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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Nome: Pedro Chitato Alfredo Manuel

O Conflito entre tratado internacional e norma de direito


interno no Estado Moçambicano.

Maputo, aos 26 de Março de 2023


Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3

1. Conceitualização ....................................................................................................... 4

1.1. Tratado internacional e Direito interno ................................................................. 4

2. O conflito entre tratado internacional e direito interno no estado Moçambicano. .... 5

Conclusão ......................................................................................................................... 9

Referencias Bibliográficas .............................................................................................. 11


Introdução

Devido ao grande avanço da globalização, as relações entre os Estados e os seus


respectivos vínculos internacionais, alcançou-se um alto nível de intensidade. Diante da
necessidade dos Estados aperfeiçoarem suas relações no âmbito internacional devido a
existência de uma interdependência global e o fortalecimento dos vínculos decorrentes
dos tratados, surge a necessidade de debaterem mais intensamente a respeito dos
Conflitos entre tratado internacional e norma de direito interno no Estado
Moçambicano.
De fato, hoje, as decisões tomadas no âmbito internacional não se restringem
apenas a este espaço e acabam produzindo efeitos nos diversos ordenamentos jurídicos
internos dos Estados. Esta intensidade é justificada pela crescente interdependência da
sociedade internacional e pelo intercâmbio global de bens e serviços. Este processo
reforça os actos bilaterais e multilaterais entre os Estados. A partir disso, a presente
pesquisa, visa estudar as teóricas em relação aos conflitos de norma externa e interna.
O presente trabalho de pesquisa tem como objectivo analisar os Conflitos entre
tratado internacional e norma de direito interno no Estado Moçambicano.
Ao decorrer da presente pesquisa foi usada como metodologia as referências
bibliográfica e documental, que consistiu no levantamento de referências teóricas
publicadas por meios impressos e electrónicos, como livros, artigos científicos e páginas
on-line. Seguiram-se os procedimentos específicos para a realização do Presente estudo:
Colecta dos materiais bibliográficos pertinentes ao tema estudado; Selecção dos
materiais obtidos; Realizada a leitura e o fichamento das fontes bibliográficas utilizadas.
1. Conceitualização
1.1.Tratado internacional e Direito interno

A expressão "tratado Internacional" significa um acordo internacional, celebrado


por escrito entre os Estados, regido pelo Direito Internacional, quer conste de um
instrumento único, quer conste de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja
sua denominação específica. Cada país regula, individualmente, a incorporação do
tratado internacional ao sistema jurídico interno e a sua ordem hierárquica dentro do
sistema (Ferreira, 2017).

Para Rezek (2000, p. 14), "tratado é todo acordo formal constituído entre sujeitos
de direito internacional público e destinado a produzir efeitos jurídicos”. No
entendimento do Beviláqua (1939), "Tratado internacional é um acto jurídico, em que
dois ou mais estados concordam sobre a criação, modificação ou extinção de algum
direito. "A definição acima exposta abrange todos os actos jurídicos bilaterais ou
multilaterais do direito público internacional que, realmente, podem ser designados pela
denominação geral de tratados, mas que recebem, na prática e nos livros de doutrina,
qualificações diversas” (p. 13).

"O Direito nacional ou interno é aquele cuja principal fonte é a lei editada pelo Estado,
conforme procedimentos específicos, que têm vigência e eficácia nos limites do
território nacional e através do qual se busca um controle social" (Bobbio, 2000).

Segundo Triepel (p. 252), há duas diferenças desses ordenamentos. A primeira


concerne às relações sociais, já que na ordem internacional o Estado é o único sujeito de
direito, enquanto na ordem interna surge o indivíduo também como sujeito de direito. A
Segunda diferença diz respeito às fontes nas duas ordens jurídicas, já que o Direito
internacional tem como fonte a vontade colectiva dos Estados, que se manifesta
expressamente nos tratados e tacitamente no costume internacional, enquanto o Direito
interno tem como fonte a vontade de um Estado.
O que determina as regras que compõem o ordenamento jurídico internacional é
a norma advinda do que convencionaram os Estados. Essa norma internacional só
poderá ser alterada pela vontade daqueles Estados que a convencionaram, já que são
obrigatórias. Pelo contrário, as normas internas são passíveis de modificação pela
vontade única que as constitui, vale dizer, a vontade do legislador. Essa distinção entre
os dois ordenamentos consiste no fato de que cada norma terá sua 'validade' no âmbito
do seu respectivo ordenamento.

2. O conflito entre tratado internacional e direito interno no estado


Moçambicano.

O exercício do Direito Internacional é materializado em Moçambique através da


Constituição da República. De salientar que esta redacção constitucional acompanhou a
reforma constitucional de 1990 e a revisão de 2004 e a mais recente de 2018. As fontes
de direito internacional são incorporadas na ordem jurídica moçambicana sem perderem
a sua natureza jus-internacional. A Constituição da República de Moçambique (CRM)
adoptou um sistema monista que prevê a ressecção condicionada dos tratados e acordos
internacionais.

O monismo com primazia do direito interno defende que o Estado é soberano e


por decorrência disso, não se submete a qualquer sistema jurídico que não parta de sua
vontade. Para os seguidores dessa corrente, o direito internacional só possui valor no
ordenamento jurídico interno de um Estado, sob o ponto de vista da Constituição do
mesmo, a qual designa quais os órgãos que possuem competência para a celebração de
tratados internacionais e como esses podem obrigar a própria nação ao âmbito
internacional (Mazzuoli, 2002).

Criado por Hans Kelsen no ano de 1926 em oposição à existência de duas ordens
jurídicas, sustenta a existência de apenas uma delas, que não se distingue em interna ou
externa. Até porque a necessidade de regulamentação seria a mesma nas duas esferas.
(Pereira, 2006, P. 48)

O monismo com primado do direito internacional, por sua vez, parte da ideia de
que o direito externo vem a ajustar todas as ordens jurídicas internas dos países. Essa
corrente defende que o direito interno é derivado do direito internacional, o qual se
apresenta hierarquicamente superior, de modo que o direito interno venha a ser
considerado como subordinado do direito internacional (Mazzuoli, 2002).

A Constituição da República de Moçambique de 2004 enfrenta o problema do


posicionamento hierárquico do Direito Internacional na ordem jurídica interna em
termos particularmente impressivos. Na verdade, de uma forma muito pouco comum
no direito constitucional comparado, o n.º 2 do artigo 18.º prevê que as “normas de
direito internacional têm na ordem jurídica interna o mesmo valor que assumem os
actos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República e do
Governo”.

A aplicabilidade interna de tratados e acordos internacionais depende, em primeiro


lugar, da conformidade constitucional do procedimento adotado para a sua conclusão. É
este o sentido que deve ser atribuído à expressão “validamente aprovados e ratificados”
incluída no art. 18.º, n.º 1, da CRM.

Para melhor a compreensão da abordagem em torno aos instrumentos


internacionais, objecto de ratificação do estado moçambicano, o processo de ratificação
é uma formalidade jurídica e política, com base na análise feita ao caso de Moçambique
temos:
1. Convenções que são documentos assinados em conferências internacionais que
tratam de assuntos de interesse geral. Por exemplo a Convenção sobre Direitos
da Criança; Convenção das Nações Unidas sobre Direitos do Homem e dos
Povos; etc.
2. Tratados que são acordos formais entre os sujeitos de Direito Internacional
Público Estados, organismos internacionais e outras colectividades, com
finalidade de gerar efeitos jurídicos com carácter internacional. Por exemplo o
Protocolo de Quioto; Acordo de Paris sobre o Mudanças Climáticas; etc. Por
outra, toda Convenção é um tratado, mas nem todo tratado é Convenção.
3. Por sua vez o Protocolo é uma adenda a um Tratado, mantendo validas as ideias
principais do corpo do Tratado. Daí temos os chamados protocolo adicional,
protocolo opcional, protocolo facultativo ou simplesmente protocolo.
4. Acordo que são entre dois ou mais países a respeito dos mais diversos temas:
transporte, comércio, trabalho, circulação de pessoas e bens, entre outros.

Em Moçambique os instrumentos internacionais assumem a força legal, de acordo com


a forma da sua ratificação. Contudo, tirando a Declaração Universal dos Direitos do
Homem da ONU e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, cujos
preceitos nos termos do artigo 43 da Constituição são tidos na interpretação
constitucional, com aplicação directa, os demais instrumentos de Direito Internacional,
a sua materialização obrigou que o país Estados-Parte a criarem mecanismos
legislativos e políticas internas para a efetivação.

De acordo com Ferreira, (2017), a posição predominante em relação ao conflito


entre os dois ordenamentos jurídicos apoiou-se na Supremacia da Constituição, onde
esta sempre prevalecerá, se conflituar com tratados internacionais.
A aproximação dos Estados ante o efeito 'globalização', bem como a intensificação das
relações comerciais, políticas e económicas, tem contribuído para o desenvolvimento de
blocos comerciais, como o mercosul, visando quebrar barreiras comerciais e
pretendendo unificar sua legislação. No entanto, é dessa integração das relações entre os
Estados que surgem os vários conflitos existentes na prática internacional.
Podemos observar que, os conflitos entre os ordenamentos jurídicos interno e
internacional, no caso entre tratado internacional e leis internas, surgem propriamente
pela ausência de normas constitucionais para garantir uma 'harmonia jurídica' aos
Estados, o que tem causado uma divisão entre as correntes monista e dualista no cenário
jurídico do Estado.
Os conflitos entre tratados internacionais e leis internas são geralmente solucionados
buscando duas opções que são: ou a fonte internacional tem primazia sobre a interna, ou
a fonte interna tem primazia sobre a internacional.

A interpretação do disposto no n.º 4 do artigo 2.º da Constituição da República


de Moçambique, vigora o sistema de recepção infraconstitucional dos tratados
internacionais o que significa que a Constituição da República representa o fundamento
de toda a ordem jurídica interna e, por isso, não há prevalência nem equivalência de
outra fonte mesmo tratando-se de uma fonte internacional, sobre a lei constitucional.

Como se pode depreender, Moçambique tem noção da necessidade da


coabitação entre estados, bem como, entre os povos do mundo inteiro, da vida em
sociedade, da globalização, dentre outros valores provenientes da amizade entre estados
e povos. O facto de Moçambique aceitar, observar e aplicar os princípios da Carta da
Organização das Nações Unidas e da União Africana, olhando para os objectivos destas
organizações, demostra que é promotora e defensora da paz e da segurança
internacionais.
Em relação a política de paz, a Constituição estabelece no seu artigo 22 que a
República de Moçambique prossegue uma política de paz, só recorrendo à força em
caso de legítima defesa; defende a primazia da solução negociada dos conflitos; e,
defende o princípio do desarmamento geral e universal de todos os Estados.

A solução para os conflitos existentes entre a lei interna e os tratados


internacionais se norteia de modo onde ou a fonte interna tem prioridade sobre a
internacional, ou a norma internacional tem prioridade sobre a interna. Para que haja a
solução do conflito é necessário analisar a constituição do Estado, para que seja possível
verificar algum dispositivo capaz de auxiliar na aplicação da norma, porém a
complexidade se dá pelo fato de nem todas as Constituições possuírem dispositivos
definidos que tenham relação com o Direito Interno e como Direito Internacional.

Diante da desarmonia existente entre as Constituições, os próprios Estados conseguem


dar soluções para amenizar os conflitos existentes entre o tratado internacional e a suas
Constituições.
Conclusão

Os conflitos entre ordenamentos jurídicos interno e internacional, no caso entre tratado


internacionais e normas de direito interno, surgem propriamente pela ausência de
normas constitucionais para garantir a harmonia jurídica entre as normas para com os
Estados, que é o que vem causando divisão. A discussão em relação aos conflitos
normativos dá espaço à elaboração de hipóteses em que se faz necessário a análise de
como os tratados internacionais são aprovados e ratificados em cada país e se as normas
internacionais são mais ou menos importantes do que as normas constitucionais ou do
que a legislação ordinária do mesmo país.

O exercício do Direito Internacional é materializado em Moçambique através da


Constituição da República. De salientar que esta redacção constitucional acompanhou a
reforma constitucional de 1990 e a revisão de 2004 e a mais recente de 2018. As fontes
de direito internacional são incorporadas na ordem jurídica moçambicana sem perderem
a sua natureza jus-internacional. A Constituição da República de Moçambique (CRM)
adoptou um sistema monista que prevê a ressecção condicionada dos tratados e acordos
internacionais. O monismo com primazia do direito interno defende que o Estado é
soberano e por decorrência disso, não se submete a qualquer sistema jurídico que não
parta de sua vontade.

Os conflitos entre tratados internacionais e leis internas são geralmente


solucionados buscando duas opções que são: ou a fonte internacional tem primazia
sobre a interna, ou a fonte interna tem primazia sobre a internacional.
A interpretação do disposto no n.º 4 do artigo 2.º da Constituição da República
de Moçambique, vigora o sistema de recepção infraconstitucional dos tratados
internacionais o que significa que a Constituição da República representa o fundamento
de toda a ordem jurídica interna e, por isso, não há prevalência nem equivalência de
outra fonte mesmo tratando-se de uma fonte internacional, sobre a lei constitucional.

Assim, os tratados internacionais em geral devem ser transformados em normas


internas, mas os tratados internacionais de direitos humanos são incorporados de forma
imediata, seguindo a teoria monista com primazia no direito internacional, igualados
hierarquicamente com as normas constitucionais. Este é um avanço importante de
adaptação do país ao Direito Internacional dos Direitos Humanos e representa a
consolidação do Estado de Direito no País.
Referencias Bibliográficas
Bevilàqua, C. (1939). Direito Público Internacional. Rio de Janeiro.
Bobbio, N. (2000). Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: UnB,
Kelsen, H. (1979). Teoria pura do Direito. Coimbra.
Mazzuoli, V. de Oliveira. (2002). Direitos humanos, constituição e os tratados
internacionais. 1. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira.
Pereira, B. Y. (2006). Curso de direito internacional público. São Paulo: Saraiva

Rezek, J. F. (2000). Direito Internacional Público: curso elementar. São Paulo: Saraiva.

Triepel. (1934). Droit International et Droit Interne, trad. francesa, Berlim,

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