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domingo, 21 de janeiro de 2018

Noções de Estabilidade de Embarcações Náuticas


Imaginem um navio de carga chegando ao porto com vários contêineres. Como flutua um monte de aço carregado com um monte de aço? E se
durante a navegação, forças alheias (vento, ondas, deslocamento de carga) atuarem, o que fazer para o navio não emborcar ou adernar?

Entra em cena a Engenharia Naval. Estabilidade, flutuabilidade, carena, empuxo, altura metacêntrica...... Cada nome, não? Mas é um
assunto muito interessante. Aqui, tratarei de forma básica a estabilidade de navios, apenas para entendermos os conceitos envolvidos neste
assunto.

Primeiramente, vamos estudar alguns conceitos.

Estabilidade: é a propriedade que tem o navio de retornar à sua posição inicial de equilíbrio, depois que a força perturbadora cessou fazendo
com que o navio se afastasse da sua posição inicial. Como exemplo de forças perturbadoras, cita-se a ulagem (espaço vazio que falta para
completar o tanque reservatório) que pode provocar balanços; um navio rebocador puxando o navio para um dos bordos; a movimentação de
pesos por guindastes; paus de carga; entre
outras. Pode-se estudar a estabilidade sob diversos aspectos, como a Estabilidade Transversal que estuda o comportamento do navio no
sentido transversal (de bordo a bordo); a Estabilidade Longitudinal que estuda o seu comportamento longitudinal, isto é, no sentido de proa a
popa; a Estabilidade Transversal Estática estuda as forças que afastam o navio da posição inicial e a Estabilidade Transversal Dinâmica
estuda a estabilidade sob os efeitos das vagas e influências externas. Esta última, considera-se o trabalho necessário para levar o navio
a uma determinada inclinação.

Fig. 1: Lados de uma embarcação

Flutuabilidade: é a propriedade de um corpo de permanecer na superfície da água. A flutuabilidade vai depender da igualdade entre o
peso do corpo e o empuxo do líquido, que é o produto do volume deslocado pelo peso específico do líquido. O Plano de Flutuação é o plano
horizontal longitudinal ao casco, limitado pelo contorno do chapeamento da embarcação e pelas águas em que ele flutua. O volume que estiver
acima do plano de flutuação é chamado de reserva de flutuabilidade.
Fig. 2: Reserva de Flutuabilidade, Carena e Plano de Flutuação

Carena: é a parte molhada abaixo do plano de flutuação, ou seja, é o volume submerso até o plano de flutuação. De acordo com o princípio
de Arquimedes, para que a embarcação flutue é preciso haver o equilíbrio entre as forças peso e empuxo ou peso do navio e o ponto resultante
de impulsão que atua sobre o caso, chamado de Centro de Carena ou Centro de Empuxo.

Momento de força binário: Seja um binário, de duas forças iguais, paralelas e de sentidos opostos. O momento desse binário é igual ao
produto de uma das forças pela menor distância entre elas.

Chegamos aos Pontos Notáveis. Estes pontos são Centro de Gravidade (G), Metacentro (M), Centro de Carena (B) e Quilha (K). São estes
pontos que precisam de harmonia entre si para garantir a estabilidade da embarcação. Vamos ver cada um.

1) Centro de Gravidade (G): é o ponto de aplicação da resultante das forças gravitacionais ou podemos assumir como sendo um ponto da
concentração da massa de um corpo. Nas embarcações, o centro de gravidade estará posicionado no plano diametral, que é o plano
vertical longitudinal de simetria do casco.

2) Metacentro (M): é o ponto de cruzamento entre uma linha imaginária traçada verticalmente, atravessando o centro de flutuação de uma
embarcação, quando esta está em meio líquido, e uma linha correspondente ao novo centro de flutuação quando a embarcação estiver
inclinada. Para que a embarcação não aderne até afundar, o metacentro não pode se deslocar para baixo do centro de gravidade.
3) Centro de Carena (B): já lemos sobre ele. É o volume imerso e está abaixo do plano de flutuação. A partir deste centro aplica-se a
força de empuxo. Também podemos considerar que éo ponto geométrico das obras vivas. A região do casco que fica submersa é chamada de
Obras Vivas.

4) Quilha (K): é uma peça longitudinal que fecha inferiormente a ossada do navio ou embarcação. Sobre ela assentam-se as
demais estruturas do navio e contribui para a resistência longitudinal do casco. Considera-se a espinha dorsal da embarcação. É o ponto de
referência da linha de base a partir do ponto de referência na própria quilha. Serve de referência para todas as outras medições.

Fig. 3: Pontos Notáveis de estabilidade do navio

Agora podemos estudar os estados de equilíbrio dos navios. São três as condições de equilíbrio.
- Equilíbrio Estável: quando inclinado ou em banda, o navio retorna à mesma posição que estava antes de se inclinar, após cessar a força
que originou a inclinação. Isto é possível porque a força de empuxo é a maior força do conjunto de equilíbrio. Lembram-se do boneco “João
Teimoso”? É este caso.

- Equilíbrio Neutro ou Indiferente: quando inclinado, o navio retorna para qualquer posição. Na linguagem náutica, diz-se que o navio
adormeceu naquela posição. Isto é possível porque as forças se anulam.

- Equilíbrio Instável: quando inclinado, o navio emborcará porque há uma força maior do que a força de empuxo. Lembram-se do metacentro?
Este equilíbrio ocorre quando o metacentro está deslocado abaixo do centro de gravidade.
Os equilíbrios neutro e instável são indesejados em qualquer tipo de embarcação. A equipe responsável pela estabilidade da embarcação
deve atuar para evitar que tais situações possam ocorrer.

Vamos analisar cada caso de equilíbrio graficamente.

No equilíbrio estável o navio ao adernar volta à sua posição normal de equilíbrio. Quando o navio adquiriu banda, forma-se o binário de
forças. Percebam que o ponto metacentro está acima do centro de gravidade. Assim, é possível verificar que a força de empuxo força, para
cima, o lado em banda para retornar à posição normal enquanto o centro de gravidade faz o outro bordo tender para baixo.
Fig. 4: Equilíbrio Estável

Já no equilíbrio indiferente, o navio estará em equilíbrio seja qual for a sua posição. O ponto metacentro está no mesmo ponto do centro de
gravidade. Desta forma, mesmo o navio com banda, não há binário de forças uma vez que o centro de carena está no mesmo vetor vertical que
o metacentro que por sua vez tem a mesma cota que o centro de gravidade. Daí as forças de empuxo e da gravidade se anulam pois continuam
atuando na mesma vertical, podendo ocorrer com qualquer banda. Não há tendência de o navio retornar à posição de origem.
Fig. 5: Equilíbrio Neutro ou Indiferente

Por fim, o equilíbrio instável ocorre quando ao adquirir banda, surge o binário de forças com efeito inverso ao exercido no navio na
condição de equilíbrio estável, ou seja, sua tendência é fazer o navio adquirir maior banda. O navio vai se inclinando para um dos bordos,
neste caso à direita, sentido B´, conforme for adernando. Se a distância entre o centro de gravidade (G) e o metacentro (M) – esta
distância chama-se Altura Metacêntrica Negativa – for pequena, a projeção do centro de carena B’ alcançará a vertical que passa pelo
centro de gravidade (G), e o navio entrará, neste instante, em equilíbrio indiferente. Porém, se a altura metacêntrica negativa for muito
grande, a projeção do centro de carena B’ não poderá alcançar a vertical que passa pelo centro de gravidade G e o navio continuará a
adernar, uma vez que as forças em estudo são maiores do que a força de empuxo e o navio entra na banda permanente por
altura metacêntrica (GM) negativa. Não tem volta, o navio vai adernar.
Fig. 6: Equilíbrio Instável

Muito interessante, não é? A responsabilidade da equipe de estabilidade de uma embarcação é muito grande. A equipe precisa ficar atenta
para transferência de lastros, transferência de cargas, movimentações de carga, utilização de guindastes, abastecimento de
combustível ou outros produtos, offloading de fluidos, entre outros.

É isso. Espero que tenham gostado do texto. Tudo de bom a todos.

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