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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
DESPACHO/DECISÃO
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estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento, sendo este o
caso da LAP com dispensa de LAI nº 800/2022, que foi precedida de Relatório
Ambiental Prévio – RAP. Sustena que não há qualquer tipo de comprovação nos
autos de que o licenciamento ambiental realizado por técnicos habilitados e
altamente qualificados do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) não
possua higidez e, tampouco, o Ministério Público Federal alegou a existência de
dolo, fraude, erro ou má-fé por parte dos profissionais técnicos do órgão licenciador,
presumindo-se, desse modo, a legalidade e a validade dos atos administrativos que
levaram à emissão da LAP com dispensa de LAI nº 800/2022.
É o relatório, decido.
(...)
(...)
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Em documentação fornecida pelo IMA, que instrui os autos em referência, consta a
seguinte informação sobre a APP citada:
Assim, com base na análise dos autos em epígrafe, observa-se que as obras de
urbanização da orla da praia central do Município de Balneário Arroio do Silva
serão realizadas sobre cordão de dunas frontais, portanto, sobre Área de
Preservação Permanente – APP.
(...)
Para a obra em questão, entende-se que, sob o aspecto técnico, seria mais
adequado a modalidade de Estudo Prévio de Impacto Ambiental e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental – EIA-RIMA, pois esse estudo daria maior
robustez à proteção dos aspectos socioambientais locais.
(...)
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As dunas frontais são cordões paralelos à costa, convexos, simétricos ou
assimétricos, situadas na retaguarda da linha de maré alta na porção superior do
pós-praia, formados por deposição eólica na presença de vegetação. Para
Nordstrom, as dunas frontais fornecem barreiras naturais contra extravasamento da
água do mar, inundação, estresse do vento, transporte de sedimento e spray
marinho durante tempestades, o que ajuda a manter a integridade geral dos
habitats da parte interior da praia. Estas feições ainda protegem o lençol freático
contra a salinização além de servir de berçário e também de habitat para várias
espécies da fauna e flora.
(...)
Não bastasse, saliento que, conforme exposto pelo MPF em sua inicial, "a
intervenção do poder público municipal nas áreas de proteção permanente
(restingas e dunas), além de mau exemplo, configurará incentivo para a
edificação/manutenção de obras de particulares existentes em locais próximos. Isso
porque, historicamente, o Poder Público de Balneário Arroio do Silva vem
negligenciando seu dever de fiscalizar e proteger as áreas de preservação
permanente e especial situadas em seu território, da ação de particulares, omitindo-
se no dever/poder de fiscalização, como se percebe pelas próprias residências
situadas muito próximas ao mar e ao empreendimento proposto. Essa situação de
permissividade em relação à degradação ambiental vem se repetindo no município
de Balneário Arroio do Silva ao longo de toda a orla marítima, que
irresponsavelmente, tem concedido licenças e autorizações indiscriminadamente, e
se omitido no dever de fiscalizar e impedir as construções realizadas
irregularmente. Realizar a obra em questão traria uma aparente legalidade aos
imóveis edificados em local próximo, situados também em APP e terrenos de
marinha o que, a priori, não é verdade. Ademais, pendente a elaboração de Projeto
de Regularização Fundiária Urbana em Área de Preservação Permanente, nos
termos da Lei 13.465/2017, com a elaboração de estudo técnico ambiental, nos
termos do art. 65 do Código Florestal, o que será objeto de demanda própria. Não
bastasse a omissão quanto a esse ponto, o Município prossegue na degradação de
áreas de preservação permanente, sem a realização dos estudos ambientais
pertinentes" (evento 1).
Ainda consoante argumentado pelo MPF, "não justifica a continuidade das obras o
eventual prejuízo econômico alegado pelo MUNICÍPIO (evento 55), eis que o fator
financeiro não pode prevalecer em detrimento da preservação ambiental. No
presente caso resta claro que há o perigo de dano irreparável ou de difícil
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reparação se não for concedida a tutela de urgência postulada, uma vez haverá a
continuidade da remoção das dunas frontais e da vegetação de restinga fixadora,
para a implantação de um parque linear de concreto, conforme se observa no
evento 23, de onde se extrai a seguinte imagem que ilustra a remoção das dunas,
com uso de escavadeira e caminhão: (...) Inclusive, as medidas requeridas a título
de tutela provisória de urgência visam dar pleno vigor ao comando constitucional
que impõe a todos o dever de preservar o meio ambiente às presentes e futuras
gerações (art. 225, CRFB) e nenhuma delas tem caráter de irreversibilidade, pois
buscam apenas suspender a licença ambiental e a execução das obras até o
julgamento da presente ação civil pública, nos termos expostos na inicial (evento 1,
INIC1). Cumpre ressaltar, que a providência pleiteada não é gravosa e nem
desproporcional, tendo em vista que a preservação do meio ambiente é um direito
das presentes e futuras gerações. (...) Ademais, além do interesse público na
preservação ambiental, a cautela irá ao encontro da economia de recursos
públicos, uma vez que a continuidade das obras, além de prejudicar o frágil
ecossistema costeiro, poderá gerar prejuízo econômico, com o advento da decisão
de mérito que reconheça a proibição da realização das obras nos termos do projeto
e determine a sua demolição e recuperação ambiental. Sendo assim, no caso
concreto, mesmo que houvesse dúvida, ela deveria ser interpretada em prol da
preservação do meio ambiente, com o deferimento dos pedidos de tutela de
urgência nos termos veiculados na inicial" (evento 64).
Ante o exposto:
Ratifico, inclusive, a multa diária fixada na decisão do evento 39, qual seja, R$
10.000,00 (dez mil reais) para o caso de descumprimento.
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da Resolução n° 369 do CONAMA), o que traria severas dúvidas técnicas acerca da
higidez da Licença Ambiental Prévia com dispensa de Licença Ambiental de
Instalação nº 800/2022.
Ademais, sustentam que a opção pelo RAP não seria a melhor opção
de estudo frente ao quadro de significativa intervenção/alteração promovido em um
ambiente com a fragilidade ambiental do cordão de dunas frontais.
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Destaca-se, ainda, que se trata de obra de interesse social e de utilidade
pública, em conformidade com o disposto no inciso XXX, do artigo 28-A, da Lei
Estadual nº 14.675/2009 e com a alínea “d”, do inciso LXVII, do artigo 28-A, da Lei
Estadual nº 14.675/2009, estando, portanto, dispensada de compensação pelo uso
das áreas de preservação permanente, conforme fixa o § 6º, do artigo 38, da Lei
Estadual nº 14.675/2009.
Art. 38. A supressão de vegetação, nos casos legalmente admitidos, será licenciada
por meio da expedição de Autorização de Corte de Vegetação - AuC.
(...)
Por fim, embora o magistrado a quo entenda a decisão não tem caráter
de irreversibilidade, pois busca apenas suspender a licença ambiental e a execução
das obras até o julgamento da ação civil pública, e que a cautela irá ao encontro da
economia de recursos públicos, a realidade é que a paralisação das obras poderá
resultar na rescisão, por inexecução de metas e de prazos, do
Convênio/Transferência nº 2022TE002642, firmado com o Estado de Santa
Catarina, bem pode afetar o equilíbrio econômico-financeiro do Contrato nº
069/2022, firmado com a empresa vencedora da licitação, que já apresenta
majoração de custos, suportados, ao fim e ao cabo pelos munícipes.
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orla da sua praia central; bem como determinando ao Instituto do Meio Ambiente de
Santa Catarina (IMA), o levantamento/cancelamento da suspensão gravada na LAP
com dispensa de LAI nº 800/2022.
Intimem-se.
Documento eletrônico assinado por ROGERIO FAVRETO, Desembargador Federal Relator, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de
março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
40003792784v29 e do código CRC e9d693e1.
https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=4fc0b755b1de6cc5bda0156… 8/8