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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA FEDERAL DE

CRICIÚMA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

Distribuição por Dependência à Execução Fiscal nº 5013515-57.2018.4.04.7204


Exequente: Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT
Executada: MADEIREIRA GETULIENSE LTDA

MADEIREIRA GETULIENSE LTDA, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita junto ao CNPJ/MF sob o n.º 04.123.974/000113, com sede e foro
na cidade de Lontras, Estado de Santa Catarina, na Rodovia SC 429, 586, Km 01,
Centro, vem, mui respeitosamente, através de seus procuradores signatários, que
recebem intimações no endereço constante na procuração, no prazo que lhe
faculta o artigo 16, da Lei 6.830/80 e já tendo sido intimada da penhora (Ev. 25),
apresentar
EMBARGOS À EXECUÇÃO

contra a Execuções Fiscal em epígrafe, que lhe move a


Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, pessoa jurídica de direito
público interno, na pessoa de seu representante legal (in casu), DD. Procurador
Federal, que atua na execucional ora combatida ou de quem detenha poderes ou
lhe faça as vezes, submetendo à apreciação as seguintes razões de ordem legal e
fática:
I - DOS FATOS

A presente exigência, segundo dados das CDA n.


4.006.042765/18-66 (Ev. 1, INIC1, pág. 3/5), fundamenta-se em multas
administrativas lançadas à responsabilidade da Embargante, sob alegações de:
infrações do AI n. 002060717-2, de 20/03/2014, constituídos por meio dos
Processos Administrativos n. 50515.059097/2016-19; infrações do AI n.
002059454-5, de 21/02/2014, constituídos por meio dos Processos
Administrativos n. 50515.057884/2016-18; infrações do AI n. 002059261-4, de
22/01/2014, constituídos por meio dos Processos Administrativos n.
50515.061809/2016-51; infrações do AI n. 002896882-4, de 21/04/2014,
constituídos por meio dos Processos Administrativos n. 50515.047944/2016-94;
infrações do AI n. 002897398-0, de 03/05/2014, constituídos por meio dos
Processos Administrativos n. 50515.061233/2016-22; infrações do AI n.
002896145-6, de 03/04/2014, constituídos por meio dos Processos
Administrativos n. 50515.062180/2016-67; infrações do AI n. 002022851-6, de
19/02/2014, constituídos por meio dos Processos Administrativos n.
50515.060179/2016-06 e infrações do AI n. 002026702-7, de 07/05/2014,
constituídos por meio dos Processos Administrativos n. 50515.060112/2016-63.
Tais infrações supostamente teriam ocorridas no ano de
2014 fazendo-se incidir sobre o valor principal da MULTA, os acréscimos como:
os juros, multa adicional e encargos, além de correção monetária.

Saliente-se, de pronto, que os lançamentos que deram


origem aos processos administrativos que culminaram nas CDA.s executadas e
aqui combatidas, não se coadunam com o fundamento legal invocado, estão
viciados desde a sua elaboração, pois, não atenderam aos pressupostos
estabelecidos pela legislação.

São nulas todas as CDA.s executadas, pois TODAS ELAS são


originadas nos autos de infração que tem como descrição da infração, as
condutas acima descritas, pois foi violado na maioria dos processos
administrativos, o direito da Embargante se defender na via administrativa.

Também é notório que o nosso País já vem passando por


grandes dificuldades econômicas, um momento agreste na vida dos brasileiros.
Assim, não pode a Fazenda Pública impor à Embargante valores que “deduz”
serem devidos, sem obedecer aos princípios basilares do nosso Ordenamento
Jurídico.
Ocorre que, agora, a Embargante se vê executada pela ANTT,
sendo que não concorda com a existência dos débitos, nem com a forma e nem
com os valores lançados, entre outros expedientes.
Tanto o principal como o acessório executado, efetivamente,
extrapolam todos os patamares aceitos por nossa doutrina e jurisprudência.

Assim, fica claro desde já que as CDA.s que instruem a


combatida Execução Fiscal é, como se fará melhor ver ao devido tempo, ilíquida,
incerta e inexigível, haja vista que não segue as disposições insculpidas tanto na
Lei de Execução Fiscal (Lei nº 6.830/80), quanto no Digesto Processual Civil e não
tem fundamentação legal, posto que não existe débito para com a ANTT.
Passaremos a analisar, detidamente, os argumentos que nos
levam a tais conclusões.

II – PRELIMINARMENTE.

a) Da necessária suspensão do feito executivo até o


julgamento dos presentes embargos à execução. Entendimento doutrinário e
jurisprudencial.
Compulsando os autos da execução, observamos que foi
penhorado 01 caminhão, marca/modelo Iveco/Stralis 570S41T, ano/modelo
2010/2011, cor branca, a diesel, placa MJX 4410, Renavam 269460616, avaliado
em R$ 170.000,00 (...) (Evento 25), garantido a execução.

Como é cediço, trata-se a Lei nº 6.830/80 de lei especial que


regula os processos de execução fiscal, sendo que o Código de Processo Civil
somente é aplicado de forma subsidiária, ou seja, somente quando a LEF for
omissa.
Nesse sentido, é assente a jurisprudência e a doutrina ao
afirmar que “quanto à observância subsidiária de normas do Código de Processo
Civil, as regras gerais somente são aplicáveis quando a Lei 6.830/80 não contiver
previsão sobre o tema, ou seja, aplica-se o CPC somente para resolver as questões
não disciplinadas” (Lei de Execução Fiscal Comentada e Anotada, São Paulo, RT:
1997).
Ocorre que, ao contrário do que afirmam muitas decisões, a
Lei de Execuções Fiscais prevê a automática suspensividade da ação de embargos
à execução fiscal. Desse modo, não há que se falar em aplicação subsidiária do
Código de Processo Civil, mormente do art. 919, § 1º, do NCPC.

Muito embora a Lei 6.830/80 não traga em seu corpo


dispositivo expresso no sentido de que a interposição de embargos suspende o
curso da execução fiscal, uma leitura sistemática e atenta de alguns de seus
dispositivos aponta nesse sentido. Vale a transcrição dos dispositivos legais em
que fica evidente a suspensão do executivo fiscal face à interposição de
embargos:
Art. 19 - Não sendo embargada a execução ou sendo
rejeitados os embargos, no caso de garantia prestada por
terceiro, será este intimado, sob pena de contra ele
prosseguir a execução nos próprios autos, para, no prazo de
15 (quinze) dias:

I - remir o bem, se a garantia for real; ou

II - pagar o valor da dívida, juros e multa de mora e demais


encargos, indicados na Certidão de Dívida Ativa pelos quais
se obrigou se a garantia for fidejussória.
Ora, se é necessário que os embargos não sejam opostos ou
que sejam rejeitados para que a execução siga seu curso, parece claro que eles
suspendem, de fato, o curso da execução fiscal.

E mais, vejamos o conteúdo do artigo 24 do Diploma Legal


em comento:

Art. 24 - A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados:


I - antes do leilão, pelo preço da avaliação, se a execução não for
embargada ou se rejeitados os embargos;

Se a Fazenda somente pode adjudicar os bens penhorados


nos casos de não interposição ou de rejeição dos embargos, verte claro o efeito
suspensivo produzido pela sua interposição.

E por fim:
Art. 32 - Os depósitos judiciais em dinheiro serão
obrigatoriamente feitos:
(...)
§ 2º - Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito,
monetariamente atualizado, será devolvido ao depositante ou
entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo
competente.

Mais uma vez denota-se a automática suspensividade dos


embargos, ao passo que somente após o trânsito em julgado da ação é que o
depósito será entregue à Fazenda.

Com a devida vênia, Excelência, mas uma visão sistêmica do


ordenamento jurídico demonstra claramente que a LEF prevê, embora não
explicitamente, a automática suspensividade dos embargos à execução fiscal.

Ou seja, o efeito suspensivo dos embargos à execução fiscal


sempre decorreu da própria Lei de Execuções Fiscais, e não da aplicação do
parágrafo primeiro do artigo 919 do CPC, revogado pela Lei 11.382/06.

É esse, aliás, o entendimento do Insigne Tributarista HUGO


DE BRITO MACHADO (in Embargos à Execução Fiscal: Prazo para Interposição e
Efeito Suspensivo, Revista Dialética de Direito Tributário nº 151, abril de 2008):
A Lei 6.830/80 não alberga dispositivo a dizer expressamente
que os embargos produzem efeito suspensivo. Entretanto,
sem seus artigos 18, 19, 24 e 32, deixa bastante clara a
ocorrência desse importante efeito dos embargos, o que nos
autoriza dizer que no âmbito da execução fiscal a
interposição de embargos do executado produz efeito
suspensivo automático.
(...)
Como falar-se, então, em aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil, para negar-se o efeito suspensivo aos
embargos na execução fiscal? Realmente só nos será possível
entender que na execução fiscal os embargos não produzem
o efeito suspensivo automático se admitirmos que o artigo
739-A, do CPC, revogou os dispositivos da Lei 6.830/80 acima
transcritos, que conduziram o intérprete em sentido
contrário.

Como se não bastassem as razões acima, que bem


demonstram a necessária suspensão da execução fiscal com a interposição de
embargos, a questão envolve, ainda, certas diretrizes constitucionais.

A não suspensão dos executivos fiscais com a interposição de


embargos acaba por privar a parte dos direitos constitucionalmente previstos ao
Devido Processo Legal, Ampla Defesa e Contraditório (art. 5º, LIV e LV da
Constituição Federal).

Nesse diapasão, e considerando que nas execuções fiscais o


título executivo é constituído – unilateralmente – pelo Fisco, a única
oportunidade de defesa aos contribuintes é salvo melhor juízo, a ação de
embargos à execução fiscal.

E não se diga que tais garantias são asseguradas, nesses


casos, no âmbito do processo administrativo que antecede a inscrição em dívida
ativa. É inegável que o direito ao devido processo legal importa, dentre outros,
na imparcialidade do julgador, o que, concessa maxima venia, não ocorre em tais
casos.
Destarte, como se poderá falar em devido processo legal,
ampla defesa e contraditório se, a despeito da oposição de embargos, a execução
prosseguirá até seus ulteriores termos, inclusive com a expropriação forçada de
bens?
Parece inegável que a não suspensividade dos embargos à
execução fiscal compromete substancialmente sua utilidade prática. Em outras
palavras, torna os embargos absolutamente inócuos.

Não se queria argumentar, ainda, que em caso de


procedência dos embargos o credor ressarcirá o embargante, nos termos do
artigo 903 do CPC.
Como é cediço, a Administração Pública paga suas dívidas
através do sistema de precatórios, sendo muito pouco provável que o
embargante vitorioso seja futuramente ressarcido dos valores oriundos da
indevida expropriação de seus bens, ao menos em tempo hábil a compensar os
danos advindos da alienação judicial de seus bens, muitas vezes indispensáveis à
manutenção de suas atividades.

Ainda a corroborar com o quanto aqui exposto, vale trazer à


colação os seguintes arrestos do Superior Tribunal de Justiça, que bem elucidam
a questão, já deixando evidente, também, a alteração do entendimento daquela
corte quanto à matéria, senão vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. EFEITO SUSPENSIVO A EMBARGOS À
EXECUÇÃO FISCAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 739-A DO CPC.
GARANTIDA A EXECUÇÃO POR PENHORA. BEM ACEITO PELA
FAZENDA NACIONAL. PRECEDENTE:
RESP 1.178.883/MG, DE RELATORIA DO MINISTRO TEORI ALBINO
ZAVASCKI. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos
capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão
agravada.
2. A decisão ora recorrida negou provimento a Recurso Especial,
mantendo o acórdão do Tribunal de origem, sob o fundamento
de que a Lei de Execução Fiscal é norma específica e disciplina,
ainda que indiretamente, o efeito suspensivo aos embargos
oferecidos em execuções fiscais, desde que oferecida garantia e
aceita pela Fazenda Nacional. Os argumentos trazidos revelam o
mero inconformismo da agravante, que pretende novo
julgamento da matéria, já analisada em face de Recurso Especial.
3. Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1283416/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe
09/02/2012)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO
FISCAL.
EFEITO SUSPENSIVO. NÃO-INCIDÊNCIA DO ART. 739-A DO CPC.
NORMA DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA À LEI 6.830/80.
INTELIGÊNCIA DE SEU ART. 1º INTERPRETADO EM CONJUNTO
COM OS ARTIGOS 18, 19, 24 E 32 DA LEF E 151, DO CTN.
1. Controvérsia que abrange a discussão sobre a aplicabilidade do
art. 739-A e § 1º, do CPC, alterados pela Lei 11.382/06, às
execuções fiscais.
2. A Lei 6.830/80 é norma especial em relação ao Código de
Processo Civil, de sorte que, em conformidade com as regras
gerais de interpretação, havendo qualquer conflito ou antinomia
entre ambas, prevalece a norma especial. Justamente em razão
da especialidade de uma norma (LEF) em relação à outra (CPC), é
que aquela dispõe expressamente, em seu artigo 1º, que admitirá
a aplicação desta apenas de forma subsidiária aos procedimentos
executivos fiscais, de sorte que as regras do Código de Processo
Civil serão utilizadas nas execuções fiscais apenas nas hipóteses
em que a solução não possa decorrer da interpretação e aplicação
da norma especial.
3. O regime da lei de execução fiscal difere da execução de títulos
extrajudiciais, pois regula o procedimento executivo de débitos
inscritos na dívida ativa, ou seja, constantes de títulos
constituídos de forma unilateral.
4. A interpretação dos artigos 18, 19, 24, inciso I, e 32, § 2º, da
LEF leva à conclusão de que o efeito suspensivo dos embargos à
execução fiscal decorre da sua apresentação. Isso porque tais
dispositivos legais prevêm a realização de procedimentos
tendentes à satisfação do crédito (manifestação sobre a garantia,
remissão, pagamento, adjudicação, conversão de depósito em
renda) apenas após o julgamento dos embargos ou nas hipóteses
em que estes não sejam oferecidos, evidenciando a suspensão do
prosseguimento da execução até o julgamento final dos
embargos.
5. Ainda a evidenciar o regime diferenciado da execução fiscal e
o efeito suspensivo inerente aos embargos que se lhe opõem,
está o § 1º do artigo 16 da Lei 6.830/80, segundo o qual "não são
admissíveis embargos do executado antes de garantida a
execução", o que denota a incompatibilidade com as inovações
do CPC quanto ao efeito suspensivo dos embargos à execução.
6. Recurso especial provido. (REsp 1291923/PR, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 01/12/2011, DJe 07/12/2011) (Grifos nossos)
Desta feita, parece claro, salvo melhor juízo, que uma vez
estando os embargos à execução devidamente garantidos, o efeito suspensivo
deve ser seu corolário, por força das disposições da própria Lei 6.830/80.

b) Da suspensão da execução pelo cumprimento dos


requisitos do § 1º do artigo 919 do CPC.

Não obstante, como acima dissertado, ser inaplicável a novel


regra da Lei nº 11.382/06 às execuções fiscais, ad cautelam, e, porquanto
preenchidos os requisitos do §1º do artigo 919 do CPC, requer-se a atribuição de
efeito suspensivo aos presentes embargos, também, por este fundamento.
Para melhor visualização do tema ora em análise, em
especial aos requisitos necessários para concessão do efeito suspensivo aos
embargos, cumpre trazermos à tela a transcrição do artigo 919, § 1º do CPC, in
verbis:
“Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito
suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a
concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja
garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.” (grifos e
omissis nossos)

São então os requisitos para atribuição de efeito suspensivo


aos Embargos: i) a relevância das alegações despendidas nos embargos; ii) o risco
de dano irreparável ou de difícil reparação; e, ainda, iii) a garantia da execução
por penhora, caução ou depósito.
A doutrina já vem se manifestando acerca das recentes
modificações introduzidas pela Lei 11.382/06. Vênia para transcrever a lição de
Leonardo Ferres da Silva Ribeiro, ao comentar o artigo 739-A do CPC, que hoje
corresponde ao artigo 919 do NCPC (in Nova Execução de Título Extrajudicial, p.
218, Editora Método, São Paulo, 2007):
A regra que prevê que os embargos serão recebidos sem
efeito suspensivo, prosseguindo a execução mesmo na pendência dos embargos,
comporta exceções, uma vez que poderá o juiz conceder tal efeito quando
estiverem presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: (i) houver
relevância dos fundamentos dos embargos; (ii) quando o prosseguimento da
execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação; e (iii) desde que a execução já esteja garantida por penhora,
depósito ou caução suficientes.
Quanto aos dois primeiros requisitos mencionados, a Lei
11.382/2006 adotou fórmula já consagrada no CPC para a concessão de efeito
suspensivo ao agravo (art. 558), mas acrescentou outro: a necessidade de prévia
segurança do juízo.
A nova exigência tem pertinência, apresentando-se até
mesmo como necessária, porquanto, porquanto os embargos agora podem ser
manejados sem a prévia garantia do juízo. Cogitar suspensão da execução sem
que a execução esteja garantida, seria subvalorizar demasiadamente o título
executivo, “ordinarizar” o processo de execução e opor ao exequente um grande
risco de inefetividade da tutela executiva.

Diante do exposto, e como se demonstrará a seguir, existe


grande probabilidade de provimento da ação de embargos à execução,
principalmente em sede de recurso extraordinário, no âmbito do Supremo
Tribunal Federal, onde o atual entendimento se mostra favorável às teses
defendidas.
De sorte que, a não concessão de efeito suspensivo aos
presentes embargos importará em prejuízos terríveis à Executada, ora
Embargante, eis que, garantia da presente Execução (veículo penhorado) poderá
ser aliando judicialmente.
Inegável, portanto, o risco de dano irreparável ou de difícil
reparação que decorrerá do recebimento da presente ação de embargos sem o
devido efeito suspensivo, razão que, de per si¸ é suficiente a ensejar a reforma da
decisão agravada.
Como último requisito necessário à atribuição de efeito
suspensivo aos embargos de devedor, o parágrafo 1º do artigo 919 do Instituto
Processual Civil traz a necessidade de que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes.

Ora, nenhuma dúvida resta acerca do preenchimento desse


requisito uma vez que como dito acima, a execução em comento encontra
perfeitamente garantida pela penhora dinheiro, como se depreende do auto de
penhora anexo à Execução (evento n° 25), o que é mais que suficiente a garantir
a dívida.
Portanto, demonstrado os requisitos autorizadores, há de
ser atribuído efeito suspensivo aos presentes embargos à execução, ex vi artigo
919, § 1º, do CPC/15.
III – DO DIREITO

PRELIMINARMENTE

a) Da não juntada aos presentes autos do processo


administrativo que deu origem à inscrição. Violação aos princípios constitucionais
da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal.

Embora conste das Certidões de Dívida Ativa que instruem a


inicial da execução o nome do devedor, o valor originário da dívida, a natureza e
a fundamentação legal do crédito executado, não há nos autos ora questionados
cópias dos processos administrativos que originaram os títulos executivos que o
fundamentam, o que, por óbvio, inviabiliza o próprio controle da legalidade da
atividade administrativa.

Não obstante a presunção de certeza e liquidez que goza a


Certidão de Dívida Ativa inscrita e a prerrogativa da Administração de auto
constituição do seu título de crédito, importante não se olvidar que a inscrição
em dívida ativa não se constitui em um ato meramente formal e mecânico.

Assim, a Administração Pública, em estrita


obediência ao princípio do contraditório pleno e amplo, assegurado
expressamente pela Carta Magna de 1988, não pode elidir, cercear, tolher ou
negar o direito do sujeito passivo na execução fiscal de defender-se,
notadamente quando ocorrer preterição de formalidade essencial que dificulte,
impeça ou torne inútil sua defesa, como in casu.

Ora, Excelência, a não juntada aos autos dos processos


administrativos que originaram o crédito ora executado cerceia o direito
constitucional da ampla defesa do Embargante, imbuído na Constituição Federal,
eis que o Executado sequer possui elementos para verificar a legalidade do
procedimento administrativo que deu origem ao crédito executado.

Diga-se assim, que os elementos contidos nos processos


administrativos que originaram as Certidões de Dívida Ativa são de suma
relevância, pois somente assim poderá o Embargante saber como foi constituído
o crédito ora executado, e, a partir daí, poder efetivamente defender-se, sob
pena de ver-se violado o princípio da ampla, geral e irrestrita defesa, como no
caso ora em questão.
Reza o inciso LV do artigo 5º da Magna Carta:

“LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;”

Desse modo, e uma vez não realizada a juntada aos


presentes autos das cópias dos respectivos processos administrativos que deram
origem ao débito exigido na execução fiscal ora embargada, resta clara a nulidade
da execução fiscal, por violação aos princípios legais e constitucionais acima
referidos.
b) O não preenchimento, pelas certidões de dívida ativa que
embasam o crédito tributário, do quanto previsto nos artigos 202 e 203 do Código
Tributário Nacional. Excesso de execução contido em seus termos.

Ausentes os processos administrativos que embasam a


certidão de dívida ativa, não se pode saber ao certo, se foi observado
corretamente o direito do contraditório na fase administrativo, por meio de
notificação do contribuinte no prazo legal.

Igualmente, não se pode extrais quais os percentuais de


correção monetárias. juros e multa que foram efetivamente utilizados para o
cálculo do débito executado. Todavia, basta a simples passada de olhos pelas
CDAs que instrui a execução ora atacada para vislumbrar valores indevidamente
cobrados.
Adiante, na discussão do mérito, serão abordadas as razões
pelas quais não são devidos os valores ora executados.

Nestes termos, bastará que este Juízo acolha um dos


argumentos capazes de reduzir o valor executado, para restar em “xeque” o
requisito da liquidez dos títulos executivos.

Assim, claro e evidente que as CDA’s executadas não


preenchem os requisitos mínimos constantes no artigo 202 do CTN, devendo ser
nulificadas com respaldo no artigo 203 do mesmo diploma legal.

Exatamente neste sentido tem se pronunciado o Egrégio


Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cujo entendimento pede-se vênia para
transcrever:
TRIBUTÁRIO. CDA. REQUISITOS FORMAIS. NULIDADE. ARTS. 202
E 203 DO CTN E 2º, § 5º E § 6º, DA LEF.
O art. 202, II e III, do CTN e o art. 2º, § 5º, II e III, da LEF,
estabelecem que deve constar da inscrição em dívida e da
respectiva certidão a referência à origem, natureza e fundamento
legal do crédito, inclusive quanto aos juros. Isso porque a certidão
de dívida ativa constitui título executivo extrajudicial e tais
requisitos lhe atribuem o indispensável atributo da certeza,
ensejando a defesa por parte do executado.
A CDA não cumpre adequadamente a necessidade de indicação
do fundamento legal ao arrolar vasta legislação relativa ao custeio
da previdência, abrangendo, por exemplo, a CLPS do Dec.
89.312/84, o RCPS aprovado pelo Dec. n. 83.081/79, a Lei
7.787/89 e a Lei 8.212/91, não se podendo entender que caiba ao
contribuinte cotejar o período da dívida com os dispositivos legais
arrolados, identificando, ele próprio, quais deles não se prestam,
de modo algum à fundamentação do crédito e quais são
pertinentes ao mesmo.
- Ausente qualquer referência à natureza do crédito. - O modo
de calcular os juros é referido na legislação, podendo-se entender
que a referência à mesma dispensa outro detalhamento no título.
Porém, enquanto a CDA refere, dentre outros, o art. 3º, I, da Lei
8.218/91, ao art. 34 da Lei 8.212/91 e ao art. 54, §§ 1º e 2º, da Lei
8.383/91, o discriminativo que a acompanha refere "JUROS LEI
8981" tão-somente, ou seja, fundamento legal que não consta da
CDA e que é de data inclusive posterior ao termo inicial que se
presume ser o dos juros das competências em execução. Da
NFLD, lavrada em 1996, também não constara tal fundamento,
tampouco referência à Lei 9.065/95.
- Ora, sendo, o lançamento, o ato através do qual se identifica a
ocorrência do fato gerador, determina-se a matéria tributável,
calcula-se o montante devido, identifica-se o sujeito passivo e, em
sendo o caso, aplica se a penalidade cabível, nos termos da
redação do art. 142 do CTN, certo é que do documento que
formaliza o lançamento deve constar referência clara a todos
estes elementos, fazendo-se necessário, ainda, a indicação
inequívoca e precisa da norma tributária impositiva incidente e
daquelas que fundamentam a cobrança dos juros.
- O lançamento não se deu de modo satisfatório quanto à sua
fundamentação legal, o que repercutiu na inscrição em dívida e
na certidão, carentes, assim, de regularidade. Aplicado o art. 203
do CTN, imperativo no sentido de que a omissão dos requisitos
ou o erro a eles relativo implica a nulidade da inscrição e do
processo de cobrança dela decorrente. (...)
(Tribunal Regional Federal da 4ª Região – AC nº
1999.71.00.014739-4/RS, Órgão Julgador: Segunda Turma,
Relator: Juiz LEANDRO PAULSEN, Publicado no DJU em
01/02/2006 pg. 371)” (grifos, omissis e sublinhas nossas)

Por sua vez, aduz o art. 803, inciso I do Código de processo


Civil Brasileiro:
Art. 803. É nula a execução:
I – o título executivo extrajudicial não corresponder a
obrigação certa, liquida e exigível;

Ora, Excelência, uma vez que na CDA ora executada estão


sendo cobrados valores excessivos, como adiante no mérito será demonstrado,
nada mais há que se acrescentar para demonstrar a incerteza, iliquidez e,
consequentemente, inexigibilidade do débito ora contestado.

No que tange à liquidez do crédito, já se firmou


entendimento que este requisito estará atendido apenas quando o mesmo
crédito for determinado em seu quantum.

Não se pode entender liquidez de crédito como mera


“determinação abstrata” do seu valor exato. Não basta, para se considerar
presente o atributo da liquidez, que o valor exato do crédito a ser satisfeito pode
ser determinando (ou é determinável) através de meras operações aritméticas.
Tal interpretação conduziria a que se frustrasse uma das mais importantes
funções do título executivo, a de fixar os limites da execução, uma vez que o título
não indicaria o valor do crédito a ser satisfeito.

A certidão de dívida ativa deve demonstrar


claramente os elementos que a compõem. A partir da CDA deve ser possível
inferir quanto é a dívida e de onde ela provém, e em havendo valores incertos ou
cobrados indevidamente, como no caso em tela, torna-se obscuro o valor devido.

Por fim, importante trazer à baila o entendimento do


Eminente EX-MINISTRO JOSÉ DELGADO, em brilhante acórdão proferido nos
autos do Recurso Especial nº 733432, do Superior Tribunal de Justiça – STJ, que
vem corroborar com o até aqui alegado, in verbis:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.
CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA. REQUISITOS ESSENCIAIS.
DESOBEDIÊNCIA AOS DITAMES DO ART. 2º, § 5º DA LEI
6.830/80. PRECARIEDADE PATENTE. RESPEITO AO
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. NULIDADE DO
TÍTULO. (...)
4. A CDA, enquanto título que instrumentaliza a execução
fiscal, deve estar revestida de tamanha força executiva que
legitime a afetação do patrimônio do devedor, mas à luz do
princípio do devido processo legal, proporcionando o
enaltecimento do exercício da ampla defesa quando apoiado
na estrita legalidade.
5. Os requisitos legais para a validade da CDA não possuem
cunho formal, mas essencial, visando a permitir a correta
identificação, por parte do devedor, do exato objeto da
execução, com todas as suas partes constitutivas (principal e
acessórias), com os respectivos fundamentos legais, de
modo que possa garantir, amplamente, a via de defesa.
6. É inadmissível o excesso de tolerância com relação à
ilegalidade do título executivo, eis que o exeqüente já goza
de tantos privilégios para a execução de seus créditos que
não pode descumprir os requisitos legais para a sua
cobrança.
7. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.
(STJ - REsp 733432/RS, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO,
Órgão Julgador: Primeira Turma, Publicado no DJ em
08.08.2005) (Grifos, omissis e sublinhas nossas)

Resta, então, demonstrada e comprovada a interpretação


aqui defendida, segundo a qual a presente execução é nula, uma vez que fundada
em certidões ilíquidas por não espelharem o quantum efetivamente devido,
notadamente pela cobrança de valores absolutamente indevidos, conforme será
demonstrado no mérito, bem como a origem e fundamentação legal da dívida
executada, não preenchendo, portanto, os requisitos mínimos para sua validade
constantes do artigo 202 do Código Tributário Nacional.
c) Da Nulidade da Certidão de Dívida Ativa

As Certidões da Dívida Ativa objeto da Ação de Execução


Fiscal em comento não atendem a todos os requisitos legais pertinentes à sua
regular emissão.
A propósito, o art. 202 do Código Tributário Nacional dispõe
que:
Art. 202. O termo de inscrição da dívida ativa, autenticado
pela autoridade competente, indicará obrigatoriamente:
I - o nome do devedor e, sendo caso, o dos coresponsáveis,
bem como, sempre que possível, o domicílio ou a residência
de um e de outros;
II - a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora
acrescidos;
III- a origem e natureza do crédito, mencionada
especificamente a disposição da lei em que seja fundado;
IV- a data em que foi inscrita;
V- sendo caso, o número do processo administrativo de que
se originar o crédito.
Parágrafo único. A certidão conterá, além dos requisitos
deste artigo, a indicação do livro e da folha da inscrição.

Da mesma forma, a Lei n.º 6.830/80


assim determina:
Art. 2º. (...):
§ 5º. O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:
I- o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que
conhecido, o domicílio ou residência de um e de outros;
II- o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a
forma de calcular os juros de mora e demais encargos
previstos em lei ou contrato;
III- a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual
da dívida;
IV- a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à
atualização monetária, bem como o respectivo fundamento
legal e o termo inicial para o cálculo;
V- a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida
Ativa;e
VI- o número do processo administrativo ou do auto de
infração, se neles estiver apurado o valor da dívida.
Não foram atendidos todos os referidos requisitos legais
exigidos pelo Código Tributário Nacional. Não consta a capitulação legal correta
através da qual é possível identificar a origem da Certidão de Dívida Ativa.

Ora, é de conhecimento público que em nosso País as leis,


em especial os referentes ao direito tributário, sofrem alterações constantes de
modo que fica impossível para o sujeito passivo fazer a identificação dos diversos
elementos que compõem A Certidão de Dívida Ativa.

Mesmo porque, ao fazer referências às alterações


posteriores, estas podem ter ocorrido mediante o emprego de legislação que
apenas indiretamente fazem menção a lei 10.233/2001 e a Resolução n.
3.056/2009, no tocante a constituição do crédito tributário.

Por sua vez, as CDA são totalmente omissão em relação ao


Decreto nº 5.462/2005, que fundamentou a imposição de multa por evasão de
fiscalização.
Vai daí, que a Certidão de Dívida Ativa em questão, ao
fundamentar sua origem o fez de forma tão evasiva que à Embargante não foi
permitido conhecer a legislação à qual teria, supostamente, infringido.

Trata-se, pois, de tarefa impossível.

O legislador, quando determinou outorgou à autoridade


fazendária o privilégio exclusive de emitir os próprios títulos, e mais, lhes atribuiu
a presunção de liquidez, certeza, exigibilidade e demais características e
requisitos próprios dos títulos de crédito, impôs como contrapartida mínima, que
aquela autoridade, com clareza meridiana, fundamentasse sua emissão.

Não é, data vênia, o que fez a Embargada na hipótese ora


comentada.
Por mais que o queira, a Embargante e, de resto qualquer
contribuinte que se ache em situação análoga, não logrará êxito na identificação
precisa – e necessária – do embasamento legal que deu origem à emissão da
Certidão de Dívida Ativa e, por via de consequência, estará impossibilitada de
“desvendar” a origem do suposto crédito tributário, impedindo-o, ademais de
adequadamente promover sua defesa, está assegurada de forma o mais ampla
possível pelo artigo 5º, LV, da Constituição Federal vigente.
Ora, se não é possível identificar qual o embasamento legal
justificador da emissão da Certidão de Dívida Ativa, ipso facto, afastada está a
presunção de liquidez e certeza daquele título executivo.
Apenas ad argumentandum – já que tal possibilidade lhe
parece remotíssima - vindo Vossa Excelência a entender como válido o omisso –
e ilegal – procedimento adotado pelo Embargado quando da emissão das CDA’s,
por ocasião do lançamento da sentença poderia fundamentá-la reportando-se ao
artigo 1º e seguintes do Código de Processo Civil, deixando com isso a
fundamentação legal genérica.

Exagerando ainda mais, poderia Vossa Excelência


fundamentar a decisão nos seguintes termos: “de acordo com a legislação
vigente, julgo (...)”. É, Excelência, mutatis mutandis, o que fez a Embargada!

As CDA’s emitidas com tão vasta lacuna não pode subsistir


como válida diante do ordenamento legal pátrio que, como acima revelado, tem
regras rígidas e de cumprimento obrigatório, mesmo porque os atos do
funcionário, em casos tais, é inteiramente vinculado.

Vale dizer: deve cumprir a lei, sob pena de a) ser


responsabilizado ou, b) não ser válido o ato. Esta última é a hipótese destinada à
questionada CDA.
Maior ainda devia ter sido a cautela a ser adotada pela
Embargada, frente às nefastas consequências que da sua manutenção poderão
advir à Embargante.

Como assim é, tal omissão importa no obrigatório


reconhecimento da nulidade do dito título que embasa a Execução Fiscal objeto
dos presentes embargos.

O entendimento jurisprudencial acerca do tema em testilha


é pacífico no sentido de que uma vez não atendidos a todos os requisitos legais
devem ser reconhecida a nulidade da Certidão. Senão vejamos:

EXECUÇÃO FISCAL – CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA - REQUISITOS


NÃO ATENDIDOS – PROCESSO EXTINTO.
A Certidão de Dívida Ativa deve conter todos os requisitos do art.
202 do CTN, dentre eles a indicação do número do processo
administrativo e do fundamento legal para a exigência tanto do
tributo como dos acessórios. A ausência de qualquer destes
pressupostos acarreta a nulidade da inscrição e do processo de
cobrança. Na Execução Fiscal o exeqüente pode emendar ou
substituir a Certidão de dívida até a prolação da sentença; trata-
se de providência facultativa da parte que não se converte em
obrigação legal ao magistrado de dar oportunidade especial com
intimação ao credor para tanto, principalmente quando este
poderia têlo feito ao impugnar os embargos.
(Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, 2ª Câmara
Especial Cível, Relator Desembargador NILTON MACHADO.
Apelação Cível n.º 970000421, julgado em 03/06/98). Grifos da
Embargante.

O entendimento doutrinário segue o mesmo


caminho traçado pelos Tribunais Pátrios.
Exemplo disto é a explicação do grande JOSÉ DA SILVA
PACHECO:
(...) é imprescindível a consignação do fundamento legal,
sobre que repousam o valor originário, os juros, os encargos, as multas, se houver,
e a correção monetária. A exigência do item III do § 5.º do art. 2º da Lei 6.830/80
estende-se a todas as parcelas da dívida ativa inscrita. E acrescenta: Deve conter,
igualmente, o número do processo administrativo, qualquer que seja ele,
conforme salientamos em separado, ou do auto de infração, se nele estiver
apurado o valor da dívida. (PACHECO, José da Silva. Comentários à Lei de
Execução Fiscal. São Paulo: Saraiva, 1.998, p. 43).

Assim, alternativa legal não resta a Vossa


Excelência, senão a de, desde já, declarar a nulidade da Certidão de Dívida Ativa
que instruiu a Ação de Execução Fiscal objeto dos presentes embargos, sob pena
de negativa de vigência do inciso III, do § 5º, do artigo 2º, da Lei n.º 6.830/80 e
do artigo 202, III, combinado com o artigo 203, ambos do Código Tributário
Nacional, que assim determina:

Art. 203. A omissão de quaisquer dos requisitos previstos no


artigo anterior ou o erro a eles relativo são causas de
nulidade da inscrição e do processo de cobrança dela
decorrente, mas a nulidade poderá ser sanada até a decisão
de primeira instância, mediante substituição da Certidão
nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado, o
prazo para defesa, que somente poderá versar sobre a parte
modificada.
Desta forma, fica clara a impossibilidade de prosseguimento
do executivo fiscal face às nulidades apontadas, devendo, assim, o mesmo ser
extinto.
d) Da Nulidade da Certidão de Dívida Ativa

A cobrança de juros nas execuções fiscais da Fazenda Pública


Estadual é estabelecida pelo artigo 69 da Lei 6.537/73 in verbis:

Art. 69. Fluirão juros moratórios de 1% ao mês ou fração


sobre o valor, monetariamente atualizado:
I- do tributo vencido e não pago nos prazos fixados na
legislação tributária, até a data do pagamento ou, quando
for o caso, do lançamento;
II- do crédito tributário, após o lançamento;

Parágrafo único. Em substituição ao disposto no “caput” e


incisos, o poder Executivo fica autorizado, para fins de
indenização pela mora no pagamento de tributos, exceto em
relação às multas, que continuarão sendo aplicáveis e
devidas nos termos desta Lei:
a) estabelecer sistema próprio, que deverá ter por base a taxa
média mensal utilizada pelas instituições componentes do
Sistema Financeiro Estadual para operações de crédito ativas
com pessoas jurídicas; ou
b) adotar o mesmo sistema utilizado pelo Governo Federal.

Anteriormente, o referido dispositivo ostentava a seguinte


redação:
Art. 69. Sobre o crédito tributário inscrito como Dívida Ativa
fluirão juros moratórios de 1% ao mês ou fração.

Como se percebe, a lei é clara no sentido da aplicação de um


por cento de juros moratórios ao mês ou fração deste. Acontece que a Fazenda
Pública Estadual faz incidir juros “cheios” na atualização dos tributos quando
estes deveriam ser fracionados em flagrante ilegalidade.

A perícia contábil a ser realizada demonstrará,


inequivocamente, o quanto se alegou, ou seja, o Embargado não respeitou a
forma determina pelo artigo 69 da Lei 6.537/73.
Assim, as Certidões de Dívida Ativa que instruíram a
demanda estão fulminadas pela nulidade, face a não observância ao disposto na
Lei, uma vez que não existe Certidão de Dívida Ativa mais ou menos líquida e
certa. Ou é líquida e certa, ou não é. No caso em tela, não é.

A Constituição Federal, no inciso II de seu artigo 5.º,


estabelece que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei, fazendo com que esta cláusula pétrea se espraie por toda
a Carta Democrática, notadamente no que concerne ao sistema tributário,
implicando na necessidade de lei para a definição, instituição e delimitação de
tributos.
Assim, o princípio da estrita legalidade – o ou legalidade
cerrada – é o corolário do Sistema Tributário Constitucional, conforme estabelece
o art. 150, I, da Constituição Federal vigente:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
I- Exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
(...).
A legislação é clara e precisa, não dando margem a qualquer
interpretação, donde se conclui que a não observância do disposto na Lei em
comento afronta a rigidez do Sistema Constitucional Tributário.
Destarte, o procedimento adotado pelo fisco
infringe a própria Lei n.º 6.537/73 e, mais uma vez, ao disposto na combinação
dos artigos 202 e 203 do Código Tributário Nacional.
Sendo assim, a Certidão de Dívida Ativa objeto da Ação de
Execução Fiscal em comento não atende a todos os requisitos legais pertinentes
à sua regular emissão e, portanto, é nula, eis que não foram atendidos todos os
requisitos legais exigidos, motivo pelo qual requer o arquivamento da Execução
Fiscal guerreada, e a condenação do Embargado ao pagamento das custas e
honorários advocatícios.

IV - NO MÉRITO
a) DA APLICAÇÃO DE MULTAS ATRAVÉS DE DECRETO.
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A imposição de multa através de decreto fere o princípio da


legalidade (art. 5º, II e 37, “caput”, da Constituição da República).
No Caso dos autos foi imposta infrações de trânsito através
do Decreto nº 5.462/2005.
A Lei nº 10.233/01, que instituiu a Agência Nacional de
Transportes Terrestres – ANTT, apenas fixou as espécies de sanções e o limite
máximo da pena de multa, sem também elencar os atos infracionais.
O decreto em linhas gerais é um regulamento administrativo
não podendo impor obrigações ao particular. O decreto apenas regulamenta uma
lei.
O Decreto nº 5.462/2005 e nem Resoluções da ANTT, sob o
pretexto de regulamentar as Leis n.º 8.987/95 e 10.233/01, respectivamente,
passaram a descrever hipóteses de infrações administrativas sem o devido
respaldo legal; pois não estão descritas em Lei Ordinária Federal, que é o
instrumento hábil para impor sanções administrativas.

Nesse sentido:
DIREITO ADMINISTRATIVO. AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES
TERRESTRES - ANTT. MULTA. APLICAÇÃO COM SUPORTE NO DECRETO
Nº 2.52198 E NA RESOLUÇÃO ANTT Nº 233/2003. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL DAS CONDUTAS TIPIFICADAS.
NÃOCABIMENTO. PRECEDENTES. 1. A sentença julgou procedentes
embargos à execução fiscal, em face da ilegalidade da Resolução ANTT
nº 233/2003. 2. "A legislação que disciplinou o regime de concessão e
permissão de serviços públicos (Lei nº 8.987/95) não traz a previsão das
condutas típicas, tendo apenas previsto a possibilidade de o Poder
concedente aplicar tais penalidades. A lei que instituiu a Agência
Nacional de Transportes Terrestres (Lei nº 10.233/01), por sua vez,
apenas fixou as espécies de sanções e o limite máximo da pena de
multa, sem também elencar os atos infracionais. Não poderia,
portanto, nem o Decreto n.º 2.251/98, nem a Resolução ANTT n.º
233/2003, sob o pretexto de regulamentar as Leis n.º 8.987/95 e
10.233/01, respectivamente, passar a descrever hipóteses de
infrações administrativas sem o devido respaldo legal"(APELREEX nº
13416/PB, 3ª Turma, Relª Desª Federal convocada Cíntia Menezes
Brunetta) 3."O art. 85, parágrafo 3º, do Decreto n. 2.52198, ao dispor
acerca de penalidade (apreensão de veículo), impondo,
subseqüentemente, o pagamento da multa como condição para
liberação do bem, extrapolou a sua finalidade de apenas regulamentar
a Lei n. 8.98795, que, disciplinando o regime de concessão e permissão
da prestação de serviços públicos, não cuidou da tipificação de atos
ilícitos dos concessionários, tampouco de respectivas sanções
administrativas" (STJ, REsp 616750/GO, Rel. Min. João Otávio de
Noronha). 4. Apelação não-provida. (TRF-5 - AC:
8034881720134058400, Relator: Desembargador Federal Marcelo
Navarro, Data de Julgamento: 24/04/2014, Terceira Turma).
ADMINISTRATIVO. AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES
TERRESTRES - ANTT. APLICAÇÃO DE MULTA. RESOLUÇÃO Nº 233/2003.
IMPOSSIBILIDADE. I. A Lei nº 10.233/01, a despeito de conferir à ANTT
o poder dever de fiscalizar o transporte terrestre e de aplicar
determinadas sanções, entre elas a de multa, não lhe atribuiu
competência legislativa para tipificar condutas ilícitas, sujeitas à sanção
do Estado. II. A multa imposta pela ANTT, na hipótese, em desfavor da
apelada foi respaldada na Resolução ANTT nº 233/2003, sem o amparo
da Lei nº 8.987/95, que disciplinou o regime de concessão e permissão
de serviços públicos. O administrador, ao editar o normativo
mencionado, para descrever infrações administrativas, extrapolou o
princípio constitucional da legalidade. Precedentes: TRF 5ª Região,
APELREEX 200882000002637, Desembargadora Federal Cíntia
Menezes Brunetta, DJE:23/08/2012; APELREEX
00080517620114058200, Desembargador Federal Élio Wanderley de
Siqueira Filho, DJE:25/04/2013. III. Apelação improvida.
(TRF-5 - AC: 8034864720134058400, Relator: Desembargador Federal
Ivan Lira de Carvalho, Data de Julgamento: 08/04/2014, Quarta Turma).

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. MULTA


ADMINISTRATIVA. LEI Nº 10.233/2001. RESOLUÇÃO ANTT
Nº233/2003. TIPIFICAÇÃO DAS CONDUTAS. IMPOSSIBILIDADE.
EXTINÇÃO DE OFÍCIO. CABIMENTO. 1. Cuida-se de apelação cível de
sentença que extinguiu o feito executivo em face da ilegalidade da
Resolução ANTT nº 233/2003. 2. A CDA nº 176/2013 refere-se à
cobrança de multa decorrente de infração ao previsto no inciso I, alínea
k da Resolução ANTT nº 233/2003. 3. A Lei nº 10.233/2001 criou a
Agência Nacional de Transportes Terrestes - ANTT e estabeleceu em
seu art. 78-A as sanções aplicáveis pela agência nas infrações aos
dispositivos nela previstos. Não há, contudo, no texto legal a tipificação
das condutas passíveis de serem sancionadas. 4. Esta Corte tem se
pronunciado sobre a ilegalidade da exação com fundamento na
mencionada Resolução, porquanto houve extrapolação dos limites
previstos na Lei nº 10.233/2001 ao tipificar as condutas administrativas
sancionáveis. Precedentes. 5. Ante a impossibilidade de correção do
título executivo, porquanto fundado em norma que desbordou dos
limites permitidos em lei, cabível a extinção do feito. Apelação
improvida. (TRF5 - AC: 15935420134058400, Relator: Desembargador
Federal José Maria Lucena, Data de Julgamento: 28/08/2014, Primeira
Turma, Data de Publicação: 04/09/2014).

b) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

Determina o Código de Trânsito Brasileiro:


Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do
território nacional, abertas à circulação, rege-se por este
Código.
(...)
Art. 3º As disposições deste Código são aplicáveis a qualquer
veículo, bem como aos proprietários, condutores dos veículos
nacionais ou estrangeiros e às pessoas nele expressamente
mencionadas.

Em razão disso o Código de Trânsito Brasileiro é aplicável ao


caso dos autos, pois todas as infrações de trânsito foram aplicadas em território
nacional.
Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.


ANTT. INFRAÇÕES POR EXCESSO DE PESO. APLICAÇÃO DE MULTA. ILEGALIDADE.
- Tratando-se de ação fiscalizatória ligada exclusivamente ao controle de peso de
veículos, presente está hipótese de infração prevista no Código de Trânsito
Brasileiro, que pode e deve ser exercida pela ANTT. Nesse caso, todavia, havendo
lei específica, devem ser observadas as regras materiais e formais previstas no
Código Brasileiro de Trânsito. - Em se tratando de infração de trânsito, sob o
aspecto formal (sequer se adentra na questão relacionada às penas aplicáveis),
deve ser observado o prazo para o encaminhamento da notificação de autuação
e, mais do que isso, deve ser observada a necessidade da dupla notificação, nos
termos dos artigos 281 e 282 do CTB. - Hipótese em que as alegações trazidas
pelo autor lograram afastar a presunção de legitimidade e de legalidade do ato
administrativo. (TRF-4 - AC: 50537494420144047100 RS 5053749-
44.2014.404.7100, Relator: FERNANDO QUADROS DA SILVA, Data de Julgamento:
16/12/2015, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E. 18/12/2015).

Dispõe o Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência


estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do
auto de infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu
registro julgado insubsistente:
(...)
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a
notificação da autuação”. (Redação dada pela Lei nº 9.602, de 1998).
É exatamente a situação dos autos vez que a embargada,
enviou as notificações das multas fora do prazo legal.

Da interpretação do texto legal acima descrito temos que, o


prazo para a expedição das notificações das multas é decadencial, inadmitindo
prorrogação.
A presente controvérsia teve solução quando do julgamento
do Recurso Especial 1.092.154/RS, de relatoria do Ministro Castro Meira,
submetido ao regime dos recursos repetitivos, que pacificou o entendimento de
que se não for expedida a notificação da autuação no prazo de 30 dias, o auto de
infração deverá ser arquivado.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N.º
08/2008. AUTO DE INFRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. PRAZO. ART. 281, PARÁGRAFO
ÚNICO, II, DO CTB. NULIDADE. RENOVAÇÃO DE PRAZO. IMPOSSIBILIDADE.
HONORÁRIOS. SÚMULA 7/STJ. 1. O Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97)
prevê uma primeira notificação de autuação, para apresentação de defesa (art.
280), e uma segunda notificação, posteriormente, informando do
prosseguimento do processo, para que se defenda o apenado da sanção aplicada
(art. 281). 2. A sanção é ilegal, por cerceamento de defesa, quando inobservados
os prazos estabelecidos. 3. O art. 281, parágrafo único, II, do CTB prevê que será
arquivado o auto de infração e julgado insubsistente o respectivo registro se não
for expedida a notificação da autuação dentro de 30 dias. Por isso, não havendo
a notificação do infrator para defesa no prazo de trinta dias, operase a decadência
do direito de punir do Estado, não havendo que se falar em reinício do
procedimento administrativo. 4. Descabe a aplicação analógica dos arts. 219 e
220 do CPC para admitir seja renovada a notificação, no prazo de trinta dias do
trânsito em julgado da decisão que anulou parcialmente o procedimento
administrativo. 5. O exame da alegada violação do art. 20, § 4º, do CPC esbarra
no óbice sumular n.º 07/STJ, já que os honorários de R$ 500,00 não se mostram
irrisórios para causas dessa natureza, em que se discute multa de trânsito, de
modo a não poder ser revisado em recurso especial. Ressaltou o acórdão
recorrido esse monante remunera "dignamente os procuradores, tendo em vista
a repetividade da matéria debatida e sua pouca complexidade". 6. Recurso
especial conhecido em parte e provido. Acórdão sujeito ao art. 543-C do CPC e à
Resolução STJ n.º 08/2008. (REsp 1092154/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 31/08/2009).
Neste sentido, as CDA que embasam a presente execução
fiscal devem ser declarada sem feito e nula, julgando improcedente a referida
demanda.
d) DA COBRANÇA CUMULATIVA DE JUROS DE MORA COM
MULTA DE MORA – BIS IN IDEM

Com relação à imposição de juros de mora, é


INCONSTITUCIONAL E ABUSIVA, pois prevê que para um mesmo fato, sejam
aplicadas duas penas, ocorrendo, portanto, um “bis in idem”.

O aspecto objetivo da infração fiscal é a mora, sendo-lhe


cabível a correspondente penalidade, ou seja, a multa de mora ou juros de mora,
sendo tal duplicidade de penalidades incompatível com o sistema constitucional
vigente.
No caso dos autos a dívida cobrada aumentou em média 60%
do exigido no processo administrativo no período de 03/2014 a 12/2018
(inscrição em dívida ativa).

Nesse sentido:
“JÁ NO QUE SE REFERE À MULTA MORATÓRIA, TENHO PARA
MIM QUE, REALMENTE, É EXCESSIVA A SUJEIÇÃO DA AGRAVANTE AO SEU
PAGAMENTO. AINDA QUE, INADVERTIDAMENTE, HAJA ASSINADO
COMPROMISSO NESSE SENTIDO. OS JUROS A SEREM COBRADOS JÁ
CONFIGURAM UM DEVIDO RESSARCIMENTO PELA MORA, COM O QUE NÃO
PASSARIA DE ENVIESADO E INACEITÁVEL “BIS IN IDEM” A COBRANÇA, EM
CONJUNTO, DE JUROS E MULTA MORATÓRIA”.
(Agravo de Instrumento, nº 96.03.020951-1, Relator
Andrade Martins, E. TRF-3ª Região, DJU, II, de 29/03/1996).
Dessa forma, a multa moratória deverá ser reduzida, nos
termos do artigo 161, §1º, do CTN, à proporção de 1% ao mês de forma não
capitalizada, ou melhor, de 12% ao ano.

e) Inaplicabilidade da TAXA SELIC aos débitos ora exigidos


como juros de mora, nos períodos em que superior a 1%. Limitação dos juros de
mora dada pelo artigo 161 do CTN.
Em matéria tributária são os juros, indiscutivelmente, uma
sanção pecuniária, decorrente da impontualidade do sujeito passivo no
adimplemento da obrigação principal, com vistas a incentivar os contribuintes a
não retardar o recolhimento dos tributos, sendo devidos mesmo em caso de
denúncia espontânea.
Desta feita, vale referir que dentre os privilégios introduzidos
para o crédito tributário pelo Código Tributário Nacional, além da correção
monetária já para ele exclusivamente criada, estabeleceu o Codex, em seu artigo
161, que o crédito não integralmente pago no vencimento seria acrescido de
juros de mora, fixados, de acordo com seu parágrafo 1º, em taxa igual ao dobro
da prevista na legislação civil, ou seja, em 1% (um por cento) ao mês, "se a lei não
dispuser de modo diverso".

Como se verifica, a estipulação legal de que os juros


incidentes sobre débitos tributários são calculados à taxa de 1% ao mês já se trata
de um privilégio outorgado ao crédito tributário.

A expressão "se a lei não dispuser de modo diverso",


portanto, somente pode ser compreendida, através de uma interpretação
histórica e sistemática, como sendo a possibilidade da legislação ordinária
estabelecer taxa menor que a prevista no CTN, nunca podendo ultrapassar a de
1% ao mês.
Nesse sentido, inclusive, nos ensina Bernardo Ribeiro de
Moraes afirmando que:
Assim, o Poder Tributante não necessita de lei ordinária para
estabelecer sua taxa de juros, valendo-se das normas do
Código Civil e do Código Tributário Nacional, para poder
exigir o percentual de 1% ao mês ou 12% ao ano. Na hipótese
de outra taxa, há necessidade de lei ordinária.

Esta fixará taxa menor (não superior a 1% ao mês, que a


disposta na lei civil).
Cobrar juros excessivos, superiores ao correspondente à taxa
de 12% ao ano, há hipótese de cobrança da dívida ativa, constitui usura
pecuniária (cobrança de juros acima do permitido em lei). (…). A Lei da Usura
atinge também cobrança de juros por parte do Poder Público.

De acordo com o disposto no artigo 13 da Medida Provisória


nº 947, de 22.3.95 (reeditada sob nº 972, em 20.4.95, e sob nº 998, em 19.5.95,
e convertida na Lei nº 9.065, de 20.6.95), a partir de 1º.4.95 os juros moratórios
incidentes sobre débitos de tributos federais passaram a ser calculado através da
taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, para
títulos federais, acumulada mensalmente; tal taxa é divulgada pelo Sr.
Coordenador Geral do Sistema de Arrecadação, através de Atos Declaratórios
mensais, sendo, por vezes, superior a 1% ao mês.
De todo o exposto, pode-se concluir que:

a) a taxa de juros moratórios de 1% ao mês, fixada pelo § 1º,


do artigo 161, do CTN, é o limite máximo que pode ser aplicado, devendo a
expressão "se a lei não dispuser de modo contrário" ser compreendida como a
autorização para que a lei estabeleça taxa inferior, mas jamais superior ao limite
fixado;
b) é ilegal a utilização da taxa SELIC para o cálculo dos juros
moratórios a partir de vencimento, QUANDO ESTA EXCEDER O PERCENTUAL DE
1% AO MÊS;
Ante a demonstrada ilegalidade desses índices, para todos os
efeitos de direito deve prevalecer, para cálculo de juros moratórios sobre débitos
tributários, a taxa que representar a menor penalidade ao contribuinte, nunca
podendo, entretanto, superar o percentual de 1% ao mês.

Nesta linha, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça


admitiu incidente de inconstitucionalidade, alusivo à aplicabilidade da taxa SELIC
aos créditos tributários, encaminhando a matéria à apreciação de seu E. Plenário
pelas razões assim sumariadas em sua ementa:

ReEsp Nº 215.881 – PR (1999/0045345-0) - TRIBUTÁRIO.


EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC.
ARTIGO 39, § 4º, DA LEI 9.250/95. ARGUIÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE.
1. Inconstitucionalidade do § 4º, do artigo 39 da Lei nº 9.250,
de 26 de dezembro de 1995, que estabeleceu a utilização da
TAXA SELIC, uma vez que essa taxa não foi criada por lei para
fins tributários.
2. Em matéria de tributação, nesta incluídas as contribuições
previdenciárias, os critérios para aferição da correção
monetária e dos juros devem ser definidos com clareza pela
lei.
3. TAXA SELIC, indevidamente aplicada, ora como sucedâneo
dos juros moratórios, ora dos juros remuneratórios, sem
prejuízo de sua conotação de correção monetária.
4. A TAXA SELIC é de natureza remuneratória de títulos.
Títulos e tributos, porém são conceitos que não podem ser
embaralhados.
5. Impossibilidade de equiparar os contribuintes aos
aplicadores; estes praticam ato de vontade; aqueles são
submetidos coativamente a ato de império.
6. A TAXA SELIC cria anômala figura de tributo rentável. Os
títulos podem gerar renda; os tributos, não.
7. O emprego da TAXA SELIC provoca enorme discrepância
com o que se obteria se, ao invés dessa taxa, fossem
aplicados os índices oficiais de correção monetária, além dos
juros legais de 12% ao ano.
8. Aplicada a TAXA SELIC há aumento de tributo, sem lei
especifica a respeito, o que vulnera o artigo 150, inciso I, da
Constituição Federal, a par de ofender também os princípios
da anterioridade, da indelegabilidade de competência
tributária e da segurança jurídica.
9. Se tais pechas contaminam a arrecadação, igual defeito
existirá nas hipóteses de compensação ou restituição de
tributos.
10. Ainda que se admitisse a existência de leis ordinárias
criando a TAXA SELIC para fins tributários, ainda assim, a
título de argumentação de reforço, a interpretação que
melhor se afeiçoa ao artigo 161, § 1º, do CTN (que possui
natureza de lei complementar – art. 34, § 5º, do ADCT), é a
de poder a lei ordinária fixar juros iguais ou inferiores a 1%
ao mês, nunca juros superiores a esse percentual. Sob o
arnês desse raciocínio, a Taxa SELIC para fins tributários só
poderia exceder a esse limite, desde que
também prevista em lei complementar, visto que, de
ordinário, essa taxa tem superado esse limite máximo. Não
há conceber que uma lei complementar estabeleça a taxa
máxima e mera lei ordinária venha a apresentar percentual
maior.
11. Para que a TAXA SELIC pudesse ser albergada para fins
tributários, havia imperiosa necessidade de lei
estabelecendo os critérios para sua exteriorização, por ser
notório e até vetusto o princípio de que o contribuinte deve
de antemão saber como será apurado o quantum debeatur
da obrigação tributária. A Taxa SELIC está longe, muito longe,
de ser um instituto jurídico a dispensar melhor dilucidação,
razão pela qual era de rigor sua conceituação legal para
penetrar no campo do Direito Tributário. Assim, há
másculas decorrentes da impossibilidade de se
aferir correção monetária ante acta, ou seja, por mera
estimativa do que poderá vir a ocorrer.
12. O artigo 193, § 3º, da Constituição Federal dita que a taxa
de juros reais não pode ser superior a 12% ao ano. Ainda que
se trate de norma de eficácia contida ou limitada, sujeita a
lei complementar, a doutrina moderna de Direito
Constitucional e no sentido de inexistir norma constitucional
despida totalmente de efeito ou eficácia. Assim, inibe o
legislador ordinário de legislar em sentido contrário.
13. Incidência de bis in idem na aplicação da Taxa SELIC
concomitantemente com o índice de correção monetária.
14. Mesmo nas hipóteses em que não há adição explicita de
correção monetária e Taxa SELIC a ilegalidade persiste, por
conter a Taxa SELIC embutida fator de neutralização da
inflação.
15. A Taxa SELIC é calculada sobre os juros obrados nas
operações de venda de título negociável em operação
financeira com cláusula de compromisso de recompra e não
sobre a diferença entre valor de compra e de resgate dos
títulos. A Taxa SELIC reflete a remuneração dos investidores
pela compra e venda dos títulos públicos e não os
rendimentos do Governo com a negociação e renegociação
da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi).
16. Mencionando a lei que se aplica a Taxa SELIC para
tributos e contribuições previdenciárias, e deixando a fixação
dessa taxa ao alvedrio exclusivo do BACEN (que tem
competência financeira mas não tributária), há também
inconstitucional delegação de competência tributária. Assim
é porque o quantum debeatur, --- que afinal, repitase, é o
que interessa ---, acaba por ser alterado à margem da lei.
Fixada a Taxa SELIC por ato unilateral da Administração, fica
vergastado o princípio da indelegabilidade de competência
tributária. Além disso, o Comitê de Política Monetária do
Banco Central do Brasil (COPOM) pode delegar ao Presidente
do Banco Central a prerrogativa de aumentar ou reduzir a
Taxa SELIC.
17. A Taxa SELIC é fixada depois do fato gerador e por ato
unilateral do Executivo, em matéria de atribuição exclusiva
do Legislativo, que não fixou os nortes, as balizas e os
critérios para sua mensuração, o que fere, além do princípio
da indelegabilidade, o da anterioridade.
18. A quantia a ser recolhida, seja a título de tributo, seja a
título de correção monetária ou de juros incidentes sobre o
tributo, não pode ficar na dependência de fixação unilateral
do Governo (in casu, do Banco Central), pouco importando
que assim o faça em nome do mercado financeiro, atrelado
às graças da oferta e procura. Esse raciocínio é
perfeitamente válido e eficaz no que toca à plena autonomia
do BACEN na gestão dos títulos públicos e de sua
remuneração, mas não fornece nenhum respaldo, por mais
tênue que seja, para a cobrança de tributos presos aos
princípios da legalidade (art. 150, I, da CF), da anterioridade
(art. 150, III, “b”, da CF), da indelegabilidade de competência
tributária (arts. 48, I, e 150, I, da CF) e da segurança jurídica
(como se infere dos vários incisos do art. 5º da CF).
19. Inconstitucionalidade material, além da flagrante
inconstitucionalidade formal.
ACORDÃO vistos e relatados os autos em que são partes as
acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, retificar o termo
referente a admissibilidade da argüição de
inconstitucionalidade para constar que a mesma foi acolhida,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do
relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Votaram com o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros NANCY
ANDRIGHI, FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, ELIANA
CALMON e PAULO GALLOTTI. Custas, como de lei. Brasília –
DF, 13 de junho de 2000 (data de julgamento) DJ nº 117 – E.
1906.2000, p.133.

Novamente o STJ, agora em julgamento do Recurso Especial


nº 291.257-SC em 23 de abril de 2002, Relator para o acórdão o Eminente
Ministro Franciulli Netto, posicionou-se exatamente em conformidade com a tese
ora esposada, como se nota dos termos do Informativo STJ nº 1312002, veiculado
pela internet, vênia para transcrever:
TAXA SELIC. ILEGALIDADE. TRIBUTOS – Prosseguindo o
julgamento, a 2ª Turma do STJ, por maioria, proveu parcialmente o Resp, apenas para
excluir a taxa Selic, substituindo-a pela incidência de correção monetária e juros
moratórios de 1% ao mês. Ressaltou-se, entre outros argumentos, que a taxa Selic para
fins tributários é inconstitucional e ilegal. Apenas a utilização da taxa Selic como
remuneração de títulos é perfeitamente legal, pois cabe ao Bacen e ao Tesouro
Nacional ditar as regras sobre os títulos públicos e sua remuneração. Outrossim a taxa
Selic, que ora tem conotação de juros moratórios, ora remuneratórios com finalidade
de neutralizar os efeitos da inflação, constitui-se em correção monetária por vias
oblíquas. Mas, em matéria tributária, tanto a correção monetária como os juros devem
ser estipulados por lei. Além do mais, a taxa Selic cria a anômala figura do tributo
rentável. O art. 13 da Lei n. 9.065/1995, que alterou o inciso I, do art. 84, da Lei n.
8.981/1995, determinou, mas não instituiu, a taxa Selic, pois deixou de defini-la e não
traçou parâmetros para seu cálculo, uma vez que ausentes os pressupostos para a
validade e eficácia da lei tributária, consoante as determinações do CTN. Resp 291.257-
SC, Rel. originário Min. Eliana Calmon, Rel. para acórdão Min. Franciulli Netto, julgado
em 23/4/2002. (Informativo STJ n. 131/2002, Internet). (Sublinhas nossas)

Neste mesmo diapasão, e a título meramente


exemplificativo, cumpre transcrever a seguinte ementa:

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. MULTA DE


REVALIDAÇÃO DE 50% SOBRE O VALOR DO IMPOSTO. PENALIDADE SEM CARÁTER
CONFISCATÓRIO. LEGALIDADE DA COBRANÇA. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC PARA O
CÁLCULO DOS JUROS DE MORA. ILEGALIDADE.
CONTRIBUINTE QUE JUNTA REQUERIMENTO DE PARCELAMENTO
DE DÉBITO E DOCUMENTOS DE ARRECADAÇÃO ESTADUAL REFERENTES AO
PAGAMENTO DE PARTE DO DÉBITO. VALORES QUE DEVEM SER EXCLUÍDOS DO
MONTANTE EXECUTADO. PROVIMENTO PARCIAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 161, § 1º, DO
CTN.
‘O princípio constitucional do não-confisco deve ser entendido
com abstração das penalidades, que, em si mesmas, não assumem caráter
confiscatório.
Multa de revalidação imposta por Lei no percentual de 50% do
valor do imposto devido, é penalidade e não tributo, sendo legal sua cobrança.
‘A taxa selic padece de vícios formais e materiais se confrontada
com a constituição, além de ter caráter remuneratório, o que impede sua aplicação
para o cálculo de juros moratórios em seara tributária, devendo prevalecer a taxa
prevista no Código Tributário Nacional.(...) (Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, Apelação Cível nº 000.252.744-8/00, 6ª Câmara Cível, Relator Des. Dorival
Guimarães Pereira, julgado em 06.05.2002)
(Grifos e omissis nossos)
Assim, dentro desta linha de argumentação, uma vez
entendido por Vossa Excelência cabível o lançamento ora contestado, ao menos
deverá ser excluído de seu conteúdo a taxa SELIC no cômputo dos valores
devidos, quando verificada sua incidência em percentual superior a 1% ao mês.

f) Da violação dos artigos 150, IV e 37, da CF/88. Da multa


moratória incidente sobre os tributos em atraso. Violação ao princípio
constitucional do não confisco e dos princípios administrativos constitucionais da
razoabilidade e da proporcionalidade.

Neste ponto, importa discorrer acerca dos


argumentos da ilegalidade e inconstitucionalidade da multa aplicada sobre o
montante do tributo supostamente devido.

Tais valores exigidos a título de multa flagrantemente ilegal


e inconstitucional - como a seguir demonstrar-se-á, nulificam, de plano, a
certidão de dívida ativa executada, em virtude do excesso de exação nela contida.

Passando a abordar a ilegalidade e inconstitucionalidade da


exigência da multa pela falta de pagamento, denota-se que é princípio básico que
a pena, no caso a multa aplicada aos débitos em atraso, não pode ultrapassar os
estritos limites da lei - ou melhor, do direito como um todo - valendo para o caso
específico do direito tributário, a definição legal do tributo como insuscetível de
servir como instrumento de penalização do contribuinte.

De outra sorte há o balizamento doutrinário, no sentido de


que uma das finalidades do direito, tanto quanto possível, é realizar a paz e a
justiça social. Daí o princípio segundo o qual o imposto deve ser medido conforme
a capacidade contributiva do cidadão, e a justiça fiscal um ideal a ser sempre
perseguido, mormente por aqueles encarregados da aplicação e interpretação do
direito para os casos concretos.

Em realidade, o fato é que a multa incidente sobre o valor


originário do crédito fiscal encontra-se totalmente fora da razoabilidade e do
próprio contexto socioeconômico pátrio, onde o que se observa é um sensível
processo recessivo em andamento, com corte no crédito disponível às Empresas,
juros exorbitantes e uma queda do nível de atividade econômica em todos os
campos.
Ora, multa em percentual tão elevado sobre o imposto
devido, sobressai-se inconteste tratar-se de evidente confisco, com violação
flagrante do disposto na própria Carta Magna em seu artigo 150, IV, ainda mais
em vista do atual panorama econômico-financeiro e da incidência dos demais
encargos moratórios.

IVES GRANDA MARTINS, em seu Comentário à Constituição


do Brasil, Ed. Saraiva, 6º Vol. Tomo I, pg. 162, ao comentar o artigo citado, é
preclaro ao ensinar:
Se a soma de diversos incidentes representa carga que
impeça o pagador de tributos de viver e se desenvolver, estar-se-á perante carga
fiscal confiscatória, razão pela qual todo o sistema fiscal terá que ser revisto, mas
principalmente aquele tributo que, quando criado, ultrapasse o limite da
capacidade contributiva do cidadão.
Assim, destes ensinamentos verte límpido que a multa fixada
da constituição do débito e da própria inscrição, extrapola os ditames da lei
Maior, pois espoliativa e confiscatória.

De outra banda, importa consignar que as obrigações


acessórias, entre elas a multa, podem ter duas naturezas, uma tributária e, neste
caso converter-se em principal e a outra de natureza punitiva que, ipso jure,
converte-se também em principal.
No primeiro caso, o que era princípio na legislação esparsa
converte-se em mandamento constitucional e legal impeditivo da dupla
tributação com a mesma base de cálculo, vedando o bis in idem a partir do mesmo
fato gerador, expresso no art. 150, I da CF/88, antes focado.

Ora, ainda que tolerado durante a vigência da Constituição


anterior e ainda que contrário ao princípio da tributação, o Código Tributário,
como antes dito mandava converter a obrigação acessória, qualquer que fosse
sua natureza, administrativa ou punitiva, em obrigação principal.
A tolerância tinha origem na ideia de que a obrigação
principal - art. 113, 3º, do CTN - surge com a ocorrência do fato gerador e tinha
por objeto não apenas o pagamento do tributo, mas também a penalidade
pecuniária.
Com o artifício de unir num único conceito, o principal e o
acessório, ainda que diferentes em sua natureza, o legislador tributário pátrio
escondeu sob o manto do primeiro um acréscimo ilimitado de falso tributo e, na
lei esparsa, delegou a autoridade administrativa da fiscalização tributária a
faculdade de aplicar o falso tributo.
Não serve como supedâneo alternativo a aplicação da multa
de qualquer natureza, administrativa ou punitiva, que aumente o tributo a
percentuais que o descaracterizem.

O professor ARNALDO BORGES, in Obrigação


Tributária Acessória, fls. 86, da RDT nº 04, traz a seguinte e soberba lição:
“... uma coisa resta incontroversa: a prestação tributária - o
tributo - não decorre de ato ilícito. Significa: o fato descrito
na hipótese de incidência de norma tributária é sempre um
fato lícito de ocorrência possível. A obrigação tributária
principal instaura-se com a incidência da norma na realidade
e, no fato jurídico daí emergente é sempre um fato lícito.
A prestação objeto desta obrigação, é o tributo e, só ele. Não
há outra prestação na obrigação tributária principal. A
norma tributária descreve um fato lícito da vida e a ele enlaça
como conseqüência a conduta de alguém entregar dinheiro
ao Estado. Esta é a única conduta que a endonorma tributária
imputa ao fato por ela descrito. A incidência desta norma na
realidade fática instaura a obrigação tributária principal cujo
objeto é o tributo e, unicamente ele.”

Se a obrigação tributária jamais resulta de sanção e esta, ao


contrário, não pode ser acrescida ao tributo ante ao impedimento legal e
constitucional, resta que o fato gerador do tributo não poderá ser confundido
com a multa e esta por sua vez, não poderá modificar ou acrescer sobre aquele.

Outros argumentos poderiam ser acrescidos aos já


expendidos. Vejamos alguns:

a) também está regrado que só a União, mediante lei


complementar, poderá instituir impostos, não
constitucionalmente previstos, desde que não cumulativos e
que tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos
discriminados constitucionalmente;

b) não se diz que a autoridade tributária não tenha direito a


aplicação de multas, seja ela administrativa ou punitiva,
desde que não tenha a mesma base dos tributos e nem por
fundamento do mesmo fato gerador.
Além do mais, inobstante a natureza jurídica da multa
aplicada, ou sua previsão legal, importante salientar que a fixação de multa em
níveis tão elevados atinge frontalmente os princípios administrativos e
constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade, considerados
verdadeiros cânones da Administração Pública.

Certo é que a Administração Pública está, por lei, adstrita ao


cumprimento de certas finalidades, dentre as quais atingir sua função precípua
que é a busca do bem comum.

Mas na busca desta almejada finalidade, inadmissível que a


Administração Pública viole princípios de direito que a regem, motivo pelo qual,
frisa-se mais uma vez, a fixação de multa, inobstante a sua previsibilidade legal,
fere de morte o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade amplamente
firmados em nosso ordenamento jurídico.

A proporcionalidade na Administração Pública é, antes de


tudo, um atributo, a ela corresponde tudo que é proporcional, que apresenta um
laço de proporção, de correlação entre dois ou mais elementos.

Em síntese, o conteúdo da palavra proporção é comum aos


conceitos de racionalidade, de necessidade, de normalidade, e principalmente de
proibição de excesso.

LUÍS ROBERTO BARROSO, em sua obra “ A interpretação e


Aplicação da Constituição”, ao tecer comentários acerca dos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, brilhantemente assevera que o princípio
da razoabilidade é caracterizado pela proporcionalidade, pela adequação e pela
proporcionalidade em sentido estrito, concluindo da seguinte forma:
Assim é que dele se extraem os requisitos a) da adequação,
que exige que as medidas adotadas pelo Poder Público se mostrem aptas a atingir
os objetivos pretendidos; b) da necessidade ou exigibilidade, que impõe a
verificação da inexistência de meio menos gravoso para atingimento dos fins
visados; c) da proporcionalidade em sentido estrito, que é a ponderação entre o
ônus imposto e o benefício trazido para constatar se é justificável a interferência
na esfera dos direitos dos cidadãos. Na feliz síntese de WILLIS SANTIAGO GUERRA
FILHO:
‘Resumidamente pode-se dizer que a medida é adequada, se
atingir o fim almejado, exigível, por causar o menor dano
possível e finalmente, proporcional em sentido estrito, se as
vantagens que trará superarem as desvantagens.
Quanto ao fundamento constitucional do princípio da
razoabilidade, não é difícil perceber que a multa moratória
fixada não preenche qualquer dos elementos acima descritos,
não sendo adequada para atingir os fins pretendidos. Nota-
se ainda, que tal pretensão é a mais gravosa para o
contribuinte, uma vez que a obrigação torna-se não só mais
onerosa, como “incumprível”.

Portanto, a multa imposta é logicamente desproporcional


em relação ao fim, colimado, tornando-se injustificável.

Pelo princípio acima abordado, deveria o Fisco sempre optar


por meios menos gravosos para o contribuinte, proibindo o excesso e o abuso de
direito, com respeito absoluto ao princípio da proporcionalidade ou da
razoabilidade, consoante o acórdão da lavra do saudoso Ministro Orozimbo
Nonato:
O poder de taxar não pode chegar a desmedida do poder de
destruir; uma vez que aquele somente pode ser exercido dentro
dos limites que tornem compatível com a liberdade de trabalho,
de comércio e de indústria e com o direito de propriedade. É um
poder, em suma, cujo exercício não deve ir até o abuso, o excesso,
o desvio, sendo aplicável, ainda aqui a doutrina fecunda do
‘détournement de pouvoir’.
Não há que se estranhar a invocação dessa doutrina ao propósito
da inconstitucionalidade, quando os julgados têm proclamado
que o conflito entre norma comum e preceito da Lei Maior pode-
se acender não somente considerando a letra, o texto, como
também, e principalmente, o espírito e o dispositivo invocado.
(In LUÍS ROBERTO BARROSO, A Interpretação e Aplicação da
Constituição, Saraiva, p. 215).

E neste contexto, pretender a União Federal, ente-


tributante, ver-se aplicada multa de tamanha monta a Empresa que, por diversos
motivos, inclusive a necessidade premente de cumprir com a folha de pagamento
a seus funcionários, deixou de recolher pontualmente seus tributos devidos é,
sem dúvida, desonrar e trair o mandato de que fora investido pela própria
coletividade, com não outro fim senão o de atingir o bem-estar social.
Com efeito, traz-se à colação, a lição proferida pelo mestre
CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO (Curso de Direito Administrativo, 8ª
Edição, Malheiros Editores, págs. 63/64) que com sua habitual clareza e
profundeza, acertadamente discorre acerca do princípio da razoabilidade:

Com efeito, o fato de a lei conferir ao administrador certa


liberdade (margem de discrição) significa que lhe deferiu o encargo de adotar,
ante a diversidade de situações a serem enfrentadas, a providência mais
adequada a cada qual delas. Não significa, como é evidente, que lhe haja
outorgado o poder de agir ao sabor exclusivo de sua libido, de seus humores,
paixões pessoais, excentricidades ou critérios personalíssimos e muito menos
significa que liberou a Administração para manipular a regra de direito de
maneira a sacar dela efeitos não pretendidos nem assumidos pela lei aplicada.
Em outras palavras: ninguém poderia aceitar como critério de uma lei que esta
sufrague as providências insensatas que o administrador queira tomar; é dizer,
que avalize previamente condutas desarrazoadas, pois isto corresponderia a
irrogar dislates a própria regra de direito.

Com relação a um eventual controle jurisdicional quando


restar constatado que uma norma administrativa prevista em lei ultrapassa os
limites da proporcionalidade e da razoabilidade, o insuperável jurista e
doutrinador acima mencionado, brilhantemente assevera:

Para se ter como liso o ato, não basta que o agente alegue
que operou no exercício da discrição, isto é, dentro do campo de alternativas que
a lei lhe abria. O Juiz poderá, a instâncias da parte e em face de argumentação
por ela desenvolvida, verificar em exame de razoabilidade, se o comportamento
administrativamente adotado, não obstante contido dentro das possibilidades
em abstrato abertas pela lei, revelou-se, in concreto, respeitoso das
circunstâncias do caso e deferente para com a finalidade da norma aplicada. Em
consequência desta avaliação, o Judiciário poderá concluir, em despeito de estar
em pauta providência tomada com apoio em regra outorgadora de discrição, que,
naquele caso específico submetido a seu crivo, a toda evidência a providência era
incabível, dadas as circunstâncias presentes e a finalidade que animava a lei
invocada. Ou seja, o mero fato de a lei, em tese, comportar o comportamento
profligado em juízo não seria razão bastante para assegurar lhe legitimidade e
imunizá-lo da censura judicial.
Também neste sentido lecionam PAULO JOSÉ DA COSTA
JUNIOR e ZELMO DENARI, in Infrações Tributárias e Delitos Fiscais, Ed. Saraiva,
pág. 81, ao se referirem sobre a legalidade da instituição de multas instituídas
pelo Poder Público, vênia para transcrever o excerto:
De fato, em nosso sistema tributário, as multas por infração são
instituídas pelos entes federativos a la diable, vale dizer, sem
observância de quaisquer critérios normativos previstos em lei
complementar, circunstância esta que entrega os contribuintes à
mercê da voracidade fiscal no plano federal, estadual ou
municipal.
Sacha Calmon Navarro - com o habitual vigor - defende ponto de
vista de que multa escorchante, que ultrapassa os limites do
razoável para dissuadir as violações dos preceitos normativos,
constitui uma burla ao dispositivo constitucional que proíbe o
confisco.
Ora, isso somente nos leva a concluir que diante da elasticidade
dos critérios normativos para a determinação e quantificação das
penalidades pecuniárias, tem-se observado que tal liberalidade,
auferida ao Fisco, tem se constituído no abuso sistemático dos
agentes fiscais encarregados na aplicação das multas por
infração, tratando-se de evidente confisco, consoante ora
demonstrado.
E tanto é fato, que tais sanções incidentes sobre os valores dos
créditos tributários constituídos levam, na maioria das vezes, a
total insolvência do contribuinte por excesso de onerosidade no
cumprimento das obrigações tributárias acessórias.
Convém finalmente reiterar, que não obstante a previsibilidade
legal dos dispositivos que fixam os parâmetros da multa no caso
de atraso no recolhimento do tributo informado e em atraso,
existem princípios que se irradiam sobre diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo como critérios para sua exata
compreensão, razão pela qual, entende a ora Embargante, que as
leis editadas e efetivamente aplicadas não podem distanciar-se
dos princípios fundamentais que regem o ordenamento jurídico,
pelo simples fato de que violar um princípio é muito mais grave
que transgredir uma norma.
A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É
a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade,
conforme o escalão do princípio atingido, porque representa
insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia irreversível a seu arcabouço lógico e
corrosão de sua estrutura mestra.
(CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Curso de Direito
Administrativo, 8ª Ed., Malheiros Editores, pág. 546).

Assim, salvo melhor juízo, a multa exigida e constante nas


Certidões de Dívida Ativa é totalmente inexigível, uma vez que viola os princípios
legais e constitucionais acima referidos, trazendo como consequência óbvia e
inafastável a nulidade da execução ora combatida, por clara afronta ao artigo 150,
IV e artigo 37 da Constituição Federal.

g) Da manifesta ilegalidade/inconstitucionalidade do
Encargo Legal.
Analisando-se a fundo a questão do Encargo Legal instituído
pelo Decreto-Lei 1.025/69, verificamos que ele não preenche os mínimos
pressupostos de validade a figurar em nosso sistema jurídico.

Isso porque, conforme se passará a demonstrar não há


norma, seja ela constitucional ou infraconstitucional que lhe confira validade,
tratando-se de espécie de “exação”, dita “híbrida” pela doutrina, que não pode
subsistir.
Assim, a iniciar a análise, passemos a observar o suporte
legislativo do Encargo Legal, bem assim sua evolução:

Antes então da própria instituição do Encargo Legal, já


vigorava em nosso ordenamento a Lei 4.439/64, que definia em seu artigo 21,
como se daria a remuneração dos procuradores da República e da Fazenda
Nacional, senão, vejamos:
Art 21. As percentagens devidas aos Procuradores da
República, aos Procuradores da Fazenda Nacional...
(VETADO)... Promotores Públicos, pela cobrança judicial da
dívida ativa da União, passarão a ser pagas pelo executado.
§ 1º No Distrito Federal e nos Estados da Guanabara e São
Paulo a percentagem será de 1% para cada Procurado, não
podendo exceder o limite de 10% por categoria. Nos demais
Estados a percentagem será de 6% para os Procuradores da
República e 6% para os Procuradores da Fazenda Nacional. §
2º O total das percentagens estabelecias no parágrafo
anterior será dividido, em quotas iguais, entre os
Procuradores da República ou Procuradores da Fazenda
Nacional com exercício no Distrito Federal ou Estados, onde
se processar a execução.
Como se vê, a norma tratava de percentual fixo que poderia
ser entendido como honorários advocatícios devidos aos Procuradores Públicos,
em face da cobrança judicial da dívida ativa da União.

Com a edição do Decreto-Lei 1.025/69, então, referida verba


passou a ser destinada integralmente aos cofres públicos, constituindo-se como
renda da União, passando, ainda, ao patamar de 20%.

Estes os termos do artigo que introduziu o Encargo Legal:

“Art. 1º É declarada extinta a participação de servidores


públicos na cobrança da Dívida Ativa da União, a que se referem os artigos 21 da
Lei nº. 4.439, de 27 de outubro de 1964, e 1º, inciso II, da Lei nº. 5.421, de 25 de
abril de 1968, passando a taxa, no total de 20% (vinte por cento), paga pelo
executado, a ser recolhida aos cofres públicos, como renda da União.” (sublinhas
nossas)
Posteriormente, o Decreto-Lei 1.569/77 previu a redução do
encargo ao patamar de 10%, caso o pagamento fosse feito antes do ajuizamento
da execução fiscal, sendo o caráter de verba honorária expressamente declarado
pelo Decreto-Lei 1.645/78, novamente:

Art. 3º Na cobrança executiva da Dívida Ativa da União, a


aplicação do encargo de que tratam o art. 21. da Lei nº 4.439 de 27 de outubro
de 1.964, o art. 32. do Decreto-Lei nº 147, de 03 de fevereiro de 1967, o art. 1º ,
inciso II da Lei nº 5.421, de 25 de abril de 1968, o art. 1º do Decreto-Lei nº 1.025,
de 21 de outubro de 1969, e o art. 3º do Decreto-Lei nº 1.569, de 08 de agosto de
1977, substitui a condenarão do devedor em honorários de advogado e o
respectivo produto será, sob esse título, recolhido integralmente ao Tesouro
Nacional.
Parágrafo Único - O encargo de que trata este artigo será
calculado sobre o montante do débito, inclusive multas, monetariamente
atualizado e acrescido dos juros de mora. (Sublinhas nossas)

Em 1984, o Decreto-Lei 2.163 determinou que a redução do


encargo ao patamar de 10% somente ocorreria se o pagamento fosse feito antes
da remessa da certidão ao órgão responsável pelo ajuizamento:

Art 12 O art. 3º do Decreto-lei nº 1.569, de 8 de agosto de


1977, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 3º O encargo previsto no art. 1º do Decreto-lei nº 1.025,
de 21 de outubro de 1969, calculado sobre montante do débito, inclusive multas,
atualizado monetariamente e acrescido dos juros e multa de mora, será reduzida
para 10% (dez por cento), caso o débito, inscrito como Dívida Ativada da União,
seja pago antes da remessa da respectiva certidão ao competente órgão do
Ministério Público, federal ou estadual, para o devido ajuizamento."

A partir da edição da Lei 7.711/88, o encargo legal passou,


além de atender à verba honorária devida em face da cobrança do crédito
tributário, a compor o Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento
das Atividades de Fiscalização – FUNDAF, tal como se verifica da análise de seu
artigo 3º, in verbis:
Art. 3º A partir do exercício de 1989 fica instituído programa
de trabalho de "Incentivo à Arrecadação da Dívida Ativa da União", constituído de
projetos destinados ao incentivo da arrecadação, administrativa ou judicial, de
receitas inscritas como Dívida Ativa da União, à implementação, desenvolvimento
e modernização de redes e sistemas de processamento de dados, no custeio de
taxas, custas e emolumentos relacionados com a execução fiscal e a defesa
judicial da Fazenda Nacional e sua representação em Juízo, em causas de natureza
fiscal, bem assim diligências, publicações, pro labore de peritos técnicos, de êxito,
inclusive a seus procuradores e ao Ministério Público Estadual e de avaliadores e
contadores, e aos serviços relativos a penhora de bens e a remoção e depósito de
bens penhorados ou adjudicados à Fazenda Nacional.
Parágrafo único. O produto dos recolhimentos do encargo de
que trata o art. 1º Decreto-Lei nº 1.025, de 21 de outubro de 1969, modificado
pelo art. 3º do Decreto-Lei nº 1.569, de 8 de agosto de 1977, art. 3º do Decreto-
Lei nº 1.645, de 11 de dezembro de 1978, e art. 12 do Decreto-Lei nº 2.163, de 19
de setembro de 1984, será recolhido ao Fundo a que se refere o art. 4º, em
subconta especial, destinada a atender a despesa com o programa previsto neste
artigo e que será gerida pelo Procurador-Geral da Fazenda Nacional, de acordo
com o disposto no art. 6º desta Lei.
Por fim, o §2º do art. 64 da Lei 7.799/89 dispôs sobre a forma
de cálculo do Encargo Legal, determinando que o percentual incida sobre o total
do débito, atualizado monetariamente, inclusive sobre as multas e juros
moratórios.
Vênia para colacionar o referido dispositivo legal:
Art. 64. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda
Nacional, bem como os decorrentes de contribuições arrecadadas pela União,
sem prejuízo da respectiva liquidez e certeza, poderão ser inscritos como Dívida
Ativa da União, pelo valor expresso em BTN ou BTN Fiscal.
(...)
§ 2° O encargo referido no art. 1° do Decreto-Lei n° 1.025, de
21 de outubro de 1969, modificado pelo art. 3° do Decreto-Lei n° 1.569, de 8 de
agosto de 1977, e art. 3° do Decreto-Lei n° 1.645, de 11 de dezembro de 1978,
será calculado sobre o montante do débito, inclusive multas, atualizado
monetariamente e acrescido de juros e multa de mora.

Feito então essa síntese do histórico legislativo do Encargo


Legal, observa-se que desde 1969 a “exação” não sofreu qualquer alteração
significativa em seu núcleo.

Destarte, compete agora, como ponto de partida para


demonstrar a impropriedade da referida exigência, analisar suas hipóteses de
incidência e sua correspondente repercussão, tratados usualmente pela doutrina
como antecedente e consequente da norma.
Temos, portanto, em análise da disciplina que trata da
questão, que o Encargo Legal possui duas hipóteses de incidência, sendo a
primeira no caso remessa da CDA ao órgão responsável pela cobrança, tendo em
seu consequente o pagamento da alíquota de 10% sobre o valor do débito, e a
segunda hipótese, quando ocorrer a cobrança na via judicial, onde a alíquota será
elevada a 20%.
Contudo, a despeito da existência destas duas hipóteses
(antecedentes), para fins da análise aqui proposta, é pertinente tratar a “exação”
como única, até mesmo porque a conclusão a que se chegará é a mesma.

Uma vez que reste superada a questão quanto à origem e a


aplicação do Encargo Legal, faz-se mister para análise de seus pressupostos de
validade, analisar qual seria sua natureza jurídica.

É aqui então, Excelência, que reside o ponto curial da


legalidade/constitucionalidade do Encargo Legal, pois como se observa, não há
previsão jurídica, ou mesmo alguma figura que se assemelhe a tal “exação”, a
qual não se amolda aos conceitos de honorários, sanção, preço público ou
tributo, sendo simplesmente definida por alguns como “verba híbrida”, o que à
toda evidência não legitima sua cobrança.

Vejamos então, através da análise de cada uma das


possibilidades o porquê da impossibilidade de enquadramento do Encargo Legal,
seja como verba honorária, sanção, preço público ou tributo.
Observa-se assim que a verba em comento não pode ser
confundida com honorários, por manifesta incompatibilidade à legislação
processual que já define a competência exclusiva do Juiz para definir e quantificar
a verba honorária devida pelo sucumbente ao procurador da parte vitoriosa.

Portanto, de se concluir que qualquer ato tendente à tolher


a competência dos juízes conflita frontalmente com as normas processuais,
também se podendo arguir para o caso que “honorários advocatícios” são
devidos única e exclusivamente quando existente uma demanda judicial.

O fundamento de validade para a cobrança de honorários


advocatícios é norma individual e concreta consubstanciada em decisão judicial,
apenas no bojo de processo judicial é possível o nascimento da obrigação de
pagar honorários advocatícios de sucumbência, o que também afasta o
enquadramento do Encargo Legal como honorários, pois o mesmo, segundo a
legislação de regência, tem aplicação antes mesmo do ajuizamento da cobrança.

Logo totalmente equivocados aqueles que buscam


enquadrar tal “exação” como honorários advocatícios.

Também não subsistem as alegações de que o encargo legal


poderia ser interpretado como sanção pecuniária pela ausência de pagamento
tempestivo da obrigação tributária.

Para tanto, basta observar dois simples argumentos, a saber:


i) porque a incidência da “exação” não está vinculada ao descumprimento das
obrigações tributárias, e; ii) o não recolhimento dos tributos, tempestivamente,
já possui sanção definida em lei (multa moratória), incidente de forma automática
quando do vencimento das obrigações.

Portanto, certamente não seria razoável, ou legal, a


incidência de duas penalidades pela mesma falta do contribuinte, de maneira
que, por tais razões, não pode o encargo legal ser considerado sanção por ato
ilícito.
De outra banda, evidentemente, não se pode tomar a verba
aqui questionada como preço público, isso porque, trata-se de exação
compulsória, que não atende aos conceitos da prestação sob análise, a qual deve,
obrigatoriamente, ser de utilização facultativa dos administrados, podendo-se,
ainda, referir a inexistência de preço particular concorrente.
Assim, não há que se falar em encargo legal como preço
público.
O exame da “exação” vergastada enquanto espécie de
tributo apesar de dispendiosa, revela-se igualmente eficaz para demonstrar sua
ilegitimidade.
Verifica-se então que o primeiro obstáculo em caracterizar o
encargo legal como tributo é o fato de que o evento social indispensável à sua
incidência trata-se de ato ilícito, qual seja, o não pagamento tempestivo da
obrigação tributária pelo contribuinte.

Sem a dívida ativa, não há cobrança judicial a ser realizada,


pois é impossível desconsiderar o nexo causal de incidência, a cadeia de eventos
para exigência da exação.

O encargo legal pressupõe e decorre do não pagamento


tempestivo de receita pública, que é inscrita em dívida ativa e cobrado
judicialmente por meio de execução fiscal, de forma que é indiscutível sua
decorrência de ato ilícito.

Não bastasse isso, o encargo legal, claramente, não é


imposto, contribuição de melhoria, empréstimo compulsório, contribuição social
ou contribuição de intervenção no domínio econômico.

Restaria então a figura das taxas para servir de supedâneo à


legitimidade do encargo legal, porém, consabido é que as taxas possuem como
fato gerador o exercício do poder de polícia ou a prestação de serviço público
específico e indivisível.

Logo, salvo melhor juízo, mas não pode se ter a “exação” em


comento como taxa destinada à remuneração de serviço público específico e
divisível, pois à toda prova, a exigência de taxas está vinculada tão somente ao
serviço público prestado em favor do contribuinte, única razão pela qual a norma
constitucional de competência determina que deva ser específico e divisível.

Não parece possível, então, taxar serviço público cujo


produto seja desfavorável ao contribuinte, tal como ocorre com o serviço
custeado pelo encargo legal.
A “exação” em tela possui como fundamento o serviço
público de cobrança judicial da dívida ativa, de maneira que o contribuinte
pagaria taxa pelo fato de ser executado judicialmente, o que não é possível.

Como exercício do poder de polícia, por sua vez, da mesma


forma é impossível o enquadramento, embora não seja fechado o conceito de
poder de polícia posto na Magna Carta, parece forçoso admitir que a atividade de
cobrança da dívida ativa possa ser tributável sob tal rubrica.

A cobrança da dívida ativa trata-se de atividade


administrativa que em nada se compara à “atividade de limitar e regulamentar a
liberdade e propriedade dos indivíduos em prol da sociedade’ (conceito clássico
do exercício do poder de polícia).

De praxe, é exercício de poder de polícia a expedição de


licenças ou alvarás, jamais, atividade administrativa própria como a cobrança da
dívida ativa.
Admitir um conceito completamente aberto ao exercício de
poder de polícia previsto na Magna Carta importaria em autorizar que toda
atividade estatal restasse custeada por meio de taxa, desde a cobrança da dívida
ativa até a atividade legislativa.

Destarte, não obstante o referido, o grande


obstáculo para caracterizar o encargo legal como taxa é o limite quantitativo do
tributo, pois sendo a atividade pública elemento fundamental da taxa, o seu valor
deve estar atrelado ao custo do serviço prestado.
Nesse diapasão, parece que o encargo legal extrapola
referido limite, ao exigir alíquota fixa de 20% aplicada sobre o montante da dívida
ativa a ser exigida judicialmente.
Isso porque, ao que tudo indica, uma execução fiscal de
R$1.000.000,00 (um milhão de reais) requer o mesmo trabalho e possui o mesmo
custo para a administração que uma execução fiscal de R$10.000,00 (dez mil
reais), entretanto, o montante arrecadado a título de encargo legal em uma e
outra é brutalmente diferente.
Logo, a receita do encargo legal, comprovadamente, não
guarda a devida relação com o serviço público prestado, sendo por consequência,
ilegítima sua exigência, também merecendo ser consignado que o encargo é
cobrado mesmo sem a efetiva prestação do serviço de cobrança judicial –
hipótese da incidência a partir do envio da CDA para cobrança no percentual de
10%.
Vê-se, portanto, que o encargo legal não pode ser tido como
taxa, por não amoldar-se à norma de competência do tributo prevista no artigo
145, II da Constituição.

Assim, considerando que não foi possível enquadrar o


encargo em nenhuma das figuras tributárias por completa incompatibilidade, não
pairam dúvidas de que a exação não é tributo.

À vista do exposto, é forçoso concluir que o encargo legal


trata-se de figura singular no ordenamento, híbrido de verba processual, tributo
e sanção por ato ilícito.

Essa, ao menos, a posição defendida por alguns e a


consequência lógica da definição por negação muitas vezes utilizada pelo
judiciário, que reconhece não se tratar de verba de sucumbência, tributo ou
penalidade.
Portanto, resta saber se o encargo legal, enquanto figura
atípica do ordenamento, pode ser legitimamente exigido dos devedores da
União.
Neste passo, malgrado o Supremo Tribunal Federal nunca ter
enfrentado a matéria, o encargo legal, até por sua longa existência, já foi
analisado diversas vezes pelo Judiciário.

Assim, válido analisar algumas das decisões mais relevantes


sobre o tema, como é o caso do julgamento do STF do Recurso Extraordinário nº
84.994/SP, que bem analisou situação em todo análoga ao caso do Encargo Legal.

Veja-se o teor do artigo 1º da Lei 10.421/71 do Estado de São


Paulo:
Artigo 1º - O débito fiscal, quando inscrito para cobrança
executiva, será acrescido de 20% (vinte por cento).

Parágrafo único - Se o débito for recolhido antes do


ajuizamento, o acréscimo será reduzido para 10% (dez por cento).
Sem qualquer dúvida a legislação paulista teve como
inspiração legislativa o encargo legal da União, sendo idêntica a sua sistemática
de cobrança.
Por essa razão é tão relevante o julgamento realizado pelo
Supremo Tribunal Federal no âmbito do Recurso Extraordinário 84.994/SP que
reconheceu a inconstitucionalidade da exação.
Na oportunidade os Ministros por maioria declararam a
inconstitucionalidade formal do dispositivo, que teria invadido área reservada à
lei complementar.
Entretanto, os Ministros em seus votos, acabaram
enfrentando a ilegalidade material da exação, sendo relevante trazer suas
conclusões à colação.

Veja-se o cerne do voto do Ministro Xavier de Albuquerque:

Todavia, melhor reflexão, provocada pelo exame do presente


caso, convenceu-me de que procede a rebeldia dos
contribuintes contra acréscimo que, sem ser tributo nem
multa, e sem correspondera qualquer obrigação tributária,
principal ou acessória, se lhes carrega pelo só fato de ser
inscrita a dívida, fato que pertine apenas ao Fisco e traduz o
privilégio, que lhe toca, de criar seu próprio título de crédito.
Tal acréscimo afigura-se, na verdade, incompatível com as
normas dos arts. 113 e 201 do Código Tributário Nacional.

Do voto do Ministro Cunha Peixoto:

Como se verifica, sua exigibilidade não decorre da


constituição de um crédito tributário típico, isto é, de tributo
e multa, mas de encargos tendentes a atender as despesas
com o ajuizamento da dívida fiscal.
Trata-se, pois, de um acréscimo destinado à cobrança
judicial, tanto que não advém da mora no pagamento do
tributo, mas é conseqüência de sua inscrição na dívida ativa.
Cuida-se de sucumbência estabelecida pelo Estado, e, o que
é mais grave, mesmo que a dívida não seja ajuizada, pois,
neste caso, como estabelece o parágrafo 1º deste dispositivo,
há redução do acréscimo para dez por cento sobre o quantum
do débito.
Assim, inscrita a dívida, se o contribuinte, antes do
ajuizamento do feito, quita seu débito, fica sujeito a um
acréscimo de dez por cento, mas se a dívida vai ajuizada, o
acréscimo passa a ser de vinte por cento (20%). Portanto, a
conclusão lógica é que, se o contribuinte, no Estado de São
Paulo, não satisfaz normalmente seu débito, há duas
inscrições: uma para o caso de recolhimento do debito antes
do ajuizamento da ação e outra para a hipótese do
ajuizamento da ação, o que é inadmissível. Ora, se de um
lado, a matéria de sucumbência sendo processual, é da
competência exclusiva da União, o que torna vulnerável o art.
1º da Lei paulista 10.421/71.
De outro, a inclusão deste acréscimo na certidão de dívida
ativa viola o art. 201 do Código Tributário Nacional. Com
efeito, um dos privilégios que tem o fisco é o de criar seus
próprios títulos e instrumento de crédito. Mas, por isso
mesmo, como constitui uma exceção, deve ser interpretado
restritivamente.
Desta maneira, só pode ser inscrito o que se considera dívida
ativa tributária, isto é, a proveniente do crédito do Estado,
acrescido das multas e dos juros.

Por fim do voto do Ministro Moreira Alves:

Como os eminentes Ministros relator e Cunha Peixoto,


considero que o acréscimo de que trata o artigo 1º da Lei
Estadual nº 10.421/71 se choca com o disposto nos artigos
113 e 201 do Código Tributário Nacional, uma vez que não se
enquadra quer na categoria da obrigação tributária principal,
quer na da obrigação tributária acessória, e a contra-partida
da obrigação tributária na relação jurídica dessa natureza.

É bem verdade que a inconstitucionalidade do dispositivo foi


declarada não em face de sua ilegalidade/inconstitucionalidade material, mas em
face de sua inconstitucionalidade formal.

Todavia, dos votos ora colacionados é possível extrair a


síntese do entendimento do Tribunal acerca da legalidade material da exação,
plenamente aplicável ao Encargo Legal ora questionado.

Observa-se que o acréscimo, por não ser


classificável como tributo ou multa, não poderia ser legitimamente cobrado pelo
Estado de São Paulo, no que confrontaria com o disposto nos artigos 113 e 201
do Código Tributário Nacional.
O egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por sua
vez, enfrentou o encargo legal no julgamento da arguição de
inconstitucionalidade na apelação cível nº 2004.70.08.001295-0/PR.

Momento em que, por maioria, o Tribunal entendeu


constitucional o encargo afastando os argumentos pelo reconhecimento da
inconstitucionalidade formal e material da exação.

A importância de sua análise, a despeito da forma lastimável


como fora conduzido o debate e a conclusão, reside no fato de que foi, até então,
o mais franco julgamento sobre o tema.
Observe-se assim a parte fundamental do voto que se sagrou
vencedor:
O encargo legal não se enquadra nas competências
tributárias instituídas pela Constituição de 1967, pois não
possui as características necessárias para ser considerado
taxa, imposto ou contribuição de qualquer espécie. Da
mesma forma, não se trata de penalidade pecuniária, pois
não se funda em ato ilícito imputável ao contribuinte, bem
como não tem mais a natureza exclusiva de verba honorária.
Conforme anteriormente exposto de forma exaustiva, não
constitui o encargo legal tributo, mas, sim, trata-se de
instituto destinado a servir como contraprestação das
despesas necessárias à cobrança do crédito público, em face
do disposto na Lei nº 7.711/88.
Assim, não há falar em ausência de respaldo nas normas
constitucionais relativas à competência tributária, quer sob a
vigência da CF/67, com a EC 1/69, quer sob a vigência da
atual.

Guardado o devido respeito aos nobres julgadores, mas


totalmente equivocado seu entendimento, pois validou a cobrança do encargo
sob o argumento de que se trata “de instituto destinado a servir como
contraprestação das despesas necessárias à cobrança do crédito público”.

São desnecessárias aqui maiores digressões sobre as


impropriedades do julgado, que não apenas não trouxe fundamentos, como
também permitiu a cobrança de “exação” sem qualquer fundamento de validade
na Constituição Federal.
Nesse ponto, entretanto, justiça deve ser feita aos
Desembargadores Federais Luiz Carlos Lugon e Paulo Afonso Brum Vaz, vencidos
no julgamento, que se posicionaram de acordo com a lógica do sistema jurídico
constitucional e do Estado Democrático de Direito, ao contrário de seus pares.

Vênia para transcrever o voto divergente:

Ora, estamos diante de uma figura absolutamente estranha


a qualquer das espécies tributárias, nascida à
míngua de qualquer autorização do sistema; não há
permissivo legal para que se faça incidir tributo sobre dívidas
da União. Dirse-á, em contrapartida, que se não trata de
tributo? É consabido que constitui tributo toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, que
seja instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada.
Têm-se, assim, impostos, taxas, contribuições de melhoria,
empréstimos compulsórios, contribuições de intervenção no
domínio econômico, contribuições de interesse das
categorias profissionais ou econômicas. Em nada refoge o tal
encargo à definição legal. Mas constitui estranhíssima taxa
com base própria de imposto. Não há, para justificá-la
exercício de poder de polícia ou serviço prestado ou posto à
disposição do contribuinte.
Ao que se observa, trata-se de um tributo
improvisado, estranho à estrutura do Direito
Tributário; o que lhe outorga condição de confisco, avesso
como tal aos mais comezinhos princípios de Direito
Tributário.
Argumenta a União que equivocada a arguição ao considerar
a Dívida Ativa da União seja apenas de natureza tributária.
No entanto, mostra-se irrelevante a natureza do débito;
o que se discute aqui é a índole do próprio
encargo, independentemente daquela da obrigação sobre a
qual incida.
Contunde fortemente a lógica que a União pretenda cobrar
do contribuinte a realização de seu natural trabalho de
inscrição da dívida.
O entendimento de que se trata de honorários advocatícios,
que a Fazenda abraça, leva diretamente à constatação da
inconstitucionalidade.
A vulneração ao princípio da isonomia mostra-se
meridianamente clara; e não existe tão somente em relação
às demais Fazendas; ocorre também em relação ao
contribuinte, cujos honorários advocatícios são parcamente
arbitrados, máxime com o advento do § 4° do art. 20 do
Código de Processo Civil, que remete à equidade sua fixação
pelo juiz. Além de formalmente mal gerada (Decreto-lei, onde
exigível Lei Complementar), também colide com o princípio
da tripartição dos poderes, ingerindo na fixação da verba
advocatícia, ínsita na prestação jurisdicional, privativa do
Judiciário.
De qualquer modo, o que se tem são restos de legislação
truculenta dos tempos da ditadura, que hão de ser
esvurmados de nosso atual sistema jurídico, para que se
aperfeiçoe o Estado Democrático de Direito.
Ante o exposto, voto por acolher o incidente de
inconstitucionalidade.

Neste passo, parecem desnecessárias maiores


digressões, pois da simples análise dos votos dos Eminentes Desembargadores já
se verificam todos os fundamentos à inconstitucionalidade do Encargo Legal,
bastando verificar qual o fundamento cabal da inconstitucionalidade aqui
defendida.
Verifica-se assim, a grave afronta do encargo legal a um dos
mais basilares direitos consagradas em nossa Constituição, qual seja, a garantia
da propriedade privada, sendo o limite do poder, efetivamente, o regramento
para que o Estado interfira na esfera patrimonial particular.

Isso porque, a única maneira constitucionalmente prevista


para que o Estado, por ato de império, ofenda o patrimônio particular dos
administrados se dá por meio dos tributos, os quais, como visto e já amplamente
reconhecido, não possuem nenhuma relação com o Encargo Legal.

Nesse sentido, válida a lição do já renomado tributarista


Leandro Paulsen em sua obra Direito Tributário Constituição e Código Tributário
à luz da Doutrina e da Jurisprudência, já destaca:
Direito de propriedade x tributação. Ao lado da liberdade, o
direito de propriedade aparece como direito de primeira
geração. Vê-se a Carta Magna e das declarações de direitos
surgidas séculos adiante a relevância da proteção da
propriedade enquanto direito individual. É certo que se, de
um lado, se garante o direito de propriedade, de outro,
também se tem como inconteste que a manutenção da
máquina estatal tem de ser custeada pelos integrantes da
sociedade, o que se dá essencialmente através da
transferência de uma parte da riqueza privada para os cofres
públicos. De fato, é inerente ao Estado o poder de impor
tributos. A compatibilização do direito de propriedade com
esse poder do Estado de buscar recursos compulsoriamente
dá-se através da outorga constitucional da competência
tributária (quando a Constituição diz quais tributos que
podem ser instituídos e sob que forma, diz, também,
implicitamente, que o que dali desborda não pode ser feito) e
do claro enunciamento das limitações ao poder de tributar.
Assim, a tributação é legítima, mas na forma e medida
admitidas pela Constituição Federal. A “tributação” que não
encontra suporte no texto constitucional não constitui
propriamente “tributação”, mas violência aos direitos
individuais, arbítrio inconstitucional e ilegítimo.

O encargo legal, não sendo tributo, não encontra espaço


para gerar efeitos na ordem constitucional vigente, sendo inequívoca e invencível
essa afirmação. A verba gerada pela “exação” em comento configura
enriquecimento ilícito da União, pois, não encontra previsão nas fontes de receita
pública.
Alexandre Rossato da Silva Ávila, citando o grande Aliomar
Baleeiro em sua obra Curso de Direito Tributário, sobre o tema assim leciona:

As receitas públicas podem ser divididas em receitas


originárias e receitas derivadas.
As receitas originárias são aquelas que advêm do patrimônio
do próprio Estado, quando ele age despido de seu poder
fiscal.
No auferimento de tais receitas equipara-se o Estado ao
particular. Assim, as receitas auferidas pela venda ou locação
de seus bens e prestação de serviço ingressam nos cofres
públicos de forma originária. A origem delas repousa no
patrimônio estatal.
As receitas originárias, de acordo com ALIOMAR BALEEIRO,
compreendem “as rendas provenientes dos bens e empresas
comerciais ou industriais do Estado, que os explora à
semelhança de particulares, sem exercer os seus poderes de
autoridade, nem imprimir coercitividade à exigência de
pagamento ou à utilização dos serviços que os justificam,
embora, não raro, os institua em monopólios”. As receitas
derivadas, ao contrário, resultam do poder de império do
Estado. São transferências compulsórias, quando o Estado
utiliza o seu poder fiscal. As receitas derivadas, para
ALIOMAR BALEEIRO, são “caracterizadas pelo
constrangimento legal para a sua arrecadação, - contam-se
os tributos e as penas pecuniárias, em resumo, rendas que o
Estado colhe do setor privado, por ato de autoridade,
subdividindo-se os primeiros em: a) impostos; b) taxas; c)
contribuição de melhoria; d) contribuições parafiscais.

Definido, portanto, que o encargo legal também não pode


ser receita originária, verte límpida a incompatibilidade da verba com as possíveis
fontes de receita da União.
Para ser legítima tal “exação”, esta deveria possuir
fundamento de validade constitucional, quer dizer, norma expressa que
permitisse à União instituir sua cobrança.

Em resumo, deveria ser figura típica constitucional.

Sendo válido lembrar, apesar das


decisões existentes,
Sendo válido lembrar, apesar das que o Supremo Tribunal
Federal ainda não enfrentou a matéria, mesmo já possuindo jurisprudência
acertada sobre o tema, de maneira que é possível, e mesmo provável, ver
expurgada do sistema a norma ilegal e inconstitucional do encargo legal.

Portanto, à vista de todo o aqui exposto resta clara e


inquestionável a manifesta inconstitucionalidade/ilegalidade do Encargo Legal,
pois afronta a garantia constitucional à propriedade privada, sem nenhum
dispositivo que lhe legitime, permitindo o indevido enriquecimento do Estado
com odiosa cobrança, à toda prova, incompatível com nosso sistema jurídico.
V – DO PEDIDO.

Em face ao exposto requer:

a) sejam recebidos os presentes embargos com a


consequente atribuição de efeito suspensivo, haja vista a integral garantia do
débito exequendo;
b) sejam acolhidas as preliminares suscitadas, com a
consequente extinção da execução fiscal;
c) em sendo analisado o mérito, sejam julgados totalmente
procedentes os embargos à execução, com o escopo de reconhecer a
inconstitucionalidade/ilegalidade das exações mencionadas abaixo,
determinando o redimensionamento do débito com a exclusão dos valores
indevidamente exigidos;

c.1) a ilegalidade/inconstitucionalidade da aplicação da TAXA


SELIC nos períodos em que superior a 1% ao mês e;

c.2) a inconstitucionalidade da multa aplicada, ante os


princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

c.3) a inconstitucionalidade do Encargo Legal;

d) seja a Embargada condenada ao pagamento de honorários


advocatícios aos patronos da Embargante, bem como dos demais ônus
processuais;
e) sejam liberados, ao final, os bens constritos.

f) seja deferida a mais ampla produção de provas em direito


admitidas;
São os termos em que, atribuindo à causa o valor de R$
5.691,10 (...), pede e espera provimento.

Rio do Sul, SC, 22 fevereiro de 2022.

Ralf José Schmitz


OAB/SC 12.749

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