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DROGA: a necessidade de um debate rigoroso

O problema da toxicodependência é complexo, não está resolvido e deve ser discutido


por todos. O debate sobre a legalização é útil na procura de novas soluções, mas é preciso
esclarecer o que se está a debater:
- Liberalização total do consumo ou regulamentação do consumo de todas ou apenas algumas
drogas;
- Liberalização total do tráfego ou regulamentação do tráfego de todas ou apenas algumas
drogas.
Conhecem-se os argumentos favoráveis à liberalização do tráfego das drogas
(diminuição do número de consumidores por desinteresse dos traficantes; diminuição da
criminalidade pelo fornecimento, a baixo preço, das drogas; diminuição das ‘overdoses’ por
controlo da qualidade do produto) e conhecem-se, também, os argumentos favoráveis à proibição
do tráfico (aumento do número de consumidores pela facilidade de aquisição; criação de novos
mercados negros se a liberalização não for total; penetração em camadas mais vulneráveis,
como os menores e doentes mentais, se a liberalização for tal; aumento das “overdoses” pela
incapacidade de controlo das doses usadas pelos toxicodependentes).
Mas não e verdade que as drogas sejam inofensivas.
Numa concepção biopsicossocial da saúde, as drogas, mesmo quando não tem efeitos
físicos notórios, causam perturbações psicossociais importantes.
Assim:
a) O haxixe provoca perturbações do humor; desinibição; alterações da noção do tempo e do
espaço; alucinações (doses elevadas); dependência psicológica. E, no seu uso crónico,
diminuição da memoria; diminuição da motivação para a vida, tornando-se, no caso da
população juvenil, por exemplo, incompatível com uma actividade escolar permanente.
b) A cocaína provoca euforia com excitação física, intelectual e sexual, seguidas duma
quebra rápida do efeito, o que leva a consumos frequentes e rápidos do efeito, o que leva a
consumos frequentes e repetidos; dependência psicológica; enfarte do miocárdio; arritmias
cardíacas. E, no seu uso crónico, distúrbios mentais de tipo alucinatório (psicoses) ou tipo
depressivo (com riscos de suicídio); desinteresse pela vida; emagrecimento grave.
c) A heroína provoca um estado de bem-estar, sem dor nem ansiedade, afastamento do real
– “tudo esta perfeito “ – a nível pessoal e racional; e verdadeira analgesia psicológica;
dependência física e psicológica (sendo esta manifestamente a mais importante). E, no seu uso
crónico, emagrecimento acentuado; incúria; alterações intelectuais; degradação intensiva da vida
afectiva e racional.
É errado falar em doses terapêuticas de droga. Não há dose terapêutica de haxixe, nem a
cocaína. A heroína já usada com analgésico (alivio da dor), mas nessa dose não tem os efeitos
que os toxicodependentes procuram. A cocaína e a heroína caracterizam-se por um mercado
efeito de tolerância, isto é, para o consumidor atingir o efeito torna-se necessário ir aumentando
as doses utilizadas.
É errado comparar a heroína, a cocaína e o haxixe com o chá, o tabaco e o café, porque,
embora estas substâncias possam ser nocivas á saúde, não tem característica essencial das
“drogas” que é tornarem-se o centro da vida das pessoas.
Neste contexto, e baseados nas declarações tal e qual vieram a público, consideramos
inadmissível que uma pessoa se valha dos seus cargos universitários e impacto na opinião
pública para pretensamente abalizar como cientificas afirmações reconhecidamente erradas do
ponto de vista médico e farmacológico .
Não percebemos que um professor em psiquiatria e psicanalista analise um fenómeno
como a toxicodependência, que tem contornos psicossociais, pensando apenas e erradamente nos
efeitos físicos das drogas.
Pensando ainda que uma pessoa com as responsabilidades sociais, culturais e politicas
do professor (…), ao exprimir-se publicamente da forma incorrecta como o tem feito, contribui
perigosamente para o convite aos consumo de substancias tóxicas por parte dos jovens que tem a
infelicidade acreditar nele.
Tendo em conta o atrás referido, os signatários são favoráveis ao debate sobre a
liberalização das drogas, ainda que tendo posições diversas sobre o assunto, mas exigem que esse
debate seja sério, rigoroso e aprofundado

Questionário
Grupo I
1. Uma leitura atenta dos parágrafos 13, 14 e 15 leva-nos a compreender que o texto “Droga: A
necessidade de um debate rigoroso aprofundado” pretende refutar ideias veiculadas num texto
publicado no mesmo jornal e da autoria de “um professor em psiquiatria e psicanalista”.
a) Confirme esta afirmação com passagens do texto.
b) Com base na resposta que deste em a), procure sintetizar as ideias que terão sido defendidas
pelo referido professores.
2. No texto, para além de refutar as ideias do “professor”, os signatários defendem uma tese
principal: “O problema da toxidependência (…) discutidos por todos”, a partir do esclarecimento
de alguns conceitos básicos.
a) Explique esses conceitos básicos.
b) Que acções implicam os conceitos referidos em a)?
c) Identifique os argumentos favoráveis a cada uma das acções.
3. Os signatários formulam, ao longo do texto, 3 teses secundárias para as quais apresentam
argumentos, mas que constituem, ao mesmo tempo, contra-argumentos à tese defendida pelo
“professore” já referido.
a) Identifique as três teses secundárias.
b) Explique de que modo consistem contra-argumentos da tese defendida pelo “professor”.
4. Identifique as críticas explícitas e implícitas aos pontos de vista do “professor”.
5. Divida o texto em partes e identifica o objectivo de cada uma delas, considerando que se trata
de um texto expositivo-argumentativo.

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