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Aula 3 (22/02)

Conceito de direito administrativo como fonte de direito:


• Trata-se de um ramo de direito público constituído por normas jurídicas que regulam a
organização, o funcionamento e o controle da administração pública. Bem como as relações que
esta estabelece no exercício da atividade administrativa com todos os sujeitos de direito.

• A característica mais peculiar do direito administrativo é a procura da permanente harmonização


entre as exigências da ação administrativa e as exigências das garantias dos particulares.

Critérios:
• O Direito Administrativo é no ordenamento jurídico português um ramo de direito público, existe
então vários critérios:
• Se se adotar o critério dos interesses o direito administrativo é direito público porque as
suas normas são estabelecidas tendo em vista a prossecução do interesse público e
destinam-se justamente a permitir que esse interesse público seja realizado;
• Critério dos sujeitos, segundo este o direito administrativo é direito público porque os
sujeitos de direito que compõem a administração são todos eles sujeitos de direito público;
• Se adotarmos o critério dos poderes de autoridade o direito administrativo é direito
público porque a atuação da administração surge investida de poderes de autoridade.

Tipos de normas administrativas:


• O direito administrativo é um conjunto organizado de normas jurídicas e é um conjunto
sistemático:
• Normas orgânicas: São normas que regulam a organização da administração pública e que
estabelecem as entidades públicas que fazem parte da administração, determinando a sua
estrutura e os seus órgãos. As normas orgânicas têm relevância jurídica externa, não
interessando apenas à estrutura interna da administração, mas também aos particulares
em geral. (Artigo 267º da CRP)
• Normas funcionais: São aquelas que regulam o modo de agir específico da administração
estabelecendo processos de funcionamento bem como métodos de trabalho, formalidades
a cumprir, em que se destacam as normas processuais nos termos do artigo 267º número 4
da CRP.
• Normas relacionais: São aquelas que regulam as relações entre a administração e os outros
sujeitos de direito no desempenho da atividade administrativa. São consideradas as que
apresentam maior relevância, as normas relacionais não são apenas aquelas que regulam
as relações da administração com os particulares, mas também as relações na
administração com outros sujeitos de direito, e assim regulam as relações entre a
administração e os particulares, as relações entre duas ou mais pessoas coletivas públicas e
ainda certas relações entre dois ou mais particulares.

Atos de gestão pública e atos de gestão privada:


• São atos de gestão pública os que se compreendem no exercício de um poder público inteirando
mesmo a realização de uma função pública da pessoa coletiva. O direito administrativo regula
apenas e abrange a atividade da gestão pública da administração na medida em que a atividade da
gestão privada diz respeito ao direito privado.
• São atos de gestão privada os que se compreendem numa atividade em que a pessoa coletiva
"despida" do poder político se encontra numa posição de paridade com os particulares e,
portanto, nas mesmas condições.
Natureza do Direito Administrativo:
• O direito administrativo é considerado um direito excecional que se trata de um conjunto de
exceções ao direito privado, nomeadamente ao direito civil;
• O direito administrativo como direito comum da administração pública: A doutrina defende tratar-
se de uma concessão subjetivista do direito administrativo, sendo assim o direito administrativo é
um direito estatutário, pois estabelece a regulamentação jurídica de uma categoria singular de
sujeitos;
• O direito administrativo como direito comum da administração pública: Em primeiro lugar não é
por ser estatuário que o direito administrativo é direito público na medida em que existem normas
de direito privado que são especificas da administração pública; Em segundo lugar o direito
administrativo não é o único ramo de direito aplicável à administração pública, o que significa que
outros ramos de direito também podem aplicar-se; Em terceiro lugar defende-se que a presença
da administração pública não seja um requisito necessário para que exista uma simples relação
jurídica administrativa. Conclui-se assim que o direito administrativo é acima de tudo um direito
comum da função administrativa.

A função do Direito Administrativo:


• Existem diversas opiniões na doutrina em que se destacam as principais:
• A função do direito administrativo é conferir poderes de autenticidade à administração
pública de modo que ela possa fazer sobrepor o interesse coletivo aos interesses privados.
• A função do direito administrativo é reconhecer direitos e estabelecer garantias a favor dos
particulares frente ao estado, de modo a limitar juridicamente os abusos do poder
executivo e a proteger os cidadãos contra os excessos da autoridade do estado. O direito
administrativo na verdade desempenha uma função mista ou uma dupla função, a de
legitimar a intervenção da autoridade pública e a de proteger a esfera jurídica dos
particulares, permitindo assim a realização do interesse coletivo, impedindo o
esmagamento dos interesses individuais. Em suma, a função é a de organizar a autoridade
do poder do estado e defender a liberdade dos cidadãos.

Caracterização genérica do Direito Administrativo:


• Diz o professor Freitas Amaral que o Direito Administrativo é o garante de uma ação
administrativa eficaz, é um meio de afirmação da vontade do poder e é um meio de proteção do
cidadão contra o estado. Aquilo que caracteriza genericamente o direito administrativo é a
permanente procura de harmonização das exigências da ação administrativa na prossecução de
interesse público com as exigências da garantia dos particulares, na defesa dos seus direitos e
interesses legítimos. (Ex: Todos temos eletricidade em casa, ou seja, contratamos um serviço
público. Se eu, particular não pago a dívida, cortam-me a eletricidade. Mesmo que eu eu vá
reclamar sobre o sucedido e tentar reabrir tenho de pagar um extra.)

Traços específicos do Direito Administrativo:


• Juventude: O direito administrativo é relativamente a outros ramos do direito, mais recente na
medida em que surgiu com a revolução francesa;
• Influência Jurisprudencial: No direito administrativo a jurisprudência dos tribunais tem maior
influência;
• Autonomia: O direito Administrativo é um ramo autónomo de direito que diverge dos restantes
pelo seu objeto, pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas e pelos princípios
gerais em que assenta;
• Codificação parcial: Existem diversos diplomas que codificam o direito administrativo, sendo que o
decreto-lei 442/91 de 15 de novembro aprovou o código de procedimento administrativo,
atualmente regulamentado pela lei número 42/2014 de 11 de julho, tendo, entretanto, várias
alterações.
A ciência do Direito Administrativo:
• Tem por objeto o estudo do ordenamento jurídico-administrativo. Nos primeiros tempos quem
tinha contacto com o direito administrativo limitava-se a tecer comentários às leis administrativas,
só nos finais do século XIX se começou a fazer a construção científica do direito administrativo. Em
Portugal a primeira obra completa a ser publicada sobre o direito administrativo coube ao
professor Marcelo Caetano.

A ciência da Administração:
• A ciência do Direito Administrativo não se confunde com a ciência da administração que não é
uma ciência jurídica, mas sim uma ciência social que tem por objetivo o estudo dos problemas
específicos das organizações públicas, que resultam da dependência destas tanto quanto à sua
existência, como quanto à sua capacidade de decisão e processos de atuação, bem como da
vontade política dos órgãos representativos de uma comunidade.

O poder Administrativo:
• Princípio da separação de poderes: Este princípio consiste numa dupla distinção- A distinção
intelectual das funções do Estado e as funções políticas dos órgãos que as devem desempenhar.
No campo do direito administrativo o princípio da separação de poderes visou/ teve em vista
retirar aos tribunais a função administrativa uma vez que até aí havia uma certa confusão entre a
função administrativa e a função judicial, e os respetivos órgãos. São assim, 3 os eixos do princípio
da separação de poderes:
• Separação dos órgãos administrativos e judiciais: Isto significa que tem de existir órgãos
administrativos dedicados ao exercício da função administrativa e órgãos dedicados ao
exercício da função jurisdicional. A separação de funções tem de traduzir-se numa
separação de órgãos;
• A incompatibilidade das magistraturas: Não basta que existam órgãos diferentes é
necessário estabelecer além disso que nenhuma pessoa simultaneamente desempenhar
funções em órgãos administrativos e judiciais;
• A intendência recíproca da administração e da justiça: A autoridade administrativa é
intendente da judiciária, nenhuma se pode sobrepor à outra, e para assegurar este
principio existem mecanismos jurídicos: O sistema de garantias da independência da
magistratura e a regra legal de que todos os atos praticados pela administração pública em
matéria da competência dos tribunais judiciais, são atos nulos e de nenhum efeito.

• Definição de poder administrativo: A administração pública é um poder fazendo parte daquilo a


que se costuma chamar os poderes públicos. A administração pública do estado corresponde ao
poder executivo sendo que o poder legislativo e o poder judicial não coincidem com a
administração pública. Falar em Direito administrativo teremos de ter em conta que é também
falar em poder executivo, de modo a englobar nele as autarquias locais não é adequado. A
administração pública é efetivamente uma autoridade, um poder público que é o poder
administrativo.

Manifestações do poder administrativo:


• Poder regulamentar: A administração pública tem o poder de fazer regulamentos que designamos
por poder regulamentar e estes regulamentos que a administração pública tem o direito de
elaborar são considerados uma fonte de direito. A administração pública goza de um poder
regulamentar porque é poder e tem assim o direito de definir genericamente em que sentido vai
aplicar a lei. A administração pública tem de respeitar as leis e executá-las e por esse motivo ao
poder administrativo do estado se chama poder executivo, mas porque é poder tem ainda a
faculdade de definir previamente em termos genéricos em que sentido é que vai elaborar e
interpretar as leis em vigor e falo justamente elaborando regulamentos;
• Poder de decisão unilateral: Enquanto no regulamento a Administração Pública nos surge a
elaborar normas gerais e abstratas, aqui a administração surge a resolver casos concretos. Este
poder é um poder unilateral, quer dizer a administração pode exercê-lo por exclusiva autoridade
sua e sem necessidade de obter acordo prévio ou à posteriori do interessado. A administração
perante um caso concreto tem por lei o poder de definir unilateralmente o direito aplicável. Pode
também a lei exigir que os interessados sejam ouvidos relativamente aos seus interesses antes de
ser tomada a decisão pela administração pública, pode também a lei facultar e por vezes faculta a
possibilidade dos particulares apresentarem reclamações ou recursos hierárquicos contra as
decisões da administração. Podem ainda os interessados recorrer das decisões finais que lhe
dizem respeito para os tribunais administrativos, a fim de obterem a anulação de alguma decisão
caso esta seja ilegal. Normalmente a administração decide e só depois é que o interessado pode
recorrer da decisão e a regra é que não é a administração que tem de ir a tribunal para legitimar a
decisão que tomou, mas é sim o particular que tem que impugnar a decisão tomada pela
administração.

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