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JUSTIÇA ELEITORAL

098ª ZONA ELEITORAL DE CRICIÚMA SC

REPRESENTAÇÃO (11541) Nº 0600002-21.2024.6.24.0092 / 098ª ZONA ELEITORAL DE CRICIÚMA SC


REPRESENTANTE: PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA - PDT - MUNICIPAL - FORQUILHINHA - SC
Advogado do(a) REPRESENTANTE: MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA - SC12309
REPRESENTADO: JOSE CLAUDIO GONCALVES

DECISÃO

Vistos, etc.
Trato de representação visando a impugnação de divulgação de pesquisa eleitoral com pedido
de antecipação de tutela proposta por PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA MUNICIPAL–
FORQUILHINHA–SC, contra JOSÉ CLÁUDIO GONÇALVES.
Narra o Representante ter o Representado, atual Prefeito do município de Forquilhinha, nos
dias 30/01/2024 e 02/02/2024, divulgado pesquisas eleitorais para as Eleições Municipais de 2024 sem
registro perante à Justiça Eleitoral, por meio de entrevistas em programa de rádio.
Requer, assim, a concessão de tutela antecipada a fim de determinar a suspensão imediata da
divulgação das pesquisas não registradas.
No mérito, pleiteia seja convertida a liminar em permanente e a condenação do Representado
à multa prevista no art. 17 da Res. TSE n. 23.600/2019.
Vieram os autos conclusos.
É o relatório do essencial.
Decido:
Antes de adentrar na situação litigiosa propriamente dita, convém fazer uma breve análise
acerca da tutela de urgência.
No direito processual brasileiro, por regra, deve-se aguardar o trânsito em julgado da sentença
para que eventual procedência possa gerar efeitos práticos. Entretanto, em determinadas situações o
legislador optou por bem propiciar à parte, mediante a demonstração de certos requisitos, antecipar a
concretização daquilo que somente poderia ser feito com a estabilização da sentença.
E, justamente, uma dessas situações se dá com a tutela de urgência.
Segundo previsão contida no caput e § 3º do art. 300 do CPC, que se utiliza em caráter
supletivo e subsidiário em relação aos feitos que tramitam na Justiça Eleitoral (Resolução 23.478/2016), os
requisitos gerais para concessão da tutela de urgência (cautelar ou antecipada) podem ser resumidos em (i)
requerimento da parte, (ii) plausibilidade do direito invocado (fumus boni iuris), (iii) risco ao resultado útil
do processo ou perigo de dano de duvidosa ou impossível reparação (periculum in mora), e (iv)
reversibilidade da medida, se em caráter antecipatório.
De modo semelhante, a Resolução TSE n. 23.600/2019 dispõe em seu art. 16, §1º
“Considerando a relevância do direito invocado e a possibilidade de prejuízo de difícil reparação, poderá ser
determinada a suspensão da divulgação dos resultados da pesquisa impugnada ou a inclusão de
esclarecimento na divulgação de seus resultados.”
Logo, o postulante de medida excepcional deverá demonstrar a probabilidade do direito
alegado, por intermédio de prova convincente, aliada ao perigo de dano irreparável ou de incerta reparação,
caso a intervenção judicial se dê tardiamente.
Mas não é só, porque se tratando de tutela antecipada, incumbirá ao requerente da medida
comprovar a sua reversibilidade.
Satisfeitos tais requisitos, pode o magistrado antecipar os efeitos da sentença, notadamente o
executivo e o mandamental, para concretizar no plano fático o deferimento (tutela de urgência antecipada),
ou conceder medida apta a resguardar a efetividade da tutela jurisdicional a ser prestada (tutela de urgência
cautelar).
Feito esse aporte teórico, passo à análise da situação em litígio.
No caso, a probabilidade do direito está demonstrada pelas entrevistas realizadas em rádio e
reproduzidas em canal do YouTube e do Spotify que divulgam pesquisas de opinião pública relativas às
eleições ou aos candidatos, contrariando as disposições estabelecidas pela Resolução TSE n. 23.600/2019,
conforme reproduzidas abaixo:
Em consulta ao PesqEle nesta data não consta registro de pesquisa eleitoral referente ao
município de Forquilhinha.
O conteúdo das afirmações divulgadas pelo Representado, informando o percentual de
aprovação de seu governo, cujo conhecimento afirma ter sido feito por meio de pesquisas por ele contratadas,
bem como o percentual de pretensão de votos de seus adversários no pleito eleitoral que se aproxima, viola a
regra imposta na Resolução TSE n. 23.600/2019:

“Art. 2º A partir de 1º de janeiro do ano da eleição, as entidades e as empresas que


realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou às candidatas e aos
candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a
registrar, no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle), até 5 (cinco) dias
antes da divulgação, as seguintes informações (Lei n° 9.504/1997, art. 33, caput, I a
VII e § 1º) :

I - contratante da pesquisa e seu número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas


(CPF) ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ); II - valor e origem dos
recursos despendidos na pesquisa, ainda que realizada com recursos próprios; III -
metodologia e período de realização da pesquisa; IV - plano amostral e ponderação
quanto a gênero, idade, grau de instrução, nível econômico da pessoa entrevistada e
área física de realização do trabalho a ser executado, bem como nível de confiança e
margem de erro, com a indicação da fonte pública dos dados utilizados; V - sistema
interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do
trabalho de campo; VI - questionário completo aplicado ou a ser aplicado; VII -
quem pagou pela realização do trabalho com o respectivo número de inscrição no
CPF ou no CNPJ; VIII - cópia da respectiva nota fiscal; IX - nome da(o) profissional
de Estatística responsável pela pesquisa, acompanhado de sua assinatura com
certificação digital e o número de seu registro no Conselho Regional de Estatística
competente;

Ademais, a divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações de que trata o
artigo 33 da Lei de Eleições (Lei n. 9.504/1997) sujeita os responsáveis a aplicação de multa, no valor de R$
53.205,00 (cinquenta e três mil, duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil, quatrocentos e dez
reais) (Lei nº 9.504/1997, arts. 33, § 3º , e 105, § 2º) .
Nesse sentido já decidiu o colendo Superior Tribunal Eleitoral:

“[...] Pesquisa eleitoral. Divulgação sem prévio registro. 1. A divulgação de pesquisa


eleitoral, sem prévio registro na Justiça Eleitoral, em grupo do Whatsapp, configura o
ilícito previsto no art. 33, § 3º, da Lei 9.504/97. 2. Para que fique configurada a
divulgação de pesquisa eleitoral, sem prévio registro na Justiça Eleitoral, nos termos do
art. 33, § 3º, da Lei 9.504/97, basta que tenha sido dirigida para conhecimento público,
sendo irrelevante o número de pessoas alcançado pela divulgação e sua influência no
equilíbrio da disputa eleitoral. 3. O acórdão desta Corte, proferido no julgamento do
REspe 74-64, rel. Min. Dias Toffoli, DJE de 15.10.2013 -no qual se assentou que a
emissão de opiniões políticas em páginas pessoais de eleitores no Facebook ou no
Twitter não caracteriza propaganda eleitoral -, não se aplica aos casos de pesquisa
eleitoral, sem prévio registro [...]” (Ac. de 30.5.2017 no AgR-REspe nº 10880, rel. Min.
Admar Gonzaga.)

O perigo de dano é inerente à manutenção da normalidade do processo eleitoral. A divulgação


de pesquisas relacionadas às eleições, sobre a intenção de votos ou aprovação da gestão do atual prefeito,
interessado na reeleição, sem o obrigatório registro no órgão competente, como determina a Resolução TSE
n. 23.600/2019, induz em erro eleitores, maculando o princípio da Publicidade e Transparência no processo
eleitoral. Os partidos políticos e os candidatos devem observar, como adjetivo intrínseco no certame eleitoral,
a transparência e a acessibilidade de informações aos eleitores, assegurando a divulgação correta de dados
relevantes referentes ao pleito eleitoral.
A normalidade do pleito é um dos vetores essenciais do processo eleitoral democrático, e as
regras atinentes à divulgação de pesquisas eleitorais tem por finalidade assegurar um ambiente eleitoral
equilibrado e justo, no qual os eleitores possam exercer seu direito ao voto de forma consciente e livre de
influências indevidas.
Conforme esclarecem Velloso e Agra (2020, p. 24), a obrigatoriedade de registro de pesquisas
e testes eleitorais é imprescindível “[...] para evitar manipulações à consulta popular, por meio de pesquisas
previamente preparadas, em que, por exemplo, um entrevistador consulta somente cidadãos de uma região
que, tradicionalmente, apoiam determinado partido ou candidato, o que produz um resultado errôneo no
material auferido”. [VELLOSO, Carlos Mário da S.; AGRA, Walber de M. Direito eleitoral - propaganda
eleitoral. São Paulo: Editora Saraiva, 2020. E-book. ISBN 9786555593235. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555593235/. Acesso em: 16 fev. 2024.
Por fim, a tutela de urgência é reversível, pois caso o pedido seja julgado improcedente, o
Representado poderá novamente divulgar as informações objeto desta lide.
Ante o exposto, DEFIRO o pedido de tutela de urgência, com fulcro no art. 16, § 1º, da
Resolução n. 23.600/2019, para determinar a suspensão da divulgação de pesquisas não registradas na forma
do art. 2º da Resolução TSE n. 23.600/2019, sob pena de multa ao Representado no valor de R$10.000,00
(Dez mil reais), por eventual descumprimento.
Notifique-se o Representado para cumprimento imediato desta decisão na forma dos §§ 4º e 5º
do art. 13 da Resolução TSE n. 23.600/2019.
Criciúma/SC, 16/02/2024.

(Datado e assinado eletronicamente)


JÚLIO CÉSAR BERNARDES
Juiz eleitoral

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