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Direito Administrativo III (Universidade de Coimbra)

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Casos resolvidos em aulas práticas [Prof. Rodrigo Esteves Oliveira]


Caso prático nº 1
1. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: falta de transferência do financiamento ;
 Princípio da tutela jurisdicional efetiva – art. 2º CPTA e art. 268º/4 CRP.
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa (principal) – arts. 37º e ss. CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º e ss. CPTA;
 Tutela executiva – art. 157º e ss. CPTA.
 Formas de processo principal – estrutura dual:
 Processos não-urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa – pedidos gerais + pedidos especiais:
 Impugnação de atos administrativos:
 Atos positivos – art. 50º CPTA;
 Atos negativos – art. 66º CPTA.
 Impugnação de normas administrativas:
 Normas adotadas – art. 72º CPTA;
 Normas omitidas – art. 77º CPTA.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral;
 Contencioso dos procedimentos de massa;
 Contencioso pré-contratual;
 Intimação para a prestação de informações;
 Intimação patra a proteção de DLG’s.
 Aplicação ao caso: nenhum dos processo urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » hipótese
não subsumível a um dos pedidos especiais » recurso ao regime geral da ação administrativa (arts. 37º a
48º).
Resolução:
No caso em apreço estamos em face de uma situação de inércia administrativa: o orgão competente não realizou o
ato material a que estava obrigado nos termos da Portaria em causa. Nestes termos, importa assentar duas notas
fundamentais: o ato administrativo a que a sociedade UT tinha direito foi, efetivamente, praticado e é legal; a lesão
dos interesses da sociedade UT também não advém da norma administrativa que regula a situação (Portaria nº
200/2006), na medida em que nada aponta no sentido da sua ilegalidade. Assim sendo, a lesão dos direitos da
sociedade UT decorre da falta de uma operação material, e não de um ato administrativo ou de uma norma. Ora, em
matéria administrativa, a própria Lei Fundamental impõe um direito geral de proteção judicial contra a Administração
Pública. Nos termos do art. 268º/4 CRP, vigora nesta matéria o princípio da proteção jurisdicional efetiva dos
cidadãos perante a Administração. Tal princípio é concretizado, ao nível da lei ordinária, no art. 2º CPTA. Nos termos

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deste preceito, “a todo o direito ou interesse legalmente protegido corresponde a tutela adequada junto dos
tribunais administrativos”. A tutela uudicial efetiva a que nos referidos é assegurada numa tripla dimensão: tutela
principal (declarativa), tutela cautelar e tutela executiva (art. 2º/1 CPTA). Os processos principais encontram-se
regulados nos arts. 37º e ss. CPTA; as providências cautelares são objeto da regulamentação fixada nos arts. 112º e
ss. CPTA; e, por fim, a disciplina dos processo executivos consta dos arts. 157º e ss. CPTA. No que diz respeito
especificamente aos meios principais, há que referir que, no âmbito da ação administrativa, podemos distinguir
diversos tipos de pedido, os quais se agrupam, em moldes gerais, em pedidos gerais e pedidos especiais. De facto, há
um conjunto amplo de pedidos que podem ser submetidos aos tribunais administrativos que seguem pura e
simplesmente o regime geral da ação administrativa (arts. 37º a 48º CPTA). Não obstante, pode ainda identificar-se
um conjunto de pedidos que dispõem de regulamentação especial – arts. 50º e ss. CPTA. Tais pedidos dizem respeito
a atos administrativos, a normas administrativas e a contratos administrativos. Estando em face de uma atuação
positiva da Administração, haverá que lançar mão dos meios impugnatórios de atos administrativos (arts. 50º a 65º
CPTA) ou de normas administrativas (arts. 72º a 76º CPTA). Tratando-se, ao invés, de uma atuação negativa/omissiva
da Administração, haverá que convocar os meios condenatórios respeitantes a atos administrativos (arts. 66º a 71º
CPTA) ou a normas administrativas (art. 77º CPTA). Refira-se ainda que os arts. 77º-A e 77º-B CPTA referem-se
especificamente às ações administrativas respeitantes a contratos. Ora, do que foi dito decorre que todos os pedidos
dirigidos aos tribunais administrativos que não revistam caráter urgente serão tramitados como ações
administrativas. Diferentemente, estando em causa um pedido urgente, somos reconduzidos ao domínio dos
processo urgentes, regulados nos arts. 97º a 111º CPTA. Os processos a que nos referimos são: o contencioso
eleitoral (art. 98º CPTA); o contencioso dos procedimentos de massa (art. 99º CPTA); o contencioso pré-contratual
(arts. 100º a 103º-B CPTA); a intimação para a prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); e a intimação para
proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º a 111º CPTA). No caso sub judice não terá, em princípio,
aplicação qualquer destes processos urgentes, na medida em que a situação exposta cai fora do seu âmbito de
abrangência. Consequentemente, a sociedade UT teria que recorrer à ação administrativa. Como referido acima, a
prestensão daquela sociedade dirige-se contra a inércia administrativa relativamente à realização de uma operação
material (porquanto o ato administrativo já havia sido praticado, e não se pretende obter a invalidação da Portaria ao
abrigo da qual aquele ato administrativo foi emitido). Assim sendo, não estamos no domínio de nenhum dos pedidos
especialmente regulados na lei processual: a pretensão da autora não diz respeito a um concreto ato administrativo,
a uma norma ou a um contrato. Portanto, haverá que recorrer ao regime geral da ação administrativa. E,
efetivamente, a alínea j) do nº 1 do art. 37º CPTA refere-se expressamente a situações como aquela que nos ocupa,
designadamente a casos em que recai sobre a Administração o dever de pagar uma determinada quantia. De facto, a
ação administrativa também pode ser utilizada para pedir a condenação da Administração no cumprimento de
deveres de prestar, designadamente deveres respeitantes ao pagamento de uma quantia. Estamos aqui no domínio
do cumprimento de deveres obrigacionais, típicos de uma Administração de prestações. Em suma, a sociedade UT
deveria submeter ao tribunal competente um pedido de condenação da Administração ao pagamento da quantia
devida, o qual seria processo de acordo com os trâmites gerais da ação administrativa.
2. Tópicos de resolução
 Identificação do ato lesivo: despacho de dia 25/09/2016 – ato administrativo;

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 Princípio da tutela jurisdicional efetiva – art. 2º CPTA e art. 268º/4 CRP;


 Tripla dimensão da tutela jurisdicional efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º e ss. CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º e ss. CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º e ss. CPTA.
 Formas de processo principal – estrutura dual:
 Processos não urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especiais:
 Impugnação de atos administrativos:
 Atos positivos – arts. 50º a 65º CPTA;
 Atos negativos – arts. 66º a 71º CPTA.
 Impugnação de normas administrativas:
 Normas adotadas – arts. 72º a 76º CPTA;
 Normas omitidas – art. 77º CPTA.
 Impugnação de contratos administrativos – arts. 77º-A e 77º-B CPTA.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – art. 98º CPTA;
 Contencioso de procedimentos de massa – art. 99º CPTA;
 Contencioso pré-contratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;
 Intimação para prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intimação para a proteção de DLG’s – arts. 109º a 111º CPTA.
 Aplicação ao caso: nenhum dos processo urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » pedido
especificamente regulado: impugnação de atos administrativos (arts. 50º a 65º CPTA).
Resolução:
O ato lesivo, contra o qual pretende reagir a sociedade UT corresponde ao despacho proferido Ministro Y. De facto,
esse despacho impõe à sociedade o dever de restituir o montante de financiamento recebido. Verdadeiramente
estamos aqui em face de um ato administrativo substantivo: decisão que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta (art. 148º CPA). Ora, a
própria Lei Fundamental impõe, em matéria administrativa, um direito geral de proteção judicial contra a
Administração Pública – art 268º/4 CRP. O princípio da tutela judicial efetiva é concretizado, no plano da lei ordinária,
no art. 2º CPTA. Nos termos do nº 1 deste preceito, a tutela judicial efetiva em matéria administrativa é assegurada
numa tripla dimensão: tutela declarativa (arts. 37º a 111º CPTA), tutela cautelar (arts. 112º a 134º CPTA) e tutela
executiva (arts. 157º e 173º CPTA). No que diz especificamente respeito aos meios processuais principais, a reforma
da lei processual que teve lugar em 2015 veio impor uma estrutura dual: todos os processos não urgentes tramitam
sob uma única forma de ação – a ação administrativa –, dispondo os processo urgentes de tramitação autónoma. A
ação administrativa encontra-se disciplinada nos arts. 37º a 96º CPTA, e os processo urgentes nos arts. 97º a 111º
CPTA. No âmbito da ação administrativa distinguem-se, além dos pedidos genéricos que seguem a tramitação geral,

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os pedidos especiais, para os quais a lei estabelece uma regulamentação específica (arts. 50º a 77º-B CPTA).
Sublinhe-se que não se trata aqui de ações autónomas, mas de pedidos específicos que, apesar de revestirem
também a forma processual de “ação administrativa”, obedecem a algumas disposições legais especiais. Os demais
pedidos, não especialmente disciplinados, são tramitados apenas com base na disciplina geral da ação
administrativa. Os pedidos especiais a que nos referimos reportam-se às três formas de atuação administrativa: atos
administrativos, normas administrativas e contratos administrativos. Estando em causa uma atuação positiva da
Administração, haverá que recorrer aos meios impugnátorios relativos a atos administrativos (arts. 50º a 65º CPTA)
ou a normas (arts. 72º a 76º CPTA), consoante o caso. Se, ao invés, estiver em causa uma atuação negativa/omissiva
da Administração, então o autor deverá lançar mão dos meios condenatórios respeitantes a atos administrativos
(arts. 66º a 71º CPTA) ou a normas (art. 77º CPTA), também aqui consoante o caso. Por último, nas hipóteses em que
se pretende impugnar um contrato administrativo, então haverá que atender à regulação especial fixada nos arts.
77º-A e 77º-B CPTA. Noutro prisma, como referido, os processos urgentes dispõem de uma tramitação própria,
caraterizada, logicamente, pela sua celeridade. Os processo urgentes são apenas os previstos na lei, concretamente:
contencioso eleitoral (arts. 97º a 99º CPTA); contencioso de procedimentos de massa (art. 100º CPTA); contencioso
pré-contratual (arts. 101º a 103º-B CPTA); intimação para prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA);
intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º a 111º CPTA). No caso sub judice, a pretensão
da sociedade UT não se subsume a nenhuma das hipóteses correspondentes aos processos urgentes.
Consequentemente, haverá que mobilizar a ação administrativa (pois, como mencionado, esta figura integra todos os
processos principais não-urgentes dirigidos aos tribunais administrativos). No contexto da ação administrativa, o caso
em apreço deverá seguir a tramitação especial relativa à impugnação de atos administrativos. De facto, há um ato
administrativo, de teor positivo, contra o qual se pretende reagir, com o intuito de obter a sua anulação. Se é certo,
nos termos expedidos, que está em causa um verdadeiro ato administrativo substantivo, importará agora averiguar
se este é também um ato administrativo impugnável. Portanto, há que determinar se o despacho proferido pelo
Ministro Y é ou não passível de impugnção judicial. Após a reforma de 2015, o conceito de ato administrativo
impugnável – art. 51º CPTA – tende a coincidir com o conceito substantivo de ato administrativo – art. 148º CPA. A
aproximação operada em 2015 decorreu em dois sentidos: por um lado, o conceito do CPA deixou de exigir a
qualidade de orgão administrativo ao autor do ato; por outro lado, ambos os conceitos abragem apenas decisões que
visem produzir efeitos jurídicos externos. In casu, não parecem restar dúvidas quanto à suscetibilidade de
impugnação do despacho: há, efetivamente, uma decisão, tomada no exercício de poderes jurídico-administrativos,
que visa produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta (art. 51º/1 CPTA) – o Minstro Y
decidiu, ao abrigo dos poderes públicos que lhe competem, impor a devolução ou restituição do montante do
financiamento à sociedade UT, individual e especificamente considerada. Concluindo-se, então, pela constatação de
que se está perante um ato administrativo impugnável, impõe-se, agora, averigurar se a sociedade UT tem
legitimidade ativa para impugnar o referido ato. A legitimidade ativa para impugnação de atos administrativos é
regulada pelo art. 55º CPTA. Neste contexto, há que distinguir três hipóteses. Em primeiro lugar, ao abrigo da ação
particular, têm legitimidade ativa: os titulares de um interesse direto e pessoal na impugnação (art. 55º/1/a) CPTA);
as entidades privadas às quais incumbe a defesa de interesses coletivos ou a defesa coletiva de interesses individuais
(art. 55º/1/c) CPTA); as entidades públicas, atuando em defesa de interesses próprios (art. 55º/1/c) CPTA); e os

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orgãos administrativos quanto a atos praticados por orgãos da mesma pessoa coletiva, quando esteja em causa a
prossecução de interesses pelos quais esses orgãos sejam diretamente responsáveis (art. 55º/1/d) CPTA). No âmbito
da ação popular, por sua vez, têm legitimidade ativa: os cidadãos eleitores das comunidades locais contra atos dos
respetivos orgãos autárquicos (art. 55º/2 CPTA); qualquer pessoa, bem como o Ministério Público, as autarquias
locais, as associações e fundações de defesa de interesses difusos relativos a bens comunitários (art. 55º/1/f) CPTA e
art. 9º/2 CPTA). Por último, no âmbito da ação pública, a lei confere legitimidade ativa: ao Ministério Público, para
defesa da legalidade (art. 5º/1/b) CPTA); aos presidentes de orgãos colegiais ou outras autoridades, em defesa da
legalidade (art. 5º/1/e) CPTA). Do que foi dito acerca da ação particular torna-se evidente que a sociedade UT tem
legitimidade ativa para impugnar o ato sub judice, como titular de um interesse direto e pessoal na impugnção. Em
suma, a sociedade UT, como entidade com legitimidade ativa para tal, poderá impugnar o despacho do Ministro Y,
uma vez que se trata de um ato administrativo impugnável. A impugnação referida, constituindo um pedido especial
no contexto da ação administrativa, tramitará segundo os moldes específicamente previstos na lei para estas
hipóteses. Desde logo, a impugnação deverá ter lugar no prazo de 3 meses, ou de 1 ano para o Minstério Público, a
contar desde o momento da prática do ato ou da sua publicação, se o ato impugnado é reputado de anulável; ao
invés, se o ato impugnado é considerado nulo, a impugnação pode ter lugar a todo o tempo – art. 58º/1 CPTA. O nº 3
do art. 58º CPTA permite a extensão do prazo de 3 meses em determinadas situações excecionais. O prazo de
impugnação aplicável aos particulares destinatários do ato – 3 meses – só começa a correr aquando da notificação ao
destinatário (art. 59º/2 CPTA), pois só assim se assegura que o prazo não chega ao fim sem que aquele sujeito tivesse
tido conhecimento do ato. De acordo com o que foi dito, a sociedade UT poderia impugnar o despacho até ao dia 25
de dezembro de 2016. Quanto aos efeitos derivados da impugnação, refira-se que, em regra, a impugnação de um
ato administrativo não suspende automaticamente a eficácia do ato. A suspensão da eficácia do ato poderá ser
requerida pelo interessado no âmbito de um processo cautelar (art. 128º CPTA). A suspensão automática,
independentemente de providência cautelar, apenas tem lugar nos casos expressamente previstos na lei,
designadamente na hipótese prevista no nº 2 do art. 50º CPTA. Considerando-se que, in casu, está em causa o
pagamento de quantia certa, sem natureza sancionatória, poderia aplicar-se este preceito, nos termos do qual,
havendo sido prestada garantia, a mera impugnação do ato determinaria a suspensão da sua eficácia. Se assim não
fosse, o ato continuaria a produzir efeitos, salvo se a sociedade UT requeresse a providência cautelar adequada.
3. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: ato de indeferimento – ato administrativo de conteúdo negativo;
 Princípio da tutela jurisdicional efetiva – art. 2º CPTA e art. 268º/4 CRP;
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º a 111º CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º a 134º CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º a 173º CPTA.
 Formas de processo principais – estrutura dual:
 Processos não urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especiais:

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 Impugnação de atos administrativos:


 Atos positivo – arts. 50 a 65º CPTA;
 Atos negativos – arts. 66º a 71º CPTA.
 Impugnação de normas administrativas:
 Normas adotadas – arts. 72º a 76º CPTA;
 Normas omitidas – art. 77º CPTA.
 Reação contra contratos administrativos – arts. 77º-A e 77º-B CPTA.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – art. 98º CPTA;
 Contencioso de procedimentos de massa – art. 99º CPTA;
 Contencioso pré-contratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;
 Intimação para a prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intimação para a proteção de direitos, liberdades e garantiais – arts. 109º a 111º CPTA.
 Aplicação ao caso: nenhum dos processos urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » pedido
especificamente regulado: condenação à prática de ato administrativo devido.
Resolução:
No caso sub judice, a sociedade CM pretende reagir contra o ato de indeferimento praticado pelo Ministro Y,
reputando-o de ilegal. Assim, o ato lesivo em causa é um ato administrativo, ainda que de conteúdo negativo: há
uma decisão, proferida por uma entidade no exercício de poderes jurídico-administrativos, que pretende produzir
efeitos jurídicos externos apenas em relação à situação da sociedade CM, traduzindo-se esses efeitos na recusa da
produção dos efeitos pretendidos e requeridos por esta sociedade. Portanto, ainda que traduzindo-se numa recusa
de atuação, os atos de indeferimento são atos administrativos. Daí que se possa dizer que, in casu, o ato lesivo dos
interesses da sociedade CM é, de facto, um ato administrativo (negativo). A pretensão da sociedade terá de ser feita
valer, salvo eventual recurso às garantias administrativas, mediante recurso aos tribunais. A própria Lei Fundamental
confere aos administrados o direito de proteção judicial contra a Administração Pública (art. 268º/4 CRP). Este direito
é concretizado, ao nível da lei ordinária, no art. 2º CPTA, o qual consagra o princípio da tutela jurisdicional efetiva em
matéria administrativa. Nos termos daquele art. 2º: “a todo o direito ou interesse legalmente protegido corresponde
a tutela adequada junto dos tribunais administrativos”. A tutela judicial efetiva a que nos referimos é assegurada
numa tripla dimensão: tutela declarativa (principal), tutela cautelar e tutela executiva. A tutela declarativa encontra-
se regulamentada nos arts. 37º e ss. CPTA; os processos cautelares, por sua vez, são regulados pelos arts. 112º e ss.
CPTA; e a disciplina dos processos executivos consta dos arts. 157º e ss. CPTA. No que especificamente respeito às
formas de processo principal, a reforma de 2015 veio instituir um regime dualista, simplificando o anterior sistema.
Assim, todos os processos não-urgentes do contencioso administrativo passam a tramitar sob uma única forma de
ação – a ação administrativa (arts. 37º a 96º CPTA); os processos urgentes, por sua vez, dispõem de uma tramitação
especial (arts. 97º a 111º CPTA), caraterizada, fundamentalmente, pela sua celeridade. Os processos urgentes a que
nos referimos são somente aqueles que assim são expressamente qualificados pela lei, concretamente: contencioso
eleitoral (art. 98º CPTA); contencioso de procedimentos de massa (art. 99º CPTA); contencioso pré-contratual (arts.
100º a 103º-B CPTA); intimação para a prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); intimação para a proteção

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de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º a 111º CPTA). No caso sub judice, a pretensão da sociedade CM não
integra nenhum deste processos, pelo que haverá que lançar mão da ação administrativa (na medida em que todos
os processos não urgentes são, atualmente, tramitados segundo esta forma de ação). No âmbito da ação
administrativa identificam-se, a par dos pedidos genéricos (art. 37º/1 CPTA), um conjunto de pedidos aos quais
corresponde uma específica regulamentação. Trata-se aqui de pedidos específicos, e não de ações autónomas, o que
significa que tais pedidos, além de tramitarem segundo as disposições gerais da ação administrativa, impõem ainda a
observação de normas especiais que lhes dizem concretamente respeito. Os pedidos especiais referidos podem
reportar-se a qualquer uma das 3 formas tradicionais de atuação administrativa: ato administrativo, normas
administrativas (regulamentos) ou contratos administrativos. Tratando-se de uma atuação positiva da Administração,
haverá que mobilizar os meios impugnatórios respeitantes a atos administrativos (arts. 50º a 65º CPTA) ou a normas
(arts. 72º a 76º CPTA). Se, ao invés, se tratar de uma atuação negativa da Administração, então são convocados os
meios condenatórios relativos a atos administrativos (arts. 66º a 71º CPTA) ou a normas (art. 77º CPTA). Por último, e
em qualquer caso, estando em causa um contrato administrativo, haverá que recorrer à disciplina específica dos arts.
77º-A e 77º-B CPTA. No caso em apreço, como referido acima, estamos em face de um ato administrativo de
conteúdo negativo: um ato de indeferimento. Assim sendo, de acordo com o enquadramento exposto, a sociedade
CM deveria fazer uso do pedido de condenação à prática de ato devido, regulado nos arts. 66º a 71º CPTA. Este
pedido tem como intuito obter a condenação da entidade competente à prática, dentro de determinado prazo, de
um ato administrativo que tenha sido ilegalmente recusado ou omitido (art. 66º/1 CPTA). Poderá, então, verificar-se
uma omissão, um indeferimento ou uma recusa, entendendo o autor que o ato omitido, indeferido ou recusado é,
nos termos da lei, devido, ou seja, tem de ser praticado. Daqui decorre um outro importante aspeto a ressalvar: este
expediente não é exclusivo para atos vinculados; com efeito, o autor pode submeter o pedido de condenação à
prática de ato discricionário, desde que a própria emissão do ato (independentemente do seu conteúdo) não possa
ser recusada. As situações que integram este pedido especial encontram-se enunciadas no art. 67º CPTA: omissão da
prática de ato requerido no prazo legalmente estabelecido para a decisão (em princípio: 90 dias – art. 128º CPA);
indeferimento expresso, total e direto, da pretensão do autor; recusa de apreciação do requerimento; indeferimento
parcial (quando o ato se considera absolutamente vinculado); substituição de ato de conteúdo positivo;
incumprimento de deveres oficiosos concretos de emissão de atos administrativos. In casu, estamos em face de um
caso claramente subsumível a este pedido: o indeferimento expresso. Reconhecendo-se ser o pedido de condenação
à prática de ato devido o meio processual idóneo à satisfação da pretenção da sociedade CM, importa agora
considerar se esta entidade tem legitimidade ativa para submeter aquele pedido aos tribunais administrativos. As
entidades com legitimidade ativa para requerer a condenação da Administração à prática de um ato administrativo
encontram-se determinadas no art. 68º CPTA. Desde logo, poderá apresentar este pedido quem alegue ser titular de
direitos ou interesses legalmente protegidos dirigidos à emissão desse ato. Depois, ao abrigo da ação pública, têm
também legitimidade ativa o Ministério Público e os presidentes de orgãos colegiais e orgãos administrativos. Ao
abrigo da ação popular, é conferida legitimidade às entidades identificadas no art. 9º/2 CPTA. Têm ainda legitimidade
as pessoas coletivas, públicas ou privadasm em relação aos direitos ou interesses coletivos que representem. Nestes
termos, torna-se evidente que a sociedade CM tem legitimidade ativa para atuar, já que é titular de um interesse
dirigido à emissão do ato (art. 68º/1/a) CPTA). Nessa qualidade, a sociedade CM deverá demandar a entidade

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competente para a prática do ato, concretamente a pessoa coletiva ou ministério a que pertence o orgão
competente (o Ministro Y) (art. 10º/2 CPTA). Havendo contra-interessados, também eles deverão demandados, já
que se impõe aqui o litisconsórcio passivo necessário (art. 68º/2 CPTA). No que diz respeito ao prazo de propositura
da ação, a lei distingue consoante tenha havido inércia ou indeferimento (art. 69º CPTA). Nos casos de inércia (art.
67º/1/a) e art. 67º/4/a) CPTA), o direito de acesso aos tribunais deve ser exercido no prazo de 1 ano, a contar desde
o termo do prazo legal estabelecido para a emissão do ato ilegalmente omitido (em regra, 90 dias – art. 128º/1
CPTA). Nos casos de indeferimento (art. 67º/1/b) 1ª parte CPTA), recusa de apreciação de requerimento (art.
67º/1/b) 2ª parte CPTA) ou de pretensão dirigida à substituição de um ato de conteúdo positivo (art. 67º/1/c) e art.
67º/4/b) CPTA) o prazo é de 3 meses (art. 69º/2 CPTA). Por último, há que referir que, estando em causa um ato nulo,
o pedido de condenação à prática de ato devido deve ser submetido no prazo de 2 anos (art. 69º/3 CPTA). Ora, a
sociedade CM disporia do prazo de 3 meses para propor a ação administrativa tendente à satisfação da sua
pretensão (art. 69º/2 CPTA) – até 5 de agosto de 2016. Por fim, importa atentar nos efeitos da sentença judicial que
venha dar procedência à pretensão da sociedade autora. Em primeiro lugar, é de referir que, evidentemente, a
pronúnica do tribunal, em caso de procedência da ação, será sempre condenatória (art. 71º/1 CPTA). Mesmo
havendo um ato de indeferimento, como é, aliás, o caso sub judice, o tribunal não procede à sua anulação ou
declaração de nulidade, mas sim à condenação do orgão competente à prática do ato. Esta solução compreende-se
na medida em que, ao abrigo do art. 66º/2 CPTA, o objeto do processo é a pretensão (material) do interessado e não
o ato de indeferimento. Aliás, nos termos finais daquele preceite, a eliminação do ato de indeferimento da ordem
jurídica resulta automaticamente da pronúncia condenatória. Sucede que as sentenças condenatórias podem
suscitar complexos problemas de separação de poderes, já que, de certa forma, o juiz, no exercício da função
jurisdicional, impõe uma atuação administrativa, a qual é da exlcusiva competência da Administração. Assim, o
legislador entendeu, e bem, ser necessária a fixação de limites ao âmbito das sentenças condenatórias, de modo a
obstar à instituição de um “Estado de Juízes”, que não é, de modo algum, aconselhável. Daí que o nº 2 do art. 71º
CPTA prescreva que, quando a emissão do ato devido envolva a formulação de “valorações próprias do exercício da
função administrativa” (porque o conteúdo do ato não é estritamente vinculado), o juiz deverá limitar-se a uma
condenação genérica, estabelecendo tão-só as vinculações jurídicas que decorram das normas jurídicas aplicáveis no
caso, sem pôr em causa a autonomia da decisão do orgão administrativo competente. O que foi dito aplicar-se
sempre que ao tribunal não seja possível determinar o conteúdo do ato devido, mesmo tendo o autor requerido a
condenação à prática de um ato com conteúdo determinado (art. 70º/3 CPTA). Ora, a sentença que venha a ser
proferida deverá, por imposição do art. 95º/4 CPTA, fixar o prazo em que deve ter lugar a pronúncia administrativa e
identificar o orgão competente para a realizar, podendo ainda ser fixada uma sanção pecuniária compulsória.
Havendo incumprimento por parte do orgão administrativo, terá lugar um processo de execução de sentenças,
podendo vir a ser produzida uma sentença substitutiva do ato devido (se este tiver conteúdo estritamente vinculado)
(art. 167º/6 CPTA).

Caso prático nº 2
1. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: postura aprovada pela CM Brangança – norma administrativa (regulamento);

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 Princípio da tutela jurisdicional efetiva – art. 2º CPTA e art. 268º/4 CRP;


 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º a 111º CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º a 134º CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º a 173º CPTA.
 Meios processuais principais – estrutura dual:
 Processos não-urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especiais:
 Impugnação de atos administrativos:
 Atos positivos: arts. 50º a 65º CPTA;
 Atos negativos: arts. 66º a 71º CPTA.
 Impugnação de normas:
 Normas adotadas: arts. 72º a 76º CPTA;
 Normas omitidas: art. 77º CPTA;
 Impugnação de contratos administrativos – arts. 77º-A e 77º-B CC.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – arts. 98º CPTA;
 Contencioso de procedimentos de massa – art. 99º CPTA;
 Contencioso pré-contratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;
 Intimação para prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intimação para proteção de DLG’s – arts. 109º a 111º CPTA.
 Aplicação ao caso: nenhum dos processo urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » pedido
especificamente regulado: impugnação de normas.
 Impugnação de normas administrativas:
 Normas imediatamente operativas – impugnação a título principal:
 Pedido de declaração da ilegalidade com força obrigatória geral – art. 73º/1 CPTA;
 Pedido de declaração da ilegalidade com efeitos circunscritos ao caso – art. 73º/2 CPTA.
 Normas mediatamente operativas – impugnação a título incidental – art. 73º/3 CPTA,
 Aplicação ao caso: norma mediatamente operativa » impugnação só é possível a título incidental » o feirante
não é parte numa ação respeitante a um ato de aplicação (licenciamento) » impossibilidade de impugnação.
Resolução:
A atuação administrativa contra a qual o feirante em causa pretende atuar consiste na postura aprovada pela Câmara
Municipal de Bragança, através da qual este orgão da Administração Autónoma estabeleceu o regime das feiras
locais. A postura a que nos referimos é, indubitavelmente, uma norma administrativa, designadamente um
regulamento: estamos em face de uma norma jurídica geral e abstrata emitida no exercício de poderes jurídico-
administrativos, a qual visa produzir efeitos jurídicos externos. A reação contra a sua ilegalidade operará mediante
acesso aos tribunais. A própria Lei Fundamental confere a todos os administrados o direito de proteção judicial

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contra a Administração Pública (art. 268º/4 CRP). Esse direito é concretizado, ao nível da lei ordinária, no art. 2º
CPTA. Este preceiro oferece os traços fundamentais do princípio da tutela jurisdicional efetiva, nos termos do qual “a
todo o direito ou interesse legalmente protegido corresponde a tutela adequada junto dos tribunais administrativos”.
A tutela judicial efetiva é assegurada numa tripla dimensão: tutela declarativa, tutela cautelar e tutela executiva. Os
meios processuais principais ou declarativos encontram-se regulamentados nos arts. 37º a 111º CPTA; os processos
cautelares obedecem à disciplina estabelecida nos arts. 112º a 134º CPTA; e os processos executivos são objeto da
regulação operada pelos arts. 157º a 173º CPTA. No que diz especificamente respeito às formas de processo
principal, a reforma de 2015 veio instituir um modelo dual, simplificando o anterior sistema. Assim, todos os
processos não-urgentes do contencioso administrativo passaram a tramitar sob uma única forma de ação: a ação
administrativa. Os processos urgentes, por sua vez, dispõem de uma tramitação especial, caraterizada pela
celeridade. Os processos urgentes a que nos referimos são exclusivamente aqueles qualificá-los como a lei como tal:
contencioso eleitoral (art. 98º CPTA); contencioso de procedimentos de massa (art. 99º CPTA); contencioso pré-
contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA); intimação para prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); intimação
para proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 109º a 111º CPTA). In casu, a pretensão do feirante não re
reconduz a qualquer destes processos, pelo que haverá que convocar a ação administrativa. Concretamente, haveria
que submeter ao tribunal um pedido de impugnação de normas. A impugnação de normas pode seguir, em termos
genéricos, duas vias: impugnação a título principal; impugnação a título incidental. Nos processos de impugnação
direta de normas pode pedir-se, a título principal, a declaração da ilegalidade das normas emanadas ao abrigo de
disposições de direito administrativo, com fundamento em vícios próprios ou com fundamento na invalidade de atos
praticados no âmbito do respetivo procedimento de aprovação. Neste contexto, poderão estar em causa dois tipos
de pedidos: pedido de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral e pedido de declaração de ilegalidade
com efeitos circunscritos ao caso. A declaração com força obrigatória geral pode ser pedida por todos os que
disponham de legitimidade impugnatória, desde que a norma a impugnar seja “imediatamente operativa” (art. 73º/1
CPTA). Uma norma diz-se “imediatamente operativa” quando os seus efeitos se projetam na esfera jurídica das
pessoas abrangidas pela pela previsão normativa sem dependência ou necessidade de ato administrativo (ou
jurisdicional) de aplicação. Por sua vez, a declaração de ilegalidade com efeitos restritos ao caso concreto
(desaplicação por via principal) só pode ser pedida por quem seja diretamente prejudicado quanto a normas
“imediatamente operativas”, com fundamento numa das ilegalidades previstas no nº 1 do art. 281º CRP (art. 73º/2
CPTA). Esta solução compreende-se na medida em que, ao abrigo do nº 2 do art. 72º CPTA, está excluída da jurisdição
administrativa a declaração da ilegalidade de normas com força obrigatória geral quando o fundamento daquela
“ilegalidade” constitua uma das hipóteses mencionadas no art. 281º/1 CRP. Fora destas hipóteses de impugnação de
normas a título principal, a lei prevê ainda a possibilidade de impugnação de normas administrativas a título
incidental. Esta possibilidade vale para as normas “mediatamente operativas”. Por inteleção inversa, facilmente se
compreende que uma norma “mediatamente operativa” necessita da prática de um ato administrativo (ou
jurisdicional) para que os seus efeitos se projetem na esfera jurídica dos respetivos destinatários. Em tais
circunstâncias, a norma só pode ser impugnada, incidentalmente, no contexto de uma ação respeitante à invalidade
do ato administrativo de aplicação (art. 73º/3 CPTA). Nos termos deste quadro geral, há que avaliar a natureza da
norma sub judice, bem como a possibilidade da sua impugnação pelo feirante. Ora, a postura aprovada prescreve

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que a ocupação de espaços públicos na zona das feiras depende de licenciamento municipal. Sucede que, nestes
termos, a operatividade daquela norma depende de um ato intermediário: o ato de licenciamento. De facto, a
licença municipal é um derradeiro ato administrativo; e os efeitos da postura só se incrustam na esfera jurídica dos
pretensos destinatários mediante essa licença. De tudo o que foi dito conclui-se ser esta uma norma “mediatamente
operativa”, já que a sua eficácia in concreto depende de um ato de aplicação. Assim sendo, nos termos expostos,
apenas um meio impugnatório é conferido nos termos da lei: a impugnação a título incidental. Efetivamente, a lei
não permite a impugnação direta, a título principal, de normas mediatamente operativas, reservando essa
possibilidade relativamente às normas de operatividade imediata. Consequentemente, o único meio de suscitar a
ilegalidade da postura da CM de Brangança seria no contexto de uma ação de impugnação respeitante a um ato
administrativo que a aplicasse, designadamente um ato de licenciamento. Só um sujeito que se visse prejudicado nos
seus direitos, de forma direta e imediata, por um concreto ato de licenciamento praticado em aplicação da postura, é
que poderia requerer, no âmbito de uma ação tendente à inavalidação desse ato, a desaplicação da norma no seu
caso. Sucede que, no caso sub judice, o feirante que pretende impugnar a postura não é destinatário de um qualquer
ato de aplicação lesivo; e não lhe é admissível a impugnação da norma a título principal. Deste modo, concluímos
pela impossibilidade de satisfação da pretensão do feirante. É exatamente em face de situações como a referida que
a doutrina entende ser a solução legal pouco razoável. Uma das críticas apontadas ao regime da impugnação de
normas é, concretamente, o facto de a lei não prever a impugnação direta de normas mediatamente operativas. Tal
limitação pode revelar-se excessiva pois, em determinadas situações, pode ser importante para a proteção dos
direitos e interesses legalmente protegidos a impugnação daquele tipo de normas, designadamente a título
preventivo.
2. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: postura aprovada pela CM de Bragança – norma administrativa (regulamento);
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º a 111º CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º a 134º CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º a 173º CPTA.
 Meios processuais principais (tutela declarativa): estrutural dual:
 Processos não-urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especiais:
 Impugnação de atos administrativos:
 Atos positivos: arts. 50º a 65º CPTA;
 Atos negativos: arts. 66º a 71º CPTA.
 Impugnação de normas:
 Normas adotadas: arts. 72º a 76º CPTA;
 Normas omitidas: art. 77º CPTA;
 Impugnação de contratos administrativos: arts. 77º-A e 77º-B CPTA.

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 Aplicação ao caso: nenhum dos processos urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » pedido
respecificamente regulado: impugnação de atos administrativos + impugnação incidental da norma
administrativa responsável pela invalidade do ato administrativo.
Resolução:
In casu, o lesado pretende reagir contra duas atuações da Administração: o ato de licenciamento e a norma
administrativa que lhe serviu de base. A postura emitida pela Câmara Municipal de Bragança é um regulamento
administrativo: norma geral e abstrata emitida no exercício de poderes administrativos com o intuito de produzir
efeitos jurídicos externos (art. 135º CPA). Como norma administrativa, podemos classificar a postura sub judice como
norma mediatamente operativa: os seus efeitos jurídicos apenas se incrustram na esfera jurídica dos particulares
através de um ato administrativo (ou jurisdicional). Assim sendo, os efeitos lesivos sentidos pelos particulares
decorrem imediatamente de um ato de aplicação – o ato de licenciamento – e não da norma. Daí que a ação
intentada a título principal se vá reportar, sempre, à licença em si mesma. Antes de prosseguir na exposição quando
à específica ação a propor, importa referir que a tutela judicial em matéria administrativa reveste uma tripla
dimensão: tutela declarativa, tutela cautelar e tutela executiva. A tutela cautelar, aquela que nos ocupa, congrega os
meios processuais principais. Sucede que, com a reforma legislativa operada em 2015, os processos principais
passaram a estruturam-se de forma dual. Todos os processos principais não-urgentes pertencentes ao contencioso
administrativo tramitam segundo uma única forma de ação: a ação administrativa (art. 37º/1 CPTA). Já os processos
urgentes, dispõem de uma tramitação específica, caraterizada pela especial celeridade. Portanto, de um modo
sintético, os processos principais são, em princípio, tramitados como ação administrativa, ressalvados os casos em
que estão em causa os processos urgentes especificamente regulados na lei. Os processos urgentes a que nos
reportamos são os elencados nos arts. 97 e ss. CPTA: contencioso eleitoral (art. 98º CPTA); contencioso de
procedimentos de massa (art. 99º CPTA); contencioso pré-contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA); intimação para
prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias (arts.
109º a 111º CPTA). Ora, in casu nenhum destes processos tem aplicação, pelo que somos remetidos para o domínio
da ação administrativa. A ação administrativa é um meio processual unitário, mas compreende diversos tipos de
pedidos, alguns dos quais se encontram especificamente regulados na lei. Estes pedidos “especificados”, além de
respeitarem as disposições gerais relativas à ação administrativa, exigem a observância das específicas normas legais
que lhes dizem respeito. Tais pedidos dizem respeito às tradicionais formas de atuação administrativa: atos
administrativos (arts. 50º e ss. CPTA); normas (arts. 72º e ss. CPTA); contratos (arts. 77º-A e 77º-B CPTA). Nos termos
demonstrados acima, no caso em apreço, o feirante pretende, em primeira linha, impugnar o ato de licenciamento
que lhe foi atribuído. Tal ato é um ato administrativo subtantivo, na medida em que consiste numa decisão, adotada
no exercício de poderes jurídico-administrativos, que visa produzir efeitos jurídico externos numa situação individual
e concreta (art. 148º CPA). Importa agora avaliar se, além de ato administrativo para efeitos substantivos e
procedimentais, o ato de licenciamento é um ato administrativo impugnável. A reforma legislativa de 2015, acima
mencionada, introduziu também algumas alterações nesta matéria, designadamente aproximando francamente as
noções de ato administrativo substantivo e ato administrativo impugnável. Também o art. 51º/1 CPTA vem consagrar
como atos administrativos impugnáveis as decisões, tomadas ao abrigo de poderes jurídico-administrativos, que
produzem efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta. Nestes termos, a licença sub judice é

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evidentemente um ato administrativo impugnável. Tendo este ponto assente, importa agora identificar o concreto
pedido em causa. É que, como referido, os pedidos respeitantes a atos administrativos são objeto de regulação
especial; mas, a lei distingue duas hipóteses. Por um lado, poderá estar em causa um pedido de impugnação de ato
administrativo, o qual se reporta a atuações positivas da Administrativa; por outro, admite-se ainda a submissão de
um pedido de condenação à prática de ato devido, na hipóteses de atuação negativa da Administração (omissões,
indeferimentos ou recusas de apreciação). No caso concreto que nos ocupa, houve, efetivamente, a prática de um
ato administrativo de conteúdo positivo, ainda que pretensamente ilegal: o feirante pretende impugnar o próprio ato
(positivo) de deferimento. Assim sendo, o passo que logicamente se segue traduz-se na averiguação da legitimidade
ativa: terá aquele sujeito legitimidade processual para propor a ação administrativa pretendida? No contexto da
divisão tripartida que é realização nesta matéria, estamos aqui no domínio da ação particular (pois não faria sentido
mobilizar a ação popular ou a ação pública, por razões óbvias). O art. 55º/1/a) CPTA dispõe, a este respeito, que tem
legitimidade passiva para a impugnação de atos administrativos quem seja titular de um interesse direto e pessoal na
impugnação. De facto, o feirante pretende impugnar o ato de licenciamento na parte respeitante a uma cláusula
acessória, o que significa que a concreta anulação dessa cláusula lhe será diretamente favorável, porquanto o liberta
de um ónus. Portanto, conclui-se que o feirante poderia, efetivamente, propor a ação administrativa pretendida,
submetendo ao tribunal competente um pedido de impugnação de ato administrativo (art. 50º CPTA). É ainda de
referir que tal ação deveria ser proposta no prazo de 3 meses, considerando-se ser a cláusula apenas anulável (e não
nula). É isto que decorre do art. 58º/1 CPTA, nos termos do qual o prazo para a impugnação de atos é de 1 ano para o
Ministério Público (al. a)) e de 3 meses para os particulares (al. b)). Especificamente quando o autor é o concreto
destinatário do ato, o art. 59º/2 CPTA determina que a contagem do prazo só se inicia com a notificação do ato, ainda
que ele seja objeto de publicação obrigatória. Portanto, o feirante disporia de 3 meses a partir do momento em que
lhe foi notificado o ato de licenciamento para proceder à sua impugnação. Acontece que, como mencionado, a
cláusula que se pretende anular foi adotada em função da postura emitida pela CM de Bragança. Este facto implica
que a anulabilidade daquela cláusula só terá lugar caso se venha a provar que a norma que lhe deu arrimo é, ela
mesma, inválida. No fundo: a cláusula que impõe ao feirante empregar apenas trabalhadores de nacionalidade
portuguesa só pode ser reputada de inválida e a sua base legal – a norma administrativa que lhe está na base – for
ilegal, pois, caso contrário, não haveria como anular uma cláusula que decorre de uma disposição legal válida e
eficaz. E é extamente por isso que se impõe aqui a consideração da impugnação de normas. Nos termos acima
mencionados, no contexto da ação administrativa (como meio processual único, no qual se incluem todos os
processos do contencioso administrativo não urgentes) podemos identificar um conjunto de pedidos especiais, os
quais, embora tramitando como “ação administrativa”, são objeto de algumas disposições legais específicas. Os
pedidos específicos a que nos referimos também dizem respeito a normas administrativas (art. 37º/1/d) e e) CPTA).
Neste domínio específico, podemos estar em face de um pedido de impugnação de normas ou de um pedido de
condenação à prática de normas, consoante se esteja em face de uma atuação positiva ou negativa da
Administração. No caso sub judice, há, efetivamente, uma norma aprovada e em vigor, pelo que o caminho lógico a
seguir será a impugnação de normas (arts. 72º a 76º CPTA). Ora, a impugnação de normas pode operar de duas
formas: impugnação a título principal ou impugnação a título incidental. A impugnação a título principal (sendo
intenta uma ação especificamente para esse efeito) está reservada para as normas imediatamente operativas; ao

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invés, as normas mediatamente operativas só podem ser impugnadas a título incidental (no contexto de uma ação
respeitante a um ato de aplicação). As normas administrativas dizem-se imediatamente operativas quando os seus
efeitos se projetam na esfera jurídica dos particulares direta e imediatamente, sem necessidade de um ato de
aplicação. Pelo contrário, as normas mediatamente operativas são aquelas cujos efeitos só se incrustam na esfera
jurídica dos particulares através de um ato administrativo (ou jurisdicional) de aplicação. No caso sub judice,
facilmente se identifica a categoria em que se insere a postura referida: tal norma estabelece a dependência da
atividade feirante de licenciamento municipal, o que significa que os seus efeitos dependem de um ato
administrativo – a licença. Assim sendo, a postura sub judice classifica-se como norma mediatamente operativa. Se
assim é, a sua impugnação só é possível a título incidental, como decorre de uma leitura global do art. 73º CPTA. O nº
3 do art. 73º CPTA prevê a impugnação incidental de normas cujos efeitos “não se produzam imediatamente”,
admitindo que se suscite a eventual ilegalidade da norma no processo dirigido contra o ato administrativo que a
aplique. É extamente esta impugnação que deve ser levada a cabo pelo feirante. Com efeito, nos termos expostos, a
ação administrativa a propor, em primeira linha, será uma ação de impugnação de ato administrativo. Para que tal
ação seja procedente, haverá que requerer a desaplicação da postura municipal no caso concreto, com base na sua
ilegalidade. Só se o tribunal se pronunciar pela ilegalidade da norma, desaplicando-a no caso, é que a impugnação do
ato terá o êxito pretendido. Portanto, no que diz respeito à norma a que nos referimos, haverá que requerer ao
tribunal a declaração de ilegalidade, a título incidental, com efeitos circunscritos ao caso, com o mero intuito de
obter a desaplicação da norma no caso concreto, de modo a possibilitar a invalidação da cláusula acessória que vicia
o ato administrativo. Quanto ao prazo em que a ilegalidade da norma pode ser suscitada, o nº 1 do art. 74º CPTA
permite a impugnação a todo o tempo. Depois, o feirante tem, como é evidente, legitimidade ativa para suscitar este
incidente, na medida em que é diretamente lesado pela ilegalidade da norma (art. 73º/3 1ª parte CPTA). Em suma, o
feirante, de modo a ver corretamente acautelados os seus direitos, deveria proceder à impugnação do ato de
licenciamento de que é destinatário (arts. 51º/1 e 55º/1/a) CPTA), dentro do prazo de 3 meses a contar do momento
em que o ato lhe foi notificado (arts. 58º/1/b) e 59º/2 CPTA), suscitando, posteriormente, no âmbito desse processo
principal, a ilegalidade da postura municipal com base na qual o ato foi praticado (arts. 73º/3 e 74º/1 CPTA).
3. Tópicos de resolução:
 Identificação da atuação administrativa: postura municipal – norma administrativa;
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º a 111º CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º a 134º CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º a 172º CPTA.
 Os processos principais: estrutura dual:
 Processos não-urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especificados;
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – art. 98º CPTA;
 Contencioso de procedimentos de massa – art. 99º CPTA;

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 Contencioso pré-contratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;


 Intimação para a prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intimação para a proteção de DLG’s – arts. 109º a 111º CPTA.
 Aplicação ao caso: a hipóteses enquadra-se num dos processo urgentes » intimação para prestação de
informações, conulta de processos ou passagem de certidões;
 A intimação para prestação de informações:
 Alcance do meio processual;
 Legitimidade;
 Pedido prévio e prazo;
 Tramitação e decisão judicial – efeitos.
Resolução:
A atuação da Administração in casu convocada é a postura aprovada pela Câmara Municipal de Brangança. Tal
postura constitui uma norma administrativa, na medida em que reveste um evidente caráter geral e abstrato e visa a
produção de efeitos no contexto de uma relação intersubjetiva. A pretensão que o feirante pretende fazer valer em
relação a essa forma de atuação administrativa deverá dirigir-se aos tribunais administrativos. De facto, é a própria
Lei Fundamental que estabelece o direito de acesso aos tribunais administrativos. O art. 268º/4 CRP consagra
expressamente o direito à proteção judicial contra a Administração Pública. Tal direito é concretizado, ao nível da lei
ordinária, no art. 2º CPTA, nos termos do qual “a todo o direito ou interesse legalmente protegido corresponde a
tutela adequada junto dos tribunais administrativos”. Este preceito consagra, então, o princípio da tutela jurisdicional
efetiva, o qual assume um papel absolutamente central em matéria de contencioso administrativo. A tutela judicial
efetiva a que nos reportamos é assegurada numa tripla dimensão: tutela declarativa/principal, tutela cautelar e
tutela executiva. Os meios processuais principais encontram-se regulados nos arts. 37º a 111º CPTA; os processos
cautelares estão disciplinados nos arts. 112º a 134º CPTA; e a regulamentação dos meios executivos consta dos arts.
157º a 173º CPTA. Quanto às formas de processo principais, a Reforma de 2015 veio instituir um modelo dual: por
um lado, são agrupados os processos não-urgente; por outro, são considerados os processos urgentes. Portanto,
após as alterações introduzidas em 2015, todos os processos não-urgentes do contencioso administrativo passaram a
tramitar sob uma única forma de ação: a ação administrativa. Apenas estão excluídos do âmbito da ação
administrativa os processos urgentes, para os quais a lei prescreve uma tramitação própria, célere e prioritária. No
contexto da ação administrativa, podem identificar-se, a par dos pedidos genericamente consagrados no art. 37º
CPTA, um conjunto de pedidos especificados. Estes pedidos não constituem, de modo algum, ações autónomas; o
que verdadeiramente está em causa são pedidos que gozam de uma regulamentação específica, a par da disciplina
geral da ação administrativa. Tais pedidos tramitam, é certo, sob a forma de ação administrativa, mas impõem a
observância de regras especiais. Os pedidos especiais a que nos reportamos dizem respeito às tradicionais formas de
atuação da Administração Pública: atos administrativos (impugnação de atos – arts. 50º a 65º CPTA – e condenação à
prática de atos – arts. 66º a 71º CPTA); normas (impugnação de normas – arts. 71º a 76º CPTA – e condeação à
prática de normas – art. 77º CPTA); contratos (arts. 77º-A e 77º-B CPTA). Como referido, caem foram do âmbito de
abrangência da ação administrativa os denominados “processos urgentes”. Os processos urgentes aqui em causa são
apenas e exclusivamente aqueles que a lei classifica como tal, concretamente: contencioso eleitoral (art. 98º CPTA);

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contencioso de procedimentos de massa (art. 99º CPTA); contencioso pré-contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA);
intimação para a prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); intimação para proteção de direitos, liberdades
e garantias (arts. 109º a 111º CPTA). No caso que nos ocupa, a pretensão do feirante integra um dos processos
urgentes a que nos referimos: a intimação para prestação de informações. Assim sendo, a tramitação do processo a
intentar no tribunal administrativo competente correria de acordo com a disciplina própria desse processo urgente, e
não como ação administrativa. Ora, este meio processual é o meio adequado a obter a satisfação de todas as
pretensões informativas, quer esteja em causa o direito à informação procedimental ou o direito de acesso aos
arquivos e registos administrativos – arts. 82º e 83º CPA (art. 104º CPTA). O alcance vasto que é conferido a este
processo suscita dúvidas, na doutrina, relativamente ao verdadeiro caráter “urgente” que lhe subjaz: nem sempre a
obtenção de informações, em situações normais, assume qualquer tipo de urgência. Entende-se, então, que a razão
de ser da amplitude deste meio processual reside na acentuação do valor da transparência, considerando-se ainda
que está em causa uma prestação materialmente fácil de realizar, pelo que não se justifica a demora de um processo
normal. Quanto à legitimidade ativa neste domínio, o art. 104º CPTA prescreve que a intimação pode ser pedida
pelos titulares de direitos de informação. Os requisitos substanciais de tais direitos constam da lei substantiva, onde
se ressalvam os segredos público e privado. Prima facie, parece ser admissível que o feirante no caso em apreço
tivesse direito a obter as informações pretendidas. Sublinhe-se que a utilização deste meio pressupõe o
incumprimento pela Administração do dever de informar ou notificar, pelo que se impõe a existência de um prévio
pedido dirigido pelo interessado ao orgão competente. Na falta deste pressuposto processual, o pedido não procede.
Após a verificação da não satisfação do pedido, da omissão ou do indeferimento expresso ou deferimento parcial, o
interessado dispõe de 20 dias para submeter o pedido ao tribunal competente (art. 105º CPTA). A tramitação deste
concreto processo urgente consta do art. 107º CPTA, caraterizando-se pela sua franca simplicidade: deduzido o
pedido, dá-se a citação da entidade demandada e dos contrainteressados, para que respondam no prazo de 10 dias;
não se impondo mais diligências, decorrido aquele prazo, ou a partir do momento em que é apresentada a resposta,
o juiz dispõe de 5 dias para decidir. O art. 108º/1 CPTA estabelece os efeitos da decisão que venha a ser proferida: em
caso de provimento, é estabelecido um prazo não superior a 10 dias para que a entidade administrativa cumpra a
intimação. Em face do incumprimento por parte dessa entidade, o juiz do processo pode fixar uma sanção pecuniária
compulsória a aplicar por cada dia de atraso no cumprimento (art. 108º/2 CPTA), sem prejuízo da eventual
responsabilização civil, disciplinar e criminal que possa vir a ter lugar. Poderão ainda aplicar-se as regras gerais
relativas à execução de sentenças condenatórias na prestação de facto fungível (art. 167º CPTA).

Caso prático nº 3
1. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: ato de indeferimento – ato administrativo de índole negativa;
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa – arts. 37º a 111º CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º a 134º CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º a 173º CPTA.
 Meios processuais principais – estrutura dual:

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 Processos não-urgentes: ação administrativa;


 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especificados:
 Impugnação de atos administrativos:
 Atos positivos – arts. 50º a 65º CPTA;
 Atos negativos – arts. 66º a 71º CPTA;
 Impugnação de normas:
 Normas adotadas – arts. 72º a 76º CPTA;
 Normas omitidas – art. 77º CPTA.
 Impugnação de contratos – arts. 77º-A e 77º-B CPTA.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – art. 98º CPTA;
 Contenciso de procedimentos de massa – art. 99º CPTA;
 Contencios pré-contratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;
 Intimação para prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intimação para proteção de DLG’s – arts. 109º a 111º CPTA.
 Processos cautelares: requisitos gerais:
 Periculum in mora;
 Fumus boni iuris;
 Ponderação dos interesses em jogo.
 Aplicação ao caso:
 Caraterísticas do pedido:
 Está em causa um ato de indeferimento expresso (ato administrativo negativo) » ação
administrativa: pedido de condenação à prática de ato devido;
 A obtenção de uma decisão judicial é urgente (verifica-se: periculum in mora, fumus boni
iuris e a proporcionalidade) » processo cautelar;
 A decisão judicial vai assumir caráter defnitivo (e não meramente provisório) » processo
urgente.
 Da conjugação das três caraterísticas referidas resulta que o meio processual idóneo à satisfação da
pretensão é um processo urgente: permite, simultaneamente, a decisão urgente (tal como os
processos cautelares) e a decisão definitiva (tal como os processo principais) da pretensão do autor.
 Processo urgente adequado: intimação para a proteção de DLG’s » direito de manifestação (art.
45º/2 CRP).
Resolução:
O ato lesivo contra o qual o conjunto de cidadãos em causa pretende reagir é o ato de recusa da autorização para a
realização da manifestação. Estamos, portanto, em face de um ato de indeferimento expresso: um ato pelo qual o
orgão administrativo (Presidente da Câmara de Lisboa, in casu) recusa a produção dos efeitos jurídicos requeridos
pelos particulares. A reação a esta atuação deverá operar mediante recurso aos tribunais administrativos. A Lei

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Fundamental confere a todos os administrados o direito de proteção judicial contra a Administração Pública (art.
268º/4 CRP). Esse direito é concretizado através do princípio da tutela jurisdicional efetiva, consagrado no art. 2º
CPTA. A tutela judicial efetiva a que nos referimos é assegurada numa tripla dimensão: tutela declarativa, tutela
cautelar e tutela executiva. Os processos principais (declarativos) encontram-se regulados nos arts. 37º e ss. CPTA; os
processos cautelares, por sua vez, são objeto da regulamentação constante dos arts. 112º e ss. CPTA; por último, os
processos executivos são disciplinados pelos arts. 157º e ss. CPTA. No que diz respeito especificamente aos processos
principais, a Reforma de 2015 veio instituir um sistema dual: por um lado, agrupam-se todos os processos não-
urgentes num meio processual único: a ação administrativa; por outro lado, são considerados individualmente os
processos urgentes. Nestes termos, todos os concretos pedidos que não integram o âmbito de abrangência de um
dos processos urgentes, caiem no âmbito da ação administrativa, como forma de ação única. Os processos urgentes a
que nos referimos, como a própria denominação indica, caraterizam-se por uma tramitação especialmente célere e
prioritária, ainda que mantendo o propósito, como processo principais, de obter a resolução definitiva do litígio. Daí
que se distingam da ação administrativa: apesar de também visarem alcançar uma solução definitiva, correm nos
tribunais durante um período temporal manifestamente inferior aos processos principais ditos “normais”,
assumindo-se como prioritário em face dos demais processos que estejam submetidos ao juízo do mesmo tribunal.
Os processos urgentes consagrados na lei são: o contencioso eleitoral (art. 98º CPTA); o contencioso de
procedimentos de massa (art. 99º CPTA); o contencioso pré-contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA); a intimação para a
prestação de informações (arts. 104º a 108º CPTA); a intimação para a proteção de direitos, liberdades e garantias
(arts. 109º a 111º CPTA). Como mencionado acima, não só de processos principais se podem fazer valer os
administrados. Com efeito, poderá ser necessário acautelar a utilidade da própria lide principal, quando, pela sua
natural demora, seja provável que se produzam determinados efeitos, jurídicos ou de facto, que, por se tornarem
irreversíveis, impeçam a operância da sentença principal que venha a ser proferida. Daí a relevância dos processos
cautelares, cujo escopo é, exatamente, obviar à verificação de danos irreversíveis decorrentes da demora do
processo que ponham em risco a utilidade prática da sentença que venha a ser proferida em sede do processo
principal. Tais processos assume, de acordo com esta sua função, três caraterísticas essenciais: provisoriedade (não
visam a resolução defnitiva do litígio, mas tão-só uma regulação provisória da situação); instrumentalidade
(dependem de uma ação principal); sumariedade (assentam numa cognição sumária da situação de facto e de
direito). A lei, em cumprimento estrito da imposição constitucional quanto a esta matéria (art. 268º/4 in fine CRP),
admite a decretação de quaisquer providências cautelares que se mostrem adequadas a assegurar a utilidade da
senteça (art. 112º/1 CPTA), o que significa que o elenco consagrado no art. 112º/2 CPTA é meramente
exemplificativo. Para que o tribunal decrete uma concreta providência cautelar deverão verificar-se os requisitos
gerais da tutela cautelar: preiculum in mora; fumus boni iuris; e proporcionalidade. Neste contexto poderia suscitar-
se uma questão com alguma pertinência: se também este processos assumem natureza urgência, o que é que, afinal,
os diferencia dos processos urgentes? Como foi já mencionado, os processos urgentes são processo principais, não
dependendo, como acontece com os processos cautelares, de uma outra ação principal. Embora tanto os processo
urgentes como os processos cautelares assumam natureza urgente, apenas os primeiros são suscetíveis de permitir
alcançar uma solução definitiva. Tendo em mente o enquadramento traçado, é agora tempo de averiguar qual o meio
processual idóneo à satisfação da pretensão dos grupo de manifestantes no caso em apreço. Ora, a atuação

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administrativa contra a qual pretendem reagir é, como referido, um ato de indeferimento. Considerando os
processos principais disponibilizados pela lei, uma primeira via adequada à obtenção da autorização pretendida seria
a ação administrativa. Como referido acima, no âmbito da ação administrativa podem identificar-se determinados
pedidos especificados, que dispõem de regulamentação especial. Ora, esse pedidos reportam-se às tradicionais
formas de atuação administrativa: os atos administrativos, as normas e os contratos. No que diz respeito à reação
contra atos administrativos, a lei admite dois tipos de pedidos, consoante o ato praticado tenha índole positiva ou
negativa: a impugnação de atos administrativos (arts. 50º a 65º CPTA) e a condenação à prática de atos devidos (arts.
66º a 71º CPTA). Também os pedidos destinados à reação contra normas depende da circunstância de a norma ter
sido já adotada ou ser omissa: impugnação de normas (arts. 72º a 76º CPTA) e condenação à prática de normas (art.
77º CPTA). Por último, a reação judicial com base num contrato administrativo deve obedecer aos trâmites
enunciados nos art. 77º-A e 77º-B CPTA. Evidentemente, in casu, o meio adequado seria o pedido de condenação à
prática de ato devido (art. 66º CPTA): os manifestantes pretendem obter a condenação do Presidente da Câmada na
prática da autorização que, nos termos da lei, deve ser adotada. No entanto, como se compreende, o período
temporal em que decorre, em termos normais, a ação administrativa, não se compadece com o caso sub judice. De
facto, a chegada de Robert Mugabe tem data marcada, o que significa que a condenação da Administração à prática
do ato autorizativo num momento posterior a essa data não terá quaisquer efeitos práticos, uma vez que os
manifestantes já não poderão realizar a manifestação por ter passado a data pretendida. Deste modo, prima facie,
parece impor-se a decretação de uma providência cautelar que permita a manifestação na data marcada, de modo a
acautelar o efeito da posterior sentença de condenação. De facto, estão preenchidos os requisitos gerais da tutela
cautelar: há periculum in mora pois é evidente o perigo de inutilidade da sentença derivado do decurso do tempo; há
ainda fumus boni iuris, na medida em que a decisão de recusa da autorização é ilegal; por fim, a medida parece ser
proporcional, já que nada nos alerta para um eventual caráter violento da manifestação. Porém, um problema se
coloca à decretação da providência cautelar: a providência que viesse a ser decretada não seria, de facto, provisória.
Após o momento da manifestação, não haveria qualquer interesse em prosseguir a ação principal, pois a sua
eventual improcedência não teria quaisquer efeitos – a manifestação já havia sido realizada. Ora, a tutela cautelar
visa somente instituir uma regulação provisória de interesses. Consequentemente, a providência cautelar tem
necessariamente de depender de uma ação principal, é um meio puramente instrumental. Isto implica a
reversibilidade do conteúdo da providência: é proibido, nos termos da lei, que no processo cautelar se obtenha um
efeito que corresponda ao provimento antecipado do pedido de mérito em termos irreversíveis. Portanto, não se
permite que os efeitos suscitados pela providência não possam ser revertidos, posteriormente, pela sentença
principal. E é, exatamente, isso que se verifica in casu. Daí que este meio não possa ser o utilizado. Uma vez que o
pedido em causa assume natureza urgente mas impõe uma decisão definitiva há que procurar um processo urgente
que permita satisfazer a pretensão, pois, como referido, os processos urgentes reúnem essas duas caraterísticas. Ora,
no caso sub judice está em causa o exercício de um concreto direito fundamental: o direito de manifestação (art.
45º/2 CRP), e este direito integra o conjunto dos direitos, liberdades e garantias constitucionais. Assim sendo,
estamos concretamente no domínio de um específico processo urgente: a intimação para a proteção de direitos,
liberdades e garantias – arts. 109º a 111º CPTA. Refira-se que a utilização desta ação deve limitar-se às situações em
que esteja em causa direta e imediatament o exercício do próprio direito, liberdade e garantia ou direito de natureza

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análoga. Não deverá ser utilizada, portanto, para a proteção de direitos ou interesses substanciais ou procedimentais
que tenham uma ligação meramente instrumental com os direitos constitucionais. Quanto aos pressupostos de que
depende a mobilização deste expediente, há que atentar no art. 109º CPTA: urgência da decisão; imposição de uma
conduta positiva ou negativa à Administração; insuficiência ou impossibilidade de decretação de uma providência
cautelar. Desde logo, no caso sub judice é evidente a urgência da decisão: se o tribunal não decidir antes da data da
chegada de Robert Mugave, qualquer decisão que venha a ser tomada não acautelará os direitos dos manifestantes.
Depois, a pretensão dos manifestantes dirige-se, exatamente, à imposição de uma conduta positiva: pretendem que
se condene a Administração a conceder a necessária autorização. Por último, como já demonstrámos, não é possível
o recurso À tutela cautelar. Estão, então, preenchidos todos os pressupostos legais. Quanto à legitimidade ativa,
naturalmente que os manifestantes, como titulares do concreto direito fundamental ameaçado, podem submeter o
pedido ao tribunal. Refira-se, quanto à tramitação do processo, que o art. 110º/1 CPTA impõe que o juiz profira um
despacho preliminar dentro de 48 horas. Subsequentemente, o processo poderá decorrer segundo um dos
andamentos previstos na lei: processos simples e de urgência “normal” (art. 110º/1 CPTA); processos complexos e de
urgência “normal” (art. 110º/2 CPTA); processos de especial urgência (art. 110º/3 CPTA). No caso em apreço, devido
à preemência da decisão, talvez fosse avisado seguir esta última tramitação, a qual é especialmente simplificada e
permite a decisão em 48º horas. Deste modo obter-se-ia, efetivamente, a salvaguarda do direitos de manifestação.
2. Tópicos de resolução:
 Identificação do ato lesivo: resolução do contrato – ato administrativo positivo (desfavorável) [a atuação
lesiva da RTP não é o contrato em si, pois esse contrato não é ilegal e é até favorável à Sport TV; é o ato
administrativo pelo qual a RTP resolve o contrato que ofende os direitos da Sport TV];
 Tripla dimensão da tutela judicial efetiva:
 Tutela declarativa/principal – arts. 37º e ss. CPTA;
 Tutela cautelar – arts. 112º e ss. CPTA;
 Tutela executiva – arts. 157º e ss. CPTA.
 Meios processuais principais – estrutura dual:
 Processos não-urgentes: ação administrativa;
 Processos urgentes: ações urgentes.
 Ação administrativa: pedidos genéricos + pedidos especificados:
 Impugnação de atos administrativo + condenação à prática de atos administrativos;
 Impugnação de normas + condenação à prática de normas;
 Impugnação de contratos.
 Processos urgentes:
 Contencioso eleitoral – art. 98º CPTA;
 Contencioso de procedimentos de massa – art. 99 CPTA;
 Contencioso pré-constratual – arts. 100º a 103º-B CPTA;
 Intimação para a prestação de informações – arts. 104º a 108º CPTA;
 Intiminação para a proteção de DLG’s – arts. 109º a 111º CPTA.

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 Aplicação ao caso: nenhum dos processos urgentes tem aplicação » recurso à ação administrativa » pedido
especificado na lei » impugnação de atos administrativos;
 Tutela cautelar:
 Pressupostos gerais:
 Periculum in mora;
 Fumus boni iuirs;
 Ponderação de interesses.
 Caraterísticas: (1) instrumentalidade; (2) provisoriedade; (3) sumariedade;
 Reversibilidade da providência e convolação;
 Aplicação ao caso: impõe-se a tutela cautelar do direito da Sport TV » estão verificados os pressupostos
gerais » a providência é irreversível + não há nenhum processo urgente idóneo » convolação.
Resolução:
O ato lesivo contra o qual a Sport TV pretende reagir é a resolução do contrato por parte da RTP. Estamos aqui em
face de um ato ablatório (ato positivo desfavorável): ato administrativo através do qual uma entidade administrativa
(neste caso, a RTP) retira, suprime ou comprime um direito ao particular (in casu, Sport TV). Detendo a RTP a
faculdade de resolver o contrato celebrado com a Spor TV, o ato de resolução é, portanto, um verdadeiro ato
administrativo, e um ato administrativo de conteúdo positivo, ainda que desfavorável. A reação da Sport TV contra o
ato praticado teria de operar por via jurisdicional, em exercício do direito à proteção judical contra a Administração
Pública que a Lei Fundamental confere a todos os administrados (art. 268º/4 CRP). Esse direito encontra
concretização legal expressão no art. 2º CPTA, o qual consagra o princípio da tutela jurisdicional efetiva. Tanto nos
termos da lei, como nos termos da Constituição, a tutela judicial efetiva é assegurada em três dimensões: tutela
declarativa/principal, tutela cautelar e tutela executiva. No que diz especificamente respeito aos processos principais,
a Reforma de 2015 veio instituir uma estrutura dual: por um lado, todos os processos não-urgentes passaram a
tramitar sob uma única forma de ação – a ação administrativa; por outro lado, só caiem foram do âmbito da ação
administrativa os denominados processos urgentes. No fundo, o atual enquadramento dos processos principais
assenta em duas grandes categorias: a ação administrativa e os processos urgentes. Portanto, todos os processos que
não sejam classificados pela lei como urgentes tramitam sob a forma de ação administrativa. Os processos urgentes a
que nos referimos são: o contencioso eleitoral (art. 98º CPTA); o contencioso de procedimento de massa (art. 99º
CPTA); o contencioso pré-contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA); a intimação para a prestação de informações (arts.
104º a 108º CPTA); a intimação para a proteção de DLG’s (arts. 109º a 111º CPTA). No caso sub judice, não parece ser
possível aplicar qualquer um dos processos urgentes mencionados, pelo que, necessariamente, haverá que mobilizar
a ação administrativa. No âmbito da ação administrativa podem identificar-se, a par dos pedidos genericamente
consagrados no art. 37º/2 CPTA, um conjunto de pedidos que, embora não constituam ações autónomas, são objeto
de regulação especial. Em termos simplistas: a lei prevê certos pedidos que, apesar de seguirem os trâmites gerais da
ação administrativa, impõem ainda a observância de normas que especialmente lhes dizem respeito. Tais pedidos
reportam-se às tradicionais atuações administrativas: atos administrativos, normas e contratos. No que diz respeito
ao ato administrativo, dependendo da circunstância de o ato ser positivo ou negativo, o autor poderá recorrer ao
pedido de impugnação de atos (arts. 50º a 65º CPTA) ou ao pedido de condenação à prática de atos devidos (art. 66º

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a 71º CPTA). Quanto às normas (aqui consideradas em sentido amplo, abrangendo todos os intrumentos jurídicos
gerais e abstratos), também de acordo com o caráter positivo ou negativo da atuação administrativa, poderá
convocar-se o pedido de impugnação de normas (arts. 72º a 76º CPTA) ou o pedido de condenação à prática de
normas (art. 77º CPTA). Por último, também a impugnação de contratos encontra regulação especial, nos arts. 77º-A
e 77º-B CPTA. Do que foi dito logo no início da exposição resulta que o pedido idóneo a satisfazer a pretensão da
Sport TV seria o pedido de impugnação de atos: a entidade autora pretende invocar a invalidade de um ato
administrativo de conteúdo positivo que lhe é desfavorável. Contando que este é um ato administrativo impugnável
(arts. 148º CPA e 51º/1 CPTA), importa perguntar se a Sport TV tem legitimidade ativa para a impugnação.
Naturalmente, no contexto a “ação particular” a Sport TV tem legitimidade ativa como titular de um interesse direto
e pessoal na impugnação (art. 55º/1/a) CPTA). Nessa qualidade, esta entidade disporia do prazo de 3 meses para
submter o respetivo pedido ao tribunal competente (art. 50º/1/b) CPTA). Uma vez que é destinatária direta do ato de
resolução, o prazo referido só inicia a contagem aquando da notificação do referido ato à Sport TV (art. 59º/2 CPTA).
É ainda de referir que a legitimidade passiva recai, evidentemente, sobre a RTP, como pessoa coletiva responsável
pelo ato (art. 10º/2 CPTA). Se esta é a via principal idónea à resolução do caso em apreço, a verdade é que o tempo
normal de demora da sua tramitação implicaria que a sentença que viesse a ser proferida não tivesse efeitos práticos.
De facto, o jogo que a RTP pretende passar em canal aberto, em ofensa aos direitos da Sport TV, tem data marcada.
Consequentemente, uma sentença posterior que venha dar razão à Sport TV não tem utilidade prática, porque o seu
direito havia já sido lesado aquando da transmissão do jogo pela RTP. É para acautelar casos como estes que a
Constituição impõe, como corolário do princípio da tutela jurisdicional efetiva, a consagração legal de procedimentos
cautelares (art. 268º/4 in fine CRP). E, com efeito, como mencionado, a tutela judicial efetiva é assegurada numa
tripla dimensão, sendo uma das suas vertentes, exatamente, a tutela cautelar. Os processos cautelares regulados na
lei visam assegurar a utilidade de uma lide principal, ou seja, procuram obstar a que se produzem certos efeitos,
jurídicos ou de facto, que, por se tornarem irreversíveis, retiram o efeito útil de uma posterior sentença final. Em
virtude desta função, as providências cautelares têm caraterísticas próprias (art. 113º CPTA): instrumentalidade
(dependem, sempre, de uma ação principal); provisoriedade (não procuram a composição definitiva do litígio);
sumariedade (assentam numa cognição sumária da situação de facto e de direito). Para seja possível o recurso à
tutela cautelar, impõe-se a verificação dos pressupostos gerais identificados na lei: periculum in mora (art. 120º/1 1ª
parte CPTA), fumus boni iuris (art. 120º/1 2ª parte CC) e ponderação dos interesses em jogo (art. 120º/2 CPTA). No
caso em apreço, tais requisitos estão, de facto, reunidos: há perigo de que a demora do processo principal implique a
total inoperância da sentença final; há uma probabilidade séria de a Sport TV ter o direito a que se arroga, pois, em
regra, os contratos não podem ser livremente resolvidos; a medida cautelar parece ser proporcional ao objetivo
prosseguido. Apesar de tudo o que foi dito, um obstáculo poderá colocar-se à decretação da providência pelo
tribunal. Como foi já exposto, as providências cautelares caraterizam-se pela provisoriedade, instrumentalidade e
sumariedade. Cada uma destas caraterísticas implica corolários específicos. Em primeiro lugar, se a providência
cautelar é provisória, ela tem em consideração o específico momento em que foi decretada. Tal implicará, por um
lado, uma contingência temporal, e, por outro, a possibilidade de alteração da providência de acordo com os dados
provados na pendência do processo e com a alteração das circunstâncias. Em segundo lugar, a sumariedade da
cognificação implica que não seja exigível ao autor fazer prova aprofundada dos factos, mas tão-só prova

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perfunctória ou sumária. Mais, essa sumariedade, aliada à urgência inerente ao processo, pode determinar a
retardação do contraditório, isto é, pode implicar que o réu não seja ouvido antes da decretação da providência (art.
131º CPTA). Em terceiro lugar, a instrumentalidade implica a reversibilidade da providência. Isto significa que, se a
providência é instrumental, ou seja, dependente de uma ação principal, então o seu conteúdo não pode produzir um
efeito que corresponda ao provimento antecipado do pedido de mérito em termos irreversíveis. Por outras palavras:
a providência decretada não pode criar uma situação irreversível, devendo permitir a anulação dos efeitos
provisórios ou a sua eliminação. Ora, sucede que, in casu, verifica-se exatamente o oposto: se o tribunal decretar
uma providência de suspensão da eficácia do ato de resolução, permitindo à Sport TV transmitir o jogo em regime
per-pay-view, e posteriormente vier a pronunciar-se pela improcedência da ação principal, já não será possível
desfazer os efeitos da providência (porque o jogo já passou, e já foi transmitido). Em princípio, em casos como este,
deveria recorrer-se, em alternativa à ação administrativa, a um processo urgente, porque estamos perante um
pedido que impõe uma resolução simultaneamente urgente e definitiva. Porém, nenhum dos processos urgentes
previstos na lei permitem atender a situações como a que nos ocupa. De modo a obstar a esta situação de impasse, o
legislador institui uma figura importante em matéria cautelar: a “convolação”. Mediante este expediente, permite-se
uma antecipação processual do juízo de fundo, desde que verificados os requisitos legais: existência de um processo
principal já intentado; simplicidade do caso ou urgência da decisão (art. 121º CPTA). Em tais circunstâncias, o juiz
substitui o juízo cautelar por um juízo de mérito, decidindo antecipadamente a causa principal no contexto do
processo cautelar. No caso sub judice, só através deste expediente se obteria a providência necessária para acautelar
os direitos da Sport TV, pois, caso contrário, o pedido seria indeferido pelo juiz, com base na circunstância de a
providência não ser reversível.

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