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GRUPO ECONÔMICO/SUCESSÃO DE EMPRESAS

Em sede de Adin, o E. STF decidiu:

"EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 60, PARÁGRAFO ÚNICO, 83,
I E IV, c, E 141, II, DA LEI 11.101/2005. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS ARTIGOS 1º, III E IV, 6º,
7º, I, E 170, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988. ADI JULGADA
IMPROCEDENTE. I - Inexiste reserva constitucional de lei complementar
para a execução dos créditos trabalhistas decorrente de falência ou
recuperação judicial. II - Não há, também, inconstitucionalidade quanto à
ausência de sucessão de créditos trabalhistas. III - Igualmente não existe
ofensa à Constituição no tocante ao limite de conversão de créditos
trabalhistas em quirografários. IV - Diploma legal que objetiva prestigiar
a função social da empresa e assegurar, tanto quanto possível, a
preservação dos postos de trabalho. V - Ação direta julgada
improcedente. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, AÇÃO DIREITA DE
INCONSTITUCIONALIDADE 3.934 - 2 DISTRITO FEDERAL,
EMENTÁRIO Nº 2381 - 2)."

Determina o art. 60 da Lei 11.101/2005:

"Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado


envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas
do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art.
142 desta Lei.

Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de


qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do
devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1o
do art. 141 desta Lei."

Sendo que o art. 141 da mesma lei traz:

"Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos,


inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das
modalidades de que trata este artigo:

I - todos os credores, observada a ordem de preferência


definida no art. 83 desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do
ativo;

II - o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e


não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive
as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
decorrentes de acidentes de trabalho.

§ 1o O disposto no inciso II do caput deste artigo não se


aplica quando o arrematante for:

I - sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada


pelo falido;

II - parente, em linha reta ou colateral até o 4 o (quarto)


grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou

III - identificado como agente do falido com o objetivo de


fraudar a sucessão."

Por isso, prevalece na jurisprudência que a alienação dos


bens do falido ou da empresa recuperanda, não implica sucessão tributária
ou trabalhista. Qualquer que seja a forma de alienação do ativo (alienação
da empresa, venda dos estabelecimentos isoladamente, ou alienação dos
bens individualmente considerados) não haverá sucessão tributária ou
trabalhista.

Nesse sentido é a jurisprudência do C. TST:

SUCESSÃO DE EMPREGADORES - ALIENAÇÃO DE


ATIVOS EFETUADA EM SEDE DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL- ART.
60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 11.101/05.

1. Conforme dispõe o parágrafo único do art. 60 da Lei


11.101/05, a alienação aprovada em plano de recuperação judicial estará
livre de quaisquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
obrigações do devedor, inclusive nas de natureza tributária.

2. Assim sendo, o acórdão regional, ao entender


caracterizada a sucessão trabalhista da Hypermarcas S.A., e condenar
solidariamente esta Reclamada pelos créditos trabalhistas deferidos ao
Obreiro na presente ação, acabou por violar o disposto no art. 60,
parágrafo único, da Lei 11.101/05, merecendo ser reformado.

Recurso de revista provido.

Processo: RR - 20400-63.2007.5.15.0061 Data de


Julgamento: 17/11/2010, Relatora Juíza Convocada: Maria Doralice
Novaes, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/11/2010.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESA. SUCESSÃO. Os dispositivos
de lei indicados não se referem à competência da Justiça do Trabalho.
Violação não configurada. A teor do art. 896, alínea -a-, da CLT, julgado
oriundo do Superior Tribunal de Justiça não serve para aferição de
divergência jurisprudencial. VRG LINHAS AÉREAS S.A.
RESPONSABILIDADE PELOS DÉBITOS TRABALHISTAS. SUCESSÃO.
LEGITIMIDADE PASSIVA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESA.
ART. 60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 11.101/2005. O art. 60,
parágrafo único, da Lei 11.101/2005 estabelece que, na alienação
judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor,
decorrente do plano de recuperação judicial, - o objeto da alienação
estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o
disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.- Embora não haja no referido
dispositivo de lei menção expressa à ausência de sucessão do arrematante
nas obrigações trabalhistas - ao contrário do que ocorre no art. 141 da
mesma Lei relativamente à falência -, essa ausência de precisão
legislativa não é suficiente para afastar a inexistência de sucessão nos
débitos decorrentes dos contratos de trabalho. Entendimento diverso
resultaria em contrariar o espírito da lei, tornando inócuas as regras
relativas à recuperação judicial e comprometendo a sua finalidade (art.
47 da Lei 11.101/2005). Esse entendimento está em consonância com a
decisão do Supremo Tribunal Federal, que, ao julgar improcedente a
ADI-3.934-2/DF, asseverou que os arts. 60, parágrafo único, e 141, II, do
texto legal em comento mostram-se constitucionalmente hígidos no
aspecto em que estabelecem a inocorrência de sucessão dos créditos
trabalhistas- (ADI-3.934-2-DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ.
4/6/2009). Portanto, nos termos ao art. 60, parágrafo único, da Lei
11.101/2005, e em conformidade com a decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal, a alienação da unidade produtiva Varig, efetivada em
face do plano de recuperação judicial, não acarretou a sucessão da
arrematante VRG Linhas Aéreas S.A. nos débitos trabalhistas daquela.
Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá provimento.
(Processo: RR - 102700-96.2007.5.01.0053 Data de Julgamento:
26/04/2011, Relator Ministro: João Batista Brito Pereira, 5ª Turma, Data
de Publicação: DEJT 13/05/2011.)

Durante a tramitação no Congresso Nacional do Projeto da


Lei de Falência, em parecer emitido pelos Senadores Relatores do Projeto,
na COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONÔMICOS e na COMISSÃO DE
CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA, Senador RAMEZ TEBET
(CAE) e Senador FERNANDO BEZERRA (CCJ), os parlamentares
deixaram claro que:

"... a exclusão da sucessão trabalhista na falência tem por


objetivo viabilizar a venda da empresa como unidade produtiva e
maximizar o valor obtido na alienação judicial. O valor apurado será
utilizado para pagar os próprios trabalhadores, com preferência sobre os
demais credores. Viabilizando-se a venda e maximizando-se o valor da
empresa pela exclusão da sucessão trabalhista, ganham os trabalhadores,
que terão maiores chances de obter o pagamento integral de seus
créditos. Mais ainda, a alienação da empresa como unidade produtiva
beneficia os trabalhadores não somente em relação ao recebimento de
seu crédito, mas também - e talvez principalmente - no que tange à
preservação de seus empregos. Se não for possível a venda em bloco, os
bens da massa serão vendidos em separado e, nesse caso, além de o
agregado econômico se perder, nenhum dos empregos poderá ser
mantido".
(http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=58
0933).

Assim, fica claro que a intenção do legislador foi


viabilizar a continuidade do negócio jurídico e da força produtiva da
empresa.

Contudo, deve-se ter em mente a possibilidade de a


exclusão da sucessão trabalhista na recuperação judicial poder dar
margem a fraudes quanto aos direitos trabalhistas dos empregados das
recuperandas. Por isso, o próprio art. 141, § 1º, do mencionado diploma
legal excepcional:

"Art. 141...................................................................

§ 1º O disposto no inciso II do 'caput' deste artigo não se


aplica quando o arrematante for:

I - sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada


pelo falido;

II - parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto)


grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou

III - identificado como agente do falido com o objetivo de


fraudar a sucessão. (Grifo nosso)
No caso dos autos, a primeira reclamada, a partir do mês
de maio/2013, assumiu os direitos e obrigações decorrentes do contrato de
trabalho celebrado entre a segunda reclamada e o reclamante, tanto assim
que passou a pagar seus salários, conforme holerite junto aos autos (ID
3965640 - Pág. 14), tendo, ainda, sido a primeira reclamada que efetuou a
rescisão contratual (Num. 3965764 - Pág. 1).

Em contrapartida, é cediço que a sucessão trabalhista


surge como veículo de afirmação da intangibilidade dos contratos de
trabalho, sob o ponto de vista objetivo. Ainda que se altere o sujeito de
direito localizado no polo passivo do contrato (o empregador) - alteração
subjetiva, pois - o contrato mantém-se inalterado no que tange às
obrigações e direitos dele decorrentes.(http://as1.trt3.jus.br/bd-
trt3/bitstream/handle/11103/3733/mauricio_godinho_sucessao_trabalhista.
pdf?sequence=1)

A primeira reclamada aduz em defesa que foi constituída a


partir da alienação judicial do GRUPO BERTOLO junto ao Plano de
Recuperação Judicial, (ID 3926374 - Pág. 9). Ou seja, que a unidade
produtiva da segunda reclamada foi adquirida pela primeira reclamada de
forma originária, tencionando assim eximir-se de responsabilidade por
qualquer obrigação existente anteriormente à transação ora descrita.

No entanto, depreende-se dos autos que a denominação da


reclamada - FLORIDA PAULISTA AÇÚCAR E ETANOL S/A. decorreu
da alteração da denominação social da empresa G.G.M.M. -
EMPRENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S/A., que tinha, até o
momento da mencionada assembleia, como diretores GRACIETE
MARIA DA SILVA BRITO e SIDNEI PESSOA DE BRITO.

Na Ata da Assembleia Geral (ID 3966431 - Pág. 1)


ocorrida em 28/05/2013 consta como únicos acionistas, representando a
totalidade do capital social, as empresas FLORALCO e AGRO
BERTOLO, todas representadas pelo Sr. José Reinaldo Bertolo, que
também presidiu o referido ato.

Ocorre que na mesma Assembléia, dá-se a "renúncia"


dos antigos diretores (GRACIETE MARIA DA SILVA BRITO e SIDNEI
PESSOA DE BRITO) - item "vi" da mencionada ata e, ainda, há a
alteração da denominação social de G.G.M.M. -
EMPRENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S/A. para FLORIDA
PAULISTA AÇÚCAR E ETANOL S/A (item "viii" da mesma ata).
Restando patente a confusão patrimonial entre as empresas mencionadas
(Agro Bertolo, Floralco e Flórida) que possuem os mesmos acionistas e
desenvolvem as mesmas atividades empresariais.
Dessa maneira, fica demonstrado que o arrematante é
agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão, restando
configurada a exceção prevista no art. 141, § 1º, III, da Lei 11.101/2005.

Assim, caracterizada a fraude, com o propósito de


comprometer a garantia dos direitos dos trabalhadores, nos termos do art.
9º, da CLT, reconhece-se a sucessão trabalhista, por força do art. 10 e art.
448, CLT.

Tendo ocorrido a sucessão trabalhista, a primeira


reclamada - sucessora - passa a responder por todos os débitos trabalhistas
da segunda reclamada, ora sucedida, respondendo por todo o período
laborado pelo reclamante e por todas as verbas que ora vierem a ser
julgadas procedentes. Nos termos da OJ 261 da SBDI- 1.

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