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Não existiria Bolsonaro presidente sem Olavo de Carvalho

Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente do Brasil. Muitas hipóteses surgem para
explicar como um candidato com pouco recurso, fora do establishment e com oposição
de maior parte da imprensa foi capaz de ganhar a eleição. As explicações mais comuns
são aquelas que colocam, na percepção do eleitor, Bolsonaro como um catalisador da
valorização da segurança pública, do antipetismo, de valores conservadores e do anti-
establishment. Verdade. Mas existe uma variável pouco explorada pelos analistas que foi
fundamental para explicar “Bolsonaro presidente”. Essa variável se chama “Olavo de
Carvalho”.
A votação expressiva de Bolsonaro não seria possível sem uma onda conservadora no
Brasil. Sem a devida preparação no terreno cultural, Bolsonaro jamais seria eleito. Não
se trata apenas de um fenômeno antipetista; existiam outros candidatos contra o PT, que
não levaram a maior parte dos votos da população.
A ascensão de Bolsonaro coincide com uma retomada dos valores conservadores e um
cansaço com as ideologias, conforme observado no artigo escrito por mim em conjunto
com o colunista do InfoMoney, Alexandre Pacheco. A ascensão do conservadorismo e a
perda de força das ideologias não ocorreram por acaso. Embora a população brasileira
seja majoritariamente conservadora, o conservadorismo foi neutralizado por anos de
hegemonia cultural da esquerda no país. E é exatamente aí que entra a importância
histórica do filósofo Olavo de Carvalho.
No início da década de 90, Olavo de Carvalho, com o brilhante livro o “Imbecil Coletivo”,
dava início sozinho à quebra dessa hegemonia. Não era tarefa fácil, uma vez que as
escolas, a mídia e as universidades tinham o monopólio da informação e propagavam
ideias de esquerda sobre toda a sociedade (ver a Corrupção da Inteligência de Flávio
Gordon). Não havia no Brasil um debate intelectual entre direita e esquerda, mas entre
correntes ideológicas dentro da própria esquerda (socialismo, social democracia, etc.).
Conforme o próprio Olavo já disse: “o debate ocorria nos próprios termos da esquerda”.
Mesmo que uma pessoa não se considerasse de esquerda, ela já falava e pensava como
um esquerdista, sem perceber o processo inconsciente de doutrinação.
Mesmo sendo uma obra prima, é evidente que apenas um livro (O Imbecil Coletivo) não
seria suficiente para furar todo o bloqueio às ideias conservadoras e liberais impostas pela
mídia e pelas universidades. Apesar de seu banimento de todos os grandes veículos de
comunicação, Olavo de Carvalho lançava cursos na internet, escrevia artigos, publicava
livros e fazia vídeos online, conquistando uma legião de alunos e seguidores. Com uma
argumentação extremamente lógica, embasado em fontes primárias e apoiado numa vasta
literatura nacional e internacional, Olavo de Carvalho dava início a um processo de
resgate da alta cultura no Brasil e de combate ao domínio psicológico e cultural da
esquerda sobre as massas.
Conforme observado em entrevista por Filipe Martins para o InfoMoney, Olavo de
Carvalho influenciava intelectualmente uma geração que futuramente teria grande
relevância como formadores de opinião. Felipe Moura Brasil (jornalista, Jovem Pan e
Antagonista), Bruno Garschagen (escritor, Gazeta do Povo), Alexandre Borges
(publicitário, Imprensa Livre), Filipe Martins (analista político, Senso Incomum), Flávio
Morgenstern (escritor Senso Incomum), Danilo Gentili (SBT), Flávio Gordon (escritor,
Gazeta do Povo), Nando Moura (crítico musical, canal próprio), Lobão (músico), Joyce
Halssemann (deputada federal) Bene Barbosa (especialista em segurança pública, MVB),
Allan dos Santos (Terça Livre) são apenas alguns nomes que hoje têm milhares de
seguidores e influenciam muitas pessoas - seja com livros, programas em mídia, artigos
ou vídeos na internet (eu, Alan Ghani, também fui influenciado intelectualmente pelas
ideias de Olavo de Carvalho).
Com o avanço das redes sociais e com a publicação do livro “O mínimo que você precisa
saber para não ser um idiota”, definitivamente o filósofo se consolida como um fenômeno
editorial e de internet. Conforme observado por Carlos Andreazza – editor da Record,
também entrevistado pelo InfoMoney -, Olavo de Carvalho se torna “pop” e seu livro se
transforma num fenômeno editorial, atingindo pessoas comuns (mais de 300 mil cópias
vendidas). Diga-se de passagem, Carlos Andreazza contribuiu bastante para a influência
intelectual da direita no Brasil ao publicar excelentes livros com ideias liberais e
conservadoras.
Com Olavo de Carvalho e todos esses formadores de opinião, finalmente a esquerda teve
que lidar com o contraditório, com um debate de verdade. As ideias liberais e
conversadoras penetravam na sociedade, ao mesmo tempo que muitas ideologias de
esquerda (ideologia de gênero, feminismo, etc.) eram denunciadas como partes
integrantes de um projeto de tomada de poder, e não como defesa de minorias.
Denunciava-se a corrupção sistêmica do Petrolão, o Foro de São Paulo e o apoio petista
às ditaduras venezuelanas e cubanas. Nesse novo ambiente, grupos antigos se reciclavam
(Jovem Pan) e uma nova imprensa surgia – o Antagonista. O jornalismo era resgatado, e
os fatos passaram a importar mais que as ideologias.
O domínio hegemônico da esquerda começava a ruir. Se de um lado a hegemonia cultural
de esquerda foi essencial para a chegada e sustentação do PT ao poder (ver a Corrupção
da Inteligência de Flávio Gordon), por outro, o enfraquecimento no plano cultural foi
fundamental para não eleger Fernando Haddad. Com a perda dessa influência, o PT se
enfraquecia e passou a se sustentar basicamente no recall eleitoral de Lula. Perdia força
de narrativa também. Não conseguia mais doutrinar a população, dizendo que "a maior
crise econômica da história brasileira era culpa do cenário internacional". As narrativas
do “impeachment é golpe” e “Lula foi preso sem provas” não colavam mais para a maior
parte da população. Os fatos e a realidade se sobrepunham à narrativa. É óbvio que a Lava
Jato e a crise econômica contribuíram muito para o enfraquecimento do PT. Mas o
entendimento da sociedade poderia ser outro. A população poderia entender o PT como
“vítima”. Não foi o que ocorreu. O PT não conseguia mais emplacar a sua narrativa.
Nesse novo ambiente, marcado pela ascensão do conservadorismo e do antipetismo,
bastava apenas um político encarnar essas tendências para a população. Bem ou mal, com
seu jeito mais rude, mais rasgado, Bolsonaro soube fazer isso e capitalizar os votos. Na
percepção do eleitor, Bolsonaro era visto como um defensor legítimo do antipetismo, ou
do conservadorismo, ou de ambos.
Jair Bolsonaro é resultado direto do antipetismo e da ascensão cultural da direita no país
(liberal e conservadora). No entanto, não existiria antipetismo e nem conservadorismo
sem a quebra da hegemonia cultural da esquerda no Brasil. E essa quebra de hegemonia
só foi possível graças ao excelente trabalho de Olavo de Carvalho, que formou uma
geração de pessoas preparadas intelectualmente para o debate público. Em última análise,
seria impossível um Bolsonaro presidente sem o choque de realidade trazido pelo filósofo
Olavo de Carvalho. Não é à toa que seu “best seller” estava na mesa do futuro presidente
em seu primeiro discurso. Olavo tem razão.
Alan Ghani é economista, PhD em Finanças, professor de pós graduação e colunista do
InfoMoney.
Ascensão de Bolsonaro: o cansaço das ideologias e o desejo de
retorno ao senso comum
O que poderia explicar um eleitorado tão pouco homogêneo estar fazendo esse
movimento espontâneo e desarticulado? Uma resposta óbvia está sendo dada:
o antipetismo. Mas é mais do que isso

Nos últimos dias, empresários, investidores, autônomos, empregados de empresas e


aposentados fizeram um movimento forte em direção ao candidato Jair Bolsonaro.

O que poderia explicar um eleitorado tão pouco homogêneo estar fazendo esse
movimento espontâneo e desarticulado? Uma resposta óbvia está sendo dada: o
antipetismo. Faz sentido, e isso não é pouca coisa, mas acreditamos que há um elemento
adicional nessa migração de votos:

O cansaço geral que as pessoas estão sentindo a respeito das “ideologias”, e que resulta
no desejo desesperado de retorno ao “senso comum”.

Vamos chamar de “ideologia” qualquer conjunto de ideias estruturadas por intelectuais,


que tem como propósito alterar o comportamento das pessoas e da sociedade. Alguns
intelectuais acreditam que a sociedade não caminha naturalmente, espontaneamente para
um futuro melhor, e se dedicam a criar, com base exclusiva na razão, modos de alterar o
modo de pensar e de agir das pessoal.

São exemplos de ideologias barra-pesada o Comunismo, o Socialismo e o Nazismo. É


exemplo de ideologia mais leve a Social Democracia. São ideologias porque as
sociedades não convergem naturalmente para essas ideias, sendo necessário o uso do
Estado para implantá-las à força.

Há exemplos históricos de revoluções criadas por intelectuais com base em ideologias,


que resultaram em violência, assassinatos em série, destruição e fome: Revolução
Francesa, Revolução Russa, Revolução Chinesa, Revolução Cubana. Todas elas têm
traços comuns: seguem as cartilhas de intelectuais que defendem ideias de aumento do
poder do Estado, o que se alcança destruindo liberdades individuais, a família, a religião,
as associações civis, o ensino livre e as manifestações culturais espontâneas.

Essa é uma característica dos movimentos intelectuais: o desprezo pelas pessoas comuns,
pela inclinação natural das pessoas em se organizar em família, em ter a sua religião, em
se organizar naturalmente em clubes e de seguir tradições. Particularmente, os intelectuais
desprezam as lições aprendidas com nossos antepassados (bisavós, avós, pais, tios),
porque sabem da força que esse conhecimento, fundado no senso comum, tem sobre as
crenças das pessoas.

As ideias dos intelectuais, então, normalmente concentram o inverso desses valores


fundados no senso comum: o conhecimento fora do mundo acadêmico para eles é
desprezível. Acreditam, os intelectuais, que não existe cultura fora do meio universitário
e dos livros, de forma que, se você não tem nível superior, nem é gente.

Daí vem a cartilha intelectual: ateísmo militante, com agressões habituais a católicos e
evangélicos; agressões à ideia de família, que chamam negativamente de “patriarcado”;
desprezo pelos times de futebol, que no seu entender são o “ópio do povo”; desejo de
alteração de preferências das pessoas, controlando o uso de carro e o fumo de cigarros,
impondo a linguagem do politicamente correto e até mesmo controlando piadas, ditados
populares e literatura tradicional; imposição de práticas repulsivas, como aborto,
liberação de drogas, educação sexual para crianças e eliminação de símbolos religiosos
em espaços públicos.

Esses intelectuais a que nos referimos concentram-se, hoje, nas universidades públicas.
Influenciam fortemente a imprensa e classe artística – a chamada “classe falante”. Não é
por outra razão que vemos ideologia para todos os lados. Nas universidades, nos livros,
nas músicas, nos jornais, nas revistas. Em todo lugar.

Na classe política, poucos se atrevem a defender publicamente o Comunismo, e até


mesmo uma versão mais leve de ideologia de esquerda, o Socialismo. Mas a classe
política brasileira quase que inteira é influenciada pelas ideologias, preferindo uma versão
mais leve: a Social Democracia. Nesse balaio da Social Democracia podemos colocar
quase toda a classe política do Brasil que tem representação do Congresso Nacional hoje:
PMDB, PSDB, PT, DEM, REDE...

Nos Estados Unidos há forte consciência desse movimento ideológico destrutivo causado
pela classe falante. Alguns movimentos conservadores colocam-se contrariamente a ele,
defendendo o valor que o “senso comum” de uma pessoa que nem mesmo passou pela
faculdade é capaz de cultivar, e que é possível ter vida fora dos meios universitários.

A eleição de Donald Trump retratou esse movimento. Tirando os exageros retóricos e as


ofensas que ele usa habitualmente, o racional dele é prático. Ele despreza a ideologia não
por opção política, mas porque ele despreza tudo aquilo que não funciona. Por trás do seu
racional, está a busca por resultados práticos e por ganhos reais, valendo-se do senso
comum.

Todas as soluções difíceis que as ideologias e os intelectuais defendem, ele deixa de lado.
E isso atinge fortemente a classe falante. Como defensor do senso comum, ele se opõe
naturalmente contra toda a intelectualidade, a imprensa, os artistas e a classe política,
quase que totalmente alinhadas com Hillary Clinton e com o Partido Democrata, que nada
mais é que uma espécie de mistura de PSDB, PT e PSOL que tem 50% do eleitorado
americano.

O mal que a alta cultura está provocando no Brasil é fenômeno já muito bem
documentado. Certamente, o livro “O Imbecil Coletivo”, de Olavo de Carvalho,
recentemente reeditado pela Editora Record, foi o primeiro grande alarme que se deu a
respeito, já na década de 90, mas essa ideia, aparentemente, ainda não está clara na cabeça
do povo. Outra obra de Carvalho que mostra a influência de ideologias na destruição da
cultura, dos valores e das instituições é “O Mínimo que você precisa saber para não ser
um idiota”. Recentemente, o antropólogo Flávio Gordon, no seu livro “Corrupção da
Inteligência” mostra que a chegada e a permanência do PT no poder (2002 a 2016) não
seria possível sem a influência das ideologias de Gramsci e Marcuse, – filósofos marxistas
– na academia. Para Gordon, os jornalistas, num processo mimético, compram as ideias
dos intelectuais e espalham o tóxico ideológico por toda a sociedade

No Brasil, a ascensão dos votos em Bolsonaro aparenta ter o mesmo sentido do que foi
visto nos Estados Unidos, apesar da maioria da população que faz parte desse movimento
espontâneo e desarticulado por aqui ainda não ter claro na sua cabeça esse sentido, de
revolta contra as ideologias que desprezam o senso comum. Mas é isso o que está por traz
desse movimento de migração de votos para o Bolsonaro. E eventualmente ele seja mais
forte no interior, fora dos grandes centros urbanos onde estão concentradas as
universidades públicas, que dominam o discurso da classe falante.

O que a maioria das pessoas quer é trabalhar, pagar suas contas, cuidar da sua família, ter
sua religião respeitada, cultivar a memória que tem do seu passado e repetir o que o vovô,
a vovó, a mamãe e o papai fizeram e ensinaram a fazer. A maioria das pessoas não quer
mais ser violentada por universidades públicas, jornais, revistas e programas de televisão
com ideias malucas.

É isso o que Bolsonaro representa, além do antipetismo, quando fala da família, das
universidades públicas, da imprensa, de Deus. O retorno, que as pessoas querem
desesperadamente, ao senso comum.

*Alan Ghani é Economista, PhD em Finanças e Professor de Pós Graduação (Insper,


FIA e SaintPaul)

**Alexandre Pacheco é Advogado, Professor de Direito Empresarial e Tributário da


Fundação Getúlio Vargas, da FIA, do Mackenzie e Doutorando/Mestre em Direito pela
PUC.
O que o analista político que cravou Bolsonaro X PT há um
ano acha sobre o 2º turno
Confira na íntegra a entrevista com um dos maiores analistas políticos do Brasil, Filipe
Martins. Depois de cravar o resultado nas eleições americanas, inclusive por estado
(acertou 48 de 50), Martins antecipou corretamente há um ano o resultado das eleições
no 1º turno no Brasil.

Filipe Martins, analista político que cravou o resultado nas eleições americanas, inclusive por
estado (acertou 48 de 50), antecipou corretamente há um ano o resultado das eleições no 1º
turno no Brasil. Em entrevista ao InfoMoney, Martins diz que as análises tradicionais erraram
em não considerar Bolsonaro no 2º turno devido ao "imperialismo do método", isto é,
tentativa de fazer previsões com fatores pré estabelecidos, sem levar em conta o fator humano.
Martins também afirma que pela primeira vez o Congresso terá uma bancada forte de direita,
liberal na economia e conservadora nos costumes. Por fim, ressalta a grande influência que
teve o filósofo Olavo de Carvalho para o crescimento da onda conservadora no Brasil.
Alan Ghani: Filipe, vários analistas políticos colocavam um segundo turno entre Geraldo
Alckmin e Fernando Haddad. Você foi um dos poucos que, com muita antecedência, cravou
o resultado. Onde eles erraram? Ou: onde você acertou?
Filipe Martins: Escrevi um artigo em dezembro de 2016 e apontava o Bolsonaro, de um
lado, e um candidato do PT, do outro. Neste artigo e numa entrevista para o InfoMoney,
apontei a principal deficiência de análise: o imperialismo do método, que é encaixar todas as
eleições dentro de um padrão (estruturas, tempo de TV, máquina partidária, alianças
tendências, etc.), sem levar em conta o fator humano. O processo eleitoral é feito de escolhas
humanas que vão dar direcionamento às ações. Deve-se levar em conta o momento histórico
do país, a sociologia do país, como a população pensa e no que ela acredita. E talvez a grande
diferença foi perceber a singularidade da candidatura de Jair Bolsonaro – abertamente de
direita, conservadora e convergente com os valores majoritários da população brasileira – e
também a personalidade dele – antifrágil e não querida pela mídia -, que tentava dar voz a
essa população sub representada, majoritariamente conservadora, com valores contrários da
mídia, da academia e da classe política. Muita gente não conhecia o deputado Jair Bolsonaro.
Ele era um fenômeno de internet. Eu dizia que ele cresceria bastante quando ocorresse um
encontro natural com seu eleitorado pela TV (encontro orgânico pelos debates e sabatinas, e
não pela propaganda eleitoral). A partir do momento que houve esse encontro, na primeira
semana de agosto, – e mesmo sendo prejudicado pelo atentado que ele sofreu – Bolsonaro
teve uma subida contínua até o dia da votação.
2. Alan Ghani: Você acredita que a votação pífia de Geraldo Alckmin se deve ao candidato,
ou ao PSDB que está desgastado? De outro modo, se fosse o João Dória, por exemplo,
mudaria algo? O PSDB seria mais competitivo, ou não?
Filipe Martins: Eu acreditava que o Dória seria mais competitivo e teria um desempenho
melhor (inclusive havia dito que o candidato natural do PSDB seria o Dória); mas não seria
suficiente para superar o Bolsonaro, que vai além do antipetismo É alguém com uma agenda
propositiva conservadora. Dizia que o Geraldo Alckmin apresentaria dificuldades em disputar
com um candidato de direita, além do momento político e o desgaste do processo do Aécio
que prejudicariam também o seu desempenho.
3. Alan Ghani: Muitos candidatos viram seus votos alavancar colando sua imagem em
Bolsonaro. Se esses candidatos tivessem feito um discurso mais à direita, sem se vincular ao
Bolsonaro, teriam tido toda essa transferência, ou a figura de Bolsonaro pesa muito?
Filipe Martins: Teriam sim uma votação maior, mas não nessa magnitude. Eu sempre vi o
deputado Bolsonaro como um símbolo aglutinador, pelo carisma da pessoa. Ele gera uma
identificação e atrai essas pessoas, não necessariamente pelas propostas que ele defende;
embora, claro, haja uma convergência de valores e crenças. A partir dessa atração, ele dá um
direcionamento para as ideias. Ele escolheu para as ideias no campo econômico o Paulo
Guedes, no campo da cultura, as ideias conservadoras de Olavo de Carvalho. Mas tem
candidatos de outros partidos (Paulo Eduardo Martins e Marcel Van Hattem), que não deram
tanto destaque ao Bolsonaro, e tiveram votações expressivas.
4. Alan Ghani: Assistimos a uma renovação no Congresso. Somente o PSL tem 52 cadeiras
na Câmara dos deputados. Pode-se finalmente dizer que a direita entrou para o cenário
político nacional? A tendência para as próximas eleições é de que esse número cresça?
Filipe Martins: Sem dúvida alguma. Agora temos um número enorme de pessoas do PSL e
de outros partidos com uma bancada conservadora nos valores e liberal na economia. Existem
pessoas com uma ligação orgânica com o movimento conservador, ligadas às forças de
segurança (Polícia, Exército ), igreja e empresários ligados à pauta econômica liberal. Há uma
boa representação do que é a direita hoje. Na próxima legislatura, tende a aumentar ainda
mais.
5. Alan Ghani: Em que medida isso será bom para o país?
Filipe Martins: Além da crise econômica e institucional, talvez a maior crise seja de
representatividade. Qualquer pessoa que ousasse falar em nome dos valores e posições
majoritárias da população era rapidamente jogada para as margens e chamadas de
“extremistas”. Essa população era claramente sub representada. Isso é demonstrado por
índices de confiança na democracia, reflexo de uma grande insatisfação com o sistema
político. Ao colocar políticos que dão voz para a maior parte da população, resguarda-se a
democracia e a representatividade. Isso é saudável para as nossas instituições, gera
estabilidade para superar crises e oxigena o debate. Essas ideias e propostas novas liberais
(na economia) e conservadoras são pouco conhecidas pela mídia e pela academia, pois
ficaram de fora muito tempo. Há uma perspectiva muito positiva para a nação em termos de
instituições, de ordem e atuação no exterior.
6. Alan Ghani: A que se deve este crescimento da direita? Não foi da noite para o dia...
Filipe Martins: Não foi. Vamos considerar novamente o fator humano. Aqui no Brasil não
podemos deixar de fora o filósofo Olavo de Carvalho que teve enorme contribuição para isso.
No início da década de 90, ele fala que o PT chegaria ao poder e como o partido se
comportaria, uma vez que estivesse no poder. Olavo se preparou para isso com cursos e
textos, formando uma nova elite intelectual nacional que desse voz às parcelas dessa
população sub representada. Em larga medida, isso é fruto de um trabalho começado pelo
Olavo e continuado por ele e outros lá atrás.
7. Alan Ghani: Ele influenciou uma geração de formadores de opinião, certo?
Filipe Martins: Sim, sem dúvida. Com o Imbecil Coletivo, ele quebra a hegemonia cultural
da esquerda. Depois ele começa formar uma geração de leitores jovens. Em seguida, vem
uma segunda geração, que junto com a primeira, tem uma grande influência. Hoje, ele tem
alunos que são juízes, diplomatas, deputados eleitos, etc, e é citado em votações no Senado.
Isso é fruto de um trabalho pedagógico feito por ele à margem da academia, para formar uma
elite intelectual nacional intelectual, mas também de operadores públicos (deputados, juízes,
etc.). Olavo de Carvalho buscou isso e atingiu esse objetivo.
8. Alan Ghani: Para terminar, qual é sua aposta para 2º turno?
Filipe Martins: Bolsonaro entra como franco favorito, inclusive numericamente. Ele entra
no 2º turno com 49 milhões de votos, que equivale a mais votos que o Ciro, Haddad e Alckmin
somados. No 2º turno, a abstenção é maior, porque no primeiro tem a votação para deputados
e senadores que levam mais gente para as urnas. Hoje, ele poderia ser eleito apenas com esses
votos, mas é óbvio que ele não pode contar com essa possibilidade. Para ele chegar numa
margem de segurança, ele precisa ter 52 milhões de votos, que seriam somados os votos do
Amoedo e Cabo Daciolo.
Acredito que ele terá mais. O Haddad tem uma dificuldade muito maior: ele teria que ter
todos os votos da esquerda, e mesmo assim não teria a votação do Bolsonaro. Ele não deve
apenas crescer com o eleitorado da esquerda, mas crescer sobre o eleitorado da direita. E o
eleitor do Bolsonaro é fiel, engajado e resiliente. Além disso, há alguns indicativos históricos:
i. o primeiro colocado sempre venceu no 2º turno, ii bom desempenho em MG vence as
eleições, e ele foi muito bem lá, iii distribuição geográfica (RJ, RS e MG), no qual o PSDB
não venceu nenhuma das últimas eleições, e Bolsonaro vence nesses estados. Isso faz dele
um grande favorito juntamente com a força pessoal dele, antifrágil. Além disso, agora ele
contará com uma campanha com mais tempo de TV (7 segundos para 6,5 minutos). O maior
tempo de TV ajudará o candidato a diminuir a rejeição, colocar as propostas e atacar o
adversário evidentemente.
Alan Ghani é economista, colunista do InfoMoney, PhD em Finanças e professor de pós
graduação.

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