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Aula 4 (27/02)

Continuação das manifestações do poder administrativo:


• Poder de privilégio de execução prévia: Consiste este poder na faculdade que a lei dá à
administração pública de impor coercivamente e de forma imperativa aos particulares certas
decisões que tiver tomado. A administração dispõe aqui de dois privilégios:
• Numa fase declaratória o privilégio de definir unilateralmente por si mesma o direito no
caso concreto sem necessidade de uma decisão judicial;
• Na fase executória trata-se do privilégio de executar o direito por via administrativa sem
qualquer intervenção do tribunal.

• Um regime especial dos contratos administrativos:


Um contrato administrativo é um acordo de vontades em que a administração pública fica sujeita a
um regime jurídico especial diferente daquele que existe no direito civil.

Corolário das manifestações do poder administrativo:


• Independência da administração perante a justiça:
• Em primeiro lugar cabe referir que os tribunais comuns são incompetentes para se
pronunciarem sobre questões administrativas;
• Em segundo lugar o regime dos conflitos de jurisdição permite retirar a um tribunal judicial,
uma questão administrativa que nele erradamente esteja a decorrer;
• Em terceiro lugar devemos mencionar aqui a chamada garantia administrativa que consiste
no privilégio proferido por lei às autoridades administrativas, de não poderem ser
mandadas criminalmente nos tribunais judiciais sem previa autorização do governo;

• Foro administrativo: Consiste na entrega contenciosa para julgar os litígios administrativos, não
aos tribunais judiciais, mas sim aos tribunais administrativos;

• Tribunal de Conflitos: Trata-se de um tribunal superior que só funciona quando surge um conflito e
que tem uma composição mista composta por deslizes dos tribunais judiciais e juízes dos tribunais
administrativos e que se destina a resolver entre uma instância os conflitos de jurisdição que
ocorram entre as autoridades administrativas e o poder judicial;

Princípios constitucionais sobre o poder administrativo: Um dos princípios fundamentais é o princípio da


prossecução do interesse público, ou seja, a administração move-se para assegurar o interesse público.
Surgem outros princípios tais como o princípio da ilegalidade que manda a administração obedecer à lei e
o princípio do respeito pelos direitos e interesses legítimos dos particulares que obriga a administração a
não violar as situações juridicamente protegidas dos administrados. Por sua vez a administração pública é
muita vez investida pela lei de uma liberdade de decisão que se denomina o poder discricionário da
administração.

Princípio da prossecução do interesse público: Encontra-se consagrado no artigo 4º do CTA e também no


artigo 266º da CRP. O interesse público é assim o interesse coletivo de uma determinada comunidade. A
noção de interesse público traduz-se assim numa exigência de satisfação das necessidades coletivas. Para
distinguir o interesse público primário dos interesses públicos secundários cabe referir que o interesse
público primário é aquele cuja definição compete aos órgãos governativos do estado, o desempenho das
funções política e legislativa. Por sua vez os interesses públicos secundários são aqueles cuja função é
feita pelo legislador, mas cuja definição cabe à administração no desempenho da função administrativa.
Este princípio tem numerosas consequências práticas das quais importa salientar as mais importantes:
• Só a lei pode definir os interesses públicos a cargo da administração;
• Em todos os casos em que a lei não define, de forma complexa e exclusiva o interesse público
compete à administração defini-lo;
• A noção de interesse público: É uma noção de conteúdo variável não sendo possível definir o
interesse público de forma rígida e inflexível;
• Após ser definido o interesse público pela lei a sua prossecução pela administração é obrigatória;
• O interesse público delimita a capacidade jurídica das pessoas coletivas públicas e a competência
dos respetivos órgãos, é o chamado princípio da especialidade;
• Só o interesse público definido por lei pode constituir o motivo determinado de qualquer ato
administrativo;
• A prossecução de interesses privados em vez do interesse público por parte de qualquer órgão ou
agente administrativo no exercício das suas funções constitui corrupção e como tal acarreta um
conjunto de sanções quer administrativas quer penais para quem assim proceder;
• A obrigação de prosseguir o interesse público exige da administração público que adote ou que
adapte em relação a cada caso concreto as melhores soluções possíveis do ponto de vista
administrativo, é o chamado dever da boa administração (Artigo 5º do CPA).

Artigo 5º do CPA
• O princípio da prossecução do interesse público implica além do mais a exigência de um dever de
boa administração. O dever de boa administração é, pois, um dever imperfeito, por um lado
existem aspetos que esse dever deveria assumir numa certa expressão jurídica existindo recursos
graciosos (que são garantias particulares) os quais podem ter como fundamento vícios de mérito
do ato administrativo. Num outro aspeto a violação, por qualquer funcionário público, dos
chamados deveres de zelo e aplicação constitui infração disciplinar, e leva à imposição de sanções
disciplinares ao funcionário responsável. Por fim existe a responsabilidade civil da administração,
num caso de um órgão ou agente administrativo praticar um ato ilícito e culposo de que resultem
prejuízos para terceiros.

Princípio da legalidade:
• (artigo3º do CPA) o princípio da legalidade é imperativo o que se encontra também consagrado no
artigo 266º do CRP. Os órgãos e agentes da administração podem sempre agir no exercício das
suas funções com fundamento na lei e dentro dos limites por ela impostos. O princípio da
legalidade aparece definido de uma forma positiva. O princípio da legalidade abarca todos os
aspetos da atividade administrativa e não apenas aqueles que possuem ou que possam constituir
uma qualquer lesão dos direitos dos interesses dos particulares.

Princípio da igualdade:
• Encontra-se previsto no artigo 6º do CPA segundo o qual a administração pública deve tratar
igualmente os cidadãos que se encontram objetivamente em situações idênticas.

Princípio da Boa-fé:
• Encontra-se consagrado no artigo 10º do CPA e daqui ressalvam-se dois limites negativos para a
administração pública. Por um lado, a AP não deve atraiçoar a confiança que os particulares
interessados colocaram num certo comportamento seu e por outro lado a AP não deve iniciar o
procedimento legalmente previsto para alcançar um determinado objetivo ou propósito que não
seja o interesse público.

Todos os tipos de comportamento da Administração Pública, a saber: o regulamento, o acto


administrativo, o contrato administrativo, os simples factos jurídicos:
Sendo o princípio da legalidade um dos princípios basilares do direito administrativo atenderemos ao
conteúdo, ao objeto, às modalidades e aos efeitos.
• Quanto ao conteúdo o princípio da legalidade não pode abranger nada mais que não apenas o
respeito da lei, em sentido formal ou em sentido material;
• Quanto ao objeto encontram-se todos os tipos de comportamento da Administração Pública, a
saber: o regulamento, o ato administrativo, o contrato administrativo, os simples factos jurídicos.
(Nota: a violação da legalidade gera ilegalidade)
• Modalidades: Por um lado temos uma aparência de lei que consiste em que nenhum ato de
categoria inferior à lei a possa contrariar sobre pena de ilegalidade e por outro lado temos uma
reserva de lei que consiste em que nenhum lado de categoria inferior à lei possa ser praticado sem
o fundamento da lei;
• Efeitos: Existem no princípio da legalidade efeitos negativos em que nenhum órgão da
administração pode deixar de aplicar e respeitar normas em vigor, pelo que qualquer ato da
administração que num caso concreto viole a legalidade vigente é um lado ilegal e, portanto,
inválido (nulo ou anulável conforme as situações). Existem também efeitos positivos do princípio
da legalidade, em suma presume-se em princípio que todo o ato jurídico praticado pela
administração é conforme a lei, até que porventura se venha a comprovar que o ato é ilegal e para
isso terá de ser considerado ilegal pelo tribunal administrativo.

Referências a situações que existem e constituem exceções ao princípio da legalidade:


• A teoria do estado de necessidade segundo a qual em circunstâncias excecionais e em verdadeira
situação de necessidade pública, a administração pública fica dispensada de seguir o processo
legal estabelecido em circunstâncias normais e pode agir em forma de processo, mesmo que isso
implique o sacrifício dos interesses e necessidades dos particulares. (EX: A uns anos atrás num
determinado governo decidiu-se baixar salários, outros sacrifícios impostos as pessoas, pois
estávamos no tempo da troica.)
• A teoria dos atos políticos: Segundo esta teoria os atos essencialmente políticos não são
suscetíveis de recurso contencioso para os tribunais administrativos.
• O poder discricionário da administração: Não é propriamente uma exceção ao princípio da
legalidade, mas constitui um modo especial de configuração administrativa, isto é, só há poder
discricionário quando a lei o confere, contudo existem sempre elementos vinculativos por lei, que
é a competência e o fim.

Princípio do respeito pelos Direitos e Interesses Legítimos dos Particulares:


• Este princípio significa que a prossecução do interesse público não é o único critério da ação
administrativa nem tem um valor ao alcance ilimitados, isto é, há que prosseguir
fundamentalmente o interesse público, mas sempre no respeito dos direitos e interesses legítimos
dos cidadãos. Embora o princípio da legalidade seja um limite à ação da administração pública a
sua função principal será a proteger os particulares.

Existem outras formas de proteção dos particulares para além do princípio da legalidade:
• O estabelecimento da suspensão jurisdicional da eficácia do ato administrativo, o que se traduz
numa paralisação da execução prévia;
• Extensão do âmbito da responsabilidade da administração por ato ilícito culposo que tenha sido
praticado pela administração por falha técnica ou falha de prudência;
• A extensão da responsabilidade da administração aos danos causados por factos casuais;
• A conceção aos particulares de direitos bem como a participação e informação no processo
administrativo gracioso antes da tomada da decisão final;
• Em posição do dever de fundamentar em relação aos atos administrativos que afetem
diretamente os interesses legítimos dos particulares.

O Poder Discricionário da Administração:


• A regulamentação legal da atividade administrativa umas vezes é precisa outras vezes é imprecisa.
Umas vezes diz-se que a lei vincula totalmente a Administração. A Administração não tem
qualquer margem dentro da qual possa exercer uma liberdade de decisão; outras vezes a lei
praticamente nada diz, nada regula deixando uma grande margem de decisão à administração
pública, e é a AP que tem de decidir segundo os critérios que em cada caso entender mais
adequados à prossecução do interesse público. Temos, portanto, num caso atos discricionários e
atos vinculados.

Duas perspetivas diferentes têm sido adotadas pela doutrina quanto aos poderes de execução:
• Segundo uma primeira perspetiva, a dos poderes, este é vinculado na medida em que o seu
exercício está regulado por lei; o poder será discricionário quando o seu exercício fica
entregue ao critério do respetivo titular deixando-lhe assim liberdade de escolha do
procedimento a adotar em cada caso e ajustado à realização do interesse público.
• Segunda perspetiva é a dos atos: Estes são vinculados quando praticados pela
administração e advêm da lei, e são discricionários quando praticados no âmbito dos
poderes discricionários. Podemos afirmar que quase todos os atos administrativos são
simultaneamente vinculados e discricionários. Vinculados em relação a certos aspetos e
discricionários em relação a outros. Nos atos discricionários importa sempre o fim do ato
administrativo, pois este deverá ser sempre vinculativo. Cabe referir que a
discricionariedade não é total e respeita a liberdade de escolher a melhor decisão para
realizar o fim visado pela norma. Toda a norma que confere um poder discricionário
confere-o com um certo fim. Depois cabe apurar se o ato praticado foi legal ou ilegal. Em
rigor não há atos totalmente discricionários na medida em que todos os atos
administrativos são em parte vinculados e em parte discricionários.

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