação civil pública tramita em 1º grau e a ação popular também. Se
Magno ajuizar, hoje, uma ação em face do nosso Presidente da República (Jair Bolsonaro), essa ação vai tramitar
em 1º grau de jurisdição, independentemente do foro de prerrogativa de função que o Bolsonaro possui. Desse
modo, ação popular é sempre ajuizada em 1º grau de jurisdição.
O que é demonstrar pertinência temática? Os governadores de estado podem ajuizar ações de controle
concentrado de constitucionalidade, mas para isso ele tem que demonstrar que a lei federal, que é arguida como
inconstitucional por determinado Estado-membro, atinge os interesses daquele Estado-membro. Quando a gente
fala de pertinência temática em matéria de ação civil pública, nós estaríamos mostrando que um determinado ato
ou um determinado dano coletivo atinge os interesses de uma autarquia federal ou de uma autarquia estadual. A
pertinência temática, além disso, está vinculada a uma condição de ação, que é o interesse processual ou interesse
de agir. Então é preciso demonstrar, dentro de um binômio utilidade e necessidade, que o direito da parte só
possa ser tutelado mediante intervenção ou ajuizamento daquela demanda – isso é interesse processual, uma das
condições de ação dentro da teoria eclética de Liebman.
42
43