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1. Limites do problema
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não é o ato administrativo perfeito, porém aquele ato cujas conseqüências
voltem a situações já protegidas.
Embora a norma deva dispor apenas para o presente e o futuro, não devendo
possibilitar efeitos retroativos, faz princípio constitucional que a lei não
prejudicará o direito adquirido e o ato jurídico perfeito,1i impondo a retroa-
tividade nas hipóteses lesivas.
Fere o princípio geral da irretroatividade o ato que imponha-se como retroa-
tivo em virtude da má aplicação da lei ou de lesões reconhecidas, sobretudo
na anulação ou na revogação, nos casos de nulificação nos quais a eficácia
opera-se anteriormente.6
Geralmente, tanto na prática como na doutrina, onde possa acontecer na
relação da administração com os administrados, a retroatividade protege os
direitos constitucionais que dependem na sua aplicação de atos administrativos
subseqüentes.
Pergunta-se: em que consiste a retroatividade? Resposta: no geral, ela se
ativa quando os efeitos jurídicos de um ato administrativo se produziram antes
da vigência do novo ato.7 Vindo o novo ato, retroativamente, para assegurar
direitos ou interesses.
As posições, ainda em tese, nas relações administrativas, decorrem ou
podem decorrer:
a) de outros efeitos que se atribuam ao ato administrativo originário;
b) do reconhecimento de efeitos anteriores não contemplados no ato atual;
c) da extinção de relações jurídicas anteriormente constituídas;
d) do ato perfeito que não atendeu disposições expressas de lei.
De qualquer maneira, o retroagimento, aplicado ao direito administrativo
reflete-se no tocante à eficácia, na intepretação dos atos precedentes, na revo-
gação, na anulação, na convalidação ou na conservação,8 alterando efeitos e res-
guardando situações.
5 Constituição, a brasileira, art. 153, § 3: "A lei não prejudicará o direito adquirido,
ú ato jurídico perfeito e a coisa julgada."
6 "A eficácia do ato pode ser estabelecida em momento anterior à sua perfeição e, ne5~e
caso, ocorre a retroatividade; existem atos retroativos por sua própria natureza, como,
por exemplo, a anulação e a revogação que desfazem a eficácia dos atos anteriores."
(veja Cretella Júnior, J. op. cito p. 91).
7 Cassagne, Juan Carlos. op. cit. p. 364.
8 Zanobini, Guido. Corso di Diritto Amministrativo. Milano, 1958. t. 1, p. 235.
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4. Eficácia retroativa e efeitos duvidosos
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A retroatividade, excepcionalizando, afirma conseqüências lógicas e jurídicas,
em algumas categorias, a saber:
a) quando "anulatórios de atos ilegais anteriormente praticados ou que exe-
cutem sentenças de anulação";
b) quando "aproveitem atos ilegais anteriores sanáveis nos termos da lei por
ratificação, reforma ou conversão";
c) quando "interpretativos" ou de "retificação de erros de escrita ou de
cálculo de atos anteriores".13
Dentro do princípio geral da irretroatividade, a ninguém cabe desconhecer
como fizemos ver os atos que merecem proteção jurídica e que no tempo,
criando direito, permitiram a incorporação dos mesmos ao patrimônio dos
administrados.
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A retroatividade, como meio de procedimento legal, visa sobretudo interesses
tutelados e direitos constituídos, não simplesmente atingir o ato perfeito ou
regular, nunca forçar a administração a rever decisões ou admitir critérios
contrários à ordem jurídica.
Evidentemente, a regra geral da não-retroatividade, é uma questão de regime
e de organização constitucional, não se podendo aceitar a rigor "as disposições
análogas do Direito Civil",17 porém apreciar o que vem da natureza dos atos
administrativos quanto à eficácia e os efeitos jurídicos.
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8. Ato novo na retroatividade
9. A retroatividade na revogação
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Enquanto não examinados os efeitos do ato de revogação, supostamente
válido pelo que representa e quer, temos nele um autêntico ato retroativo
que passa a vigir, tomando eficaz o ato precedente ou desfazendo os efeitos
já produzidos.
Portanto, "podemos dizer que o ato revogat6rio é um provimento ex novo
sobre matéria já disposta anteriormente",2'7 um provimento-ato que retroage
ao tempo do ato revogado, fazendo no momento da revogação cessar a eficácia
e as relações antes firmadas.
Com a supressão dos efeitos do ato anterior, a revogação faz nova disposição-
ato,28 realiza-se pela sua natureza retroativa a fim de que possa atingir
situações passadas, não obstante fique aberta a discussão se o ato era ou não
revogável.
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o dever, pelas potestades que possui, de tomar decisões que venham a legitimar
situações ilegitimadas ou a prover situações irregulares em regulares.
A tutela estende-se, conforme os regimes de organização administrativa, na
hierarquia a toda administração ativa, intervindo para consagrar medidas con·
dicionantes, sejam suspensivas, corretivas, revogatórias ou anulatórias. 29
Claro que não podemos, sem conhecimento dos regimes ou dos ordenamentos
jurídicos, avaliar os limites e a natureza da tutela, já que a idéia de ação
tuteladora tem sentido relativo nos sistemas administrativos e resulta dos
pressupostos organizacionais.
Na verdade, podem ser considerados atos de efeitos retroativos aqueles
atos que, excedendo a regra geral da não-retroatividade, alcançam órgãos
e agentes na descentralização, desmanchando situações tidas como resultantes
de liberalidades ou incapacidade decisória.30
Em face da prática administrativa consagrada, nas hipóteses permissíveis, o
ato que retroage fica a juízo da Administração, responsável que é diante de
prejuízos ou danos eventuais, na aferição do interesse público ou em matéria
de direitos personalizados, sobretudo no tocante a atos que reflitam desvio
ou excesso de poder.
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