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PROCESSO DE RATIFICAÇÃO DE TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL À

LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O processo de ratificação de Tratados Internacionais no Brasil tem como


base legal a Constituição Federal de 1988. Alerta Marcelo Dias Varella que não
existe uma legislação específica no Brasil sobre o assunto, e que a CF trata do
assunto em dois artigos:1

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I-resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos
ao patrimônio nacional;
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
[...]
VIII-celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a
referendo do Congresso Nacional;

Segundo lesiona Marcelo Dias Varella, o trâmite de ratificação inicia-se


com a tradução do texto do tratado pelo Ministério das Relações Exteriores, que
então prepara uma minuta da Mensagem Presidencial (através desta Mensagem é
que o tratado é oficialmente encaminhado ao Congresso Nacional). 2
O Ministério das Relações Exteriores ainda faz uma análise jurídica da
legalidade do texto do tratado, assim como a Casa Civil da Presidência da República
analisa a legalidade e o mérito do tratado. Por fim, nesta fase, estando o Presidente
de acordo, envia à Câmara dos Deputados a Mensagem e a Exposição de Motivos
do tratado para aprovação.3
Após a votação e aprovação na Câmara, o texto segue ao Senado, que
também realiza votação e aprovação. Se o tratado for aprovado o Presidente do
Senado fará a promulgação de um Decreto Legislativo, que será publicado no Diário
Oficial do Senado, ato este que oficialmente representa o referendo do Congresso
Nacional ao tratado.4
José Francisco Rezek adverte que "a aprovação do Congresso implica,
nesse contexto, a aprovação de uma e outra das suas duas casas. Isto vale dizer

1 VARELLA, 2019, p. 68
2 VARELLA, 2019, p. 69
3 VARELLA, 2019, p. 69
4 VARELLA, 2019, p. 69
que a eventual desaprovação no âmbito da Câmara dos Deputados põe termo ao
processo, não havendo por que levar a questão ao Senado em tais circunstâncias". 5
Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o tratado volta ao Presidente
da República, que então irá ratificá-lo. Após ratificado o Ministério das Relações
Exteriores realizará o depósito do instrumento de ratificação junto ao órgão
depositário. A partir deste momento é que o Brasil passará a estar comprometido
perante os demais Estados signatários. O último ato do procedimento é a publicação
de um Decreto Executivo, que irá promulgar e internalizar o tratado, resultando, por
fim, na integração do tratado na ordem jurídica interna. 6
Sobre o sistema de votação, explica José Francisco Rezek que a votação
em plenário deverá ser realizada pelo quorum comum de presenças, ou seja, exige-
se para a votação a presença da maioria absoluta do número total de deputados, ou
de senadores. E a aprovação, por sua vez, ocorre pela maioria absoluta dos
presentes em favor do tratado.7
Quanto ao valor normativo dos tratados na ordem jurídica brasileira,
ensina Marcelo Dias Varella que “os tratados em geral têm força de norma
infraconstitucional. Os tratados de direitos humanos, em particular, quando
aprovados na forma de projeto de emenda constitucional, têm força de norma
constitucional.” Contudo, se os tratados que versam sobre direitos humanos não
forem aprovados na forma de emendas constitucionais, terão também a força de
norma infraconstitucional.8 Assim, em regra os tratados incorporados ao sistema
jurídico brasleiro apresentam eficácia de lei ordinária, mas os que tratam sobre
direitos humanos aprovados nos moldes e quorum de emenda constitucional tem
eficácia de norma constitucional.
A previsão de tratados terem força de emenda constitucional está prevista
na CF/88, art. 5º, § 3º, que versa: “Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais.” Deste modo, o sistema de votação dos tratados que
tratam de direitos humanos deverá seguir o procedimento de aprovação de emenda
constitucional.9

5 REZEK, 2022, p. 31.


6 VARELLA, 2019, p. 70
7 REZEK, 2022, p. 31.
8 VARELLA, 2019, p. 90
9 VARELLA, 2019, p. 96
REFERÊNCIAS

MAZZUOLI, Valerio de O. Curso de Direito Internacional Público. Grupo GEN,


2021. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559641307/>. <Acesso em:
05 mai. 2022>.

REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. Editora


Saraiva, 2022. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596403/>. Acesso em: 12
mai. 2022.

VARELLA, Marcelo D. Direito internacional público. Editora Saraiva, 2019.


Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547229344/>.
Acesso em: 05 mai. 2022.

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