Você está na página 1de 6

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAZONAS

Curso:
Aluno(a):
DIREITO
Disciplina: DIREITO ELEITORAL Nº. MAT.:

Prof: Dr. HELTON PRAIA Data: Nota:


Avaliação/Exercício: Ano: Turma: Turno:

DIREITO ELEITORAL

1. Faça análise do voto do Ministro do STF Dias Toffoli, relativo ao RECURSO


EXTRAORDINÁRIO 1.096.029 MINAS GERAIS - RE 1096029 / MG,
Repercussão Geral, que trata de registro de candidatura de prefeito eleito e
inelegibilidade, tratando os seguintes pontos:

a. A explicação do caso com uma síntese do tema abordado;


b. Comentário sobre os princípios constitucionais aplicados, os artigos da
Constituição Brasileira de 1988 e artigos das legislações mencionadas;
c. Comentários sobre os pontos favoráveis e desfavoráveis, o que faltou
acrescentar e o que tem em excesso, relativo ao voto do Ministro;
d. Considerações finais.

Em anexo, a decisão do RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.096.029 MINAS


GERAIS - RE 1096029 / MG.

Observação: o trabalho pode ser em grupo de até 5 alunos e deverá ser entregue por
escrito no dia da defesa oral (dia da prova).

Boa prova!
Abraço fraterno a todos!
SÍNTESE

O Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão geral em


matéria que discute a necessidade de organização de novas eleições sempre que ocorrer o
indeferimento do registro de candidatura, em eleição majoritária, independentemente do
número de votos então anulados.

A matéria é tema do Recurso Extraordinário 1.096.029, interposto pelo Ministério


Público Eleitoral. O assunto está na pauta do Plenário do STF desta quarta-feira (7/3), em
duas ações diretas de inconstitucionalidade.

No caso dos autos, o registro da candidatura de José Nery (MDB) à prefeitura de


Cristiano Otoni (MG), no pleito de 2016, foi indeferido por incidência da causa de
inelegibilidade prevista no artigo 1°, inciso I, alínea "g", da Lei Complementar 64/1990
(Lei de Inelegibilidade), em razão da rejeição das contas do município referente ao ano de
2012, pois, à frente do Executivo local no período, ele editou decreto de suplementação
orçamentária sem respeitar os ditames legais.

Concorrendo com o registro sub judice, Nery foi o candidato mais votado, com
41,79% dos votos, mas o Tribunal Superior Eleitoral, após o julgamento de recursos,
manteve o indeferimento. O acordão do TSE assentou a impossibilidade de se dar posse ao
segundo candidato mais votado, impondo a realização de novas eleições, conforme prevê o
parágrafo 3° do artigo 224 do Código Eleitoral, acrescido pela Lei 13.165/2015. Entendeu
também que, para a aplicação do dispositivo, é irrelevante se tratar de município com
menos de 200 mil habitantes.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS E LEIS APLICADAS

A primeira observação foi na Lei nº 13.165/2015 (conhecida como minirreforma


eleitoral de 2015) alterou diversos dispositivos da legislação eleitoral. Dentre as mudanças
promovidas, vale destacar que a Lei nº 13.165/2015 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art. 224 do
Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65).

Veja os dispositivos incluídos:


Art. 224 (...)
§ 3º A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do
registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito
em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de
novas eleições, independentemente do número de votos anulados.
§ 4º A eleição a que se refere o § 3º correrá a expensas da Justiça Eleitoral
e será:
I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de seis meses do final
do mandato;
II - direta, nos demais casos.

No qual observa-se no § 3º que em algumas das causas previstas incorrer em novas


eleições, independentemente do número de votos anulados. Assim como no § 4º, as
eleições se dariam de forma INDIRETA feita pelo parlamento): se a vacância do cargo
ocorrer a menos de 6 meses do final do mandato (está faltando menos de 6 meses, não “vale
a pena” fazer eleição direta); DIRETA (com voto universal de todos os eleitores): se
quando ocorreu a vacância ainda havia mais de 6 meses de mandato. Então, se ainda não
tiver passado mais que 3 anos e 6 meses, a eleição será direta.

A Procuradoria-Geral da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade


contra estes dois parágrafos incluídos pela Lei 13.165/2015.

Quanto ao § 3º, a alegação da PGR foi a de que a exigência de trânsito em julgado


para a realização de novas eleições seria uma espera “exagerada e desproporcional, em face
da gravidade das condutas que autorizam cassação de diploma e de mandato”.

O autor da ADI defendia a seguinte tese: se o TSE já tiver julgado todos os


recursos sobre o tema e somente se estiver aguardando eventual recurso extraordinário
interposto contra a decisão, então, neste caso, deve-se autorizar a realização de novas
eleições. Isso porque o recurso extraordinário não tem efeito suspensivo.

Logo, não deveria impedir a realização de novas eleições. Em outras palavras, a


PGR queria que o STF julgasse inconstitucional a expressão “após o trânsito em julgado”
prevista no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral e que o Tribunal fixasse a interpretação de
que basta o encerramento da tramitação do processo na Justiça Eleitoral.

A PGR alegou que a previsão do § 4º do art. 224 do Código Eleitoral viola o art.
81, caput e § 1º da CF/88:
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,
far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da
última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
• art. 224, § 4º do CE: prevê que se a vacância for nos últimos 6 meses, a eleição
será indireta; • art. 81, § 1º da CF/88: estabelece que se a vacância for nos dois últimos
anos, a eleição será indireta.

Desse modo, o art. 224, § 4º do CE reduziu de 2 anos para 6 meses o tempo no


qual se exige que a vacância ocorra para que a eleição seja indireta.

Cinge-se a controvérsia em verificar se a expressão “indeferimento do registro”


contida no § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, incluído pela Lei 13.165/15, ofende a
ordem constitucional, em especial os arts. 1º, I; 5º, LVI; 14, caput e § 9º; e 37 da CF. Aqui
os conflitos com a Constituição Federal.

A observação do Ministério Público Eleitoral aponta que a previsão de nova


eleição para a hipótese de indeferimento do registro de candidato que obteve a vitória sem,
contudo, ter alcançado a maioria absoluta dos votos, viola a soberania popular e coloca em
risco o regime democrático, mormente por desconsiderar o número de votos anulados.

Um candidato que obtiver maioria relativa dos votos (menos de 50% dos votos
válidos) e tiver o registro indeferido, não há necessidade de se realizarem novas eleições,
bastando se conceder posse ao segundo candidato mais votado. Nos termos do art. 224, §
3º, do Código Eleitoral, só haveria nova eleição se o candidato cujo registro foi indeferido
obtivesse maioria absoluta, porquanto “não é razoável a renovação do pleito nas hipóteses
em que a nulidade não atingiu mais da metade dos votos válidos”.

Observa-se que o Min. Aplicou o princípio da DURAÇÃO RAZOÁVEL DO


PROCESSO, previsto na Carta Magna, no art.5, LXXVIII da CF/88 - a todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.” Dessa forma passo aos comentários.

COMENTÁRIOS SOBRE OS PONTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS, O


QUE FALTOU ACRESCENTAR E O QUE TEM EM EXCESSO, RELATIVO AO
VOTO DO MINISTRO;

O que se observou primeiramente são as semelhanças com outro julgado, a ADI nº


5.525, na qual se requer o reconhecimento da inconstitucionalidade parcial do § 3º do art.
224 do Código Eleitoral e da inconstitucionalidade total do § 4º desse mesmo dispositivo,
reafirmando a tese da corte.

Em decisão acertada o STF concordou com a PGR e declarou a


inconstitucionalidade da locução “após o trânsito em julgado”, prevista no § 3º do art. 224
do Código Eleitoral.

O STF entendeu que a exigência do trânsito em julgado para a perda do mandato


contraria o princípio democrático e o princípio da soberania popular.

Normalmente o candidato eleito que é condenado pela Justiça Eleitoral interpõe


sucessivos recursos. Se as novas eleições somente pudessem ser realizadas após o
julgamento de todos esses recursos, é muito provável que o mandato de 4 anos do Prefeito,
do Governador ou do Presidente se encerrasse sem que esse novo pleito fosse realizado.

Além disso, mesmo se o condenado é afastado cautelarmente do cargo enquanto se


aguarda o trânsito em julgado, se não há novas eleições, quem assume temporariamente é o
Presidente do Poder Legislativo. Ex: Prefeito é condenado à perda do mandato;
suponhamos que a Justiça Eleitoral o afaste mesmo havendo ainda recurso pendente; pela
regra do § 3º, não seria possível a realização de nova eleição para o cargo enquanto não
houvesse o trânsito em julgado; isso significa que o Presidente da Câmara Municipal ficaria
na função de Prefeito durante meses ou até mesmo anos aguardando o trânsito em julgado
sem tenha sido eleito para isso. Tal situação representaria violação ao princípio
democrático e ao princípio da soberania popular, porque permitiria que alguém que não foi
eleito exercesse o cargo majoritário por largo período.

Dessa forma, o STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito


em julgado” e decidiu que basta a exigência de decisão final da Justiça Eleitoral. Assim,
concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso extraordinário),
a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em julgado.

O STF afirmou que esse dispositivo deveria receber uma interpretação conforme a
Constituição, de modo a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos
cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da
República.
Em outras palavras, o § 4º é válido, mas ele não se aplica para os cargos de:

• Presidente e Vice-Presidente da República; e

• Senador.

Não se aplica porque no caso de vacância dos cargos de Presidente, Vice-


Presidente e Senador, a própria Constituição Federal já estabelece regras que deverão ser
observadas para o seu preenchimento elas são diferentes do que preconiza o § 4º.

Dessa forma reconhecido como Tema nº 986 da Gestão da Repercussão Geral do


portal do Supremo Tribunal Federal, com a seguinte descrição: “discussão acerca da
constitucionalidade do § 3º do artigo 224 do Código Eleitoral no tocante à necessidade de
realização de novas eleições sempre que ocorrer o indeferimento do registro de candidatura,
em pleito majoritário, independentemente do número de votos então anulados”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Em decisão acertada a corte reafirmou o entendimento, de que conheceu do


recurso extraordinário e negou-lhe provimento, mantendo-se o entendimento do acórdão
proferido pelo Tribunal Superior Eleitoral, nos termos do voto do Relator, Ministro Dias
Toffoli (Presidente). Em seguida, fixou-se a seguinte tese: “É constitucional, à luz dos arts.
1º, inc. I e parágrafo único, 5º, inc. LIV, e 14, caput e § 9º, da Constituição da República, o
§ 3º do artigo 224 do Código Eleitoral, com a redação dada pela Lei 13.165/2015, no que
determina a realização automática de novas eleições, independentemente do número de
votos anulados, sempre que o candidato eleito, em pleito majoritário, for desclassificado,
por indeferimento do registro de sua candidatura, ou em virtude de cassação do diploma ou
mandato”.

O reconhecimento em repercussão geral também foi acertado uma vez que cuida-
se de discussão que tem o potencial de repetir-se em inúmeros processos, sendo certo que,
em cada um desses, estarão em jogo também os interesses de milhares de eleitores,
habitantes das cidades em que tal hipótese vier a ocorrer".

Você também pode gostar