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AULA

DO REGIME JURÍDICO
ADMINISTRATIVO
Professor Lúcio Antônio Machado Almeida
Doutor e Mestre em Direito pela UFRGS

1
• Conforme Bandeira de Mello:

• “Só se pode falar em Direito Administrativo, no


pressuposto de que existam princípios que lhe são
peculiares e que guardem entre si uma relação lógica
de coerência e unidade compondo um sistema ou
regime” (p.53).
• Quais seriam esses princípios? Qual a posição que
ocupam dentro do ordenamento jurídico?
2
PRINCÍPIOS NORTEADORES

• Segundo Mello,
• Existem os SUPRAPRINCÍPIOS do direito administrativo:
1) Supremacia do interesse público sobre o interesse
privado.

2) Indisponibilidade, pela administração, dos interesses


públicos.
3
• “Todo sistema de Direito Administrativo, a nosso ver,
se constrói sobre os mencionados princípios da
supremacia do interesse público sobre o particular e
indisponibilidade do interesse público pela
administração” (p.57, Mello).

4
• Para Di Pietro:

• “(...) a expressão regime jurídico administrativo é


reservada tão-somente para abranger o conjunto de
traços, de conotações, que tipificam o Direito
Administrativo, colocando a Administração Pública
numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico
administrativo, resume-se a duas palavras:
prerrogativas e sujeições” (p.61).
5
• Para Di Pietro:

• “(...) o Direito Administrativo nasceu e desenvolveu-se


baseado em duas ideias opostas: de um lado, a
proteção aos direitos individuais frente ao Estado, que
serve de fundamento ao princípio da legalidade, um
dos esteios do Estado de Direito; de outro lado, a de
necessidade de satisfação dos interesses coletivos,
que conduz à outorga de prerrogativas e privilégios
para a Administração Pública (...)” (p.62).
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• Princípios chaves e sustentadores do Direito
Administrativo para Di Pietro:

• Princípio da Legalidade: impondo a sujeição da


Administração Pública à observância da lei.

• Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o


Particular: Para garantir a autoridade da Administração
Pública, necessária à consecução de seus fins, são-lhe
outorgados prerrogativas e privilégios.
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• Segundo Mazza:
• “Ao conjunto formado por todos os princípios e normas
pertencentes ao Direito Administrativo, denomina-se
tecnicamente regime jurídico-administrativo. Já a
expressão regime jurídico da Administração designa os
regimes de direito público e de direito privado aplicáveis
à Administração”.

8
TEORIA DOS PRINCÍPIOS DO
DIREITO ADMINISTRATIVO

Antes de adentrarmos na discussão acerca de cada um


dos princípios constitucionais, cabe uma rápida
explicação a respeito da natureza jurídica dos
princípios, bem como situá-los dentro da teoria do
direito.

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• Para os nossos objetivos, cabe destacar a importantíssima obra
acerca da distinção entre princípios e regras do jurista
Humberto Ávila, a qual faz como ninguém no Brasil uma
brilhante exposição da matéria.

• Segundo o autor, os princípios e regras apresentam:

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• Dever imediato - os princípios visam à promoção de um
estado ideal de coisas; já as regras a adoção de conduta
descritiva.

• Dever mediato – os princípios buscam a adoção da conduta


necessária, porém as regras visam a manutenção de fidelidade
à finalidade subjacente e aos princípios superiores.

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• Justificação – Correlação entre efeitos da conduta e o
estado ideal de coisas; já as regras, correspondência entre
o conceito da norma e o conceito do fato.

• Pretensão de decidibilidade – os princípios tem


concorrência e parcialidade; ao passo que as regras
apresentam exclusividade e abarcância.

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• Segundo Ávila,

• “As regras são normas imediatamente descritivas,


primariamente retrospectivas e com pretensão de
decidibilidade e abrangência, para cuja aplicação se
exige avaliação da correspondência, sempre centrada
na finalidade que lhes dá suporte ou nos princípios
que lhes são axiologicamente sobrejacentes, entre a
construção conceitual da descrição e a construção
conceitual dos fatos” (p.70).
13
• “Os princípios são normas imediatamente finalísticas,
primariamente prospectivas com pretensão de
complementaridade e de parcialidade, para cuja
aplicação se demanda uma avaliação da correlação
entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos
decorrentes da conduta havida como à sua
promoção” (p.70).

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• Ávila, também, elabora a tese da existência de metanormas, normas de
segundo grau.
• Segundo o autor,
• “Os postulados normativos situam-se num plano distinto daquele das
normas cuja aplicação se estruturam. A violação deles consiste na não
interpretação de acordo com sua estruturação. São, por isso,
metanormas, ou normas de segundo grau, porém, não deve levar à
conclusão de que os postulados normativos funcionam como qualquer
norma que fundamenta a aplicação de outras normas, a exemplo de
que ocorre no caso de sobreprincípios como princípio do estado de
Direito ou do Devido Processo Legal” (p.80).
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• Em síntese:

• “Os postulados normativos funcionam como estrutura para aplicação de


outras normas” (p.81).

• Segundo o autor, “a análise dos postulados de razoabilidade e de


proporcionalidade, por exemplo, está longe de exigir do aplicador uma mera
atividade subsuntiva. Eles demandam, em vez disso, a ordenação e a relação
entre vários elementos (meio e fim, critério e medida, regra geral e caso
individual), e não um mero exame de correspondência entre a hipótese
normativa e os elementos de fato” (p.82).
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PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO
INTERESSE PÚBLICO
• “Esse princípio, às vezes, está presente tanto no momento da elaboração da
lei como no momento da sua execução em concreto pela Administração
Pública. Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em
toda a sua atuação” (p.65, Di Pietro).

• O princípio do interesse público está expressamente previsto no artigo 2º,


caput, da Lei nº 9.784/99, e especificado no parágrafo único, com a
exigência de "atendimento afins de interesse geral, vedada a renúncia total
ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei" (inciso II).

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PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

• “O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a


Administração deve dispensar aos administrados que se
encontrem em idêntica situação jurídica”.

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SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
• Princípio da finalidade

• “O alvo a ser alcançado pela Administração é somente


o interesse público, e não se alcança o interesse
público se for perseguido o interesse particular,
porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação
discriminatória”.

19
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
• No segundo sentido, o princípio significa, segundo José
Afonso da Silva (2003:647) , baseado na lição de Gordillo
que "os atos e provimentos administrativos são
imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao
órgão ou entidade administrativa da Administração
Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato.
Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a
vontade estatal".
• Ver por exemplo: art.37, 6º, CF/88.

20
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE

• “Outra aplicação desse princípio encontra-se em


matéria de exercício de fato, quando se reconhece
validade aos atos praticados por funcionário
irregularmente investido no cargo ou função, sob
fundamento de que os atos são do órgão e não do
agente público” (p.68, Di Pietro).

21
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE

• Artigo 37, § 1º, proíbe que conste nome, símbolos ou


imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos em publicidade de
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos
órgãos públicos.

22
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
• Art. 2o , Lei 9784/99:

• III - objetividade no atendimento do interesse público,


vedada a promoção pessoal de agentes ou
autoridades;

23
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
• DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO/Lei 9784/99
• Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que:
• I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
• II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou se
tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
• III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge
ou companheiro.
• Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à
autoridade competente, abstendo-se de atuar.
• Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para
efeitos disciplinares.
• Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou
inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros,
parentes e afins até o terceiro grau.
• Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem efeito
suspensivo. 24
SENTIDOS DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
• Explicação sobre impedimento e suspeição

• Para melhor entendimento, lembramos que no


impedimento há presunção absoluta (juris et de jure)
de parcialidade do juiz, enquanto na suspeição há
apenas presunção relativa ( juris tantum)

25
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• Fundamento: Art.37, caput, CF 88.

26
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
• Preceitos (Di Pietro) que ou confirmam ou restringem o princípio da
publicidade:

• “O inciso LX, do art.5° determina que a lei só poderá restringir a publicidade


dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem; como a Administração Pública tutela interesses públicos, não se
justifica o sigilo de seus atos processuais, a não ser que o próprio interesse
público assim determine, como, por exemplo, se estiver em jogo a segurança
pública; ou que o assunto, se divulgado, possa ofender a intimidade de
determinada pessoa, sem qualquer benefício para o interesse público”.

27
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
• “O inciso LX deve ser combinado com o artigo 5º,X, que inova ao
estabelecer serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação; também os incisos XI e XII
do artigo 5º protegem o direito à intimidade; o primeiro garante a
inviolabilidade do domicílio, "salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro ou, durante o dia, por determinação
judicial'', e, o segundo, o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, "salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal“.

28
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• O inciso XIV, art.5º da CF/88, assegura a todos o


acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional.

29
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• “Lei nº 12.527/11 , que regula o acesso a informações, estabelece, no artigo


31 , § 1º, que as informações pessoais, relativas à intimidade, vida privada,
honra e imagem terão seu acesso restrito, independentemente de classificação
de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem anos) a contar da sua data de
produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se
referirem; e poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por terceiros
diante de previsão legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se
referirem”.
30
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• “O inciso XXXIII, art.5º da CF/88 estabelece que todos têm direito a receber
dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado; essa norma deve ser combinada com a
do inciso LX, que garante o sigilo dos atos processuais quando necessário à
defesa da intimidade e proteção do interesse social. Tais dispositivos estão
disciplinados pela Lei 12.527/11”.

31
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• O direito à informação relativa à pessoa é garantido pelo


habeas data, nos termos do inciso LXXII do artigo 5º da
Constituição: "conceder-se-á habeas data:
• a) para assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
• b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-
lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo". 32
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• O inciso XXXIV, art.5º da CF/88, assegura a todos,


independentemente do pagamento de taxas :
• a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
• b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direito e esclarecimento de situações pessoais .

33
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• O direito à expedição de certidão está disciplinado pela Lei


nº 9.051/95, A qual fixa o prazo d e 15 dias para
atendimento, a contar do registro do pedido no órgão
expedidor e exige que do requerimento constem
esclarecimentos relativos aos fins e razões do pedido.

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PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE OU DE VERACIDADE

• “Princípio da presunção de legalidade, abrange dois aspectos:


de um lado, a presunção de verdade, que diz respeito à certeza
dos fatos; de outro lado, a presunção da legalidade, pois, se a
Administração Pública se submete à lei, presume-se, até prova
em contrário, que todos os seus atos sejam verdadeiros e
praticados com observância das normas legais pertinentes”.

• Presunção relativa –
• Decisões administrativas são de execução imediata - 35
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

• Este princípio afirma a necessidade da descentralização


administrativa. Evidentemente, buscando com criação dos
entes administrativos a especialização da função
administrativa.

36
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

• XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas
de sua atuação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

• XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de


subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a
participação de qualquer delas em empresa privada;

37
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
• Lei 6404/76 – Dispõe sobre a sociedade por ações
• Art. 237. A companhia de economia mista somente poderá explorar os
empreendimentos ou exercer as atividades previstas na lei que autorizou a sua
constituição.
• § 1º A companhia de economia mista somente poderá participar de outras
sociedades quando autorizada por lei no exercício de opção legal para aplicar
Imposto sobre a Renda ou investimentos para o desenvolvimento regional ou
setorial.
• § 2º As instituições financeiras de economia mista poderão participar de
outras sociedades, observadas as normas estabelecidas pelo Banco Central do
Brasil.
38
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
• Art. 4° do Decreto-Lei 200/67: A Administração Federal compreende:
• I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na
estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios.
• II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
• a) Autarquias;
• b) Empresas Públicas;
• c) Sociedades de Economia Mista.
• d) fundações públicas.

39
PRINCÍPIO DA MORALIDADE

• “O princípio da moralidade impõe que o administrador


público não dispense os preceitos éticos que devem estar
presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os
critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas
ações, mas também distinguir o que é honesto do que é
desonesto.”

40
• Quando a imoralidade consiste em atos de improbidade,
que, como regra, causam prejuízos ao erário, o diploma
regulador é a Lei nº 8.429/92.

• Pela ação popular, regulamentada pela Lei nº 4.717/65,


qualquer cidadão pode deduzir a pretensão de anular atos
do Poder Público contaminados de imoralidade
administrativa.
41
• A Ação Civil Pública, prevista no art. 129, III, da CF,
como uma das funções institucionais do Ministério
Público, e regulamentada pela Lei nº 7.347/85, como
outro dos instrumentos de proteção à moralidade
administrativa. Recomendamos a leitura dessa
importante lei.

42
PRINCÍPIO DO CONTROLE OU
TUTELA
• “A Administração Pública direta fiscaliza as atividades dos referidos
entes, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades
institucionais .

• Independência da entidade que goza de parcela de autonomia


administrativa e financeira, já que dispõe de fins próprios, definidos em
lei, e patrimônio também próprio destinado a atingir aqueles fins; e, de
outro lado, a necessidade de controle para que a pessoa jurídica política
(União, Estado ou Município)” (P.70).

43
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

• Na autotutela o controle se exerce sobre os próprios atos,


com a possibilidade de anular os ilegais e revogar os
inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.

44
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

• Súmula 346/STF

• A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus


próprios atos.

45
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

• Súmula 6/STF

• A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de


aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo
Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de
aprovada por aquele Tribunal, ressalvada a
Competência revisora do Judiciário.
46
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
• Súmula 473/STF
• A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não
se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial.

• Data de Aprovação: Sessão Plenária de 03/12/1969 47


PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
• Súmula Vinculante 3/STF
• Nos processos perante o Tribunal de Contas da União
asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando
da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão.

48
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

• O art.53 da Lei 9.784/99 prescreve que a Administração deve anular seus


próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.

49
PRINCÍPIO DA HIERARQUIA

• “Em consonância com o princípio da hierarquia, os órgãos


da Administração Pública são estruturados de tal forma
que se cria uma relação de coordenação e subordinação
entre uns e outros, cada qual com atribuições definidas na
lei” (P.71, Di Pietro).

50
PRINCÍPIO DA HIERARQUIA
• Conforme Di Pietro:

• “Com a instituição da súmula vinculante pelo artigo 103-A da Constituição


Federal(acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45/04, sobre reforma do
Poder Judiciário), é estabelecida uma subordinação hierárquica dos órgãos do
Judiciário ao Supremo Tribunal Federal; isto porque, se a decisão judicial contrariar
ou aplicar indevidamente a súmula, o Supremo Tribunal Federal poderá cassá-la se
acolher reclamação a ele dirigida, e determinar que outra seja proferida. A mesma
subordinação ocorrerá com as decisões definitivas proferidas em ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou
ato normativo federal ou estadual (art. 1 02, § 2º, da Constituição)” (p.71).

51
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO
SERVIÇO PÚBLICO

• “Por esse princípio entende-se que o serviço público, sendo a forma pela
qual o Estado desempenha funções essenciais ou necessárias à coletividade,
não pode parar” (p.71-72, Di Pietro).

52
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO
SERVIÇO PÚBLICO
• A) necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição
para preencher as funções públicas temporariamente vagas;
• B) a impossibilidade, para quem contrata com a Administração, de invocar a
exceptio non adimpleti contractus nos contratos que tenham por objeto a
execução de serviço público;
• C)a faculdade. que se reconhece à Administração de utilizar o s
equipamentos e instalações da empresa que com ela contrata, para
assegurar a continuidade do serviço;
• D) com o mesmo objetivo, a possibilidade de encampação da concessão de
serviço público.
53
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
• “A lei deve estimular as formas de participação do
usuário na administração pública direta e indireta,
regulando especialmente: a) reclamações relativas a
prestação dos serviços públicos em geral; b) o acesso
dos usuários a registros administrativos e informações
sobre atos de governo; c) a disciplina da
representação contra o exercício negligente ou
abusivo do cargo, emprego ou função” (p.115,Mazza).
• Art.37, §3º, CF 88

54
PRINCÍPIO DA CELERIDADE
PROCESSUAL

• Princípio da celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, da


CF): assegura a todos, nos âmbitos judicial e
administrativos, a razoável duração do processo e os
meios que garantam celeridade na sua tramitação.

55
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL
• Devido processo legal formal e material (art. 5º, LIV,
da CF):

• a) devido processo legal formal: exige o cumprimento


de um rito predefinido como condições de validade da
decisão.

56
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL

• b) devido processo legal material ou substantivo: além de respeitar o rito, a


decisão final deve ser justa e proporcional. Por isso, o devido processo legal
material ou substantivo tem o mesmo conteúdo do princípio da
proporcionalidade. Outro apontamento importante: nos processos
administrativos, busca-se a verdade real dos fatos, e não simplesmente a
verdade formal baseada apenas na prova produzida nos autos;

• Fonte: Mazza.
57
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL

• Na órbita desse princípio estão todos os processos


realizados pela Administração Pública. Recomenda-se a
leitura da lei de processo administrativo federal, Lei
9.784/99, bem como a lei dos servidores públicos federais,
Lei 8.112/90, no que tange ao PAD. Nesse sentido, ler
também a Súmula Vinculante 5 do STF.
58
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

• contraditório (art. 5º, LV, da CF): as decisões administrativas


devem ser proferidas somente após ouvir os interessados e
contemplar, na decisão, as considerações arguidas;

59
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

• Conforme o art. 2º, inciso X da Lei 9.784/99:

• garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de


alegações finais, à produção de provas e à interposição de
recursos, nos processos de que possam resultar sanções e
nas situações de litígio;

60
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

• Ampla defesa (art. 5º, LV, da CF): obriga assegurar aos


litigantes, em processo judicial ou administrativo, a
utilização dos meios de prova, dos recursos e dos
instrumentos necessários para os interessados
defenderem seus interesses perante a Administração.

61
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

• Conforme o art. 2º, inciso X da Lei 9.784/99:

• garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações


finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos
processos de que possam resultar sanções e nas situações de
litígio;

62
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Em razão desse princípio a Administração Pública


deve atuar sempre de acordo com a lei, que é a
expressão da vontade popular.

63
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Princípio da Legalidade

• “O princípio da legalidade é certamente a diretriz


básica da conduta dos agentes da Administração.
Significa que toda e qualquer atividade administrativa
deve ser autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é
ilícita”.

64
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Fundamento constitucional do princípio da


legalidade:

• Art.5º, II, CF/88 - ninguém será obrigado a fazer ou


deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

65
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Art. 37, CF/88. A administração pública direta e


indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
.
66
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Art. 84, IV, CF/88 - sancionar, promulgar e fazer


publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução;

• Como bem explica Mazza, os atos administrativos dependem da sua validade a edição anterior de lei.

67
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• De acordo com Mazza:

• A doutrina europeia costuma desdobrar o conteúdo


da legalidade em duas dimensões fundamentais ou
subprincípios:

• a) Princípio da primazia da lei; e b) Princípio da


reserva legal.
68
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• “0 princípio da primazia da lei, ou legalidade em


sentido negativo, enuncia que os atos administrativos
não podem contrariar as leis. Trata-se de uma
consequência da posição de superioridade que, no
ordenamento, a lei ocupa em relação aos atos
administrativos”.

69
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• “Quanto ao princípio da reserva legal, ou legalidade em
sentido positivo, preceitua que os atos administrativos só
podem ser praticados mediante autorização legal,
disciplinando temas anteriormente regulados pelo
legislador. Não basta não contradizer a lei. 0 ato
administrativo deve ser expedido secundum legem. A
reserva legal reforça o entendimento de que somente a
lei pode inovar originariamente na ordem jurídica”.
70
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Mazza destaca, também, o princípio da juridicidade,
isto e, a obrigação dos agentes públicos respeitarem a
lei e outros instrumentos normativos existentes na
ordem jurídica.

• Vide: art.59 cf/88+princípios (Bloco da legalidade).

71
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Legalidade pública versus legalidade privada:

• Segundo Hely Lopes Meirelles,

• "Na Administração Pública não há liberdade nem


vontade pessoal. Enquanto na administração
particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na
Administração Publica é permitido fazer o que a lei
autoriza”.
72
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Legalidade privada apresenta os seguintes elementos:

• Destinatários: privados
• Fundamento: autonomia da vontade
• Significado: podem fazer tudo que a lei não proíba
• Silêncio legislativo: equivale a permissão
• Sentido da norma específica: normas permissivas excepcionam
proibições gerais
• Norma geral implícita: permissiva
73
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Legalidade pública apresenta os seguintes elementos:
• Destinatários: agentes públicos
• Fundamento: subordinação
• Significado: só podem fazer o que a lei autoriza
• Silêncio legislativo: equivale a proibição
• Sentido da norma específica: normas proibitivas excepcionam
permissões gerais ou reforçam vedações
• Norma geral implícita: proibitiva

74
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Mazza adverte três exceções ao princípio da
legalidade, destacando a reflexão de Celso Antônio
Bandeira de Mello:

• a) a medida provisória (art. 62 da CF);


• b) o estado de defesa (art.136 da CF);
• c) o estado de sítio (arts. 137 a 139 da CF).
75
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• Teoria da Supremacia Especial (Otto Mayer):

• 1) Relações de sujeição ou supremacia geral: são os vínculos


jurídicos comuns que ligam a Administração e os particulares
no contexto do poder de polícia.

• “somente por meio de lei podem ser criadas obrigações de


fazer ou de não fazer, cabendo a Administração o papel de
simples executora da vontade legal” (Mazza).
76
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
• 2) Relações de sujeição ou supremacia especial:
marcadas por uma maior proximidade diante da
estrutura estatal, surgindo na hipótese de o particular
ingressar, física ou juridicamente, na intimidade da
Administração Pública, de modo a atrair a incidência
de um conjunto especial de princípios com normas
derrogatórias da disciplina convencional aplicável ao
poder de policia. “Usuário de biblioteca municipal e aluno de
universidade pública”.
77
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Relações de sujeição ou supremacia especial:

• Admite-se a criação de deveres e proibições por meio


de ato administrativo.

78
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

• Há o entendimento de que a legalidade está adstrita a ideia de


obediência à lei, contudo não podemos esquecer que também deve
estar de acordo com o direito. Assim, por exemplo, temos o
mandamento do art. 2º, inciso I, da Lei 9.784/99:

• - atuação conforme a lei e o Direito;

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PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
• Princípio da eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos : pode
ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público,
do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições,
para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de
organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também
com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na
prestação do serviço público.

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PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

• A Emenda Constitucional nº 19/98, inseriu o princípio


da eficiência entre os princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no artigo 37, caput.
Também a Lei nº 9.784/99 fez referência a ele no
artigo 2º, caput.

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PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
JURÍDICA
• Conforme Di Pietro:

• “A segurança jurídica tem muita relação com a ideia


de respeito à boa-fé. Se a Administração adotou
determinada interpretação como a correta e a aplicou
a casos concretos, não pode depois vir a anular atos
anteriores, sob o pretexto de que os mesmos foram
praticados com base em errônea interpretação”
(p.85). 82
• Ver:

• Art.2º, VIII, Lei 9784/99.

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PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO À
CONFIANÇA

• “O princípio da proteção à confiança leva em conta a


boa-fé do cidadão, que acredita e espera que os atos
praticados pelo Poder Público sejam lícitos e, nessa
qualidade serão mantidos e respeitados pela própria
Administração e por terceiros” (p.86, Di Pietro).

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PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
• “O princípio da motivação exige que a Administração Pública
indique os fundamentos de fato e de direito de suas
decisões. Ele está consagrado pela doutrina e pela
jurisprudência, não havendo mais espaço para as velhas
doutrinas que discutiam se a sua obrigatoriedade alcançava
só os atos vinculados ou só os atos discricionários, ou se
estava presente em ambas as categorias. A sua
obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque
se trata de formalidade necessária para permitir o controle
de legalidade dos atos administrativos” (Di Pietro). 85
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
• Ver:

• Art.2º, VII e art.50 da Lei 9784/99.

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PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

• O princípio da boa-fé abrange um aspecto objetivo,


que diz respeito à conduta leal, honesta, e um aspecto
subjetivo, que diz respeito à crença do sujeito de que
está agindo corretamente. Se a pessoa sabe que a
atuação é ilegal, ela está agindo de má-fé.

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REFERÊNCIAS:
• BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de direito administrativo.
26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
• BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princípios gerais de direito
administrativo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. v. 1.
• CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
• CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. Bahia:
Juspodvm, 2017.
• DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª ed. São
Paulo: Atlas, 2011.
88
• FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de direito administrativo. 3. ed. Sao
Paulo: Malheiros, 1998.
• GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
• JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo:
Saraiva, 2005.
• LIMA, Ruy Cirne. Princípios de direito administrativo brasileiro. 2. ed.
Porto Alegre: Livraria do Globo, 1939.

89
• MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo:
Saraiva, 2016.
• MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo:
Malheiros, 2014.
• RIVERO, Jean. Direito administrativo. Coimbra: Almedina, 1975.

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