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Jurisdição e Competência
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA:
ASPECTOS GERAIS:
Chamo a atenção, desde já, ao princípio processual penal mais importante de ser
mencionado dentro da matéria competência: princípio do Juiz Natural. Trata-se de uma
garantia do réu de ser julgado por um juiz previamente designado para casos daquela estirpe.
Proibido está em nosso ordenamento os chamados Juízos/Tribunais de Exceção, dando
assim ao réu uma garantia de imparcialidade por parte do Poder Judiciário. Esse princípio
tem previsão constitucional (art. 5º, XXXVII, e LIII, da CF/88). Aliás, essa proibição dos
Juízos/Tribunais de exceção é a primeira regra básica que deflui do princípio em comento. As
duas outras regras são: a) só podem ser dotados de jurisdição aqueles que previamente
forem autorizados pela CF/88; b) dentre os juízes, há uma regra taxativa de competência,
muitas das vezes efetivada pela distribuição.
Pergunta que costumeiramente é feita dentro desta parte da matéria é sobre consistirem ou
nãos, as Justiças Especiais (Militar/Eleitoral), Juízos de exceção. Obviamente que a resposta
deve ser negativa. Inicialmente, a competência designada para essas Justiças é prévia, antes
do fato. Além disso, a própria CF/88 dita a competência dessas Justiças, contrapondo a
proibição dos Juízos de Exceção.
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Inicialmente, é de bom tom definirmos que a lei que altera competência tem conteúdo de
direito processual, razão pela qual sua incidência deve ser imediata, sem se preocupar com
eventual prejuízo ao réu. Convém também advertimos que, não raras vezes, a lei que altera a
competência poderá se caracterizar como norma heterotópica, ou seja, ter conteúdo
processual mas estar contida em diploma material, situação que não muda a sua
aplicabilidade imediata.
A fim de exemplificar, cito o caso do crime doloso contra a vida praticado por militar, no
exercício de suas funções, contra civil. O CPM previa a competência da Justiça Militar para
julgar tal delito. No entanto, a Lei 9.299/96 (Lei Rambo) alterou o art. 9º do CPM,
disciplinando que a competência para apreciar essas demandas seria da Justiça Comum
(Tribunal do Júri). À época, o STF (HC 76510) disciplinou que apenas os casos ainda não
sentenciados seriam endereçados à Justiça Comum. Assim, os casos que já estavam com
sentença de mérito na Justiça Militar permaneceram naquela Justiça. Isso porque, caso
tivéssemos recursos das eventuais sentenças, já na Justiça Comum, o TJ (2º grau de
jurisdição da Justiça Comum), deliberaria sobre uma decisão já proferida pela 1ª instância da
Justiça Militar, órgão que, em tese, não lhe é subordinado, não lhe compõe. Assim, pela ótica
do STF, havendo sentença de mérito, a lei que altera a competência não terá aplicação
imediata, salvo se o novo órgão julgador tiver jurisdição hierárquica superior ao juízo prolator
da sentença. Não havendo sentença de mérito, a lei terá aplicação imediata.
Não obstante, é preciso muito cuidado ao se abordar o tema que, com certeza, gera inúmeras
incertezas no universo jurídico. Vamos a um exemplo?
No dia 16/10/17 passou a viger a Lei nº 13.491, que alterou de forma significativa o conceito
de crimes militares. Antes da aludida legislação, os crimes militares se resumiam àqueles que
estavam previstos no CPM. Com a alteração, para além dos crimes previstos no CPM, serão
considerados crimes militares (obviamente se houver enquadramento nas exigências contidas
na Lei) os crimes previstos na Legislação Penal Especial também. Com efeito,
exemplificando, o crime de abuso de autoridade que antes era de competência da Justiça
Comum, tornou-se competência da Justiça Militar. O grande problema está nos processos em
curso. Assim, imagine que um militar tenha perpetrado um abuso de autoridade e, por via
reflexa, estava sendo processado perante o Juizado Especial Criminal. Com a vigência da Lei
nº 13.491/17, como vimos, o crime passou a ser competência da Justiça Castrense. Como
vimos, também, as normas que alterem a competência devem ser aplicadas imediatamente.
Assim, correto enviar os autos à Justiça Militar? Embora a melhor técnica nos diga que sim,
neste caso específico pensamos que o processo deveria permanecer no Juizado Especial
Criminal. Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo (os da antiga legislação),
passível de vários benefícios previstos na Lei nº 9.099/95, benefícios esses que não podem
ser aplicados na Justiça Militar (art. 90-A da Lei 9.099/95). A aplicação imediata da Lei
13.491/17, neste caso especifico, traria um prejuízo de direto material considerável ao
acusado, o que não se poderia admitir. Tal como o exemplo acima, várias outras situações
práticas poderão ser contextualizadas na alteração em comento, conquanto, por exemplo, o
CPM não prevê pena restritiva de direitos. Assim, qualquer crime que esteja correndo perante
o Juízo comum, passível de pena restritiva de direitos, não poderá ser endereçado
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imediatamente à Justiça Militar, conquanto o CPM não prevê tal pena. Ou, se for o caso,
deverá ser endereçado, mas a Justiça Militar teria que se valer do CPB para aplicar o
benefício ao acusado.
Essa prática é legítima? Sim. Há, inclusive, previsão legal para tanto – art. 118 da LC/79 (Lei
Orgânica da Magistratura).
Não obstante, para que não haja colisão com o princípio do juiz natural, mister se faz que o
Juiz a ser convocado seja conhecido preteritamente, ou seja, antes mesmo da eventual
possibilidade de convocação, por meio de critérios objetivos.
Qual o critério a ser utilizado na escolha do Juiz que irá substituir o Desembargador? O STF,
no julgamento da ADI 1481, decidiu que o critério a ser usado é o previsto na LC/79: voto da
maioria dos Desembargadores do Tribunal ou, havendo Órgão especial no Tribunal, por
maioria dos membros deste. Essa ADI foi movida contra o Regimento Interno do TJ/ES, que
previa a possibilidade do Desembargador substituído indicar o Juiz que o substituiria. Saliento
que essa forma de distribuição deliberada pelo STF não impede, de certa forma, o Juiz de
exceção, já que um caso de grande importância submetido ao crivo de um Desembargador
pode facilmente ser analisado por um Juiz (que substitui o Desembargador) mais ou menos
enérgico, dependendo essa escolha apenas da maioria dos componentes do Tribunal (ou de
seu órgão especial). Acredito que o sistema adotado pela Lei de Organizações Criminosas
(Lei 12.694/12) seja aquele mais eficiente em garantir a inexistência do Juiz de exceção. A
aludida legislação prevê, em seu artigo 1º, § 2º, que algumas decisões contrárias ao réu
processado por crime de organização criminosa sejam assinadas por 03 Juízes: o natural do
caso, e dois outros escolhidos através de sorteio eletrônico dentre todos os Juízes criminais
atuantes na 1ª instância.
Outro ponto importante foi objeto de análise pelo STF, no HC nº 96821. É legítima a decisão
de Turma ou Câmara do Tribunal, em que a maioria dos membros seja formada por Juízes
convocados. No entanto, cuidado. O STJ, julgando o HC nº 88739, decidiu que, em casos de
competência originária, quando o regimento interno exigir fração de Desembargadores para a
deliberação, os Juízes convocados não podem ser incluídos para a formação da fração
exigida. No caso, o TJBA julgava em Promotor de Justiça. Segundo o RI daquele Tribunal, o
julgamento deveria se dar com a presença de 2/3 dos membros. Como são 30
Desembargadores no TJBA, 20 ao menos deveriam estar presentes. Pois bem: no dia do
julgamento, haviam 16 desembargadores, e 07 Juízes convocados.
Por fim, indaga-se: o Juiz convocado terá direito ao foro por prerrogativa de função a que o
Desembargador tem direito? A resposta é não. Assim, o Juiz convocado, caso pratique
infração penal, será julgado perante o TJ a que está vinculado, e não perante o STJ, foro este
garantido apenas aos Desembargadores.
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ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA:
a) Por fase do processo: Melhor exemplo diz respeito ao procedimento do Júri, que é
dividido em duas fases distintas: a fase de acusação, e a fase de plenário. Poderíamos
apontar, também, a situação em que a fase de conhecimento é apreciada por um
magistrado, e a fase de execução, por outro.
b) Por objeto do Juízo: Ainda sobre o procedimento do Júri, na fase de plenário, o Juiz
julga o direito (fixação de pena, por exemplo), enquanto os jurados julgam os fatos
(condenam ou absolvem). Outro exemplo é a repartição de competência dentro das
Comarcas (Juiz da 1ª Vara julga tráfico, o da 2ª homicídios, por exemplo).
c) Grau de jurisdição: Competência relacionada entre as instâncias. Trata-se de forma
vertical de competência, enquanto das duas primeiras, horizontal.
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Diz o artigo 567 do CPP ensina que a incompetência do Juízo anula apenas os atos
decisórios já praticados no processo. Esse artigo já foi objeto de interpretações doutrinárias e
jurisprudências:
Por força desse princípio, sendo declarada a incompetência, os atos instrutórios deverão ser
refeitos pelo Juiz competente, pois, se assim não fosse, ele não poderia sentenciar aquele
processo.
A grande discussão fica para a incompetência relativa. Nos termos da súmula 33 do STJ, a
incompetência relativa não pode ser reconhecida de ofício. Essa súmula foi aplicada pelo STJ
nos julgamentos dos HC 95722 e 51101. Não obstante, a doutrina está inclinada no sentido
de que essa súmula serve apenas para demandas cíveis, e não pode ser usada em
demandas criminais. Nessa linha, cito, por exemplo, RENATO BRASILEIRO e EUGENIO
PACCELI. Para esses dois doutrinadores, a incompetência relativa pode ser suscitada de
ofício pelo Magistrado, sobretudo porque ele também tem interesse na produção probatória
do processo penal, em face do princípio da busca da verdade (ou verdade real). E, para os
doutrinadores em comento, como a incompetência relativa pode ser prorrogada, somente
poderia ser suscitada pelo Magistrado até o início da instrução processual. A partir de então,
por força do princípio do Juiz natural, não mais poderia ser suscitada a incompetência relativa
de ofício.
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Trata-se de ponto crucial no nosso estudo. O art. 69 do CPP estabelece que a competência
será determinada: I – pelo lugar da infração; II – o domicílio ou residência do réu; III – a
natureza da infração; IV – a distribuição; V – a conexão ou a continência; VI – a prevenção;
VII – a prerrogativa de função.
A ordem disciplinada no artigo supracitado não é a mais adequada para se fixar a real
competência dos mais variados casos que podem ser postos à análise do julgador. Por
exemplo, caso um Juiz pratique um crime, o local da infração não será a primeira regra que
deverá ser analisada, tampouco o domicílio do réu. No caso, a primeira regra a ser
esmiuçada será a prerrogativa de função que, pelo artigo, está em último lugar.
Assim, com o escopo de facilitar a compreensão do tema, estabeleceremos uma outra ordem,
que poder certo trará ao aluno uma visão mais simples das regras de fixação de competência.
As perguntas, em ordem, que devem ser feitas pelo aluno são:
Aqui se analisa a competência em razão da matéria. Vale dizer que é de acordo com a
matéria tratada que o Magistrado terá ou não competência para apreciar determinada
demanda.
O Processo Penal brasileiro está dividido da seguinte forma, no que se refere às Justiças
competentes:
Assim, o primeiro passo para que se fixe a competência, é saber, em razão da matéria, qual a
Justiça terá competência.
A questão aqui é resolvida pelo critério residual. Não sendo competência de Justiça Especial,
será sempre da Justiça Comum.
a) JUSTIÇA ESPECIAL MILITAR: Divide-se Justiça Militar da União (art. 124 da CF), e
Justiça Militar dos Estados (art. 125 da CF).
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A Justiça Militar da União é competente para julgar os militares das forças armadas
(exército, marinha e aeronáutica), com atuação em todo o território nacional. Está constituída
do seguinte modo:
A competência desta Justiça está no art. 124 da CF/88. Tal dispositivo menciona “crimes
militares definidos em lei”. Os crimes militares estão definidos no artigo 9º do Código Penal
Militar (Decreto-Lei 1001/69).
A Justiça Militar da União não tem qualquer critério restritivo em relação à pessoa do
acusado. Assim, tem competência para julgar, nos crimes militares, os militares e os
civis.
CUIDADO: o art. 9º do CPM sofreu importantes alterações pela Lei 13.491/17. Inicialmente,
importante a nova redação do inciso II. Antigamente, somente eram considerados crimes
militares os previstos no CPM. Assim, por exemplo, abuso de autoridade, lavagem de
capitais, crimes contra o processo licitatório, não podiam ser considerados crimes militares.
Não obstante, com a alteração sofrida, o inciso II do art. 9º do CPM passou a prever como
crimes militares os definidos no próprio CPM, e os previstos na legislação penal especial.
Crimes previstos em leis especiais, no contexto de crimes militares (por exemplo, contra
entidade militar, ou praticado por militar contra civil no exercício funcional), serão
considerados crimes militares e, por via de consequência, de competência da Justiça Militar.
Como acima dito, a Justiça Militar da União tem competência para julgar civis que porventura
praticarem crimes militares. No entanto, é bom acompanharmos o andamento da ADPF 289,
que tramita no STF. Essa ação tem por escopo justamente suprimir da Justiça Militar da
União a competência para julgar civis. Há também a ADI 5032 em tramitação, tendo por
escopo restringir a competência da Justiça Militar da União para julgar civis apenas quando a
conduta do agente atentar contra a manutenção da Lei e da Ordem, ou quando for algo que
vise efetivamente atingir a instituição militar.
Um exemplo trazido pela doutrina é a do militar que, fardado, usando arma militar, residindo
numa “vila militar”, lesione a esposa e o amante desta, após flagrá-los. Outro exemplo
constante nos julgados adiante é do acidente de trânsito envolvendo militar, seja como vítima
seja como autor do delito, caso não esteja no exercício de suas funções. Na verdade, ainda
que esteja, deve ser analisado se há interesse militar na situação. A tendência jurisprudencial
é que seja um julgamento afeto à Justiça Comum, porque o delito não foi praticado em razão
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do ofício de militar, não havendo, pois, interesse militar. Cito, para análise, os HC 118846,
81963, e 86216, todos do STF, em que foi decidida por uma relativização da competência da
Justiça Militar.
Por sua vez, a Justiça Militar Estadual tem competência enraizada no art. 125, § 4º, da CF.
Assim como a Justiça Militar Federal, o conceito de crime militar para a Justiça Militar
Estadual está no art. 9º do CPM. Também de igual modo, a tendência jurisprudencial e
doutrinária é restringir, atualmente, o alcance da Justiça Castrense, aos crimes em que haja
interesse militar. Isso porque a atuação da Justiça Militar deve ser excepcional, somente em
casos de efetiva violação de dever militar ou afetação direta de bens jurídicos militares.
Assim, também é uma questão de ser analisada caso a caso, o que gera uma grande
oscilação em decisões que envolvem o tema.
Uma diferença crucial existente entre a Justiça Militar Federal e a Estadual é sobre a
possibilidade julgamento de um civil. A Constituição adotou um critério subjetivo-objetivo para
o caso. Assim, para ser de competência da Justiça Militar Estadual, temos que ter um crime
militar praticado por um militar estadual. É o que extraímos da Súmula 53 do STJ. Não
há competência para o julgamento de civis. Vejam que o art. 125, § 4º, da CF, fala que o
crime militar deve ser praticado por militar. Essa exigência não consta do art. 124 da CF, que
traz a competência da Justiça Militar da União. Em resumo, a Justiça Militar da União tem sua
competência determinada exclusivamente em razão da matéria (crimes militares), ao passo
que a Justiça Militar dos Estados tem sua competência delimitada em razão da matéria
(crimes militares) e em razão da pessoa (não pode ser civil).
Outro ponto de relevo é que a Justiça Militar Estadual tem competência civil para julgar as
ações judiciais contra atos disciplinares – art. 125, § 4º, da CF/88. Cuidado, porém, não haver
competência da Justiça Militar Estadual para julgamento de ações de improbidade
administrativa.
A Justiça Militar Estadual é composta, em primeiro grau, por um Juiz de Direito Estadual, e
por Conselhos de Justiça. Aqui é necessário cuidado: sendo o crime praticado por militar
estadual contra civil, a competência será singular do Juiz de Direito. Não tendo o crime sido
praticado contra civil, a competência será do Conselho de Justiça Permanente, no caso “dos
praças”, ou Especial, no caso dos oficiais.
Em segundo grau, competente será o Tribunal de Justiça dos Estados, salvo nos estados em
que houver Tribunal de Justiça Militar (somente em SP, RS e MG).
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Deve ser considerado, para fins de competência, o momento do fato. Assim, ainda que o
militar seja excluído dos quadros da corporação, tendo a conduta sido praticada quando ele
era militar, a competência da Justiça Castrense continua.
Destaca-se também a situação do policial militar que comete um crime doloso contra a vida
de um civil, mesmo que no exercício de suas funções. A regra era de que o julgamento
ocorreria perante o Tribunal Popular do Júri, na Justiça Comum Estadual/Federal. Muito
embora a conduta dolosa contra a vida seja considerada crime militar (previsto pelo CPM), o
art. 9º do CPM deslocou a competência para o Tribunal do Júri, com a intenção de subtrair do
julgamento da Justiça Especial. Há, porém, uma exceção: quando o militar praticar crime
doloso contra a vida de civil, nas situações do art. 303 da Lei 7.565/86 (tiro de abate), a
competência será da Justiça Especial. Assim, apenas quando o crime doloso for praticado por
militar contra militar é que a competência será da Justiça Militar. Ocorre que o dispositivo
sofreu também uma valorosa alteração pela Lei 13.491/17. Com efeito, o art. 9º, § 2º, do
CPM trouxe, para os militares das forças armadas, novas regras. Agora, militar das forças
armadas que cometa crime doloso contra a vida de civil, no exercício funcional, será julgado
pela Justiça Militar, caso a conduta se enquadre em uma das situações contempladas nos
incisos I, II e III. Na verdade, tendo em vista a amplitude das hipóteses, dificilmente um crime
doloso contra a vida de civil perpetrado por militar das forças armadas no exercício funcional
será de competência da Justiça Comum, a partir da alteração legislativa. CUIDADO: sendo
militar estadual, a situação permanece: crime doloso contra a vida perpetrado contra civil, no
exercício funcional, é de competência do Júri.
a) Diferenciação entre crime militar próprio / impróprio: crime militar próprio é aquele que
somente pode ser praticado por militar. Assim, caso a conduta seja praticada por um
civil, o fato será atípico. Exemplos: deserção e abandono de posto. O crime militar
impróprio é aquele que pode ser praticado pelo militar, mas que, caso a conduta seja
praticada por um civil, também será crime. Exemplos: furto e lesão corporal.
b) Súmula 90 do STJ: havendo conexão entre crime militar e crime comum, haverá
separação de julgamento – art. 79, I, do CPP.
c) Súmula 47 do STJ: ultrapassada. A Lei 9.299/96 suprimiu do Código Penal Militar o
dispositivo que dizia ser crime militar aquele praticado com a arma da corporação,
ausentes outras condições que justificassem a competência da Justiça Militar.
A Justiça Eleitoral tem uma competência criminal relativamente simples. Julga, a Justiça
Eleitoral, os crimes eleitorais. Os crimes eleitorais estão previstos no Código Eleitoral, mas
também existem crimes eleitorais previstos em legislações esparsas, algumas delas,
inclusive, temporárias, ou seja, vigentes no curso de uma ou outra eleição.
O mais importante a se saber sobre a competência criminal da Justiça Eleitoral está nas
situações em que ocorrer conexão ou continência. Isso porque, nos termos do artigo 78, IV,
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do CPP, havendo infração eleitoral conexa com uma infração comum, prevalecerá a
competência da Justiça Especial (eleitoral). Veja que essa regra é totalmente antagônica
àquela que vimos em relação à conexão e a Justiça Militar, em que necessariamente deverá
haver separação de julgamentos (Súmula 90 do STJ e art. 79, I, do CPP).
Assim, caso um crime de furto seja perpetrado, onde o produto do crime seja empregado em
corrupção eleitoral, por exemplo, os dois crimes serão julgados pela Justiça Eleitoral, em face
da regra contida no art. 78, IV, do CPP.
CUIDADO: Percebam que o dispositivo que autoriza essa junção de julgamento na Justiça
Eleitoral é um dispositivo legal (Lei Ordinária, ou seja, o art. 78 do CPP). Isso implica dizer
que, quando o crime não eleitoral tiver competência fixada na CF/88, deverá haver separação
de julgamentos. Os exemplos mais claros são: crime eleitoral conexo com crime doloso
contra a vida, e crime eleitoral conexo com crime de competência da Justiça Federal. Como a
competência para julgamentos dos crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII, d, CF) e a
competência da Justiça Federal (art. 109 da CF) possuem repouso constitucional, não podem
ser afastadas pela regra processual penal contida no art. 78, IV, do CPP. A despeito desse
raciocínio, o STF (Inq. 4435, 14/03/19), vem compreendendo que a Justiça Eleitoral atrai a
competência da Justiça Comum Federal. Para tanto, vale-se do argumento de que o art. 109,
I, da CF, ressalva a competência da Justiça Eleitoral frente a competência da Justiça Federal.
O mesmo raciocínio deve ser usado, por exemplo, quando ocorre o concurso de agentes
(continência), em que um dos autores possui foro por prerrogativa de função. Imaginem:
JOSÉ, Promotor de Justiça, junto de MARIA, sem qualquer foro por prerrogativa de função,
cometem um crime eleitoral. Como JOSÉ tem foro por prerrogativa de função, a regra gera de
que deverá haver julgamento simultâneo (art. 77, I, do CPP) não será aplicada. Isso porque,
tanto a prerrogativa de função como a Justiça Eleitoral possuem competência constitucional,
e não podem ser afastadas pela regra processual penal acima citada.
No primeiro grau de jurisdição a Justiça Eleitoral é composta pelos juízes eleitorais, que são,
na verdade, juízes estaduais investidos temporariamente dessa função. Já em segundo grau
estão os Tribunais Regionais Eleitorais, e, em última instância, o Tribunal Superior Eleitoral.
A questão foi consolidada quando do julgamento da ADI nº 3684 por parte do STF. Decidiu o
Supremo que a Justiça do Trabalho não tem competência criminal. A expressão “Habeas
Corpus” contida no art. 114 da CF/88 era voltada à hipótese de prisão civil no caso de
depositário infiel. (relembrando que o STF, no julgamento do RE 466343, acabou com a
prisão civil neste caso).
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A Constituição Federal prevê, em seu artigo 109, notadamente nos incisos IV a XI, a
competência da Justiça Federal no que se refere à matéria a ser apreciada.
As atribuições da PF estão no art. 144, §1º, I, da CF. Vejam que, além de apurar os crimes
políticos, e os crimes contra bens, serviços, ou de interesse da União, a PF tem atribuições
para apurar também infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme.
A Justiça Federal, por sua vez, tem competência apenas para processar e julgar os crimes
políticos, e os crimes perpetrados em desfavor de bens, serviços ou de interesse da União.
No que se refere ao interesse da União, vale dizer que a competência da Justiça Federal
somente será fixada se for um interesse direto. Vale a pena, por exemplo, analisar o
conteúdo da Súmula 107 do STJ, que retrata um exemplo de interesse indireto da União,
razão pela qual a competência será da Justiça Estadual.
Separamos algumas situações que constantemente ocorrem no dia a dia, e que já foram
objeto de concursos públicos, acerca dos crimes praticados contra bens, serviços e de
interesse da União. Vejamos:
que um cidadão detém na Caixa Econômica Federal aqui de Colatina-ES, competente será a
Justiça Federal desta nossa cidade.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) é uma empresa pública federal. Isso
leve à conclusão de que os crimes contra ela praticados são de competência da Justiça
Federal. No entanto, algumas ponderações merecem ser feitas.
A maiorias das agências dos Correios são empresas privadas, que funcionam sob o regime
de franquias. Nesse caso, crimes porventura perpetrados contra elas serão de competência
da Justiça Estadual. Apenas quando a agência roubada for uma daquelas geridas pelas
União é que a competência será da Justiça Federal. Sobre esse tema, confiram, no STJ, o
CC nº 122596 e o HC 39200.
Sendo agência comunitária, constituída sob convênio entre a empresa pública e a Prefeitura,
a competência será da Justiça Federal. Vejam o CC 122.596, no STJ.
Finalmente, sendo o crime perpetrado contra banco postal instalado nas dependências da
empresa pública, a competência será da Justiça Estadual. Vejam o CC 129804, STJ.
O STF, quando julgou a ADI nº 3026, deu à OAB uma natureza jurídica diferenciada. Em
suma, a OAB goza das prerrogativas das autarquias públicas federais, mas não tem as
obrigações que elas possuem. Assim, crimes contra a OAB deverão ser julgados pela Justiça
Federal. Um exemplo relativamente comum é o crime descrito no art. 205 do CPB. Sobre o
tema, confiram a Apelação nº 8987, julgada pelo TRF da 4ª Região.
O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista. Sendo assim, os crimes porventura
praticados contra ele serão da competência da Justiça Estadual. Nesse sentido, vejam a
Súmula nº 42 do STJ.
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h) Falsificação de moeda:
A emissão de moeda é de competência da União (art. 21, VII, da CF). Por via de
consequência, a falsificação de moeda é de competência da Justiça Federal. No entanto,
caso a falsificação seja grosseira, passível de ser facilmente revelada mesmo por quem não
tenha qualquer capacitação para tanto, a competência será da Justiça Estadual. Sobre isso,
vejam a Súmula nº 73 do STJ.
O crime de falso testemunho praticado perante uma das Justiças Especiais (Militar, Eleitoral e
Trabalhista) será de competência da Justiça Federal. Basta pensarmos que a Justiça
Trabalhista não tem competência criminal, e que as Justiça Militar e Eleitoral julgam apenas
crimes militares e eleitorais, dentre os quais não entra o falso testemunho. Sobre o tema, vale
a aplicação da Súmula nº 165 do STJ, ainda que por analogia.
Os crimes praticados contra funcionário público federal, ou por funcionário público federal,
somente serão de competência da Justiça Federal se forem relacionados à função exercida,
ainda que o funcionário, no momento do delito, não a esteja exercendo. Essa é a orientação
da Súmula 147 do STJ, bem como era a orientação do extinto TFR (Súmula 254), que ainda,
doutrinariamente, é reconhecida.
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Do mesmo modo, caso um funcionário público federal peça indevida vantagem, durante o
trabalho ou fora dele (mas em razão dele) a competência será da Justiça Federal. Caso
cometa um crime que não guarde relação com sua função (roubo, embriaguez ao volante), a
competência será da Justiça Estadual.
Destaco desde já que a Súmula 91 do STJ foi cancelada, e um dos motivos foi o julgamento
do CC nº 88013, STJ. Assim, a competência para julgar crime contra o meio ambiente
somente será de competência da Justiça Federal se for praticado contra bens da União
(recursos minerais, art. 20, VI e IX da CF, por exemplo) ou em áreas pertencentes à União
(art. 20, III, da CF, por exemplo).
l) Falsificação de documentos:
Terá competência para processar e julgar a falsificação de documento o ente federativo que o
tiver emitido. Assim, por exemplo, a falsificação de CNH será de competência da Justiça
estadual, visto que emitida pelo Detran. A falsificação de CPF será julgada pela Justiça
Federal, visto que emitido pela Receita Federal. Esse entendimento é o que predomina, com
a ressalva de que deve haver interesse direto da União (CC 118174, STJ).
Uma atenção especial deve-se ter no que diz respeito à falsificação da CTPS. O Ministério do
Trabalho e Emprego é quem emite a CTPS, e por isso, a falsificação de tal documento deve
ser julgada pela Justiça Federal. Não obstante, caso a falsificação seja de anotação na CTPS
(para comprovar trabalho inexistente, por exemplo), a competência será da Justiça Estadual
(Súmula nº 62 do STJ), salvo se essa falsa anotação for usada contra o INSS, ou qualquer
outra Autarquia/Empresa Pública Federal (CC nº 58443, STJ). Ainda, caso haja omissão de
anotação na CTPS (art. 297, § 4º, CPB), o STJ entende ser competência federal (CC 135200)
já que não haverá recolhimento do tributo federal devido.
Outro ponto que merece destaque: falsificação de certificado de reservista, expedido pelo
Ministério da Defesa, a quem se vincula a Justiça Militar da União. O STJ (CC 106536)
reconheceu a competência da Justiça Militar da União quando determinado cidadão, munido
de documentos falsos, dá entrada em Certificado de Reservista. No entanto, não havendo
qualquer prejuízo direto à Justiça Militar (Certificado falsificado (sem comparecimento da
Junta Militar) e usado para a prática de estelionato, por exemplo), já decidiu o STJ pela
competência da Justiça Comum (CC 2044).
O uso de documento falso será julgado pela Justiça responsável pelo órgão em que o
documento for apresentado – Súmula 546 do STJ. Assim, apresentando o documento falso
para a iniciativa privada, ou pública estadual, a competência será da Justiça Estadual.
Apresentando o documento a órgão da União, a competência será da Justiça Federal. No
caso, se o agente foi o autor da falsificação, sendo esta de competência da Justiça Especial,
ou da Justiça Comum Federal, fixada estará a competência independente do uso. No entanto,
sendo a falsificação de competência da Justiça Comum Estadual, e o uso se der perante
órgão federal, a competência será da Justiça Comum Federal. Caso o autor da falsificação
não seja aquele quem usou do documento, teremos conexão entre as infrações, e assim
usaremos as regras atinentes à conexão (que veremos adiante) para resolver o problema.
Outro cuidado interessante a ser tomado diz respeito à falsificação de diploma de conclusão
de curso. Sendo o diploma de conclusão dos ensinos fundamental ou médio, a competência
será da Justiça Estadual, salvo se o estabelecimento de ensino for gerido pela União (IFES,
por exemplo). Sendo o diploma de conclusão de nível superior, a competência sempre será
da Justiça Federal, sendo a instituição Federal ou não. Isso porque, o diploma de curso
Superior necessariamente contém o logotipo do MEC, logo esse que necessariamente é
falsificado também, fazendo surgir o interesse da União.
A Súmula 192 do STJ responde à indagação. Assim, preso estadual que cumpre pena em
presídio federal, terá sua execução penal fiscalizada pelo Juiz Federal com jurisdição sobre o
presídio federal. Preso federal que cumpre pena em presídio estadual, terá a execução penal
fiscalizada pelo Juiz estadual com jurisdição sobre o presídio estadual.
O art. 109, IV, da CF, exclui expressamente da Justiça Federal o julgamento das
contravenções penais pelos Juízes Federais. Assim, ainda que uma contravenção seja
conexa com crime de competência federal, não poderá ela ser julgada pela Justiça Federal.
No caso, será necessária a separação dos crimes, sendo a contravenção julgada pela Justiça
Estadual, e o crime pela Justiça Federal. Mas cuidado: não há qualquer empecilho para que
contravenções penais sejam julgadas em 2º grau de jurisdição (TRF) pela Justiça Federal, em
casos de competência originária.
Para que haja a competência da Justiça Federal nos casos delineados neste inciso, são
necessários dois requisitos:
São vários os crimes que se enquadram nesse requisito. Os exemplos mais conhecidos são:
tráfico de drogas, tráfico de armas, tortura, pedofilia, tráfico de mulheres para exploração
sexual, tráfico de animais silvestres, etc.
É necessário que a execução do crime tenha se iniciado no Brasil, e que o resultado da ação
ocorra ou fosse para ocorrer em território estrangeiro, ou vice-versa.
Exemplo 01: Imagine que determinado cidadão seja flagrado, na área de embarque
internacional do aeroporto do Galeão-RJ, com drogas. Constata-se que ele aguardava um
voo para Paris, por exemplo. Nesse caso, é latente que o resultado do crime de tráfico seria
experimentado na capital Francesa. Assim, haverá competência da Justiça Federal.
Exemplo 02: Determinado cidadão, Colombiano, é encontrado em São Paulo com espécie de
droga não produzida no Brasil. É perfeitamente possível que ele tenha adquirido essa droga
de outra pessoa dentro do território do Brasil. Nesse caso, a competência seria da Justiça
Estadual, visto que não restou caracterizado (embora possa ser presumido) o tráfico
internacional de drogas.
Outro crime bastante comum, e por isso, passível de ser cobrado em provas, é a pedofilia
pela internet. Caso um cidadão tenha fotos eróticas de crianças em seu computador, na
cidade de Vitória/Es, e as encaminhe para outra pessoa em qualquer cidade do Brasil, a
competência será da Justiça Estadual. Encaminhando para pessoas no exterior, abre-se a
competência da Justiça Federal, segundo recente julgado do STJ. Caso o agente poste as
fotos em um site, a competência também será da Justiça Federal, já que pessoas do mundo
inteiro podem acessar o local em que as fotos estão postadas, ainda que não se comprove
que pessoas de outros países tenham acessado o conteúdo pornográfico.
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São dois os requisitos para que o IDC seja concedido: a) deve ter havido uma grave violação
dos direitos humanos; b) deve haver risco de descumprimento de tratados internacionais
(referentes a direitos humanos) por inércia do Estado.
Assim, quando a inércia do Estado apontar para o descumprimento, por parte do Brasil, de
atenção especial a causas que importem em violação dos Direitos Humanos, cabível será o
IDC. Veja que a CF/88 versa ser cabível o IDC em qualquer fase do IP ou do processo.
Falamos desse instituto quando estudamos a ação penal pública subsidiária da pública.
Os crimes contra a organização do trabalho estão previstos a partir do art. 197 do CPB.
Embora o texto constitucional indique que todos os crimes desse jaez são de competência da
Justiça Federal, a jurisprudência restringiu parte dessa interpretação.
Segundo os Tribunais Superiores, apenas quando o crime atentar contra uma coletividade de
trabalhadores a competência será da Justiça Federal. Sendo o crime perpetrado contra um
trabalhador, competente será a Justiça Estadual. Assim, caso um proprietário rural atente
contra os direitos trabalhistas de um grupo de trabalhadores, será processado perante a
Justiça Federal. Caso ele assim aja contra um trabalhador, competente será a Justiça
Estadual. Nesse sentido, vejam a Súmula nº 115 do extinto TFR. Embora tenha esse
Tribunal sido extinto, suas súmulas ainda servem de norte para os aplicadores do direito, e
são reconhecidas amplamente pela doutrina.
CUIDADO: O crime de redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do CPB) não está
previsto no capítulo destinado pelo CPB aos crimes contra a organização do trabalho. Isso,
para alguns, significa dizer que tal delito não pode ser julgado pela Justiça Federal, por
ausência de previsão legal. Esse entendimento, no entanto, é minoritário. Predomina, tanto
no STJ (CC 95707) como no STF (RE 398041) que esse crime, quando praticado contra uma
gama de trabalhadores (de forma coletiva) será de competência da Justiça Federal.
Por sua vez, os crimes contra o sistema financeiro nacional e contra a ordem econômica
somente serão de competência da Justiça Federal quando assim a lei determinar.
Alguns exemplos: a Lei que trata dos crimes contra a economia popular (Lei 1521/51) é
silente no que se refere à competência, e por isso, tais crimes devem ser julgados pela
Justiça Estadual (Súmula 498 do STF); A Lei 7.492/86, que trata dos crimes contra o sistema
financeiro nacional é expressa em fixar a competência da Justiça Federal (art. 26); os crimes
contra a ordem tributária (Lei 8.137/90) somente serão de competência federal caso o tributo
sonegado seja federal.
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a) Lei 8137/90 no que se refere à prática de Cartel (art. 4º): O STJ (HC 117169) entende
ser de competência da Justiça Estadual, salvo quando o Cartel envolver mais de um
Estado da Federação;
b) Lei 8.176/91, que trata dos crimes de adulteração de combustíveis: O STF entende
(RE 454737) que é de competência da Justiça Estadual, mesmo que, no caso, uma
autarquia federal (agência nacional de petróleo) venha a ser responsável pela
fiscalização. Para o STF, não haveria interesse direto da autarquia.
c) Lei 9.613/98, que trata da lavagem de capitais. No art. 2º, III estão previstas 04
situações em que o crime será de competência da Justiça Federal contra o sistema
financeiro nacional, contra a ordem econômica, ou contra bens, serviços, ou interesse
da União, de suas autarquias ou de suas empresas públicas. Além disso, quando o
crime antecedente for de competência da Justiça Federal, a lavagem de capitais
também será.
Navio é considerado toda embarcação passível de navegar em alto mar, ou seja, embarcação
de grande porte. Para além disso, exige-se que o navio esteja em deslocamento, ou em
potencial deslocamento internacional. Neste sentido, vejam o CC 118.503, STJ, 22/04/15.
A bordo significa dizer no interior. O STJ já decidiu (CC nº 43404) que, se a vítima estiver
subindo as escadas do navio, ela não está a bordo dele, e com isso, a competência seria da
Justiça Estadual;
O conceito de aeronave pode ser extraído do art. 106 da Lei 7.565/86. Nota-se que não há
exigência que seja de grande porte. Importante destacar que os Tribunais Superiores
dispensam que a aeronave esteja em voo para que a competência seja da Justiça Federal
(HC 40913 STJ e RHC 86998 STF).
CUIDADO: A Lei 2889/56 prevê o crime de genocídio, que pode ou não ser praticado através
de homicídios sucessivos. Quando não for assim praticado, a competência será de um Juiz
Singular Federal. Quando o genocídio for praticado através de homicídios, a competência
será do Júri Federal – STF, RE 351487.
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Embora pareça fácil, a resposta à tal indagação merece muito cuidado por parte do aluno.
Vale destacar que a Justiça Federal e a Justiça Estadual são jurisdições de mesma categoria.
Por força disso, poderia o aluno responder que a regra a ser aplicada para a solução da
indagação seria aquela prevista no art. 78, II, a, do CPP, sendo assim, no exemplo acima,
competência da Justiça Estadual julgar os dois delitos, já que o crime de roubo tem pena
superior. Casos existiriam, no entanto, em que a competência seria da Justiça Federal,
bastando, para isso, que o crime de sua competência tivesse pena mais grave.
No entanto, a regra contida no art. 78, II, do CPP (jurisdições de mesma categoria) somente
tem aplicação quando, por exemplo, houver conexão entre dois crimes ocorridos em cidades
distintas, crimes que, a princípio, seriam de competência de Comarcas (J.Estadual) ou
Seções (J. Federal) distintas. Exemplo: um crime de furto ocorrido em Vitória e um de roubo
ocorrido em João Neiva. Nesse caso, as jurisdições são da mesma categoria, e a
competência será determinada pelas alíneas do dispositivo legal em comento. O mesmo
ocorreria, por exemplo, caso dois crimes de competência da Justiça Federal conexos fossem
praticados, respectivamente, em São Mateus e Linhares, duas cidades com Seções da
Justiça Federal.
A indagação não trata de tais hipóteses. Especial cuidado o aluno deverá ter quando a
conexão envolver um crime de competência da Justiça Federal e um da Justiça Estadual.
Embora sejam jurisdições da mesma categoria, não haverá aplicação do art. 78, II, do
CPP. Nesse caso, até mesmo para resguardo da CF/88, a competência será sempre da
Justiça Federal. Nesse sentido é a Súmula 122 do STJ.
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