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O CARATER QUASE SEMPRE DESTRUTIVO DA REVOGAÇÃO E DA ANULAÇÃO ADMINISTRATIVA

Quando nos deparamos perante a revogação e a anulação administrativa e se observarmos os


fenómenos de forma superficial e até displicente. Ficaremos com a sensação de que os
referidos fenómenos estão quase sempre ligados à destruição, digamos que são
desertificadores legislativos. Contudo, mesmo nos desertos mais áridos existem oásis.

Antes de avançar, importa recordar o que é a revogação e a anulação administrativa,


fenómenos estes que vem plasmados no artigo 165º do CPA, que passo a citar:

1 - A revogação é o ato administrativo que determina a cessação dos efeitos de outro ato,
por razões de mérito, conveniência ou oportunidade – Ou seja existiu a produção de efeitos
que termina por via deste fenómeno, a revogação.

2 - A anulação administrativa é o ato administrativo que determina a destruição dos efeitos


de outro ato, com fundamento em invalidade – Ou seja um ato que produziu efeitos, mas, que
foi encontrada invalidade e por sua vez deu-se a anulação administrativa.

Importa ainda referir quem pode e quem tem competência para proceder à revogar e á
anulação administrativa, algo que nos refere o artigo 169º do CPA, onde o seu número 1 de
alguma forma consegue resumir e que passo a citar:

1 - Os atos administrativos podem ser objeto de revogação ou anulação administrativas por


iniciativa dos órgãos competentes, ou a pedido dos interessados, mediante reclamação ou
recurso administrativo.

Digamos que até ao momento, tentei demostrar a parte destrutiva destes dois fenómenos, a
partir daqui tentarei demonstrar o propósito do “Quase” que figura no título. E o “Quase”
significa Vida, significa que nem tudo é destruição.

Quando nos deparamos com um ato revogatório ou com uma anulação administrativa,
forçosamente, deparamo-nos com um nascimento ou com um renascimento de um ato
administrativo, isto porquê, porque não pode existir vazios legislativos. Daí que a partir de
agora começamos a perceber que a revogação e a anulação administrativa não significam
somente, destruição, poderão também significar reconstrução ou construção legislativa. Algo
que vem plasmado nos artigos 172º nos seus números 1 e 2 e no 173º do CPA.

172º

1 - Sem prejuízo do eventual poder de praticar novo ato administrativo, a anulação


administrativa constitui a Administração no dever de reconstituir a situação que existiria se o
ato anulado não tivesse sido praticado, bem como de dar cumprimento aos deveres que não
tenha cumprido com fundamento naquele ato, por referência à situação jurídica e de facto
existente no momento em que deveria ter atuado.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a Administração pode ficar constituída no


dever de praticar atos dotados de eficácia retroativa, desde que não envolvam a imposição de
deveres, encargos, ónus ou sujeições, a aplicação de sanções ou a restrição de direitos ou
interesses legalmente protegidos, assim como no dever de anular, reformar ou substituir os
atos consequentes sem dependência de prazo, e alterar as situações de facto entretanto
constituídas, cuja manutenção seja incompatível com a necessidade de reconstituir a situação
que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado.

173º

1 - Salvo disposição especial, são aplicáveis à alteração e substituição dos atos administrativos
as normas reguladoras da revogação.

2 - A substituição de um ato administrativo anulável, ainda que na pendência de processo


jurisdicional, por um ato válido com o mesmo conteúdo sana os efeitos por ele produzidos,
assim como os respetivos atos consequentes.

3 - No caso previsto no número anterior, se o ato substituído tiver tido por objeto a
imposição de deveres, encargos, ónus ou sujeições, a aplicação de sanções ou a restrição de
direitos ou interesses legalmente protegidos, a renovação não prejudica a possibilidade da
anulação dos efeitos lesivos produzidos durante o período de tempo que precedeu a
substituição do ato.

Ainda poderemos ligar a estes fenómenos a dois outros fenómenos não menos interessantes,
os efeitos retroativos e a repristinação.

No caso dos efeitos retroativos, por regra e em particular a revogação apenas produz efeitos
para o futuro, contudo, o autor da revogação pode, no próprio ato, atribui-lhe eficácia
retroativa quando esta seja mais favorável aos interessados. Aqui bebemos alguma informação
do artigo 171 do CPA, mas, na minha modesta opinião o artigo 156º no seu número 2 alínea a)
clarifica por completo o fenómeno da retroatividade e dada a importância passo a citar:

2 - Fora dos casos abrangidos pelo número anterior, o autor do ato administrativo só pode
atribuir-lhe eficácia retroativa:

a) Quando a retroatividade seja favorável para os interessados e não lese direitos ou


interesses legalmente protegidos de terceiros, desde que à data a que se pretende
fazer remontar a eficácia do ato já existissem os pressupostos justificativos dos
efeitos a produzir;

Quanto à repristinação, ela surge em situações em que a reentrada em vigor de um ato que
anteriormente tenha sido revogado por outro, por efeito da revogação deste último. Aqui
deparamo-nos com destruição e a reconstrução legislativa.

Quanto aos efeitos convém clarificar e com base no artigo 171º que:

2 - A revogação de um ato revogatório só produz efeitos repristinatórios se a lei ou o ato de


revogação assim expressamente o determinarem.

4 - A anulação administrativa produz efeitos repristinatórios e, quando tenha por objeto a


anulação de um ato revogatório, só não determina a repristinação do ato revogado se a lei ou
o ato de anulação assim expressamente dispuserem.

Em síntese, neste pequeno e singelo texto, tentei transmitir e aprender que o Direito não se
traduz numa moderna autoestrada, mas sim numa sinuosa estrada nacional que por vezes, ou
melhor, muitas vezes nos presentei com diversas vicissitudes, que com o tempo aprendemos a
contornar, para que a viagem prossiga…

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