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D DM II. Princípios do direito administrativo
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Princípios do direito administrativo
2.1. Teoria Geral dos princípios administrativos
-Princípios condensam os valores fundamentais de um sistema.
-Os princípios são balizas que pautam toda a atividade administrativa.
-Princípios podem ser expressos ou implícitos:
 a)Expressos: possuem previsão legal escrita;
 b)Implícitos: consequências lógicas da interpretação do
sistema normativo.
-Para Celso Antônio Bandeira de Mello, princípio é “mandamento
nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental
que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e
servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas,
exatamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema
normativo, conferindo-lhes a tônica que lhe dá sentido harmônico”.
Princípios do direito administrativo
2.1. Teoria Geral dos princípios administrativos
-Violar uma norma-princípio é mais grave do que violar uma norma-regra.
-Dupla funcionalidade dos princípios:
 1) Função hermenêutica ou interpretativa;
 2) Função integrativa ou de colmatação de lacunas.
-Regime jurídico-administrativo: trata-se do conjunto formado por todos os
princípios e demais normas pertencentes ao Direito Administrativo, que
compõem o equilíbrio do sistema e determinam a unidade e racionalidade
interna do regime administrativo.
-Todos os institutos deste sistema articulam-se, gravitam, equilibram-se em
função da racionalidade inerente ao sistema.
-Todos os princípios do Direito Administrativo são relativos, isto é, não são
absolutos: podem ser afastados em razão da aplicação de outros princípios.
Princípios do direito administrativo
2.2. Os supraprincípios (ou superprincípios)
a) Supremacia do interesse público sobre o privado
-Os interesses da coletividade são mais importantes do que os interesses
individuais. Trata-se de uma condição de existência de qualquer
sociedade.
-Princípio implícito extraído da sistemática constitucional como um todo.
-Poderes especiais são conferidos à Adm. Pública para a busca dos
interesses públicos (prerrogativas).
-São expressões da dita supremacia: a) impor obrigações a terceiros
mediante atos unilaterais; b) imperatividade dos atos administrativos; c)
exigibilidade ou previsão de sanções e providências indiretas; d)
autoexecutoriedade dos atos administrativos; e) princípio da autotutela.
-A relação entre Adm. Pública e particular é vertical, de superioridade.
Princípios do direito administrativo
2.2. Os supraprincípios (ou superprincípios)
a) Supremacia do interesse público sobre o privado
-A supremacia do interesse público é vislumbrada tanto no momento
de elaboração das leis, quanto no momento de sua aplicação.
-Somente pode-se falar em supremacia do interesse público primário
sobre o privado. Não existe supremacia do interesse público
patrimonial do Estado (secundário) sobre o particular.
-Prerrogativas administrativas são poderes-deveres (ou deveres-
poderes) instrumentais para o cumprimento da função administrativa.
-Os poderes-deveres (deveres-poderes) só podem ser validamente
exercidos na extensão e intensidade indispensáveis para o
cumprimento do escopo legal, sob pena de desvio de poder.
Princípios do direito administrativo
2.2. Os supraprincípios (ou superprincípios)
b) Indisponibilidade do interesse público
-O interesse público não se encontra à livre disposição de quem quer que
seja, posto tratar-se de interesse da coletividade.
-Nem mesmo o órgão administrativo que os representa não tem
disponibilidade sobre o interesse público, cumprindo a ele apenas tutelá-lo,
em conformidade com o disposto em lei.
-A Administração Pública não titulariza o interesse público, mas apenas o
protege e o exercita através da função administrativa (sentido material),
utilizando-se do conjunto de órgãos (sentido subjetivo).
-Em função do princípio da indisponibilidade, não se admite que os
agentes públicos renunciem aos poderes a eles conferidos. Em regra,
também é vedado transacionar em juízo, pois assim se estaria dispondo do
interesse público.
Princípios do direito administrativo
2.2. Os supraprincípios (ou superprincípios)
b) Indisponibilidade do interesse público
-O Novo Código de Processo Civil (NCPC/2015), trouxe novidades em relação à
possibilidade de a Administração Pública transacionar em juízo: Art. 174. A União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições
relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação,
no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
Mais recentemente, os tribunais superiores vêm admitindo excepcionalmente a transação em
juízo, quando o resultado útil da medida atende o interesse público:
RE 253.885-0/MG: "Poder Público. Transação. Validade. Em regra, os bens e o interesse
público são indisponíveis, porque pertencem à coletividade. É, por isso, o Administrador, mero
gestor da coisa pública, não tem disponibilidade sobre os interesses confiados à sua guarda e
realização. Todavia, há casos em que o princípio da indisponibilidade do interesse público deve
ser atenuado, mormente quando se tem em vista que a solução adotada pela Administração é a
que melhor atenderá à ultimação deste interesse”.
Princípios do direito administrativo
2.3. Princípios constitucionais do Direito Administrativo
-Todos os princípios do Direito Administrativo são decorrência dos
princípios da supremacia do interesse público e da indisponibilidade
do interesse público, que são supraprincípios.
-O art. 37, caput, da CF prevê um rol meramente exemplificativo
com cinco princípios expressos:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)
Princípios do direito administrativo
2.3.1. Princípio da legalidade
-Principal e mais importante princípio do Direito
Administrativo.
-A atividade administrativa somente pode ser exercida em
conformidade com a lei, portanto, trata-se de uma atividade
infralegal.
-Enquanto a supremacia do interesse público é condição
para existência de qualquer sociedade juridicamente
organizada com fins políticos, o princípio da legalidade é
condição de existência do Estado de Direito, sendo o fruto
da submissão do Estado à lei.
-O princípio da legalidade é a tradução jurídica de um propósito
político: o de submeter os exercentes do poder às limitações
impostas em lei, evitando favoritismos, perseguições ou
desmandos.
-O princípio da legalidade tem como raiz a ideia de soberania
popular, de exaltação da cidadania, portanto insurge-se contra
qualquer manifestação de poder autoritário ou personalismos de
governantes.
-Arrima-se na máxima do rule of law, isto é, o governo das leis,
e não dos homens.
Princípios do direito administrativo
2.3.1. Princípio da legalidade
-A atividade administrativa tem o fim de concretização das
disposições legais, não podendo instaurar originariamente
obrigações ou cercear direitos dos particulares, isto é, não
pode inovar na ordem jurídica.

CF, art. 5º, inciso II - ninguém será obrigado a fazer ou


deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
-O princípio da legalidade possui dois sentidos, positivo e negativo:
a)Negativo: princípio da primazia da lei: os atos administrativos não
podem contrariar a lei;
b)Positivo: princípio da reserva legal: os atos administrativos só
podem ser praticados mediante autorização legal.

-O princípio da legalidade, no Brasil, significa que a Administração


Pública só pode fazer o que a lei autoriza. Ao contrário dos
particulares, que podem fazer tudo aquilo que a lei não proíbe (norma
geral permissiva implícita e norma geral proibitiva implícita).
Princípios do direito administrativo
2.3.1. Princípio da legalidade
Diferenças entre legalidade privada e legalidade pública

Critério de diferenciação Legalidade privada Legalidade pública

Destinatário Particulares Agentes públicos

Fundamento Autonomia da vontade Subordinação

Significado Podem fazer tudo que a lei Só podem fazer o que a lei
não proíbe permite

Silêncio legislativo Equivale a permissão Equivale a proibição

Norma geral implícita Permissiva Proibitiva


Princípios do direito administrativo
2.3.2. Princípio da impessoalidade
-A Administração tem que tratar a todos os administrados
sem discriminações, benéficas ou maléficas. Não são
tolerados favoritismos nem perseguições.
-Há estreita relação do princípio da impessoalidade com a
finalidade do ato administrativo. Ao agir visando a
finalidade pública inscrita na lei, o agente público
necessariamente imprime objetividade e impessoalidade na
sua atuação.
-CF, art. 37, inciso II - a investidura em cargo ou emprego
público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos (...);
-CF, art. 37, inciso XXI - ressalvados os casos especificados
na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes (...).
Princípios do direito administrativo
2.3.2. Princípio da impessoalidade
-A impessoalidade é caminho de mão dupla: de um lado, o
administrado deve receber tratamento sem privilégios ou
preterições. De outro, o agente público não pode imprimir
pessoalidade associando sua imagem pessoal a uma
realização governamental.
-Subprincípio da vedação da promoção pessoal
-A atuação dos agentes públicos é imputada ao Estado, o
que significa um agir impessoal da Administração (atuação
sem rosto).
Art. 37, § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.
-A Lei nº 9.784/99, estabelece no seu art. 2º, parágrafo único, que
“nos processos administrativos serão observados, dentre outros, os
critérios de: III – objetividade no atendimento do interesse público,
vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades.
-Observação especial: proibição de slogans (STF, RE 191668/08).
Princípios do direito administrativo
2.3.2. Princípio da impessoalidade

-STF, RE 191668/08:
EMENTA. Publicidade de atos governamentais. Princípio da impessoalidade.
1. o Caput e o §1º do art. 37 da CF impedem que haja qualquer tipo de
identificação entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os
partidos políticos a que pertencem. O rigor do dispositivo constitucional que
assegura o princípio da impessoalidade vincula a publicidade ao caráter
educativo, informativo ou de orientação social é incompatível com a menção
de nomes, símbolos ou imagens, aí incluídos slogans, que caracterizem
promoção pessoal ou de servidores públicos. A possibilidade de vinculação
do conteúdo da divulgação com o partido político a que pertença o titular do
cargo público mancha o princípio da impessoalidade e desnatura o caráter
educativo, informativo ou de orientação que constam do comando posto
pelo constituinte dos oitenta.
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
-Teoria do mínimo ético

 -Teoria dos círculos independentes


Moral


Direito -Teoria dos Moral
círculos secantes

Moral Direito

Direito
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
-Teoria do mínimo ético (Georg Jellinek): As regras
jurídicas têm a função principal de reforçar a exigibilidade
de um conjunto básico de preceitos éticos. O Direito faria
parte de um complexo mais amplo de regras sociais
pertencentes à moral.
Tal concepção esquece que a moralidade pode variar de
local para local, e que nem toda regra jurídica será
considerada ética para determinado grupo. Ex: foro
privilegiado.
-Teoria dos círculos independentes (Hans Kelsen): Sustenta a
desvinculação absoluta entre Direito e Moral, constituindo grupos
diferentes de regras sociais.
Tal concepção esquece que algumas regras jurídicas visivelmente
são coincidentes com preceitos morais. Ex: crime de bigamia.
-Teoria dos círculos secantes (Claude Du Pasquier): O Direito e a
Moral seriam complexos normativos distintos com uma área de
intersecção e, ao mesmo tempo, regiões particulares de
independência.
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
Conteúdo jurídico da moralidade administrativa
-A moralidade administrativa exige que os agentes públicos pautem
sua conduta em conformidade com os padrões éticos de boa-fé,
decoro, lealdade, honestidade e probidade.
-A moralidade administrativa difere da moral comum, pois não é
voltada para a distinção entre o bem e o mal, mas sim entre a boa e a
má administração.
-O atentado à moralidade administrativa pressupõe o menosprezo a
um bem juridicamente valorado, isto é, representa um reforço ao
princípio da legalidade.
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
-A Constituição refere-se pelo menos em três dispositivos ao dever de
observância da moralidade administrativa:
1)Art. 5º, inciso LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
2)Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)
3)Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da
República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra: (...) V – a probidade na administração.
Princípios
2.3.3. Princípio do direito
da moralidade
administrativo
-Nepotismo: um atentado à moralidade administrativa.
Súmula vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em
linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de
direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e
indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal”.
Observação especial: O STF ressalvou que a proibição não é extensiva a agentes
políticos do Poder Executivo como Ministros de Estado, Secretários Estaduais,
Distritais ou Municipais (Rec. 6650/PR).
Observação especial: Mesmo em caso de cargos políticos, poderá ficar
caracterizado o nepotismo caso fique demonstrada a inequívoca falta de
razoabilidade da indicação por manifesta ausência de qualificação técnica ou
inidoneidade moral do nomeado.
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
-Boa-fé subjetiva X Boa-fé objetiva
A boa-fé subjetiva (boa-fé crença ou convicção) consiste na investigação
sobre a vontade e intenção do indivíduo, sobre o aspecto subjetivo interno
do sujeito quando da prática do ato. Seria uma noção contraposta à má-fé.
A boa-fé objetiva (boa-fé conduta) diz respeito à atitude externa do
sujeito, ao comportamento manifestado externamente, sendo irrelevante
sua intenção. A noção contraposta seria a ausência de boa-fé.
A legislação administrativa prestigia a boa-fé objetiva manifestada pelas
ações externas dos sujeitos, sendo irrelevante a sua intenção. Leva-se em
conta a conduta praticada, investiga-se se esta conduta violou padrões de
lealdade, honestidade e correção.
A ausência de boa-fé pode implicar na aplicação de sanções
administrativas.
Princípios do direito administrativo
2.3.3. Princípio da moralidade
Instrumentos para a defesa da moralidade administrativa
A) Ação popular: qualquer cidadão é legitimado para propor ação popular contra ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (art. 5º, LVIII
e Lei 4.717/65);
B) Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa: O MP e demais pessoas
jurídicas interessadas têm legitimidade para propor “AIA” contra ato de
improbidade praticado por qualquer agente público, servidor ou não, contra a Adm.
Direta ou Indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, DF e Municipios (Lei
8.429/92);
C) Tribunais de Contas: têm legitimidade para exercer a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos órgãos e entidades da Adm.
Direta e Indireta (art. 70 da CF);
D) Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs): os Parlamentos podem instaurar,
mediante requerimento de um terço dos parlamentares da casa, CPIs com poderes de
investigação próprios de autoridades judiciais para apuração de fato determinado.
Princípios do direito
administrativo

Princípio da publicidade
Princípio da publicidade
Princípio da publicidade
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Conteúdo jurídico do princípio da publicidade
-O princípio da publicidade pode ser visto a partir de dois prismas distintos:
A) Exigência de publicação oficial dos atos administrativos, como requisito
para sua eficácia;
B) Exigência de transparência da atuação administrativa.
-A publicação oficial dos atos administrativos diz respeito à necessária
divulgação e transparência dos comportamentos administrativos.
-Além disso, para que produzam efeitos, os atos administrativos devem ser
divulgados no veículo de imprensa oficial (diário oficial).
Observação especial: Conexão com o princípio da moralidade: “O princípio
da publicidade visa dar transparência aos atos da administração pública e
contribuir para a concretização do princípio da moralidade administrativa”.
Princípios do direito administrativo
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Conteúdo jurídico do princípio da publicidade
-Visto a partir do prisma “transparência da atuação administrativa”, o
princípio da publicidade permite o exercício do contraditório pelos
administrados, exercendo, assim, o controle da administração pública.
-Duas importantes garantias individuais que visam assegurar a
“transparência da administração pública” são o direito de petição e o
direito de obtenção de certidões em repartições públicas.
Observação importante: Princípio da motivação.
-Motivação é a exposição, por escrito, dos motivos que levaram à
prática do ato.
-A motivação do ato permite o exercício do contraditório.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Normas constitucionais que tutelam a publicidade
a) Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
b) Art. 5º, XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do
pagamento de taxas: (...) b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
c) Art. 5º, LXXII - conceder-se-á habeas data:
 a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa
do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de
entidades governamentais ou de caráter público;
 b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Subprincípios do princípio da publicidade
1) Princípio da transparência: dever de prestar informações de
interesse dos cidadãos e de não praticar condutas sigilosas;
2) Princípio da divulgação oficial: dever de publicar o conteúdo dos
atos praticados atentando-se para o meio de publicidade oficial.
Obs. Especial: A veiculação do ato praticado pela administração
pública na Voz do Brasil, programa de âmbito nacional, dedicado a
divulgar fatos e ações ocorridos ou praticados no âmbito dos três
poderes da União, não é suficiente para ter-se como atendido o
princípio da publicidade.
Obs. Especial 2: O STF julgou pela legitimidade da divulgação em
sítio eletrônico da Administração Pública, dos nomes de seus
servidores e dos valores dos respectivos vencimentos (ARE 652.777).
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Efeitos da publicidade dos atos administrativos
a) exteriorizar a vontade da Administração Pública divulgando seu
conteúdo para conhecimento público;
b) presumir o conhecimento do ato pelos interessados;
c) tornar exigível o conteúdo do ato;
d) desencadear a produção de efeitos do ato administrativo;
e) dar início ao prazo para interposição de recursos;
f) indicar a fluência dos prazos de prescrição e decadência;
g) impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato;
h) permitir o controle de legalidade do comportamento.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011)
Finalidade e diretrizes da Lei de Acesso à Informação
Os procedimentos previstos na Lei de Acesso à Informação destinam-se a assegurar o
direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade
com os princípios básicos da administração pública e com as diretrizes estabelecidas por
esta lei.
Alcance subjetivo da Lei de Acesso à Informação
-Poderes Legislativo (incluindo os Tribunais de Contas), Executivo e Judiciário e o
Ministério Público;
-Órgãos da Adm. Direta da União, Estados, DF e Municípios;
-Autarquias, Fundações, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e demais
entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, DF e Municípios;
-Entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos públicos diretamente do
orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria,
convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011)
Direitos e garantias da Lei de Acesso à Informação
Art. 5o É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será
franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara
e em linguagem de fácil compreensão.
Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações
aos órgãos e entidades referidos no art. 1o desta Lei, por qualquer meio legítimo,
devendo o pedido conter a identificação do requerente e a especificação da
informação requerida.
Art. 14. É direito do requerente obter o inteiro teor de decisão de negativa de
acesso, por certidão ou cópia.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/2011)
Classificação da informação quando ao grau de sigilo
Art. 24, § 1o Os prazos máximos de restrição de acesso à
informação, conforme a classificação prevista no caput, vigoram a
partir da data de sua produção e são os seguintes:
I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
II - secreta: 15 (quinze) anos; e
III - reservada: 5 (cinco) anos.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Decreto regulamentador da Lei de Acesso à Informação (Dec. 7.724/12)
Art. 30. A classificação de informação é de competência:
I - no grau ultrassecreto, das seguintes autoridades:
a) Presidente da República;
b) Vice-Presidente da República;
c) Ministros de Estado e autoridades com as mesmas prerrogativas;
d) Comandantes da Marinha, do Exército, da Aeronáutica; e
e) Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares permanentes no exterior;
II - no grau secreto, das autoridades referidas no inciso I do caput, dos titulares de
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista; e
III - no grau reservado, das autoridades referidas nos incisos I e II do caput e das
que exerçam funções de direção, comando ou chefia do Grupo-Direção e
Assessoramento Superiores - DAS, nível DAS 101.5 ou superior, e seus
equivalentes.
Princípios do direito administrativo
2.3.4. Princípio da publicidade
Decreto regulamentador da Lei de Acesso à Informação (Dec.
7.724/12)
Dispositivo revogado:
Art. 30, § 1º É permitida a delegação da competência de
classificação no grau ultrassecreto pelas autoridades a que se refere o
inciso I do caput para ocupantes de cargos em comissão do Grupo-
DAS de nível 101.6 ou superior, ou de hierarquia equivalente, e para
os dirigentes máximos de autarquias, de fundações, de empresas
públicas e de sociedades de economia mista, vedada a subdelegação.
CF: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
Princípios do direito administrativo
2.3.5. Princípio da eficiência
-Também conhecido por princípio da boa administração, o princípio
da eficiência visa desenvolver a atividade administrativa do modo
mais congruente, mais oportuno e mais adequado aos fins a serem
alcançados, graças à escolha dos meios e da ocasião de utilizá-los,
concebíveis como os mais idôneos para tanto (Celso Antônio).
-Para Hely Lopes Meirelles, o princípio da eficiência exige que a
atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e
rendimento funcional, sendo este o mais moderno princípio da função
administrativa.
Princípios do direito administrativo
2.3.5. Princípio da eficiência
-Tal princípio exige não apenas que a atividade administrativa seja
desempenhada dentro da legalidade, mas também que sejam
alcançados resultados positivos para o serviço público e satisfatórios
para o atendimento das necessidades da comunidade.
-O princípio da eficiência foi acrescentado ao caput do art. 37 da
Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 19/1998, no
contexto da Reforma Administrativa, que procurou implementar o
modelo de Administração pública gerencial voltada para um controle
de resultados na atuação estatal.
Princípios do direito administrativo
2.3.5. Princípio da eficiência
-Valores exigidos pelo princípio da eficiência são: economicidade, redução
de desperdícios, qualidade, rapidez, produtividade e rendimento funcional.
-Gestão por resultados:
• Iniciativa privada: busca-se o lucro;
• Administração pública: busca-se o interesse público.
-Tendo em vista que o princípio da eficiência só pode ser analisado senão
em conjunto com os outros princípios do Direito Administrativo, este
princípio consiste na busca por melhores resultados por meio da aplicação da
lei.
Princípios do direito administrativo
2.3.6. Princípio da autotutela
-Consiste no poder-dever que tem a Administração Pública para anular
seus atos ilegais e revogar os atos inconvenientes sem necessidade de
recorrer ao Poder Judiciário para tanto.
• Anulação: vício de legalidade;
• Revogação: problema de mérito – conveniência e oportunidade.
-Trata-se de uma consequência da independência funcional da
Administração Pública, consagrada na possibilidade de realizar o controle
interno dos seus atos.
-Também conhecido como princípio da autoproteção.
Princípios do direito administrativo
2.3.6. Princípio da autotutela
-Art. 53 da Lei 9.784: A Administração deve anular seus próprios
atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.
-Súmula 346 do STF: A administração pública pode declarar a
nulidade dos seus próprios atos.
-Súmula 473: A Administração pode anular seus próprios atos,
quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.
-Diferença entre autotutela e tutela administração (tutela
administrativa).
Princípios do direito administrativo
2.3.6. Princípio da autotutela
-Prazo para anular um ato administrativo ilegal
-Art. 54 da Lei 9.784/99 – O direito da Administração de anular os
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
-Esse prazo somente se aplica para Estados e Municípios caso estes
ainda não tenham criado suas próprias leis de processo administrativo,
estabelecendo seus próprios prazos para anulação dos atos ilegais (ex.:
em Pernambuco o prazo legal é de dez anos);
-Para o STF (MS 26.860/DF – Rel. Luiz Fux), o prazo decadencial de
cinco anos não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a CF. Trata-se de exceção construída pela jurisprudência
do STF, sem previsão legal.
Princípios do direito administrativo
2.3.7. Princípio da motivação (obrigatória motivação)
-É o dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de
direito e de fato que determinaram a sua prática.
-O administrado necessita conhecer as razões de tais atos na ocasião
em que são expedidos para poder insurgir-se contra eles.
-Os atos administrativos praticados sem a tempestiva e suficiente
motivação são ilegítimos e invalidáveis pelo Judiciário.
-Mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das
decisões da Administração Pública.
Princípios do direito administrativo
2.3.7. Princípio da motivação (obrigatória motivação)
-Art. 93, X, da CF: as decisões administrativas dos tribunais serão
motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo
voto da maioria absoluta de seus membros.
-Motivação: justificativa escrita sobre as razões fáticas e jurídicas que
determinaram a prática do ato;
-Motivo: é o fato que autoriza a realização do ato administrativo.
*Observação especial: Teoria dos motivos determinantes; motivação
per relationem (fora do ato).
Princípios do direito administrativo
2.3.8. Princípio da razoabilidade
-O desempenho das competências administrativas deve ser realizado com
moderação e racionalidade, tendo em vista os limites e restrições impostos
pela legislação.
-Evita a prática de comportamentos imoderados, abusivos, irracionais,
desequilibrados, inadequados, desmedidos, incoerentes, desarrazoados ou
inaceitáveis à luz do bom-senso, portanto incompatíveis com o interesse
público.
-Ex.: exigir que os aposentados acima de 80 anos compareçam ao INSS para
realizar prova de vida; concurso para varredor de rua que exija nível superior;
exclusão de candidato em virtude de possuir tatuagem.
Princípios do direito administrativo
2.3.9. Princípio da proporcionalidade
-Consiste na aferição da justa medida da reação administrativa diante da
situação concreta, ou seja, na proibição de exageros no exercício da função
administrativa.
-Também chamado de princípio da adequação entre meios e fins, a
proporcionalidade ganha especial importância no processo administrativo
disciplinar, voltada para coibir os excessos punitivos.
-Há duas formas de violação da proporcionalidade: extensiva ou intensiva.
Ex1: Demissão do funcionário público por chegar atrasado um dia;
Ex2: Proibir o banho de sol de todos os detentos por conta de uma “briga no
baba” envolvendo dois detentos.
Princípios do direito administrativo
2.3.10. Princípio da continuidade dos serviços públicos
-Princípio implícito, que decorre do regime de direito público aplicável
aos serviços públicos.
-Os serviços públicos são prestados no interesse da coletividade, por
isso mesmo sua prestação deve ser adequada, não podendo sofrer
interrupções.
-A interrupção de um serviço público prejudica toda a coletividade, que
dele depende para satisfação de seus interesses e necessidades.
-Este princípio gera uma série de restrições para os prestadores de
serviços públicos, incluindo os particulares.
Princípios do direito administrativo
2.3.10. Princípio da continuidade dos serviços públicos
-Este princípio é de observância obrigatória não somente para toda a
administração pública, mas também para os particulares que prestam
serviços públicos sob regime de delegação.
-Exemplos de restrições impostas aos prestadores de serviços públicos:
1) Greve de servidores públicos: deve observar os termos e limites a
serem definidos em lei específica.
2) Inoponibilidade da “exceção do contrato não cumprido” (exceptio
non adimpleti contractus).
3) Execução da dívida pública por meio do sistema de precatórios.

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