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RESUMO
O Direito Internacional, inter-relacionado com o Direito Constitucional, está em constante
evolução, ambos visam regular, criar entendimentos e dirimir conflitos entre o estado, os
organismos internacionais e demais estados soberanos do planeta. Assim sendo, esse estudo
visa abordar e elucidar os principais questionamentos sobre a adequação dos tratados
internacionais perante o ordenamento jurídico brasileiro, dando enfoque à evolução histórica
dos mesmos, citando seus principais momentos, entre eles, a alteração Constitucional em
1988 e as Emendas Constitucionais que fazem alterações pertinentes ao tema. Este trabalho
comentará as decisões dos tribunais superiores nos momentos em que a norma foi omissa,
analisando a doutrina e entendimentos jurisprudenciais, abordando os efeitos e as
consequências de cada alteração legal, assunto esse que porser hierarquicamente superior às
demais leis, movimenta todo o ordenamento jurídico brasileiro, de suma importância,
portanto, sendo muito debatido na doutrina e na jurisprudência.
Palavras-chave: Hierarquia Normativa. Recepção. Tratados Internacionais.
ABSTRACT
International law, interrelated with constitutional law, is constantly evolving, they aim at to
regulate, create knowledge and resolve conflicts between our nation, international
organizations and other nations on the planet. Therefore, this study aims to approach and
elucidate the main questions about the adequation of international treaties before the Brazilian
legal system, focusing on the historical evolution of them, citing their highlight moments,
including a constitution alteration of 1988, and splices on the constitution that make pertinent
changes on the theme. This study will comment on the decisions of the higher courts in times
when the standard was silent, analyzing the doctrine and jurisprudential understandings,
addressing the effects and the consequences of each legal alteration, matter, which for being
hierarchically superior to other laws, drives entire Brazilian legal system, being extremely
important, therefore, much discussed in doctrine and jurisprudence.
Keywords: Normative Hierarchy. Reception. International Treaties.
INTRODUÇÃO
Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF
Professor de Direito Tributário e Direito Administrativo na FADAF. Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, com Ênfase em Direito Tributário
Graduada em Direito pelo Centro Universitário de Maringá (UNiCESUMAR)
No Brasil, antes do ano de 2004, havia um entendimento de certa forma já concretizado
de que os Tratados Internacionais eram enquadrados como normas infraconstitucionais, sua
forma de recepção no Congresso Nacional era realizada em votação com quórum de maioria
simples*. Porém, em 2004, foi implementada a Emenda Constitucional número 45,
introduzindo alterações na forma de recepção dos Tratados Internacionais e, por
consequência, alterando, ou, pelo menos, possibilitando mais de um enquadramento
hierárquico dos Tratados Internacionais, no ordenamento jurídico brasileiro.
Com o advento dessa Emenda Constitucional, iniciou-se um quadro de inseguranças
jurídicas, nesse ínterim, almeja-se elucidar as seguintes questões: qual ou quais as formas de
recepção e adequação hierárquica dos tratados internacionais perante o ordenamento jurídico
brasileiro? E quais suas consequências, após as alterações trazidas pela Emenda
Constitucional número 45 de 2004?
Diante da nova realidade jurídica posteriori ao implemento da Emenda Constitucional
número45, de 2004, que introduziu o parágrafo 3º ao artigo 5º, da Constituição Federal,
ocorreram novas adequações hierárquicas nos Tratados Internacionais perante o ordenamento
jurídico brasileiro, atribuindo-lhes status de norma constitucional, caso sua forma de recepção
seja em votação com maioria de 2/3 (dois terços), em dois turnos de votações, nas duas casas
do Congresso Nacional.
A partir dessa nova norma, abriram-se diversos questionamentos, não só perante a
aprovação de novos Tratados Internacionais, como também sobre a adequação dos Tratados
Internacionais recepcionados em momentos anteriores e aprovados em forma diversa.
Seguindo essa linha de raciocínio, inúmeras hipóteses podem ser elencadas, conforme
analisar-se-á nesta obra.
Conforme Vásquez (2006), o Congresso Nacional poderá optar pela forma de recepção
dos Tratados Internacionais. Nesse sentido, caso opte pela forma de procedimento elencada
no parágrafo 3º, do artigo 5º,da Constituição Federal e o quórum de aprovação de 3/5 (três
quintos), e este não seja atingido, o Tratado Internacional será rejeitado pelo ordenamento
jurídico brasileiro.Sendo deliberado pela forma do procedimento elencada no parágrafo 3º, do
artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, e caso o quórum de 3/5 (três quintos) não seja
atingido, porém seja alcançada a maioria simples na votação, o Tratado Internacional será
incorporado com hierarquia infraconstitucional.
*
Quórum de maioria simples se refere à situação na qual o total de votos é maior que a metade do total de votos dos presentes.
Vásquez (2006), afirma que, sendo optado pelo procedimento tradicional de recepção de
Tratados Internacionais e não por aquele implementado pela Emenda Constitucional número
45 do ano de 2004, portanto, recepcionado em âmbito infraconstitucional, os direitos previstos
no tratado, não estarão submetidos ao regime especial dos direitos fundamentais, pois esta
norma recepcionada será legislação supralegal.
Entendem que, quando deliberado pela forma do parágrafo3º, do artigo 5º, da
Constituição Federal de 1988, estes Tratados Internacionais se sujeitariam às limitações
formais do poder constituinte derivado, pois tomariam forma de Emenda Constitucional,
perdendo a forma de tratado incorporado ou, outrossim, após a sua promulgação, exigível
seria a ratificação do tratado-emenda.
Os Tratados Internacionais recepcionados em momento anterior à Emenda
Constitucional número 45 estariam condenados eternamente à hierarquia de legislação
infraconstitucional, pois já estão incorporados à legislação pátria, desta forma, com hierarquia
supra legal. Essas hipóteses, aqui levantadas, são apenas algumas entre o vasto conteúdo
hipotético que se abriu após a alteração legislativa.
As relações advindas entre nações soberanas como visto na evolução histórica, em seus
primórdios,eram baseadas em acordos informais de cunho pessoal entre os chefes de estado
das nações pactuantes, estes acordos normalmente duravam o tempo de vida do líder de um
dos Estados pactuantes, de seu Rei ou Imperador.
Posteriori a esse período, a principal fonte que regulava as relações internacionais eram
os costumes, pois tacitamente os envolvidos elaboravam rotinas que, com o decorrer do tempo
e das repetições, acabavam tornando-se compromissos tácitos entre as partes, pois o
continuísmo do comportamento pretérito era a atitude esperada diante da mesma situação ou
de situação semelhante envolvendo as mesmas partes.
O costume, antes do advento dos Tratados Internacionais na forma moderna, era a
principal fonte do direito internacional. Porém, após o ano de 1960, a doutrina passou a
considerar, de maneira quase unânime, que o Tratado Internacional substituirá o costume
como principal fonte do direito internacional, pois as formalidades destes, juntamente com
pacta sunt servanda, transformavam as convenções em lei entre as partes, dando maior
segurança jurídica entre os sujeitos pactuantes.
Com o advento do grande aumento na quantidade de Tratados Internacionais firmados
entre as nações neste período, surgiu a necessidade de codificação no Direito dos Tratados no
intuito de alcançar uma maior segurança jurídica e um procedimento mais uniforme formal.
Essa codificação se originou em 1969, na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados.
Antes, porém, convém esclarecer e conceituar o quem vem a ser um Tratado
Internacional. Nas palavras de Francisco Rezek (2010, p 28), Tratado Internacional é “todo
acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir
efeitos jurídicos”. Vale apena interpretar tratado como um termo genérico usado para incluir
as Convenções, os Pactos, as Cartas e demais acordos. Os tratados são acordos internacionais
celebrados entre sujeitos de Direito Internacional, sendo regulados pelo regime jurídico do
Direito Internacional.
Entretanto, é interessante destacar que há uma enorme variedade de nomenclaturas para
os Tratados Internacionais, tais como, convenção, ato, protocolo, convênio, ajuste e acordo,
entre outros. Tratados e convenções são expressões sinônimas, já acordo, convênio, ajuste,
arranjo são atos internacionais de maior ou menor alcance, que poderão ser tanto de caráter
bilateral, como de caráter multilateral.
Os Tratados Internacionais, conforme entendimento do Professor Celso Ribeiro Bastos
(1994, p.19): “são acordos formais, eis que, à moda do que acontece com os contratos no
direito interno, demandam eles uma concordância de vontades, o que os distingue do ato
jurídico unilateral”.
O Tratado Internacional é um instrumento formal, onde não é admitida a oralidade,
pode ser encontrada no corpo textual da Convenção de Havana sobre Tratados Internacionais
de 1928, em seu artigo 2º, a seguinte afirmação, que “é condição essencial nos tratados a
forma escrita”.
A Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados, finalizada em maio de 1969,
considerada a “Lei dos Tratados”, constitui-se em importante instrumento no caminho da
codificação do direito internacional público, porém, ela só entrou em vigor em 27 de janeiro
de 1980 e, seguindo o mesmo entendimento da Convenção de Havana, também mantém a
exigência da forma escrita para os Tratados ao afirmar em seu artigo 2º, 1, a, que, in verbis:
Tratado designa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e
regido pelo direito internacional, quer esteja consignado num instrumento único,
quer em dois ou mais instrumentos conexos, e qualquer que seja a sua denominação
particular.
Portanto, pode-se chegar à conclusão, de forma clara e objetiva, que Tratado
Internacional é um acordo elaborado entre partes soberanas que afirmam no texto
convencionado suas vontades de forma escrita, com intuito de regularem determinadas
matérias de interesses mútuos podendo ter um ou mais sujeitos pactuantes.
Quando se faz referência ao número de partes envolvidas em direito das gentes, pode-se
deduzir, evidentemente, que se trata da quantidade de envolvidos nos acordos internacionais,
os signatários, os sujeitos dos Tratados Internacionais, as partes envolvidas na elaboração,
assinatura, ratificação e, principalmente, no cumprimento das normas elaboradas.
Afirma o doutrinador especialista em direito internacional Francisco Rezek (2010, p.
25), in verbis:
Aqui nada mais se leva em conta que o número de partes, o número de pessoas
jurídicas de direito das gentes envolvidas pelo processo convencional. Diz-se
bilateral o tratado se somente duas das partes, e multilateral ou coletivo em todos os
outros casos, ou seja, se igual ou superior a três o numero de pactuantes.
Assim, a bilateralidade ou a multilaridade de sujeitos internacionais se deduz pelo
numero de partes envolvidas no tratado.
Portanto, também seguindo a mesma linha de entendimento de Francisco Rezek (2010,
p. 25), os fatídicos Tratados Internacionais em que apenas dois membros estão envolvidos no
acordo, podendo ser eles tanto entidades internacionais como Estados Soberanos, são
classificados como bilaterais, já quando há mais de duas partes envolvidas (três ou mais
sujeitos signatários no processo convencional), classificam-se estes acordos internacionais
como multilaterais ou coletivos.
O mesmo Francisco Rezek (2010. p. 25) também deduziu e elaborou a seguinte
premissa:
É evidente a bilateralidade de todos os tratados internacionais entre um Estado e
uma organização internacional, ou entre duas organizações, qualquer que seja o
número de seus membros. A organização, nessas hipóteses, ostenta sua
personalidade singular, distinta daquela dos Estados componentes.
Nessa mesma linha de pensamento, é conveniente ratificar aqui o raciocínio
anteriormente posto pelo doutrinador Francisco Rezek (2010. p. 25), afirmando que se torna
evidente a bilateralidade de todos os Tratados Internacionais, quando os sujeitos signatários
dos mesmos forem um Estado Soberano e uma organização internacional, ou quando ocorra
entre duas organizações internacionais, qualquer que seja o número de seus membros. Pois as
organizações internacionais
aqui tratadas nessas hipóteses possuem apenas uma personalidade jurídica singular, portanto
são distintas das complexas personalidades jurídicas que possuem os Estados Soberanos que
podem signatar Tratados Internacionais, portanto, por óbvio pode-se concluir que estes atos se
tratam de convenções internacionais classificadas sempre como bilaterais.
2.1 Assinatura
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