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Curso: Direito

Nome do Docente: Bianca Silva


Direito Internacional Público e Privado
X Semestre
Período: 2024.1
Unidade I
Data da ATIVIDADE : 07 de março de 2024
NOME DO ALUNO: JULIANA D’ANGELO SERRA

ATIVIDADE AVALIATIVA

QUESTÃO 1
Discorra a respeito das fases que compõem o processo de incorporação dos tratados,
convenções e atos internacionais ao ordenamento jurídico brasileiro. Em seu texto, aborde o
papel que o Poder Executivo e o Poder Legislativo desempenham nesse processo, os
instrumentos por meio dos quais essa incorporação ocorre e o momento a partir do qual os
tratados em geral adquirem executoriedade interna. Apresente, ainda, o entendimento do
Supremo Tribunal Federal sobre a posição hierárquica dos tratados (tanto os de direitos
humanos como os tradicionais) no direito interno.

RESPOSTA:

Os tratados internacionais são, no mundo moderno, a fonte principal do direito internacional,


razão por que sua formação dar-se-á sempre formalmente, de acordo com os princípios e
preceitos específicos. Segundo a doutrina (BASSO, s. d., p. 47), o processo de formação dos
tratados internacionais passa por seis fases distintas: negociação, assinatura, ratificação,
promulgação, registro e publicação.

No Brasil, a competência para incorporação ou consentimento definitivo do tratado


internacional é compartilhada entre o Legislativo e o Executivo, com atuação específica de
cada Poder, nos termos expressos da Constituição de 1988, passando por aprovação e
promulgação, em três fases distintas: a celebração, o referendo ou aprovação e a promulgação.
A celebração é ato da competência privativa do Presidente da República (Constituição de 1988,
art. 84, inciso VIII), a aprovação ou referendo é da competência exclusiva do Congresso
Nacional (Constituição, art. 49, inciso I; art. 84, inciso VIII), e a promulgação é da
competência privativa do Presidente da República (Constituição de 1988, art. 84, inciso IV). O
Presidente da República, então, mediante a edição de decreto presidencial, promulga o tratado,
publicando seu texto no Diário Oficial da União. É nesse instante que a norma inserida no
ordenamento jurídico brasileiro adquire executoriedade interna.
A Constituição Federal, no art. 5.º, § 3º aduz: os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais. Assim, se o Tratado obedeceu às regras desse parágrafo, não existe nenhuma
dúvida sobre a hierarquia, pois será equivalente à Constituição.

O Presidente da República editou, em 2009, o decreto 6.949, que trata dos portadores de
necessidades especiais. Nesse caso o decreto entrou no ordenamento jurídico com a mesma
hierarquia da Constituição.

Em relação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a posição hierárquica dos


tratados, temos duas correntes a serem observadas. A primeira corrente aduz que é norma
supralegal, ou seja, está abaixo da Constituição, mas acima da lei infraconstitucional. Essa
corrente foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal no Habeas corpus 90.172 de São Paulo e
no Recurso Extraordinário 466.343 de relatoria do Ministro Gilmar Ferreira Mendes. E a
segunda corrente que já foi defendida pelo Supremo, mas hoje é afastada, entende que tem
natureza de lei ordinária. O Supremo Tribunal Federal entendeu assim até dezembro de 2008.
Os julgados importantes dessa antiga corrente podem ser citados: HC 72.131 e ADI 480-3 do
Distrito Federal.

QUESTÃO 2

Em dezembro de 2019 foram diagnosticados, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na


República Popular da China, os primeiros casos de infecção de uma nova espécie de
coronavírus, causador da doença Covid-19, responsável por transtornos respiratórios agudos
em um quadro de pessoas infectadas. A República Popular da China é Estado-membro da
Organização Mundial de Saúde e mantém, em Pequim, escritório de representação da
Organização. Está, portanto, vinculada tanto aos ditames da Constituição da OMS, quanto às
normas e recomendações provindas dessa Organização.
O desrespeito e a violação das regras da OMS são também considerados atos passíveis de
verificação pelo Direito Internacional, não obstante a responsabilização do Estado seja, de
rigor, pela violação das normas pactuadas (tratados). A OMS, baseada em sua normativa, vem
tomando diversas medidas para a contenção do novo coronavírus desde o início da pandemia
no mundo. Tais determinações e recomendações, provêm do próprio instrumento constitutivo
da OMS, concluído em Nova York em 22 de julho de 1946. Há, como se nota, normas
determinantes da Organização, provindas de instrumentos de hard law, e disposições
recomendatórias, tidas como soft law. Ainda que com graus diferentes de intensidade, ambas
são regidas pelo Direito Internacional Público, estando a diferença – repita-se – na
possibilidade de responsabilização internacional do Estado (especialmente nas cortes
jurisdicionais internacionais) – pelo descumprimento das primeiras.

Desta maneira, considerando as discussões acerca das fontes derivadas do soft law, bem como
do contexto da sociedade internacional frente à pandemia, diferencie hard law de soft law e
relacione com o texto apresentado acima, além disso, pontue as diferenças entre as
recomendações da OMS e os tratados internacionais. Afinal, descumprir ou seguir as
recomendações da OMS pode trazer impactos para a realidade de um Estado soberano?

RESPOSTA:
Dentre os instrumentos de direito internacional que influenciam ou deveriam influenciar o
ordenamento jurídico interno, destacam-se o soft law e o hard law. Nesse contexto, o Soft Law
é definido como um instituto do direito internacional que corresponde ao processo de criação
de um instrumento normativo, mas sem força de lei – porquanto não gera sanção, capaz, no
entanto, de produzir efeitos. Desta forma, entende-se por soft law normas que são consideradas
como recomendações, cujo teor levam a preceitos que incentivam determinadas condutas, sem,
no entanto, estabelecerem uma obrigatoriedade ou sanção pelo seu descumprimento.
O hard law é definido como a norma de direito externo que estabelece regras vinculativas na
seara do direito interno, como tratados e acordos. Assim, têm-se por hard law as normas cuja
obrigatoriedade jurídica possibilitam a aplicabilidade de sanções jurídicas por intermédio de
tribunais internacionais ou até mesmo órgãos internos judiciais daqueles países signatários.
O referido instituto é consagrado na forma do art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça, do qual o Brasil é signatário. Portanto, os dois institutos, soft law e hard law, trilham
caminhos distintos quanto aos efeitos jurídicos.

No âmbito do Direito Internacional as recomendações da OMS são consideradas soft law, mas
ganharam muito importância em face da pandemia, ganhando características de hard law, e que
por consequência caracterizando-se como fonte do Direito Internacional e obrigatórias em face
da situação emergencial que se vivia na saúde mundial.
A OMS em face da constatação da pandemia causada pelo Coronavírus (COVID-19) fez
recomendações a todos os países, membros ou não da ONU, para evitar a transmissão da
doença. Essas medidas formam acatadas por todos os países, ainda que inicialmente alguns
países contestassem as medidas, elas acabaram por ser adotadas universalmente, dentro da
capacidade econômica, social e política dos países. Portanto, observa-se que os atos dos
organismos internacionais, como as recomendações da Organização Mundial da Saúde, devem
ser observados e cumpridos como normas obrigatórias, na proporção que todos os Estados
aceitam as regras “pacta sunt servanda e consueto sunt servanda”, isto é, observam os tratados
celebrados e os costumes internacionais. Logo, as resoluções (as decisões e as recomendações)
da Organização Mundial da Saúde, cuja autoridade é reconhecida pelos membros da
Comunidade Internacional e expressam o seu consenso, devem ser cumpridas, porque oriunda
do pacto dos Estados, conformado nas Nações Unidas.

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