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DIREITO ADMINISTRATIVO – II SEMESTRE

ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO ADMINISTRATIVAS – TRAÇOS GERAIS


João Vilas Boas Pinto
Assistente Convidado da Escola de Direito da Universidade do Minho

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

Ato administrativo de 2.º grau, tendo por alvo os efeitos de Ato administrativo de 2.º grau, tendo por alvo os efeitos
um ato administrativo anterior, determinando a cessação de um ato administrativo anterior, determinando a
desses efeitos por razões de invalidade (165.º, n.º 2 CPA). cessação desses efeitos por razões de mérito,
conveniência ou oportunidade (165.º, n.º 1 CPA).

São insuscetíveis tanto de anulação como de revogação (1) os atos nulos; (2) os atos anulados contenciosamente; (3)
os atos revogados com eficácia retroativa (Cfr. 166.º, n.º 1 CPA). Todos esses atos ou nunca produziram efeitos ou já
não os produzem, pelo que não faz sentido lançar mão de figuras que têm precisamente como objetivo a cessação dos
efeitos.

No entanto, nos termos do 166.º, n.º 2 CPA, é possível anular ou revogar-se, com eficácia retroativa, atos que já não
produzam efeitos, seja por terem caducado seja por se terem esgotado – nestes casos, o objetivo é a destruição dos
efeitos já produzidos.

Iniciativa para a anulação: por iniciativa dos órgãos Iniciativa para a revogação: por iniciativa dos órgãos
competentes (retratação), ou a pedido dos interessados, competentes (retratação), ou a pedido dos interessados,
mediante reclamação ou recurso administrativo mediante reclamação ou recurso administrativo
(provocada) - 169.º, n.º 1 CPA. (provocada) - 169.º, n.º 1 CPA.
No entanto, se o ato se tornou inimpugnável judicialmente,
apenas pode ser anulado por iniciativa da administração
(168.º, n.º 5 CPA).

Competência para a anulação: os atos administrativos Competência para a revogação: os atos administrativos
podem ser objeto de anulação administrativa (1) pelo órgão podem ser objeto de revogação (1) pelo órgão que os
que os praticou (autor) e (2) pelo respetivo superior praticou (autor) e (2) pelo respetivo superior
hierárquico – Cfr. 169.º, n.º 3 CPA; (3) pelo delegante e hierárquico mas, neste caso, desde que não se trate de
subdelegante, em situações de delegação e subdelegação um ato da competência exclusiva do subalterno – Cfr.
de poderes (n.º4); (4) pelo órgão com poderes de 169.º, n.º 2 CPA); (3) pelo delegante e subdelegante, em
superintendência ou tutela, nos casos expressamente situações de delegação e subdelegação de poderes (n.º4);
permitidos pela lei (n.º5); (5) nos casos de usurpação de (4) pelo órgão com poderes de superintendência ou
competências, pelo órgão competente para a prática do tutela, nos casos expressamente permitidos pela lei
ato (n.º6). (n.º5); (5) nos casos de usurpação de competências, pelo
órgão competente para a prática do ato (n.º6).

Forma: o ato de revogação ou anulação administrativa deve revestir a forma legalmente prescrita para o ato revogado
ou anulado (170.º, n.º 1) ou, na ausência de forma legal prescrita, a mesma forma utilizada na prática do ato revogado
ou anulado (n.º 2) – princípio do paralelismo das formas.

Formalidades: em regra, as mesmas formalidades exigidas para a prática do ato revogado ou anulado que se mostrem
indispensáveis à garantia do interesse público ou dos direitos e interesses legalmente protegidos dos interessados (n.º3).
Não são, portanto, todas e quaisquer formalidades, existindo formalidades que se exigem para o ato primário, mas que,
por não serem indispensáveis, não devem ser exigidas para o ato secundário.

Efeitos: Efeitos:
1. a anulação produz efeitos retroativos (regra), nos 1. a revogação apenas produz efeitos para o futuro
termos do 171.º, n.º 3, 1.ª parte. No entanto, o autor da (regra) – 171.º, n.º 1, 1.ª parte. No entanto, pode ser-lhe
anulação pode, na própria decisão, atribuir-lhe eficácia atribuída eficácia retroativa (ex tunc), quando seja
para o futuro (ex nunc), quando o ato se tenha tornado favorável aos interessados ou quando estes concordem
inimpugnável jurisdicionalmente - exceção: 2.ª parte). expressamente com a retroatividade e desde que em
2. Anulação de um ato revogatório: só não determina a causa não estejam direitos ou interesses indisponíveis –
repristinação do ato revogado se a lei ou o ato de anulação exceção: 2.ª parte.
assim expressamente dispuserem (171.º, n.º 4, 2.ª parte). 2. Revogação de um ato revogatório: só produz efeitos
3. Daí decorre que, em regra, a anulação produz efeitos repristinatórios se a lei ou ato de revogação assim
repristinatórios (171.º, n.º 4, 1.ª parte). expressamente o determinarem (171.º, n.º 2).
3. Daí decorre que a revogação pode produzir efeitos
repristinatórios (mas em regra não os produz).
ANULAÇÃO REVOGAÇÃO

Condicionalismos Temporais: Condicionalismos Temporais:


1. Prazo de seis meses, contados do conhecimento pelo 1. Regra: a revogação pode ser exercida a todo o
órgão competente da causa de invalidade, ou em casos de tempo (167.º a contrario).
invalidade resultante de erro do agente, desde o momento 2. Exceção: Revogação de atos constitutivos de direito
da cessação do erro. Acresce para ambos um prazo com fundamento na superveniência de conhecimentos
absoluto: “em qualquer dos casos desde que não tenham técnicos científicos ou em alteração objetiva das
decorrido cinco anos, a contar da respetiva emissão” circunstâncias de facto, em face das quais, num ou outro
(168.º, n.º 1). caso, não poderiam ter sido praticados – revogação
2. Prazo de um ano, a contar da data da respetiva emissão, sujeita a prazo de um ano, a contar da data do
para a anulação dos atos constitutivos de direitos (regra – conhecimento da superveniência ou alteração das
168.º, n.º 2). circunstâncias (prazo prorrogável por mais dois anos, por
Consideram-se constitutivos de direitos os razões fundamentadas – nesses casos, o prazo pode ir,
atos administrativos que atribuam ou portanto, até 3 anos) – 167.º, n.º4 CPA.
reconheçam situações jurídicas de
vantagem ou eliminem ou limitem deveres.,
ónus, encargos ou sujeições, salvo quando
a sua precariedade decorra da lei ou da Condicionalismos Materiais:
natureza do ato (167.º, n. º3 CPA). 1. Regra: revogabilidade dos atos administrativos, a
menos que a irrevogabilidade resulte de vinculação legal
3. Prazo de cinco anos, para as situações do 168.º, n.º 4 ou quando deles resultem, para a Administração,
(exceção/dilatação do prazo do n.º 2). obrigações legais ou direitos irrenunciáveis (167.º, n.º 1
4. Quando o ato tenha sido impugnado nos tribunais CPA).
administrativos, a anulação administrativa só pode ter lugar 2. Exceções: os atos constitutivos de direitos só podem
até ao encerramento da discussão da causa (168.º, n.º 3). ser revogados nas circunstâncias do 167.º, n.º 2 [em
circunstâncias favoráveis aos beneficiários].
Condicionalismos Materiais:
A anulação pode ter por objeto quaisquer atos
administrativos, exceto aqueles referidos no art. 166.º CPA.

Principais Consequências: Principais Consequências:


1. Reconstituição pela Administração da situação atual 1. Nas situações de revogação de atos constitutivos de
hipotética, bem como dar cumprimento aos deveres que direito com fundamento na superveniência de
não tenha cumprido com fundamento no ato que se anula conhecimentos técnicos científicos ou em alteração
(172.º, n.º 1). objetiva das circunstâncias de facto, indemnização dos
2. A Administração pode ficar constituída no dever de beneficiários de boa-fé:
praticar atos com eficácia retroativa, mas desde que não a. Indemnização pelo sacrifício (167.º, n.º 5, 1.ª
imponham deveres, encargos, ónus ou sujeições, apliquem parte);
sanções ou restrinjam direitos e interesses legalmente b. Indemnização correspondente ao valor
protegidos. (172.º, n.º 2, 1.ª parte). económico do direito eliminado ou da parte do
3. A Administração pode ainda ficar constituída no dever direito que tiver sido restringida, quando a
de anular, reformar ou substituir os atos consequentes afetação do direito, pela sua gravidade ou
sem dependência de prazo, e alterar as situações de intensidade, elimine ou restrinja o conteúdo
facto entretanto constituídas, cuja manutenção seja essencial desse direito (2.ª parte).
incompatível com a necessidade de reconstituir a situação
que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado
(172.º, n.º 2, 2.ª parte).
4. Indemnização dos beneficiários de boa-fé de atos
consequentes praticados há mais de um ano, pelos danos
sofridos em consequência da anulação (172.º, n.º 3 CPA) –
necessidade de ponderação entre o interesse desses na
manutenção da situação e o dos interessados na
concretização dos efeitos da anulação (2.ª parte). Sobre
essa necessidade de ponderação, vd. também o n.º 4.

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