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DECISÃO
Vistos, etc.
Trato de representação visando a impugnação de divulgação de pesquisa eleitoral com pedido
de antecipação de tutela proposta por PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA MUNICIPAL–
FORQUILHINHA–SC, contra JOSÉ CLÁUDIO GONÇALVES.
Narra o Representante ter o Representado, atual Prefeito do município de Forquilhinha, nos
dias 30/01/2024 e 02/02/2024, divulgado pesquisas eleitorais para as Eleições Municipais de 2024 sem
registro perante à Justiça Eleitoral, por meio de entrevistas em programa de rádio.
Requer, assim, a concessão de tutela antecipada a fim de determinar a suspensão imediata da
divulgação das pesquisas não registradas.
No mérito, pleiteia seja convertida a liminar em permanente e a condenação do Representado
à multa prevista no art. 17 da Res. TSE n. 23.600/2019.
Vieram os autos conclusos.
É o relatório do essencial.
Decido:
Antes de adentrar na situação litigiosa propriamente dita, convém fazer uma breve análise
acerca da tutela de urgência.
No direito processual brasileiro, por regra, deve-se aguardar o trânsito em julgado da sentença
para que eventual procedência possa gerar efeitos práticos. Entretanto, em determinadas situações o
legislador optou por bem propiciar à parte, mediante a demonstração de certos requisitos, antecipar a
concretização daquilo que somente poderia ser feito com a estabilização da sentença.
E, justamente, uma dessas situações se dá com a tutela de urgência.
Segundo previsão contida no caput e § 3º do art. 300 do CPC, que se utiliza em caráter
supletivo e subsidiário em relação aos feitos que tramitam na Justiça Eleitoral (Resolução 23.478/2016), os
requisitos gerais para concessão da tutela de urgência (cautelar ou antecipada) podem ser resumidos em (i)
requerimento da parte, (ii) plausibilidade do direito invocado (fumus boni iuris), (iii) risco ao resultado útil
do processo ou perigo de dano de duvidosa ou impossível reparação (periculum in mora), e (iv)
reversibilidade da medida, se em caráter antecipatório.
De modo semelhante, a Resolução TSE n. 23.600/2019 dispõe em seu art. 16, §1º
“Considerando a relevância do direito invocado e a possibilidade de prejuízo de difícil reparação, poderá ser
determinada a suspensão da divulgação dos resultados da pesquisa impugnada ou a inclusão de
esclarecimento na divulgação de seus resultados.”
Logo, o postulante de medida excepcional deverá demonstrar a probabilidade do direito
alegado, por intermédio de prova convincente, aliada ao perigo de dano irreparável ou de incerta reparação,
caso a intervenção judicial se dê tardiamente.
Mas não é só, porque se tratando de tutela antecipada, incumbirá ao requerente da medida
comprovar a sua reversibilidade.
Satisfeitos tais requisitos, pode o magistrado antecipar os efeitos da sentença, notadamente o
executivo e o mandamental, para concretizar no plano fático o deferimento (tutela de urgência antecipada),
ou conceder medida apta a resguardar a efetividade da tutela jurisdicional a ser prestada (tutela de urgência
cautelar).
Feito esse aporte teórico, passo à análise da situação em litígio.
No caso, a probabilidade do direito está demonstrada pelas entrevistas realizadas em rádio e
reproduzidas em canal do YouTube e do Spotify que divulgam pesquisas de opinião pública relativas às
eleições ou aos candidatos, contrariando as disposições estabelecidas pela Resolução TSE n. 23.600/2019,
conforme reproduzidas abaixo:
Em consulta ao PesqEle nesta data não consta registro de pesquisa eleitoral referente ao
município de Forquilhinha.
O conteúdo das afirmações divulgadas pelo Representado, informando o percentual de
aprovação de seu governo, cujo conhecimento afirma ter sido feito por meio de pesquisas por ele contratadas,
bem como o percentual de pretensão de votos de seus adversários no pleito eleitoral que se aproxima, viola a
regra imposta na Resolução TSE n. 23.600/2019:
Ademais, a divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações de que trata o
artigo 33 da Lei de Eleições (Lei n. 9.504/1997) sujeita os responsáveis a aplicação de multa, no valor de R$
53.205,00 (cinquenta e três mil, duzentos e cinco reais) a R$ 106.410,00 (cento e seis mil, quatrocentos e dez
reais) (Lei nº 9.504/1997, arts. 33, § 3º , e 105, § 2º) .
Nesse sentido já decidiu o colendo Superior Tribunal Eleitoral: