Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A referida Lei criou Título XII na parte especial do Código Penal, intitulado “Dos Crimes contra o
Estado Democrático de Direito”, trazendo os tipos penais que vão do art. 359-I ao 359-U.
Vale frisar que todos são crimes de competência da Justiça Comum Federal, eis que há evidente
interesse da União na preservação do Estado Democrático de Direito. Ademais, a Doutrina já
sustentava que os crimes previstos na (hoje revogada) Lei de Segurança Nacional configuravam
crimes com motivação política (não necessariamente partidária), ou seja, crimes políticos, de
competência da Justiça Federal (art. 109, IV da CF/88).
CÓDIGO PENAL
Arts. 359-I a 359-T do CP – Tipificam os crimes contra o Estado Democrático de Direito:
TÍTULO XII
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
CAPÍTULO I
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA A SOBERANIA NACIONAL
Art. 359-I. Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o
fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo: (Incluído pela
Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Espionagem
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
(Vigência)
CAPÍTULO II
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
DOS CRIMES CONTRA AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais: (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
CAPÍTULO III
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
DOS CRIMES CONTRA O FUNCIONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES
DEMOCRÁTICAS NO PROCESSO ELEITORAL
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.197,
de 2021) (Vigência)
Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual
ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu
sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional: (Incluído pela Lei nº
14.197, de 2021) (Vigência)
CAPÍTULO IV
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
DOS CRIMES CONTRA O FUNCIONAMENTO DOS SERVIÇOS ESSENCIAIS
CAPÍTULO V
(VETADO)
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES COMUNS
Disposições comuns
Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos
sociais. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
DOS CRIMES CONTRA A SOBERANIA NACIONAL
1 Atentado à soberania
Art. 359-I. Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o
fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo: (Incluído pela
Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Logo, temos aqui um crime doloso, mas não é suficiente o dolo genérico (vontade livre e
consciente de praticar a conduta), sendo necessário o elemento subjetivo específico do tipo, o
dolo específico, consistente na finalidade especial citada anteriormente. Ausente este fim
específico, a conduta não se tipificará como este delito.
Trata-se de crime comum, eis que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Ademais, trata-se de crime formal, eis que a ocorrência do resultado naturalístico (ocorrência dos
atos de guerra ou invasão ao Brasil) não é necessária para a consumação do delito. Uma vez que o
agente pratica a conduta ali descrita com a finalidade citada, o crime já estará consumado, ainda
que o resultado não seja alcançado.
Porém, se em razão da conduta do agente efetivamente é declarada guerra, sua pena será
aumentada da metade até o dobro. Ou seja, não é necessário que seja efetivamente declarada
guerra para que o crime venha a se consumar. Todavia, se isso vier a acontecer, configurará uma
majorante:
Art. 359 (...) § 1º Aumenta-se a pena de metade até o dobro, se declarada guerra
em decorrência das condutas previstas no caput deste artigo. (Incluído pela
Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Art. 359- I (...) § 2º Se o agente participa de operação bélica com o fim de submeter
o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país:
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Trata-se de uma qualificadora, eis que a pena-base é alterada em relação ao tipo penal básico.
Nessa modalidade o agente sai da mera negociação, ou seja, sua participação é mais grave, já que
efetivamente participa dos atos bélicos (atos de guerra) realizados com o fim de abalar a soberania
nacional, submetendo nosso país ao domínio ou soberania de outro país.
Como a pena máxima é maior que 02 anos (tanto na forma simples quanto na forma qualificada),
não se trata de infração de menor potencial ofensivo (não é da competência do JECrim). Como a
pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a suspensão condicional do processo.
O tipo objetivo é “praticar violência ou grave ameaça”, mas é necessário que seja praticada com
o dolo específico, o especial fim de agir, consistente na finalidade de “desmembrar parte do
território nacional para constituir país independente”.
Trata-se, portanto, da conduta daquele que, com intuito separatista, emprega violência ou grave
ameaça para alcançar seu intento.
Logo, temos aqui um crime doloso, mas não é suficiente o dolo genérico (vontade livre e
consciente de praticar a conduta), sendo necessário o elemento subjetivo específico do tipo, o
dolo específico, consistente na finalidade especial citada anteriormente. Ausente este fim
específico, a conduta não se tipificará como este delito.
EXEMPLO: José, Pedro e Ricardo, oriundos de determinada região do país, entendem
que o estado onde nasceram e residem não deve mais continuar fazendo parte do Brasil.
Assim, com violência, invadem a sede do Governo do Estado, alegam que tomaram o
poder e declaram a separação do resto do país.
Trata-se de crime comum, pois o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não se exigindo do agente
qualquer finalidade específica.
Ademais, trata-se de crime formal, eis que a ocorrência do resultado naturalístico (sucesso na
finalidade separatista) não é necessária para a consumação do delito. Uma vez que o agente pratica
a conduta ali descrita com a finalidade citada, o crime já estará consumado, ainda que o resultado
não seja alcançado.
Vale ressaltar que no preceito penal secundário (pena) consta expressamente a previsão de que a
pena será reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, além da pena correspondente à violência.
O que isso significa? Significa que se o crime for praticado apenas com grave ameaça, o agente
responderá somente pelo crime de “atentado à integridade nacional”. Contudo, sendo praticado
o delito mediante violência, o agente receberá cumulativamente a pena referente à violência.
Assim, se da violência empregada, hipoteticamente, resulta a alguém lesão corporal grave, o
agente responderá por atentado à integridade nacional e lesão corporal grave. Apesar de se tratar
de um concurso formal de crimes, o sistema aqui aplicado será o do cúmulo material (chamado
doutrinariamente nesse caso de cúmulo material obrigatório), ou seja, as penas aplicadas em
relação a cada um dos crimes serão somadas.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
3 Espionagem
O núcleo do tipo penal é “entregar”, ou seja, fazer com que o documento ou informação (objetos
materiais do crime) cheguem às mãos do governo estrangeiro, seus agentes ou organização
criminosa estrangeira.
Trata-se de norma penal em branco, eis que é necessário recorrer a outra norma, de caráter
complementar, para que o referido tipo penal possa ser satisfatoriamente aplicável, na medida em
que o tipo menciona “documento ou informação classificados como secretos ou ultrassecretos nos
termos da lei”.
Art. 24. A informação em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o seu
teor e em razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do
Estado, poderá ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.
Todavia, como se vê, a referida lei não estabelece quais informações devam ser rotuladas com
estas classificações. Assim, de forma a regulamentar a Lei 12.527/11, foi editado o decreto
7.845/12, estabelecendo o tratamento conferido a cada um desses documentos (grau de controle,
expedição, acesso, etc.).
Enfim.
A verdade é que apesar de as Lei 12.527/11 e o Decreto 7.845/12 trazerem regulamentações
quanto à classificação dos documentos/informações que necessitem de sigilo, nenhuma dessas
duas normas estabelece quais documentos, exatamente, serão considerados ultrassecretos,
secretos ou reservados, já que tal classificação deve ser realizada in concreto, ou seja, em cada
caso, pela autoridade competente para tal, considerando-se a imprescindibilidade à segurança da
sociedade ou do Estado.
Para complicar ainda mais o tipo penal, a parte final do tipo assim estabelece: “(...) cuja revelação
possa colocar em perigo a preservação da ordem constitucional ou a soberania nacional”.
A primeira delas é: nem todo documento classificado como ultrassecreto ou secreto conterá
informação que, se divulgada, coloque em risco a preservação da ordem constitucional ou a
soberania nacional. Assim, somente aqueles (documentos/informações) que possuam tal potencial
é que configuraram objeto material do referido delito.
A segunda é que aqui temos um crime de perigo abstrato, eis que basta que a divulgação se refira
a documento/informação classificado como ultrassecreto ou secreto e cuja revelação possa colocar
em perigo a preservação da ordem constitucional ou a soberania nacional. Ou seja, não é
necessário que a divulgação chegue, efetivamente, a expor a perigo a ordem constitucional ou a
soberania nacional, bastando que tenha potencial para tanto.
Nada impede, porém, a ocorrência da tentativa, eis que o crime admite fracionamento do iter
criminis, de forma que é possível ao agente iniciar a execução mas não conseguir alcançar a
consumação por circunstâncias alheias à sua vontade (ex.: tentar enviar um e-mail com a
informação sigilosa, mas o e-mail acabar não sendo enviado por questões técnicas).
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
Vale frisar que o §1º do referido art. 359-K do CP traz uma modalidade de “favorecimento pessoal
específico”. Vejamos:
Art. 359-K (...) § 1º Incorre na mesma pena quem presta auxílio a espião,
conhecendo essa circunstância, para subtraí-lo à ação da autoridade pública.
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Trata-se de uma forma equiparada à do caput (eis que prevê que “na mesma pena incorre
quem...”), ou seja, a pena para tal conduta também será de reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos.
Como dito, trata-se de uma modalidade específica do crime de favorecimento pessoal, previsto
no art. 348 do CP:
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que
é cominada pena de reclusão:
Como se vê, no crime de favorecimento pessoal o agente auxilia determinado criminoso a subtrair-
se à ação da autoridade pública (ex.: ajuda um amigo, que praticou crime de roubo, a fugir da
polícia, evitando sua prisão em flagrante).
No crime do art. 359-K, §1º, o agente auxilia alguém que é espião, para subtraí-lo à ação da
autoridade pública.
EXEMPLO: José descobre que seu colega no doutorado, Van Der Ley, nada mais é que
um espião holandês no Brasil, cuja missão é identificar e plagiar a tecnologia nuclear
aqui desenvolvida. Sabendo que Van Der Ley estava sendo procurado pela Polícia
Federal, José permite que o amigo se esconda em sua casa por algumas semanas, até
que consiga fugir para a Holanda.
O §2º do art. 359-K traz, por sua vez, uma forma qualificada, aplicável àquele que pratica a conduta
com violação do dever de sigilo (ex.: agente público que tomou conhecimento do
documento/informação no exercício da função):
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
(Vigência)
Verifica-se que se trata de forma qualificada, eis que a pena-base foi alterada em relação ao tipo
simples, sendo, aqui, mais grave (06 a 15 anos de reclusão).
Vale frisar que se trata de crime próprio neste caso, somente podendo ser praticado pela pessoa
que tenha o específico dever de sigilo em relação ao referido documento/informação.
O §3º do art. 359-K, porém, traz uma forma privilegiada. O que seria isso? Uma forma típica
relacionada com a conduta prevista no caput, mas com pena-base inferior. Vejamos:
Art. 359-K (...) § 3º Facilitar a prática de qualquer dos crimes previstos neste artigo
mediante atribuição, fornecimento ou empréstimo de senha, ou de qualquer outra
forma de acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações:
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Curiosamente, aqui temos também um crime próprio (diferentemente do caput do art. 359-K), mas
que possui pena mais branda (detenção de 01 a 04 anos). Talvez tenha entendido o legislador que
a simples conduta de facilitar a prática das condutas criminalizadas no art. 359-K e seus parágrafos,
mediante atribuição, fornecimento ou empréstimo de senha, ou de qualquer outra forma de acesso
de pessoas não autorizadas a sistemas de informações devesse ser compreendia como uma
conduta acessória em relação à conduta principal (que seria, portanto, mais grave).
EXEMPLO: José e Pedro são amigos de longa data. José sabe que Pedro é funcionário
público do alto escalão do Governo Federal e tem acesso a diversas informações
sigilosas. José, então, solicita a Pedro que lhe empreste seu login e senha para acessar
o sistema de informações. Pedro, mesmo sabendo que existem diversas informações
secretas e ultrassecretas no referido sistema, fornece seu login e senha a José. De posse
da senha de acesso, José entra no sistema, obtém diversos documentos e informações
ultrassecretos e os repassa a agente de Governo estrangeiro, criando risco à soberania
nacional.
Nesse caso, José responderá pelo crime do art. 359-K, caput. Pedro, a seu turno,
responderá pelo crime do art. 359-K, §3º (forma privilegiada).
Vale frisar que, na forma privilegiada, a pena mínima não ultrapassa 01 ano de privação da
liberdade, logo, será cabível a suspensão condicional do processo.
Por fim, mas não menos importante, temos a previsão do §4º do art. 359-K do CP:
Tal dispositivo estabelece que não irá configurar crime a conduta de dar publicidade ao
documento/informação quando a conduta for praticada com o fim de expor a prática de crime ou
a violação de direitos humanos.
Não há consenso sobre a natureza de tal previsão, podendo ser interpretada como causa de
exclusão da tipicidade (o que seria mais adequado) ou causa de exclusão da ilicitude.
CÓDIGO PENAL
TÍTULO XII
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
CAPÍTULO I
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA A SOBERANIA NACIONAL
Art. 359-I. Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o
fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo: (Incluído pela
Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Espionagem
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
(Vigência)
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais: (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Violência; ou
Grave ameaça
Não é necessário que o agente consiga abolir o Estado Democrático de Direito, até porque, se
viesse a alcançar seu intento, provavelmente a ordem estabelecida e a legislação até então vigente
de nada serviriam.
Vale ressaltar que no preceito penal secundário (pena) consta expressamente a previsão de que a
pena será imposta ao agente além da pena correspondente à violência.
O que isso significa? Significa que se o crime for praticado apenas com grave ameaça, o agente
responderá somente pelo crime de “Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.
Contudo, sendo praticado o delito mediante violência, o agente receberá cumulativamente a pena
referente à violência. Assim, se da violência empregada, hipoteticamente, resulta a alguém lesão
corporal grave, o agente responderá por abolição violenta do Estado Democrático de Direito e
lesão corporal grave. Apesar de se tratar de um concurso formal de crimes, o sistema aqui aplicado
será o do cúmulo material (chamado doutrinariamente nesse caso de cúmulo material obrigatório),
ou seja, as penas aplicadas em relação a cada um dos crimes serão somadas.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
2 Golpe de Estado
Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo
legitimamente constituído: (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Igualmente em relação ao que ocorre no crime do art. 359-L, aqui o tipo penal começa com o
verbo “tentar”. A redação poderia ser substituída por “empregar violência ou grave ameaça, com
o fim de depor o governo legalmente constituído”.
Trata-se de crime muito semelhante ao previsto no art. 359-L. Naturalmente, devemos buscar
identificar as diferenças entre eles, na medida em que o legislador não criaria tipos penais
idênticos. Parece-nos que o crime em questão (Golpe de Estado) não necessariamente busca abolir
o Estado Democrático de Direito, ou seja, a intenção do agente não é acabar com as Instituições
democráticas e criar uma nova ordem mas, tão-somente, depor o Governo (e, naturalmente, isso
se aplicaria ao Poder Executivo) legitimamente constituído, a fim de que outro, ilegítimo, assuma
o poder.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Vale ressaltar que no preceito penal secundário (pena) consta expressamente a previsão de que a
pena será imposta ao agente além da pena correspondente à violência.
O que isso significa? Significa que se o crime for praticado apenas com grave ameaça, o agente
responderá somente pelo crime de “Golpe de Estado”. Contudo, sendo praticado o delito
mediante violência, o agente receberá cumulativamente a pena referente à violência. Assim, se da
violência empregada, hipoteticamente, resulta a alguém lesão corporal grave, o agente responderá
por golpe de Estado e lesão corporal grave. Apesar de se tratar de um concurso formal de crimes,
o sistema aqui aplicado será o do cúmulo material (chamado doutrinariamente nesse caso de
cúmulo material obrigatório), ou seja, as penas aplicadas em relação a cada um dos crimes serão
somadas.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
CÓDIGO PENAL
TÍTULO XII
CAPÍTULO II
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais: (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo
legitimamente constituído: (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.197,
de 2021) (Vigência)
A conduta aqui tipificada é a de impedir (de fato, conseguir fazer com que o ato não se realize) ou
perturbar (atrapalhar, prejudicar a perfeita realização, estorvar) a eleição ou a aferição de seu
resultado, mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema eletrônico de
votação estabelecido pela Justiça Eleitoral (urna eletrônica, sistema eletrônico de transmissão e
apuração, etc.).
O elemento subjetivo é o dolo. Não se exige finalidade especial de agir, bastando que o agente
tenha o dolo genérico, a vontade livre e consciente de violar indevidamente o mecanismo de
segurança, gerando o impedimento ou a perturbação da eleição ou do processo de apuração dos
votos. Pouco importa se o agente o faz para beneficiar/prejudicar algum candidato ou pelo simples
prazer de ser um estorvo.
EXEMPLO: José, cidadão publicamente contra o sistema de votação por urna eletrônica,
decide perturbar o processo de apuração do resultado da eleição. Para tanto, invade o
sistema da Justiça Eleitoral e provoca uma pane no sistema, causando um retardamento
na apuração, que foi retomada 12 horas depois.
Apenas a título de contextualização (e fui servidor da Justiça Eleitoral por 02 anos), a urna eletrônica
não está ligada de nenhuma forma à internet. No dia da eleição, antes de começar a votação, na
presença dos fiscais de partido, é impressa a chamada “zerésima”, que é um boletim que
comprova que há na urna ZERO votos para todos os candidatos. Ao final da votação, também na
presença dos fiscais de partido, é impresso o boletim de urna, que é um documento, impresso no
mesmo formato da zerésima, mas indicando quantos votos cada candidato teve NAQUELA urna,
que representa a respectiva seção eleitoral (esses documentos ficam depois disponíveis para
consulta na Zona Eleitoral).
A urna, então, é transportada (sob escolta policial) até a sede da Justiça Eleitoral no município. Lá,
o servidor responsável (na presença dos fiscais de partido...) insere um disquete na urna e copia os
dados da votação. Após, transfere os dados do disquete para o TSE, em Brasília. Caso haja alguma
adulteração nos dados da votação nesse caminho (entre a Zona Eleitoral e o TSE), será possível
comparar com os dados contidos no boletim de urna impresso ao final da votação.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
2 Violência política
Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual
ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu
sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional: (Incluído pela Lei nº
14.197, de 2021) (Vigência)
A conduta aqui tipificada é a daquele que, mediante violência física, sexual ou psicológica,
restringe (impede parcialmente), impede (retira totalmente) ou dificulta (cria obstáculos indevidos)
o exercício dos direitos políticos a qualquer pessoa, em razão de sexo, cor, raça, etnia, religião ou
procedência nacional (sendo esta a motivação do crime).
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O elemento subjetivo é o
dolo, não havendo forma culposa.
EXEMPLO: José um conhecido político de determinada cidade, dificulta que Maria, uma
das filiadas do partido, venha a ser candidata a vereadora na eleição do ano seguinte,
pois Maria é mulher e conhecidamente defensora da causa feminista, o que causa
repulsa em José. Para tanto, não só age nos bastidores, mas também exerce violência
psicológica sobre a vítima, alegando que irá infernizar a vida de Maria e fará de tudo
para que ela seja expulsa do partido.
Vale ressaltar que no preceito penal secundário (pena) consta expressamente a previsão de que a
pena será imposta ao agente além da pena correspondente à violência.
O que isso significa? Significa que se o crime for praticado mediante violência (real), o agente
receberá cumulativamente a pena referente à violência. Assim, se da violência empregada,
hipoteticamente, resulta à vítima lesão corporal grave, o agente responderá por golpe de Estado
e lesão corporal grave. Apesar de se tratar de um concurso formal de crimes, o sistema aqui
aplicado será o do cúmulo material (chamado doutrinariamente nesse caso de cúmulo material
obrigatório), ou seja, as penas aplicadas em relação a cada um dos crimes serão somadas.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
CÓDIGO PENAL
TÍTULO XII
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021)
CAPÍTULO III
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.197,
de 2021) (Vigência)
Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual
ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu
sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional: (Incluído pela Lei nº
14.197, de 2021) (Vigência)
1 Sabotagem
A conduta aqui tipificada é a de destruir (provocação danificação total) ou inutilizar (tornar inútil,
ainda que sem destruição física) meios de comunicação ao público, estabelecimentos, instalações
ou serviços destinados à defesa nacional, com o fim de abolir o Estado Democrático de Direito.
Trata-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. Não se exige, portanto,
nenhuma qualidade especial do sujeito ativo.
Como a pena máxima é maior que 02 anos, não se trata de infração de menor potencial ofensivo
(não é da competência do JECrim). Como a pena mínima é superior a 01 ano, não se admite a
suspensão condicional do processo.
DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES
CÓDIGO PENAL
TÍTULO XII
CAPÍTULO IV
Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos
sociais. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
Trata-se de um artigo que não tipifica crimes, sendo uma norma de caráter interpretativo. Com o
fim de evitar que condutas legítimas viessem a ser tipificadas como crimes contra o Estado
Democrático de Direito, andou bem o legislador ao estabelecer que não constituem crime:
Assim, sair à rua com um cartaz “Impeachment dos ministros do STF – Chega dessa vergonha” não
configura crime. Invadir o STF para, mediante violência ou ameaça, derrubar os ministros, sim (art.
359-L do CP).
CÓDIGO PENAL
Art. 359-T do CP – Tipifica as Disposições comuns dos crimes contra o Estado Democrático de
Direito:
TÍTULO XII
CAPÍTULO VI
(Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)
DISPOSIÇÕES COMUNS
Disposições comuns
Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos
sociais. (Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência)