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4º Ano-2023
TEMA:
O Tutor:
Discente:
4º ANO
NOME DA ESTUDANTE:
TRABALHO DE CAMPO
TITULO DO TRABALHO:
1.Introdução. ................................................................................................................................... 1
1.2.Objectivos ................................................................................................................................ 1
1.4. O Conflito entre tratado internacional e norma de direito interno no Estado Moçambicano .. 9
1.6.Conclusão................................................................................................................................ 15
1.Introdução
O Tratado Internacional é considerado por vários autores do Direito Internacional Público como a
fonte mais importante para o Direito Internacional. Entende-se, assim, que o tratado é o ato jurídico
que se manifesta de acordo com a vontade entre os sujeitos de direito internacional. Já na doutrina
moderna, renomados autores como Hidelbrando Accioly entende tratado como: “Por tratado
entende-se o ato jurídico por meio do qual se manifesta o acordo de vontades entre dois ou mais
sujeitos de direito internacional. ”(ACCIOLY, 2015, P. 156)
Moçambique não é uma ilha, pese embora, ser um Estado independente e soberano. No concerto
das Nações, Moçambique é parte integrante e membro de várias organizações internacionais.
Nestes termos, sendo parte integrante do concerto das Nações, fica obrigado ao direito
internacional, fazendo com que haja coabitação de normas, nomeadamente, internacionais e
internas no seu ordenamento jurídico.
Outro sim, é um facto que Moçambique enquanto parte integrante do concerto das Nações, é
subscritor de tratados e acordos internacionais. Com o presente trabalho, pretende-se analisar sobre
o conflito entre tratado internacional e norma de direito interno no Estado Moçambicano.
1.2.Objectivos
Geral
Específicos
O conflito é composto por um lado pela norma interna e pelo outro, o tratado internacional.
Compreender como surgem tais é necessário para o melhor entendimento das relações de atrito
que pode ocorrer, porém, antes de se partir para o estudo desses, faz-se necessário estudar algo que
está no surgimento dos dois institutos citados, que é a soberania. Encontra-se na doutrina também
essa opinião. Conforme Piloni (2004, p. 11) a solução para o conflito entre norma interna e tratado
internacional é algo que não se encontra resolvido no nível internacional nem no nível nacional e
que ainda está a ser estudado, principalmente o entendimento acerca do que são as partes
envolvidas nessa lide: a norma interna e o tratado internacional
Mas não bastam só as noções sobre essas leis que conflitam entre si. De acordo com Piloni (2004,
p. 11), o quanto a soberania está a ser violada está no cerne de toda a questão. A ação de saber
sobre o conceito, as características e a visão atual que se tem da norma interna e do tratado
internacional deve ser complementada com a mesma ação acerca da soberania e das teorias que a
doutrina já apresentou sobre o conflito.
A soberania não tem um conceito unânime. De acordo com Piloni (2004, p. 12), a definição foi
alterando com o passar do tempo com observações dentro de mesmos períodos acerca do que é
isso, mas as conceituações já feitas possuem âmago senão igual, quase.
Estados detêm soberania. Esses entes se apresentam num patamar acima de toda a estrutura de
poder existente para um povo morador de um espaço, a última instância numa sequência finita de
esferas governamentais as quais os cidadãos não podem ultrapassar. Esse ente independente não
necessariamente ignora ou nega a existência de outros equivalentes, mas tem a si como autônomo
A princípio, a ideia era da determinação da soberania como algo absoluto, supremo diante dos
outros e que agia de forma ilimitada. A tese da autonomia do Estado continuou presente, mas
paulatinamente até hoje, a visão de que os governos nacionais não podem se movimentar de
maneira desenfreada e se combinar com outros ou se subordinar em nenhum aspecto de sua
existência foi sendo questionada e substituída por limites mais estreitos na atuação da
independência estatal. De acordo com Piloni (2004, p. 12) e Albuquerque (2004, p. 97), pode-se
dizer que o pensamento acerca da soberania é mais flexível agora que no passado.
Como visto, leis têm o porquê de surgirem. Em locais onde o esquema democrático está
implantado, essa gênese é precedida por discussões sobre a necessidade e a viabilidade da
implantação, em que os inúmeros segmentos da sociedade, o governo e os cidadãos, por eles
próprios ou mediante representantes, tentam chegar a uma conclusão. Os debates dentro do
processo legislativo, previstos nos parlamentos e nas comissões encarregadas das formulações, e
as articulações políticas são parte da produção da democracia e isso ajuda que a lei não se dissocie
O acordo é um ato de vontade entre sujeitos que se combinam em algo. Os tratados internacionais
são momentos em que os Estados optam por colocar os próprios interesses em acordo com os
interesses de outros países. Criam-se documentos em que há comprometimento dos governos
nacionais com aquilo que foi assinado. Na verdade, são momentos que o Estado pode abrir mão
de parte de sua soberania para se comprometer com algo que ele considere válido, mas essa cessão
de parcela da própria autonomia é possível em razão de que os Estados têm independência para
decidir até se fazem isso. Eis um conceito de tratado internacional de acordo com Rezek (2011, p.
38):
Além desse conceito, também é possível salientar uma definição do que seja tratado de acordo
com a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969, p. 1):
Como se pode observar, o importante para a definição do que seja o tratado internacional é ele ser
um mecanismo pelo qual os diversos Estados podem decidir efeitos jurídicos conjuntamente, e não
é propriamente a forma final do expediente e o processo de elaboração, tal como ocorre com a
norma interna brasileira, que dita que o documento é um tratado internacional válido.
A disposição central para a apreciação da forma como a Constituição moçambicana de 2004 lida
com as questões do Direito Internacional é o artigo 18, com a epígrafe “Direito internacional.
O número 1 do artigo citado prevê que “[o]s tratados e acordos internacionais, validamente
aprovados e ratificados, vigoram na ordem jurídica moçambicana após a sua publicação oficial e
enquanto vincularem internacionalmente o Estado de Moçambique”. O número 2, por seu turno,
estipula que “[a]s normas de direito internacional têm na ordem jurídica interna o mesmo valor
que assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República e
do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção”.
● método de incorporação das outras fontes de Direito Internacional além das vinculações
internacionais (tratados em sentido amplo) na ordem jurídica moçambicana;
- as alíneas a), b), c) e d) do artigo 162, que regulam os poderes do Presidente da República no
domínio das relações internacionais;
A sequência procedimental prevista para a conclusão de tratados solenes exige a intervenção dos
três órgãos de soberania políticos previstos na constituição. A negociação é dirigida pelo Governo,
através do Conselho de Ministros, a quem é atribuída a missão de “preparar a celebração de
tratados internacionais”3.
De acordo com Fraga (2001, p. 6) como a oposição à teoria dualista começou a aumentar em
decorrência de ser perceptível a existência do conflito entre norma interna e tratado internacional,
apesar da teoria a dizer que na realidade esse atrito é apenas uma falsa impressão, Kelsen iniciou
então a apresentação de uma teoria que explicasse diferentemente a relação entre as leis nacionais
e os acordos estrangeiros. A teoria monista prega que todo o sistema, internacional e nacional,
forma um único sistema em que as normas se relacionam hierarquicamente entre si. De acordo
com Fraga (2001, p. 7):
Essa teoria une a legislação internacional a nacional, pois entende que um país ao se tornar
signatário de um tratado, traz para o seu ordenamento essa legislação que passa a valer como se
sua fosse e os conflitos que essa lei venha a ter com outras normas, resolve-se tal como quando
ocorrem conflitos entre duas normas internas. A opção de como se escolherá a legislação superior
depende de como a hierarquia entre elas for organizada, pois aos tratados internacionais poderá ser
dado, tal como dito nas hipóteses, tratamento inferior às normas internas, superior, igualitário com
algum tipo das leis nacionais, enfim, o que leva a se falar respectivamente em sistema monista com
primazia de direito interno, sistema monista com primazia do direito internacional e sistema
monista moderado.
_____________________________
1
art. 136.º n.º 4, CRM, 2004
2
rt. 11.º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados (23 de maio de
1969)
3
Art. 203.º, n.º 1, al. g), 1.ª parte, da CRM.
Uma questão importante para o Direito Internacional é como se dão as relações desse com as
normas internas de cada país. Não somente por ser essa uma questão de importância teórica
relevante, mas também por ter aplicabilidade prática, conforme dito por Nóbrega (2011, p. 90). Às
vezes, o tratado internacional entra em atrito com a legislação pátria, ou é a norma interna posterior
à vigência do acordo que o contradiz, então, a compreensão dessa problemática é salutar para a
resolução das lides em que se confrontam os ordenamentos nacionais contra os tratados
internacionais
A decisão sobre a espécie de convenção internacional a adotar é tomada pelos Estados durante a
fase negocial. A CRM vem, contudo, limitar a escolha da forma de acordo para as convenções
internacionais que tenham por objeto “matérias (…) da competência governativa do Governo” [art.
203.º, n.º 1, al. g), 2.ª parte]. Este constitui um constrangimento muito relevante, pois a CRM
atribui competência legislativa primária exclusiva à Assembleia da República (art. 178.º, n.º 1). O
Governo apenas pode legislar, sob a forma de decreto-lei, com a autorização expressa da
Assembleia da República (art. 179.º, n.º 3, e art. 180.º, da CRM). Devem assim seguir: i) a forma
de tratado, as convenções internacionais que digam respeito a matérias incluídas no âmbito da
competência legislativa da Assembleia da República8; ii) a forma de acordo, as convenções
internacionais que versem exclusivamente sobre matérias compreendidas no âmbito da
competência administrativa do Governo. A CRM não prevê qualquer mecanismo pelo qual a
Assembleia da República possa autorizar o Governo a vincular-se a acordos internacionais em
domínios que relevem da sua competência legislativa.
A segunda condição que os tratados e acordos devem cumprir para poderem ser aplicados na ordem
jurídica moçambicana é a da publicação das resoluções que os ratificam e aprovam [art. 18.º, n.º
1, in fine, e art. 143.º, al. f), da CRM]. Estas são publicadas na I Série do Boletim da República e
devem incluir, em anexo, a versão portuguesa integral dos textos dos instrumentos internacionais
aos quais a República de Moçambique se vinculou. A falta de publicação tem como consequência
a impossibilidade de aplicação interna do tratado ou do acordo
Por último, os tratados e acordos internacionais só podem ser aplicados na ordem jurídica
moçambicana “enquanto vincularem internacionalmente o Estado de Moçambique” (art. 18.º, n.º
1, in fine, da CRM). A CRM impede a aplicação interna de convenções internacionais que ainda
não vigorem externamente. O início de produção de efeitos das convenções internacionais depende
do que ficar estabelecido nos respetivos articulados, sendo comum a definição de uma data ou, em
alternativa, a exigência da manifestação do consentimento em ficar vinculado por todos os Estados
que participaram nas negociações (convenções bilaterais) ou apenas por alguns deles (convenções
multilaterais)
As normas de direito internacional têm, em Moçambique, “o mesmo valor que assumem os atos
normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República e do Governo” (art. 18.º,
n.º 2, da CRM).
O direito internacional foi colocado pela CRM no mesmo patamar hierárquico dos atos normativos
da Assembleia da República ou do Governo. Estes, de acordo com o art. 142.º da CRM, incluem
atos legislativos (leis da Assembleia da República e decretos-leis do Governo), regulamentares
(decretos do Governo) e políticos (moções e resoluções da Assembleia da República). Uma vez
que os tratados e os acordos se distinguem por terem como objeto, respetivamente, matérias que
são reguladas internamente por ato legislativo e regulamentar, por força do princípio lex posterior
derogat lex priori, os tratados não prevalecem sobre leis ou decretos-lei e os acordos não
prevalecem sobre leis, decretos-leis ou decretos do Governo que tenham iniciado a sua vigência
em momento posterior. Normas oriundas de outras fontes internacionais podem também ser
afastadas pela entrada em vigor de lei, decreto-lei ou decreto do Governo que inclua disposições
incompatíveis.
O risco de violação do princípio de direito internacional pacta sunt servanda (art. 26.º da
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados) apresenta na ordem jurídica moçambicana grau
máximo. A responsabilidade internacional do Estado moçambicano está à distância da aprovação
de uma lei pela Assembleia da República ou de um decreto-lei ou decreto pelo Governo que inclua,
ainda que inadvertidamente, disposições contrárias a obrigações internacionais do Estado
moçambicano.
O art. 18.º, n.º 4, da CRM veio resolver qualquer dúvida que pudesse subsistir sobre o
posicionamento hierárquico do direito internacional na ordem jurídica moçambicana. A doutrina
A atribuição de uma posição infraconstitucional ao direito internacional não pode ser tida como
surpreendente, pois esta continua a constituir a regra no direito comparado. A afirmação do
primado constitucional é matizada pelo alcandorar para o plano supraconstitucional da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (art. 43.º
da CRM), e para o nível constitucional de várias normas e princí- pios de ius cogens (arts. 17.º,
19.º, 20.º e 22.º da CRM).
A atribuição de natureza paralegal às normas de direito internacional pode ser explicada como um
mecanismo de defesa contra uma ordem jurídica que continua a ser identificada como mantendo
ainda estruturalmente uma natureza de direito público europeu com pretensões hegemónicas e
neocoloniais:
______________________
4
Henriques José Henriques. “A Europeização Indirecta do Direito Constitucional Moçambicano
– cláusula internacional”, cit., p. 161.
Pode-se começar a falar que a principal questão envolvida na resolução de conflito entre norma
interna e tratado internacional é a da soberania, que está na gênese de cada uma das partes do
conflito, é a principal questão a ser avaliada pelos estudiosos do Direito, pois está realmente a se
avaliar se o Estado ao adotar um procedimento está a ferir a sua própria autodeterminação.
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 21ª ed. São Paulo: Saraiva,
2014.
FRAGA, Mirtô. O conflito entre tratado internacional e norma de direito interno: estudo analítico
da situação do tratado na ordem jurídica brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
PILONI, Renata Brigatti. O conflito entre tratados internacionais e normas de direito internas
atrelado às questões da soberania nacional. Presidente Prudente: Faculdades Integradas Antônio
Eufrásio de Toledo, 2004. 87 p. Monografia (Conclusão de Curso) – Faculdade de Direito de
Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2004.
REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 13. ed.. São Paulo: Saraiva,
2011.
Legislação