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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES

Direitos Humanos
Valerio Mazzuoli
Aula 03

ROTEIRO DE AULA

INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS E CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

a) Celebração de tratados no Brasil

Negociações e assinatura

Os Tratados Internacionais em geral tem fases próprias e específicas de incorporação.

A primeira fase de um tratado é fase pré-negocial, momento em que chefes de Estados vão iniciar um acordo
internacional. Posteriormente haverá a adoção do texto, sua autenticação e assinatura.

Os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, da mesma forma são negociados, adotados, autenticados e assinados
pelos representantes dos Estados.

A assinatura dos tratados é contemplada pelo art. 84, VII da nossa Constituição Federal, e pode ser delegada.

CF, Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

 "Privativamente" = assinatura delegável , por exemplo a um Embaixador, a um Ministro das Relações


Exteriores ou a um Chefe de missão diplomática.

Os tratados de Direitos Humanos são assinados pelo chefe do executivo ou por um delegado seu que recebe plenos
poderes para a celebração do ato, também chamado de plenipotenciário.

As negociações e a assinatura são fases principais da celebração de tratados.

Referendo parlamentar

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Depois de assinado, o tratado é submetido ao referendo, que é de competência do Congresso Nacional.

CF, Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

 Referendo - Confirmação a posteriori do ato do Presidente da República feita pelo Congresso Nacional.

O texto constitucional faz referência a referendar, tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos
ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, isso não exclui os tratados de Direitos humanos.

A princípio, podemos achar que " encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional" se refira apenas a
tratados de cunho financeiro ou econômico. Todo tratado de maneira geral acarreta encargos para a nação, ainda que
não sejam econômicos, o texto do art. 49, I da Constituição Federal deve ser interpretado em consonância com o art.
84,VII do mesmo diploma legal.

Assim, a interpretação feita diante da leitura desses dois artigos não leva a crer que o Congresso Nacional somente
possa referendar os tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional, mas todos os tratados assinados pelo Presidente da República, acarretem ou não encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Diante de um tratado o parlamento tem duas opções, ou aprova o tratado ou rejeita o documento internacional.
Aprovando, consente que o Presidente da República o ratifique, rejeitando, enviará uma mensagem ao chefe do
executivo para que não o ratifique. A ratificação sem o aval do parlamento é chamada de ratificação imperfeita ou
inconstitucionalidade extrínseca( art. 85, II, CF).

CF, Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação;

Ratificação

A ratificação é o aceite definitivo, demonstra a vontade do Estado em engajar-se no tratado, e também é irrevogável.

A forma do Estado desengajar-se de um tratado internacional é mediante a denúncia.

Obs.: Até a ratificação o Estado é signatário do tratado internacional, após a ratificação ele é parte no tratado
internacional e este tem aplicação imediata no direito brasileiro.

Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

Promulgação e publicação no DOU

Depois de assinado e ratificado o tratado internacional, seu texto é promulgado e publicado no Diário Oficial da União.

b) Tratados de direitos humanos

Caráter especial
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Os tratados de direitos humanos tem algumas particularidades especiais, diferente dos demais tratados.

Os tratados de direitos humanos não são tratados comuns eles têm regras especiais de interpretação. Devem
obrigatoriamente ser interpretado em conjunto com a legislação interna naquilo que for mais benéfico aos cidadãos.

A interpretação sempre será pro homine, em favor do bem comum e da dignidade da pessoa humana.

Interpretação conforme os direitos humanos

A legislação interna dos Estados deverá ser interpretada em acordo com os tratados de direitos humanos, por exemplo
a Convenção do Direitos das Pessoas com Deficiência, toda a legislação brasileira deve seguir essa convenção que tem
força de emenda constitucional e que junto com as normas internas irão orientar as interpretações nas ações que
envolvam esse tema.

A legislação de direitos humanos é paradigma para a legislação interna.

Cláusulas de diálogo nos tratados de direitos humanos

Em todos os tratados de direitos humanos existem cláusulas de diálogos, são cláusulas que permitem o diálogo entre
as normas de direitos humanos e as normas das demais categorias do direito.

Geralmente aparecem da seguinte forma:

" Nada na presente convenção prejudica os direitos a maior, resguardados ou no plano interno, ou em outro tratado,
ou em outra norma do qual o Estado seja parte", ou ainda, "Nada na presente convenção prejudica uma norma mais
benéfica que os Estados tenham nas suas legislações domésticas, cláusulas congêneres como essa ...".

As fontes do direito devem dialogar entre si, os tratados de direitos humanas sempre permitem aplicação de uma
norma mais benéfica quando ela existir.

A nossa constituição no art. 4, II também afirma a prevalência dos tratados de direitos humanos:

CF, Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
II - prevalência dos direitos humanos;

A fonte a ser aplicada no caso concreto deverá ser a pro homine, ou seja, aquela que lhe seja mais benéfica.

Tratados globais e tratados regionais

Existem tratados chamados de globais e tratados regionais dos quais somos parte. Os tratados globais são os do
sistema da ONU também chamados de onuzianos. Na categoria de regionais temos, os tratados do sistema regional
interamericano, tratados do sistema regional europeu e tratados do sistema regional africano.

No plano das Nações Unidas merece destaque o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais e também a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Pacto De San José Da Costa Rica).

c) Incorporação dos tratados de direitos humanos

Necessidade de ratificação (crítica da doutrina tributarista)


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Existe uma crítica da doutrina tributarista à necessidade de ratificação dos tratados de direitos humanos. Não há que
se falar que a ratificação seja dispensada.

Mas alguns doutrinadores tributaristas entendiam que, em razão do mandamento do art. 5º, §3° da Constituição
Federal , os tratados teriam passado por aprovação do Congresso Nacional da mesma forma que as emendas
constitucionais não havendo a necessidade de ratificação tal qual as emendas. Se o presidente assinou e o congresso
aprovou a ratificação não se faria necessária.

Os tratados de direitos humanos NÃO tem dispensada a sua ratificação. Após ratificados tem aplicabilidade imediata,
art. 5º, §1º, e inserem direitos e garantias no texto constitucional em razão da cláusula dialógica do art. 5º,§2º da
Constituição Federal.

CF, Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

Aplicabilidade imediata a partir da ratificação e Desnecessidade de promulgação executiva

Na prática, os tratados de direitos humanos são seguem a sistemática de incorporação dos tratados comuns, pois são
dispensados do decreto de promulgação presidencial e publicação no Diário Oficial, uma vez ratificados, os tratados de
direitos humanos são depositados internacionalmente e já somos parte e independente de publicação interna.

Tratado comum:

 Assinado referendado ratificado pelo P.R Promulgação e publicação no DOU

Tratado de Direitos Humanos:

 Assinado referendado ratificado pelo P.R Promulgação e publicação no DOU

d) Hierarquia dos tratados de direitos humanos aprovados por maioria simples

Posição atual do STF (nível supralegal)

Até a década de 1970 o STF entendia que os tratados de direitos humanos eram equivalentes às leis ordinárias, depois
da EC 45/04 passaram a entender que tinham nível supralegal mas a doutrina dos direitos humanos e a
constitucionalista entendia que os tratados de direitos humanos deveriam guardar posição constitucional dentro do
nosso ordenamento jurídico.

Somente com o julgamento do Recurso Extraordinário 466.343/SP é que o ministro Celso de Mello entendeu que
todos os tratados de direitos humanos, independentemente de aprovação qualificada pelo parlamento, nos termos do
art. 5º, §3º da CF devem guardar nível de norma constitucional.

Por força do §2º, do artigo 5º da CF, todos os tratados de direitos humanos, não importando seu quórum de
aprovação, já são materialmente constitucionais e se aprovados pelo §3º são formalmente constitucionais.

Os tratados comuns tem nível de lei ordinária.

Na Jurisprudência:
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 Se aprovados com maioria simples, art.5º, §2º tem nível supralegal
 Se aprovados com maioria qualificada, art.5º, §3° tem nível constitucional

Posição atual da doutrina (nível constitucional)

Posição da doutrina:

 Se aprovados pelo art.5º, §2º da CF, status constitucional.


 Se aprovados pelo art.5º, §3° da CF equivalência à Emenda Constitucional.

Aplicabilidade prática: podem ser paradigmas formalmente do controle concentrado de convencionalidade tomando
de empréstimo as ações do controle abstrato de constitucionalidade para invalidar uma lei federal ou estadual que não
obstante constitucional viole um tratado constitucionalizado, é o que chamamos de controle concentrado de
convencionalidade, que os tratados apenas com status de constitucional não poderiam ser paradigmas desse controle.

CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

O tema foi tratado na década de 70 na França quando se discutiu sobre o aborto e a violação das normas
constitucionais francesa. No tribunal foi declarado que o julgamento só poderia ser feito sobre a constitucionalidade das
normas e como o ato não violava a constituição, mas a Convenção Europeia sobre Direitos Humanos, o tribunal declarou
não poder contralar a convencionalidade.

Somos o precursor do desenvolvimento desse tema no Brasil, na obra " O controle jurisdicional da convencionalidade
das leis", editora RT.

a) Precedentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos

Em 2006 a corte interamericana começou pela primeira vez a implantar o sistema da convencionalidade no plano
interno afirmando ser de responsabilidade do juiz interno controlar a convencionalidade das leis.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos em seu preâmbulo reza que o controle de convencionalidade exercido
pelo sistema internacional na análise de compatibilidade das normas domésticas com as normas internacionais é
subsidiário às normas internas.

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969)*


PREÂMBULO
(...)
"Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional
de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana,
razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou
complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos;"

Assim, a competência originária para a defesa dos direitos humanos e controle da convencionalidade é da legislação
interna do país, somente no caso da legislação interna não atender a defesa dos direitos humanos o caso passará a
análise da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

JURSIPRUDÊNCIA

 Almonacid Arellano vs. Chile (2006) – “tipo de controle”

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Neste caso a corte decidiu que os Estados devem exercer um "tipo de controle" de convencionalidade, neste
momento a corte ainda não estava firme no que seria o controle de convencionalidade da leis e utilizou a expressão "
um tipo de controle" de convencionalidade das leis de forma colegiada.

 Trabalhadores Demitidos do Congresso vs. Peru (2006) – “controle ex officio”

Pouco depois, no caso dos trabalhadores demitidos do congresso a corte já utilizou o termo controle de
convencionalidade das leis entendendo que esse controle deveria ser utilizado ex officio, retirou a expressão tipo e
acrescentou que o controle de convencionalidade deve ser feito internamente e ex officio, independente de
comunicação ou pedido da parte para que o faça. Diante do caso concreto o juiz deve admitir o que for mais benéfico,
fazendo o controle de convencionalidade das leis, e reconhecendo as normas de direitos humanos ex officio.

 Cabrera García e Montiel Flores vs. México (2010) – diálogo das cortes e “efeito construtivo”

Em 2010, no julgamento de mais um caso, Cabrera García e Montiel Flores vs. México, a corte acrescenta que o juiz
deve fazer o controle de convencionalidade ex officio e este deve ter o efeito construtivo, nesse julgamento citou
diversas decisões de outras cortes nacionais latino-americanas que já implementavam o controle jurisdicional de
convencionalidade das leis. Construtivo porque permite o diálogo das cortes, ampliando seu rol e reforçando o controle
de convencionalidade que assim pode ser estudado de forma comparada por outros estados.

Gera o que chamamos de corpus juris de proteção interamericano dos direitos humanos.

 Gelman vs. Uruguai (2011) – todos os órgãos do Estado

Em 2011, no caso Gelman vs. Uruguai surge algo novo. A Corte Interamericana revela que todos os órgãos do Estado
devem ser responsáveis pelo exercício do controle da convencionalidade das leis. Não somente o poder judiciário mas
também o poder legislativo e executivo tem o dever de acompanhar o controle de convencionalidade das leis durante
seus atos.

Assim, o controle de convencionalidade deve ser observado por todos os poderes do Estado.

 Comunidade Garífuna de Punta Piedra vs. Honduras (2015) – “padrões internacionais aplicáveis”

Neste caso, tivemos mais um avanço. A corte disse que no exercício do controle de convencionalidade, o juiz,
administrador ou ainda o poder legislativo deve estar atento em além de controlar a convencionalidade da lei, tendo
como paradigma o tratado, controlá-la no bojo dos princípio internacionais aplicáveis ao caso concreto.

b) “Controle” e “aferição” de convencionalidade

 Controle de convencionalidade - é aquele exercido pelos tribunais no âmbito da sua competência contenciosa.

 Aferição de convencionalidade - é voltada a competência consultiva da Corte Interamericana dos Direitos


Humanos. São pareceres sobre determinadas matérias aos Estados quando pairarem dúvidas na
implementação legislativa. Aferição de convencionalidade nas Opiniões Consultivas

c) Tratados paradigmas do controle de convencionalidade

Todos os tratados internacionais de Direitos Humanos são paradigmas do controle da convencionalidade das leis.

 Caso Gómez Palomino vs. Peru (2005) – usou “outro tratado” para além da CADH (Conv. Inter. Desaparecimento
Forçado de Pessoas, 1994)
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No caso Gómez Palomino vs. Peru a Corte Interamericana utilizou além do Tratado da Convenção Americana de
Direitos Humanos, um outro tratado para solucionar a lide, neste caso, a Convenção Interamericana de
Desaparecimento Forçado de Pessoas.

 Tratados “como a Convenção Americana” – todos os tratados de direitos humanos (Caso Gudiel Álvarez vs.
Guatemala, 2012)

No Caso Gudiel Álvarez vs. Guatemala, a Corte utilizou a expressão "como a Convenção", isso deixou claro que
podemos utilizar de qualquer tratado para chegarmos ao controle de convencionalidade das leis.

Em resumo: A corte Interamericana pode utilizar de todo tratado no controle de convencionalidade das leis e não
somente da Convenção Americana de Direitos Humanos.

 Todos os tratados de direitos humanos = Corpus juris internacional de direitos humanos

d) Fundamento do controle de convencionalidade

 Art. 26 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) – “boa fé”
Artigo 26
Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa fé.

A Convenção de Viena determina que todos os tratados devem ser respeitados pelos Estados e de boa-fé, aqui inclui-
se os tratados de direitos humanos.

 Obrigação de respeitar os tratados

A obrigação de respeitar os tratados imposta pela convenção de Viena vale para todos os tratados e provém dos
princípios elementares do direito dos tratados.

 Controle de convencionalidade compõe o mosaico de obrigações do Estado

O fundamento do controle de convencionalidade é o próprio direito nacional público, todos os tratados devem ser
observados pelo Estado e cumpridos de boa fé, afinal o Estado tem obrigação na defesa dos direitos humanos. Os
tratados também compõem o mosaico normativo que deve ser observado pelo Estado.

CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE EM AÇÃO

a) Modelo brasileiro de controle de convencionalidade

 Tratados de direitos humanos com equivalência de emenda constitucional (CF, art. 5º, § 3º)

Se o controle de convencionalidade a priori é interno, deve obedecer a um procedimento próprio que no Brasil está
na constituição em um artigo originário e em outro trazido pelo poder reformador na emenda 45/04.

O dispositivo originário é o art. 5º §2º da CF:

CF, Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.

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O dispositivo que veio com a emenda 45/04, reza:

CF, Art. 5º, § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

A situação é de equivalência e não de igualdade portanto não há que se falar na aplicação dos princípios que regem as
emendas constitucionais aos tratados internacionais. O tratado é equivalente a uma emendas mas com suas
particularidades própria, por isso que o processo de celebração dos tratados não é igual ao processo de feitura das
emendas.

O que vale lembrar é que se os tratados forem aprovados pelo quórum de aprovação das emendas ele terá
equivalência de emenda constitucional e isso lhe transforma em paradigma para o controle concentrado da
convencionalidade.

Teses:

1ª - Segundo posição doutrinária qualquer tratado internacional já é norma com status constitucional. Se aprovado
pelo art.5º, §3º equivalentes a emendas constitucionais. ( jurisprudência e doutrina concordam);

2ª -A jurisprudência do STF vai dizer que todos os tratados de direitos humanos tem status supralegal, porém
infraconstitucional, mas se aprovados pelo quorum qualificado do art.5º, §3º serão equivalentes as emendas.

Então a divergência está nos tratados não aprovados pelo art.5º, §3º da CF, para o supremo a hierarquia é de norma
supralegal e para a doutrina eles têm status constitucional.

 Tratados de direitos humanos com status supralegal (STF)

Mas o importante nesse cenário é que os tratados deixaram de ser normas ordinárias para serem normas no mínimo
supralegais. Passaram a ser paradigma do controle difuso da convencionalidade.

b) Controle difuso de convencionalidade

 Todos os juízes podem exercer

Para o supremo, os tratados tem no mínimo status supralegal no país. Estando acima das leis , todas as leis internas se
submetem ou devem respeito aos comandos dos tratados internacionais de direitos humanos.

O Brasil é parte na Convenção Interamericana de Direitos Humanos que diz que compete a Corte ditar as sentenças
que devem ser observadas pelos Estados e que em diversas sentenças afirma que a competência originária para a
defesa dos direitos humanos e controle da convencionalidade é da legislação interna do país, assim sendo, todas essas
decisões provenientes de julgamentos da Corte Interamericana estão acima da lei no país, são supralegais.

O controle difuso de convencionalidade tem como base todos os tratados de direitos humanos, sejam tratados
supralegais, sejam os com status de emendas, sejam aprovados pela sistemática do art.5º, §2º ou art. 5º, §3º, eles têm
status especial no direito brasileiro, acima das leis ordinárias.

O controle difuso de convencionalidade opera sempre quando o tratado internacional for mais benéfico ao cidadão.
Nos casos em que a regra interna seja a mais benéfica o tratado internacional sede diante do direito interno.

Os juízes exercem o controle de convencionalidade sempre observando o princípio pro homine.


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 Recurso Especial e Extraordinário

Os tratados internacionais que tem para o Supremo, no mínimo status supralegal, pode ser paradigma para Recurso
Especial ou Recurso Extraordinário.

Neste caso, o descumprimento de um tratado pela lei interna, o torna paradigma para a legalidade discutida.

 No STJ - Recurso Especial - violação de uma lei federal;


 No STF - Recurso Extraordinário - A decisão recorrida declarou inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

 Independência do status dos tratados

O Controle difuso de convencionalidade independe do status do tratado de direitos humanos.

c) Controle concentrado de convencionalidade

No controle concentrado, requer-se que o tratado tenha a equivalência de emenda constitucional, do contrário não
será apreciado pelo Supremo.

 Somente tratados equivalentes às emendas são paradigma do controle concentrado

Deste modo, somente os tratados de direitos humanos equivalentes a emendas constitucionais podem ser paradigmas
para eventual controle abstrato de constitucionalidade.

Existem três tratados aprovados com essa equivalência pelo Brasil:

 A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência


 O Protocolo dos Direitos das Pessoas com Deficiência
 O Tratado de Marrakesh

Os legitimados do art. 103 da CF podem com base em um tratado constitucionalizado propor uma ADI para invalidar
uma norma Federal ou Estadual que não obstante constitucional é inconvencional.

O supremo pode declarar a inconvencionalidade de uma norma constitucional, significa dizer, que a Constituição não
é o último paradigma de controle, além da Constituição temos um novo paradigma de controle que é o controle
concentrado de convencionalidade das leis.

 Ações constitucionais do controle abstrato (ADI, ADPF, ADECON etc.)

É possível tomar de empréstimo todas as ações do controle abstrato para invalidar leis federais ou estaduais que
violem os tratados internacionais de direitos humanos constitucionalizados.

Obs.: O controle concentrado é paradigma do controle concentrado e do controle difuso, já o controle difuso é
paradigma apenas do controle difuso.

MÓDULO – DIREITO INTERNACIONAL PENAL

a) Tribunal Penal Internacional

• Aprovado em 17 de julho de 1998 - Estatuto de Roma

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Foi criado por tratado internacional, no âmbito das Nações Unidas, celebrado em Roma em 1998, conhecido com o
Estatuto de Roma.

O Objetivo é a proteção da humanidade contra atrocidades, em especial crimes de agressão, guerras, crime contra a
paz, crimes contra a humanidade e o genocídio.

Ele é o ápice da justiça penal internacional. Para impedir que atrocidades e violações de direitos humanos de toda
natureza sejam perpetradas no planeta terra, por isso a sua jurisdição universal.

O TPI tem jurisdição universal e depois que entrou em vigor com o quórum de ratificação estabelecido pela norma se
impôs a todos.

A sua jurisdição é universal mas porém subsidiária, assim como a corte interamericana, ele só age subsidiariamente
nos casos em que a justiça do Estado não conseguiu reprimir o delito ou deu mostra de que está causando embaraços
para se impor contra determinadas pessoas.

Apesar de ser "Estatuto de Roma" , tem sua sede em Haia na Holanda e foi assinado em 17 de julho de 1998.

• Em vigor internacional desde 1º de julho de 2002

Quatro anos após a assinatura do Tratado de Roma, em 1º de julho de 2002, o TPI alcança o quórum de ratificações e
passa a vigorar no mundo.

• Promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388, de 25.09.2002

No Brasil foi aprovado pelo decreto 4.388, de 25.09.2002. Dois anos depois o Brasil editou a Emenda Constitucional
45/04 e acrescentou o §4º no texto constitucional:

Art. 5º, § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão.

O TPI está constitucionalizado no direito brasileiro com status de norma constitucional.

b) Características do TPI

 Natureza supraconstitucional (centrífuga)

Diz-se ter um efeito centrífuga porque foge do centro para alcançar todo o planeta. Está acima das constituições dos
Estados, para alcançar o seu fim.

 Tribunal independente

Tem independência de qualquer comando internacional, apesar de ter sido criado no seio das nações unidas.

 Órgão subsidiário

Atua somente quando as cortes internas dos Estados não conseguirem agir a contento ou quando tentam privilegiar
réus, chefes de estados, etc.

 Justiça automática

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Diz-se automática porque a partir do momento em que chega ao conhecimento do tribunal alguma causa do seu
interesse ele é automático, age por si só, não precisa de impulso de terceiros. Só julga pessoas físicas.

c) Competência ratione materiae e ratione personae

 128 artigos com 1 preâmbulo e 13 partes


 Crimes referidos no preâmbulo são imprescritíveis

Artigo 5º
1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para
julgar os seguintes crimes:
a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

 Competência ratione materiae: crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de
agressão

 Competência ratione personae: só atinge maiores de 18 anos e que cometam os crimes de competência do
Estatuto de Roma, e só alcançam os crimes da sua entrada em vigor para frente, não retroage para alcançar
delitos anteriores a sua criação.

d) Impossibilidade de reservas ao Estatuto de Roma

 Artigo 120 – impossibilidade de reservas

Artigo 120
Não são admitidas reservas a este Estatuto.

Aos Estados não é dado o direito de se furtar a cumprir as normas do TPI e a não admissão de reservas deve ser
expressa.

 Necessidade de “ratificação plena”

A ratificação deve ser plena, mas os estados soberanos não são obrigados a ratificarem.

e) Responsabilidade penal individual

• Artigo 25, §§ 1º e 2º - competência do TPI para julgar pessoas físicas

O TPI retira do indivíduo todas as imunidades que possa ter. O indivíduo é responsabilizado pelo ato praticado,
independente da posição que ocupa.

Artigo 25
Responsabilidade Criminal Individual
1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as pessoas físicas.
2. Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado individualmente
responsável e poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto.

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• A competência ratione personae do Tribunal aplica-se igualmente a todas as pessoas, sem distinção alguma baseada
na sua qualidade oficial (art. 27, §§ 1º e 2º)

Artigo 27
Irrelevância da Qualidade Oficial
1. O presente Estatuto será aplicável de forma igual a todas as pessoas sem distinção alguma
baseada na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo, de
membro de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário público, em caso
algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade criminal nos termos do presente Estatuto, nem
constituirá de per se motivo de redução da pena.

2. As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de uma


pessoa; nos termos do direito interno ou do direito internacional, não deverão obstar a que o Tribunal
exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa.

LEIS DE AUTOANISTIA E JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO

a) Justiça de Transição e leis de autoanistia

• Conjunto de mecanismos (judiciais e não judiciais) destinados a enfrentar o legado de violência em massa cometida no
passado, para o fim de responsabilizar os culpados e exigir a efetividade dos direitos à memória, à verdade e à justiça.

Transição do que aconteceu no passado para o presente para que os fatos sejam esclarecidos, que se faz de forma
dolorosa em relembrar o passado mas que também trazem junto a verdade e a justiça sobre o que aconteceu. Ex.:
crimes ocorridos na ditadura militar.

• Direitos à verdade, à memória e à justiça, à reparação devida e às reformas institucionais

As bases da justiça de transição se faz necessário resgatar a verdade histórica. Por exemplo, resgatar a verdade sobre
o que aconteceu na ditadura militar, quais as violações de direitos humanos praticadas, quem foram os mortos, quem
está desaparecido, passar informações às famílias, etc.

O direito de saber a verdade é consagrado nos direitos humanos para que se possa responsabilizar os culpados pela
violação dos direitos humanos.

Os atos cometidos ficam na memória e temos o direito de saber o que realmente aconteceu e podemos documentar
a memória para a história.

O direito a justiça de que tem seus familiares de verem os culpados por atrocidades cometidas responsabilizados
judicialmente.

A reparação ao mal causado, saldar a dívida que o Estado tem para com os familiares de pessoas desaparecidas ou
mortas no Brasil.

A justiça de transição abre um novo estado, diante de reformas das instituições públicas onde o cidadão tem direito
a informação, com participação pública e acesso a verdade.

b) Edição da Lei de Anistia (Lei nº 6.683/79)

Depois do longo período brasileiro de ditadura militar e violação dos direitos humanos, esse resgate da memória e da
justiça começa com a lei de anistia.
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• Livrar da reprimenda penal os que cometeram crimes em nome da ditadura militar

A lei brasileira livrou da reprimenda penal as pessoas que cometeram crimes na ditadura militar, com o intuito de se
chegar a verdade, com o fundamento na reconciliação nacional.

• Fundamento na “reconciliação nacional”

Ainda que esse fundamento tenha convencido o Supremo Tribunal Federal , esse fundamento viola os direitos
humanos e não é aceito pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Deveria o Supremo Tribunal Federal ter
feito o controle de convencionalidade e declarado a norma inconvencional impedindo que chegasse a Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

• Normas inconvencionais (especialmente à luz da Convenção Americana sobre Direitos Humanos)

A Convenção Interamericana de Direitos Humanos não permite qualquer tipo de anistia, a luz de suas normas a
transição foi feita por normas inconvencionais. Normas que não passam incólume ao exame de compatibilidade
vertical com os tratados internacionais de direitos humanos em especial com a Convenção Interamericana de Direitos
Humanos.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos não permite leis de autoanistia e explica que, se uma lei do Estado
autoanistia aquele que cometeu algum dos delitos da competência do TPI essa autoanistia de nada vale para o Direito
Internacional dos Direitos Humanos, pois ela viola os direitos humanos e não há perdão para os que cometem crimes
contra a humanidade.

• Dever de perseguir as violações de direitos humanos

Os direitos humanos dizem não a ilegalidade e buscam aplicar a reprimenda do Estado aos que cometeram crimes em
nome da ditadura militar. E têm autorizado a reabertura de processos para investigar autoridades que estavam
anistiadas com a decisão recente do Supremo Tribunal Federal a fim de vê-los processados e julgados pelos delitos
praticados contra a humanidade.

• Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (caso Gomes Lund etc.)

Esse caso é conhecido como Guerrilha do Araguaia. Houve um conflito e 70 (setenta) guerrilheiros ficaram
desaparecidos durante a ditadura militar e poucas famílias conseguiram encontrar os corpos de seus familiares depois
de anos perseguindo na justiça federal brasileira. Em razão da vasta região as testemunhas não sabiam dizer onde se
encontravam os corpos que ficaram desaparecidos.

Em razão dos corpos continuarem desaparecidos, entendeu-se que a violação dos direitos humanos ainda estava
acontecendo e dessa forma a Corte Interamericana interveio no caso.

Como o Brasil não conseguiu fazer o controle de convencionalidade estipulado pela lei Internacional de Direitos
Humanos, a corte avocou para si a competência do controle de convencionalidade.

No primeiro semestre de 2010 o Brasil promulga a lei das anistia e em novembro do mesmo ano a Corte
Interamericana declara a lei de anistia inválida e condena o Brasil a anulá-la entendendo ser inconvencional e portanto
sem validade no plano Internacional dos Direitos Humanos.

c) Jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos

Antes do caso Gomes Lund a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos humanos se baseou em três casos:
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 Caso Barrios Altos vs. Peru (2001)

 Caso Almonacid Arellano vs. Chile (2006)

 Caso La Cantuta vs. Peru (2006)

Em todos esses casos a CIDH entendeu que uma lei que exclui responsabilidades e impede a investigação de crimes
como tortura, execução e desaparecimento forçado perpetua a impunidade por cercear às vítimas o acesso à justiça.
Portanto , normas inconvencionais que violam os tratados internacionais de direitos humanos.

• Caso Gomes Lund vs. Brasil – Caso Guerrilha do Araguaia(2010)

A Ordem dos Advogados do Brasil ingressou com uma ADPF no Supremo Tribunal Federal pedindo a declaração de
violação de preceitos fundamentais a Constituição, pela lei de anistia, e o Supremo entende que não existe violação a
preceito constitucional e julga a ADPF improcedente.

Em dezembro de 2010 a Corte Interamericana invalida a lei de anistia e impõe sanções ao Brasil:

1. A lei de anistia é inválida viola os direitos humanos


2. Abrir os arquivos da ditadura militar brasileira e dar conhecimento do que houve ao cidadão;
3. Criar uma comissão da verdade no país

d) Direito à verdade e implementação no Brasil

• Criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos (1995)

Em 1995 já existia no Brasil uma comissão que apurava quem foram as pessoas mortas e desaparecidas durante o
regime militar.

• Comissão Nacional da Verdade (2011) – não pune nem indeniza, mas apura a verdade

A comissão Nacional da verdade foi instalada somente após anulação da lei de anistia pela Corte Interamericana dos
Direitos Humanos com a missão de investigar quem foi os desaparecidos e mortos , quem eram e o que aconteceu com
essas pessoas.

• Relatório final apresentado em 10 de dezembro de 2014 (com 3 volumes)

Em 10 de dezembro de 2014 a Comissão da Verdade apresentou o relatório final, que encontra-se disponível no site
do Ministério da Justiça no link da comissão da verdade.

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