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FACULDADE DE INHUMAS - FACMAIS

DIREITO CONSTITUCIONAL II
ATIVIDADE AVALIATIVA N1

FICHA DE LEITURA

1. Delimitação da unidade de leitura


LOPES, A.m. D'Ávila; CHEHAB, I.m.c.v.. Bloco de Constitucionalidade e
Controle de Convencionalidade: Reforçando a Proteção dos Direitos
Humanos no Brasil. Revista Brasileira de Direito, [s.l.], v. 12, n. 2, p.82-94,
18 dez. 2016. Complexo de Ensino Superior Meridional S.A..
http://dx.doi.org/10.18256/2238-0604/revistadedireito.v12n2p82-94.

2. Análise textual
Ana Maria D´Ávila Lopes é Mestre e Doutora em Direito
Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atua
como Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR). À época da publicação do artigo era
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Isabelle Maria Campos
Vasconcelos Chehab é Mestre e Doutora em Direito Constitucional pela
Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Consultora da Rede Latino-Americana
de Justiça de Transição (RLAJT) para a Comissão de Anistia do Ministério da
Justiça (MJ) e atua como Professora da Escola Superior de Negócios -
ESUP/FGV (Goiânia - GO).

O artigo divide-se em quatro partes, a saber:


1. Introdução: as autoras apresentam os temas sobre os quais o
artigo discorre, partindo de uma contextualização sobre a
proteção aos direitos e garantias fundamentais adotadas pela
Constituição Federal de 1988, bem como a sua relação com
organismos internacionais e convenções destes.
2. O bloco de constitucionalidade brasileiro e a Emenda
Constitucional n.º 45/2004: nesta parte do texto as autoras
tratam de densificar o conceito de bloco de constitucionalidade,
o contexto histórico de seu surgimento na França e na Espanha,

SAMUEL MACHADO MOREIRA, acadêmico do IV Período do Curso Bacharelado em Direito da


Faculdade de Inhumas - Facmais. Inhumas, 31 de março de 2020.
bem como demonstrar o entendimento, apesar da existência de
controvérsias, de que a sua existência já era prevista pela CF
88. É a partir da Emenda Constitucional de número 45/2004, no
entanto, que o bloco de constitucionalidade passa a ser adotado
inequivocamente no ordenamento jurídico brasileiro, a partir da
inclusão do §3.º ao art. 5.º da CF.
3. O Sistema Interamericano de direitos humanos e o controle
de convencionalidade: nesta seção as autoras apresentam
quais são e em que contexto surgiram os principais organismos
internacionais de proteção aos direitos humanos, suas
características sistêmicas, as suas instâncias e principais
pronunciamentos a respeito do tema. Da mesma forma,
conceituam o controle de convencionalidade, como este se
relaciona ao sistema internacional de proteção aos DH, a
importância da sua observação, bem como os entraves e
controvérsias à sua completa adoção no Brasil.
4. Conclusão: as autoras concluem o texto reforçando a
importância da aplicação dos instrumentos apresentados
anteriormente e ressaltam a importância da sua aplicação na
prática jurisprudencial brasileira, apesar dos avanços até aqui
observados.

3. Análise temática
O artigo discorre sobre a importância dos mecanismos jurídicos
conhecidos como Bloco de Constitucionalidade e Controle de
Convencionalidade na proteção e na garantia dos Direitos Humanos
fundamentais, a partir de uma contextualização histórica e sistêmica do seu
surgimento no panorama jurídico internacional e brasileiro.
O problema apresentado pelas autoras é a, muita vezes frequente,
falta de efetividade de tais mecanismos, que na visão delas, pode ser
creditada a baixa adesão e ao entendimento controvertido que recebem na
prática jurisprudencial brasileira, apesar do fato do país ser signatário e
reconhecer a superioridade hierárquica dos organismos internacionais e das

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convenções por aqueles expedidas, apesar dos avanços até aqui já
conquistados.
As autoras citam jurisprudência de organismos internacionais e
também extraem da doutrina existente sobre os temas, e embasamento
necessário para uma defesa da importância de que tais mecanismos
possuem ou deveriam possuir num Estado Democrático de Direito,
lamentando os prejuízos acarretados pela não realização do controle de
convencionalidade pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento
da ADPF n.º 153 em que declarou a constitucionalidade a Lei de Anistia.

4. Análise interpretativa
O artigo consegue aprofundar o debate com um relativo grau de
densidade, utilizando linguagem clara e acessível, sem rebuscamentos
desnecessários e exagerados, contribuindo efetivamente para o entendimento
dos conceitos. Apresenta uma conclusão coerente com os posicionamentos
defendidos ao longo do texto, o que reforça a facilita uma compreensão global
da temática.

5. Síntese pessoal
Bloco de Constitucionalidade e Controle de Convencionalidade são
mecanismos de proteção aos Direitos Humanos fundamentais surgidos do
fortalecimento do multilateralismo, num contexto pós Segunda Guerra, em
que a comunidade de países buscava criar mecanismos que pudessem evitar
a repetição do passado então recente.
Nesse esforço conjunto, a criação de organismos internacionais de
proteção a tais direitos, compreende para os países signatários abrir mão de
parte da sua soberania mediante a aceitação e a ratificação das convenções
e tratados definidos e publicizados neste contexto.
O reconhecimento da validade de tais conceitos compreende
reconhecer a supremacia e a legitimidade, até mesmo contenciosa, de tal
arranjo jurídico transnacional, dando a estes a prerrogativa de, de certa forma,
subjugar a vontade do legislador e até mesmo do poder constituinte nacional.
Podemos especular que daí, pelo menos em parte, nasce a resistência e a
controvérsia que historicamente pode ser observada na sua adoção.
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6. Citações pertinentes
Trata-se, sem dúvida, de temáticas controvertidas no solo
pátrio, tanto em função de serem relativamente novas, como
também por envolverem a possibilidade da existência de
normas de nível constitucional não criadas pelo poder
constituinte. (p. 83)

O bloco de constitucionalidade pode ser definido como o


conjunto de normas materialmente constitucionais que, junto
com a constituição codificada de um Estado, formam um bloco
normativo de hierarquia constitucional. (p. 83)

No Brasil, a existência de um bloco de constitucionalidade


remonta à própria promulgação da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, mais precisamente ao art. 5°,
§2°, cuja redação dispõe que “Os direitos e garantias
expressos na Lei Fundamental não excluem outros decorrentes
dos princípios ou do regime por ela adotados, assim como os
previstos em tratados internacionais sobre direitos humanos
dos quais o Brasil faça parte” (BRASIL, 1988, on-line). Da
leitura desse dispositivo, depreende-se que a intenção do
constituinte foi considerar a existência de direitos e garantias
fundamentais não expressos no texto constitucional, isto é, de
normas materialmente constitucionais. (p. 84)

Trata-se, sem dúvida, de uma significativa mudança de posição


do STF em relação ao bloco de constitucionalidade nacional,
confirmando a abertura do ordenamento jurídico brasileiro à
proteção internacional dos direitos humanos no marco do
diálogo de fontes, cuja finalidade precípua é a salvaguarda da
dignidade de todo ser humano. (p. 86)

Uma das formas como esse diálogo de fontes vem se


desenvolvendo é por meio do denominado controle de
convencionalidade, a partir do qual se exige que juízes e outras
autoridades dos países membros do SIDH, deixem de aplicar
norma nacional contrária à CADH e à interpretação que
a CorteIDH faz dela. Assim, o controle de convencionalidade
pode ser definido como a obrigação que juízes e outras
autoridades nacionais têm de “inaplicar aquellas normas
domésticas que no se conforman con las cláusulas de la
Convención Americana sobre Derechos Humanos, así como la
interpretación que de éstas hace la misma Corte” (CONTESE,
on-line). (p. 88)
Deve-se, entretanto, observar que o controle de
convencionalidade não exclui o controle de constitucionalidade,
na medida em que o primeiro objetiva aferir a validade de um
ato ou norma nacional em relação a uma convenção (tratado)
internacional; já, no segundo, verifica-se a validade de um ato
ou norma interna em face da constituição. (p. 89)

Essa demora na valorização do bloco de constitucionalidade


pode ser atribuída ao receio de aceitar a existência de normas
de hierarquia constitucional não criadas pelo constituinte
nacional. De qualquer forma, essa deficiência vem sendo
paulatinamente superada, como mostra recente decisão do
Supremo Tribunal Federal em sede da ADI no 5.357 MC– DF,
de novembro de 2015, na qual o Ministro Relator, Edson

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Fachin, fundamentou a constitucionalidade do Estatuto da
Pessoa com Deficiência [...] formando, portanto, parte do bloco
de constitucionalidade brasileiro e podendo, desse modo, servir
de parâmetro para determinar a constitucionalidade das
normas infraconstitucionais vigentes. (p. 91)

A respeito do controle de convencionalidade, verificou-se que


ainda há controvérsias em torno a sua delimitação conceitual.
Assim, para alguns autores o conceito do controle de
convencionalidade implica a não aplicação de uma norma
interna se contrária a qualquer tratado internacional ratificado
pelo Estado brasileiro, enquanto que, para outros, só é possível
falar desse controle nos casos em que seja reconhecida a
competência contenciosa da corte internacional competente
para aplicar a norma em discussão, já que o descumprimento
dessa norma ou da interpretação que a corte faz da norma,
deve acarretar a sanção do Estado. Desse modo, no tocante ao
Brasil, só caberia falar de um controle de convencionalidade
em relação à Convenção Americana de Direitos Humanos, na
medida em que o Estado brasileiro apenas reconhece a
competência contenciosa da Corte Interamericana de Direitos
Humanas. (p. 91)

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