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ESTADO DE SANTA CATARINA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ÓRGÃO ESPECIAL) Nº 5019281-71.2024.8.24.0000/SC
AUTOR: PREFEITO - MUNICÍPIO DE CRICIÚMA/SC - CRICIÚMA
RÉU: CÂMARA MUNICIPAL DE CRICIÚMA

DESPACHO/DECISÃO

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo PREFEITO MUNICIPAL DE


CRICIÚMA/SC contra a Lei Complementar Municipal n. 567/2024, a qual foi promulgada pelo PRESIDENTE
DA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE CRICIÚMA/SC e concede isenção do Imposto Predial e
Territorial Urbano - IPTU incidente sobre imóveis de propriedade das entidades de prática desportiva sem fins
lucrativos estabelecidas pela Lei n. 9.615/1998, quando utilizados no exercício de suas atividades, desde que as
entidades preencham requisitos nela previstos.

Em suma, o autor argumenta que a norma questionada é inconstitucional porque não acompanhado de
adequado estudo de impacto orçamentário e financeiro. Frisa, no ponto, que aquele apresentado não possui
estimativa do impacto orçamentário e financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois
seguintes, não demonstra atendimento à lei de diretrizes orçamentárias, tampouco comprova que a renúncia foi
considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, assim como não foi acompanhada de medidas de
compensação, no exercício em que inicia a sua vigência e nos dois seguintes. Aponta, nesse contexto, violação aos
arts. 113 do ADCT e 165, § 6º, todos da CF/1988; e ao art. 121, § 1º, da CESC. Noutro flanco, sustenta que a
concessão de isenção tributária em ano eleitoral afronta os arts. 1º, V, e 5º, caput, da CF/1988, e o art. 1º, VI, da
CESC. Na sequência, ao tratar do pleito cautelar, ressalta que a norma possui efeitos imediatos com perda de
arrecadação, havendo ainda a mácula ao processo eleitoral. Requer a concessão de medida cautelar para suspender
os efeitos da norma e, ao final, a procedência do pedido com a declaração de inconstitucionalidade.

É o relatório.

1. Conforme art. 10 da Lei Estadual n. 12.069/2001, arts. 228 e 229 do RITJSC, e art. 10 da Lei n.
9.868/1999, a medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, em regra, apenas pode ser concedida por
maioria absoluta do Órgão Especial, e com prévia oitiva dos órgãos ou das autoridades que expediram a lei ou o ato
normativo questionado. Também por esses dispositivo, admite-se que, no período de recesso ou quando não houver
expediente forense, a medida seja deferida por decisão monocrática do relator, ad referendum do Órgão Especial, e
sem a prévia oitiva dos órgãos ou das autoridades que expediram a lei ou o ato normativo impugnado.

Não obstante, o STF, com base no poder geral de cautela, tem admitido a concessão de medida
cautelar pelo relator da ação direta de inconstitucionalidade, "ad referendum" do órgão competente para o
julgamento do mérito (Órgão Especial), nos casos de "urgência qualificada e dos riscos objetivamente
comprovados de efeitos de desfazimento dificultoso" (STF - ADI n. 4.307/DF, Relatora Ministra Cármen Lúcia,
DJe de 14/4/2010). No mesmo sentido: ADI n. 7.195-MC/DF, decisão proferida pelo Ministro Luiz Fux, DJe de
10/2/2023; ADI n. 6.169/PE, Rel. Ministro Celso do Mello, DJe de 6/12/2019; ADI n. 6.004/DF, Rel. Ministro
Ricardo Lewandowski, DJe de 1º/2/2019.

Desta Corte colhe-se no mesmo sentido: ADI n. 5071218-91.2022.8.24.0000, Rel. Des. Jorge Luiz de
Borba, decisão de 16/12/2022; ADI n. 5002424-18.2022.8.24.0000, Rel. Des. Francisco José Rodrigues de Oliveira
Neto, decisão de 22/2/2022; ADI n. 5008807-75.2023.8.24.0000, Rel. Des. Jaime Ramos, decisão de 23/2/2023.

Nesse contexto, havendo urgência qualificada, mesmo quando não se estiver em período de recesso
ou mesmo quando o pleito for requerido durante o expediente forense, o relator pode conceder medida cautelar em
ação direta de inconstitucionalidade, sem a prévia oitiva dos órgãos ou das autoridades que expediram a lei ou o ato
normativo impugnado, "ad referendum" do Órgão Especial em sessão seguinte.

O caso, a meu ver, enquadra-se como urgência qualificada na medida em que a norma ora
questionada tem amplo alcance que ainda não pode ser mensurado, uma vez que concede isenção do IPTU
incidente sobre uma gama de imóveis no território do município de Criciúma. Desse modo, caso a suspensão da
norma seja deferida apenas em sessão do Órgão Especial, evidente a dificuldade de desfazimento dos seus efeitos
já produzidos.

Desse modo, passa-se a analisar o pleito cautelar.

2. Sabe-se que, "para a concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade,


devem ser satisfeitos cumulativamente os requisitos da plausibilidade jurídica da tese exposta (fumus boni iuris) e
da possibilidade de prejuízo decorrente do retardamento da decisão postulada (periculum in mora)" (STF, ADI
5374 MC-AgR, rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, j. em 22/6/2020, DJe-172 de 8/7/2020).
print
Conforme relatado, a Lei Complementar Municipal n. 567, de 2 de abril de 2024, de iniciativa do
Poder Legislativo, concedeu isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU incidente sobre imóveis de
propriedade das entidades de prática desportiva sem fins lucrativos estabelecidas pela Lei n. 9.615/1998, quando
utilizados no exercício de suas atividades, desde que as entidades preencham requisitos nela previstos. Confira-se:

Art. 1º Ficam isentos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) os imóveis de propriedade das entidades de
prática desportiva sem fins lucrativos estabelecidas pela Lei nº 9615/98, quando utilizados no exercício de suas
atividades, desde que as entidades, comprovadamente, preencham os seguintes requisitos de forma cumulativa:

§ 1° As isenções mencionadas neste artigo dependem de requerimento anual instruído, no mínimo, com os seguintes
documentos:

I – Título de propriedade ou de posse do imóvel;

II – Estatuto Social da entidade de prática desportiva devidamente registrado;

III – Ata de eleição de seu presidente ou representante legal;

IV – Balanço das receitas e despesas relativo ao exercício anterior;

V – Declaração, devidamente assinada pelo presidente da associação, afirmando que a entidade mantém escrituração
de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão;

Art. 2° As entidades de prática desportiva devem comprovar sua filiação a, no mínimo, uma entidade estadual ou
federal de administração do desporto de modalidade olímpica.

Parágrafo único. É requisito imprescindível que a associação possua, no mínimo, 05 (cinco) anos de fundação e regular
exercício sem suspensão de atividades

Art. 3° As entidades de prática desportiva devem executar projeto de cunho assistencialista e educacional, prestando
serviços à comunidade em geral, em caráter complementar às atividades do estado, sem fins lucrativos.

Art. 4º A isenção concedida nos termos desta Lei não exonera os beneficiários do cumprimento das obrigações
acessórias a que estão sujeitos.

Art. 5° É vedada, em qualquer caso, a restituição de importâncias recolhidas, a qualquer desses títulos.

Art. 6º Esta Lei Complementar entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

De registro que a Excelsa Corte, ao apreciar o Tema 682 do STF, assentou que "inexiste, na
Constituição Federal de 1988, reserva de iniciativa para leis de natureza tributária, inclusive para as que
concedem renúncia fiscal".

Contudo, o vício formal apontado é que a norma não teve o adequado estudo de impacto
orçamentário e financeiro, afrontando o art. 113 do ADCT da CF/1988. Esse argumento, pelo menos nesta fase
perfunctória, mostra-se elevada plausibilidade jurídica.

Com efeito, dispõe o art. 113 do ADCT da CF/1988, in verbis:

Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.

O STF, ao apreciar a questão, reconheceu que o dispositivo foi incorporado pelas Cartas Estaduais
por se tratar de norma de reprodução obrigatória:

CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PROCESSO LEGISLATIVO. CONCESSÃO DE VANTAGEM REMUNERATÓRIA


E ANÁLISE DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO. ART. 169, § 1º, INCISO I, DA CF. ART. 113 DO ADCT (REDAÇÃO DA
EC 95/2016). EXTENSÃO A TODOS OS ENTES FEDERATIVOS. POSSIBILIDADE DE CONTROLE DE NORMAS
ESTADUAIS COM FUNDAMENTO NESSE PARÂMETRO. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. "1. É possível o
exame da constitucionalidade em sede concentrada de atos normativos estaduais que concederam vantagens
remuneratórias a categorias de servidores públicos em descompasso com a atividade financeira e orçamentária do
ente, com fundamento no parâmetro constante do art. 169, § 1º, inciso I, da Constituição Federal, e do art. 113 do
ADCT (EC 95/2016). "2. Agravo Regimental provido." (ADI 6080 AgR, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-036
DIVULG 25-02-2021 PUBLIC 26-02-2021 - grifou-se).

Direito constitucional e tributário. Ação direta de inconstitucionalidade. IPVA. Isenção. Ausência de estudo de impacto
orçamentário e financeiro. 1. Ação direta contra a Lei Complementar nº 278, de 29 de maio de 2019, do Estado de
Roraima, que acrescentou o inciso VIII e o § 10 ao art. 98 da Lei estadual nº 59/1993. As normas impugnadas versam
sobre a concessão de isenção do imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA) às motocicletas,
motonetas e ciclomotores com potência de até 160 cilindradas. 2. Inconstitucionalidade formal. Ausência de
elaboração de estudo de impacto orçamentário e financeiro. O art. 113 do ADCT foi introduzido pela Emenda
Constitucional nº 95/2016, que se destina a disciplinar 'o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União'. A regra em questão, porém, não se restringe à União, conforme a sua interpretação
literal, teleológica e sistemática. 3. Primeiro, a redação do dispositivo não determina que a regra seja limitada à União,
sendo possível a sua extensão aos demais entes. Segundo, a norma, ao buscar a gestão fiscal responsável, concretiza
princípios constitucionais como a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência (art. 37 da CF/1988).
Terceiro, a inclusão do art. 113 do ADCT acompanha o tratamento que já vinha sendo conferido ao tema pelo art. 14 da
Lei de Responsabilidade Fiscal, aplicável a todos os entes da Federação. 4. A exigência de estudo de impacto
orçamentário e financeiro não atenta contra a forma federativa, notadamente a autonomia financeira dos entes. Esse
requisito visa a permitir que o legislador, como poder vocacionado para a instituição de benefícios fiscais, compreenda
a extensão financeira de sua opção política. 5. Com base no art. 113 do ADCT, toda 'proposição legislativa [federal,
estadual, distrital ou municipal] que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro', em linha com a previsão do art. 14 da Lei de
Responsabilidade Fiscal. 6. A Lei Complementar do Estado de Roraima nº 278/2019 incorreu em vício de
inconstitucionalidade formal, por violação ao art. 113 do ADCT. 7. Pedido julgado procedente, para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei Complementar nº 278, de 29 de maio de 2019, do Estado de Roraima, por violação
ao art. 113 do ADCT. 8. Fixação da seguinte tese de julgamento: 'É inconstitucional lei estadual que concede
benefício fiscal sem a prévia estimativa de impacto orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT.' (ADI
6303, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 14/03/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-052
DIVULG 17-03-2022 PUBLIC 18-03-2022; destaquei).

No mesmo sentido, bem observou o eminente Des. Sidney Eloy Dalabrida que "segundo o art. 113 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, aplicável como parâmetro de controle de constitucionalidade no
âmbito estadual, 'a proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro'" (ADI n. 5026513-08.2022.8.24.0000, Rel.
Des. Sidney Eloy Dalabrida, Órgão Especial, j. 19-10-2022).

É reiterado o entendimento de que a lei que concede isenção tributária, por se tratar de renúncia de
receita, é inconstitucional se não acompanhada de prévia estimativa de impacto orçamentário e financeiro:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR N. 29, DE 15 DE JUNHO DE 2018, DO


MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO OESTE. CONCESSÃO DE ISENÇÃO DO IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL
URBANO (IPTU) SOBRE BENS IMÓVEIS UTILIZADOS COMO RESIDÊNCIA DE PORTADOR DE NEOPLASIA
MALIGNA (CÂNCER). ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE INICIATIVA. INVASÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO. ISENÇÃO TRIBUTÁRIA. MATÉRIA QUE SE INSERE NA COMPETÊNCIA
CONCORRENTE. ENTENDIMENTO REITERADO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. "Inexiste, no atual texto
constitucional, previsão de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo em matéria tributária, ainda que se trate
de lei que vise à minoração ou à revogação de tributo" (Tema 682). ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO
ART. 113 DO ADCT. NECESSÁRIA REALIZAÇÃO DE ESTUDO DE IMPACTO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO
POR CORRESPONDER QUEDA DE ARRECADAÇÃO À RECEITA DO MUNICÍPIO. PRECEITO CONSTITUCIONAL
DE REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA. APLICAÇÃO A TODOS OS NÍVEIS FEDERATIVOS. PRECEDENTE DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. "'É viável o controle concentrado da lei municipal
tendo como parâmetro norma da Constituição Federal quando esta for de reprodução obrigatória, ainda que ela não
conste formalmente do texto da Constituição estadual' (STF - ADI 5646, Rel. Min. Luiz Fux)."'A Emenda Constitucional
95/2016, por meio da nova redação do art. 13 do ADCT, estabeleceu requisito adicional para a validade formal de leis
que criem despesa ou concedam benefícios fiscais, requisitos esse que, por expressar medida indispensável para o
equilíbrio da atividade financeira do Estado, dirigi-se a todos os níveis federativos' (ADI 5816, Rel. Min. Alexandre de
Moraes)" (TJSC, Direta de Inconstitucionalidade (Órgão Especial) n. 5007502-95.2019.8.24.0000, do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, rel. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, Órgão Especial, j. em 4-11-2020). (TJSC, Direta de
Inconstitucionalidade (Órgão Especial) n. 4019314-88.2018.8.24.0000, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel.
Fernando Carioni, Órgão Especial, j. 06-10-2021).

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE


PREDIAL E TERRITORIAL URBANA (IPTU). ISENÇÃO AOS IMÓVEIS ACIMA DE 1.000 M² (MIL METROS
QUADRADOS). INICIATIVA PARLAMENTAR. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. ART. 113 DA ADCT. PRÉVIA
ESTIMATIVA DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO. TESE E JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES DESTE ÓRGÃO ESPECIAL. PROCEDÊNCIA. "É INCONSTITUCIONAL LEI
ESTADUAL QUE CONCEDE BENEFÍCIO FISCAL SEM A PRÉVIA ESTIMATIVA DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E
FINANCEIRO EXIGIDA PELO ART. 113 DO ADCT." -STF. PLENÁRIO. ADI 6303/RR, REL. MIN. ROBERTO
BARROSO, JULGADO EM 11-3-2022. "O IPTU, POR SUA VEZ, POSSUI CARACTERÍSTICA
PREDOMINANTEMENTE FISCAL, SENDO IMPORTANTE FONTE DE ARRECADAÇÃO MUNICIPAL"
(ALEXANDRE, RICARDO. DIREITO TRIBUTÁRIO. SÃO PAULO: MÉTODO, 2012. P. 611).
"DIANTE DE UMA ISENÇÃO, ISTO É, UMA DISPENSA LEGAL DO PAGAMENTO DO TRIBUTO DEVIDO, AINDA
QUE A UM SELETO GRUPO DE CONTRIBUINTES, ENCONTRA-SE, POR CONSEQUÊNCIA JURÍDICA LÓGICA,
PERANTE RENÚNCIA DE RECEITA TRIBUTÁRIA; AFINAL, É EVIDENTE O EFEITO ATENUANTE DA
ARRECADAÇÃO MUNICIPAL NA HIPÓTESE. PRÉVIA ESTIMATIVA DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E
FINANCEIRO CARACTERIZA-SE, ENTÃO, ESSENCIAL, POIS A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS FISCAIS
ACARRETA, SIM, EM DIMINUIÇÃO DA RECEITA AO RESPECTIVO ENTE, ACOMETENDO, POR CONSEGUINTE,
OS MEIOS FINANCEIROS PELOS QUAIS SE CUSTEIAM OS SERVIÇOS E AS ATIVIDADES PÚBLICAS NO GERAL.
A INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, POR VIOLAÇÃO AO ART. 113 DA ADCT, É MEDIDA INDISPENSÁVEL."
(TJSC, DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ÓRGÃO ESPECIAL) N. 5065221-64.2021.8.24.0000, DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA, DESTA RELATORIA, ÓRGÃO ESPECIAL, J. 06-7-2022). AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROCEDENTE. (TJSC, Direta de Inconstitucionalidade (Órgão Especial)
n. 5010209-94.2023.8.24.0000, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Ricardo Fontes, Órgão Especial, j. 16-08-
2023).

Voltando atenção ao caso concreto, colhe-se que a norma atacada trouxe um anexo intitulado de
"Demonstrativo do Impacto Orçamentário-Financeiro":
Contudo, tal documento não pode ser considerado como a necessária estimativa de impacto
orçamentário e financeiro na forma como exigido pelo art. 113 do ADCT da CF/1988. De fato, não se verifica
estimativa do impacto orçamentário e financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois
seguintes, não demonstra atendimento à lei de diretrizes orçamentárias, tampouco comprova que a renúncia foi
considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, assim como não foi acompanhada de medidas de
compensação, no exercício em que inicia a sua vigência e nos dois seguintes.

Ora, conforme art. 14 da LC n. 101/2000, a estimativa do impacto orçamentário-financeiro deve


abranger o exercício da vigência da norma e os dois seguintes. Além disso, o estudo deve demonstrar que a
renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária e de que não afetará as metas de resultados
fiscais previstas na lei de diretrizes orçamentárias, ou de estar acompanhada de medidas de compensação, no
período mencionado, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de
cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. Confira-se:

Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita
deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua
vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes
condições: (Vide Medida Provisória nº 2.159, de 2001) (Vide Lei nº 10.276, de 2001) (Vide ADI 6357)

I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na
forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes
orçamentárias;

II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita,
proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.

§ 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral,
alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou
contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.

§ 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da
condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no
mencionado inciso.

§ 3o O disposto neste artigo não se aplica:

I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do
seu § 1º;

II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.

Chama atenção também o argumento trazido na inicial de que o impacto apresentado no anexo
considerou apenas o Criciúma Esporte Clube. Ocorre que a lei é genérica e ampla, de forma que tem potencial de
isentar imóveis de outras entidades de prática desportiva sem fins lucrativos. Os valores indicados no documento,
assim, não teriam sido baseados num dado correto.

Desse modo, em sede liminar, tem-se que o referido demonstrativo constante no anexo da lei não
supre a exigência de apresentação de estudo do impacto orçamentário e financeiro.

Esta Corte já teve oportunidade de tratar da questão específica ao reconhecer a inconstitucionalidade


de norma justamente por considerar que o demonstrativo trazido pela norma não representa a estimativa de impacto
orçamentário e financeiro:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI COMPLEMENTAR N. 478/2022, DO MUNICÍPIO DE
POMERODE - PROGRAMA "IPTU VERDE" - CONCESSÃO DE BENEFÍCIO TRIBUTÁRIO - RENÚNCIA DE
RECEITA - ESTIMATIVA PRÉVIA DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO - OBRIGATORIEDADE - ART.
113 DOS ATOS DA DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS - AUSÊNCIA - VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO
CONSTITUCIONAL - INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL - OCORRÊNCIA 1 O art. 113 dos Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal prevê expressamente que "a proposição legislativa que crie ou
altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário
e financeiro".
2 Projeto de lei complementar municipal que prevê renúncia de receita, por concessão de benefício tributário
relacionado ao IPTU devido pelos contribuintes que adequarem seus imóveis a práticas de sustentabilidade ambiental,
necessariamente deve ser acompanhado de efetivo estudo prévio, apresentando estimativa de impacto orçamentário e
financeiro local, a fim de cumprir a determinação constitucional e, principalmente, subsidiar a correta análise do
cabimento da norma sem prejuízo financeiro ao Município. (AC n. 5000561-90.2023.8.24.0000, do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina, rel. Luiz Cézar Medeiros, Órgão Especial, j. 06-09-2023).

Presente, portanto, o fumus boni iuris acerca da inconstitucionalidade da norma.

Outrossim, há também a possibilidade de prejuízo decorrente da demora da concessão da medida


postulada (periculum in mora). Como visto acima a norma ora questionada tem amplo alcance que ainda não pode
ser delimitado, uma vez que concede isenção do IPTU incidente sobre uma gama de imóveis no território do
município de Criciúma. Além disso, caso a suspensão da norma seja deferida apenas ao final do feito evidente a
dificuldade de desfazimento dos seus efeitos jurídicos concretos já produzidos.

Pelo exposto, DEFIRO a medida cautelar, ad referendum do Órgão Especial, para sustar os efeitos da
Lei Complementar n. 567, de 2 de abril de 2024, do Município de Criciúma, até o julgamento definitivo da
presente demanda.

INTIME-SE o Município de Criciúma acerca da presente decisão.

NOTIFIQUE-SE o Presidente da Câmara de Vereadores de Criciúma para prestar informações no


prazo de 30 (trinta) dias.

CITE-SE o Procurador-Geral da Câmara de Vereadores de Criciúma para, no prazo de 15 (quinze)


dias, defender o texto de lei impugnado.

Após, encaminhe-se os autos ao Procurador-Geral de Justiça para manifestação no prazo de estilo.

INCLUA-SE o feito na próxima sessão de julgamento disponível do Órgão Especial,


independentemente do decurso dos prazos acima indicados.

Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por SERGIO ROBERTO BAASCH LUZ, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de
dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc2g.tjsc.jus.br/eproc/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 4658682v31 e do código CRC a02e8d6d.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): SERGIO ROBERTO BAASCH LUZ
Data e Hora: 4/4/2024, às 15:27:3

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