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Critérios 2.º Teste Parcelar - Direito Administrativo (29 de


abril 2021)
Direito Administrativo I (Universidade do Minho)

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2.º EXAME PARCELAR – DIREITO ADMINISTRATIVO (PÓS-LABORAL)


Docentes: Isabel Celeste M. Fonseca/ João Vilas Boas Pinto
29.04.2021 | Duração: 1h30

GRUPO I
[vale 5v.]
Comente a seguinte afirmação:
“A vinculação da Administração à juridicidade assegura que o poder discricionário seja um
espaço de conformação jurídica”.

GRUPO II
[vale 15 v.]
Considere a seguinte hipótese:
Merlin apresentou um requerimento dirigido ao Presidente da Câmara Municipal de Braga,
solicitando que lhe fosse concedida licença para a prática de campismo ocasional, para o
período compreendido entre os dias 29/03/2021 a 05/04/2021 (férias da Páscoa), tendo para o
efeito procedido à junção de todos os elementos necessários para a tomada de decisão,
designadamente, planta de localização e planta de cadastro do acampamento ocasional;
identificação das infraestruturas de apoio; autorização expressa do proprietário do prédio;
identificação do número de participantes e do número de tendas; indicação da duração do
acampamento temporário.
O pedido foi deferido pelo Presidente da Câmara a 12/03/2021, mediante parecer prévio
favorável da autoridade de saúde e da autoridade policial competente.
A 25/03/2021, Merlin foi notificado de um novo despacho do Presidente da Câmara, com o
seguinte teor: “Por razões de interesse público, designadamente por razões de proteção da
saúde, atinentes à evolução da situação pandémica no concelho de Braga, altero, em sentido
contrário, a minha decisão de 12/03/2021”. Inconformado com a decisão, Merlin pretende reagir
contra esse despacho, invocando o seguinte:
a. Não lhe foi dada a oportunidade de se defender, em momento anterior à decisão;
b. O despacho vem assinado pelo Presidente da Câmara, mas este não faz menção de que
está a exercer uma competência delegada, uma vez que a competência para a prática daquele
ato é da Câmara Municipal.
c. Tendo sido concedidas licenças a outras pessoas em condições semelhantes, tem
conhecimento de que, ao contrário da sua, tais licenças não foram revertidas.
d. Para além disso, já pagou as taxas devidas.

1. A partir da hipótese apresentada, refira-se ao procedimento administrativo previsto,


destacando as suas formalidades procedimentais. [4 v.]

2. Qualifique o despacho do Presidente da Câmara de 25/03/2021 e diga se se verificam


os requisitos legais aplicáveis. [4 v.]

3. Localize na estrutura do ato administrativo os vícios que lhe são imputados e faça-
lhes corresponder as respetivas consequências jurídicas. E diga de que garantias
administrativas pode lançar mão e quais os efeitos que delas pode esperar. [7 v.]

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CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

GRUPO I
A resposta deve integrar os seguintes elementos:
- princípio da juridicidade como princípio geral do direito administrativo (e a vinculação de toda a
atividade administrativa aos princípios gerais da atividade administrativa – cfr. art. 2.º CPA).
- Distinção entre ato vinculado e ato discricionário.
- A discricionariedade como concessão do legislador à Administração, sendo, portanto, um espaço
de decisão da responsabilidade da Administração, conferida por lei e decorrente de uma
indeterminação desta.
- Técnicas de atribuição da discricionariedade.
- A Discricionariedade Administrativa é uma atividade material e funcionalmente jurídica. Como tal,
significa que existe uma repartição de competências ordenada pelo legislador entre a Administração
e o Juiz, entendida como distribuição de tarefas (de "funções organizacionais") por dois poderes
estaduais: a autoria dos atos e a inerente responsabilidade pela prossecução do interesse público
cabem à Administração; a fiscalização da conformidade ou compatibilidade dessa atuação
administrativa com as normas legais e os princípios jurídicos compete aos tribunais.
- Metodologia do controlo jurisdicional da discricionariedade administrativa: O Tribunal não pode
reapreciar o ato da Administração para o substituir por outro (art. 3.º CPTA). O controle é atenuado
e não sendo nunca um reexame. Tal controlo incide sobre: desvio de poder; violação ostensiva de
princípios jurídicos; erro de facto; erro manifesto de apreciação; falta de fundamentação. Pleno
controlo dos momentos vinculados.

GRUPO II

As respostas devem integrar os seguintes elementos:

1.
- Definição de procedimento administrativo (art. 1.º, n.º1 CPA).
- As fases do procedimento – fase preparatória; fase constitutiva; fase integrativa da eficácia;
- Articulação com o caso concreto (um procedimento de 1.º grau e um procedimento de 2.º grau).
FASE PREPARATÓRIA:
a. INICIATIVA – Quanto ao primeiro, procedimento de iniciativa particular (mediante
apresentação de requerimento- “Merlin apresentou requerimento”) - 53.º CPA.
Elementos do requerimento inicial – 102.º e ss’ CPA. Sujeitos da relação jurídica
procedimental (65.º CPA) e legitimidade procedimental (68.º CPA).
Regra da necessidade de notificação do início do procedimento às pessoas cujos direitos
ou interesses legalmente protegidos possam ser lesados pelos atos a praticar – 110.º, n.º1
CPA.
Quanto ao segundo, procedimento de iniciativa administrativa (53.º CPA + 165.º, n.º1 + 169.º
CPA) (a desenvolver na questão seguinte).
b. INSTRUÇÃO - Subfase onde vinga o princípio do inquisitório – 58.º e 115.º CPA.
Nesta subfase:
b.1. há lugar a diligências probatórias (regime: artigos 115.º a 120.º CPA). No caso concreto,
a junção de todos os elementos necessários para a tomada de decisão, designadamente,
planta de localização e planta de cadastro do acampamento ocasional; identificação das
infraestruturas de apoio; autorização expressa do proprietário do prédio; identificação do
número de participantes e do número de tendas; indicação da duração do acampamento
temporário.
b.2. diligências consultivas: onde se incluem os pareceres exigidos. No caso: parecer da
autoridade de saúde e da autoridade policial competente.
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Regime dos pareceres: 91.º e 92.º CPA (regra: obrigatórios e não vinculativos). No caso
concreto: foram solicitados, emitidos com conteúdo favorável e a decisão final foi no mesmo
sentido.
c. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS - corolário do princípio da colaboração com os
particulares (ARTIGOS 267.º, n.º 5 CRP). A regra é a de que a audiência prévia é obrigatória
quando a decisão da AP seja em sentido desfavorável ao interessado – 121.º CPA. Há, no
entanto, exceções, isto é, situações em que o responsável pela direção do procedimento possa
dispensar a audiência dos interessados - cfr. 124.º CPA. Problematização da sua aplicação (ou
não) ao procedimento primário e ao procedimento secundário.

FASE CONSTITUTIVA – produção do ato principal do procedimento. No caso concreto, no


procedimento primário: ato de deferimento da licença para a prática de campismo ocasional e, no
procedimento secundário, o ato de revogação da licença.

FASE INTEGRATIVA DA EFICÁCIA – regra: 155.º, n.º1 (atos não receptícios). Exceção
(necessidade de notificação) – vd. artigos 114.º, n.º1 + 160.º CPA.
No caso concreto, era necessária notificação do ato que concede a licença (cfr. 114.º, n.º1, al. a),
assim como era devida a notificação do ato que a revoga (cfr. 114.º, n.º 1, al. c) e 160.º CPA). > o
prazo regra: 5 dias, cfr. 114.º., n.º 5 CPA.

2.
- Distinção entre anulação (Ato administrativo de 2.º grau, tendo por alvo os efeitos de um ato
administrativo anterior, determinando a cessação desses efeitos por razões de invalidade - 165.º,
n.º 2 CPA) e revogação (Ato administrativo de 2.º grau, tendo por alvo os efeitos de um ato
administrativo anterior, determinando a cessação desses efeitos por razões de mérito,
conveniência ou oportunidade - 165.º, n.º 1 CPA).
- Qualificação do despacho do Presidente da Câmara como ato de revogação (“Por razões de
interesse público”)
- Verificação dos condicionalismos aplicáveis:
i) Regra da revogabilidade dos atos administrativos, exceto nas situações previstas no art. 166.º
CPA ou quando a sua irrevogabilidade resulte de vinculação legal ou quando deles resulte para
a Administração obrigações legais ou direitos irrenunciáveis (167.º, n.º 2). De acordo com os
dados fornecidos, não se aplica esta exceção, pelo que continua a vigorar a regra da
revogabilidade.
ii) Competência e iniciativa para a revogação: em particular, cfr. 169.º, n.º 4 (uma vez que existe
delegação da competência da CM no PCM). Assim, enquanto vigorar a delegação, o PCM pode
revogar o ato que havia praticado ao abrigo daquela delegação de poderes).
iii) O ato de 12/03/2021 como ato constitutivo de direitos, nos termos do 167.º, n.º3, pelo que
só poderia haver lugar a revogação nos termos do 167.º, n.º2, em particular, com fundamento
na alínea c) (superveniência de conhecimentos técnicos e científicos ou alteração objetiva das
circunstâncias de facto). Problematização. Concluindo-se pela positiva: verificação do
condicionalismo legal aplicável à revogação. Prazo (167.º, n.º 4).
iv) Havendo lugar à revogação: produção de efeitos para o futuro (regra) – 171.º, n.º 1, 1.ª parte
CPA. Exceção: 171.º, n.º 1, 2.ª parte. No caso concreto, teria de haver lugar à devolução das
taxas pagas.
Ainda, problematização da possibilidade de indemnização pelo sacrifício, nos termos do artigo
167.º, n.º 5 e 6.

3.
- Conceito de ato administrativo (148.º CPA).
- O ato que se pretende impugnar é o ato de revogação (ato secundário).
- Princípio do paralelismo das formas (170.º, n.º1 CPA) e da observância na revogação das
formalidades exigidas para a prática dos ato revogado que se mostrem indispensáveis à garantia
do interesse pública ou dos direitos e interesses legalmente protegidos dos interessados (170.º, n.º
3 CPA).
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PARTE I.
AL. A) QUANTO AO ARGUMENTO DE PRETERIÇÃO DE AUDIÊNCIA PRÉVIA:
- Regra geral: obrigatoriedade sempre que a decisão da AP seja em sentido desfavorável ao
interessado (121.º, n.º 1 + 124.º, n.º1, al. f) a contrario CPA) – aplicável mesmo a ato secundário
(no caso, a revogação) – cfr. 170.º, n.º3 CPA. Exceção: dispensa de audiência dos interessados
nas situações do artigo 124.º, n.º1 CPA, tendo a mesma de ser fundamentada (n.º2).
- Inexistindo fundamento para a dispensa > vício formal por preterição de uma formalidade >
consequência jurídica: ANULABILIDADE (regime regra – 163.º CPA) ou NULIDADE (por referência
ao art. 161.º, n.º 2, al. d). Discussão, tomada de posição fundamentada.

AL B.)
- Admitindo-se que a delegação de competências é válida, a falta de menção não é geradora de
invalidade, mas apenas de mera irregularidade, cfr. 48.º, n.º 2 CPA.
- Fator extra de valorização: se se admitir que não houve delegação de competências válida e
eficaz > vício orgânico (incompetência relativa) > anulabilidade (163.º CPA).

AL C.)
- Referência ao princípio da igualdade (art. 13.º CRP + 6.º CPA)
- A violação do princípio da igualdade > vício material gerador de nulidade só se se verificar ofensa
do conteúdo essencial de direito fundamental, cfr. 161.º, n,º2, al. d) (maxime, verificação de fatores
ilegítimos de tratamento discriminatório); ou vício material por violação de princípios jurídicos,
gerador de anulabilidade, nos termos do 163.º CPA. Discussão, tomada de posição fundamentada.
AL. D)
Não se trata de uma questão de invalidade. (Remissão para a questão anterior).

EM CONCLUSÃO: o ATO É ANULÁVEL (ou nulo, para quem o considerou como tal, desde que
devidamente fundamentado)
- regime da anulabilidade (163.º, nº2 CPA). (ou regime da nulidade, para quem considerou ato nulo)
- Sendo anulável, em particular: Referência e problematização da não produção do efeito anulatório,
por aplicação do artigo 163.º, n.º 5 CPA.

PARTE II - QUANTO ÀS GARANTIAS ADMINISTRATIVAS:


- Conceito de garantias administrativas impugnatórias.
- Distinção entre reclamação (191.º CPA) e recursos (193.º e 199.º CPA).
- No caso concreto, pretende-se impugnar um ato administrativo (o ato revogatório da
licença), solicitando a sua anulação (ou declaração de nulidade, no caso de ter considerado ato
nulo) , mediante:
RECLAMAÇÃO para o autor (presidente da câmara) – 184.º, n.º3 + 191.º, n.º1 CPA.
OU
Conclusão pela inadmissibilidade de recurso hierárquico (193.º CPA), uma vez que entre o PCM e
a CM não existe relação hierárquica. Assim, seria possível lançar mão de um RECURSO
ADMINISTRATIVO ESPECIAL para a Câmara Municipal da decisão tomada pelo Presidente da
Câmara, ao abrigo de uma delegação de competências da CM no PCM (cfr. 199.º, n.º1 e 2 CPA).
- Havendo lugar à anulação do ato revogatório > regra: efeitos retroativos (cfr. 171.º, n.º3) e também,
em regra, efeitos repristinatórios (171.º, n.º4 CPA), ou seja, há lugar à repristinação do ato que
concede a licença (o ato de 11/03/2021). (não aplicável à declaração de nulidade. Neste caso,
apenas problematização da juridificação de efeitos putativos- 162.º, n.º3 CPA).

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