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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FORMAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

PERANTE A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

Milton dos Santos Souza Junior


Gustavo Leandro Martins dos Santos
Anna Laís Pacheco Gabriel

RESUMO
O Direito Internacional, inter-relacionado com o Direito Constitucional, está em constante
evolução, ambos visam regular, criar entendimentos e dirimir conflitos entre o estado, os
organismos internacionais e demais estados soberanos do planeta. Assim sendo, esse estudo
visa abordar e elucidar os principais questionamentos sobre a adequação dos tratados
internacionais perante o ordenamento jurídico brasileiro, dando enfoque à evolução histórica
dos mesmos, citando seus principais momentos, entre eles, a alteração Constitucional em
1988 e as Emendas Constitucionais que fazem alterações pertinentes ao tema. Este trabalho
comentará as decisões dos tribunais superiores nos momentos em que a norma foi omissa,
analisando a doutrina e entendimentos jurisprudenciais, abordando os efeitos e as
consequências de cada alteração legal, assunto esse que porser hierarquicamente superior às
demais leis, movimenta todo o ordenamento jurídico brasileiro, de suma importância,
portanto, sendo muito debatido na doutrina e na jurisprudência.
Palavras-chave: Hierarquia Normativa. Recepção. Tratados Internacionais.

ABSTRACT
International law, interrelated with constitutional law, is constantly evolving, they aim at to
regulate, create knowledge and resolve conflicts between our nation, international
organizations and other nations on the planet. Therefore, this study aims to approach and
elucidate the main questions about the adequation of international treaties before the Brazilian
legal system, focusing on the historical evolution of them, citing their highlight moments,
including a constitution alteration of 1988, and splices on the constitution that make pertinent
changes on the theme. This study will comment on the decisions of the higher courts in times
when the standard was silent, analyzing the doctrine and jurisprudential understandings,
addressing the effects and the consequences of each legal alteration, matter, which for being
hierarchically superior to other laws, drives entire Brazilian legal system, being extremely
important, therefore, much discussed in doctrine and jurisprudence.
Keywords: Normative Hierarchy. Reception. International Treaties.

INTRODUÇÃO


Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF

Professor de Direito Tributário e Direito Administrativo na FADAF. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, com Ênfase em Direito Tributário

Graduada em Direito pelo Centro Universitário de Maringá (UNiCESUMAR)
No Brasil, antes do ano de 2004, havia um entendimento de certa forma já concretizado
de que os Tratados Internacionais eram enquadrados como normas infraconstitucionais, sua
forma de recepção no Congresso Nacional era realizada em votação com quórum de maioria
simples*. Porém, em 2004, foi implementada a Emenda Constitucional número 45,
introduzindo alterações na forma de recepção dos Tratados Internacionais e, por
consequência, alterando, ou, pelo menos, possibilitando mais de um enquadramento
hierárquico dos Tratados Internacionais, no ordenamento jurídico brasileiro.
Com o advento dessa Emenda Constitucional, iniciou-se um quadro de inseguranças
jurídicas, nesse ínterim, almeja-se elucidar as seguintes questões: qual ou quais as formas de
recepção e adequação hierárquica dos tratados internacionais perante o ordenamento jurídico
brasileiro? E quais suas consequências, após as alterações trazidas pela Emenda
Constitucional número 45 de 2004?
Diante da nova realidade jurídica posteriori ao implemento da Emenda Constitucional
número45, de 2004, que introduziu o parágrafo 3º ao artigo 5º, da Constituição Federal,
ocorreram novas adequações hierárquicas nos Tratados Internacionais perante o ordenamento
jurídico brasileiro, atribuindo-lhes status de norma constitucional, caso sua forma de recepção
seja em votação com maioria de 2/3 (dois terços), em dois turnos de votações, nas duas casas
do Congresso Nacional.
A partir dessa nova norma, abriram-se diversos questionamentos, não só perante a
aprovação de novos Tratados Internacionais, como também sobre a adequação dos Tratados
Internacionais recepcionados em momentos anteriores e aprovados em forma diversa.
Seguindo essa linha de raciocínio, inúmeras hipóteses podem ser elencadas, conforme
analisar-se-á nesta obra.
Conforme Vásquez (2006), o Congresso Nacional poderá optar pela forma de recepção
dos Tratados Internacionais. Nesse sentido, caso opte pela forma de procedimento elencada
no parágrafo 3º, do artigo 5º,da Constituição Federal e o quórum de aprovação de 3/5 (três
quintos), e este não seja atingido, o Tratado Internacional será rejeitado pelo ordenamento
jurídico brasileiro.Sendo deliberado pela forma do procedimento elencada no parágrafo 3º, do
artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, e caso o quórum de 3/5 (três quintos) não seja
atingido, porém seja alcançada a maioria simples na votação, o Tratado Internacional será
incorporado com hierarquia infraconstitucional.

*
Quórum de maioria simples se refere à situação na qual o total de votos é maior que a metade do total de votos dos presentes.
Vásquez (2006), afirma que, sendo optado pelo procedimento tradicional de recepção de
Tratados Internacionais e não por aquele implementado pela Emenda Constitucional número
45 do ano de 2004, portanto, recepcionado em âmbito infraconstitucional, os direitos previstos
no tratado, não estarão submetidos ao regime especial dos direitos fundamentais, pois esta
norma recepcionada será legislação supralegal.
Entendem que, quando deliberado pela forma do parágrafo3º, do artigo 5º, da
Constituição Federal de 1988, estes Tratados Internacionais se sujeitariam às limitações
formais do poder constituinte derivado, pois tomariam forma de Emenda Constitucional,
perdendo a forma de tratado incorporado ou, outrossim, após a sua promulgação, exigível
seria a ratificação do tratado-emenda.
Os Tratados Internacionais recepcionados em momento anterior à Emenda
Constitucional número 45 estariam condenados eternamente à hierarquia de legislação
infraconstitucional, pois já estão incorporados à legislação pátria, desta forma, com hierarquia
supra legal. Essas hipóteses, aqui levantadas, são apenas algumas entre o vasto conteúdo
hipotético que se abriu após a alteração legislativa.

1 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

Ao longo da história da humanidade, existem diversas passagens que tratam do


surgimento e da evolução dos tratados internacionais; mesmo antes do conceito moderno de
estado soberano, já ocorriam ainda que sem a formalidade contemporânea, atos análogos aos
acordos internacionais.
Vásquez (2006), em “A História dos Tratados” relata que, desde os primórdios das
civilizações, os acontecimentos acarretaram o desenvolvimento histórico dos acordos
internacionais. Quanto aos sujeitos do Direito Internacional na antiguidade, o chefe de Estado
participava pessoalmente da elaboração e assinatura dos tratados. Os mesmos eram
considerados compromissos pessoais dos monarcas e a sua vigência coincidia, quase sempre,
com o tempo de vida do governante ou seu tempo no poder.
Com o advento da transferência da soberania estatal para a população, Vásquez(2006)
afirma que o processo de formação de tratados se tornou muito mais burocrático, necessitando
de aprovação prévia do parlamento. Dessa forma, os chefes de Estado continuaram se
responsabilizando pela assinatura dos tratados, contudo, após este momento, é necessária a
ratificação pelo parlamento do estado soberano. Portanto, o governante não é mais a pessoa de
direito internacional, e sim o Estado.
Contemporaneamente não apenas os Estados são sujeitos de direito internacional, mas
também os órgãos internacionais (Cruz Vermelha, Organização das Nações Unidas “ONU”),
permitindo, assim, a existência de vontade orgânica independente das vontades dos Estados.
Em razão do princípio da canalização, as organizações internacionais só poderão celebrar
tratados internacionais que disponham sobre suas atribuições, já os Estados Soberanos podem
celebrar qualquer tipo de Tratados Internacionais.
Sobre seu conteúdo, os Tratados internacionais, no período clássico, possuíam em sua
maioria, caráter político, tendenciado quase sempre aos acordos em matéria de defesa, de
extradição e de arbitragem. Era cotidiana a existência de Tratados Internacionais formando
alianças entre estados buscando prevenção contra perigos em comum.
Atualmente os Tratados Internacionais versam sobre os mais variados temas, regulando
questões relativas à saúde, política, educação, economia, trabalho, alianças de defesa, acordos
comerciais, ajudas sociais e outras.
Quanto ao seu processo de formação, a priori, não existiam muitas formalidades, os
monarcas tinham caráter divino e acreditava-se que, caso ocorresse o descumprimento de algo
eleito em tratado, o infrator seria punido por penas aplicadas pelos deuses.
Para existência e desenvolvimento das relações internacionais, é necessária a presença
de,pelo menos,dois pressupostos essenciais: a existência de mais de um grupo de seres
humanos autônomos e soberanos de caráter político e a ocorrência de relações, contato, de
comunicações entre esses grupos.
Não existiam, na antiguidade, sociedades formando Estado nas formas contemporâneas.
As relações entre as pessoas ocorriam de forma muito menos organizada que as atuais, elas
eram praticamente ou quase sempre informais. Mas a inexistência de Estados, como os
conhecidos hoje, não impedia o relacionamento entre as sociedades organizadas, dessa forma,
iniciando nestes acontecimentos a origem das primeiras relações internacionais.
Segundo Vásquez (2006), em meados do quarto milênio antes de Cristo foi quando
surgiram na antiga Mesopotâmia, as primeiras concentrações urbanas da humanidade,
pequenos grupos distintos foram se integrando e, por consequência, criando as primeiras
cidades.
As cidades, com o passar do tempo, foram absorvendo territórios vizinhos e se tornaram
cidades-estados. Com o desenvolvimento destes centros formaram-se grandes civilizações,
com governo próprio e suas próprias divindades, assim, surgiram, também, as primeiras
noções de soberania de que se tem conhecimento. O crescimento dessas civilizações acabou
colocando em contato cidades vizinhas iniciando relações entre si, as quais pacíficas ou
belicosas, independente do mérito, eram cada vez mais constantes.
Em torno de 1500 antes de Cristo, já se verificava uma verdadeira comunidade de
nações, formada pelo Egito, Reino dos Hititas, Federação Cretense, Civilizações da
Mesopotâmia e uma série de civilizações menores. Seus objetivos, às vezes conflitantes,
iniciavam confrontos em suas regiões periféricas, formando,assim,zonas de interesse para a
proteção de seus territórios.
O segundo pressuposto essencial aos tratados, a existência de contatos, para muitos
autores, não existia no início das civilizações, em razão de as mesmas serem caracterizadas
pelo isolamento, tornando, assim, quase impossíveis os contatos. As primeiras relações
internacionais não ocorreram em forma de tratados, mas sim de guerra, sendo sobre esta
matéria, certamente, as primeiras tratativas de estados soberanos que se tem notícia, porém,
ainda sem a ocorrência da forma escrita.
Os estudos da história dos tratados não alcançam os períodos de acordos meramente
verbais, ou regras consuetudinárias, pois não há provas, evidência sou elementos tais que
possam aferi sua existência. O estudo da história dos tratados toma como ponto inicial, fontes
bibliográficas, como a bíblia, e fontes epigráficas, como inscrições antigas em pedras.
Conforme relatos de Vásquez (2006), o tratado mais antigo de que se tem notícia, data
de 3000 anos antes de Cristo, firmado entre cidades da Mesopotâmia chamadas Logash e
Umma, tratando da marcação de fronteiras, buscando socorro à arbitragem ao rei de uma
terceira cidade, Kish, para que solucionasse o conflito. Deste tratado, pode-se inferir o
desenvolvimento de algumas instituições de direito internacional, neste caso, presente o
fenômeno da arbitragem.
Depois deste tratado, ocorreu um lapso temporal de mais de 1000 anos até surgir outro
que haja elementos de prova e existência.
O período onde ocorreu o maior desenvolvimento das relações entre as grandes
potências da antiguidade é chamado de época de “Tel-el-Amarna”. Após as invasões dos
Hicsos e dos movimentos de emigração no início do segundo milênio antes de Cristo, as
cidades mais importantes vão se unindo às cidades menores e expandindo-se, ocupando
algumas regiões desabitadas e permitindo a seus povos mais contato, consequentemente,
proporcionando o surgimento de novas relações, especialmente na delimitação tácita ou
expressa de varias zonas de influência, Vásquez (2006).
Neste momento, já se pode falar que existia uma “sociedade internacional”, formada por
uma pluralidade de estados soberanos e independentes, que mantinham relações pacíficas e
eram unidos por uma série de tratados em que as partes figuravam em pé de igualdade.
O mais notável grupo de tratados da antiguidade pertence aos Hititas, encontrados nos
arquivos de Bogazkoi ou Bogazkeui, onde prevaleciam regras sobre religião, demonstrando a
importância que este povo dava aos tratados. Os Hititas celebraram vários contratos de
vassalagem, que impunham regras aos vassalos, apesar de serem notórias as desigualdades de
forças entre as partes.Só tempos depois é que vão surgir os acordos em paridade de poderes.
Para Vásquez (2006) o mais famoso tratado da antiguidade é o firmado entre o rei dos
Hititas e o Faraó Ramsés III.O Egito estava em guerra com os Hititas e conquistava grande
parte da região da Síria. Em determinado momento, era mais interessante para ambas as partes
um tratado de paz do que a continuidade da guerra em virtude de suas consequências. Dessa
forma, foi oferecido pelo rei dos Hititas ao faraó Ramsés III sua filha em matrimônio. Assim,
este tratado firmou a paz, uma aliança e extradição entre os dois povos.
Elementos deste tratado são de grande importância para demonstrar a evolução das
relações internacionais na época. Um deles é a formalidade utilizada, pois foi celebrado na
corte Hitita com a participação de emissários egípcios, cujo texto foi escrito em tabletas de
prata, que, posteriormente, foram enviadas para o Rei Ramsés III, que, por sua vez, devolveu
as tabletas com pequenas alterações ao Rei Hitita firmado o acordo.
É interessante ressaltar a utilização de idiomas diferentes na época deste tratado,
presumindo-se existência de uma língua diplomática. As implicações ao descumprimento do
tratado são punições divinas, de mil deuses egípcios e mil deuses Hititas.
Por fim, verifica-se que o fundamento de validade dos tratados firmados na antiguidade
não era a existência de uma ordem jurídica internacional, nem mesmo a obrigação de
cumprimento dos acordos firmados, mas sim estritamente religioso. Os tratados firmados
constituíam em juramentos acordados em nome dos deuses de cada povo, advindo daí sua
força obrigacional.
Vásquez (2006) afirma que,a partir do século XV em diante, multiplicaram-se os
tratados com as partes em situação de equilíbrio, celebrados com o objetivo de trazerem
estabilidade à situação política, dada a pluralidade de centros políticos soberanos dentro da
mesma área geográfica e política. Os tratados, à época, tinham por característica importante a
pessoalidade. Utilizavam as formas e as garantias anteriores, sendo realizado o juramento
sobre a cruz e o santo evangelho.
Segundo Vásquez (2006), a força de obrigação dos tratados, na Idade Média possuía
diversos fundamentos, uns herdados da antiguidade greco-romana, outros originados na
própria época. Quatro seriam os fundamentos de obrigatoriedade dos tratados: o religioso (da
antiguidade), o jurídico (romano), o político social e o fundamento moral (estes últimos
desenvolvidos na própria Idade Média).
O caráter obrigacional dos tratados deixou de ser a religião e a moral, passando a serum
fundamento jurídico, o direito natural. No século XVII, houve grande desenvolvimento do
direito natural e é no direito natural, uma concepção jurídica, que se baseia o dogma da
inviolabilidade dos tratados. O direito natural poderá ter origem divina ou não. Se divino for,
o pacto se torna obrigatório porque o direito natural é ditado pelos Deuses, não sendo divino,
o pacto é obrigatório pelo princípio de que aquilo que duas vontades convencionam não
poderá ser desfeito unilateralmente.
Vásquez (2006) afirma que no século XX, com o advento da evolução da sociedade
moderna, abriu-se espaço a dois novos elementos, a possibilidade de aderência das
organizações internacionais os Tratados Internacionais e também a codificação do direito dos
tratados, concretizando, nesse ínterim, a possibilidade de surgimento de Tratados
Internacionais em que figurem como sujeitos Organizações Internacionais e Estados
Soberanos e criando normatizações convencionadas com intuito de regular a forma,
elaboração e regimento de Tratados Internacionais, sendo a Convenção de Viena, de 1969, a
pioneira a regular essa matéria em seu corpo textual.

1.1 Dos Tratados Internacionais

As relações advindas entre nações soberanas como visto na evolução histórica, em seus
primórdios,eram baseadas em acordos informais de cunho pessoal entre os chefes de estado
das nações pactuantes, estes acordos normalmente duravam o tempo de vida do líder de um
dos Estados pactuantes, de seu Rei ou Imperador.
Posteriori a esse período, a principal fonte que regulava as relações internacionais eram
os costumes, pois tacitamente os envolvidos elaboravam rotinas que, com o decorrer do tempo
e das repetições, acabavam tornando-se compromissos tácitos entre as partes, pois o
continuísmo do comportamento pretérito era a atitude esperada diante da mesma situação ou
de situação semelhante envolvendo as mesmas partes.
O costume, antes do advento dos Tratados Internacionais na forma moderna, era a
principal fonte do direito internacional. Porém, após o ano de 1960, a doutrina passou a
considerar, de maneira quase unânime, que o Tratado Internacional substituirá o costume
como principal fonte do direito internacional, pois as formalidades destes, juntamente com
pacta sunt servanda, transformavam as convenções em lei entre as partes, dando maior
segurança jurídica entre os sujeitos pactuantes.
Com o advento do grande aumento na quantidade de Tratados Internacionais firmados
entre as nações neste período, surgiu a necessidade de codificação no Direito dos Tratados no
intuito de alcançar uma maior segurança jurídica e um procedimento mais uniforme formal.
Essa codificação se originou em 1969, na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados.
Antes, porém, convém esclarecer e conceituar o quem vem a ser um Tratado
Internacional. Nas palavras de Francisco Rezek (2010, p 28), Tratado Internacional é “todo
acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir
efeitos jurídicos”. Vale apena interpretar tratado como um termo genérico usado para incluir
as Convenções, os Pactos, as Cartas e demais acordos. Os tratados são acordos internacionais
celebrados entre sujeitos de Direito Internacional, sendo regulados pelo regime jurídico do
Direito Internacional.
Entretanto, é interessante destacar que há uma enorme variedade de nomenclaturas para
os Tratados Internacionais, tais como, convenção, ato, protocolo, convênio, ajuste e acordo,
entre outros. Tratados e convenções são expressões sinônimas, já acordo, convênio, ajuste,
arranjo são atos internacionais de maior ou menor alcance, que poderão ser tanto de caráter
bilateral, como de caráter multilateral.
Os Tratados Internacionais, conforme entendimento do Professor Celso Ribeiro Bastos
(1994, p.19): “são acordos formais, eis que, à moda do que acontece com os contratos no
direito interno, demandam eles uma concordância de vontades, o que os distingue do ato
jurídico unilateral”.
O Tratado Internacional é um instrumento formal, onde não é admitida a oralidade,
pode ser encontrada no corpo textual da Convenção de Havana sobre Tratados Internacionais
de 1928, em seu artigo 2º, a seguinte afirmação, que “é condição essencial nos tratados a
forma escrita”.
A Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, finalizada em maio de 1969,
considerada a “Lei dos Tratados”, constitui-se em importante instrumento no caminho da
codificação do direito internacional público, porém, ela só entrou em vigor em 27 de janeiro
de 1980 e, seguindo o mesmo entendimento da Convenção de Havana, também mantém a
exigência da forma escrita para os Tratados ao afirmar em seu artigo 2º, 1, a, que, in verbis:
Tratado designa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e
regido pelo direito internacional, quer esteja consignado num instrumento único,
quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer que seja a sua denominação
particular.
Portanto, pode-se chegar à conclusão, de forma clara e objetiva, que Tratado
Internacional é um acordo elaborado entre partes soberanas que afirmam no texto
convencionado suas vontades de forma escrita, com intuito de regularem determinadas
matérias de interesses mútuos podendo ter um ou mais sujeitos pactuantes.

1.2 Formações dos Tratados Internacionais

Os Tratados e Convenções Internacionais são atos inicialmente solenes, cuja conclusão


requer a observância rigorosa de uma série de formalidades distintas e sucessivas. O protocolo
de formação de um tratado é dividido em quatro fases.
A primeira fase é a fase das negociações preliminares, onde cada Estado pretendente à
aderência do tratado, a priori, estuda as matérias a serem abordadas e os objetivos a serem
alcançados.
Após as negociações e a elaboração do texto do tratado, vem a segunda fase, em que
ocorre a assinatura ou adoção por parte dos membros signatários, demonstrando, dessa forma,
a concordância dos chefes de estados ou de suas delegações competentes, com mérito
elencado no texto que foi convencionado.
A terceira fase é a fase interna de cada signatário, cujos órgãos legislativos dos Estados
Signatários apreciam o texto que foi acordado no corpo textual do ato internacional.
E, finalmente, ocorre a quarta e última fase, quando há a ratificação ou a adesão ao texto
convencionado, findando-se com a troca dos instrumentos que consubstanciam o ato entre os
sujeitos aderentes.
Essa formalidade final tem o objetivo de vincular juridicamente os signatários, de forma
que deverá o tratado internacional ser observado estritamente no limite de seus termos pelas
partes signatárias. Antes da ocorrência da ratificação, todos os direitos e obrigações
constantes no ato internacional estarão restritos às relações mútuas dos Estados Partes, não
sendo, até aquele momento, incorporado no ordenamento jurídico interno dos Estados
aderentes.
Aqui, no Brasil, após ocorrer a sua ratificação, o tratado ainda será promulgado por
decreto da Presidência da República e publicado no Diário Oficial da União. Essas etapas são
pré-requisitos internos, adotadas pelo Brasil para implementar a aplicabilidade e
executoriedade das normas no ordenamento jurídico interno.
Tratados Internacionais que forem concluídos de forma regular, por consequência, se
tornam fontes do direito expressamente previstas na Constituição Federal,criadas e
integralizadas com a colaboração externa ao lado de outras fontes emanadas apenas de órgãos
internos.
Sua promulgação é consequência dessa constatação e não apenas o implemento prático
do que foi estabelecido,mas sim, uma exigência constitucional implícita que não terá o efeito
de transformá-lo em direito interno, mas sim de conferir-lhe força de norma executória.

1.3 Bilateralidade ou multilaridade de sujeitos internacionais

Quando se faz referência ao número de partes envolvidas em direito das gentes, pode-se
deduzir, evidentemente, que se trata da quantidade de envolvidos nos acordos internacionais,
os signatários, os sujeitos dos Tratados Internacionais, as partes envolvidas na elaboração,
assinatura, ratificação e, principalmente, no cumprimento das normas elaboradas.
Afirma o doutrinador especialista em direito internacional Francisco Rezek (2010, p.
25), in verbis:
Aqui nada mais se leva em conta que o número de partes, o número de pessoas
jurídicas de direito das gentes envolvidas pelo processo convencional. Diz-se
bilateral o tratado se somente duas das partes, e multilateral ou coletivo em todos os
outros casos, ou seja, se igual ou superior a três o numero de pactuantes.
Assim, a bilateralidade ou a multilaridade de sujeitos internacionais se deduz pelo
numero de partes envolvidas no tratado.
Portanto, também seguindo a mesma linha de entendimento de Francisco Rezek (2010,
p. 25), os fatídicos Tratados Internacionais em que apenas dois membros estão envolvidos no
acordo, podendo ser eles tanto entidades internacionais como Estados Soberanos, são
classificados como bilaterais, já quando há mais de duas partes envolvidas (três ou mais
sujeitos signatários no processo convencional), classificam-se estes acordos internacionais
como multilaterais ou coletivos.
O mesmo Francisco Rezek (2010. p. 25) também deduziu e elaborou a seguinte
premissa:
É evidente a bilateralidade de todos os tratados internacionais entre um Estado e
uma organização internacional, ou entre duas organizações, qualquer que seja o
número de seus membros. A organização, nessas hipóteses, ostenta sua
personalidade singular, distinta daquela dos Estados componentes.
Nessa mesma linha de pensamento, é conveniente ratificar aqui o raciocínio
anteriormente posto pelo doutrinador Francisco Rezek (2010. p. 25), afirmando que se torna
evidente a bilateralidade de todos os Tratados Internacionais, quando os sujeitos signatários
dos mesmos forem um Estado Soberano e uma organização internacional, ou quando ocorra
entre duas organizações internacionais, qualquer que seja o número de seus membros. Pois as
organizações internacionais
aqui tratadas nessas hipóteses possuem apenas uma personalidade jurídica singular, portanto
são distintas das complexas personalidades jurídicas que possuem os Estados Soberanos que
podem signatar Tratados Internacionais, portanto, por óbvio pode-se concluir que estes atos se
tratam de convenções internacionais classificadas sempre como bilaterais.

2 CELEBRAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

A Convenção de Viena providenciou a regulamentação dos requisitos para a conclusão


e para a entrada em vigor dos Tratados Internacionais. Dessa forma, para que um Tratado
Internacional seja válido, é necessário que as partes signatárias tenham a capacidade para tal
ato, que os seus agentes signatários sejam previamente habilitados por intermédio de carta de
plenos-poderes, assinada pelo Chefe do Executivo e referendada pelo Ministro das Relações
Exteriores transferindo-lhes a competência para tal ato; que haja o consentimento mútuo entre
os signatários (que se entende no livre arbítrio do direito de opção do Estado parte,
manifestado em documentação expressa e plena); e, que o objeto material em mérito no
Tratado Internacional seja lícito e possível (pois a simples promessa de uma prestação de
caráter absoluto, amoral ou irrealizável, é ato incapaz de formar um vínculo jurídico
internacional).
Conforme a referida Convenção de Viena, os Estados têm capacidade para celebrar
tratados, devendo, nas negociações com o governo de país estrangeiro, atuarem por
intermédio de seus representantes legais, devidamente autorizados a praticaremos atos
internacionais em representação estatal (plenipotenciários - detentores dos plenos poderes), à
exceção daqueles que sejam dispensados de tal autorização (os Chefes de Estado, os Chefes
de Governo e o Ministro das Relações Exteriores) em razão de já as possuírem de forma inata
em virtude do cargo que ocupam.
Os Chefes de Estado (ou de Governo, dependendo do sistema de governo adotado em
cada Estado signatário) têm inato, em razão do cargo que exercem a capacidade originária,
que prescinde que lhes seja exigida qualquer outra credencial. Os Ministros das Relações
Exteriores e os Chefes de Missões Diplomáticas são os sujeitos que possuem a chamada
capacidade derivada para a celebração de tratados, equivalente aos poderes dos Chefes de
Estado ou dos Chefes de Governo (a depender do caso), investidos em seus respectivos
cargos.
Eles são plenipotenciários ou mandatários que, em virtude de suas funções, estão
dispensados da apresentação da carta de plenos poderes. Porém, esta isenção será limitada
apenas aos Tratados Internacionais celebrados entre o Estado que o acolhe e o Estado que ele
representará e também,de acordo com o que dispõe a Convenção de Viena, esta isenção irá
tão somente ter validade até a adoção de seu texto.
Poderão, também, existir outros plenipotenciários, excluindo-se os já elencados acima,
porém, a carta de plenos poderes expedida pela autoridade competente do Estado
obrigatoriamente será exigida. Quando a representação do Estado se der por delegação ou por
um grupo de pessoas, só será detentor dos plenos poderes o chefe da mesma.
No Brasil, a competência do Chefe do Poder Executivo para celebração de tratados é
privativa, o que permite que haja delegação, por sinal, algo muito comum nos Tratados
Internacionais, já que o (a) Presidente (a) da República possui outras atribuições em
decorrência de seu cargo.
A Constituição Brasileira de 1988 diz competir privativamente ao Presidente da
República "manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
diplomáticos" (artigo 84, VII). Essa competência, normalmente, é transferida por delegação
ao Ministro das Relações Exteriores ou aos Chefes de Missão Diplomática.
Os funcionários de carreira, entretanto, devidamente autorizados ou credenciados pelo
país estrangeiro, poderão ser agentes plenipotenciários. Nesse ínterim, é que o Decreto n.º
99.578, de 10 de outubro de 1990, que surgiu com intuito de regular a organização e
funcionamento do Ministério das Relações Exteriores, afirma incumbir ao Itamaraty
"negociar e celebrar, com a cooperação de outros órgãos interessados, tratados, acordos e
demais atos internacionais" (artigo 2.º, VI), sendo este sujeito um verdadeiro "auxiliar" do
Presidente da República nas relações internacionais.
A capacidade para finalizar Tratados Internacionais está sendo, como ensina João
Grandino Rodas (1991), compartilhada por um número cada vez maior de entidades, não se
restringindo, hodiernamente, apenas aos Estados. Ao lado dos Estados soberanos, também
existem as organizações internacionais intergovernamentais, que também podem ser hábeis
para a conclusão de Tratados Internacionais.
Nesse sentido, o doutrinador João Grandino Rodas (1991, p. 12) vem destacar que:
Geralmente tal poder vem expresso no tratado constituidor, podendo ser também
inferido na prática firmada pelos mesmos, no exercício de suas funções. Desde que
tenham sua capacidade reconhecida por algum Estado, poderão um movimento de
libertação nacional, uma autoridade insurreta ou um governo no exílio, celebrar
tratados bilaterais com o mesmo.
Contemporaneamente, não há a menor dúvida disso, pois a Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados entre Estados Soberanos e Organizações Internacionais ou apenas entre
Organizações Internacionais, do ano de 1986, trata de forma específica o presente problema.
Não possuem, contudo, a capacidade ou o poder para celebrar tratados os Estados Federados,
por falta de personalidade jurídica internacional e,pelo mesmo motivo, também as empresas
privadas, inobstante a sua eventual multinacionalidade. Em síntese e de forma simples e
objetiva, cabe afirmar que, no Brasil, Estados e Municípios não possuem competência para
celebrar Tratados Internacionais por não possuírem capacidade jurídica internacional, assim
como as empresas privadas que não possuam como características a multinacionalidade.

2.1 Assinatura

O instrumento da assinatura em tratados internacionais é uma ferramenta que tem como


significado o aceite do Estado Signatário, ela tem a função de finalizar a negociação do texto,
de impor firma, fixando e autenticando a vontade do Estado ou da organização internacional
signatária em relação ao texto compromissado, não obstante isso, a assinatura também é
sinônimo de exteriorização em definitivo do consentimento das pessoas jurídicas de direito
que seus agentes representam.
Buscando as sábias palavras do Doutrinador Francisco Rezek (2010, p. 46) lê-se que:
Quando se trata de assinatura em tratados internacionais, falam-se daquela firma que
põe a termo a sua negociação – quase sempre bilateral -, fixando e autenticando, sem
dúvida, o texto do compromisso, mas acima disso a exteriorizando em definitivo, o
consentimento das pessoas jurídicas de direito das gentes que os signatários
representam. Não há, pois perspectiva de ratificação ou de qualquer gesto
confirmatório alternativo. O comprometimento se perfez, e o tratado tem condições
de vigência imediata – a menos que, por conveniência das partes, prefiram diferir a
vigência por tempo certo. De todo modo, uma cláusula final terá disciplinado essa
matéria.
Apesar de não existir qualquer perspectiva que seja de ratificação ou qualquer outro
gesto confirmatório alternativo, o texto convencionado após a assinatura já se perfeze possui
condições de vigência, a não ser que, por interesse e compromisso das partes, seja preferível
definir a sua vigência por tempo determinado diverso do momento da assinatura. De qualquer
maneira, alguma cláusula final regulará essa matéria de forma que os signatos do Ato
Internacional achem mais conveniente.

2.2 Ratificação dos Tratados Internacionais

O Fenômeno da ratificação dos Tratados Internacionais ocorre quando após a


elaboração do texto convencional a partir de atos unilaterais, os Estados Soberanos signatários
buscam a exteriorização opinativa de seu poder legislativo interno em relação às normas
anteriormente já convencionadas no Acordo Internacional. Nesse ínterim, buscam a
convalidação daquilo que já foi aceito ao tempo da assinatura e,a partir da ratificação como
consequência, se obrigam a cumprir todos os termos convencionados pelo chefe de estado ou
por seus plenipotenciários.
Conforme a linha de entendimento do doutrinador Francisco Rezek (2010, p. 26),o
fenômeno da ratificação nos Tratados Internacionais nada mais é que a representação de um
“ato unilateral com que a pessoa jurídica de direito internacional, signatária de um tratado,
exprime definitivamente, no plano internacional, sua vontade de obrigar-se”.
Na criação de um Tratado Internacional, um representante ou uma delegação de um
Estado Soberano participa de Conferência para formação do texto do Acordo Internacional.
Após esse momento, os signatários estabelecem qual será a data que consideram ideal para
que o tratado convencionado entre em vigor. E, como simbologia para a entrada em vigor das
regras convencionadas, poderá ser instituída a assinatura, a ratificação, ou qualquer outro ato
convencionado pelas partes aderentes ao acordo.
Posterior à elaboração do texto da convenção internacional, o representante do
executivo do estado membro assina, dando o aceite ao texto, e tenta obter uma ratificação do
poder legislativo de seu país (cuja forma pode variar conforme o ordenamento jurídico interno
de seu estado), e é a partir desta aprovação interna pelos membros do legislativo do Estado
signatário que o tratado internacional convencionado normalmente entrará em vigor perante
as partes que já obtiveram a ratificação interna, a não ser que, no texto do mesmo, haja
alguma disposição que eleja outra forma de entrada em vigor.
Portanto, cabe evidenciar que são dois os atos que representam as manifestações de
vontade formal casadas entre os signatários: a assinatura e a ratificação. Normalmente,
somente depois de ocorrida a ratificação é que as regras instituídas no Tratado Internacional
realmente passarão a vigorar perante os demais membros signatários.
Analogicamente, é como se o representante do executivo fosse ao seu país buscar a
certificação, a concordância interna da população por meio de seus representantes políticos
depois, retornasse à Conferência para manifestar o comprometimento legal absoluto de seu
país, para, então, iniciar a vigência do tratado convencionado em relação aos demais Estados.
Portanto, é necessária a ocorrência de dois atos, o aceite do poder executivo,
exteriorizando a sua manifestação de vontade no momento da assinatura; e o aceite do poder
legislativo, posteriormente efetivando e convalidando no momento da ratificação os termos
convencionados.

2.3 Análise dos Tratados Internacionais no Congresso Nacional

Os Tratados Internacionais serão encaminhados ao Congresso Nacional Brasileiro,


acompanhados de mensagens do Poder Executivo e de uma exposição de motivos que
objetivam justificar e esclarecer as razões que levaram à assinatura do Ato Internacional em
epígrafe.
Tais cartas serão elaboradas pelo Ministro das Relações Exteriores, sua delegação,
assessoria e por outros Ministros de Estado, que, tenham participado da elaboração da
convenção internacional e cujos objetivos de seus ministérios venham a se relacionar com os
assuntos em mérito tratados no ato convencionado.
Dessa forma, inicia-se a tramitação na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional da Câmara dos Deputados, e, após verificar o mérito do ato, é feito o projeto de
decreto legislativo. A partir desse momento, a proposição passa a tramitar em regime de
urgência, sendo apreciada ao mesmo tempo pelas Comissões constantes no despacho da Mesa
Diretora. E, ainda, também pelas Comissões as quais a competência estiver relacionada às
tratativas em mérito no Tratado Internacional.
A proposição será distribuída para a Comissão de Finanças e Tributação, quando a
matéria envolver algum aspecto financeiro ou orçamentário público para que haja a
apreciação da compatibilidade e a adequação orçamentária. Também será encaminhada à
Comissão de Constituição e Justiça e de Redação para que ocorra a apreciação obrigatória dos
aspectos de constitucionalidade, legalidade, juridicidade, regimentalidade, de técnicas
legislativas e, novamente, para a apreciação do mérito.
Posteriormente à apreciação das Comissões, a matéria em mérito será direcionada ao
Plenário da Câmara de Deputados para um turno de discussão e votação. Se forem
apresentadas emendas no Plenário, essas serão distribuídas às respectivas Comissões, que têm
o prazo de uma sessão para elaborar os pareceres pertinentes.
Os pareceres poderão ser realizados de forma oral, diretamente em Plenário pelas
delegações dos respectivos colegiados técnicos, e, se possível,de preferência pelos Relatores
da proposição principal junto às Comissões que opinaram sobre o mérito da matéria.
Depois de ocorrida a apreciação na Câmara de Deputados, o projeto de decreto
legislativo será enviado ao Senado Federal onde será examinado pela Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional e pelo Plenário do mesmo. O Presidente do Senado, depois das
oitivas das lideranças e demais partes interessadas, terá a faculdade de conferir à Comissão a
competência para exame terminativo dos tratados ou acordos internacionais. Porém, essa
prática, normalmente, não é costumeira.
Sendo aprovado ou rejeitado nos termos da deliberação, o projeto será transformado em
Decreto Legislativo e promulgado pelo Senado Federal. Se forem apresentadas emendas ou se
a deliberação corresponder à deliberação dada anteriormente pela Câmara dos Deputados, o
projeto retornará a essa Casa para que ocorra o reexame definitivo. Ainda que o último
parecer tenha sido dado pela Câmara Legislativa, o decreto Legislativo deverá ser promulgado
pelo Presidente do Senado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após estudos, elaboração e apresentação desta obra, pode-se, em síntese, elencar


algumas possibilidades, teorias e jurisprudências sobre as formas de recepção e
enquadramento hierárquico dos Tratados Internacionais perante o ordenamento jurídico
brasileiro, fundamentado no que foi exposto, demonstraram-se abaixo os resultados
alcançados.
A forma de recepção hierárquica dos Tratados Internacionais aqui demonstrada é a
conhecida como legalidade, ela é a mais antiga, clássica e possui o apoio majoritário da
doutrina e jurisprudência. Essa corrente consiste em conceder o status hierárquico de leis
ordinárias aos Tratados Internacionais de qualquer natureza e mérito em seu texto, que
venham a ingressar no ordenamento jurídico pátrio.
Para que ocorra este enquadramento hierárquico dos Tratados Internacionais basta que
eles sejam ratificados pelo Congresso Nacional de forma processual idêntica ao das
aprovações legislativas que ocorrem na implementaçãode leis ordinárias, exigindo-se apenas
quorum de maioria simples para a sua aprovação legislativa.

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