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Didática no cárcere II : entender a natureza para entender o ser humano e o seu mundo
Inclui índice.
ISBN: 978-85-516-0200-3
Didática no cárcere II - entender a natureza para entender o ser humano e seu mundo
1. Instituições penais.
2. Instituições penitenciárias.
3. Prisão.
4. Cárcere. I. Silva, Roberto da. II. Título.
1ª Edição
giostrieditora.blogspot.com.br
contato@giostrieditora.com.br
DIDÁTICA NO CÁRCERE II
SUMÁRIO
PARTE I
PARTE II
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
1. Equipe FEUSP 81
2. Equipe de Pós-Graduandos FEUSP 81
3. Equipe de Monitores USP 82
4. Equipe Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste 82
5. Consultoria Editorial 82
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
no exercício da responsabilidade social, na apropriação de códigos, símbolos Nossa expectativa é a de que, se apercebendo da lógica que fundamenta
e valores ou na postura ética diante da vida, dos outros e do mundo. a beleza, o equilíbrio, a harmonia e a perfeição da vida, o aluno preso
Sendo assim, a escolarização em regimes de privação da liberdade cons- encontre motivações para pautar sua postura diante da vida, de si mesmo e
titui um meio, um pretexto – e talvez o único - para o desenvolvimento de da sociedade de forma ética e responsável. O aprendizado assim construído
habilidades e competências sociais e socioemocionais que não teria outro deve, inevitavelmente, se traduzir em ganhos de letramento, de leitura de
espaço e momento para serem trabalhadas. O perfil da população privada mundo e de elevação da escolaridade em consonância com os objetivos
da liberdade no Brasil mostra que são majoritariamente jovens, afrodescen- consignados na legislação de ensino.
dentes, de baixa escolaridade, de baixa qualificação profissional e para quem Estruturalmente Didática no Cárcere se organiza em dois componentes:
falharam todas as instâncias anteriores de socialização como a família, a uma parte teórica e conceitual e uma parte operacional, de caráter instru-
religião, a comunidade, a escola e as políticas públicas. O desenvolvimento mental, que corresponde à aplicação propriamente dita.
integral da pessoa humana, sob esta perspectiva não dá para ser enfrentado Como se verá ao final desta obra os componentes teóricos e os compo-
de forma curricular, com disciplinas específicas e professores especialistas. nentes operacionais constituem uma práxis, pois um ilumina, ilustra e subsidia
Optamos, portanto, por uma abordagem que, de início, se traduza em o outro, sendo a prática indissociável de sua formulação teórica.
múltiplas alfabetizações e possibilite ao sujeito compreender a organização O livro está organizado em três partes. A primeira apresenta a proposta
e a dinâmica da vida em suas variadas manifestações – inorgânica, orgânica, propriamente dita, seu amparo legal de acordo com a legislação de ensino
vegetal, animal e humana – sob a inspiração de que, ao compreendê-las vigente no Brasil e os marcos teóricos que a fundamentam. A segunda parte
possa também compreender o sentido da vida e a singularidade da vida apresenta os componentes teóricos e operacionais da didática no Cárcere,
humana e do mundo em que vive. com maior detalhamento de sua aplicação por parte dos grupos que a
De cada uma destas dimensões da vida convencionamos explorar o experimentaram em condições reais de ensino e aprendizagem.
elo inicial que a desencadeia, as leis naturais que as regem, suas formas A terceira parte dedica-se a apresentar relatos de alunos e professores
particulares de organização, a comunicação específica de que se utilizam e que durante o 1º semestre de 2018 envolveram-se profundamente com a
a complexificação que assumem em sua forma final dando origem então à proposta em seus espaços de estudos, de trabalho e de formação.
vida, às plantas, aos animais e à sociedade humana.
Em outra circunstância sustentamos que não é tarefa da Educação
converter o criminoso em não criminoso ou erradicar os péssimos indica-
dores penitenciários como taxa de reincidência, mortes, rebeliões e fugas.1
Na ocasião estávamos nos referindo à educação escolar oferecida na prisão.
A Educação Social, por se propor a oferecer respostas pedagógicas para
os problemas sociais pode enfrentar tais desafios com mais propriedade,
pois ela trata exatamente da educabilidade social do sujeito para a vida em
sociedade.
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II. CONTEXTO AOS QUAIS Os diferentes espaços de experimentação pedagógica que criamos para
testar e discutir esta proposta nos convenceram de que ela não substitui o
SE APLICA ESTA PROPOSTA currículo oficial adotado pelos estados para assegurar a oferta da Educação
PEDAGÓGICA nos espaços de privação da liberdade.
No sistema socioeducativo Didática no Cárcere se presta muito bem ao
Esta é uma obra de Pedagogia e por tratar de Epistemologia, de Didática e atendimento durante a internação provisória determinada no Artigo 183 do
de Metodologia, pode, a rigor, ser adequada para qualquer contexto humano. Estatuto da Criança e do Adolescente, de, no máximo, 45 dias, disposição
A Pedagogia é, dentre todas as ciências a que mais precisa conhecer o ser esta ratificada pela Resolução CNE/CEB Nº 3, de 13 de maio de 2016
humano e é compreensível a legislação educacional brasileira atribuir à que Define Diretrizes Nacionais para o atendimento escolar de adolescentes
Pedagogia não apenas a Educação Infantil, de creche e pré-escola, mas e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas.
também as séries iniciais do Ensino Fundamental como classes unido-
Art. 8º - Deve ser garantido atendimento escolar nas unidades
centes e, inclusive, a coordenação, a supervisão e a direção do processo de de internação provisória, com elaboração e implementação de
ensino-aprendizagem. proposta pedagógica específica à natureza desta medida, voltado
A pessoa privada da liberdade é, do ponto de vista de sua natureza à continuidade do processo de escolarização de adolescentes e
ontológica, de sua constituição orgânica e do aparato epistemológico, um jovens já matriculados ou que subsidie a reconstrução da trajetória
ser humano como outro qualquer, portanto, dotados dos mesmos atributos escolar daqueles que se encontram fora da escola.
por meio do qual se dá a apreensão, armazenamento e processamento da
informação para transformá-la em conhecimento cognitivo. O sentido desta normatização é que Estado deve assegurar que a internação
Por esta razão, muito da reflexão aqui desenvolvida se refere ao ser humano provisória decorrente da prática de ato infracional não interrompa a trajetória
em geral e dentro desta generalidade é que vamos buscar a especificidade da de escolarização do adolescente, mas dada a provisoriedade da internação não
condição de privação da liberdade. Poderíamos fazer este exercício para tratar é o caso ainda de se proceder à inclusão dele em classes regulares.
de qualquer outra especificidade e teríamos assumido as mesmas tarefas de No sistema prisional a proposta atende à determinação à disposição da
identificar como a pessoa em determinado contexto produz Cultura e faz Resolução CNE/CEB Nº 2, de 19 de maio de 2010 que dispõe sobre as
a comunicação do seu conhecimento, quais as didáticas e as metodologias Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em
implícitas nestas práticas e os imperativos que o meio cria para difusão de situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
determinados conjuntos de códigos, símbolos e valores.
Art. 2º As ações de educação em contexto de privação de
Dada a área de pesquisa em que atua o GEPÊPrivação, os pesquisa-
liberdade devem estar calcadas na legislação educacional vigente
dores, professores e técnicos que se envolveram neste processo coletivo de no país, na Lei de Execução Penal, nos tratados internacionais
construção de conhecimentos, esta proposta, de caráter experimental, foi firmados pelo Brasil no âmbito das políticas de direitos humanos
concebida para ser desenvolvida por profissionais da Educação que lecionam e privação de liberdade, devendo atender às especificidades dos
em classes de escolas vinculadoras que atendem unidades de internação diferentes níveis e modalidades de educação e ensino e são exten-
da Fundação CASA e unidades prisionais da Secretaria da Administração sivas aos presos provisórios, condenados, egressos do sistema
Penitenciária, tanto em regime fechado quando em regime semiaberto, prisional e àqueles que cumprem medidas de segurança.
inclusive em Centros de Detenção Provisória.
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No Brasil tanto o Código Penal quanto o Código de Processo Penal c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução,
sem prévia autorização deste.
reconhecem a legalidade da prisão provisória em pelo menos 11 modalidades
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre
distintas. A Lei de Execução Penal, que normatiza o cumprimento da pena, outras obrigações, as seguintes:
entretanto, reconhece ao preso provisório os mesmos direitos atribuídos ao
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à auto-
preso condenado, inclusive o direito à Educação e à remição da pena por ridade incumbida da observação cautelar e de proteção;
meio do trabalho e dos estudos, conforme determinação da Lei 12.433, de b) recolher-se à habitação em hora fixada;
29 de junho de 2011 que regulamentou o instituto da remição.
c) não frequentar determinados lugares.
Com uma população prisional superior a 726 mil presos em que cerca de
40% são presos provisórios, ainda sem sentença de condenação, a oferta de
Educação para eles constitui um desafio sobretudo por causa da transito- A oferta de Educação para presos em cumprimento de medida de segu-
riedade desta condição e das instalações onde estão recolhidos, diferentes rança ainda é um tabu, pois estas unidades ainda guardam o ranço de hospitais
das instalações destinadas a presos condenados. de custódia e tratamento psiquiátrico. No Estado de São Paulo, que tem a
No Brasil não existe delimitação de prazo para a prisão provisória de adultos, maior população prisional em cumprimento de medida de segurança são
prevalecendo uma regra, bastante contestada, de 81 dias para conclusão da 640 presos nas três unidades existentes, antigos manicômios judiciários.
instrução criminal. A Regra é derivada da Lei n.º 9.303/96 (Lei do Crime O Brasil conta com cerca de 1.500 unidades prisionais, sendo que cerca
Organizado), da qual emana a jurisprudência adotada em alguns tribunais de 75% delas não possui infraestrutura adequada para oferta da educação, o
e rejeitada por outros. que resulta que apenas cerca de 12% do total de presos tenham acesso a ela.
A oferta da Educação para presos em regimes aberto e semiaberto Portanto, esta proposta pedagógica deve possibilitar aos profissionais
constitui outro desafio para a política pública, devido à própria deficiência da Educação lidar com os vários fatores que condicionam ou interferem
da legislação neste aspecto. Ainda que a legislação subsequente preveja até na nobre tarefa de fazer a Educação em Regimes de Privação da Liberdade
o direito à remição da pena pelos estudos para o livramento condicional, a no Brasil.
matricula e a frequência escolar não integram os requisitos para obtenção • Deficiências de infraestrutura (sala, carteiras, lousas, equi-
do benefício, conforme mostra o texto da LEP. pamentos etc.);
• falta de material didático específico e restrições ao uso de
Art. 131. O livramento condicional poderá ser concedido pelo
Juiz da execução, presentes os requisitos do artigo 83, incisos e
materiais convencionais de uso comum
parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o Ministério Público • salas com pessoas de diferentes idades
e Conselho Penitenciário. • grande defasagem na relação idade/séria
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições • classes multisseriadas
a que fica subordinado o livramento. • excessiva rotatividade dos alunos
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obri- • rígidos sistemas disciplinares que impedem livre movimen
gações seguintes: tação dos alunos
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto • dificuldade de acesso a recursos de TIC (Tecnologias da
para o trabalho;
Informação e da comunicação)
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
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Internação Provisória 1.392 334 23 36 89 186 4.319 780 1.051 1.176 1.312 1.780 1.162 462 156
Fonte: Sistema de Cadastro de Alunos – GDAE. Junho de 2017 Agente Educacional 874
Agente de Apoio Socioeducativo 6.446
Total de Matrículas nas Unidades de Internação Profissionais de Educação física 257
Profissionais de Arte e Cultura 421
Por modalidade Por Classes
Pedagogo 280
Ensino Fundamental I 258 Multisseriadas 593
Coordenador Pedagógico 140
Ensino Fundamental II 4.217 EF I - seriadas 6
Total 10.497
Ensino Médio 2.444 EF II - seriadas 27 Fonte: Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo, 2014
EM - seriadas 10
Totais 6.919 636
Total de professores 1.376
Fonte: Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo 2014
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DO ESTADO DE SÃO PAULO Brasil Prisão Brasil Prisão Brasil Prisão Brasil Prisão Brasil
Homem Mulher Total Homem Mulher Total Homem Mulher Total 29,03 25,03 19,53 26,41
EM Completo
Pós Completo
EF Completo
ES Completo
Alfabetizado
Total de Matrículas nas Unidades Prisionais
Incompleto
Incompleto
Incompleto
Analfabeto
sem curso
regular
EM
EF
ES
Por modalidade Por Classes
Ensino Fundamental I 2.694 Multisseriadas 859
No Brasil
Ensino Fundamental II 7.448 EF I - seriadas
7 3,99 6,73 49,58 14,78 13,96 9,54 0,95 0,46 0,02
Ensino Médio 6.061 EF II - seriadas
No Estado de São Paulo
Totais 16.203 877
2,71 3,77 43,36 18,99 17,40 12,25 1,02 0,49 0,01
Total de professores 991
Fonte: Infopen, dez./2014.
Fonte: Infopen, dez./2014.
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Até o final da década de 1970, as escolas no interior das Esta foi a experiência que, pela primeira vez, foi colocada em debate
unidades prisionais regulavam-se observando a organização público, deles participando os educadores diretamente envolvidos e técnicos
da rede regular de ensino estadual. O calendário escolar, o
de planejamento da própria Funap, com uma curiosa participação de Paulo
material didático, os processos de avaliação e promoção de
Freire e Moacir Gadotti.3
séries eram análogos aos do ensino destinado às crianças. [...]
Em 1979 cessaram as atribuições da Secretaria de Estado da Em consequência da Resolução nº 2, de 19 de maio de 2010, por meio da
Educação de manutenção da escola nas prisões. Tal interrupção qual o Conselho Nacional de Educação (CNE) instituiu as Diretrizes Nacionais
ocasionou uma lacuna na realização dessas atividades, culmi- para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
nando na mobilização e aglutinação de instituições estranhas estabelecimentos penais, no estado de São Paulo foi aprovada a Resolução Conjunta
à educação escolar propriamente, que condensaram uma série SE/SAP 1, de 17/01/2013, que devolveu à Secretaria de Estado da Educação
de ações para viabilizá-las. (2001, p. 54). a responsabilidade pela Educação nas unidades prisionais do Estado.
Esta providência coincidiu com o prazo dado pelo DECRETO Nº
A mais importante destas instituições foi a Funap. Criada em 1976, 7.626, de 24 de novembro de 2011, que instituiu o Plano Estratégico de
inicialmente com o nome de Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso, hoje Educação no âmbito do Sistema Prisional e obrigou todos os estados da
Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel, a Funap, como é conhecida, recebeu federação e o Distrito Federal à elaborarem os respectivos Planos Estaduais
do Governo do Estado a incumbência de cuidar da Educação nos presídios de Educação em Prisões.
paulistas e para isto, a partir de 1979, tomou a iniciativa de celebrar convê- Internamente, na Universidade de São Paulo, a questão penitenciária é
nios com duas instituições que então despontavam com propostas para introduzida no campus com a criação do Núcleo de Estudos da Violência
a educação de jovens e adultos: a Fundação Mobral - Movimento Brasileiro de da USP, em outubro de 1987, sob a coordenação de Paulo Sérgio Pinheiro,
Alfabetização - e a Fundação Roberto Marinho, que iniciava o programa Telecurso. Sérgio Adorno e Nancy Cardia, que produziu uma série de pesquisas de
Sendo então a única fundação do gênero no conjunto dos estados brasileiros, cunho acadêmico, focalizando, principalmente, a reincidência.
a Funap construiu sua própria experiência de educação de jovens e adultos. Mais tardiamente, na Faculdade de Educação, o tema torna-se objeto
Inicialmente, a organização do ensino nas prisões seguiu as diretrizes de estudo a partir de minha dissertação de mestrado (SILVA, 1998), cujos
programáticas da Fundação Mobral, posteriormente Fundação Educar, no estudos foram aprofundados na tese de doutoramento (SILVA, 2004), sob
que respeita ao ensino de 1ª à 4ª série. Denominado Programa de Educação a tríplice co-orientação de Roseli Fischmann, Angelina Peralva e Sérgio
Básica (PEB), foi subdividido em três etapas, PEB I, PEB II e PEB III, Adorno, depois secundada pela dissertação de mestrado de Manoel Rodrigues
caracterizando, no sistema penal, o Nível I. Para o ensino de 5ª à 8ª série Português (2001), sob orientação de Afrânio Mendes Catani.
- o Nível II - conforme diretrizes da Fundação Roberto Marinho, que pressu- Hoje temos muito mais pesquisas em andamento sobre o mesmo tema
põem a organização de grupo de alunos por disciplinas: Língua Portuguesa, (algumas delas sob minha orientação), a questão penitenciária aparece em
Matemática, História, Geografia e Ciências, e o exercício da pluridocência. simpósios de iniciação científica, em Semanas da Educação e em diversos
Para a conclusão do Nível II do ensino fundamental, a avaliação passou a eventos acadêmicos a partir de 2005.
ser realizada pelo Centro de Exames Supletivos (Cesu), órgão da Secretaria de
série de pesquisas de cunho acadêmico no sistema penitenciário paulista, focalizando, principalmente, a
Estado da Educação, responsável pela realização dos Exames Oficiais de Suplência reincidência.
3 Estas participações estão relatadas nas seguintes obras dos dois autores: FREIRE,
em todo o Estado de São Paulo.2 Paulo. Política e educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. GADOTTI, Moacir. Educação como processo de
2 Registre-se em outubro de 1987 a criação do Núcleo de Estudos da Violência da reabilitação. In: MAIDA J.D. (org.). Presídios e educação. São Paulo: Funap, 1993.
USP, sob a coordenação de Paulo Sérgio Pinheiro, Sérgio Adorno e Nancy Cardia, que produziu uma
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No plano externo, o debate sobre Educação de presos já assume dimen- propostos ou vendidos por indivíduos, grupos e entidades, que nem sempre
sões de política externa, de plano nacional e de rede, em virtude do interesse se coadunam com a legislação específica ou com uma filosofia de trabalho.
demonstrado pela União Europeia em parceria com a Organização dos Este desaparelhamento conceitual e metodológico do trabalho nas institui-
Estados Ibero Americanos e interveniência do MEC brasileiro, que criou a ções totais é apontado pelos estudos e pesquisas como o principal respon-
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), e também sável pelos vícios e distorções que historicamente marcam o trabalho
envolveu a sua Secretaria de Relações Internacionais para articular este debate no das instituições fechadas, traduzindo-se, na prática, em baixíssima capacidade
âmbito do Mercosul e da América Latina, propondo, inclusive, a criação de de resolução de problemas, em agravamento de distúrbios perfeitamente
uma Rede Latino Americana de Educação em Prisões (RedLece). identificáveis, em reincidência institucional, abuso, corrupção e desmandos
As questões cruciais em relação à Educação de presos foram suficiente- de todas as ordens, mais conhecidos sob os rótulos de depósitos de presos, de
mente identificadas e estão registradas nos Anais do I Encontro de Monitores de escolas do crime e de universidade do crime. Ou seja, as instituições e seus agentes
Alfabetização de Adultos Presos do Estado de São Paulo (Funap, 1993) e podem trabalham orientados pela lógica de administração do problema e não de resolução
ser sintetizadas em uma única frase: incompatibilidade entre os objetivos e do problema, perpetuando o ciclo de pobreza, de miséria e de violências que
metas da Educação e os objetivos e metas da pena e da prisão. marcam as trajetórias de vida das pessoas necessitadas da proteção social
Ainda que se possa afirmar que a condição de confinamento prolon- do Estado, fazendo de um ou outro caso bem sucedido de inclusão social
gado, a necessidade de rápida adaptação a um ambiente hostil marcado exceções que fogem à regra, quando deveriam trabalhar para que a inserção
pela cultura da violência e a perda de referenciais de valores sejam capazes social bem sucedida fosse a regra e não a exceção.
de suscitar outras formas de saberes e de produção de conhecimentos, a Em consonância com os tratados e convenções internacionais promul-
questão fundamental é a qualidade da formação de quem faz a mediação gados pela ONU, o Brasil editou leis e constituiu instâncias, órgãos e insti-
entre os objetivos da Educação e os objetivos da pena e da prisão e é esta tuições específicas para a custódia de adolescentes a quem se atribui a
a tarefa que se quer que seja assumida pela Pedagogia Social. autoria de ato infracional distintas das leis, instâncias, órgãos e instituições
Uma característica marcante no trabalho das instituições totais tem sido, destinadas à custódia de homens e mulheres adultos. Sobretudo, preza-se
por exemplo, a ênfase em segurança e disciplina em detrimento das abor- muito a distinção entre o caráter retributivo da pena aplicada a adultos e o
dagens voltadas para a reabilitação, o desenvolvimento pessoal e a inserção caráter socioeducativo das medidas aplicadas a adolescentes.
social do preso. Outra característica importante de ser assinalada é a função Tanto a socioeducação de adolescentes quanto a educação de presos
secundária da Educação, do Serviço Social e da Psicologia dentro das insti- adultos hoje possuem regulamentação próprias e específicas. A socioeducação,
tuições totais, onde atuam como sucedâneos das Ciências Jurídicas, instru- desde a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente em 13 de Julho
mentalizando juízes, promotores e instâncias de avaliação para a tomada de 1990 já passa dos 28 anos de existência e ainda está por se descobrir o
de decisões, sem intervenções diretas no ser humano alvo de seus atendi- que é e como se faz. A Educação prisional, com regulamentação própria a
mentos. A terceira característica destas instituições é a orientação estritamente partir de 19 de Maio de 2010 ainda tateia os caminhos para sua consolidação
burocrática do trabalho dos técnicos e profissionais, inexistindo métodos e como parte integrante da política pública de Educação, sendo esta Didática
técnicas que configurem uma metodologia institucional para o trabalho de no Cárcere um de seus ensaios mais promissores.
reabilitação, de desenvolvimento pessoal e de inserção social. Esta ausência
de cientificidade no trabalho penal tem dado margem ao espontaneísmo,
ao empirismo e à experimentação de uma variedade de projetos pontuais,
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ÁREAS Física,
PROPRIEDADE DIMENSÕES O QUE OPERA O QUE CRIA DAS Da Átomos, Células, Memórias atômica, Genética,
CIÊNCIAS Natureza Moléculas celular e molecular Biologia
Peso, distância, Molecular
Força, Trabalho,
Da Natureza velocidade, Física Arqueologia,
Movimento
densidade
Na Seres orgânicos e Antropologia,
Visão, Audição, Física, Carbono 14
Ondas mecânicas e Memória Natureza inorgânicos Museologia,
Comunicação Na Natureza tato, olfato, Biologia, Geologia
eletromagnéticas
palato Fisiologia
Pensamento, Pedagogia,
Linguagens, Memórias
Humana linguagem, Linguística Psicologia,
Códigos e Símbolos visual, auditiva,
gêneros literários Humana Cérebro Neurologia,
cinestésica, olfativa
Fisiologia,
e gustativa
História
Geometrias
Da Formas geométricas,
Geometria Fractal Plana, Espacial e
Natureza retas, ângulos, curvas
Analítica
Bioma, Domínio, Biologia, Arqueologia,
Na Da Seres orgânicos
Vento, água, tempo Sistemas, Geografia, Carbono 14 Antropologia,
Artes Natureza Natureza e inorgânicos
Ecossistema Botânica Museologia
Beleza, sensações, Estética, Artes,
Simetria, proporção, Geografia
Humana emoções, gêneros Literatura,
harmonia, equilíbrio Física,
artísticos Comunicação
Idade, Geografia
Na Tempo, espaço,
cronologia, Humana,
História Natureza território, corpo
datação Topografia,
Cartografia,
Da Átomos, Células, Repetição de Física, Química, Climatologia
Natureza Moléculas padrões Biologia
História
Civilização
Mecânica, Universal,
Combinação Termodinâmica, Fatos e Humana,
Humana nacional,
Na Reações físico de substâncias Ótica, acontecimentos processo
regional, local,
Natureza químicas simples e Eletricidade, civilizatório
Matemática de Vida
compostas Movimentos
Ondulatórios
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Encontramos também amparo legal para esta proposta nas resoluções dologias disciplinares e a aprendizagem requerida dos alunos
do Conselho Nacional de Educação e no Currículo Oficial do Estado de são aspectos indissociáveis, que compõem um sistema ou rede
cujas partes têm características e funções específicas que se
São Paulo:
complementam para formar um todo, sempre maior do que
Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal e a União, levando
em consideração as especificidades da educação em espaços elas. (SÃO PAULO, 2011, p. 14).
de privação de liberdade, deverão incentivar a promoção de
novas estratégias pedagógicas, produção de materiais didáticos Ainda no mesmo Currículo Oficial do Estado de São Paulo se diz textu-
e a implementação de novas metodologias e tecnologias educa- almente que:
cionais, assim como de programas educativos na modalidade Quando, no projeto pedagógico da escola, a cidadania
Educação à Distância (EAD), a serem empregados no âmbito cultural é uma de suas prioridades, o currículo é a referência
das escolas do sistema prisional. (Resolução CNE/CEB nº 2, para ampliar, localizar e contextualizar os conhecimentos
de 19 de maio de 2010). acumulados pela humanidade ao longo do tempo. Então, o
fato de uma informação ou de um conhecimento emergir de
Art. 4º O atendimento escolar de adolescentes e jovens um ou mais contextos distintos na grande rede de informação
em cumprimento de medidas socioeducativas tem por princí- não será obstáculo à prática cultural resultante da mobilização
pios: I - a prevalência da dimensão educativa sobre o regime desses “saberes” nas ciências, nas artes e nas humanidades.
disciplinar; II - a escolarização como estratégia de reinserção (SÃO PAULO, 2011, p. 14.)
social plena, articulada à reconstrução de projetos de vida e à
garantia de direitos; III - a progressão com qualidade, mediante
o necessário investimento na ampliação de possibilidades educa-
Na Educação Social a compreensão do processo é mais importante do que o
cionais; IV - o investimento em experiências de aprendizagem aprendizado de detalhes operacionais, ou seja, na área de Linguagens a habili-
social e culturalmente relevantes, bem como do desenvolvi- dade de se se comunicar, por exemplo, é mais importante do que saber regras
mento progressivo de habilidades, saberes e competências; gramaticais. Estas, entretanto, podem se tornar competências se o objetivo for
V - o desenvolvimento de estratégias pedagógicas adequadas a elevação da escolaridade, a qualificação profissional ou a profissionalização.
às necessidades de aprendizagem de adolescentes e jovens, Ter habilidade no trato com as figuras de autoridade ou demonstrar empatia
em sintonia com o tipo de medida aplicada; VI - a prioridade
pelas pessoas são habilidades mais importantes do que saber empregar corre-
de adolescentes e jovens em atendimento socioeducativo nas
políticas educacionais; VII - o reconhecimento da singulari-
tamente os pronomes de tratamento ou pronomes gentílicos.
dade e a valorização das identidades de adolescentes e jovens; Ter habilidade para cozinhar e fazer uma comida gostosa é mais relevante
VIII - o reconhecimento das diferenças e o enfrentamento a e útil do que saber os nomes e as fórmulas que elucidam as propriedades
toda forma de discriminação e violência, com especial atenção do gás, o ponto de ebulição da água ou as reações físico químicas decor-
às dimensões sociais, geracionais, raciais, étnicas e de gênero. rentes da mistura do sal no alimento. Esta habilidade pode ser elevada à
(Resolução CNE/CEB nº 3, de 13 de maio de 2016 ) uma competência nas áreas de Física, Química e Biologia se o objetivo do
ensino for a sistematização de conhecimentos não formais com vistas à
Um currículo que promove competências tem o compro-
elevação de escolaridade e à profissionalização.
misso de articular as disciplinas e as atividades escolares com
aquilo que se espera que os alunos aprendam ao longo dos
Por estas razões, abrimos mão do complexo sistema de notação para iden-
anos. Logo, a atuação do professor, os conteúdos, as meto- tificação de competências sugeridas na BNCC e as definimos descritivamente
apenas como habilidades sociais. Estas, exatamente porque determinam o grau
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1. O método científico na Didática do Cárcere Assentados tais pressupostos vamos tentar entender como a observação,
a descrição, a comparação, a análise e a síntese foram aleatoriamente empre-
gadas para produção de conhecimentos a respeito do Universo, da vida, da
A produção dos conhecimentos que hoje denominamos senso comum
Natureza e do Corpo Humano, nossas Matrizes de Aprendizagens.
resultou de inumeráveis, persistentes e sistemáticas observações, descrições,
O emprego do raciocínio indutivo nos ajudará a entender o processo
comparações, análises e sínteses ao longo dos tempos.
de construção do conhecimento a partir das coisas mais elementares como
Ainda que seja comum se falar em pai da ciência para se referir a certos
átomo, células e moléculas, que estão na base da organização e do funcio-
domínios do conhecimento a acumulação e avanço do conhecimento humano
namento de todas as coisas que existem. Isso significa desvelar o conheci-
não pode ignorar a contribuição da Mesopotâmia (assírios, caldeus, babi-
mento de baixo para cima, do mais simples para o mais complexo, como
lônicos, sumérios e acádios), da África antiga, do Oriente Médio, do Egito,
uma espiral que tem um ponto inicial e vai crescendo e se abrindo para
da Índia, da China, do mundo islâmico e dos povos pré-colombianos, prin-
muitas outras possibilidades de conhecimento.
cipalmente olmecas, maias, incas e astecas.
O Universo aprendeu, a Natureza aprendeu, o Corpo Humano aprendeu e
Na Didática no Cárcere partimos de alguns pressupostos para mostrar
a própria Vida aprendeu ao longo de milhares de anos de ensaios, tentativas
que o conhecimento é acessível a todas as pessoas, que o conhecimento é
e erros. O estudo de Matrizes de Aprendizagem visa, como estratégia de
um patrimônio comum de todos os seres humanos e que não se justifica a
Alfabetização Científica, desvelar como estes domínios aprenderam, como
apropriação privada do conhecimento por meio de recursos e estratagemas
constituíram memórias e histórias destas aprendizagens, como estão regis-
como direitos autorais, royalties e patentes.
tradas e como podemos fazer a leitura delas.
Do percurso de aproximadamente 2,4 milhões de anos desde o surgi-
• Todos os seres humanos são dotados dos mesmos
atributos para captação, armazenamento e processamento da mento do Homo Habilis até a consolidação do Homo Sapiens, as perguntas,
informação, os cinco sentido físicos dúvidas e curiosidades humanas não tem mais do que 200 mil anos. Bom,
• Todos os seres humanos possuem os mesmos atri- o Universo teria algo como 13,8 bilhões de anos e a Vida no planeta Terra
butos para processamento destas informações e transformação entre 3,5 e 3,8 milhões de anos.
delas em conhecimento, o cérebro. A Ciência, tal qual a denominamos hoje, tem seus registros mais antigos
• Todos os seres humanos vivem sob o mesmo sistema
por volta de 3.500 a.C, isto é, somados aos 2 mil anos da Era Cristã, a
solar, portanto estão sujeitos sob mesmos fenômenos e leis
naturais. produção, acumulação e difusão do conhecimento humano sobre o Universo,
• Todos os seres humanos vivem no mesmo planeta, a Vida, a Natureza e o próprio Homem tem menos de 6 mil anos de história.
portanto, são igualmente solidários, responsáveis e beneficiários Em todos estes domínios o conhecimento humano construído ao longo
dos mesmos recursos naturais. de gerações e por número incalculável de pessoas aconteceu de diversas
• Todos os seres humanos possuem a mesma origem formas, mas pode-se destacar o emprego de algumas posturas e atitudes
biológica e o mesmo destino após a morte, portanto, estão que hoje denominamos procedimentos científicos, ou seja, observação, descrição,
subordinados aos mesmos ciclos de vida.
comparação, análise e síntese.
• O corpo de todos os seres humanos possuem os
mesmos atributos, desenvolvem os mesmos processos e são
sensíveis às mesmas reações, portanto, tudo o que se refere ao
corpo humano é patrimônio comum de toda a humanidade.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
Note-se que empregar observação, descrição, comparação, análise e síntese para Não é preciso ter formação acadêmica nem ser versado em ciências
entender aqueles diferentes domínios requereu o desenvolvimento de instru- para se utilizar destes procedimentos científicos; todos nós os utilizamos,
mentais, técnicas e recursos diferentes. Observa-se substâncias, objetos, mesmo que intuitivamente, em nossos afazeres rotineiros.
fenômenos naturais e fatos sociais. No simples atos de chegar à sua casa e não em outro endereço, de
Observar sistematicamente o micro e o macro, o visível e o invisível, esperar um certo ônibus e não outro, de reconhecer uma pessoa no meio
o perto e o distante, o frio e o calor, o líquido, o gasoso e o sólido etc., de uma multidão, estamos aplicando os cinco procedimentos científicos e
exigiram do ser humano a invenção de aparatos técnicos científicos ainda nem nos damos conta disso.
hoje usados nas diferentes áreas de conhecimento.
A descrição significa a capacidade de se fazer a representação mental do 2. O Universo como Matriz de Aprendizagem
objeto, fato ou fenômeno observado de maneira a mais fidedigna possível.
Mesmo quando a observação se serve de instrumentos para auxílio da visão, A clássica pergunta da Filosofia: o que somos, de onde viemos e para onde vamos
a descrição sempre será uma representação gráfica do observado, seja de não pode ser respondida porque não pode ser reduzida aos procedimentos
forma escrita, desenhada, pintada ou gravada em algum suporte e assim é na da observação, descrição, comparação, análise e síntese.
Astronomia, na Biologia, Genética, Geografia, Medicina, Direito, Pedagogia,
Psicologia, Economia ou qualquer outra ciência. No Universo os elementos passíveis de observação, descrição, comparação,
O procedimento de comparação requer algo prévio que sirva de termo de análise e síntese são galáxias, asteróides, planetas, sol, lua, estrelas, o espaço
comparação, seja uma norma, um padrão ou algo que se possa dizer normal. e o tempo, a matéria, as forças e as energias que regulam sua existência.
Nas Ciências Humanas e Sociais a comparação é predominantemente um Convencionamos denominar isso de Cosmos e para explicá-lo diferentes
processo mental, realizado quase que intuitivamente e disso decorre sua povos, observando as mesmas coisas em diferentes tempos, condições,
discricionariedade e a margem de subjetividade que elas comportam. latitudes e longitudes, os descreveram de acordo com certo estágio de
Nas demais ciências a precisão e a suposta objetividade decorre tanto vivência em que estavam e assim elaboraram cosmovisões nas quais esta-
da assunção de padrões e normas previamente existentes quanto do uso beleceram relações de cada elemento com aspectos e/ou atributos da vida
de aparatos mecânicos, técnicos e tecnológicos. que já conheciam.
A análise significa separar o todo em tantas partes quantas possíveis, Estas cosmovisões, que buscam principalmente explicar a origem do
logo, a análise de substâncias, objetos e fenômenos naturais pode ser feita Universo e da Vida, estão na base de todas as religiões, sejam elas polite-
com a objetividade e precisão porque são tangíveis, mensuráveis e passíveis ístas ou monoteístas. Apenas algumas destas cosmovisões sobreviveram
de reprodução em situações controladas. Fatos humanos e sociais não são e chegaram à atualidade e são nossas conhecidas pelos registros de suas
tangíveis, mensuráveis nem passíveis de reprodução sob controle, portanto, observações, descrições, comparações, análises e sínteses que fizeram e que
podem ser analisados e até mesmo probabilisticamente previsíveis, mas não compõem os seus livros sagrados, como a Bíblia para os cristãos, a Torá
pelos mesmos meios, instrumentos e métricas com que se analisa objetos, para os judeus, o Alcorão para os islâmicos, o Tao Te Ching para os taoistas e
substâncias e fenômenos naturais. o Tipitaka para os budistas.
Finalmente, síntese, significa reagrupar as partes para recomposição do
Algumas das cosmovisões antigas se tornaram tão populares que se
todo. Pode ser sinônimo de resultado, laudo, conclusão.
transformaram em mitologias, principalmente pelo recurso à antropomorfia,
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
que é a prática de atribuir características humanas aos astros e às forças da 3. A Natureza como Matriz de Aprendizagem
Natureza. São particularmente conhecidas as mitologias africanas, indígenas
e gregas. No Brasil tem particular interesse as mitologias derivadas das reli-
Entender a natureza como matriz de aprendizagem implica em estudar as
giões de matrizes africanas – candomblé e umbanda – cujos personagens se
leis que a rege, a matéria da qual é composta, os seres a que dá vida e os
confundem com entidades do cristianismo devido ao sincretismo religioso
processos que nela acontecem.
a que recorreram os escravos para não serem punidos pelos cultos às suas
As leis da Natureza estão majoritariamente no domínio do campo que depois
tradições religiosas.
vamos conhecer como Física e suas áreas de Mecânica, Termodinâmica,
Universalmente é mais conhecida a mitologia grega, na qual astros e Ondulatória, Óptica, Eletromagnetismo etc. Para os propósitos da Didática
forças da Natureza foram submetidos aos processos de antropomorfização, no Cárcere são importantes os conceitos energia, força, trabalho, movimento
virando deuses e semideuses que experimentam e vivem todas as emoções e massa, necessários para trabalharmos conceitos como inteligência, comu-
tipicamente humanas como amor, ódio, paixão, vingança, disputas e rixas nicação, memória, história, linguagem e sistema quando estes se referem a
de todas os tipos. átomos, células, moléculas, tecidos e órgãos.
A antropomorfização não significou apenas o esforço humano de A matéria prima da Natureza e suas substâncias simples e compostas estão
observar, descrever, comparar e analisar os fenômenos no Universo e na no domínio de conhecimentos que conhecemos como Química e suas
Natureza, mas também o desejo de controlá-los e de colocá-los a serviço sub-áreas. Para os propósitos da Didática no Cárcere são importantes os
de seus interesses e de suas necessidades. conceitos energia, corpo, objeto, substâncias, sistemas e fenômenos, também
necessários para trabalharmos conceitos como inteligência, comunicação,
A nomeação dos fenômenos naturais e a geração de ritos e rituais para memória, história, linguagem e sistema no âmbito da matéria e das coisas
controlar tanto as forças malfazejas quanto as benfazejas deram origens a orgânicas e inorgânicas compostas por átomos, células, moléculas, tecidos
um conjunto de práticas que hoje são objetos de estudos da Cultura e do e órgãos.
Folclore, especialmente as oferendas, os sacrifícios, as danças rituais, os Os estudo dos seres vivos da Natureza estão majoritariamente no domínio
batuques e as danças. Isso pode ser entendido como um primeiro esboço
de conhecimento a que denominamos Biologia e suas subdivisões, biologia
de Cultura Popular que serve aos propósitos de Educação Popular.
vegetal e biologia animal. Em Biologia Vegetal voltamos a abordar conceitos
Como se observa, é possível cumprir o Artigo 10º , Inciso VI da Lei de de célula, moléculas, tecidos órgãos, aparelhos e sistemas agora para entender
Execução Penal proporcionando aos presos assistência e educação religiosa a organização, estrutura e funcionamento das plantas, às quais também asso-
orientando-se pelo ensino da Cultura e da diversidade sem apelar para o ciamos os conceitos inteligência, memória, história, linguagem e comunicação.
dogmatismo, o proselitismo ou a doutrinação. Em Biologia animal também precisamos trabalhar os conceitos inteli-
gência, memória, história, linguagem e comunicação para entendermos
como o corpo capta informações do ambiente, o seu armazenamento e
processamento para transformar a informação em conhecimento. Assim
poderemos entender como o cérebro aprende, como o corpo aprende
enquanto organismo vivo para estabelecer relações e interagir com o meio
e com outros corpos.
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O estudo dos processos que ocorrem na Natureza estão tanto na Física, A Arte, se origina da própria Matemática segundo nosso entendimento.4
na Química quanto na Biologia, que são os domínios onde se operam as Sendo assim, para os propósitos da Didática no Cárcere também abordamos
leis da Natureza, onde ocorrem as reações físico-químicas responsáveis a Arte em três dimensões:
pela existência, pela ação e pela reprodução da matéria.
No estudo da Biologia Vegetal e da Biologia Animal encontramos os
elementos para melhor entendermos a organização humana e o mundo que a) Arte da Natureza, que é basicamente os arranjos
ele criou enquanto entidade que não existia antes. de substâncias simples e compostas que dão origens
É difícil sustentar a afirmação que da observação, descrição, comparação, aos fractais, suas diferentes formas geométricas e
análise e síntese do mundo natural o ser humano simplesmente copiou as também às retas, linhas, curvas, ângulos e raios;
formas de organização da Natureza. Entretanto, podemos usar um modelo b) Arte na Natureza que é basicamente as ações
de análise inferido da Botânica – modelo que na verdade não existe – mas do tempo, da água e do vento que modulam a topo-
que considera uma categoria ampla como ecossistema, que pode ser uma logia terrestre dando formas ao relevo e à paisagem
colônia ou uma sociedade, dentro do qual vivem indivíduos que estabelecem com seus vales, montanhas, rios, oceanos, pântanos,
múltiplas relações ecológicas de gregarismo, mutualismo, comensalismo, desertos e a todos os sistemas e ecossistemas que
inquilinismo ou parasitismo em que a luta pela sobrevivência caracteriza- conhecemos e, por fim;
se como uma disputa por poder – terra, água e luz – tal qual ocorre nos
c) Arte Humana. Diferentemente do que
agrupamentos humanos.
ocorre nos domínios da Física, Química, Biologia
É no estudo dos processos da Natureza que situamos a Matemática e a
e Matemática, o esforço humano de observação,
Arte. A Matemática é abordada em três dimensões:
descrição, comparação, análise e síntese não teve o
propósito de colocar a Natureza sob controle nem
a) a Matemática da Natureza, que é a operaciona- de direcionar suas propriedades para a satisfação de
lização das suas leis por meio da Física, da Química interesses e necessidades próprias. A própria história
e da Biologia; da arte e das correntes artísticas – realismo, clas-
sicismo, romantismo, impressionismo, cubismo –
b) a Matemática na Natureza, que é como ela que moldaram os rumos da literatura, da pintura,
se expressa em formas geométrica, linhas, ângulos da música, do teatro, do cinema etc., ressaltam os
e raios e;
aspectos hedonista, contemplativo e estético da arte
c) a Matemática Humana, que é o esforço de como fator de elevação da espiritualidade humana.
observação, descrição, comparação, análise e síntese
que o ser humano fez em relação a estes processos,
não somente para entendê-los, mas sobretudo para
dominá-los e dominando-os, colocá-los a serviço de
seus interesses e necessidades. 4 A TV Escola produziu uma série que avaliza este entendimento. Veja em https://
tvescola.org.br/tve/videoteca/serie/arte-e-matematica.
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c) pelo tato, que envolve as extremidades dos membros Na Natureza estes atributos são mais evidentes e mais compreensíveis
superiores e inferiores e toda a derme e a epiderme, o corpo ao senso comum. Não há mais dúvidas que a célula - base da constituição
apreende as ondas térmicas e a pressão atmosférica existentes
de todos os organismos vivos – possui inteligência, memória, história,
no meio circundante e que depois o cérebro irá identificar
linguagem e que se comunicam. O exame de Carbono 14, por exemplo, é
como frio ou calor, forjando para o ser humano a ideia de
conforto e constituindo assim um acervo que vamos chamar capaz de localizar a memória e de reconstituir a história da terra, da árvore,
de memória cinestésica; das pedras, dos objetos e das coisas e a dissecação de cadáveres, como no
d) pelo palato, que se serve da língua, o corpo identi- caso das múmias egípcias, é capaz de revelar parte significativa da história
fica a composição química de tudo o que é colocado na boca, do ser enquanto vivia.
forjando para o ser humano a ideia de sabor de cada elemento O pressuposto da Didática no Cárcere é que entender a Natureza é funda-
químico, simples ou composto e constituindo assim um acervo
mental para entender o ser humano e o seu mundo, portanto, são estes três
que vamos chamar de memória gustativa;
domínios – Universo, Natureza e Corpo Humano – que constituem nossas
e) pelo olfato, que se utiliza das fossas nasais, o corpo
identifica a composição química de tudo o que é aspirado pelas Matrizes de Aprendizagem e nelas localizamos as propriedades gerais que
narinas, forjando para o ser humano a ideia de odor ou de cheiro precisam ser aprendidas em uma concepção de /Alfabetização Científica:
de cada elemento químico, simples ou composto e constituindo a inteligência, a memória, a história, a linguagem e a comunicação.
assim outro acervo que vamos chamar de memória olfativa.
Se é então verdade que todos os seres humanos são dotados dos instru-
mentos necessários à produção de conhecimentos, caracterizar os saberes
construídos pela via dos sentidos como saberes não formais ou como conhe-
cimento de senso comum é uma forma de classificação que visa rotulá-los
como não científicos, logo, fora do interesse da escola, da academia e não
passível de controle por parte do indivíduo, da sociedade e do Estado. 6
O que vimos nos itens anteriores é que no Universo, na Natureza e
no Corpo Humano, entendidos como Matrizes de Aprendizagem, estão
presentes atributos comuns e simétricos apenas de composição diferente
– inteligência, memória, história, linguagem e comunicação.
Seja qual for o nome que queiramos dar, não dá para negar que no
Universo haja um princípio inteligente que organiza as coisas, que há uma
memória registrada em algum lugar, quer haja uma linguagem e uma comu-
nicação entre os seus diferentes elementos e que, reconheçamos, o Universo
tem sua própria história.
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5. Epistemologia: o processo humano Portanto, além de identificar a Cultura produzida pelo sujeito, dadas as
de construção do conhecimento suas condições materiais de existência é preciso também identificar os meios
de que ele dispõe para fazer a comunicação de sua Cultura.
Simplesmente desaparecer sem deixar registros, tornar-se cultura periférica
O entendimento do processo de aquisição e de construção do conheci-
ou marginal ou tornar-se cultura hegemônica depende, fundamentalmente,
mento tem como ponto de partida a Epistemologia, nos termos formulados
dos meios que o grupo possui ou se apropria para fazer a comunicação do
por James Frederick Ferrier (1808 – 1864) que afirmava ser “o princípio do
seu conjunto de códigos, símbolos e valores.
conhecimento de todas as coisas um certo conhecimento prévio que todo
Quem gravou seus códigos, símbolos e valores nas pedras, nas cavernas,
ser inteligente tem de si mesmo” (FERRIER, 1854). Enquanto Teoria do
em papiros, na argila, no ferro ou no ouro, como fizeram alguns povos
Conhecimento, a Epistemologia é o próprio ato de saber e não a especulação
antigos, deixaram apenas rastros de suas civilizações. Quem utilizou as rotas
sobre o conhecimento ou seus significados.
de comércio, a Religião, a estrutura de poder do Estado, a imprensa escrita
Até agora abordamos o Universo, a Natureza e o Corpo Humano como
difundiu mais amplamente seus códigos, símbolos e valores. Quem se utilizou
Matrizes de Aprendizagem e identificamos que o corpo aprende enquanto
de guerras de conquistas, de ocupações, de alianças políticas e de dominações
organismo vivo. O indivíduo assim constituído - como ser humano –
militares, políticas, econômicas e culturais levou sua cultura mais longe ainda.
produz certos conjuntos de códigos, símbolos e valores. Este conjunto só
E quando estas estratégias resultaram em fusões e incorporações de outras
faz sentido enquanto Cultura produzida pelo sujeito se puder ser comparti-
culturas como fez o Cristianismo e o Ocidente, absorvendo o melhor das
lhada com outros da mesma espécie, seja para a formação de alianças, para
culturas antigas helênica grega, egípcia, judaica e romana, a cultura branca,
domínio territorial, para disputa por água e alimento ou para a reprodução,
cristã e ocidental se tornou hegemônica, fazendo as outras desaparecerem e
a Comunicação deste conjunto de códigos, símbolos e valores é marcada
dando a impressão de que é única cultura existente e possível. É esta cultura
pela intencionalidade de modificar o pensamento, o comportamento e a
hegemônica que domina os meios tradicionais de comunicação e é esta que
ação do outro. Esta intencionalidade é o próprio ato de educar.
se beneficia do principal meio de difusão e de inculcação dos seus códigos,
símbolos e valores na atualidade, que é a escola pública estatal e todos os
CULTURA
insumos agregados a ela como o currículo, a formação de professores, a
Todo ser humano é produtor de cultura, que é um conjunto de códigos,
símbolos e valores. É preciso saber como o sujeito produz o seu organização escolar e a avaliação.
conhecimento É preciso saber que existem outras epistemologias, outras formas de
COMUNICAÇÃO produção e de mediação do conhecimento, assim como outras didáticas e
Para ser compartilhado este conjunto precisa ser comunicado a outrem. metodologias. Saber como cada grupo produz sua cultura, quais são seus
É preciso saber dos meios pelos quais o sujeito faz esta comunicação. códigos, símbolos e valores, de quais meios dispõem para a comunicação
EDUCAÇÃO de sua cultura e a didática e a metodologia que melhor corresponde à sua
A intencionalidade em modificar o pensamento, o comportamento intencionalidade é a finalidade da epistemologia, da Pedagogia e da própria
e as ações do outro é a própria Educação. Na intencionalidade estão Educação.
presentes uma didática e uma metodologia. A situação de encarceramento, sobretudo quando ela é precoce e prolon-
gada no tempo, é capaz de suscitar uma epistemologia própria, isto é, um
conhecimento destinado à sobrevivência no cárcere e que só serve para o
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cárcere e para quem dentro dele vive, seja na condição de encarcerado, de Algumas perguntas básicas podem nos ajudar a começar a entender a
agente prisional, de dirigente de técnico ou de professor. vida, o ser humano e o seu mundo.
Fazer a transição entre este conjunto de códigos, símbolos e valores para
um conjunto de códigos, símbolos e valores que seja aceitável e valorizado • Podemos deduzir que no átomo/célula/molécula
socialmente é o objetivo desta Didática no Cárcere. haja um princípio ativo equivalente a uma inteligência?
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são armazenadas as informações que estes captam e como, posteriormente, A compreensão da estrutura, organização e funcionamento do átomo
é feito o processamento destas informações para transformá-las no que deve levar à compreensão da dinâmica e da mecânica de organização e
possamos chamar conhecimento. funcionamento da Natureza, especialmente a existência das substâncias, o
Nesta espiral ascendente do conhecimento é preciso chegar à compre- movimento, a força e o trabalho, termos que migraram e foram apropriados
ensão da constituição do organismo no estágio anterior ao humano, isto é, pelas Ciências Humanas e Sociais.
o ser vivo enquanto obra resultante de diversos processos que aconteceram A analogia entre Semente, Célula e Família devem levar à compreensão
no Universo e na Natureza pois, em última análise, ele é fruto da Terra e de como a vida se organiza nos grupos vegetal, animal e humano dada a
à terra voltará. estrutura e dinâmicas semelhantes que as impulsionam na sua existência,
Não é exagero afirmar que uma vez constituído o corpo enquanto orga- na sua ação e na sua reprodução.
nismo autônomo, o cérebro transformou este organismo em ser humano, De cada palavra-chave deve-se entender:
mas para isso o cérebro teve que aprender como organizar, controlar e fazer
funcionar este organismo. • definição do conceito
Se o Universo e a Natureza são dotados daquelas propriedades gerais de • seu papel
que tratamos acima – inteligência, memória, história, linguagem e comu- • sua função
nicação – não é nenhuma destas que nos distingue das demais formas de • sua estrutura
vida como humanos ou como superiores a elas. • sua linguagem
O que nos distingue como humanos, mas não necessariamente superiores, • sua forma de comunicação
é a capacidade que nenhuma outra forma de vida tem, de compreender a
realidade, de apreendê-la por meio dos órgãos sensoriais e de transformá-la. Entender a natureza para entender a vida, o ser humano e o seu mundo significa
então utilizar os conhecimentos das Ciências da Natureza e suas tecnologias
Química Física Biologia Sociologia para entender as Ciências Humanas e Sociais e suas tecnologias, assim como
CORPO SOCIEDADE
entender a Matemática e suas tecnologias e as Linguagens, seus códigos e
ÁTOMO MECÂNICA VEGETAL ANIMAL
HUMANO HUMANA suas tecnologias. É por isso que se justifica também falarmos em múltiplas
Órgãos
SEMENTE ZIGOTO
sensoriais
Família alfabetizações e assegurarmos que esta proposta está em plena sintonia
Tecidos com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e a Base
Núcleo Trabalho Células Visão Clã
Vegetais
Nacional Comum Curricular (BNCC).
Sistemas
Próton Força Tecidos Audição Fratria
Vegetais
Elétrons Movimento
Planta/
Órgãos Tato Tribo 7. Fundamentos ontológicos e biológicos
Árvore
da aprendizagem humana
Nêutrons Massa Ecossistemas Aparelhos Palato Nação
Colônia/
Eletrosfera Ondas Comunidade/ Sistemas Olfato Estado Do ponto de vista estritamente ontológico, importa primeiramente
Sociedade
conhecer a estrutura, organização e funcionamento do ser humano e como
Comunidade de
Molécula Sistema Inquilinismo Corpo Cérebro
Nações
ele interage com os imperativos do meio que o circunda.
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O processo de construção do conhecimento humano a partir de sua Estas informações brutas vão ficar armazenadas no cérebro, constituindo
relação com o meio pode ser esquematicamente assim representado: memórias (visual, auditiva, cinestésica, olfativa e gustativa). Nesta condição
são imperativos para a sobrevivência, para a organização do ser e para sua
interação com os elementos da natureza. Ainda não é possível denominar esta
Apreensão da informação informação sensorial como conhecimento simplesmente porque não passaram
Armazenamento da Processamento da
por meio dos órgãos ainda pela via da cognição. No máximo, poderíamos denominar isso uma
informação no cérebro informação pelo cérebro
sensoriais espécie de inteligência orgânica, tal como a das plantas, ou, inteligência
instintiva, tal qual dos animais.
Dendritos, neurônios,
Informação são ondas O armazenamento axônios e sinapses
Entender como ocorre o processo de associação entre os conteúdos
eletromagnéticas e constitui as memórias proporcionam associações destas memórias implica em entender o papel e a função que cumprem os
mecânicas sensoriais dos conteúdos das dendritos, os axônios e os neurônios, bem como o papel e a função das
memórias sinapses. Esta compreensão pode nos levar a entender a organização e o
funcionamento da rede neural que conforma o cérebro humano, mas que,
Ondas eletromagnéticas Memória visual Imagens nesta fase de estudos, nos ajudaria a compreender, basicamente, a captação,
Ondas sonoras Memória auditiva Sons armazenamento e processamento da informação físico-química e química
Ondas cinestésicas Memória cinestésica Sensações corporais
oriunda da natureza.
Ondas químicas Memória gustativa Gostos e preferências
A organização destes estudos em campos de conhecimento nos conduz
Ondas químicas Memória olfativa Gostos e preferências
à elaboração do conceito de Fisiologia Cerebral e não o inverso. Se a este
A informação regula No processamento
conjunto de saberes acrescermos as perguntas “como o cérebro aprende”,
Memórias são relacionais “de que metodologia se utiliza” e “como ele usa o saber aprendido” estaremos
o Ritmo Cicladiano esta Informação é
e não cumulativas.
(Relógio Biológico) de transformada em dando origem a um novo campo de estudos denominado Pedagogia, do qual
Guardam aprendizagens e
todos os seres vivos. conhecimento emerge uma Epistemologia (Teoria do Conhecimento), uma Metodologia
não conteúdos
(como aprende a aprender) e uma Didática (como ensinar o que se sabe).
Nesta fase do processo de construção do conhecimento podemos afirmar
que é o cérebro que aprende e não o ser humano enquanto pessoa. Nesta
Sob este ponto de vista assumem preponderância a compreensão dos fase estão implícitas:
órgãos sensoriais, o que denominamos cinco sentidos, pois eles constituem
o aparato com que a vida nos dotou para captar as informações sensoriais a) uma epistemologia, que nos desvela a captação
oriundas do meio à nossa volta. da informação, seu armazenamento no cérebro, a cons-
Ondas eletromagnéticas (visão e tato), ondas sonoras (audição), infor- tituição das memórias sensoriais e, finalmente, a trans-
mações químicas (palato e olfato), da forma bruta como são emitidas pela formação da informação em conhecimento;
natureza e captadas pelos órgãos sensoriais não podem ainda serem clas- b) uma metodologia, que nos desvela a interação
sificadas como conhecimento. dos órgãos sensoriais com o meio ambiente, a seletividade
na constituição das memórias;
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
Resumindo, meio ambiente e corpo humano eram duas entidades distintas. Diferentemente da autora, que caracteriza Matrizes de Aprendizagem na
Aprenderam a interagir por meio dos órgãos sensoriais humanos. Os órgãos história de constituição do próprio sujeito, preferimos situá-la nos domí-
sensoriais constituíram memórias. Houve associação entre os conteúdos nios organizadores da existência e da vida para decifrar uma epistemologia
destas memórias por meio de sinapses. Os neurotransmissores levaram implícita no Universo, na Natureza, na estrutura das coisas e, por fim, na
estes saberes a cada uma das células do corpo que, por sua vez, aprendeu a constituição ontológica e biológica dos seres vivos e não apenas do ser
se organizar, se manter e se reproduzir. Pronto, temos agora o ser humano humano.
constituído como indivíduo.
Neste sentido, Matriz de Aprendizagem se refere ao primeiro elo da
Entendido como o corpo humano se torna uma matriz de aprendizagem,
cadeia de construção do conhecimento e estariam situados nos elementos
no tópico seguinte vamos entender como o ser humano constrói e atribui
constituintes da própria estrutura das coisas, como o átomo, a célula, a
significados àquilo que ele próprio constrói: o seu mundo.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
molécula e o zigoto. É nestes elementos que buscamos identificar um prin- Alfabetização Científica, portanto, significa primeiro compreender os
cípio inteligente, uma memória, uma história, uma forma de linguagem e processos tais como ocorrem na Natureza, regidos pelas leis da própria
uma estratégia de comunicação. Natureza, independentemente de qualquer ação humana sobre elas.
Por esta razão as Matrizes de Aprendizagem estão situadas no campo de Será preciso explicitar aos procedimentos universais de pesquisas para levar
conhecimento que corresponde às Ciências da Natureza e por esta mesma o aluno a entender como o ser humano descobriu, entendeu e compreendeu
razão utilizamos o tema “entender a Natureza para entender o ser humano a estrutura, organização e funcionamento destas Matrizes de Aprendizagem.
e seu mundo”. Por meio da observação, da descrição, da comparação, análise e síntese, o ser
Entendemos que a civilização humana e a vida social, abstrações que são humano organizou e sistematizou tudo o que aprendeu sobre o Universo, a
essencialmente humanas, reproduzem padrões existentes no Universo e na Vida, a Natureza, o Corpo e o mundo em áreas de conhecimento às quais
Natureza que o esforço humano de observação, descrição, comparação, denominou Ciências.
análise e síntese se deu primeiro no sentido de compreender os mecanismos Ao longo do tempo, o resultado da observação, descrição, comparação,
de funcionamento e depois de dominá-los e de colocá-los sob controle para análise e síntese é que o ser humano, entendendo a organização, estrutura
satisfação dos interesses e necessidades humanas. e funcionamento das coisas, pode controlá-las e transformá-las de acordo
com seus desejos e suas necessidades.
2. Alfabetização Científica O objetivo da Alfabetização Científica é Entender a Natureza para entender o
Todas as Matrizes de Aprendizagem que estamos considerando nesta ser humano e o seu mundo, portanto, as Ciências tal como abordada no Currículo
proposta pedagógica têm propriedades gerais e específicas, ou seja, todas Oficial, é ponto de chegada e não ponto de partida.
elas possuem algo equivalente à inteligência, uma linguagem que pressupõe
uma estratégia de Comunicação, Memória e, dentro desta, História. Estas são 3. Inteligência
propriedades gerais que estão presentes no Átomo, na Célula e na Molécula, O conceito empregado aqui não tem referência na literatura, não se refere
e, por extensão, em todas às substâncias a que dão origem, sejam elas simples nem de longe à ideia de inteligência cerebral, cognitiva e muito menos a
ou compostas. Da mesma forma, Átomos, Células e Moléculas se organizam instintos, capacidades inatas ou inteligência artificial. Como nos referimos
estruturalmente segundo padrões regulares que são infinitamente repetidos. a um atributo existente nas matrizes de aprendizagem, isto é, no átomo, na
Destes padrões emergem as formas geométricas (Geometria Fractal) e sua célula, na molécula e no zigoto, o conceito se aproxima mais da ideia de um
multiplicação (Matemática). princípio inteligente existente nas coisas. Podemos falar de princípios inte-
Usar as Matrizes de Aprendizagem para fazer Alfabetização Científica ligentes como a energia que induz o átomo, a célula, a molécula e o zigoto
implica em usá-las como fonte primeira do conhecimento, como ponto de a fazerem o que fazem de maneira regular, sequencial, constante e precisa,
partida para entender a organização do conhecimento sobre o Universo, que são alguns dos fatores necessários à existência, à ação e à reprodução.
a Vida, a Natureza, o Ser Humano e seu Mundo. A partir de Átomos,
Células e Moléculas deriva uma espiral crescente de saberes que, em algum
momento, e pela ação estritamente humana, foram organizados em áreas 4. Memória
de conhecimento a que denominamos Ciências. A conjectura quanto à existência de inteligência das coisas nos leva a
deduzir, igualmente, pela existência do registro das aprendizagens reali-
zadas. Se os seres vivos vegetais e animais possuem uma origem comum
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
existem tanto um elo comum como um elo diferencial entre elas e é perfei- como reações físico químicas que induzem o átomo, a célula, a molécula e
tamente compreensível mesmo para o leigo falarmos em memória celular, o zigoto a fazerem o que fazem de maneira regular, sequencial, constante
em memória molecular. e precisa, que são alguns dos fatores necessários à existência, à ação e à
A compreensão deste conceito fica mais fácil se entendermos a aplicação reprodução.
do Carbono 14 na determinação da idade das coisas. A partir da morte do
ser vivo, a quantidade de C-14 existente em um tecido orgânico se dividirá 7. Comunicação
pela metade a cada 5730 anos. Cerca de 50 mil anos depois, esta quantidade Da inteligência, da memória, da história e da linguagem é possível deduzir
começa a ser pequena demais para uma datação precisa. Como essa desin- que a transmissão da codificação e a posterior decodificação da linguagem
tegração ocorre num período de meia-vida de 5730 anos é possível fazer por parte do átomo, da célula, da molécula e do zigoto signifique uma certa
a datação radiométrica de objetos ou materiais arqueológicos com idades estratégia de emissão e recepção da informação: a isto denominamos comu-
dentro desta ordem de grandeza. O método, por isso, não é adequado à nicação. Podemos falar de comunicação como reações físico químicas que
datação de fósseis que têm idades na casa dos milhões de anos e que são induzem o átomo, a célula, a molécula e o zigoto a fazerem o que fazem de
datados por métodos estratigráficos e por decaimento de outros elementos maneira regular, sequencial, constante e precisa, que são alguns dos fatores
radioativos. necessários à existência, à ação e à reprodução.
No corpo humano as memórias correspondem aos cinco sentidos senso-
riais – memórias visual, auditiva, cinestésica, gustativa e olfativa – o que nos 8. Capitalismo Científico
permite deduzir que seus conteúdos possam ser externados de diferentes Como resultado da observação, descrição, comparação, análise e síntese,
maneiras, denotando diferentes inteligências, não exatamente no sentido de o ser humano decodificou praticamente todas as estruturas existentes no
que trata Howard Gardner (1995) em sua teorias das inteligências múltiplas. Universo, na Natureza e, principalmente, no Corpo Humano. Seguindo a
lógica sempre presente de buscar a compreensão da organização, da estru-
5. História tura e do funcionamento das coisas, o ser humano também aprendeu a
Da inteligência e da memória se deduz a historicidade das coisas, isto dominá-las e a colocar as forças e os elementos da Natureza a serviço de
é, o registro. Se a história do Universo pode estar encerrada em um único seus interesses e de suas necessidades.
átomo, a história da Vida também pode estar encerrada em uma única A instrumentalização do conhecimento ocorre em relação ao Universo
célula ou molécula. Sabemos que a transformação de substância simples – que se expressa hoje na disputa pelo domínio do espaço –, em relação
em substâncias compostas não subtrai das primeiras duas propriedades à Natureza – praticamente esgotada pela colonização e pela exploração
originais e a divisão celular ou a diferenciação celular, no sentido de sua desenfreada dos recursos naturais – com poucas frentes que ainda apre-
especialização para se transformar em diferentes tecidos e órgãos mantêm sente potencialidades em termos econômicos. O domínio e apropriação
em cada célula suas propriedades originais. dos conhecimentos relativos ao planeta, à Terra e à Natureza e aos seus
recursos naturais não significou uma distribuição equitativa dos benefícios
6. Linguagem para todos os seres humanos, muito pelo contrário, a apropriação e a má
Da inteligência, da memória e da história é possível deduzir formas distribuição destes recursos são os responsáveis pelas desigualdades sociais,
particulares de codificação e decodificação no átomo, na célula, na molécula pela pobreza e pela miséria que afeta parte significativa da população humana.
e no zigoto: a isto denominamos linguagem. Podemos falar de linguagem
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
É no domínio dos conhecimentos relativos ao corpo humano, sua estru- IX. COMPONENTES
tura, organização e funcionamento, que emerge a face mais perversa da
expressão conhecimento é poder. Isso acontece porque é no corpo humano que OPERACIONAIS DA DIDÁTICA
estão os mecanismos de produção do conhecimento – os cinco sentidos NO CÁRCERE
físicos – atributos de todos os seres humanos, mas os conhecimentos
deles derivados também não são igualmente socializados e distribuídos e Os componentes operacionais do Didática no Cárcere são aqueles que
os benefícios resultantes, protegidos por direitos autorais, royalties e patentes, recomendamos aos professores a aplicação e testagem em sala de aula e que
são apropriados por poucos que transformam a todos nós – demais seres se referem à Didática propriamente dita. Nos espaços de experimentação
humanos – em meros consumidores de serviços e de tecnologias. A isso pedagógica estes componentes foram os mais exercitados, razão pela qual
denominamos apropriação privada do conhecimento, a base do que deno- os relatos de práticas estão mais relacionados a estes e não aos compo-
minamos Capitalismo Científico. nentes teóricos. Também dedicaremos uma sessão para detalhar mais os
procedimentos de avaliação para esta proposta.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
sociabilidade do sujeito? Certos gêneros musicais ou artísticos são bastante X. AVALIAÇÃO DE HABILIDADES
apropriados para despertar, ora a indignação, ora a revolta ou a reflexão no
preso aluno, mas estas energias deixadas por conta própria podem resultar E COMPETÊNCIAS SOCIAIS
tanto em benefícios quanto em danos.
A competência social pode ser definida como a habilidade na condução
Temos recomendado aos professores que tenham bastante clareza quanto
das relações pessoais, interpessoais e sociais e é um importante indicador
ao que querem transmitir, provocar ou despertar em seus alunos, pois assim
de desempenho social do indivíduo.
podem ter em vistas usar intencionalmente recursos pedagógicos que sejam
Para além dos modismos e dos discursos prontos sobre competência,
adequados para determinados fins cognitivos.
geralmente pensada em termos de empregabilidade, liderança, desempenho
escolar etc., a competência social pressupõe o domínio de códigos, símbolos
e valores de diferentes estratos sociais e de universos culturais por onde a
pessoa transita ou queira transitar.
O domínio de conjuntos de códigos, símbolos e valores está direta-
mente relacionado a outros conceitos como pertencimento, reconhecimento,
empatia, solidariedade, equidade e alteridade, pois entendê-los é o pressu-
posto básico para entender o outro, saber colocar-se no lugar do outro e
pensar como o outro pensa.
Para esta proposta pedagógica, dirigida a um público que já foi penalizado
por não atender as expectativas que a sociedade tem em relação a ele e que
tem pouca ou quase nenhuma tolerância com quem aceita deliberadamente
quebrar as regras de convivência social e infringir as leis, competências
sociais podem ser definidas como habilidades:
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
5. qualificar-se teórica e conceitualmente para cumprir subordinadas às ciências jurídicas ou a julgamento de caráter moral como
solidariamente as atribuições e responsabilidades de quem arrependimento e remorso, para se ater à operacionalidade da aprendizagem,
vive em sociedade; isto é, o quanto teorias, conceitos, constructos e ideias foram apropriadas
6. ser capaz de suprir suas necessidades básicas de pelo indivíduo tendo em vista a melhoria de suas relações humanas e sociais,
forma autônoma e independente de modo lícito. melhor leitura, análise e interpretação da realidade social e, fundamentalmente,
melhor entendimento quanto ao sentido de sua existência, o potencial que
É importante notar, no entanto, que o contexto de privação da liber- tem e o lugar que pode ocupar no mundo.
dade possui seus próprios códigos, símbolos e valores, que quanto menor Não há planilha, questionário, teste padronizado ou sistema de pontuação
a idade e maior o tempo de exposição a ele, mais a pessoa sofre os efeitos que dê conta de tal tipo de avaliação. A matéria prima da Educação Social
da institucionalização/prisionização e que livrar-se destes nem sempre é é exatamente a qualidade das relações humanas e sociais e estas não são
uma opção do sujeito que, provavelmente, em liberdade voltará ao mesmo passíveis de serem submetidas a um currículo para ser ensinado, elas têm
meio do qual se originou. que ser vivenciadas.
É recomendável, entretanto, saber que voltar a estudar, retomar a vida Sendo assim, em cada área de conhecimentos se tem apenas alguns parâ-
em família, conquistar um emprego, participar da vida comunitária requer metros muito básicos para mensuração do que denominamos ensinagem
a apropriação de códigos, símbolos e valores distintos, cada um com sua e aprendizagem sociais, que não são absolutos nem infalíveis, mas dão a
finalidade própria. medida da satisfação do Educador Social para ele avaliar se foram ou não
Por se tratar de uma proposta destinada à Educação de Jovens e Adultos, atingidos os objetivos.
que parte dos conhecimentos do próprio sujeito e que recorre, preferen-
cialmente, aos saberes constituídos nos mundos da vida e do trabalho e 1. Linguagens e suas tecnologias
não de saberes escolares, a avaliação de conhecimentos não formais, de O consenso que construímos ao longo de nossas formações e vivências
competências e habilidades precisa estar sintonizada tanto com os obje- é de que no contexto de privação da liberdade valoriza-se mais a capaci-
tivos da proposta quanto com os métodos e técnicas empregados pelos dade comunicacional do sujeito do que o domínio de regras gramaticais.
professores e ainda considerar os recursos cognitivos mobilizados pelos Algumas das práticas relatadas na Parte III, especialmente o Projeto Bilhete,
alunos na sua operacionalização. enfatizará isso.
Se o que temos em vista é o desenvolvimento de habilidades e compe- 7. Na alfabetização e séries iniciais do Ensino Fundamental
tências sociais para a educabilidade social do indivíduo e seu retorno à vida avalia-se a capacidade comunicacional na forma oral para o
em liberdade e os indicadores para esta finalidade são predominantemente aluno entender e fazer-se entender em situações coloquiais.
de natureza qualitativa e não quantitativa, a avaliação precisa primar pela 8. Séries finais do Ensino Fundamental – avalia-se a
verificação quanto à operacionalidade do conhecimento construído, isto é, capacidade comunicacional de forma oral aplicada a universos
o quanto a pessoa consegue traduzir em ações, atitudes e comportamentos que usam diferentes códigos, símbolos e valores.
os conteúdos aprendidos. 9. Ensino Médio – avalia-se a capacidade comunicacional
A avaliação, nestas circunstâncias, não pode sequer se remeter à noção de forma oral, relacional e escrita aplicada a universos que
de cessação de periculosidade, adotada por algumas áreas das Ciências usam diferentes códigos, símbolos e valores, com ênfase no
Humanas e Sociais como Psiquiatria, Psicologia e Serviço Social quando
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
domínio dos conhecimentos básicos de ciências relacionados 3. Ciências Humanas e Sociais e suas tecnologias
ao mundo do trabalho. Entender a Natureza para entender o ser humano e seu mundo - o lema desta
10. Ensino Técnico e Profissional – avalia-se, além obra - não precisa se socorrer do velho nem do novo Jusnaturalismo e muito
das anteriores, a capacidade de ler, escrever e interpretar menos do darwinismo social e nem de qualquer teoria sociológica, pois a
códigos predominantemente técnicos e digitais expressos em Pedagogia Social nos parece suficiente para desvelar padrões, regularidades,
diagramas, circuitos eletrônicos, mapas e desenhos técnicos. simetrias e assimetrias entre o Natural, o Humano e o Social. E nossa ênfase
está em descobrir os mecanismos de ensinagem e de aprendizagem nos
2. Matemática e suas tecnologias domínios nos quais localizamos as Matrizes de Aprendizagem, ou seja, o
Como entendemos Matemática e Arte originárias do mesmo campo Universo, a Natureza e o Corpo Humano.
epistemológico e a Geometria como o ponto tanto de intersecção quanto Mesmo quando identificamos evidências de inteligência, memória, história,
de convergência de ambas, a identificação de padrões e de regularidades e linguagem e comunicação no Universo, na Natureza e no Corpo Humano
de simetrias e assimetrias e tão relevante quanto a codificação e a decodi- e que o ser humano usa estas propriedades gerais para construir o seu
ficação de símbolos da Matemática humana. mundo, não vemos nisso um plágio, determinismo ou condicionamento.
Diferentemente do Universo e da Natureza que se submetem a leis
• Na alfabetização e séries iniciais do Ensino Fundamental – avalia-se permanentes e imexíveis, o corpo humano foi organicamente modulado
a capacidade de uso do raciocínio lógico matemático na forma oral tanto segundo as disposições do meio onde ele se desenvolveu, mas a sociedade
para identificação de formas geométricas, de padrões e regularidades, de que ele criou não segue regras, normas ou padrões previamente definidos,
simetrias e assimetrias presentes no cotidiano quanto para aplicação de senão as que o próprio ser humano cria.
cálculos mentais na resolução de questões do cotidiano, do fazer profis- Sociedade humana, portanto, subordinada que é à vontade humana,
sional e das relações humanas e sociais. não aprende como o Universo aprendeu, não aprende como a Natureza
• Séries finais do Ensino Fundamental – avalia-se a capacidade de aprendeu e não aprende como o corpo aprendeu. O que fazemos aqui é
uso do raciocínio lógico matemático na forma oral e escrita tanto para extrair destes domínios Matrizes de Aprendizagem que nos revelam formas
a aplicação prática da Geometria quanto para entendimento e aplicação de produção de conhecimento, didáticas de como ensinar, e métodos de
de cálculos mentais na resolução de questões do cotidiano, do fazer como aprender, porque isto está registrado de forma indelével nas memórias
profissional e das relações humanas e sociais. a que nos referimos acima.
• Ensino Médio – avalia-se as anteriores mais a capacidade de uso É isso que nos possibilita afirmar, no âmbito da Pedagogia Social,
do raciocínio lógico matemático na forma escrita para entendimento que a ensinagem e aprendizagem sociais não são curricularizáveis e não
e aplicação do sistema de notação próprio da área para representação porque não possamos atribuir às sociedades humanas aquelas propriedades
de medidas de grandezas aplicáveis a situações do cotidiano, do fazer gerais que identificamos nas matrizes de aprendizagem, mas porque não
profissional e das relações humanas e sociais. se subordinam a leis e regras permanentes, não seguem normas e padrões
• Ensino Técnico e Profissional – avalia-se todas as anteriores mais imutáveis e nem perseguem simetrias e assimetrias. Enfim, as sociedades
a capacidade de aplicação dos sistemas próprios de notação da Matemática, humanamente criadas não são previsíveis. Adaptar-se à conjuntura, acatar
da Geometria e da Arte no planejamento, na organização e na produção os discursos dominantes ou submeter-se às regras de quem ora exerce o
de produtos, serviços e processos de interesse tanto para a vida cotidiana poder não significa, do ponto de vista da Pedagogia Social e das práticas
quanto para o fazer profissional e as relações humanas e sociais.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
de Educação Social, desenvolver a educabilidade social do sujeito: isso tem • Ensino Técnico e Profissional – avalia-se as ante-
mais a ver com obediência, submissão e conformismo e o que a Pedagogia riores e também a percepção e a capacidade de apropriação
Social procura fomentar é a autonomia, a emancipação e a libertação do e de manuseio de métodos, técnicas e processos que tenham
sujeito de tudo o que seja capaz de obstruir sua vocação de ser mais, como a ver com os fatores de inibição do desenvolvimento pessoal
diz Paulo Freire (1996). e social. Veja o relato sobre o Projeto Aquaponia, realizado
Por estas razões a avaliação dos aspectos conceituais, comportamentais no CDP III de Pinheiros.
e atitudinais em relação à Vida, à Natureza, ao ser humano, a si mesmo,
ao outro e aos processos sociais que nos envolvem sejam mais pertinentes
do que ter decorado nomes, datas, lugares e acontecimentos. No mesmo
4. Ciências da Natureza e suas tecnologias
sentido que concebemos uma espiral de conhecimentos que vai do micro
Adotamos as Ciências da Natureza como ponto de partida para enten-
ao macro, nesta área de conhecimento a origem, a identidade e a história
dermos as Ciências Humanas e Sociais, portanto, a aquisição de noções
do sujeito constituem pontos de partida e elas nos levam às dimensões
básicas quanto à estrutura, organização e funcionamento das coisas e dos
regionais, nacionais e universais e não o inverso.
seres vivos é um componente básico da Alfabetização Científica. Nesta
área não bastou ao ser humano observar, descrever, comparar, analisar e
• Na alfabetização e séries iniciais do Ensino
tirar conclusões: ele quis também exercer o controle e dominar as forças
Fundamental – avalia-se, na modalidade oral, a capacidade
na Natureza para colocá-las a serviço de seus interesses e necessidades.
de compreensão da própria identidade, do outro e das normas Aqui a progressividade na construção do conhecimento é a meta: a
básicas de convivência social, além da capacidade de manejar alfabetização, a sistematização de saberes para elevação da escolaridade e a
códigos, símbolos e valores dos universos e segmentos nos ampliação dos conhecimentos como qualificação para o trabalho.
quais está inserido ou pretenda se inserir.
• Séries finais do Ensino Fundamental – avalia-se, na • Na alfabetização e séries iniciais do Ensino Fundamental
modalidade oral, a capacidade de compreensão da própria – avalia-se a capacidade de leitura de mundo na forma oral, que
identidade, do outro e das normas básicas de convivência
aqui se refere tanto ao mundo natural quanto ao mundo social,
social, bem como a relação direitos/deveres da cidadania e
para efeito de analogias, generalizações e abstrações. O que se
noções básicas sobre legislação social e proteção aos direitos pretende é estimular a capacidade de produzir imagens mentais
humanos. Avalia-se também a capacidade de manejar códigos, a partir das memórias da pessoa. É o exercício de imaginar,
símbolos e valores dos universos e segmentos nos quais está fantasiar, criar imagens e estabelecer relações entre elas.
inserido ou pretenda se inserir.
• Ensino Médio – avalia-se, a capacidade de manejar
• Séries finais do Ensino Fundamental – avalia-se a
códigos, símbolos e valores dos universos e segmentos nos
capacidade de uso do raciocínio lógico na forma oral e escrita
quais está inserido ou pretenda se inserir, assim como conhe- para entendimento e aplicação de imagens mentais na reso-
cimentos sobre organização e dinâmica da estrutura social e lução de questões do cotidiano, do fazer profissional e das
noções básicas sobre organização político administrativa do relações humanas e sociais. O que se pretende é estimular
Estado, suas instituições e as normas que os regem.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
a capacidade de utilização das imagens mentais para repre- XI. AVALIAÇÃO DE SABERES
sentar graficamente figuras geométricas, unidades de medida,
simetrias, proporcionalidades e esquemas, que favorecem as CONSTITUÍDOS NO
noções de organização e planejamento. MUNDO DA VIDA
• Ensino Médio – avalia-se as anteriores e capacidade Mundo da Vida é um conceito criado por Husserl (2012) como parte de
de uso do raciocínio lógico na forma escrita para entendi- seu argumento sobre o afastamento das ciências modernas em relação ao
mento e aplicação do sistema de notação próprio da área para horizonte de experiência e de sentido dos indivíduos comuns, depois utilizado
representação de unidades de medidas aplicáveis a situações por Habermas, Heidegger, Sartre, Gadamer e Schultz. A expressão mais em
do cotidiano, do fazer profissional e das relações humanas voga no Brasil se deve a Habermas pelo livro Teoria da Ação Comunicativa, de
e sociais. O que se pretende aqui é estimular a percepção de 1981 e depois mais difundida por Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido.
causa e efeito, de interdependência e de complementaridade No processo de alfabetização científica os conhecimentos prévios do
entre objetos, fatos, fenômenos e processos que resultam sujeito constituem o ponto de partida.
em transformações na Natureza, nos processos industriais Saberes populares, todos eles, possuem rudimentos de saberes cientí-
e na sociedade humana. Exemplos são a ocupação desorde- ficos, ou seja, mesmo os denominados saberes de senso comum admitem
nada do solo, a transformação da terra para a agricultura, a em alguma medida, a incorporação de noções científicas, às vezes perdidas
poluição atmosférica, a contaminação das águas, as migrações no tempo, eclipsada pelos hábitos e costumes e mesmo ignoradas por
populacionais etc. muitos. É preciso entender que muitos destes saberes são resultantes de
aplicação do método científico - observação, descrição, comparação, análise
• Ensino Técnico e Profissional – avalia-se as anteriores e síntese – e são adotados na sociedade por convenções que são válidas
e também a capacidade de observar, descrever, comparar, para determinados povos em determinadas épocas e determinados lugares.
analisar e extrair conclusões provisórias – hipóteses – que Assim, as categorias de conhecimentos que podem ser submetidas à
possam ser testadas e verificadas com emprego de métodos avaliação não são conhecimentos derivados dos conteúdos curriculares,
científicos apropriados. cuja avaliação redundaria em classificação ou reclassificação de alunos em
séries e anos escolares, mas sim aqueles predominantes no mundo ocidental
e que constituem uma espécie de organizadores do nosso modo de ver e
de pensar o Universo, a vida, a Natureza e o Ser Humano. Outros povos,
outras culturas e outros tempos atribuem aos mesmos saberes significados
diferentes, portanto, têm outras formas de ver e de pensar o universo, a
Vida, a Natureza e o Ser Humano.
Por serem saberes e conhecimentos de senso comum, de uso popular e
corriqueiro, na maioria das vezes usado acriticamente em conversas colo-
quiais, a avaliação que se aplica é a que Paulo Freire explica como passagem
da consciência ingênua para a consciência crítica, ou seja:
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
A consciência ingênua já percebe a contradição social, mas Na Didática no Cárcere a avaliação de saberes constituídos no mundo
ainda se move nos limites do conformismo, adotando explicações da vida e do trabalho corresponde à Avaliação Diagnóstica prevista no
fabulosas para os fenômenos. […] A consciência crítica carac-
Currículo Oficial do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 20012, p. 158),
teriza-se pela profundidade com que interpreta os problemas
contempla todas as prerrogativas elencadas no Artigo 24 da LDB, mas não
e o pensar autônomo e adota princípios e relações causais para
se limita à classificação e reclassificação de alunos. Antes, serve à equalização
interpretar a realidade (Dicionário Paulo Freire, 2008, p. 98).
de saberes necessários ao processo de escolarização regular, de nivelamento
de conhecimentos em classes multisseriadas e de ponto de partida para
Recuperar os pressupostos científicos presentes nos saberes populares
sistematização de saberes com vistas à elevação da escolaridade ou à quali-
e nos conhecimentos de senso comum responde, portanto, a pelo menos
ficação profissional.
três propósitos: 1. valorizar o conhecimento do sujeito, mostrando que ele
Contempla também as prerrogativas elencadas no Artigo 41 da mesma
sabe; 2. ajudá-lo a organizar e sistematizar saberes e conhecimentos que já
LDB: “o conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no
possui e; 3. proporcionar a elevação do conhecimento e, consequentemente,
trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
da escolaridade.
prosseguimento ou conclusão de estudos”.
Nos pareceu adequado fazer distinção entre saberes constituídos no
Vamos tratar dos dois separadamente.
Mundo da Vida e saberes constituídos no Mundo do Trabalho. Os primeiros
Os termos, constructos e conceitos abaixo listados não esgotam o reper-
correspondem a conhecimentos de senso comum e são mais facilmente
tório de saberes populares do Mundo da Vida que têm em si embutidos
identificáveis. Os rudimentos de ciências neles implícitos podem apenas
conhecimentos científicos, mas para todos eles se requer, na perspectiva
serem deduzidos e inferidos, mas não provados, devido à naturalização com
da Alfabetização Científica, a capacidade de Saber entender, saber explicar e
que foram incorporados ao nosso cotidiano e às diferentes conotações que
saber usar, sintetizando o que Paulo Freire denomina o “saber de experiência
assumem em outros tempos, povos e culturas.
feito”. (Dicionário Paulo Freire, 2008, p. 377).
Já os saberes constituídos no Mundo do Trabalho incorporam rudimentos
de conhecimentos científicos que são menos suscetíveis a ambiguidades e
interpretações porque são operacionais do ponto de vista de seu manuseio
especialmente quando aplicados à exploração, transformação e produção.
Dia é dia, noite é noite, o ano tem 365 dias, a hora 60 minutos, aceitamos
isso e não questionamos suas bases científicas até mesmo porque não nos
cabe manusear tais conceitos, apenas usá-los.
Os conhecimentos implícitos no exercício de ofícios e de profissões,
que são necessários à exploração, à transformação e à produção, entretanto,
significam, na maioria das vezes, a aplicação prática de conceitos científicos,
a provocação de reações físico químicas, a transformação de substâncias
simples em substâncias compostas e arranjos celulares e moleculares dos
quais dependem o sucesso ou o fracasso do empreendimento.
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Auxiliar nos serviços de alimentação Proporcionar a esse trabalhador Alfabetização Científica a partir dos
saberes constituídos no Mundo do Trabalho, tendo a cozinha como o espaço
Ajudante de churrasqueiro, Ajudante de confeiteiro, Ajudante de cozinha, Ajudante onde exerce o seu ofício, significa recuperar a historicidade dos insumos
de padeiro, Ajudante de pizzaiolo, Ajudante de sushiman, Auxiliar de churrasqueiro,
que usa, ajudá-lo a entender as reações físico químicas que produzem o
Auxiliar de confeiteiro, Auxiliar de cozinha, Auxiliar de padeiro, Auxiliar de pizzaiolo,
Auxiliar de sushiman, Forneiro (pizzaria), Lavador de pratos, Saladeiro, Salgadeiro... aroma e o sabor dos alimentos, mostrar-lhe os fundamentos biológicos da
produção destes alimentos na Natureza e até mesmo a entender a química
dos produtos quando tratados de uma ou de outra forma.
Já o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, de 2016, assim descreve o A estas abordagens temos denominado sistematização de saberes, pois signi-
mesmo profissional, apenas com a diferença de que este precisa ter formação fica elevar o conhecimento que a pessoa já tem a um patamar mais elevado,
de Ensino Médio e certificação de curso técnico. o que atende tanto às necessidades de cultura geral (alfabetização científica),
elevação da escolaridade e melhor qualificação para o mundo do trabalho.
A título de curiosidade os técnicos da Diretoria Centro Oeste, o Prof.
Técnico em Cozinha
Descrição Sumária Roberto da Silva e alguns monitores foram visitar no 2º semestre de 2017 o
Museu Penitenciário em São Paulo. Queríamos que os professores do curso
Os trabalhadores auxiliares nos serviços de alimentação auxiliam outros tivessem noções de como presos aplicam rudimentos de conhecimentos
profissionais da área no pré-preparo, preparo e processamento de alimentos, na
montagem de pratos. Verificam a qualidade dos gêneros alimentícios, minimizando científicos para construir armas e utensílios para os afazeres do dia a dia
riscos de contaminação. Trabalham em conformidade a normas e procedimentos e produtos para aliviar a ausência de coisas e produtos que são associados
técnicos e de qualidade, segurança, higiene e saúde. com bem estar e qualidade de vida como um acendedor de fogo, armas,
maquinas para tatuagens, e fogão para cozinhar, conforme ilustrações abaixo.
E quando trata do perfil profissional de conclusão deste profissional,
mesmo considerando a possibilidade de especialização e de acesso ao curso
superior na mesma área, observe que a formação é exclusivamente técnica
e operacional, com ênfase no saber fazer...
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Para este projeto a USP, por meio do programa Aprender com Cultura No mesmo ano o GEPÊPRIVAÇÃO realizou alguns eventos e rodas de
e Extensão, designou dois bolsistas (Tailane Machado Santos e Ramayane conversa na USP para debater o tema da redução da maioridade penal do
Aparecida Ferreira), que procederam às primeiras coletas de dados nas adolescente e iniciou um projeto experimental de Pré-Iniciação Científica
unidades prisionais. para adolescentes em regime de internação na Fundação CASA, que consistiu
A hipótese – ainda válida – é de que todas as atividades de atendimento em 12 deles frequentarem um semestre de aulas dividindo o mesmo espaço
profissional – saúde, jurídica, social e psicológica – assim como as atividades e a mesma disciplina com alunos dos cursos de licenciatura da USP. Esta
artísticas, esportivas e culturais adotassem os parâmetros de organização experiência revelou que constituir espaços de experimentação pedagógica
da própria atividade escolar, ou seja, definição de objetivos, indicação de constitui um meio extremamente eficaz para levar as pessoas a vivenciarem
carga horária, explicitação de métodos e técnicas, organização de conteúdos, estereótipos, estigmas e preconceitos que não podem ser desconstruídos
referenciais teóricos, avaliação e certificação como estratégia para tirar destas apenas por meio do discurso.9
atividades o caráter de improvisação, de espontaneísmo e de voluntarismo No segundo semestre de 2016, organizamos o Curso Preparatório ENEM
que as caracterizam, mais como uma estratégia de ocupar o tempo ocioso 2016 para mulheres presas no Centro de Progressão Penitenciária Feminino
do que de qualificar o sujeito para a vida em liberdade. do Butantã (CPPFB), com o envolvimento de 22 alunos e alunas do Curso
O PPP das Prisões parte da premissa de que a população prisional no de Pedagogia. Esta experiência, em particular, revelou que estudantes das
Brasil é predominantemente jovem, de baixa escolaridade, pouca qualificação licenciaturas têm sim, além da curiosidade, muito interesse em lecionar nestes
profissional, afrodescendente e oriunda de periferias urbanas, que acumula espaços por entenderem, nas palavras deles mesmos, que lá a Educação faz
déficits em quase todas as áreas e para quem falharam as instâncias tradi- sentido e que lá alguns deles se descobriram professores.
cionais de socialização, como a família, a religião, a escola, a comunidade, O trabalho na Penitenciária Feminina do Butantã, além dos apelos dos
o mercado de trabalho e as políticas públicas. alunos, que queriam continuar explorando o tema, suscitou uma série de
No Brasil o tempo médio de permanência na prisão é de oito anos, o que possibilidades e dentre tantas optamos por um curso experimental para
nos parece um tempo demasiadamente longo, mas suficiente para pensar um capacitação de professores da rede pública que atuam ou queiram atuar em
processo de escolarização e de profissionalização desta população. Com cerca regimes de privação da liberdade.10
de 1.800 unidades prisionais no Brasil e mais de 700 mil presos é necessário Foram feitas todas as tratativas preliminares com a Diretoria Regional
pensar a gestão da pena e da prisão, do ponto de vista pedagógico, a partir de Ensino Centro Oeste (DECTO), responsável pelas escolas vinculadoras
de um projeto pedagógico que considere as necessidades educacionais do nas quais são matriculados os alunos privados da liberdade e alocados os
ser humano preso, a qualidade do seu retorno à sociedade e a resposta que professores para atribuição de aulas. Assim foi celebrado entre a DECTO
a sociedade e o Estado dão a estas pessoas, que não pode ser somente de e a FEUSP um convênio específico para este propósito, com prioridade
naturezas repressivas e punitivas.8 para professores lotados nesta DE ou que futuramente nela venham a
No 2º semestre de 2014 o GEPÊPRIVAÇÃO organizou o Curso de atuar. O curso foi concebido como um projeto piloto, presencial, com
Atualização Teoria e Prática do ECA: ênfase nas medidas socioeducativas, no qual carga horária de 186 h/a, todos os sábados de manhã, de 5 de Agosto a 18
participaram operadores do Sistema de Garantia de Direitos de 32 dos 39 de Dezembro de 2017.
municípios da Região Metropolitana de São Paulo. 9 Esta experiência e seus desdobramentos estão relatadas no livro Ciência da Delinquência: o
olhar da USP sobre o ato infracional, o infrator, as medidas socioeducativas e suas práticas (Expressão &
Arte, 2014).
8 Um primeiro ensaio sobre esta questão foi esboçado no artigo Ciência, trabalho e Educação no 10 Esta experiência está relatada no artigo A Educação em prisões e o papel da universidade pública.
Sistema Penitenciário Brasileiro. Cad. Cedes, Campinas, v. 36, n. 98, p. 9-24, jan.-abr., 2016. Rev. Cult. Ext. USP, São Paulo, v. 17, p. 65-80, mai. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9060
v17isupl.p65-80
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
Para o curso foram disponibilizadas 100 vagas, que contou com a parti- que concluíram o Curso de Aperfeiçoamento tivessem aulas atribuídas
cipação de sete professores doutores da Faculdade de Educação da USP: naquelas unidades prisionais e em suas áreas de especialização.
Núria Hanglei Cacete, Dislaine Zerbinatti Moraes, Lúcia Roberto Sasseron, Encerrado o processo de atribuição de aulas elaboramos conjuntamente
Vinicio de Macedo, Mônica Teixeira do Amaral, Maria Clara Di Pierro e com a Diretoria de Ensino e os professores e professoras uma agenda de
Sandoval Nonato) para as aulas didáticas de laboratórios, cinco especialistas ATPC (Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo) para o 1º semestre de 2018,
externos (Carlos Teixeira, Marisa Fortunato, Denise Carreira, Mariângela que são os momentos de planejamento, organização e de formação para os
Graciano e Márcio Masella), orientandos de mestrado e doutorado (Carolina profissionais da Educação de uma determinada Diretoria de Ensino. Nesta
Bessa, Almiro Alves, Thais Barbosa Passos e Jefferson Santos) e quatro agenda foi possível rodiziar os encontros na própria Diretoria de Ensino, na
monitores concedidos pelo Programa Unificado de Bolsas da USP (Matheus USP e nas unidades prisionais, ora em reuniões gerais ora em reuniões por
de Oliveira Arouca, Ananda Ananias Felisberto, Samuel Feitosa Vanique áreas de conhecimento, sempre com a presença dos monitores designados
e Bruno Feitosa Barbosa). Posteriormente ingressaram no projeto Maria para acompanhar cada grupo de professores e professoras.
Paula Palhares e Fernanda Gabriela de Camargo Lopes. O registro de todas estas atividades mostra que cerca de 200 pessoas
A esta equipe somou-se, oportunamente, Alex Giostri, coordenador participaram deste processo coletivo de construção da proposta. Este mesmo
das atividades literárias da Penitenciária Industrial de Joinville-SC, ativi- coletivo foi continuamente informado do andamento das atividades e ao
dades essas premiadas nacionalmente pelo IPL - retratos da leitura 2017, e final convocado para uma última leitura crítica da produção, oportunidade
editor da Giostri Editora, que acompanhou toda a execução do curso e se também para a revisão final do texto e entrega para a Editora Giostri.
colocou à disposição para publicar na forma impressa o material didático
resultante do curso. Área de
Com o término do Curso de Aperfeiçoamento e sistematizadas as contri- Professor/a Monitor/a
Conhecimento
buições a Editora Giostri fez uma edição de tiragem limitada e sem fins
comerciais do que passamos a denominar Didática no Cárcere: entender a Marinilda Aparecida Sanches Gardiano Ananda Ananias
Alfabetização Giane Alves da Cruz Felisberto
Natureza para entender o ser humano e seu mundo, que foi gratuitamente
Leny Vicência Gregório Monique Losano
distribuída aos participantes que concluíram com aproveitamento o curso.
Naquela ocasião firmamos o compromisso com todos os envolvidos e com Karina de Cássia
Bruno Vinicius
Matemática Barbosa e Maria
a Diretoria de Ensino, que dedicaríamos todo o 1º semestre de 2018 para Geraldo Fernandes Pessoa
Paula Palhares
experimentar esta metodologia nas salas de aulas das prisões onde lecionam
Ciências Humanas Marinésia (Mary Gama), Camila, Thais Barbosa
os professores e professoras que frequentaram o curso de aperfeiçoamento.
e Sociais Maurício Passos
Convencionamos que constituiriam campos de experimentação pedagó-
gica a Penitenciária Feminina do Butantã e os centros de detenção provisória Rodrigo Vieira Ruivo
Linguagens e
II e III de Pinheiros, locais onde estão recolhidos homens e mulheres adultos. Marcelo Henrique da Silva Scaraboto Bruna Fávero
Artes
Em janeiro e fevereiro de 2018 a supervisora de ensino da DE na região Rose Mary Messias
- Neila Marques - abriu a possibilidade de que acompanhássemos o processo
de atribuição de aulas nestas unidades, com vistas a assegurar que docentes Ciências da Francine dos Santos Aguiar e Clemilson Matheus Arouca
Natureza Marques Pedrosa Fernanda Gabriela
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
1. Equipe FEUSP
XIV. RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
Prof. Dr. Roberto da Silva – coordenador do curso
Profª Drª Mônica Teixeira do Amaral – FEUSP – vice coordenadora
Ao final do Curso de Aperfeiçoamento que deu origem a esta proposta,
Profª Drª Lúcia Sasseron – FEUSP, Laboratório de Física
Profª Drª Núria Hanglei Cacete – FEUSP, Laboratório de Ciências Sociais em dezembro de 2017, de comum acordo com a Diretoria de Ensino Centro
Profª Drª Dislaine Zerbinatti – FEUSP – laboratório de Ciências Sociais Oeste e concordância dos professores participantes, combinamos que a
Prof. Dr. Vinicio de Macedo – FEUSP- Laboratório de Matemática versão preliminar do Didática no Cárcere deveria ser experimentada e testada
Prof. Dr. Sandoval Nonato – FEUSP- Laboratório de Linguagens durante o 1º semestre de 2018 em salas de aulas. Os professores lotados
Profª Drª Maria Clara Di Pierro – FEUSP, Educação de Jovens e Adultos na Diretoria Centro Oeste foram “autorizados” por sua supervisora para
que pudessem flexibilizar o Currículo Oficial do Estado que orienta suas
2. Equipe de Pós-Graduandos FEUSP atividades didáticas, liberando-os assim para procederem à experimentação
Prof. Drª Carolina Bessa Ferreira de Oliveira pedagógica da metodologia em construção.
Almiro Alves de Abreu (doutorando) No final de janeiro de 2018, durante o processo regular de atribuição
Jefferson Baptista dos Santos (mestrando) de aulas da Diretoria Centro Oeste identificamos os professores que reali-
Thaís Passos Barbosa (doutoranda) zaram o curso, as escolas vinculadoras para as quais foram designadas, as
áreas de conhecimento em que atuariam e as disciplinas que ministrariam,
3. Equipe de Monitores USP
assim como os dias e horários de aulas para que os monitores do projeto
Matheus de Oliveira Arouca – Licenciatura em Biologia
pudessem acompanhá-los. São as experiências desenvolvidas neste contexto
Ananda Ananias Felisberto – Licenciatura em Pedagogia
que serão relatadas aqui, por áreas de conhecimento.
Samuel Feitosa Vanique – Licenciatura em Química (saída em 02.12.2017)
Bruno Vinícius Barbosa – Licenciatura em Matemática Os encontros com este grupo foi mensal utilizando-se das ATPCs – Aulas
de Trabalho Pedagógico Coletivo – que é o tempo destinado à formação
4. Equipe Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste continuada dos professores em exercício na rede estadual de São Paulo e
Profª Marineila Aparecida Marques – Supervisora DERCTO/SEE de duas reuniões de OTs – Orientações Técnicas -, que são convocações
Profª Laís Barbosa Moura Modesto – PNCP DERCTO que a Diretoria Regional de Ensino faz aos seus professores para formação
Fernando Lopes – Analista Sociocultural continuada. Em cada reunião, da qual participavam o gestor penitenciário, a
equipe da Diretoria de Ensino, a equipe da Feusp e os professores lotados
5. Consultoria Editorial nas prisões, fazia-se a atualização das práticas por meio de relatos dos
Alex Giostri – Editora Giostri professores, socialização das experiências nos outros contextos e exercícios
de como incorporar os conteúdos da Didática no Cárcere nas práticas coti-
dianas de aulas na prisão. Ao final da produção do livro parte deste grupo
foi convidada para uma leitura crítica da obra, reunião que aconteceu no
dia 25.07.2018, das 18 às 21hs no Auditório da Faculdade de Educação.
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Entrevista dos alunos da Pedagogia USP com Frei Carlos Josaphat, em 04.07.2018
como conclusão do trabalho História de Vida como Metodologia de Pesquisa.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
Profª Eliane Vasquez e Prof. Almiro Alves com parte dos participantes do Curso
de Especialização Docência para a Educação Penitenciária, UNIFAP, 2018
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
ou a afirmação de uma nova identidade devido aos novos conhecimentos não sofrerem alguma sanção leve ou mesmo de regredirem para o regime
que adquiriu, a professora usou bexigas nas quais os alunos escreveram fechado. Por isso, para que essas vozes pudessem ser ouvidas de maneira
palavras chaves que indicassem como se veem, como são vistos, ou estigmas, mais livre, o recurso didático da linha do tempo, na qual as alunas situaram
estereótipos e preconceitos que os marcam. Estourar a bexiga adquiriu o suas próprias existências e trajetórias, funcionou como uma âncora para que
sentido de livrar-se deles. Claro que foi preciso avisar previamente os agentes esses discursos pudessem ser produzidos com mais segurança; entendo que
penitenciários em serviço que aquilo ocorreria para não confundirem com os sujeitos são sujeitos históricos e, portanto, estão imersos em contextos
tiros o estouro das bexigas. histórico-políticos dados previamente.
A 6ª aula, para finalizar a sequência didática, foi o momento de expressar Para tanto, o espaço de sala de aula se configura como um espaço privi-
livremente, por meio da redação, o que querem, o que pensam, o que sentem legiado para o diálogo e a produção de outras formas de afectos que as
e o que sonham. A tarefa ficou mais fácil ao ser embalada por uma música fazem reconhecer seus lugares de fala e de sua legitimidade, muitas vezes
com letras adequadas para a reflexão, depois, é claro de muita discussão se descredenciada. A correlação entre o funcionamento da sociedade com o
tal letra era ou não pertinente para o propósito. funcionamento da vida no meio natural foi o eixo principal que norteou
as pesquisas envolvendo os Direitos Humanos, a partir do recurso da linha
do tempo.
2. Relato de prática da área de Ciências A ideia principal de usar a linha de tempo da história individual era fazer
Humanas e Sociais com que as alunas do CPPF e os alunos do CDP II e III se reconhecessem
enquanto seres históricos, entendessem os fatos históricos e também a
Durante a realização de aulas concomitante ao proposto para elaboração importância e impacto desses em suas vidas. Deveriam marcar nessa linha
da presente obra, Didática no Cárcere, algumas experimentações didáticas foram os acontecimentos pessoais que se sentissem a vontade para compartilhar
testadas no primeiro semestre do ano de 2018 com as alunas do Ensino com o coletivo e também apontar fatos marcantes da história que estivessem
Fundamental II – EJA e do Ensino Médio – EJA matriculadas do CPPF presentes na memória.
Butantã no CDP Pinheiros. Um desses conjuntos de aulas foi uma aula Ao longo das aulas esse se tornou nosso instrumento de trabalho,
contextualizando os Direitos Humanos, sondando qual o entendimento elas conforme os conteúdos eram vistos eles deveriam pontuar em suas linhas de
tinham a respeito de sua aplicabilidade no contexto prisional em que vivem. tempo, porém outras possibilidades de como utilizá-la surgiram ao decorrer
Motivadas para “Entender a Natureza para entender o ser humano e das aulas. Alguns tinham curiosidade em saber o que havia acontecido
seu mundo”, o tema Direitos Humanos foi explicado e entendido como numa determinada época que foi importante/marcante em sua vida e isso
extensão de regras, normas e leis naturais que organizam a Vida na Natureza possibilitou aprofundar bastante em alguns acontecimentos, como, por
nos aspectos da inteligência, da memória, da história, da linguagem e da exemplo, Estado Novo, Ditadura Militar, surgimento dos movimentos sociais,
comunicação, o que possibilitou às alunas compreenderem as relações entre desemprego e eleição de uma mulher para presidência do país. Conseguimos
as realidades que vivem com os dos demais seres vivos que habitam a terra. dessa forma, partindo da realidade do aluno, estudar conteúdos previstos
Ao comentarem sobre a possibilidade de expressarem as mazelas que no currículo e fazer um paralelo com os acontecimentos atuais do país, que
afligem a vida coletiva aos funcionários da corregedoria ou mesmo às poucas refletem diretamente na vida da população carcerária.
associações que adentram no espaço com esse objetivo, fica evidente o
receio de serem punidas posteriormente, mesmo quando há a garantia de
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
3. Relato de prática de Alfabetização provisórios, de alta rotatividade em sala de aula multisseriada e com poucos
Científica na área de Linguagens recursos didáticos pedagógicos. Levou-se em consideração também que
a escrita ainda é um recurso funcional para o preso, o seu principal meio
de comunicação com o mundo exterior, com a família, amigos, órgãos e
Na Didática do Cárcere temos insistido que a capacidade comunicacional
serviços de seu interesse como o sistema de Justiça e ouvidorias para o
é mais importante do que a competência gramatical. Parte significativa do
encaminhamento de queixas, denúncias e reclamações.
déficit de desenvolvimento que levou a pessoa à prisão se deve, fundamen-
O exercício com bilhetes direcionados a diferentes pessoas, contextos
talmente, à dificuldade de entendimento das regras de convivência social,
e situações pode evoluir para outras formas de comunicação escrita como
do conjunto de códigos, símbolos e valores que regem as relações humanas
cartas, currículo, relatos, poesias, contos etc.11
e sociais, à ausência de empatia para sentir o que o outro sente e à falta
de habilidade para resolver conflitos e superar dificuldades por meio do Ao final da experiência a Profª Marinilda relatou que:
raciocínio crítico, do diálogo e de forma pacífica.
Priorizar a capacidade comunicacional em detrimento da competência A construção do projeto Bilhete dentro do CDP II foi
gramatical significa entender que cada grupo, cada estratificação social possui vista como uma ótima estratégia de ensino, pois enfatizou
um conjunto de códigos, de símbolos e de valores que são suas referências diversos aspectos importantes não só para o ensino da língua
de organização, de pertencimento e de comunicação mesmo que seja não portuguesa, como também nas diversas áreas envolvidas, tais
quais: a emoção, a coordenação motora etc.. A mesma superou
verbal. O percurso que vai da favela para a rua, da rua para o abrigo, do
os objetivos almejados de professores e alunos, pois contribuiu
abrigo para a escola e desta para uma família adotiva, por exemplo, pres- para a apreensão dos conteúdos já mencionados, além de ajudar
supõe o domínio de pelo menos quatro conjuntos de códigos, símbolos na discussão da importância da comunicação. Outro aspecto
e valores cujo conhecimento e domínio são essenciais tanto para transitar bastante relevante observado no trabalho, foi o comprometi-
quanto para se sentir pertencente a estas esferas da vida. Neste percurso a mento por partes dos alunos, professor e CDP II.
pessoa vai passar por domínios sobre os quais ela não tem interesse porque
é percebida e tratada como mero objeto, logo, não há nem interesse nem 4. Relato de prática de Alfabetização
necessidade de se aprender e dominar o conjunto de códigos, símbolos e Científica em Ciências da Natureza
valores da burocracia que rege Conselho Tutelar, instituição de abrigos,
equipes técnicas, polícia ou Poder Judiciário. Mas se a pessoa for para uma
1. Os professores Clemilson, Rose Mary, Nilda, Geraldo e Elcio, que
unidade de internação da Fundação CASA aprender e dominar rapidamente
lecionam no CDP III Pinheiros (Centro de Detenção Provisória), que
os códigos, símbolos e valores que ali predominam, que regem as relações
tem como escola vinculadora a E. E. Romeu de Moraes, propuseram aos
e que determinam a posição no grupo social é questão de sobrevivência.
alunos de Ensino Médio a realização de uma atividade que denominaram
Isso nos leva a deduzir que a capacidade comunicacional deriva o grupo
Projeto Aquaponia. Com o auxílio dos monitores Rafael Tadeu Toledo e
social a que o indivíduo pertence ou de grupos nos quais ele queira se inserir
Allan Oliveira (reeducando), a equipe realizou estudos prévios da literatura
ou pertencer. A necessidade determina a aprendizagem.
Esse foi o que levou a Profª Marinilda a desenvolver o Projeto Bilhete 11. Neste momento estava ainda em fase inicial o projeto Cartas do Cárcere, que consiste
na análise de cerca de 15 mil cartas redigidas por presos e seus familiares à Ouvidoria do Departamento
para uma turma dos anos iniciais no CDP II de Pinheiros, local de presos Penitenciário Nacional, sob responsabilidade da equipe da Profª. Drª Thula Rafaela de Oliveira Pires, da
PUC/RJ.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A Aquaponia se apresentou como uma inovadora metodologia no processo
de ensino - aprendizagem, pois com a construção do Sistema Aquapônico, os
alunos obtiveram melhor compreensão sobre os conteúdos de Física, Química
e Biologia que estão presentes em atividades produtivas como a importância
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
das bactérias para o meio orgânico, o ciclo do nitrogênio, pH, construção e A experiência mereceu diversas matérias e reportagens.
funcionamento do sifão etc. Além disso, ela propiciou uma maior integração
aluno-professor / aluno-escola; gerando um momento oportuno para discutir Vídeo no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=yumm7IxRyWQ
a importância da sustentabilidade. Contribuiu para ajudar na formação de Matéria no site da Secretaria Estadual de Educação:
http://www.educacao.sp.gov.br/fotos/3407/
cidadãos capazes de viver em equilíbrio com o Meio Ambiente.
Matéria no site da Secretaria da Administração Penitenciária:
http://www.sap.sp.gov.br/noticias/not816.html.
CONCLUSÕES:
O professor Clemilson esclarece que o interesse dos alunos surgiu durante
aulas que abordavam o tema sustentabilidade, nas quais eles demonstravam
preocupações com a crise da água em São Paulo e a possibilidade de reuti-
5. Relato de Fabiana do Amaral Godioso e
lização da água. A proposta de construção do sistema aquapônico no CDP
Jaqueline Sadala Mendonça
III mostrou a todos que o exercício de responsabilidades sociais no enfren-
tamento e solução de problemas do cotidiano favorece o desenvolvimento
A disciplina foi bem diferente das outras que tivemos até agora. Foi
de habilidades e competências sociais importantes para o exercício da vida
importante no sentido de voltar nossa atenção para a questão do indivíduo e
em liberdade, além da Alfabetização científica e da sistematização de saberes
do educando, refletindo sobre a pedagogia e para quem se aplica, chegando,
com vistas à elevação de escolaridade e à qualificação para o trabalho.
dessa forma, às histórias de vida.
Foi uma disciplina na qual pudemos vivenciar coletivamente o trabalho
de pesquisa de uma história de vida e seus contextos históricos, assim como
experimentar o Genograma, a Linha de Tempo e outras ferramentas que
auxiliam o pedagogo em seu ofício.
Os exemplos de Genograma que fizemos em aula auxiliaram a ter uma
visão da possibilidade de uso na pedagogia. De fato, conhecer o indivíduo
ajuda - e muito - o ensinar. A proposta feita pelo professor de estudar a
história de vida do Frei Carlos Josaphat, nos permitiu colocar em prática o
que vimos durante o curso. Produzimos uma linha do tempo individual da
vida do Frei que nos permitiu trabalhar com o campo das ciências humanas
envolvendo História, Filosofia, Sociologia e Geografia. Isso se deu na forma
de aprendizagem colaborativa, em que conseguimos trocar conhecimentos
e habilidades durante a produção.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
6. Relato de Gabriel Garcia Carvalho, Julia Marques, ficou responsável pela década de 1930, época em que o Frei entrou para o
Mariana Caló, Pillar Bellardi Costa, Tainá Mazzarello seminário com 12 anos de idade, e uma década com grandes acontecimentos
Gonçalves e Vitória Esperança Escribano Pereira políticos como a entrada de Getúlio Vargas no governo.
As aulas ministradas durante a disciplina foram essenciais para que nós 8. Relato de Eduarda Mayumi de Moura Yamanaka,
pudéssemos entender o funcionamento das pesquisas nacionais e também Natalia Gimenes Soares e Verônica Rodrigues Alves
para nos apresentar novos métodos de desenvolvê-las que fogem dos tradi-
cionais apresentados no âmbito acadêmico. Foi elucidante compreender a A disciplina de Pesquisa Educacional nos proporcionou grandes apren-
importância de histórias de vida como algo além do campo da socialização dizados. Ingressamos na matéria esperando que fôssemos estudar sobre
entre indivíduos, e ver como elas se mesclam e, além disso, fazem parte métodos de pesquisa científicos, estatística, normas ABNT e outras coisas
da história da humanidade. Acreditamos que sem as experiências vividas mais que estamos cansados de ver na graduação. Poder trabalhar com a
durante o curso não teríamos achado outro espaço na universidade que pesquisa de memória, a pesquisa a partir da pessoa, foi gostoso e inovador,
nos permitisse valorizar a vivência pessoal de cada indivíduo como parte visto que muitas vezes a experiência pessoal não é levada como fonte impor-
intrínseca e significativa da história. Em nosso ponto de vista, o conjunto tante. Ter a oportunidade de entrevistar o Frei Carlos Josaphat foi, com
pesquisa e aulas foi muito válido para a nossa experiência acadêmica, pois certeza, uma experiência única. Descobrir sobre a vida dele foi interessante,
nos proporcionou um contato próximo e prático na produção de pesquisa e perceber que uma pessoa viveu tantos momentos históricos importantes
de uma pessoa e sua história de vida. Entendemos que para podermos para o mundo e ainda está aqui para poder compartilhar sua visão conosco
investigar uma pessoa e sua obra, é necessário se aprofundar em diversos foi enriquecedor. A pesquisa de memória é, com certeza, algo que vamos
aspectos que contextualizam a vida desta pessoa, inclusive os acontecimentos levar para a nossa vida, e finalizamos o curso felizes com a oportunidade
do mundo e do país que ocorreram durante a vida do entrevistado. que tivemos de, junto à Universidade de São Paulo, podermos aprender
sobre um modo diferente de se fazer pesquisa.
7. Relato de Barbara Aline Silva dos Santos,
Fernanda Reis, Helena Guimarães, 9. Relato de Ione Messias e Ana Beatriz Prudente
Sara Viena Moreira e Yago Odilon Silva
Ao realizar as leituras e as pequenas atividades em sala de aula foi possível
Durante o semestre o professor Roberto Silva nos auxiliou na introdução esquematizar uma linha do tempo para o trabalho final. Por conta dessa
da pesquisa, nos indicando diversos tipos de metodologia e direcionando disciplina e do trabalho com o Genograma, pude dentro da escola onde
quais nichos são mais relevantes no levantamento de dados. A partir dessa atuo como professora de matemática, ampliar meus conhecimentos sobre
introdução o professor nos apresentou o projeto “Museu da Pessoa”, que o assunto através de uma proposta didática do Caderno do Aluno, volume
reúne diversas histórias pessoais de anônimos e famosos, e dessa forma nos 1 do 6° Ano do Ensino Fundamental. Ainda dentro de sala aprendi a
permitiu iniciar uma pesquisa pessoal sobre Frei Carlos Josaphat. Para iniciar escrever e relacionar a história de vida do entrevistado, organizando-a por
a pesquisa, a sala foi dividida em grupos e cada grupo foi designado para décadas, além de mergulhar mais a fundo no trabalho realizado pelo Museu
abordar uma determinada época de sua vida privada e contexto histórico da Pessoa e estreitar laços com Lilian Contreira, profunda conhecedora da
do período a fim de estabelecer relações com a sua trajetória. Nosso grupo história de vida de Paulo Freire e do entrevistado.
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
O trabalho em grupo consistiu em organizar e relacionar a história 10. Relato de Juliana Marques Bandechi, Millena
pessoal, a história nacional e a história universal dentro de uma década Miranda Franco, Paula Rabatone Oliveira,
escolhida. Nosso grupo optou em escolher a década de 60 a 70. Como não Stephanie Oliveira Silva e Thayane Miliano Silva
sou profunda conhecedora de fatos históricos, busquei apoio da internet e
de amigos historiadores para a organização cronológica do acontecimentos.
Esta disciplina foi de grande importância para a reconstrução de nossas
A entrevista com o Frei Carlos Josaphat foi um momento único, viver
concepções pedagógicas. Possibilitou enxergar a Pedagogia como uma ciência
de perto um bate papo que constrói uma história de vida. Por vezes durante
estritamente humana e, como nos ensinou o professor Roberto, essencial-
a entrevista lembrei de meus professores e principalmente de minha avó,
mente antropológica. Aprendemos que em termos de Pesquisa Educacional
(que se estivesse viva teria 98 anos) e também foi professora. Por vezes
os resultados da pesquisa devem, sobretudo, ter aplicação e funcionalidade
viajei na história dos livros através de Frei Carlos, por outros momentos,
efetiva na realidade educacional, que tenha serventia para a sociedade.
fui tomada pela emoção e a certeza de ter vivido um momento único na
Para que a pesquisa seja feita de forma qualitativa é preciso que nós
história do meu curso e da FEUSP.
professores (as) tenhamos uma análise crítica sobre os dados que buscamos.
Esta disciplina foi de fundamental importância na minha formação.
O ser humano se esquece das informações mas, o aprendizado nunca sai
Confesso que nunca na minha carreira como professora tive meu olhar
da memória e possibilita novas conexões para a apreensão de mais conhe-
voltado à história de vida das pessoas. Esse olhar pedagógico veio em um
cimentos, para isso aprendemos que a história humana deve ser valorizada,
momento de minha carreira no qual desenvolvo um trabalho em escolas da
como ferramenta fundamental que entenda desde sua gênese até a realidade
comunidade de Osasco. Impossível não voltar os olhos a este fato histórico
de cada indivíduo e da própria sociedade.
humano da vida do aluno.
Para isso, entendemos que é importante na Metodologia Científica, o uso
Sobre Frei Carlos, ainda estou em êxtase. Foi uma entrevista histórica
dos cinco sentidos humanos. Ao aprimorar cada uma dessas especificidades
pedagógica e de alma. Algo para se levar para sempre. Pesquisar a biografia
na esfera micro, pode-se chegar ao macro. Da esfera micro, temos uma
do Frei me despertou interesse em conhecer seu trabalho na igreja e também
célula nos contando sobre a história da evolução das espécies (memória
de conhecer mais sobre a literatura vasta assinada por ele.
celular) e da macro temos todo o complexo tecido social que está envolto
Eu entrei desmotivada na FEUSP vinda de um curso de exatas na qual os
por constantes inovações tecnológicas que potencializam ainda mais nossos
meus planos sobre educação eram de finalizar minha carreira o mais breve
cinco sentidos (visão, audição, tato, palato, olfato). Aprendemos a valorizar
possível. Confesso que por conta dessa vivência puder rever meus conceitos.
esses sentidos humanos enquanto ferramenta de pesquisa, que possibilita a
Obrigada por me proporcionar toda essa experiência de vida, experiência
união das informações e por meio dessa união o produto pedagógico mais
esta que dentro de uma classe de professores deve ser disseminada, visto
importante nasce, o aprendizado.
que pode ser algo motivador e esclarecedor, assim como foi para mim.
Depois que compreendemos a importância da Pesquisa Educacional,
vimos ferramentas imprescindíveis na coleta dos dados e os meios pelos
quais poderíamos esquematizar e conectar as informações para gerar conhe-
cimento. A partir dessa disciplina, pudemos ressignificar nossa relação com
os cinco sentidos em termos de pesquisa e do quanto fazem-se importantes
para o progresso humano. Para isso, recobramos a importância da linha do
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
tempo, do Genograma, do mapa conceitual que sistematizam os saberes, que representa a história viva. Com certeza uma experiência única e muito
são provenientes da alfabetização científica e dão acesso à história de vida. importante para nossa formação. Além de servir como conclusão desta
Por exemplo, a visão nos fornece informações eletromagnéticas e nos disciplina, de forma a causar-nos a reflexão sobre as aulas presenciadas e o
possibilita o processamento de dados que pendem para as artes pictóricas; conhecimento construído. Esse é realmente o sentido da Pedagogia: uma
a audição fornece informações sonoras que podem ir para a música; o tato pedagogia fractal, uma ciência que dispõe de tudo o que as potencialidades
capta informações cinestésicas, que têm a ver com a Inteligência corporal humanas têm a oferecer. Através das aulas desta disciplina, tais poten-
e se expressa por meio da dança, do atletismo e dos esportes; o palato e o cialidades foram aprimoradas e questionadas, de maneira a nos permitir
olfato captam informações químicas que constituem memórias gustativas comparar a complexidade da prática docente com o que se dá na natureza,
e olfativas importantes para as sensações de equilíbrio, harmonia e bem exemplificado na geometria dos fractais, na diversidade das tonalidades
estar, respectivamente. Estes sentidos são fundamentais, pois todos os seres (como os diferentes “verdes” em uma árvore), a proporção, a simetria,
humanos os possuem e é por meio deles que se faz observação, descrição, o equilíbrio, a harmonia, a beleza e a perfeição que podemos refletir no
comparação, análise e síntese em todas as áreas de conhecimento. desenvolvimento da educação.
Em sala de aula, nunca nos esqueceremos da frase que nos disse o
professor Roberto: “(...) a alfabetização científica parte do pressuposto de 11. Relato de Amanda Daher de Moura, Paulo
que para entender qualquer outra coisa é preciso entender os cinco sentidos Alexandre Goncalves da Silva, Sueli Teixeira da Silva
humanos”. Essa frase é impactante, pois os sentidos agem como portais e e Susana Caetano de Souza
portadores da história ao mudar nossa relação com o aprendizado, já que é
muito mais intenso o aprendizado que faça conexão de informações apreen- A proposta trazida pelo Professor Roberto da Silva - e que ganhou
didas por mais de um sentido do que aquilo que permanece a flutuar como forma ao longo do semestre na disciplina “Pesquisa Educacional” - pode
informação, fora da realidade. Também, tivemos acesso a importância da ser considerada inovadora no ambiente da FEUSP. Em geral, a pesquisa
história individual como um recorte da história da humanidade, sobretudo, acadêmica nos cursos de graduação costuma limitar-se à revisão biblio-
no conhecimento do Museu da Pessoa. Esse espaço, se ocupa do resgate da gráfica do tema escolhido, seguida de uma reflexão que tenta associar os
história individual, objetivando a recriação de um mundo de seres humanos conteúdos abordados em sala de aula a alguma questão de interesse do
únicos, com histórias individuais. Nós tivemos o privilégio de fazer o mesmo graduando, com pouca utilidade prática para o estudante, para a FEUSP
na prática, tentando reconstruir nossa árvore genealógica por meio do ou para a comunidade.
Genograma, esquematizando nosso aprendizado na disciplina em mapas Nesta edição da disciplina, contudo, além de trazer orientações para a
conceituais (aprendemos fazer uso dessa ferramenta) e construindo uma pesquisa acadêmica, o professor Roberto nos apresentou ferramentas de
linha do tempo sobre a vida do Frei Josapha, o que nos permitiu acesso à pesquisa que nos permitem (e/ou permitirão) trabalhar com pessoas e
sua história e nos guiou para uma entrevista qualitativa que valorizou sua suas interrelações (nos âmbitos pessoal, local, regional, nacional, mundial
história individual e que foi distinta de todas as outras que já lhes foram e universal). Utilizar o universo, a natureza e corpo humano (com seus
feitas, com perguntas diferentes. órgãos dos sentidos) como Matrizes de Aprendizagem é um grande desafio.
A entrevista com o Frei Josaphat foi um momento inesquecível. Todavia, em situações de limitação da liberdade ou de extrema pobreza,
Identificamo-nos com a história dele, fato que também contava muito sobre pode ser uma das poucas ferramentas à disposição do professor. Saber que a
algumas de nós. Com esse momento pudemos ter contato com uma pessoa obra “Didática no Cárcere” está sendo testada por professores em unidades
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II DIDÁTICA NO CÁRCERE II
Biagi - Tânia Fetchir - Tatiana Pereira Lima - Thais Barbosa Passos - Thais De acordo,
Bartijoto de Oliveira - Therezinha de Jesus Moraes Limongelli - Tiago Oneida Toniol Fioriti
Alves Pereira - Valter Ferreira de Melo - Vania de Oliveira Gonzalez - Vilma Dirigente Regional de Ensino
Pereira Nunes de Araujo - Walter Soares de Souza - Wellington Henrique
Rodrigues - William Vinicius Pinto.
ANEXO II
Convocações para formação
E-mail nº 203/2018
Sr. Diretor,
Convocamos nos termos do inciso I, do artigo 7°, da Resolução SE
nº 61/2012, os professores coordenadores e professores do CDP II e III
(EE Romeu de Moraes) e do CPP Butantã (EE Lourival Gomes Machado)
pertencentes a Diretoria de Ensino Centro-Oeste.
Data: 15 de junho de 2018
Horário: 13h
Local: Diretoria de Ensino Centro-Oeste
Endereço: Avenida Rio Branco, 1260 - Campos Elíseos
Marineila Marques
Supervisora de Ensino
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DIDÁTICA NO CÁRCERE II
ANEXO III
Autorização Secretaria da
Administração Penitenciária
https://correio.usp.br/service/home/~/Autoriza%C3%A7%C3%A3o%20SAP.
jpeg?auth=co&loc=pt_BR&id=102919&part=2
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Para receber nossas novidades envie e-mail para:
contato@giostrieditora.com.br