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Laura Aires

Casos práticos Direito Administrativo I

Caso prático 1:

De acordo com o nº 3 do artigo 24º do Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro,


o pedido de licenciamento de uma obra de edificação “pode (...) ser indeferido
quando a obra seja suscetível de manifestamente afectar a estética das
povoações, a sua adequada inserção no ambiente urbano ou a beleza das
paisagens”.

1- Diga, justificando, se esta disposição concede competência discricionária à


Câmara Municipal quando tenha de decidir sobre um concreto pedido de
licenciamento.
2- Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento, o
controlo judicial dos atos praticados no âmbito dessa competência.

Resposta:

1-
A administração pública prossegue fins heterónomos, já que quem os define
é o legislador. Assim, a administração encontra-se vinculada à lei, no que diz
respeito aos fins e competências, sendo que não há nenhuma atuação da
administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da precedência
de lei, uma vez que a administração, para atuar, precisa de uma lei prévia do
legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra
legislativamente definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas
também os meios a prosseguir pela administração pública, pelo que esta
desempenha uma função meramente executiva. Nestes casos, há uma única
solução possível, que resulta diretamente da norma aplicável. Pelo contrário, nos
atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos competentes para o
prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um espaço de
avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente
vinculados. A atividade administrativa está sempre vinculada quanto aos fins e às
competências e pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedi-
mento, ao momento e à oportunidade, sendo um continuum entre vinculação e
discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura
condicional que se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os
pressupostos da atuação da administração pública) e estatuição (compreende as
consequências jurídicas, isto é, o conteúdo do ato), cujo o elemento de ligação fixa
o sentido do dever e neste caso é o permitido/autorizado através do pode.
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionarie-
dade, que consiste num espaço de decisão deixado à administração pública como
consequência de uma indeterminação legal estrutural ou conceitual, e que
compreende os efeitos e as condições da decisão, traduzindo-se numa abertura
normativa. Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do
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legislador à administração de um poder jurídico, já que é criador de direito no caso
concreto, no contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a
discricionariedade passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na
realização do interesse público. As decisões administra-tivas são sempre tomadas
em respeito pelo princípio da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma,
pelos princípios jurídicos e pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão.
Em primeiro lugar, as situações de indeterminação estrutural, que engloba as
faculdades diretas de ação e que podem ser as normas permissivas, normas com
soluções em alternativa (pré determinadas e não pré determinadas) e normas
programadas de forma final. Em segundo lugar, as situações de indetermi-nação
conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação dos conceitos
indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de apreciação), quer
do lado da estatuição (discricionariedade de ação). Além destas, existem ainda as
situações mais amplas de liberdade de conformação na administração constitutiva
e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos e a administração define
as soluções e as prerrogativas de avaliação.
No caso súb-júdice, a norma apresentada confere poderes discricionários à
administração, quanto as indeterminações estruturais, uma vez que é norma
permissiva (“pode”), tratando-se de uma discricionariedade de decisão, já que a
administração pública pode ou não seguir a medida prevista pela estatuição.
Assim, permite atuar mas não obriga a atuar. Relativamente as indeterminações
conceituais, a norma administrativa compreende conceitos imprecisos, em que o
conteúdo não está bem determinado. Desta forma, estamos perante verdadeiros
conceitos indeterminados que requerem juízos de valor por parte da administração
pública e portanto concedem discricionariedade.

2-
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da
administração pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma
repartição de competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos
atos e a responsabilidade pelos mesmos e aos tribunais compete o controlo da
compatibilidade entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios
jurídicos. Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração
pública (conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre
os princípios e o critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à
administração, proibindo-se a dupla administração.
Deste modo, podemos distiguir 2 tipos de controlo. Em primeiro lugar, o
controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados, nomeadamente aos fins e
as competências previstas na norma legal. E em segundo lugar, o controlo interno,
onde se controla o próprio uso dos poderes discricionários, sendo o critério de
controlo os princípios jurídicos que orientam as escolhas administrativas,
analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa, bem como a
fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade, o desvio do poder
subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização, por parte da administração,
diferente daquela era suposta, ou seja, a administração pública serve-se dos
poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
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estabeleceu e o desvio do poder objetivo, sendo que são anuláveis as decisões
discricionárias administrativas que violem ostensivamente e intoleravelmente os
princípios jurídicos. Integram ainda os vícios, o erro de facto, no caso da
administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou falseados, e o erro
manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a administração
pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a
fiscalização por parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo
atenuado. Ainda assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações,
nomeadamente perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e
dos seus direitos.
Atendendo a presente situação…

Caso prático 2:

De acordo com o disposto no nº 3 do artigo 36º Decreto-Lei nº 309/2009, de 23 de


outubro, os imóveis que tenham sido objeto de classificação patrimonial “devem
beneficiar de uma zona especial de protecção”, a qual, nos termos do artigo 43º do
mesmo diploma legal, “deve ter a extensão e as restrições adequadas em função
da valorização do bem imóvel classificado” (nº1) destinadas a assegurar “o
enquadramento paisagístico do bem imóvel e as perspectivas da sua contempla-
ção” (nº2) e devendo estabelecer zonamentos específicos e indicar “as restrições
estritamente necessárias”.

1- Considera que a referida norma confere à entidade responsável pelo património


cultural poderes discricionários na delimitação de uma concreta zona especial de
protecção a um imóvel classificado como monumento nacional?
2- O proprietário de um terreno integrado naquela zona especial de proteção
pretende reagir por considerar que a extensão territorial da mesma é manifesta-
mente exagerada não lhe permitindo alcançar os objectivos definidos na lei. O que
diria do argumento utilizado pela entidade responsável pelo património cultural de
que “estas decisões não são sindicáveis judicialmente, uma vez que são tomadas
com base em critérios científicos e técnicos próprios e por técnicos
especialistas nesta matéria”?

Resposta:

1-
A administração pública prossegue fins heterónomos, já que quem os define
é o legislador. Assim, a administração encontra-se vinculada à lei, no que diz
respeito aos fins e competências, sendo que não há nenhuma atuação da
administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da precedência
de lei, uma vez que a administração, para atuar, precisa de uma lei prévia do
legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra
legislativamente definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas
também os meios a prosseguir pela administração pública, pelo que esta
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desempenha uma função meramente executiva. Nestes casos, há uma única
solução possível, que resulta diretamente da norma aplicável. Pelo contrário, nos
atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos competentes para o
prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um espaço de
avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente
vinculados. A atividade administrativa está sempre vinculada quanto aos fins e às
competências e pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedi-
mento, ao momento e à oportunidade, sendo um continuum entre vinculação e
discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura
condicional que se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os
pressupostos da atuação da administração pública) e estatuição (compreende as
consequências jurídicas, isto é, o conteúdo do ato), cujo o elemento de ligação fixa
o sentido do dever.
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionarie-
dade, que consiste num espaço de decisão deixado à administração pública como
consequência de uma indeterminação legal estrutural ou conceitual, e que
compreende os efeitos e as condições da decisão, traduzindo-se numa abertura
normativa. Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do
legislador à administração de um poder jurídico, já que é criador de direito no caso
concreto, no contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a
discricionariedade passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na
realização do interesse público. As decisões administra-tivas são sempre tomadas
em respeito pelo princípio da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma,
pelos princípios jurídicos e pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão.
Em primeiro lugar, as situações de indeterminação estrutural, que engloba as
faculdades diretas de ação e que podem ser as normas permissivas, normas com
soluções em alternativa (pré determinadas e não pré determinadas) e normas
programadas de forma final. Em segundo lugar, as situações de indetermi-nação
conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação dos conceitos
indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de apreciação), quer
do lado da estatuição (discricionariedade de ação). Além destas, existem ainda as
situações mais amplas de liberdade de conformação na administração constitutiva
e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos e a administração define
as soluções e as prerrogativas de avaliação.
Por conseguinte, a presente norma confere poderes discricionários, uma vez
que apresenta vários conceitos indeterminados, quanto as indeterminações
conceituais, permitindo à administração pública definir uma zona especial mais
ampla ou menos ampla, impondo mais ou menos restrições, consequentemente.
Além do mais, relativamente as indeterminações estruturais, esta norma apresenta
soluções em alternativa (discricionariedade de escolha), mas que não estão pré
determinadas, sendo que a administração pode adotar as medidas adequadas e
necessárias.

2-

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Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da
administração pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma
repartição de competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos
atos e a responsabilidade pelos mesmos e aos tribunais compete o controlo da
compatibilidade entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios
jurídicos. Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração
pública (conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre
os princípios e o critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à
administração, proibindo-se a dupla administração.
Deste modo, podemos distiguir 2 tipos de controlo. Em primeiro lugar, o
controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados, nomeadamente aos fins e
as competências previstas na norma legal. E em segundo lugar, o controlo interno,
onde se controla o próprio uso dos poderes discricionários, sendo o critério de
controlo os princípios jurídicos que orientam as escolhas administrativas,
analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa, bem como a
fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade, o desvio do poder
subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização, por parte da administração,
diferente daquela era suposta, ou seja, a administração pública serve-se dos
poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu e o desvio do poder objetivo, sendo que são anuláveis as decisões
discricionárias administrativas que violem ostensivamente e intoleravelmente os
princípios jurídicos. Integram ainda os vícios, o erro de facto, no caso da
administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou falseados, e o erro
manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a administração
pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a
fiscalização por parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo
atenuado. Ainda assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações,
nomeadamente perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e
dos seus direitos.
Atendendo ao caso prático em apreço, a decisão discricionária pode ser
controlada pelo tribunal. Deste modo, está em causa um desvio do poder objetivo,
uma vez que está em causa o princípio da proporcionalidade (adequação,
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito).

Caso prático 3:

O presidente do instituto de conservação da natureza e florestas, IP, autorizou a


construção de um empreendimento de turismo de natureza num terreno integrado
na área de proteção complementar de tipo 1 (área de ocupação mais restrita, por
ser ambientalmente mais sensível) do parque natural da ria formosa. A Quercus,
Associação Não Governamental de Proteção do Ambiente, pretende impugnar
aquela decisão com fundamento no plano de ordenamento daquele parque natural
apenas permitir aquele tipo de empreendimentos turísticos “desde que para além
de não afetarem de forma intensa os valores e recursos naturais existentes, cria
uma evidente mais valia do ponto de vista da valorização desses mesmos valores”.
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1- Diga justificando se a competência legal referida confere competência


discricionária ao presidente do instituto da conservação da natureza e florestas, IP.
2- É possível, em que termos e com que fundamento, o controlo judicial da decisão
proferida pelo presidente do instituto da conservação da natureza e florestas, IP.
3- Tendo em conta que nos termos do Decreto Lei 251A/2015, de 17 de dezembro,
que aprovou a lei orgânica do 21º governo constitucional, o Instituto de Conserva-
ção da Natureza e das Florestas, IP, está sujeito nas matérias da respetiva
atribuição, à superintendência e a tutela do Ministro do Ambiente, conjuntamente
com o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. Poderia a
Quercus recorrer daquela decisão para o Ministro do Ambiente? Em caso
afirmativo, o que podia recorrer?

Resposta:

1-
A administração pública prossegue fins heterónomos, já que quem os define
é o legislador. Assim, a administração encontra-se vinculada à lei, no que diz
respeito aos fins e competências, sendo que não há nenhuma atuação da
administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da precedência
de lei, uma vez que a administração, para atuar, precisa de uma lei prévia do
legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra
legislativamente definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas
também os meios a prosseguir pela administração pública, pelo que esta
desempenha uma função meramente executiva. Nestes casos, há uma única
solução possível, que resulta diretamente da norma aplicável. Pelo contrário, nos
atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos competentes para o
prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um espaço de
avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente
vinculados. A atividade administrativa está sempre vinculada quanto aos fins e às
competências e pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedi-
mento, ao momento e à oportunidade, sendo um continuum entre vinculação e
discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura
condicional que se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os
pressupostos da atuação da administração pública) e estatuição (compreende as
consequências jurídicas, isto é, o conteúdo do ato).
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionarie-
dade, que consiste num espaço de decisão deixado à administração pública como
consequência de uma indeterminação legal estrutural ou conceitual, e que
compreende os efeitos e as condições da decisão, traduzindo-se numa abertura
normativa. Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do
legislador à administração de um poder jurídico, já que é criador de direito no caso
concreto, no contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a
discricionariedade passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na
realização do interesse público. As decisões administra-tivas são sempre tomadas
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em respeito pelo princípio da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma,
pelos princípios jurídicos e pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão.
Em primeiro lugar, as situações de indeterminação estrutural, que engloba as
faculdades diretas de ação e que podem ser as normas permissivas, normas com
soluções em alternativa (pré determinadas e não pré determinadas) e normas
programadas de forma final. Em segundo lugar, as situações de indetermi-nação
conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação dos conceitos
indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de apreciação), quer
do lado da estatuição (discricionariedade de ação). Além destas, existem ainda as
situações mais amplas de liberdade de conformação na administração constitutiva
e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos e a administração define
as soluções e as prerrogativas de avaliação.
No presente caso, estamos perante uma norma administrativa que
compreende conceitos imprecisos, e cujo o conteúdo não está pré-determinado.
Desta forma, estamos perante verdadeiros conceitos indeterminados que
requerem juízos de valor por parte da administração pública e portanto concedem
discricionariedade. Assim, traduz-se em duas indeterminações conceituais (“não
afetarem de forma intensa” e “evidente mais valia”).

2-
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da
administração pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma
repartição de competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos
atos e a responsabilidade pelos mesmos e aos tribunais compete o controlo da
compatibilidade entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios
jurídicos. Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração
pública (conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre
os princípios e o critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à
administração, proibindo-se a dupla administração.
Deste modo, podemos distiguir 2 tipos de controlo. Em primeiro lugar, o
controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados, nomeadamente aos fins e
as competências previstas na norma legal. E em segundo lugar, o controlo interno,
onde se controla o próprio uso dos poderes discricionários, sendo o critério de
controlo os princípios jurídicos que orientam as escolhas administrativas,
analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa, bem como a
fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade, o desvio do poder
subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização, por parte da administração,
diferente daquela era suposta, ou seja, a administração pública serve-se dos
poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu e o desvio do poder objetivo, sendo que são anuláveis as decisões
discricionárias administrativas que violem ostensivamente e intoleravelmente os
princípios jurídicos. Integram ainda os vícios, o erro de facto, no caso da
administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou falseados, e o erro
manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a administração
pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
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Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a
fiscalização por parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo
atenuado. Ainda assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações,
nomeadamente perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e
dos seus direitos.

3-
O instituto público integra a administração indireta do estado. Assim, insere-
se nas entidades criadas para a prossecução de interesse do estado, ou seja,
realizada com vista à satisfação de fins do estado mas por outras entidades
públicas, diferentes do estado, quer de natureza pública, quer de natureza privada.
São, então, criadas, extintas e orientadas pelo estado, mas este apenas pode tecer
meras orientações, não podendo ordenando nada. Contudo, tem personalidade
jurídica própria, património e pessoal próprio. Podem ainda emanar atos em nome
próprio. Acresce, que os institutos públicos são pessoas coletivas institucionais e
de carácter não empresarial, distinguindo-se deste modo das entidades públicas
empresariais, e que tem fins únicos. Estes podem ser agrupados em 3 categorias
(serviços personalizados, fundações públicas e estabelecimentos públicos).
Acresce que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, IP,
está sujeito nas matérias da respetiva atribuição, à superintendência e a tutela do
Ministro do Ambiente, conjuntamente com o Ministro da Agricultura, Florestas e
Desenvolvimento Rural. Deste modo, superintendência é o poder conferido ao
Estado ou a outra pessoa coletiva de fins múltiplos para definir os objetivos,
fixando as diretivas e recomendações, e orientar a atuação das pessoas coletivas
de fins específicos, neste caso dos institutos públicos. Trata-se de um poder de
orientação. Assim, a superintendência liga o Estado, enquanto Governo, à
administração estadual indireta, ou seja, liga o Instituto de Conservação da
Natureza e das Florestas, IP ao Ministro do Ambiente, conjuntamente com o
Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. Já a tutela, é o
conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa coletiva pública na gestão de
outra pessoa coletiva pública, a fim de assegurar a legalidade (cumprimento da lei)
e o mérito (adoção de soluções convenientes para a prossecução do interesse
público) da sua atuação. De acordo com o artigo 199º/d) da CRP, o Governo
exerce uma tutela sobre a administração indireta, e portanto sobre o Instituto de
Conservação da Natureza e das Florestas, IP.
Por fim, a Quercus poderá recorrer ao Ministro do Ambiente, conjuntamente
com o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, e estes poderão,
através da tutela revogatória, revogar e anular os atos praticados pela entidade
tutelada, que neste caso, é um instituto público (artigo 199º/c) do CPA).

Caso prático 4:

Nos termos do artigo 13º da lei nº 27 de 2006 “cabe ao presidente da Câmara


Municipal declarar a situação de alerta de âmbito municipal”, por sua vez a alínea
d) do nº1 do artigo 15º daquele diploma estabelece que “para além das medidas
especialmente determinadas pela natureza da ocorrência, a declaração da
situação de alerta dispõe expressamente sobre a adoção de medidas preventivas
adequadas à ocorrência”. Com fundamento nessa norma, o vereador de urbanismo
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da Câmara Municipal de Braga, cidade onde tem vindo a aumentar significativa-
mente o número de cidadãos com Covid-19, decidiu, ao abrigo de uma competên-
cia que lhe tinha sido delegada pelo presidente da Câmara Municipal, determinar o
encerramento compulsivo de todos os estabelecimentos comerciais sediados no
conselho por tempo indeterminado.

1- Diga, justificando, se a alínea do do nº1 do artigo 15º, concede competência


discricionária ao presidente da Câmara Municipal de Braga.
2- João, proprietário do centro comercial Y, considera a decisão ilegal na medida
em que os estabelecimentos de centros comerciais têm adotado todas as medidas
de prevenção recomendadas pelas unidades competentes e não tem sido
detetados surtos significativos nesses estabelecimentos. pronuncie-se sobre a
argumentação jurídica alegada tomando como referência a forma como o exercício
de poderes discricionários é passível de ser controlada pelos tribunais.
3- João, alega ainda que a competência em causa era indelegável pelo que o
Vereador do urbanismo não podia praticar o ato em causa. Pronuncie-se sobre as
consequências deste facto no ato de delegação proferido pelo Presidente da
Câmara e o ato praticado pelo Vereador ao abrigo de tal delegação.
4- Se a competência em causa fosse delegável e o João pretende-se recorrer para
o Presidente da Câmara o que poderia esperar desse recurso.

Resposta:

1-
A administração pública prossegue fins heterónomos, já que quem os define
é o legislador. Assim, a administração encontra-se vinculada à lei, no que diz
respeito aos fins e competências, sendo que não há nenhuma atuação da
administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da precedência
de lei, uma vez que a administração, para atuar, precisa de uma lei prévia do
legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra
legislativamente definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas
também os meios a prosseguir pela administração pública, pelo que esta
desempenha uma função meramente executiva. Nestes casos, há uma única
solução possível, que resulta diretamente da norma aplicável. Pelo contrário, nos
atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos competentes para o
prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um espaço de
avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente
vinculados. A atividade administrativa está sempre vinculada quanto aos fins e às
competências e pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedi-
mento, ao momento e à oportunidade, sendo um continuum entre vinculação e
discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura
condicional que se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os
pressupostos da atuação da administração pública) e estatuição (compreende as
consequências jurídicas, isto é, o conteúdo do ato).
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionarie-
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dade, que consiste num espaço de decisão deixado à administração pública como
consequência de uma indeterminação legal estrutural ou conceitual, e que
compreende os efeitos e as condições da decisão, traduzindo-se numa abertura
normativa. Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do
legislador à administração de um poder jurídico, já que é criador de direito no caso
concreto, no contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a
discricionariedade passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na
realização do interesse público. As decisões administra-tivas são sempre tomadas
em respeito pelo princípio da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma,
pelos princípios jurídicos e pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão.
Em primeiro lugar, as situações de indeterminação estrutural, que engloba as
faculdades diretas de ação e que podem ser as normas permissivas, normas com
soluções em alternativa (pré determinadas e não pré determinadas) e normas
programadas de forma final. Em segundo lugar, as situações de indetermi-nação
conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação dos conceitos
indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de apreciação), quer
do lado da estatuição (discricionariedade de ação). Além destas, existem ainda as
situações mais amplas de liberdade de conformação na administração constitutiva
e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos e a administração define
as soluções e as prerrogativas de avaliação.
Atendendo ao caso prático sub-júdice, está em causa uma norma que
confere poderes discricionários, uma vez que apresenta uma indeterminação
estrutural. Trata-se de uma discricionariedade de escolha, já que a norma confere
soluções em alternativa que se traduzem numa abertura de decisão. Assim, neste
caso, a lei não estabelece as medidas que devem ser adotadas pela Câmara
Municipal, a lei atribui ao Presidente de Câmara uma competência discricionária,
para ele estabelecer, se entender necessário, as medidas que considera mais
eficazes.

2-
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da
administração pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma
repartição de competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos
atos e a responsabilidade pelos mesmos e aos tribunais compete o controlo da
compatibilidade entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios
jurídicos. Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração
pública (conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre
os princípios e o critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à
administração, proibindo-se a dupla administração.
Deste modo, podemos distiguir 2 tipos de controlo. Em primeiro lugar, o
controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados, nomeadamente aos fins e
as competências previstas na norma legal. E em segundo lugar, o controlo interno,
onde se controla o próprio uso dos poderes discricionários, sendo o critério de
controlo os princípios jurídicos que orientam as escolhas administrativas,
analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa, bem como a
fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade, o desvio do poder
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subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização, por parte da administração,
diferente daquela era suposta, ou seja, a administração pública serve-se dos
poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu e o desvio do poder objetivo, sendo que são anuláveis as decisões
discricionárias administrativas que violem ostensivamente e intoleravelmente os
princípios jurídicos. Integram ainda os vícios, o erro de facto, no caso da
administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou falseados, e o erro
manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a administração
pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a
fiscalização por parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo
atenuado. Ainda assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações,
nomeadamente perante a necess dade de uma proteção plena dos particulares e
dos seus direitos.

3-
A delegação de poderes insere-se nas relações de tipo especial, que são
relações temporárias e transitórias, ao contrário das relações de tipo geral,
permanentes e abstratas. Assim, a delegação de poderes está prevista nos artigo
44º e seguintes do CPA, que prevê não só a delegação de poderes entre órgãos
da mesma pessoa coletiva (quer haja ou não uma relação hierárquica) como
também a delegação de competências entre órgãos de diferentes pessoas
coletivas, sendo que no presente caso, encontramos a primeira situação. Acresce
que com a delegação cria-se no delegado uma qualificação para o exercício, em
nome próprio, de uma competência alheia. Contudo, não se transferem os poderes
para o outro órgão, uma vez que o primeiro órgão continua a ser o órgão titular da
competência.
Na sua natureza jurídica, distinguem-se 3 teses, no entanto a posição do
curso prende-se na tese da concessão constitutiva, segundo a qual a delegação é
o ato pela qual um órgão permite que outro exerça uma competência que continua
a ser do primeiro, que outrora delegou a sua competência. Assim, o delegado
passa a estar qualificado para exercer, em nome próprio, uma competência alheia.
Além disto, a delegação terá de respeitar determinados requisitos, sendo
que esta só é possível mediante habilitação legal expressa (artigo 44º/1 do CPA),
sem a qual corresponderá à renúncia de competências, nos termos do artigo 36º/2
do CPA, sendo nula, e a delegação não produz os seus efeitos, ou seja, traduz-se
num ato nulo afetado por um vício de incompetência.
O João alega que não há habilitação legal para a delegação de
competências e como consequência, se não há possibilidade legal a delegação é
nula. Não havendo previsão legal, o Presidente da Câmara não podia ter delegado
essa competência ao Vereador do Urbanismo, já que isso seria uma renúncia de
competências. Assim, o ato pelo qual o Presidente delega a competência é nulo
dado que há falta de atribuição. O delegado não tinha competência, portanto o
estado de alerta é invalido por incompetência e é assim anulável. O ato do
Presidente da Câmara é nulo e o ato de Vereador é anulável.

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