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CASO Prático - Contencioso Direito Fiscal

Direito Fiscal (Universidade Autónoma de Lisboa)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por André Rosa (andremiguelrosa@gmail.com)
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CASO PRÁTICO Procedimento e Processo


Tributário

Enunciado
A Sociedade Comercial Foge ao Fisco, Lda., com a sede na cidade do
Porto, tem como objeto a prestação de serviços de consultoria fiscal e
financeira, para além de outros em matéria de recuperação de
empresas que se encontrem com problemas de tesouraria.
A empresa encontra-se, desde há uns tempos a esta parte, ante uma
situação de iliquidez e nem por via do recurso a empréstimos
bancários consegue cumprir todas as obrigações, nomeadamente
para com a Administração Fiscal, com a qual apresenta já um
conjunto de dívidas e coimas em falta respeitantes ao não pagamento
de IRC referente ao exercício económico do ano anterior.
Por outro lado, as coimas avolumam-se, por quanto, desde a seis
meses que não entrega as declarações periódicas de IVA que está
obrigada a fazer perante as finanças, e além disso, acresce o facto de
que não procedeu, igualmente, ao pagamento de um conjunto de
impostos especiais relacionados com a sua atividade.
Não obstante a sucessivas interpelações da Administração Fiscal para
que efetuasse o pagamento das dividas tributárias e coimas
respetivas, à mesma faz Jus ao seu nome e tenta por todos os meios,
lançar mão de expediente dilatórios para protelar no tempo o não
pagamento.
Contudo, no dia de hoje, a Foge ao fisco, LDA., foi citada pela
Administração Tributária de que contra ela tinha sido instaurado
processo de execução Fiscal.
a) Preocupados com esta situação, os gerentes da referida
sociedade, contactaram Fernando Aurélio, advogado com quem
tinham uma avença, no sentido de este os informar qual seria o
meio idóneo de reagirem contra este processo de execução
fiscal.
Quid Juris?
Resolução:
O caso que agora trazemos à colação verte uma matéria de
específica e singular importância no ordenamento jurídico-fiscal, mais
propriamente no âmbito dos conteúdos fetos ao procedimento e
processo tributário: A execução fiscal.

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Assim sendo, cumprirá inevitavelmente, discorrer certas noções


teóricas atenta a doutrina as disposições legais e certa jurisprudência
como elementos para melhor aclarar e desgravar este importante
instituto jurídico.
No estudo do processo de execução fiscal, que tal como a lei prevê, é
um processo que tem natureza judicial a despeito de no mesmo se
prever a participação dos órgãos da administração tributaria em
todos os atos e formalidades que não estejam reservados a
competência exclusiva dos órgãos jurisdicionais (artigo 103º Nº1
LGT). Neste sentido, não estamos já, no âmbito de matérias que têm
tratamento dentro do corpo da Administração Publica, mas pelo
contrário, ante um processo que vai ser do conhecimento dos
tribunais.
De forma a apuraremos se a administração andou bem ao instaurar
determinado processo de execução fiscal contra determinado
contribuinte faltoso, haverá que perceber o sentido, limite e alcance
dos processos de execução fiscal, ou se quisermos, qual o âmbito do
processo de execução fiscal. Por outras palavras, quais as obrigações
fiscais que podem determinar a imposição, ao contribuinte, de
cobrança coerciva, já que não pode existir um critério discricionário
da Administração, mas sim uma norma que limite, e ao mesmo
tempo, legitime a cobrança coerciva, dado que o que está aqui, em
causa, relembre-se é um procedimento judicial.
Com efeito a cobrança em sede de execução fiscal só pode ser feita
quando, atentando no disposto no artigo 148º Nº1 CPPT, estejam
em causa:
a) Tributos, incluindo impostos aduaneiros, especiais e extrafiscais,
taxas, etc…
b) Coimas e outras sanções pecuniárias fixadas em decisões,
sentenças ou acórdãos, etc…
c) Coimas e outras sanções pecuniárias decorrentes da
responsabilidade civil, RGIT…
Contudo a legitimidade de atuação da administração não se esgota
neste desígnio, pois o Nº2 do mesmo artigo vem ainda dar
competência à administração para lançar mão deste tipo de processo
quando estejam em causa:
a) Outras dívidas ao Estado e outras pessoas coletivas de direito
publico que devam ser pagas por força de ato administrativo;
b) Reembolsos ou reposições.
Feita esta delimitação dos termos do uso do processo, importa antes
de mais apurar em que momento pode a Administração Fiscal
socorre-se deste processo judicial?

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Assim, para efeitos da lei fiscal são títulos executivos nos termos do
artigo 162º CPPT.
Todavia, não basta apensa existir o título executivo, sendo ainda
necessário, que o mesmo contenha um conjunto de requisitos
essenciais, sem os quais o mesmo não opera enquanto tal,
determinando mesmo, a nulidade do processo de execução fiscal
(artigo 165º Nº1 al b) CPPT).
Com efeito, prescreve o artigo 163º Nº1 CPPT, referindo os
respetivos requisitos.
Cumprindo o título executivo todas estas formalidades essenciais,
está em condições de ser intentado o competente processo judicial e
de prosseguir os seus termos sem que lhe seja imputada qualquer
nulidade insanável que dite a anulação dos termos posteriores que o
processa tenha corrido (artigo 165º Nº2 e Nº4 CPPT).
Vejamos agora os termos fundamentais da tramitação do processo de
execução Fiscal, isto porque importa, fundamentalmente verter os
momentos do mesmo e a fase em que este pode ou não desaguar no
tribunal. E assim se compreende que o processo judicial tenha, por
um lado uma fase pré-judicial, com a instauração da execução pelo
órgão periférico local da administração, e por outro lado, uma fase de
conhecimento do processo pelos tribunais, quando o executado se
opões à execução ou quando o mesmo permanece silente no que
tange ao processo contra si instaurado.
Desta feita, sabemos de já que o processo começa com a instauração,
pelo serviço de Finanças local, do procedimento executório, tendo por
base as certidões de divida extraídas contra o executado, que na
eventualidade de ser mais que uma certidão, serão autuadas pelo
que, tendo em mãos o titulo executivo (artigo 88º, 148º, 162º e
163º CPPT), proceder-se-á de seguida, à citação do executado no
sentido de lhe dar conhecimento de que contra ele foi proposta
determinada execução fiscal (artigos 35º Nº2 e 188º CPPT). Uma
vez realizada a citação, o executado é informado dos prazos para
oposição à execução e para requerer, caso pretenda, o pagamento
em prestações ou a dação em pagamento, atentas as formalidades
previstas no artigo 189º CPPT.
Não obstante, se o executado houver beneficiado do pagamento em
prestações, no enquadramento preciso da lei fiscal (artigo 42º LGT),
já não estará em condições de beneficiar dessa mesma faculdade no
campo de ação circunscrito ao processo de execução, conforme assim
dita o artigo 189º Nº2 CPPT.

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Ainda no que se refere a estes meios que conferem ao executado a


faculdade de voluntariamente pagar a divida, refira-se que, em sede
de execução existe uma outra nuance de especial proeminência.
Na verdade, se o sujeito passivo tiver lançado mão das garantias dos
contribuintes, sobretudo, reclamação graciosa, impugnação, recurso
judicial ou oposição sobre o objeto da divida exequenda, poderá no
decurso de 15 dias após a notificação da decisão que seja registada
no competente processo, requerer o pagamento em prestações ou
dação em pagamento (artigo 189º Nº8 CPPT).
Assim citado o executado, este poderá desde logo, pagar a dívida
exequenda, que determina, in limine, a extinção deste processo
judicial (artigo 269º CPPT). Pode ainda solicitar o pagamento em
prestações (artigo 196º CPPT), com exceção feita ao caso que
anunciamos acima pelo que ficará suspensa a execução fiscal
(artigos 169º, 170º e 199º CPPT). Finalmente, poderá requerer
ainda, a dação em pagamento em bens móveis ou imóveis, segundo
os requisitos anunciados no artigo 201º Nº1 CPTA.
A última faculdade que a lei confere ao executado, a menos que este
continue inerte e nada faça em relação à execução, é justamente a
possibilidade de dedução de oposição à execução, nos termos do
artigo 203º Nº1 CPPT, que só pode ser feita dentro do prazo de 30
dias, contados: a partir do momento em que tenha ocorrido a citação
pessoal …
Mas, para que se possam opor à execução, a lei regula, taxadamente,
os motivos dessa oposição, pois se assim não fosse, muitos dos
contribuintes poderiam opor-se ao procedimento executório apenas
para criar obstáculos ao prosseguimento do processo e até mesmo
porque a oposição motiva efeito suspensivo do processo executório
(artigo 212º CPPT).
Assim, os fundamentos que a lei no artigo 204º Nº1 CPPT, enuncia
estão descritos no mesmo artigo.
E diga-se, em garantia da verdade, que são estes, os fundamentos
que podem ser usados pelo executado, para se opor à execução
fiscal, e demonstrar, inequivocamente, ao tribunal competente que
lhe assiste razão em função dos factos enunciados, e que a
Administração não andou bem ao lançar mão deste procedimento
contra si.
Mas para que tal aconteça, o contribuinte deverá apresentar a petição
de oposição no órgão fiscal onde decorra os termos do processo de
execução, devendo aquela merecer o devido auto, sendo depois
remetida, por via do órgão onde a mesma deu entrada, para o
tribunal competente no prazo de 20 dias (artigos 207º e 208º

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CPPT). Chegada a petição ao tribunal, o juiz que tome conhecimento


do processo poderá rejeitar liminarmente a oposição (artigo 209º
CPPT), ou que então, esta é recebida, seguindo-se depois, o processo
tendente à notificação da Fazenda Pública para que esta conteste os
seus termos num prazo, em princípio de 10 dias (artigo 210º CPPT).
Posteriormente chegam os posteriores termos do processo, em que,
uma vez a oposição à execução segue-se depois a fase das alegações
e termina o processo com a prolação da sentença pelo tribunal
(artigo 211º CPPT).
Quando for efetuada citação segundo as formalidade que a lei impõe
(artigo 190º CPPT) e o citado não for encontrado (artigos 189º e
194º CPPT), procede-se à penhora dos bens, na eventualidade dos
mesmos existirem, e doutro passo, caso o executado esteja presente
aquando da diligência será o mesmo citado na hora, com a
comunicação de que dispõe de 30 dias para deduzir oposição ou, ao
invés, para efetuar o pagamento do montante em divida. Uma vez
terminado o prazo sem que haja optado por uma destas duas
soluções, será designado dia para a venda (artigo 194º Nº1 e 3 e
artigo 193º Nº2 CPPT).
Efetuada a penhora nos termos e limites ínsitos nos artigos 215º a
236º CPPT, na circunstancia de não haver sido deduzido embargos
de terceiros por alguém que veja afetados os seus direitos com esta
diligencia da Administração Tributária, passar-se-á à citação de
credores que sejam detentores de uma garantia real em relação aos
bens objeto de penhora, procedendo-se, depois, igualmente ao
chamamento à lide do cônjuge do executado, sempre que a penhora
incida sobre bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, ou
quando esta diligencia caia sobre os bens comuns do casal (artigos
239º Nº1 e 220º CPPT). Nesta fase ainda poder-se-á determinar a
convocação dos credores quando dos autos conste a existência de
algum direito real de garantia sobre os bens objeto de penhora
(artigo 240º Nº3 CPPT) ou, não existindo nenhum direito real de
garantia, poderão ser ainda, citados os chefes dos serviços periféricos
locais da área do domicilio fiscal da pessoa a quem foram penhorados
os bens e da situação dos imoveis ou do estabelecimento comercial
ou industrial onde não corra o processo, para no prazo de 15 dias,
apresentarem certidão das dividas que devam ser reclamadas, nos
termos do artigo 241º Nº1 CPPT, pelo que se procede à venda dos
bens sobre os quais a penhora incidiu (artigo 244ºCPPT).
Havendo lugar, doutro passo, à reclamação de créditos, nos termos
dos artigos 240º, 243º e 246º do CPPT, por parte dos credores, o
processo é desde logo, remetido ao tribunal tributário de 1ª Instancia
que seja, como tal, competente para que possa conhecer da
competente existência e graduação de créditos, que determina efeito
suspensivo quanto ao objeto do processo (artigo 245º CPPT).

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A fase processual descrita, reclamação de créditos por parte dos


credores do executado, termina com a prolação da decisão jurídica
pelo tribunal, que devolve essa mesmo declaração ao órgão
competente que haja intentada a execução. Aí graduar-se-ão os
créditos dos credores e, bem assim, os da Fazenda Pública, sem
prejuízo de outros que o executado tenha para com o Estado.
Não existindo recurso jurisdicional dessa declaração jurídica (artigo
279º Nº1 al b) CPPT) o processo baixando os seus termos ao órgão
exequente (artigo 247º CPPT), pode conhecer dois desfechos com
consequências jurídicas dispares:
Por um lado, o exequente pode proceder ao pagamento in totum, da
quantia exequenda, acrescido dos juros de mora devidos e o processo
extingue-se (artigo 259º CPPT), ou por outro lado pode ainda o
executado pagar apenas a título parcial (artigo 262º CPPT), na
medida em que o produto das vendas dos bens penhorados não se
afigura como bastante e, como tal, o processo vai seguir os seus
termos com vista a que sejam penhorados.
Quando, por sua vez se verifique o disposto no artigo 153º Nº2
CPPT, operar-se-á o mecanismo da reversão contra os responsáveis
subsidiários (artigos 160º CPPT e 23º LGT).
Antes de terminar esta viagem pela lei e de nos focarmos no caso
dirimindo, importará ainda falar-se nas causas de extinção do
processo para além do pagamento voluntário (artigo 264º CPPT).
Por esta parte, o processo pode terminar pelo pagamento coercivo de
divida objeto da execução, nos termos do artigo 259º a 263º CPPT,
nada impedindo, também que haja lugar à anulação da divida,
ordenando-se o levantamento da penhora sobre os bens que
acautelavam o valor do crédito da Fazenda (artigo 270º e 271º
CPPT). Pode ainda, haver lugar à prescrição, nos termos dos artigos
175º CPPT e 48º LGT, ou ser o processo de execução anulado
(artigo 165º Nº2 CPPT). Porém, pode ainda a Administração
proceder à declaração em falhas, nos termos do artigo 272º CPTA.
Feitos todos esses considerandos acerca dos pressupostos
processuais específicos que se devem observar tanto na propositura
como no encadeamento do processo de execução fiscal, para além de
toda a tramitação específica e suas especificidades, estamos em
condições de resolver o caso que se verte em equação.
Assim, sabemos que a sociedade comercial está a acumular dividas
ao fisco por não pagamento dos tributos a que está obrigada, e que
in casu se referem ao pagamento do IRC e de um conjunto de
impostos especiais relacionados com o desenvolvimento da sua
atividade comercial, além de coimas por falta de apresentação das
declarações periódicas de IVA.

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Ora, diz-nos o enunciado que a sociedade comercial já foi citada no


âmbito do processo de execução, pelo que já não estará a tempo de
efetuar o pagamento voluntario da divida à Fazenda Pública, uma vez
que essa já se encontra em fase de pagamento coercivo. E daqui se
justifica ter sido levado ao seu conhecimento que contra ela foi
instaurado determinado procedimento judicial pelo órgão periférico
local competente (artigos 152º, 188º e 189º CPPT).
Visto que o procedimento já foi instaurado com base nas certidões de
divida extraídas do titulo de cobrança (artigo 162º al a) CPPT), pois
estava em causa impostos e coimas não pagas pelo sujeito passivo da
relação tributária (artigo 148º Nº1 al a) e b) CPPT), e tendo já sido
citado o executado, que, in casu, seria a sociedade comercial,
figurando como sujeito legitimo da parte passiva do processo
executório (artigo 153º CPPT), esta poderia, como acima vertemos
proceder: Ao pagamento da divida exequenda, extinguindo-se assim,
o processo judicial em curso (artigo 269º CPPT) requerer o
pagamento da divida exequenda em prestações (artigo 196º CPPT),
determinando a suspensão do processo executório fiscal (artigos
169º, 170º e 199º CPPT), ou poderia requerer ainda, a dação em
pagamento em bens moveis ou imoveis (artigo 201º CPPT).
Caso não opta-se por nenhuma dessas soluções, a sociedade
comercial poderia opor-se à execução no prazo de 30 dias (artigo
203º Nº1 CPPT), mas apenas se estivesse em causa algum dos
fundamentos taxativos previstos no artigo 274º Nº1 CPPT,
seguindo depois, o processo os seus posteriores termos no tribunal
tributários de 1ª instancia que fosse competente para apreciação da
oposição (artigos 208º a 213º CPPT).
Valha a verdade, seriam estas as soluções que Fernando Aurélio,
enquanto causídico da executada, lhe poderia oferecer viso que
segundo o que nos informa o caso, os atos processuais terão sido
bem praticados pela Administração Tributária e atento ao
enquadramento de inserção objetiva de execução, como se viu, a
mesma está perfeitamente acautelada, pelo que é de todo legítimo a
instauração da execução fiscal tendo em linha de conta as dividas a
demandada ou executada tem para com a demandante ou
exequente.

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