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NOVO CPC – FREDIE DIDIER JR – 2015

AULA 01

Não se trata de lei que reformou o CPC/73, mas sim de algo novo.

O Novo CPC monta um novo sistema. Normas novas, sistema novo.

Aquilo que foi construído no CPC/73 certamente nos servirá de experiência, mas é preciso
abrir a mente para entender que é algo novo.

Não é porque você tem um martelo na mão, que todo problema é prego.

Esse minicurso tem a finalidade de tratar aquilo que muda. Não vamos falar das coisas que
permanecem.

- Estamos vendo mudanças num tempo em que ainda não há doutrina. Há repertório de
enunciados do Forum Permanente de Processualistas Civis, que é um encontro de
doutrinadores processualistas. Produziram mais de trezentos enunciados sobre o novo código,
o que representa uma primeira doutrina sobre o novo CPC. Esses enunciados somente podem
ser aprovados por unanimidade por um plenário de 250 pessoas.

- Não é possível indicar bibliografia por hora.

- Metodologia: 60 horas aula com blocos de trinta minutos (total de 120 blocos)

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL (Livro I, Título Único, Capítulo I)

- Cria-se categoria nova, a das normas fundamentais do processo civil. Esse capítulo 1 tem
doze artigos. Estes doze artigos não esgotam as normas fundamentais. Esse rol não é taxativo
de normas fundamentais. Há normas fundamentais que estão na Constituição (e também no
decorrer do novo CPC) e que não estão ali nos doze primeiros artigos do Novo CPC. Também
não está a proibição de prova ilícita, por exemplo.

- Ao falar em NORMAS FUNDAMENTAIS, o CPC está reunindo Princípios e Regras


fundamentais, pois tanto princípios quanto regras podem ser fundamentais. Assim, fala-se em
normas fundamentais e não apenas em princípios fundamentais.

Novidades.

Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme


os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

- Este artigo 1º Coloca a ideia de que não é possível aplicar o CPC sem estar em consonância
com a Constituição. É o art. 1º pra deixar claro que um Código feito neste momento não pode
ser desvencilhado da Constituição.

- Do ponto de vista normativo, é algo óbvio: as normas processuais infraconstitucionais devem


estar em conformidade com a Constituição.
- E se por ventura o juiz violar o art. 1º do CPC, aplicando CPC contra a Constituição? Caberá
Recurso Especial ou Extraordinário? Neste caso, o que está sendo violado, a lei federal ou a
Constituição? Segundo Fredie Didier, a violação é à Constituição, pois a norma é Constitucional
ao ser um clone de uma norma constitucional. É como se a lei repetisse o texto constitucional.
Ao fazer isso, ela não transforma uma norma constitucional em infraconstitucional, logo, essa
norma continua sendo constitucional e não se transforma em infraconstitucional. Logo, a
violação deste dispositivo será atacada por RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

- Outro exemplo é o art. 3º (Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão
a direito.) que é repetido no CPC um texto da CF. Esse dispositivo do Novo CPC é simples
reprodução. Logo, se violado o art. 3º do CPC, estará na verdade sendo violada a própria CF,
porque houve um clone da CF.

Art. 3º

§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos


conflitos.

- Esse §2º é uma nova norma fundamental. É o princípio de promoção, pelo Estado, da solução
por autocomposição.

- A solução por autcomposição passa a ser uma questão de política pública.

- Ele consagra a resolução 125/2010 do CNJ, que regulamentava a necessidade de


autocomposição mas era apenas uma resolução. Agora, essa resolução ganhou respaldo legal.

- O §3º vai na mesma linha ao dizer que “A conciliação, a mediação e outros métodos de
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. Logo, este
estímulo é um dever de todos. É uma política pública nacional.

- Todo o CPC é estruturado neste sentido, de estimular a autocomposição. Pela primeira vez
temos uma lei que disciplina com exaustão a mediação e conciliação.

- O primeiro ato no procedimento comum após a citação passa a ser a audiência de


autocomposição, não mais a contestação. Havendo composição, não haverá sequer
pagamento de custas complementares (verificar esta informação???); podem as partes incluir
na transação inclusive outras lides e outras pessoas se isso implicar na resolução da demanda.

AULA 02

Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do


mérito, incluída a atividade satisfativa.

- 1ª parte: prazo razoável. Consagração da duração razoável do processo, o que está na CF.

- 2ª e 3ª Parte: dois princípios que pela primeira vez estão consagrados no Novo CPC.

- 2ª Parte: Solução integral do mérito. Princípio da primazia da decisão de mérito. Deixa claro
que a solução de mérito é prioritária à solução que não é de mérito.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o
saneamento de outros vícios processuais;

- É dever do Juiz determinar a correção dos vícios processuais. Com isso, o juiz prioriza a
decisão de mérito. Isso é uma amostra. O artigo que cuida dos poderes do relator diz que o
Relator não pode não admitir o recurso sem antes determinar a correção do defeito sanável
(ex.: falta de preparo).

- Ainda, o juiz não pode indeferir a petição inicial sem antes intimar o autor para emendar a
petição inicial, indicando expressamente aquilo que deve ser corrigido. Está explícito no Novo
CPC.

- Outro exemplo: a apelação contra qualquer sentença que extinga o processo sem resolução
do mérito passa a ter efeito regressivo (permitir retratação). Isso é novidade.

- Outro exemplo: Art. 1029. § 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça
poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde
que não o repute grave. Este dispositivo é um marco, pois acaba com a festa dos filtros que os
Tribunais Superiores vinham criando. Também foi reproduzido na Lei 13.015/2014, que cuida
dos Recursos de Revista Repetitivos no âmbito Trabalhista; essa lei foi produzida com base no
Novo CPC, com artigos importados do então projeto do Novo CPC.

- Estes exemplos demonstram várias formas de concretizar a primazia da solução do mérito.

- 3ª PARTE do art. 4º.: “incluída a atividade satisfativa”. As partes têm direito à satisfação da
decisão, ou seja, o direito da efetividade (princípio da efetividade do processo). A novidade é
que pela primeira vez na história temos um artigo que expressamente diz isso. Tem uma força
simbólica muito grande. Agora, o desenvolvimento do princípio da efetividade está
expressamente no art. 4º. Antes, tinha que ser construído a partir do princípio do devido
processo legal.

Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício


de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo
efetivo contraditório.

- A primeira parte do artigo 7º fala da igualdade das partes no processo, o que não é novo.
Mas a última parte imputa ao juiz o dever de zelar pelo contraditório. Surge uma norma
fundamental nova, que impõe ao juiz o dever de zelar pelo efetivo contraditório. O que isso
significa? É um dos mistérios do Novo CPC. Esse dispositivo causa certo temor porque é muito
aberto e, a pretexto de zelar pelo contraditório, o juiz poderia agir de forma parcial.

- Ex.1: possível fazer: que o juiz nomeie um curador especial para os casos atípicos em que ele
se revele necessário, por exemplo quando a parte foi à audiência mas o seu advogado não
compareceu; neste caso, o juiz poderia intimar um Defensor Público para atuar como curador
especial. Ex.2: não poderia fazer: o juiz não poderia destituir um advogado que ele repute
fraco.

- Uma possibilidade real de garantia do contraditório pelo Juiz é a possibilidade dele dilatar os
prazos processuais, havendo previsão expressa:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de
produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;

- Esse art. 139, VI, é algo novo no Código Processual. Já se falava nisso como questão
principiológica. Agora, está expresso. Um exemplo é o caso do Autor que junta dez mil
documentos e o juiz dilata o prazo de contestação de 15 para 50 dias.

- Quando foi publicado o acórdão do mensalão com milhares de páginas. Os advogados


alegaram que não tinha sentido ter apenas cinco dias para embargos de declaração. O STF
garantiu prazo de dez dias sob fundamento de que cinco dias eram insuficientes. Agora, tem
previsão expressa da possibilidade de dilatação do prazo.

- Fica o alerta: essa dilatação do prazo não pode ser feita depois que o prazo acabou. O juiz
deve dilatar o prazo antes do prazo começar a correr, pois a preclusão não pode ser superada
por dilação de prazo. Essa é uma conclusão do Forum Permanente de Processualistas Civil,
CONCLUSÃO Nº 129: a autorização legal para ampliação de prazos pelo juiz não se presta a
afastar preclusão temporal já consumada.

AULA 03

Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se


de acordo com a boa-fé.

- Grande novidade no art. 5º. Consagra o princípio da boa-fé processual como um dos pilares
do novo CPC. Antes deste art. 5º, a doutrina tinha que extrair o princípio da boa-fé do devido
processo legal porque não existe no CPC/73 nenhum enunciado que traga este princípio de
forma tão clara. Agora, até pra quem não entende de princípios não pode mais negar a
existência da boa-fé objetiva no processo.

- Ao falar em “aquele que de qualquer forma participar do processo” o princípio da boa-fé está
sendo dirigido a todos os sujeitos, inclusive o juiz, perito, advogado etc., enfim, todos os
sujeitos do processo.

- Essa redação é cópia da redação do dispositivo no CPC Suíço.

- Não se pode confundir boa-fé subjetiva com boa-fé objetiva. A boa-fé subjetiva é um fato da
vida, de alguém acreditar (psicologicamente) que está agindo licitamente, que seu
comportamento é lícito; ex.: “o possuidor de boa-fé...”. A boa-fé objetiva não é um fato, mas
sim uma norma, mais propriamente um princípio, segundo o qual o comportamento humano
deve estar pautado em padrão ético de conduta, ou seja, não tem nada a ver com a crença do
sujeito.

- Esse art. 5º é uma cláusula geral processual. Trata-se de um dispositivo normativo construído
de maneira indeterminada tanto em relação à sua hipótese normativa como em relação à sua
consequência normativa. Não diz exatamente o que é boa-fé e tampouco diz o que acontece
se o sujeito não se comportar contrariamente à boa-fé objetiva. Caberá aos tribunais traçar o
que são comportamentos de acordo com a boa-fé.
- Nos últimos cem anos de consagração da boa-fé objetiva no direito estrangeiro, se vê que ele
foi concretizado em no mínimo quatro grupos de situações. 1) o princípio da boa-fé torna
ilícita qualquer conduta de má-fé, qualquer comportamento maldoso; 2) abuso do direito no
processo; 3) comportamento contraditório (proibição do venire contra factum proprium), ex.:
executado apresenta um bem para ser penhorado e depois alega impenhorabilidade do
mesmo bem; 4) supressio processual: é a perda de um direito pelo fato de não ter exercido
este direito por um tempo tal que gerou na outra parte a expectativa de que o titular não mais
o exerceria; segundo os alemães, é possível falar deste fenômeno no processo, ex.: o processo
tramitou por dez anos com várias diligências e atos praticados e então o juiz extinguiu por falta
de interesse processual, ora, como poderia o juiz dez anos depois de ter gerado expectativa de
regularidade simplesmente extinguir por suposta falta de interesse processual? Esse
comportamento do juiz configuraria a Supressio, porque juiz teria perdido o direito de
extinguir o processo por questão que poderia ter reconhecido no início do processo.

- Além destas quatro, acrescenta-se: deveres de cooperação; princípio da hermenêutica

AULA 04

- A doutrina já defendia que o contraditório abrange a necessidade de ouvir as partes mesmo


quanto a questões que o juiz pode examinar de ofício, mas nunca esteve em texto legal. Essa
exigência evita decisões-surpresa acerca de uma questão sobre a qual as partes não puderam
se manifestar. O juiz tem o dever de consultar as partes sobre questão a respeito da qual elas
não se manifestaram. Agora, isso vem como norma fundamental:

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.

- Trata-se da consagração do dever de consulta, da proibição de decisão surpresa.

- Este artigo não enuncia um princípio, mas sim uma regra, a regra que impõe o dever de
consulta. Esta regra concretiza o princípio do contraditório.

- É tão importante, que foi repetida em outras passagens do próprio CPC:

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,


modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao
juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no
momento de proferir a decisão.

Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes


sobre ele antes de decidir.

- Nem precisaria repetir, mas é para que não fique dúvidas.

Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão


recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada
que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para
que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 1o Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, esse será
imediatamente suspenso a fim de que as partes se manifestem
especificamente.

§ 2o Se a constatação se der em vista dos autos, deverá o juiz que a solicitou


encaminhá-los ao relator, que tomará as providências previstas no caput e, em
seguida, solicitará a inclusão do feito em pauta para prosseguimento do
julgamento, com submissão integral da nova questão aos julgadores.

- Esse art. 933 disciplina o art. 10 nos tribunais.

- Se essa regra for descumprida, haverá nulidade da decisão por violação ao contraditório.

- O §1º do art. 927, que cuida dos precedentes, determina que o art. 10 seja aplicado não só
nos momentos em que o juiz decide mas também no momento em que se está formando
precedente. Deve-se observar o contraditório na formação no precedente.

Art. 927. § 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art.


489, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.

- A formação do precedente deve ser cuidadosa, sempre submetida ao contraditório, a fim de


que nasça com maior legitimidade e robustez.

- O art. 9º, por sua vez, consagra efetivamente o princípio do contraditório:

Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.

- A partir deste artigo fica claro que é possível decisão favorável à parte sem que ela seja
ouvida, mas não se pode admitir decisão contra a parte sem antes ouví-la. É por isso que o
Novo CPC admite a improcedência liminar do pedido sem ouvir o Réu, afinal, como é a favor
do Réu, este não precisa ser ouvido.

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,


independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:

- Análise do parágrafo único do art. 9º. Significa que não se faz necessário ouvir a parte antes
caso seja proferida contra ela uma decisão provisória. Apenas decisões definitivas é que não
podem ser tomadas sem prévia oitiva da parte:

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III - à decisão prevista no art. 701 (trata da ação Monitória).

- Obs.: tutela da evidência é uma tutela provisória sem urgência. Aquilo que sempre foi
chamado de tutela antecipada, o Novo CPC chama de tutela provisória.

- Este parágrafo único não é exaustivo. Há outros exemplos espalhados na legislação de


decisões provisórias concedidas sem ouvida do Réu. Ex.: liminar possessória; liminar em MS;
liminar em despejo etc.
- Art. 7º parte final, art. 9º e art. 10 são normas no Novo CPC que formam um núcleo sobre o
contraditório. São novidades que reestruturam o contraditório e o desrespeito

AULA 05 – Princípio da Igualdade

Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício


de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo
efetivo contraditório.

- Vamos tratar da primeira parte do art. 7º. É algo novo, pois no CPC/73 não se regulamentava
a dita igualdade entre as partes, antes se resumia a falar em princípio da paridade de armas.
No Novo CPC, a paridade de tratamento passa a ser regulamentada.

- O princípio da igualdade exige a observância de quatro aspectos: 1) imparcialidade do juiz; 2)


igualdade no acesso à justiça; redução das dificuldades do acesso à justiça, por exemplo,
dificuldade financeira; 3) redução das dificuldades geográficas, por exemplo, com sustentação
oral por vídeo conferência; 4) redução das dificuldades de comunicação; pela primeira vez o
Código prevê expressamente a utilização da língua brasileira de sinais (libras) quando houver
partes ou testemunhas que necessitem dela, pois se trata de linguagem universal incorporada
pelo Brasil.

- Exemplos de concretização da igualdade.

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou


superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim
compreendida qualquer das enumeradas no art. 6o, inciso XIV, da Lei n o 7.713,
de 22 de dezembro de 1988;

II - regulados pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e


do Adolescente).

§ 1o A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua


condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o
feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas.

§ 2o Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que


evidencie o regime de tramitação prioritária.

§ 3o Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado,


estendendo-se em favor do cônjuge supérstite ou do companheiro em união
estável.

§ 4o A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional


e deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de
beneficiário.
- Este art. 1.048 traz novidade na tramitação prioritária para pessoas com doença grave. Para
evitar qualquer contradição do que seja doença grave, o Novo CPC utiliza como analogia as
doenças consideradas graves para efeitos de saque do FGTS.

- Este dispositivo ainda regulamentou a forma de se conceder prioridade nos parágrafos do


respectivo artigo. Preenchidos os pressupostos, há direito à tramitação prioritária. O juiz não
pode negar.

- Vamos ao art. 8º

Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às


exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da
pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência.

- Este dispositivo virou uma mistura de tudo. Sugere-se dividi-lo em três partes para sua
análise.

- Essa primeira parte praticamente repete um texto da lei de introdução às normas do Direito
Brasileiro, mas ainda o fez determinando a aplicação do “ordenamento jurídico”, sendo que
está no CPC. Esse dispositivo foi criado na época da ditadura para dar poder ao juiz de
resguardar as exigências do bem comum... o que é bem comum???

- Segunda parte: na segunda partes, pega tudo quanto é coisa nova e embola no texto, o que é
inclusive incompatível com a primeira parte do ponto de vista histórico. Se pensar bem, tudo o
que se queria alcançar naquele art. 5º da LINDB se alcança com um repertório atualizado pela
CF com dignidade da pessoa humana, proporcionalidade e razoabilidade.

- Exemplo de regras que concretizam a dignidade da pessoa humana: exigência de uso da


linguagem LIBRAS; um rol extenso de bens impenhoráveis para proteger dignidade da pessoa
que tem direito de ter um patrimônio mínimo; regra da tramitação prioritária para pessoas
portadoras de doença grave;

- Talvez, este art. 8º do CPC seja o único art. de lei infraconstitucional que fale ao mesmo
tempo de dignidade, razoabilidade e proporcionalidade.

- Terceira parte do art. 8º: fala em a legalidade, a publicidade e a eficiência; isso nos remete ao
art. 37 da CF que trata dos princípios do Direito Administrativo (LIMPE). Logo, se vê que foi
uma fusão de regras diversas. Só não mencionou a impessoalidade (juiz natural) e a
moralidade (boa-fé objetiva).

- O art. 8º, ao falar em ordenamento jurídico, deixa claro que a lei não é a única fonte do
direito, mas sim o direito como um todo (ordenamento jurídico). No entanto, falou-se ainda
em legalidade, como se a lei fosse a única fonte do direito. Este Novo CPC ajuda da
reconstrução daquilo que seja legalidade, pois na verdade deve ser visto como princípio do
respeito ao direito, e isso parte do próprio art. 8º ao falar em ordenamento jurídico.

AULA 06

- Eficiência no art. 8º do CPC. Poderia ser norma de direito administrativo a repercutir no


Poder Judiciário como órgão da administração. Já como norma de direito processual, recai
sobre o juiz enquanto administrador de um processo; essa gestão de processo não deixa de ser
uma atividade administrativa, mas relacionado a um processo.

- Observar a eficiência é tentar obter a máxima finalidade da melhor forma possível com um
mínimo de recursos.

- O princípio da eficiência seria o antigo princípio da economia processual, desta vez


remodelado. Essa mudança adviria do fato de que a própria Constituição menciona o nome
eficiência. Quando você muda o nome para eficiência, traz junto toda a carga que já existe no
direito administrativo no sentido de impor ao juiz o dever de gerir bem o processo de acordo
com as boas práticas da administração, fazendo com que o juiz se porte como um bom
administrador.

- Hoje em dia, os juízes recebem curso de gestão administrativa.

- Na prática, o princípio da eficiência servirá para interpretação das leis processuais, a serem
interpretadas de modo a ter a maior eficiência possível. A partir do princípio da eficiência, o
juiz poderá fazer adequações/ajustes no processo, por exemplo, o juiz poderá reunir
processos mesmo que não sejam conexos se por acaso eles precisarem de uma mesma prova
pericial.

- Diferença entre eficiência e efetividade: Eficiência tem a ver com gestão/administração de


recursos humanos e financeiros; efetividade tem a ver com resultado.

Regra de Respeito à ordem cronológica de conclusão:

- significa que todos os processos devem ser julgados conforme a ordem cronológica de
conclusão, ou seja, de acordo com a ordem em que os processos ficam prontos para serem
julgados. Essa lista de processos conclusos haverá de ser pública.

- Essa regra de um lado prestigia o princípio da igualdade e da impessoalidade e de outro lado


prestigia a duração razoável do processo.

- Essa regra apenas se aplica às sentenças e acórdãos finais (decisões finais). Logo, para
decisões e acórdãos interlocutórios não precisa respeitar a ordem cronológica (por exemplo
antecipação de tutela).

Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de


conclusão para proferir sentença ou acórdão.

§ 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à


disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de
computadores.

- Exceções à regra da ordem cronológica de conclusão:

§ 2o Estão excluídos da regra do caput:

I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de


improcedência liminar do pedido;

II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada


em julgamento de casos repetitivos;
- Uma das principais características do Novo CPC é sua organização para firmar teses e
aplicação de precedentes. Assim, para julgar em bloco aplicando precedentes, não precisa
aguarda a ordem cronológica.

III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de


demandas repetitivas;

- Embora diferentes, esta regra complementa a anterior, pois o incidente de resolução de


demandas repetitivas e o julgamento de recursos repetitivos são preferenciais porque tem a
finalidade de criar precedente.

IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;

- Trata da extinção do processo sem exame do mérito (desistência, abandono, pedido de


desistência, etc) e casos que admitam decisão monocrática do relator.

V - o julgamento de embargos de declaração;

VI - o julgamento de agravo interno;

VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de


Justiça;

VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência


penal;

- Às vezes, o juízo tem competência plena (cível e criminal). Se o juiz cumular competência
penal com cível, os penais não precisam observar a ordem cronológica.

IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão


fundamentada.

- Esse inciso encerra a lista afirmando que o caso concreto pode ter características que
admitam a flexibilização da exigência da cronologia na ordem de julgamento.

§ 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das


conclusões entre as preferências legais.

- Esse §3º determina a criação de lista própria de cronologia de preferências legais.

§ 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1 o, o requerimento


formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto
quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em
diligência.

§ 5o Decidido o requerimento previsto no § 4 o, o processo retornará à mesma


posição em que anteriormente se encontrava na lista.

- Preocupação de processo estar concluso e a parte desinteressada poder peticionar para tirar
o processo da lista por qualquer razão. Este §4º mantém a segurança da lista, da ordem. O §5º
complementa.

§ 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1 o ou, conforme o caso, no


§ 3o, o processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de
realização de diligência ou de complementação da instrução;

II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.

- Este §6º garante que o processo que volte do tribunal retornará para o primeiro lugar da fila.

Art. 1.040. Publicado o acórdão paradigma:

II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o


processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso
anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do
tribunal superior;

- Também há exigência de cronologia no cartório, o que está em conformidade com o art. 12:

Art. 153. O escrivão ou chefe de secretaria deverá obedecer à ordem


cronológica de recebimento para publicação e efetivação dos
pronunciamentos judiciais.

§ 1o A lista de processos recebidos deverá ser disponibilizada, de forma


permanente, para consulta pública.

§ 2o Estão excluídos da regra do caput:

I - os atos urgentes, assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a


ser efetivado;

II - as preferências legais.

§ 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de


recebimento entre os atos urgentes e as preferências legais.

§ 4o A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá


reclamar, nos próprios autos, ao juiz do processo, que requisitará informações
ao servidor, a serem prestadas no prazo de 2 (dois) dias.

§ 5o Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do


ato e a instauração de processo administrativo disciplinar contra o servidor.

- o §4º do art. 153 regulamenta um procedimento para que a parte que se sinta prejudicada
possa reclamar e exigir a regularização. Aqui se trata do servidor preterindo. Agora, vem a
pergunta: e se o juiz preterir? Ao que parece, a sentença que for proferida em desrespeito à
ordem cronológica não poderá ser anulada. Esse desrespeito poderá gerar consequências de
ordem disciplinar para o juiz perante o CNJ ou Corregedoria. Por outro lado, esse desrespeito à
ordem cronológica pelo juiz pode ser um indício de suspeição do juiz e, constatada a suspeição
o ato poderá ser invalidado (não pela quebra da ordem cronológica, mas pela suspeição).

- Regra de transição para fixação da primeira lista de ordem cronológica (a partir da


antiguidade pela distribuição)

Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão


desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de
janeiro de 1973.
§ 5º A primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica
observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da
entrada em vigor deste Código.

- Lembrando que os doze primeiros artigos não esgotam todas as normas processuais
fundamentais. Há outras, por exemplo o princípio do respeito ao autoregramento da vontade
no processo.

PRINCÍPIO DO RESPEITO AO AUTOREGRAMENTO DA VONTADE NO PROCESSO

- O processo, para ser considerado devido, não pode ser um ambiente hostil ao exercício da
liberdade. Liberdade esta concretizada no poder de autoregramento.

- Aquelas ideias de que no processo a vontade das partes é irrelevante, estão superadas.

- é claro que a autonomia privada no processo é exercida com mais limites, mas o fato de
haver restrições no processo não significa que não haja respeito ao autoregramento da
vontade no processo.

- Este princípio está espalhado em todo o código. O Novo CPC é todo estruturado com base
neste princípio: a) o código inteiro prevê estímulo à autocomposição; b) homologação judicial
de acordo de qualquer natureza, inclusive com objeto diverso daquele deduzido em juízo e
com partes diferentes; c) o NCPC consagra uma cláusula geral de negócio processual, isto é,
uma clausula que permite às partes negociarem sobre as regras do próprio processo; d) o
NCPC prevê uma série de negócios processuais típicos, convenção sobre ônus da prova,
saneamento consensual, escolha consensual de perito, mudança convencional da audiência,
escolha convencional do tipo de liquidação; e) o NCPC dedica um capítulo inteiro à mediação e
conciliação; f) consagra a arbitragem; g) consagra o princípio da cooperação.

- Não há como pensar no novo CPC sem partir da premissa que ele é um código que prestigia e
considera a manifestação da vontade das partes. Processo devido passa a ser um processo
como ambiente propício ao exercício do poder de autoregramento.

Regra velha que deve ser reexaminada:

Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso


oficial, salvo as exceções previstas em lei.

- A novidade neste dispositivo é implícita. Uma das possíveis exceções previstas em lei pode
ser a modulação do impulso oficial, que restrinja o impulso oficial.

- Tradicionalmente se dava como exemplo a possibilidade de o juiz abrir um inventário de


ofício. Essa possibilidade foi extinta no Novo CPC.

- Essa regra do impulso oficial não impede que a parte autora desista da causa.

AULA 07
- Última norma fundamental. Define qual é o modelo de processo que o Novo Código de
Processo Civil está instituindo.

Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

- Consagra o princípio da cooperação. Tem por objetivo transformar o processo num ambiente
cooperativo. Significa, de origem do processo alemão, transformar o processo numa
comunidade de trabalho em que vigora a lealdade e o equilíbrio entre os sujeitos do processo.
Isso inclui o juiz. Por isso o art. 6º fala em todos os sujeitos do processo, sendo locução que
engloba o juiz e as partes.

- o objetivo é estabelecer um modelo de processo cooperativo. É um modelo que fica entre


dois extremos. De um lado, um modelo em que haja preponderância da pessoa do Juiz
(PUBLICISTA), porque o juiz conduz o processo como um grande presidente e ainda decide,
muitos poderes do juiz que são exercidos a despeito das partes; no outro extremos, o processo
adversarial em que a proeminência é das partes e o juiz seria um mero expectador apenas com
a tarefa de decidir. São os clássicos modelos.

- O princípio da cooperação impõe um meio termo ao exigir diálogo entre estes sujeitos,
equilíbrio durante a tramitação do processo e com lealdade.

- A cooperação é um corolário da boa-fé objetiva. Não por acaso, a cooperação vem logo
depois da boa-fé. Art. 5º e, em seguida, o art. 6º. Buscando a origem remota do princípio da
cooperação, será encontrada no desenvolvimento da cláusula da boa-fé do direito alemão, em
que a boa-fé gera deveres de cooperação (deveres anexos da boa-fé).

- Cooperar entre não significa “um ajudar o outro”, “autor dando as mãos ao réu” e andando
por campos cantando a noviça rebelde. Na verdade, cooperar é agir em observância com os
deveres advindos da boa-fé. São quase de deveres de não atrapalhar. Tem a ver com a
transformação do processo num ambiente de diálogo e equilíbrio, ao invés de transformar o
processo num palco de guerrilha. Tem que ser um palco bom, um ambiente propício a ser
pautado com ética que permita que a solução final seja rápida e justa.

- Deveres que a cooperação gera para o juiz: 1) dever de consulta, já estudado no art. 10, que é
inerente a um processo cooperativo porque o juiz dialoga com as partes. 2) dever de
prevenção. O juiz passa a ter o dever de apontar os defeitos do processuais, prevenindo as
partes para que o processo não seja inválido, e de indicar como esse defeito processual deve
ser corrigido pelas partes; no processo atual, o juiz praticamente dá “truco” nas partes quando
assiste a briga de longe e, no meio do nada, diz “truco” e extingue o processo. 3) dever de
esclarecimento e de pedir esclarecimento. Trata-se do dever de dar decisões claras, e sempre
foi assim; mas além disso ele também se manifesta quando o juiz passa a ter o dever de pedir
esclarecimento da parte se ele JUIZ não compreender a postulação do Autor/Réu; o juiz não
pode indeferir porque não entendeu, na verdade, deve pedir esclarecimento. 4) dever geral de
auxílio na remoção de obstáculos. É um dever consagrado no direito alemão e austríaco.
Fredie Didier não concorda, diz não haver esse dever geral de auxílio no Brasil; o máximo que o
juiz deve e pode fazer é zelar pelo contraditório, mas não o dever geral de auxiliar as partes,
pois no Brasil a postulação é pelo advogado ou pelo Defensor Público; até se poderia conceber
nos casos de atuação sem advogado ou defensor público, mas caso contrário, não parece ser
uma consequência possível.
- Assim, fica a trilogia: consulta; prevenção; esclarecimento.

- O dever de esclarecimento está claro na realização do juízo de admissibilidade da petição


inicial, pois, em verificando a existência de algum defeito na petição inicial ou qualquer coisa
que dificulte o julgamento do mérito, o juiz deve intimar a parte para esclarecer ou corrigir a
fim de que o processo tome seu regular processamento. Isso vale inclusive para a petição
inicial inepta.

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos
dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15
(quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser
corrigido ou completado.

- Lorena Miranda, Dierli Nunes, Antonio do Passo Cabral, Mitidiero, Lucio Graci, Fredie Didier
Jr. São autores que defendiam o princípio da cooperação antes deste artigo 6º do Novo CPC.
Cada um destes autores com seus fundamentos, mas todos defendendo a existência e
aplicação do princípio da cooperação.

- Este art. 6º quer definir o modelo de processo no Brasil: um modelo cooperativo. Não é
publicista, pois o Novo CPC prestigia a autonomia da vontade, como visto.

ENCERRADO O PONTO DAS NORMAS FUNDAMENTAIS

NORMA PROCESSUAL (REGRAS DO CPC RELATIVAS A ELA)

- Vacatio do Novo CPC: 1 ano.

- O Novo CPC, por expressa previsão legal, se aplica supletivamente ao PROCESSO


TRABALHISTA, ELEITORAL E ADMINISTRATIVO:

Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas


ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

- Por exemplo, o Novo CPC traz expressamente a regulação da distribuição dinâmica do ônus
da prova e poderá ser muito útil no processo administrativo ou mesmo no processo do
trabalho. Isso tornará mais fácil a argumentação de que é possível aplicar a distribuição do
ônus da prova no processo administrativo.

- O Novo CPC elimina o procedimento sumário. Fica só o procedimento ordinário, que muda de
nome e se torna PROCEDIMENTO COMUM. Gera um problema o fim do sumário: e as causas
de rito sumário que estão em andamento? Elas continuam em rito sumário até a sentença (por
que? Fundamento?) O §1º do art. 1.046 prescreve que o CPC/73 continuará sendo aplicado em
suas regras de rito sumário para os processos iniciados e que continuem em trâmite, até que a
sentença seja prolatada.

Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão


desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de
janeiro de 1973.
§ 1o As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao
procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas
aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência
deste Código.

§ 2o Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos


regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código.

§ 4o As remissões a disposições do Código de Processo Civil revogado,


existentes em outras leis, passam a referir-se às que lhes são correspondentes
neste Código.

- Muitas leis extravagantes faziam referência ao procedimento sumário, como por exemplo a
lei de usucapião especial. Como fica isso? Prescreve o Novo CPC que todas as remissões feitas
por legislação extravagante ao procedimento sumário devem ser consideradas remissão ao
procedimento comum.

Art. 1.049. Sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei


processual sem especificá-lo, será observado o procedimento comum previsto
neste Código.

Parágrafo único. Na hipótese de a lei remeter ao procedimento sumário, será


observado o procedimento comum previsto neste Código, com as
modificações previstas na própria lei especial, se houver.

- O Novo CPC tem muitas novidades, mas o Novo CPC também tem muitas pseudo-novidades.
São aqueles textos novos no Código que consagram normas que já existiam/vigoravam. Ou
seja, o Código coloca um texto novo de uma norma velha, que já existia, mas existia com base
em outro texto. Por exemplo, o dever de consulta previsto no art. 10 agora, já existia com base
no contraditório. Assim, há um texto novo para uma norma velha. Isso é uma pseudo-
novidade. Não se pode pensar que este tipo de norma só poderá ser aplicada a partir de março
de 2016, não! Está em vigor desde já.

- Para fechar. Art. 14 brilhante e bem escrito.

Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos
processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações
jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

- Diz expressamente que todos os atos já praticados não podem ser afetados pela norma nova.
Os atos a praticar serão afetados pela norma nova, mas os já praticados, não. Significa incidir a
partir dali. Do mesmo modo, as situações jurídicas, isto é, os direitos processuais já
consolidados. Ex.: o Código novo reduz de quádruplo para prazo em dobro, e isso é uma norma
nova; então, se o NCPC começa a viger na fluência do prazo para o Poder Público, já há um
direito do Poder Público contestar no prazo quádruplo e não pode ser violada esta situação
jurídica; 2) se já havia sido proferida decisão contra a qual cabia recurso, o NCPC não pode
retirar o direito de interpor aquele determinado recurso, como por exemplo embargos
infringentes. Este artigo parte do pressuposto de que o processo é um conjunto de atos e de
situações jurídicas... juntando isso tem-se o processo.
AULA 08 – COMPETÊNCIA

- A partir de agora parte-se para análise da parte dura do CPC, da mais dogmática.
Apenas falaremos sobre as mudanças, não falaremos sobre aquilo que não mudou.

- Perpetuação da jurisdição. Fatos supervenientes não vão alterar a competência


fixada.

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da


distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

- A competência agora é fixada com base no registro (onde há apenas uma vara) ou na
distribuição (onde há mais de uma vara com a mesma competência). No Novo CPC, data do
protocolo é uma coisa e data do registro/distribuição é outra coisa.

- Data do protocolo é a data em que a ação se considerada proposta, mas não a data da
fixação da competência. Se a distribuição for automática, haverá coincidência entre existência
da ação e fixação da competência.

- No novo CPC, a parte final do art. 43 fala em “alterarem a competência absoluta”, de modo
que qualquer mudança superveniente de competência absoluta, independentemente de sua
espécie, tem aptidão para quebrar a perpetuação da jurisdição.

Art. 45.

§ 1o Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação


seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação.

§ 2o Na hipótese do § 1 o, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos


em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não
examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas
entidades autárquicas ou de suas empresas públicas.

- Esses dois parágrafos se aplicam a qualquer juízo em que ocorra a situação de cumulação de
pedidos em que há incompetência para um deles. No caso, havendo competência da justiça
federal para um dos pedidos, ele deve não admitir a cumulação e processar apenas o pedido
para o qual é competente, ou seja, não irá remeter os autos. Caberá ao interessado ajuizar
nova ação no juízo competente apenas com o pedido para o qual a justiça federal era
incompetente.

Art. 45.

§ 3o O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar


conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído
do processo.

- Este parágrafo terceiro incorpora a Súmula n. 224 do STJ: “Excluído do feito o ente federal,
cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os
autos e não suscitar conflito”. Disciplina essa comunicação entre juízo federal e juízo estadual.
Apenas o juízo federal pode fazer o juízo de valor sobre a permanência ou não do ente federal
no processo.
- Art. 48 melhora a redação sobre a competência para inventário:

Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o


competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o
cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou
anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o
espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é


competente:

I - o foro de situação dos bens imóveis;

II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;

III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do
espólio.

- Este artigo menciona a partilha extrajudicial, que não é mencionado no CPC/73. O parágrafo
único traz mudanças: fala-se em bens imóvel (no CPC/73 falava-se apenas em bens). Há
gradação e esclarecimento no artigo e seu parágrafo único que o CPC/73 não fazia.

Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em


que seja autora a União.

Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser


proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou
fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito
Federal.

- Este dispositivo não é novidade. Ele reproduz o texto da Constituição Federal. A novidade é o
art. 52, que é um espelho do art. 51:

Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em


que seja autor Estado ou o Distrito Federal.

Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a


ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de
ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da
coisa ou na capital do respectivo ente federado.

- Este artigo 52 estende para Estados e DF a regra que já era aplicada à União. Trata-se de uma
regra espelho com nítida intenção de proteção do cidadão. Essa regra não existia no CPC/73.

- O art. 100 do CPC/73 equivale ao art. 53 do Novo CPC. Este artigo 53 do Novo CPC atualiza
aquele artigo 100 em três pontos:

Art. 53. É competente o foro:

I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e


reconhecimento ou dissolução de união estável:

a) de domicílio do guardião de filho incapaz;


b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;

c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo


domicílio do casal;

- No CPC/73, o foro competente para divórcio/dissolução era domicílio da mulher. Isso acabou.
Agora, a regra é propor no domicílio de guardião de filho incapaz. Se a guarda for
compartilhada, a ação deve ser proposta no domicílio do réu. Se não houver filho incapaz, a
competência será do último domicílio do casal. Se nenhum dos dois morar no último domicílio,
a competência será do domicílio do réu. A intenção do legislador é proteger o incapaz.

II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se


pedem alimentos;

III - do lugar:

a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;

b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que


a pessoa jurídica contraiu;

c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou


associação sem personalidade jurídica;

d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe


exigir o cumprimento;

e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito


previsto no respectivo estatuto;

f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de


reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;

- Essas letras e) e f) são importantes porque trazem coisas novas ao fixar competência em
favor do idoso para tratar de direitos do idoso. Esta regra consagra a doutrina de que a
competência do foro do domicílio do idoso é relativa para o próprio idoso, ou seja, é um
benefício para ele e ele usa se quiser. Para as ações coletivas, segue-se a regra das ações
coletivas no Estatuto do idoso: a competência passa a ser a de qualquer domicílio onde há
idosos; essa regra de competência na ação coletiva é absoluta. Com essa regra nova, o art. 80
do Estatuto do Idoso passa a ser aplicado apenas às Ações Coletivas.

- A Letra f) cria outra regra de competência territorial. A sede onde está o cartório será
competente para ação indenizatória por ato em razão do ofício cartorário.

IV - do lugar do ato ou fato para a ação:

a) de reparação de dano;

b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;

V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação


de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive
aeronaves.
CONEXÃO

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.

- No CPC/73 falava-se em objeto e aqui fala-se em pedido, uma atualização da redação.

§ 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão


conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.

- Este parágrafo 1º consagra a Súmula 235 do STJ: a conexão não determina a reunião dos
processos, se um deles já foi julgado".

§ 2o Aplica-se o disposto no caput:

I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa


ao mesmo ato jurídico;

II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.

- Novidade. Com esse inciso I do §2º acaba a discussão se é possível reunir uma ação de
execução com uma ação de conhecimento. Agora está claro, se elas forem conexas, devem ser
reunidas. Essa discussão já rendeu inclusive tese de doutorado.

§ 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que


possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão
entre eles.

- Este §3º é uma grande novidade. O termo “mesmo sem conexão” significa que o intérprete
deve ignorar o caput e o § 2º. Na verdade, este dispositivo consagra um novo caso de
conexão, uma nova hipótese: conexão por prejudicialidade, que já era admitido pela doutrina
e jurisprudência. Se tem risco de decisão divergente, é suficiente para reunião dos processos.
Encerra 40 anos de discussão. Significa mesmo sem conexão nos termos do caput e do §2º,
porque este §3º é um novo caso de conexão. 40 anos de discussão na doutrina para defender
que o conceito de conexão do CPC/73 era insuficiente para abranger todas as hipóteses de
conexão. A doutrina então identificou a conexão por prejudicialidade, então este §3º foi
incluído para abranger qualquer processo em que há mero risco de decisão conflitante.

Este trecho final foi bastante criticado pelo termo “mesmo sem conexão”. Na verdade,
é para que não haja discussão se há o não conexão com base no conceito legal, bastando que
haja risco de decisão contraditória para que haja reunião dos processos.

Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido


proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida será
proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações
serão necessariamente reunidas.

- Mudança significativa em CONTINÊNCIA. Na continência, o pedido de uma contém o da


outra, em duas causas quase iguais: mesmas partes e mesma causa de pedir. Duas hipóteses
neste artigo: 1) se a ação maior é proposta antes, gera a extinção da ação menor proposta
depois; 2) se a ação menor é proposta antes, gera reunião com ação maior proposta depois.
Conclusão: nem sempre a continência gera reunião. A depender da situação, poderá
gerar reunião ou extinção.

PREVENÇÃO

Como é sabido, as causas conexas devem ser reunidas no juízo prevento. No atual
CPC/73 existem dois critérios: despacho inicial e citação válida, que inclusive gera confusão.
Nunca teve sentido ter dois critérios de prevenção, pois só complicava.

O Novo CPC unificou e resolveu isso com um único critério de prevenção:

Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o


juízo.

Deste modo, o mesmo critério que fixa a competência (perpetuação da competência) é


o critério de prevenção. Não há mais pegadinha. Resolve-se um problema antigo com essa
unificação dos critérios de prevenção e fixação da competência.

FORO DE ELEIÇÃO

Duas mudanças significativas.

1ª) Foro de eleição internacional

Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o


processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de
eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional,
arguida pelo réu na contestação.

Consagra uma prática comercial internacional. Inclusive, o STJ já havia dito uma vez
que eleição de foro internacional violaria soberania nacional, mas isso não procede. Apenas
não terá validade a cláusula nos casos em que a competência brasileira é exclusiva. Já nos
casos de competência internacional concorrente não há problema alguma no foro de eleição
internacional. Isso é mais um artigo que respeita a vontade das partes.

2ª) Disciplina a alegação do foro de eleição abusivo

Art. 63.

§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode


ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa
dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.

§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição


de foro na contestação, sob pena de preclusão.

No CPC/73 falava apenas em contrato de adesão. No CPC/2015 fala em qualquer


contrato, logo, não há mais restrição a um tipo de contrato.

Antes da citação, o juiz pode controlar de ofício. Depois da citação, o juiz só pode
controlar se o Réu alegar. Se o Réu não alegar, terá se consumado preclusão, inclusive para o
juiz. Assim, esses dois parágrafos arrumaram essa questão no CPC. O controle de abusividade
se aplica a qualquer contrato.

ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

Agora, a incompetência, qualquer que seja ela, deve ser alegada em preliminar de
contestação.

Da mesma forma, qualquer alegação de incompetência agora pode ser feita no


domicílio do Réu, ou seja, não precisa alegar a incompetência no foro onde tramita o processo.
O Novo CPC permite essa alegação de incompetência absoluta ou relativa no domicílio do Réu.
A novidade é que isso vale para a absoluta e a relativa, pois no CPC 73 apenas valia para a
relativa.

No novo CPC, o MP (FISCAL DA ORDEM JURÍDICA) poderá alegar incompetência


relativa nos casos em que ele intervenha. No CPC 73 não podia alegar incompetência relativa.

Mudança muito significativa e de ordem prática. A incompetência absoluta não gera


mais a nulidade do ato decisório automaticamente. No CPC 73 a incompetência absoluta gera
nulidade de pronto. Já no Novo CPC, a decisão é preservada e apenas o juízo para o qual os
autos foram remetidos poderá dizer se manterá a decisão ou se a revisará/revogará. É uma
grande novidade, porque aposta-se na preservação do ato decisório / preservação do
processo.

O novo CPC deixa claro que a decisão sobre competência deve ser decidida
imediatamente. O juiz não pode deixar o processo rolar para decidir sobre isso só na sentença.
Alegada incompetência, deve ser decidida de pronto. Trata-se de uma decisão interlocutória.
Ou o juiz rejeita ou acolhe e remete os autos. O problema é que o Novo CPC prescreve que
apenas cabe agravo de instrumento nos casos listados, mas não lista a possibilidade de agravo
de instrumento contra decisão interlocutória sobre competência. De acordo com Fredie Didier,
o rol é taxativo, mas isso não significa que não admita interpretação por analogia (não é
extensiva, acrescentando novo elemento, mas sim interpretação por analogia); há situações
semelhantes àquelas da lista que merecem impugnação por agravo de instrumento. Neste
caso, todos os casos que se encaixem naquele modelo devem ser agraváveis.

Deve ser considerada a agravável porque a lista diz que a decisão que rejeita a
alegação de convenção de arbitragem. Ora, quando alego convenção de arbitragem, estou na
verdade dizendo que o juiz não tem competência para julgar a açaõ porque quem vai julgar é o
árbitro. Então, trata-se de um agravo de instrumento contra decisão interlocutória sobre
incompetência. Não admitir esse agravo, violaria inclusive a igualdade. Se não for admitido o
agravo, o processo vai tramitar normalmente sem possibilidade de recurso, o que perderia o
sentido da futura impugnação. Decisão sobre incompetência tem que ser agravável:
agravabilidade por instrumento das decisões interlocutórias sobre incompetência. O rol é
taxativo, mas deve admitir interpretação analógica.

MUDANÇAS EM RELAÇÃO AO CONFLITO DE COMPETÊNCIA


1) Fica claro que o MP não intervirá em qualquer conflito de competência, mas apenas
nos conflitos de causas nas quais ele já intervém, ou seja apenas nos processos em que se
exige a presença do MP como fiscal da ordem jurídica;

2) Deixa claro que o juiz que não aceitar o processo declinado tem o dever/obrigação
de suscitar o conflito. Isso era uma obviedade que não estava expressa no CPC 73, mas agora
está claro e evidente.

3) Deixa possibilidade de o relator julgar o conflito monocraticamente em situações


pré-definidas, veja-se:

Art. 955. Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito


de competência quando sua decisão se fundar em:

I - súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça


ou do próprio tribunal;

II - tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente


de assunção de competência.

Fica definido portanto as hipóteses em que o Relator poderá julgar monocraticamente,


sendo que estas hipóteses privilegiam a teoria do precedente.

AULA 09

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Muitas mudanças foram até revolucionárias. Um artigo muito conhecido do CPC 73 é o


art. 13, que regulamenta o que o juiz deve fazer quando identifica falta de capacidade
processual. Este dispositivo foi bastante reformulado, sobretudo para deixar claro que ele se
aplica a qualquer instância (não há justificativa para não se aplicar em qualquer instância de
jurisdição). Virou o art. 76 do Novo CPC:

Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da


representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará
prazo razoável para que seja sanado o vício.

§ 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância


originária:

I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor;

II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;

III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo,


dependendo do polo em que se encontre.

§ 2o Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de


justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:
I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;

II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a


providência couber ao recorrido.

Primeiro, de se observar que o prazo a ser fixado pelo juiz será um prazo razoável. O
novo CPC não fixa um prazo determinado, cabendo ao juiz fixar o prazo de acordo com a
necessidade do caso concreto.

O §1º detalha o que deve ser feito pelo juiz. O inciso III amplia a aplicação para terceiro
que poderá ser excluído ou ser revel, como ocorreria no caso de ser um denunciado na
denunciação da lide. O §2º deixa claro que se aplica em qualquer instância de jurisdição, seja
originária ou recursal. No recurso, se por ventura não for feita a correção determinada, aí sim
o recurso não será conhecido ou as contrarrazões serão desentranhadas. Isso reforça o
princípio da primazia da decisão de mérito.

Pressupostos processuais e condições da ação. O termo condição da ação é um termo


que o CPC 73 havia encampado (legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do
pedido). Sempre houve muita crítica ao CPC 73 por ter adotado a condição da ação. Ora, se
eram figuras relativas à admissibilidade do processo, então deveriam ser chamadas de
pressupostos processuais, simples assim. E ainda havia quem dissesse que pelo menos duas
das condições eram na verdade questão de mérito. Essas duas grandes críticas eram evidentes
no CPC 73.

O CPC Novo aboliu o termo condição da ação, assim como não existe mais a expressão
carência da ação. Foram eliminadas justamente porque são expressões equivocadas. No NCPC
continua-se falando em legitimidade e em interesse de agir, mas sem falar em condição da
ação. O Novo CPC não fala mais em possibilidade jurídica do pedido, não sendo mais um
assunto, pois sempre foi questão de mérito e isso agora foi reconhecido no Novo CPC! Se o juiz
entende que o pedido é juridicamente impossível, em verdade o juiz está julgando
improcedente o pedido.

Para Fredie Didier Jr, o Novo CPC deixa claro que interesse de agir e legitimidade de
parte são pressupostos processuais, ou seja, requisitos de admissibilidade do processo. Não há
mais necessidade de estudá-los à luz da teoria das condições da ação, mas sim na perspectiva
da admissibilidade do processo.

Opinião pessoal de Fredie: legitimidade de parte ordinária é questão de mérito; apenas


legitimidade de parte extraordinária seria questão de admissibilidade. É opinião minoritária.

Outras mudanças.

Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e


legitimidade.

Aparentemente, não mudou nada, mas só aparentemente. Há uma mudança sutil,


propositalmente. No CPC 73 o art. 3º dizia “para propor ou contestar ação é necessário ter
interesse e legitimidade”. O Novo CPC se utiliza do termo postular. Essa troca faz sentido,
porque propor ação e contestar não são as únicas formas de postular em juízo. Um exemplo é
a interposição de recurso, sendo que interpor recurso é também uma forma de postular.
Assim, para qualquer forma de postulação é necessário ter legitimidade e interesse de agir.
Deste modo, o Novo CPC aprimorou o termo.

Há um outro propósito na mudança da redação. Ela encampa um entendimento


doutrinário que é correto: o processo é um conjunto de atos e de situações jurídicas. Logo, as
relações estabelecidas no processo são muito dinâmicas, pelo que se pode assumir posições
distintas durante o processo e com interesses distintos. As partes não possuem posições fixas
no processo, essas posições mudam em um mesmo processo. Deste modo, a postulação pode
se dar de várias formas e em momentos distintos. A diferença, portanto, é que a redação do
Novo CPC não é rígida como a do CPC 73.

Ex.1: o juiz não é parte, mas é sujeito. Embora não seja parte, pode acontecer de no
processo ser oposta alegação de impedimento. Em relação àquela alegação de impedimento, o
juiz passa a ser parte. Isso demonstra que num processo o juiz pode ser parte. Para ser parte,
ele tem que ter legitimidade e estará postulando quando responde à alegação.

Ex.2: a pessoa que é denunciada à lide vem ao processo para ser Réu na denunciação
da lide, porém, também passa a ser assistente do denunciante. Logo, ele é a um só tempo Réu
frente ao denunciante, mas parceiro do denunciante em relação à parte contrária do
denunciante. São múltiplas posições/relações complexas.

O CPC Novo generaliza a improcedência liminar do pedido.

AULA 10

Legitimidade. Sofreu profunda mudança.

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome


próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.

A grande mudança está no fato de que no CPC 73 falava-se em “por lei” e no Novo CPC
fala-se em quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Essa mudança decorre da doutrina
que defendia que essa legitimidade extraordinária deveria decorrer do sistema, da
interpretação da norma, e o legislador acolheu isso.

Essa mudança foi muito importante porque os negócios jurídicos também estão
compreendidos no ordenamento jurídico. Terá, então, o Novo CPC admitido a legitimidade
extraordinária negocial? Para Fredie Didier isso será sim admitido. Isso não é possível no CPC
73 porque havia reserva legal, mas não haverá esta reserva legal no CPC 2015, assim, será
possível a legitimação extraordinária negociada.

A legitimação extraordinária negociada trata-se da atribuição da legitimidade a


alguém para defender o direito de outrem. Não se trata da transferência do direito (cessão de
crédito), mas sim da própria legitimidade. Será possível no Novo CPC, tanto porque o Novo
CPC passa a falar em ordenamento jurídico, bem como porque um dos princípios do Novo CPC
é o princípio do respeito à autonomia privada para convenções processuais (autoregramento
processual das partes).

Ex.: O Google vendeu a Motorola para a LENOVO, com reserva das patentes. No
contrato foi colocada uma cláusula de que a Lenovo teria legitimidade para ir a juízo defender
as patentes da Motorola, ou seja, as patentes não são da Lenovo mas terá legitimidade
extraordinária para estar em juízo defendendo direito da Google (patentes da Motorola).

Legitimação negociada no polo ativo. É possível pensar numa transferência e em uma


ampliação da legitimação. É possível ceder minha legitimação como também seria possível
atribuir uma legitimação concorrente. Essa legitimação irá varia em conformidade com o tipo
de direito. Se se trata de direitos absolutos (sujeito passivo indeterminado, como por exemplo
os direitos reais, de propriedade intelectual ou direitos de personalidade) não há nenhum tipo
de providência que se exija, bastará uma simples cessão. Já para os direitos relativos (que tem
um sujeito passivo determinado, como no caso de um crédito), Fredie defende que essa cessão
de legitimidade dependerá da notificação do suposto sujeito passivo, sendo este raciocínio
semelhante ao da cessão de crédito do direito obrigacional (aplica-se por analogia). Nos
direitos absolutos não há razão para notificar ninguém porque não se sabe quem será o sujeito
passivo, pois todos o são.

Legitimação negocial no polo passivo. De acordo com Fredie, só será possível transferir
se o sujeito ativo concordar com a transferência. NÃO CONCORDO PORQUE MESMO QUE O
SUJEITO PASSIVO TRANSFIRA SUA LEGITIMIDADE PASSIVA, SERÁ ELE QUEM CONTINUARÁ
RESPONDENDO PERANTE O SUJEITO ATIVO, EMBORA TENHA OUTORGADO LEGITIMIDADE
EXTRAORDINÁRIA A TERCEIRO.

2ª Mudança em legitimação extraordinária.

Art. 18.

Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído


poderá intervir como assistente litisconsorcial.

Esse parágrafo único esclarece que se há legitimação extraordinária, o substituído


poderá intervir para ser assistente litisconsorcial (unitário) do substituto.

Curador Especial

Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:

I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste


colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade;

II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com
hora certa, enquanto não for constituído advogado.

Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria


Pública, nos termos da lei.
Houve mudanças. No inciso II, apenas o Réu preso revel! Isso não era assim no CPC 73,
pois bastava o réu preso, fosse ele revel ou não, teria curador especial. Agora, só o Réu preso
que for revel.

Além disso, a parte final do inciso II faz uma limitação à atuação do curador especial ao
dizer que o curador especial permanecerá como tal até que um advogado seja constituído.
Assim, se for constituído um advogado, não subsistirá a necessidade de curador especial.

Por outro lado, o Novo CPC consagra que a curadoria especial é função institucional da
Defensoria Pública, no parágrafo único.

O CPC/73 falava muito em sociedades irregulares quando cuidava da capacidade


processual. Além das sociedades irregulares, também há associações irregulares (sem fins
lucrativos). Por exemplo, o MST é uma associação que não foi constituída regularmente. Pela
primeira vez no sistema jurídico brasileiro, as associações irregulares tiveram sua
representação judicial regulamentada:

Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:

IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes


organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem
couber a administração de seus bens;

Inclusive, o §2º do art. 75 proíbe que a sociedade ou associação irregular alegue sua
irregularidade como matéria de defesa para que não possa ser demanda. É uma questão de
boa-fé objetiva. Não pode atuar irregular e depois alegar a própria irregularidade como defesa
para não responder por suas obrigações.

Aula 11

Último bloco sobre PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Capacidade Processual das Pessoas Casadas

No CPC 73 é o art. 10; Já no Novo CPC é o art. 73. Quais as mudanças ocorridas?

A 1ª mudança é a adequação do Novo CPC ao Código Civil. Se for observado, o CPC/73


tratava as pessoas casadas de forma espelhada com o CC/16. Porém, veio o CC/2002 e não
houve atualização do CPC/73. Logo, o Novo CPC fez uma adequação ao Novo CC.

Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor


ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados
sob o regime de separação absoluta de bens.

§ 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:

I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o
regime de separação absoluta de bens;

II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato


praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da
família;

IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a


extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.

§ 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do


réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por
ambos praticado.

§ 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos


autos.

No caput do art. 73, o Novo CPC repetiu o que foi dito pelo CC/2002, em que o
consentimento só não será necessário quando o casamento houver sido celebrado no regime
de separação absoluta de bens. Dúvida: separação legal e convencional? Ou apenas separação
convencional de bens?

Houve adequação nos incisos do §1º, que trata do litisconsórcio passivo entre os
cônjuges. O inciso III traz uma mudança, pois na redação do CPC/73 falava em dívida contraída
pelo marido a bem da família, e no Novo CPC fala-se em dívida contraída por um dos cônjuges
a bem da família. O CC deixa claro que quando um dos cônjuges contrai dívida a bem de
família trata-se de dívida de economia doméstica e ambos respondem.

Outra imensa novidade. §3º do art. 73: determina a aplicação do mesmo regime à
união estável, desde que comprovada nos autos. Isso é um problema porque a união estável é
caracterizada sobretudo pela informalidade, ou seja, não há essa informação em registro.
Então, há a possibilidade de no meio do processo alguém aparecer e dizer que vive em união
estável e então pedir a anulação de todo o processo ou então da penhora, por exemplo.

Interpretação de Fredie Didier sobre esse §3º: Quando se fala em “comprovada” tem
que ser comprovada por documento, o documento averbado no registro civil tal como
regulamentado pelo CNJ. De acordo com o regulamento do CNJ, pode-se levar o contrato de
união estável e averbar no registro civil. Com isso, poderá haver controle por parte de
terceiros e evitará fraude, garantindo direitos de terceiros.

Capacidade processual do espólio quando se trata de inventariante dativo. No


CPC/73, falava-se inventariante dativo e, além do espólio ser parte, todos os herdeiros
deveriam ser parte ativa ou passiva (art. 12, §1º, do CPC/73). Era como se houvesse
litisconsórcio necessário entre espólio e herdeiros.

No Novo CPC, a coisa foi esclarecida. Eis anova redação: art. 75. [...] § 1o Quando o
inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o
espólio seja parte. Agora deixa claro que os herdeiros serão apenas comunicados da existência
da ação, por isso os herdeiros serão intimados para que, querendo, possam acompanhar o
processo.

§4º do art. 75:


§ 4o Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso
recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em
favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas
respectivas procuradorias.

Passa a ser permitido expressamente que haja convênios para que os procuradores de
façam defesa de outro ente. Então, um Procurador da Bahia poderá defender o Estado do
Espírito Santo, por exemplo, quando for demandado na Bahia. Trata-se de colaboração
federativa. Trata-se de um negócio jurídico processual muito importante.

Advogado que postula sem procuração: era regulamentado no CPC/73 no art. 37,
parágrafo único: Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por
inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. No entanto, não se
trata de algo inexistente, pois não pode ser ratificável algo que não existe. Esse dispositivo deu
azo à criação da súmla 115 do STJ, segundo a qual um recurso sem procuração é inexistente...
na verdade, existe, mas é ineficaz até que seja ratificado. Além disso, este mesmo dispositivo
estava em dissonância com o CC/2002, art. 662:

Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha
sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo
nome foram praticados, salvo se este os ratificar.

Corretamente, o CC/2002 fala em ineficácia do ato não ratificado. Tacitamente, este


art. 662 do CC/2002 revogou o parágrafo único do art. 37 do CPC/73.

No Novo CPC a aberração foi corrigida:

Art. 104. [...] § 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz


relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o
advogado pelas despesas e por perdas e danos.

Assim, fica claro que capacidade postulatória não é requisitos de existência, mas sim
de eficácia do ato.

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