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Francisco José Peneira

O que sãoDireitos da Pnsoa


O Negro no Brasil Dalíno de Abriu Dallari
JÚlioJ. Chiavenato
Território Negro em Espaço O que é Etnocentrismo
Everardo P. Guimarães Rocha
APARTHEID
Branco
M. LourdesBandeja
o horror branco
O que é Geopolítica
Demétrio Magnoli na Africa do Sul
Tumbeiros
RobertE. Conrad 5a edição
O que é Racismo
JocÍ Ruâinodos Santos

editora brasiliel ;e
Copyright e) by Francisco rosé Peneira, 1985
Nettlzumaparte desta publicação pode ser grauiüa,
armazentaõlaem sistemas eletrõnícos, fotocopíada,
reproduzida por meios mecânicos ou ozztrosquaisquer
'' ' sem auforízação préuía do edífor.

ISBN; 85-ii-02za2-z
Primeira edição, ]985
5a edição, 1989

Reoísão: /osé W. S. À4oraes e l.ucienne M. 1.. Pereirn ÍNDICE


Capa e jlwtrações; SamuelRibeiro JúltÍor

Introdução . 7
,4jormação Anlóríca(sucfmfamenre) . 9
Opaís (.breves informaçõesà 18
Apartheid: O horror branco na Atfrica do Sul 25
A legislaçãodoapartheid 57
A ''Carta da Liberdade Programa do Povo
Sul-Africano 66
Consideraçõesfinais 75
Indicaçõespara leitura 80

Rua da Consolação, 2697


0141óSão Paulo SP
Fome(O1]) 280-]222 - Telex: 1] 3327] DBLÀ4 BR

IMPRESSA NO BRASIL
INTRODUÇÃO

11
O aparf&eidna Ãfrica do Sul é, seguramente, a
forma mais cruel de dominação social no mundo pre-
sente. Trata-se do mais exacerbado racismo e domi-
nação branca no continente africano.
Condenado pela Organização das Nações Uni-
das (ONU), que mantém o Comité Especial .4nfí-
Aparf#eíd, e repudiado pela consciência democrática
de todo o mundo, o apa#&efd (sistema de desenvolvi-
mento nacional separado, ou apartado, segundoa cor
e a raça) nega os mais elementares direitos à imensa
maioria negra na Ãfricâ do Sul.
Não obstanteessa natureza primitiva do apar-
f&eíd, o fenómeno é pouco conhecido no Brasil,
incluindo, de certo modo, a própria comuni-
dade académica. Esse fato se explica, em boa parte,
pela ausência quase que absoluta entre nós de litera-
.4 "eez«. tura especializada sobre o aparfãeld. O presente tex-
deloão Cân{ to, por isso mesmo, sem pretender obviamenteesgo-
Francisco José Porei.
8

L.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA
(SUCINTAMENTE)

O racismo correu paralelo à expansão colonial.


Na Ãfrica, a base teórica de fundamentaçãodesse
racismo, que justificava no plano político e econó-
mico o domínio e a acumulação colonial, classificava
os povos conquistados como raças íllÁerlores. Essa
fundamentação, além de outras e mais sérias razões,
se desfigura pelo simples fato de civilizações avança-
das como as da China e da Índia terem sido igual-
apartheid:
mente submetidas às praticas do racismo durante o
domínioeuropeu. Na Ãfrica do Sul, também, seu
anual e exacerbado racismo seguiu imediatamente à
dominação militar e económica dos povos africanos.

Os primeiros contatos
Na busca de um caminho marítimo para as in
11
10 Erancüco rosé Penal..4pa##eíd; O Hbrnor .Branco ma.ûfca do -Su/

te deles foi reduzida ao trabalho forçado. Os que re-


sistiram também emigraram e, mais tarde, ainda
sob o impacto da expansão estrangeira, tiveram no-
vamente que emigrar, desta vez para o deserto de
Kalahari, muito distante de suas antigas e férteis ter-
ras do Cabo.

A resistência nativa
A continuada expansão dos holandesesou óoers

EXHgl;lhw: encontrou, mais ao norte, uma resistência maior en-


tre os xÀosas, povos com mais avançada organização
social, de tradição guerreira e, portanto, mais bem
armados. Osx&osas,agricultores, conheciame prati-
cavam também a pecuária e, nesse caso, suas exce-
Rm e gado -- deixaram de favorecer o continuado sa- lentesterras e grandes rebanhos logo se constituíram
em verdadeiros troféus e estímulos à crescente expan-
que e se constituíram em obstáculos à escravidão. são colonial. A heróica resistênciax#osa só termina
Os primeiros cantatas dos holandeses na região
foram com os hofenfofes e os bosqalmanos..Desde em 1819,durante a chamada Quinta Guerra de Re-
resistiram sistência, travada contra os estrangeiros -- os óoerx,
esses primeiros contatos, os bosqulmaPzos
inicialmente, e os britânicos, depois. A derrota dos
aos esforços e interesses dos colonizadores boers por
faze-los sedentários e, com isso, submeto-los à sua povosx#osas representou, para o colonizador bran-
co. um botim de 480000 hectares de férteis terras e
economia agropastoril. Rebeldes, porém socialmente
30000 cabeças de gado. O líder xAoia, Makana,
pouco organizados e militarmente débeis, os óosqtll- morreu afogadoao tentar fugir da ilha de Robben,
manos resistiram durante anos, mas terminaram
então condenado pelos ingleses à prisão perpétua.
emigmndo para o interior do país e, s6 mais tarde, já A resistência nativa foi uma constante, e outras
no século XIX, foram praticamente exterminados seguiram a dos xÀosa.s. A dos zu/us, por exemplo,
ditrante a expansão zti/u, sob a direção política e mi-
dada a sólida organização destes, foi das mais herói-
litar do notável chefe Tchaka. Quanto aos &ofenfo-
fes ofereceram menor resistência, e uma grande par- cas e longas. Também a dos vendas, que, só em 1898,
;heid: O Horror Branco na Africa do Sul 13
12 Fraitciscorosé Pemf

nadem a soberanos holandeses) e cujas férteis terras


11 [ às vésperas do presenteséculo, foram submetidos. de quejá haviam tido notícias, deveriam ser incorpo-
radas à agricultura e pecuária.

A intervenção inglesa
A nova expansão holandesa
Nesse massivo êxodo, os óoerx encontram resis-
tências de povos locais, entre elas: primeiro, os en-
frentamentos com os nraóe/es, que, vencidos, recuam
proteção britânica. Nesse mesmo ano, os ingleses de- mais ao norte para territórios do anual Zimbabwe e,
sembarcaram no Cabo e, mais bem preparados,téc- depois, a dos ztz/us, cujo chefe Dingan, sucessor de
nica, financeira e militarmente que os boers pré-In- Tchaka, após derrotar e matar o líder doer Pieter Re-
desen-
dustriais impuseram seu prometo próprio de tief, em dezembro de 1838, é posteriormente senado
volvimentoe colonização, assumindo, em consequên- e morto por Andries Pretorius, que, em 1839, funda
cia, o govemo local. Em 1806, quando se agravam as a República Independente do Natal.
hostilidades entre a Fiança de Napoleão e a Ingla- O governobritânico da colónia, com sede no
Cabo, considerandoque Andries Pretorius e os de-
mais óoerx eram súditos ingleses e recorrendo ao
princípio de que todo súdito inglês continuava regido
inglês passa a ser a língua oficial na Ataca do Sul. pela lei inglesa mesmo quando fora de território in-
Em 1834, o Parlamento britânico aboliu a escrava- glês, ocupou e anexou, em 1843, o tenitório dessa
tura e, não obstante as anteriores demonstrações de recém-fundada República Independente do Natal aos
pouca eficácia na colónia,. esse fato trouxe maiores domínios da Grã-Bretanha. Os óoers, em sua grande
dificuldades aos interesses õoers, dependentes do tra- maioria, recusaram, na oportunidade, ofertas de ter-
balho escravo. .. . ras e, mais uma vez, emigraram.
A difícil coexistênciaentre boers e ingleses no Em carroças puxadas por bois, vão juntar-se aos
boerx que, durante a Grande Retirada do Cabo, ha-
viam fundado uma república ao norte do rio Vaal,
afluente do Orange. Aji, esses migrantes fundaram
em direção ao Norte, atravessando o fio Orange (as- entãotrês outras repúblicas: uma delas, na margem
sim batizado pelos óoers, já em 1779..:Jiuma home-
Francisco José Pereü irtheid: O Horror Branco na Ãfrica do Sul 15
14

finidas. A Inglaterra que desde 1854 havia outor-


sul, foi fundada por Pretorius. Em 1846,repete-se, gado, como se viu, independência formal às repúbli-
contudo, o mesmo ato britânico dp ocupação, com a ;as do Transvaal e de Orange, formulou, por seu
anexação dessa república fundada por Pretorius que, lado, nova política em face dessa igualmente nova e
após curta resistência, acaba recuando .para :'.f.n-
tiga república situada à margem norte do rio Vaal, promissora situação, com o evidentepropósito de res-
onde, recebidocomo herói doer, foi proclamado seu tabelecerseu controle e domínio na região.(Natural-
oresidente.. mente,as razões proclamadas pela Inglaterra foram
'"' Essa situação de instabilidade entre os coloniza- outras, como, entre elas, a de defender e assegurar o
dores brancos se modifica em parte .quando, em livre acesso à Fofa do Bode, através da qual os ingle-
1852, a Inglaterra reconhece a independência das re- ses, a partir da colónia do Cabo, alcançava l(atanga
e a região dos grandes lagos.)
públicas do Transvaal e, .dois anos depoisl em 1854 Iniciaram-se, com isso, as chamadas gaen'as
reconhecea autonomia dos territórios à margem do
boers, que só terminaram com a derrota destes, em
rio Vaal que, posteriomiente, se converteriam no Es-
tado Livre do Orange. Os boers deixaram, também, 1902. Pelo Tratado de Vereeninging, os óoers conser-
varam suas terras, e os ingleses ocupavam as minas.
de ser considerados súditos da Coroa inglesa.

As guerrasboers A criação da República


O rápido crescimento do capital financeiro da
Esse quadro só sofreria novas e profundas alte- economia mineira passou a caracterizar o novo avan-
rações com a descoberta, em 1867, de ri?as:jazidas de ço e o desenvolvimento de toda a região. A economia
ouro e diamantes no Norte do país(que hoje colocam
agrícola dos óoerx, se bem cresceu pelo impacto da
a República da Ãfrica do Sul nas posições,respecti- economia das minas(particularmente as da região de
vamente, de la e 2a reservas mundiais). .Esse .fato
veio modi$car substancialmente a economia de toda Orange), perdeu, todavia, influência e importância.
O mesmo, contudo, não se passava com a repre-
a região, pois jâ se previa, por suas dimensões, o po-
K
tencial dessas reservas. jsentatividade demográfica dos óoers, que, neste caso,
vinha progressivamenteaumentando seu peso rela-
Questões de jurisdição sobre a área dessas ámen. tivo. Formando a grande maioria rural, a taxa de na-
sas jazidas trouxeram imediatos problemas entre o talidade entre os óoers era mais alta que entre a po-
Território Autónomo de Orange e a República do IPulaçãobritânica, de predomíniourbano. No correr
Transvaal, cujas fronteiras eram então bastante inde-
17
Francisco José Pet )artheid: O Horror Branco nã Âftica do Sut
16

casta.Toma corpo o aparràeid, política oficial que


institucionaliza o desenvolvimento separado por ra-
ças, sob rigoroso comando da raça branca -- CQnsi
derada, a priori, e como elemento de fundamentação
trair-se no proletariado branco urbano. . ., .
ideológica do apara/zeíd, como de essência szzperz'or.
Os a#lkaaPzs -- assim chamados os propnel:Eos Nos anos que seguem, a legislação do aparfãeid
vai, cada vez mais, cobrindo e regulandotodas as
áreas e atividades da sociedade e economia sul-afn-
canas. Em 31 de maio de 1961, cinqüenta anos após
a formação da União Sul-Africana e mediante prévio
referendo nacional, são rompidos os vínculos com a
Grã-Bretanha, sendo criada a atual República da
formou.se a União Sul-Africana como domlnlon bri- l Ãfrica do Sul.
tónico,gozando(comoo Canadâe a Austrüia) aq AFRICA AUSTRAL

ou uma raça eleita, sê tomavam mais expostos.aq


fanatismoreligiosoe a um nacionalismomais exuel
Em meados deste século, os boers jâ represenlal
vam 60%oda população branca no país, e essa maio'
ria os favorecia dentro do sistema eleitoral. Em 1948, AFRICA D0 8UL

o Partido Nacionalista, de bases sociais predominana


falei
temente boers/aHrfkaaners, ganha as primeiras
çõese, desdeentão,não as perderiamais A parti
daí, se fortalece e adquire formas legais a prática ral
hein: O Horror Branco na Âftica do Sut 19

altitude média superior a 1 200 metros. Quanto ao


clima, predominam temperaturas moderadas. A mé-
dia anual é mais baixa na Ãfrica do Sul do que em
outros países de latitudes idênticas, devido, em gran-
de parte, ao predomínio das áreas de maior altitude.
Nb invemo, nas zonas mais altas, que vão de 1 200 a
1 800 metros, as temperaturas com frequência des-
cem abaixo de zero durante os períodos noturnos, e
ali as geadas são bastante comuns.
O PAIS
(BREVES INFORMAÇÕES)
A população
A população atual da Âfnca do Sul é estimada
Aspectos geográficos em 30 milhões de habitantes, dos quais apenas cerca
de 5 milhões são brancos. Hâ aproximadamente 2,5
A Âfnca do Sul, como seu nome indica, se situa milhõesde mestiçose 1,5 milhão de indianos. A
no extremo sul do continente africano, entre 22o e maioria da população está formada por negros, com
35o S. Limita-se, ao norte, com Botswana, Zimba- 21milhões,ou seja, 70%odo total da ps)pulaêãodo
bwe e Moçambique; ao sul, com os Oceanos Atlân- pais
tico e Indico; a oeste, com Namíbia e o Oceano Atlân- Os brancos descendembasicamente de holande-
tico; a leste, com Suazilândia e o Oceano Indico. sese britânicos que colonizaram a Àfrica do Sul. Os
Sua superfície é de 1 134017 km: , ou seja, um indianos só chegaram ao país em meados;do século
XIX, em sua grande maioria como trabalhadores
1! Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pa- para as plantações da Província do Natal, então sob o
ranâ, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Ja- controleinglês. Os mestiços, com maiorconcentração
neiro (cujas áreas somam 1 120446 km:). A divisão na Província do Cabo, resultaram da miscigenação
político-administrativa do país corresponde a quatro entre brancos e negros. Quanto à maioria negra, ela
grandes províncias: a do Cabo, a do Estado Livre de descendede povos e nações africanas, entre elas, os
Orange, a do Natal e a do Transvaal. xhosas,os zulus, os suázis, os sotos, os ntabelese
A maior parte do territórioencontra-sea uma outrospovos que habitavam o território sul-africano.
20 Ftancisco José Pet Lheid: O Horror Branco na Ãfrica do Sut 21

A língua Essa estrutura de poder manteve-sesem gran-


des variações até setembro de 1984, quando foram
O inglêse o a#lkaaner são as línguas oficiais d( introduzidas as chamadas reformas constitucionais.
país. Essa últimaé uma derivaçãodo idioma holan O Parlamento, segundo essas reformas, passou a ser
dês, no contato do colonizador com os povos e cultu formadopor três Câmaras: a Câmara dos Brancos
ras africanos. (mantendo a me?ma composição, 166.deputados):
sendocriadas a Câmara dos Mestiços (80 deputados)
e a Câmara dos Indianos (40 deputados), estas últi-
O governo mas eleitas em agosto de 1984, com poderes para le-
Em 31 de maio de 1910, os setores dominante gislar reduzidos a questões específicas e apenas sobre
das colónias britânicas do Cabo e do Natal,. ass aquelas pertinentes às suas respectivas raças.
como os setores holandeses das chamadas [epúblicí O presidente, agora eleito por um Colégio Elei-
autónomas do Estado Livre de Orange e do Transv toral integradopor 50 brancos, 25 mestiçose 13 in-
dianos, concentra também os poderes do primeiro-
ministro (figura que a reforma constitucional elimi-
nou), e preside, portanto, o Gabinete ou corpo de
ingleses.'SÓ cinqüenta anos mais tarde: em 31 d ministros. A reforma prevê o chamado Conselho
maio de 1961, cortados os laços que ainda restlava do Presidente, órgão formado por 60 membros, dos
do controle inglês, foi criada a República da Ãfnci quais 20 eleitos pela Câmara dos Brancos, 10 pela
do Sul. Câmara dos Mestiços e 5 pela Câmara dos Indianos,
A República da Ãfrica do Sul manteve então un sendo os 25 restantes indicados diretamente pelo pre-
sidente. Entre as atribuições deste Conselho, estariam
parlamentarismo inspirado no modelo inglês, Pq as de assistir ao presidente nas importantes questões
sando a ser governada por um Conselho Execuüvl
nacionaise nas decisõesfinais em caso de conflito
integrado pelo primeiro-ministro e seu Gabinete entre as três Câmaras.
presidenteda República, eleitopor sete anos, ün]
as limitações de poderes próprias do sistema paria' Há ainda, a nível de cada província, o Conselho
mentarista. O Parlamento estava fomtado pelo S Provincial, órgão legislativo com mandato de cinco
anos (igual ao mandato da Assembleia Nacional). O
nado, integrado por 51 membros(sendo 43 deles eld Órgão executivo provincial é constituído de um admi-
tos e os oito restantes nomeados pelo presidente
República) e pela AsêembléiaNacional, ou Câmaranistrador, indicado pelo presidente da República, e
outros quatro membros extraídos do Conselho Pro-
baixa, integrada por 166 deputados eleitos.
23
22 Francísco rosé Pena a##efd' O Horror Branco na Agríca do Su/

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24 Francisco rosé

gado bovino no país.


Nos anos 60, o produto interno real dessa CCi
nomia chegou à taxa anual de 6,1%o, contudo, na
década de 70, essa taxa caiu para 3,5%oao ano. Os
sinais de recuperação são ainda lentos e estrutural-
mente difusos.
A participação de capitais estrangeiros, em es.
pedal de multinacionais, na economia sul-africana
teve grande impulso nos últimos anos. A Inglaterri
tem mais da metade dos investimentos estrangeiros
no país. A segunda posição cabe aos Estados Unidos.
APARTHEID: O HORROR BRANCO
Nos últimos anos, os investimentos norte-americanos NA ÃFRICA DO SUL
na Ãfrica do Sul crescerama uma taxa de 20%oâi
ano e representam, atualmente, mais da metade do
total de seus investimentos no continente africano. A
penetração desse capital, embora alcance o conjunto O Estado da Ab'ica do Sul é, de fato, o único
das atividades económicas, está particularmente con- país do mundo em cuja Constituição esta inscrito o
centrada no setor mineiro e nas indústrias automobi- racümo, assim proclama o Comité Especial da ONU
lística, têxtil, eletrânica, de refinação de petróleo e contra o aparfãeld. Em recente reunião desse Co-
na produção de material de guerra. mité, a UNESCO, também órgão da ONU, apresen-
A rentabilidade do capital estrangeiro na Ãfrica l tou um estudo no qual compara a legislação do apar-
do Sul é estimulante. Contribuem, em parte, paul rãeld com a do nacional-socialismo da Alemanha pré-
isso os baixos salários pagos no país. Segundo al guerra. O estudo destaca a convergência das ideolo-
ONIJ, os salários dos trabalhadores negros, que, eml gias e adverte que a diferença se resume apenas
1945, correspondia em média a 25%o do salário pagol quanto ao objetivo final, ou seja, enquanto os nazis
ao trabalhador branco, em 1970 já representava ape- l pretendiam a eliminação da maioria judia, o sistema
nas 17%o . Por outro lado, a organização sindical des- l sul-africano não aspira à eliminação da maioria dos
sa maioria, que daria possibilidades para melhor ne-l africanos, pois o próprio sistema se nutre e depende
gociar condições de salário e de trabalho, só recente-l do trabalho dessa maioria.
mente, em 1980, foi reconhecida pelo governo sul-l Em ambos os casos, tanto no apara/zelasul-afri-
africano e, ainda assim, com extremas restrições. cano como no nazismo alemão, o racismo se funda-
Francisco José Pei [heid: O Horror Branco na Ãfrica do Sul 27
26

menta na crença da ''pureza racial" do homem bran- aceita geralmente como tal";
co. dotado de atributos que o fazem superior a qual- 3) o gmpo de cor, que inclui ''todas as pessoas
quer indivíduo de outra raça. Contudo? no caso da que não sejam membros do grupo branco ou do afi-
Alemanha nazi, esse racismo teria servido como base cano'
ideológicapara propósitos mais globais de domina- no presente texto, as expressões lz#lcano e ne-
gro são usadas indistintamente para referir-se a um
ção, enquantoque na Ãfrica do Sul o racismo, con- só grupo racial. O chamado g/upo de cor, que inte-
substanciado no apara;zela, expressa-se como meca-
nismo local de domínio próprio à manutenção de for- gra cerca de 2,5 milhões de mestiços e aproximada-
mente 1,5 milhão de indianos, está igualmente ex-
masprimitivasdeacumulação. . .. .
Nesse contexto de exacerbada dominação social, cluído dos privilégios e benefícios destinados ao gm -
dá-se uma perfeita correlação entre negro.e explo- PO bra/zco, embora o grau de discriminação e inten-
rado. Examinaremos, com mais detalhes, alguns as- sidade de exploração sejam menores, se comparadas
estascom as exercidas sobre o grupo aHrfcaBO.Dos
pectos particulares do processo histórico sul-africano
e suas correspondências específicas na estrutura de indianos, emergiu uma significativa burguesia co-
classe social que possam tornar mais compreensível a l mercial, porém, seu ingresso nas estruturas superio-
mencionada correlação rzegro-explorado, assim.como res do sistema económico está absolutamente impe-
o carâter e conteúdo das atuais, e cada vez mais sig- dido devido às barreiras de cor.
nificativas, mobilizações populares enganadasna luta Dentro da prática e técnica do apaH&efdo grupo
de libertação. . . de cor recebe um tratamento preferencial em relação
Antes, contudo, faz-se necessária uma referência aogmpo aHrfcano, contudo, insuficiente para modifi-
sobre a definição dos grupos raciais e da forma como car, em si mesmo, a natureza da discriminação e im-
eles serão tratados no correr do texto. Na Ãfrica do pedir a aliança natural desse grupo com a massa afri-
Sul, a definição legal dos grupos raciais é a seguinte: cana, nas suas manifestações e anseios de libertação.
1) o grupo branco, que inclui ''toda pessoa que
por seu aspecto seja evidentemente branca ou aceita
geralmentecomo tal, sempre que nenhum dos seus
progenitoresnaturais seja classificado como pessoa Explorado e negro
de cor ou africana, ou como membro de um grupo uma correlaçãoperfeita
étnico integrado por gente de cor" ;
2) o gmpo aHrícano, que inclui ''tod!.pessoal A legislaçãosul-africana, que, entreoutras, re
membro de uma raça ou tribo indígena da Africa, ou gula a propriedade e o controle dos meios de produ
28 Ftancisco rosé Pe\ Lheid:O Horror Branco na Af+ica do Sul

ção, o acessoao trabalho, educaçãoe cultura, ass


como o alcance e pratica dos direitos civis e políticos,
usa a cor como critério legal de desigualdade entre o
homens, reservando aos brancos todo um conjunt
de direitos e privilégios, extraídos ou baseados n
exploração negra. Embora a cor seja utilizada com
mecanismo institucional de domínio social, essa do-
minação se exerce, de fato, através da. exploração
económica. A propósito, são os brancos titulares ex-
clusivosde 87%odas terras cultiváveisda Ãfrica do
Sul, de longeas melhoresdo país, onde a nenhum
negro é permitida uma única parcela de propriedade,
cabendo-lhe, tão-somente, a condição de assalaria
a serviço de um proprietário branco.
Em razão desse quadro particular de dominação
racial, a Ãfrica do Sul -- embora seja uma socieda
capitalista, onde tanto o operário branco como o ope
rârio negro são igualmente objetos de exploração
fontes de mais-valia --, parece não admitir a coloca.
ção política expressa no confronto ou antagonismo
clássico entre operário (branco ou negro) e burgu

+
sia. Acontece que o operário negro na Ataca do Sul,
seja por lei ou por razões sociais instituídas, não s6
ocupa, no processo produtivo, uma posição distinta e
inferior que o diferencia do operário branco, assim
como o operário branco, devido aos mecanismos lo'
cais de dominação racial, identifica-se politicamente
com a classeburguesa, igualmente branca, numa ade'
são aos esforços desta por obter o maior benefício pos' No processo produtivo o operado negro ocupa, por lei.
cível do trabalho e exploração do negro. u 'na posição distinta e inferior ao operário branco.
A exploração do operário branco, nesse caso,
Francisco Josê Pt leid: O Hon'or Branco na Ãfrica do Sut 31
30

compensada por posições exclusivistas dentro do prc dólar.)


cesso produtivo e pelos privilégios económicos, soc Nessas condições particulares do desenvolvimen-
e políticos conferidos por um sistema de discrimin to do capitalismo sul-africano, parece possível admi-
ção e domínio racial, ao qual o operário branco es tir - a título de categoria analítica dessa realidade
plena e historicamente integrado. Não se trata, t particular -- a.existência de ''classe operária branca"
e ''classeoperária negra''; contudo, não seria possí-
pouco, no caso desseoperariado branco,.de uma sim vel defina-las, globalmente, como ''irmãs de classe''
pies fiação privilegiada da classe operária sul-abri.
e, muito menos, tomar essa conclusão como premissa
cana, s6 porque detém salários e posições superior
teórica.para instruir ou compreender a prática mili-
na produção de mercadorias. Embora isso sela u tante. E que tampouco há indícios, politicamente va-
M fato, não é essa posição que leva o operário branco
aderir politicamente à classe dominante; é simpl lidos, de que essa ''classe operária branca'', ou signi-
ficativos setores dela, adira à luta dos africanos pela

H mentepor sua condição de ''classe dominante" m


cada pela cor, o que o faz consciente de que seus pri
vilégios dependem da(ou estão particularmente rela.
destruição da base económica e das instituições sobre
as quais se concebeu e se pratica o apaHÀeíd. As re-
centes conquistas do trabalhador negro, como o aces-
clonados à) sobrevivência da própria burguesia:
A respeito das posições exclusivas destinadas so a determinadas profissões especializadas ou semi-
trabalhadores brancos, basta saber que o ministro especializadas, reduzindo privilégios e deslocando
Trabalho pode, em qualquer momento, reservar uml trabalhadores brancos a posições hierarquicamente
determinada classe de trabalho somente para br mais altas, porém cada vez mais escassas na organiza-
cos; prescrever a percentagem de africanos que u ção da produção, não parecem ainda suficientes para
empregador pode receber, ou proibir qualquer am- abrir rupturas e provocar massivas adesões brancas.
ador de substituir empregados brancos por.a sqa no contexto anual ou num futuro próximo. A hi-
canos. A pessoa branca que desrespeitar essa dispo póteseé que esse setor branco da classe operária
lição é passívelde multa até 200 rands, ou prisão pressionará
o sistema,a fim de ampliaros espaços
quepermitam a continuidade de sua integração.
um ano, ou ambas as coisas. Uma pessoa negra qi Se nas formas de produção urbano-industriais a
#. realizar, Soja como favor especial ou a título gratuito
uma atividade considerada ''especializada'' e desta exploraçãoé assim marcadamentenegra, no campo
nada a branco, é igualmente culpada de delito repri essa identidade é total. Não há praticamente campo-
nesesou trabalhadoresrurais brancos. O setorbran-
mêdocom multa até 200 rands, ou prisão por ui coque optou pela agricultura vincula-se à terra como
ano, ou ambasas coisas.(Rand é a moedadaÃfnl lproprietário, agricultor capitalista, ou como prepos-
do Sul, e l band equivaleatualmentea cerca de O,
Francisco Josê 33
32 O Horror Branco na Ãfrica do Sul

to daqueles na ocupação dos 87%odas terras culüv mais notável desse ''colonialismo interno'' está
vensdo país; os 13%orestantes são cultivados nas e.
servasAfricanas, onde há cerca de 8 milhõesde e. &:E=' :â::T!=H:':H:==XH
gros, com predomínio de uma agricultura em te h Sul é praticado pela nação branca dominante, de
altamentefracionadas. No Transkei, por exemp :m europeia, porém local. Isso, contudo, não pa-
uma vistoria no distrito de Umtata mostrou que 9S ã desnaturar o colonialismo que ali se aplica. Com
de famílias têm menos do que 3 ou 4 hectares de telra to, uma analise das formas históricas de opressão
(área considerada como minimamente necessária H domínioda nação africana não revelaria maiores
sustentoda família). No Ciskei, uma outra vistoia ferençasde exploração, martírio e sofrimento entre
mostrou que um terço de todas as famílias não p IS. período em que a Ãfrica do Sul era uma co16nia
@ subaabsolutamentenenhuma terra arável. alisa, governada por um contingente de colonos
)roncos, daquela em que esse contingente de bran-
. através da independência, adquire direitos for-
Um colonialismo interno maisde domínio direto sobre a população e o solo
africanos.
Essa deformação da clássica correlação de for ' Na solução neocolonial clássica, o Estado colo-
ças sociais próprias de sociedadescapitalistas se nizadorse retira do território até então colonizado e a
plicaria, na especificidadedo caso sul-africano, pe administraçãodo novo Estado passa, no caso, a ser
existênciade uma situação particular de ''coloni assumidapor uma nova e dominante elite local, man-
mo intimo'' que se teria consolidado ao longo do p tendo,porém, o antigo Estado e classe colonizadora
cesso de formação e desenvolvimento do sistema cal suas anteriores e estratégicas posições económicas.
talista local. Nocaso sul-africano, sabe-se, a classe ou nação colo-
Esse ''colonialismo intimo" sul-africano rtpi nizadora não pode retirar-se a um hipotético e dis-
duz as característicasprimárias do colonialismotrí tante Estado de origem; contudo, essa particulari-
dicional na Ataca, ou seja, sobre a população in( dadenão impediu que essa nação colonizadora en-
gana se institucionalizou uma real opressão nacioni contrasseuma solução igualmente particular e origi-
exercida pelo segmento europeu da população, q nal de neocolonialismo, para manter seu domínio
desde postos exclusivos da economia, administraç: político e exploração económica (confundindo, ao
e direção de um Estado capitalista altamente av mesmo.tempo,os anseios de libertação nacional da
çado, esforça-seem perpetuar um sistema de dis naçãoafricana). O fracionamento do próprio territó-
minação e exploração baseado na raça. A partic ), com a formação dos chamados ferrlfórlos negros
34 Francisco rosé id: O Horror Branco na Ãfrica do Sul 35

autónomos, conhecidos por baPzfzzsfões foi, de fato. da luta entre colonizadores, com a exclusão da nação
solução aplicada. africana. A segregaçãooficial começa em 1913,com
O autor, em 1980, entrevistou na cidade de a Lei de Terras que divide, então, o solo africano e
puto, capital da República Popular de Moçambiqt reduz a 13%oa possessão legal dos africanos sobre seu
Jacob Zuma, então representante do Wrlcan .AEa próprio território, enquanto que, para a comunidade
branca foram destinados os 87%orestantes. E, desde
rza/Cbngress-- ANC nessepaís. O ANC é o
então até agora, a posição de nosso povo em relação
importante movimento de resistência negra na Af à terra jamais mudou. SÓ aquelas comunidades
do Sul e o mais antigo movimentode libertação
dado no continente africano. No correr do tel
brancas tiveram direito a escolher o governo e a
administrar o país. Não se deu, dessa comia, uma
como forma de apoio ao tema e para sua me] independênciareal para o conjunto da população.
compreensão, reproduziremos trechos específicos Houve, isto sim, uma transferência de poderes a
entrevista: uma oração das nações colonizadoras que decidiu
ficar para sempre na Ataca do Sul, mantendo a ex-
Autor -- Pode-se falar de um colonialismo intel clusão da nação africana. Permanece, em conse-
da Âfrica do Sul? quência, uma situação de verdadeiro colonialismo
Jacob Zunia -- Essa é uma pergunta muito interno.
teressante, porque hâ muita gente que não enten{
bem qual é a situação no nossopaís e, por isso,
entende corretamente o tipo especial de colonialisr
internoexistentena Ãfrica do Sul. Vou voltar Bantustões -- confinamento negro
pouco atrás na nossa História para explicar melhc ou uma fraude à descolonização
Quando houve os primeiros cantatas do coloniz
com a nação africana, houve simultaneamente Os bantustões atuais encontram sua origem e
início do processode rapto de nossasterras. inspiraçãono próprio processo histórico de domina-
lutamos, meus antepassados lutaram contra os çãoe são uma decorrência do Sistema de Reservas.
lonizadores boer= e ingleses. Foi sempre por um pi
instituído na Ãfrica do Sul em meados do século pas-
blema de terra e dominação. Dividiram e admii sadocom o propósito de manter o uso barato da mão-
traram nosso país sem participação nacional. Com
descoberta do ouro e outros minerais na repúb de-obranativa e que, a partir de 1910, se integrou às
doer do Transvaal, os inglesesdecidiram formar instituições da então União Sul-Afncana. Essas Re-
Estado centralizado. Depois de algumas sérias r servas, em sua delimitação física, corresponderam,
tências boers, os ingleses se impuseram. Em 191C embora difusamente, aos originais e pequenos espa-
b
foi criada a União da Ãfrica do Sul, como result çostribais dominados após as lutas de conquistas. O
36 Francisco rosé 37
Id: O Horror Branco na Aftica do Sul

início da segregação teria começado com essas Re:


vas e conciliou a vocação racista com a vantagem
manter, disponível e separado, um formidável
tangente de mão-de-obra barata, com que a indúsl
e agricultura das áreas brancas se abasteciam li
mente.
Esses bantustões, localmentedenominados fi
rüórlos negros a:zfó/fomos, foram instituídos
1951, através da Lei das Autoridades Negras,
criou um sistema próprio de administraçãolocal
ferrífórlos autónomos reservados à população nei
Atualmente, no território sul-africano, existem
llH bantustões,ou seja: território negro autónomo
Ciskei, do Kuazulo, de Gazankulo, de Lebova, Ni
bele do Sul, Quaquá e Kanguane. Esse sistema Jacob Zzima
bantustõesfoi condenadopela ONU, em 1971,
nunciando e desvendando seus verdadeiros prop
tos. como os de ''dividir os africanos, confrontam
uma tribo com outra, enfraquecer a frente africana
sua luta pelos justos e inalienáveis direitos e consol
dar e perpetuar o domínio por parte da minoria br
ca
As lutas de libertação e resistência interna
povo sul-africano, combinadas com as crescentes
núncias internacionais contra o aparfãeíd, fizera
com que o governo sul-africano concebesse outr
formas ainda mais sofisticadas para suas antigas Ri
servas então transformadas nos bantustões, criand
dessa vez, novos mecanismos de domínio neocol Saiomon Ptaatye,
mal. Assim, nos últimos anos da década de 70, o lo secretario-geral
trás três dessesbantustões foram elevados à categoi do ANC, 1912-} 7.
38 Francisco rosé O Honor Branco na Àfrica do Sul 39

de .Enfados Independentes, por decisão e vontade


govemo de Pretória, recebendo apenas e exclusi Os cidadãos dessesEsfados, quando fora de suas
mente o reconhecimento da própria Ãfnca do St tciraspsão estrangeirosno resto do próprio país.
São eles: República do Transkei, criada em 26 de lo que pemiite ao apaN#eld maior racionalização
tubro de 1976, República de Bofutatsuana, em 6 la circulação e exploração da mão-de-obra emigran-
dezembro de 1977e República de Venda, criada A população de Venda é õãlculada em 300000
13 de setembro de 1979. pitantes. Do rendimento nacional bruto, cerca de
Esses Estados Independentes se organizam pol 6 é apontado pela população migrante que traba-
ticamente de acordo com uma Constituição con( coino estrangeira, no territóHo da Ãfnca do Sul.
bida pelo governo sul-africano e que, posteriorment população.residentede Bofutatsuana é de aproxi-
é aprovada pela Reptíb/fca nascente. No caso da adâHente 880000. A dependência dessa Repzíó/fca
pública de Venda, para tomar como exemplo, hâ praticamentetotal: para a.República do Bofuta-
Parlamento constituído pela Assembleia Nacional e uana, no ano mesmo de sua independência, a ajuda
presidente da República. O presidente é escolhi( para o desenvolvimento fornecida pelo governo
pelaAssembleiaNacional,compostade42deputa( Pretória somou 80%o das despesas públicas do ter-
''eleitospor sufrágiouniversal'', outros 42 deputa( )rio agora independente, chegando a 101 milhões
cooptados entre as autoridades tribais e mais três derands.
1:
putados de nomeação presidencial. Dentre os mei Com o desenvolvimento desses bantustões e Es -
bros dessa Assembléia Nacional, o presidentefoi fadosf/zdependenfes,surge uma classe negra diri-
um Conselho Executivo integrado por nove membi genteque, embora dependente, assume as responsa-
que dirigem os seguintessetores, denominados bilidades administrativas e parte das atividades eco-
nistério dos Negócios Estrangeiros, Ministério nómicas,particularmente comerciais. Essa nova clas-
Assuntos Internos, Ministério da Justiça, Ministéri( se, integrada por africanos, chamada a cooperar
dos Assuntos Económicos, Ministério dos Assunl nesseesforço de racionalização das formas tradicio-
Urbanose da Propriedadeda Terra, Ministério nais de dominação económica e racial, beneficia-se
Educação, Ministério da Saúde, Ministério da Agri dessaproposta neocolonial e adere, com sua enorme
cultura e das Florestas e Ministério dos Transportes cargade contradições, aos propósitos de minar o pro-
das Obras Públicas e das Comunicações.Funciona cessoe as lutas de libertação nacional.
um SupremoTribunal de Justiça com uma rede Com efeito, essa pequena elite dirigente, bene-
tribunais e instâncias inferiores. Esses Estados ande ficiadaà margem do aparfÀeld, tenta cumprir seu
pendentes estão aderidos ao Bloco Monetário Pequenopapel de reduzir os anseios maiores de liber-
40 Francisco rosé Ibid: O Horror Branco na Africa do Sul 41

tacão nacional às reivindicações locais baseadas RI


fracionadonacionalismotribal. O líder de Ven( e

#
por exemplo, concordou que haveria um govemo

8
gro na República da Ãfrica do Sul, caso fossem
lízadas eleiçõesgerais na base de um homem
voto. Mas acentou: ''Venda estaria perdida coU
domínio negro na Ãfrica do Sul. Representamos
pequena nação disposta a defender nossa cultura
nacionalidade". Em entrevista concedida a um J
brasileiro, reproduzida no Jorna/ do (bmércfo,
Manaus, disse o chefe Lennox Sebe, dirigente do Ci
kei: ''Estamos primeiro preparando a infra-estru
necessária que possa dar viabilidade ao Ciskei e
tar incorrer no erro de muitos países africanos
não estavam maduros para se governarem, nem
nham base económica, âdvindo disso grandes probl
mas não apenas para os seus líderes, mas para
povo. +louve muitos erros numa descolonização ap
sada da Àfrica
l

Autor -- Quando começa a política de criação


bantustões?
Jacob Ztzma -- A política de bantustização
maçou com o Partido Nacionalista, que está no
der da Ãfrica do Sul desde 1948. A criação de bi
tustões é uma respostaà grande vaga de libert;
no continente africano e às mobilizações de no!
povo na Ãfrica do Sul. Em vez de romper com
apaHAeld, foram criados os bantustões, que
origem em nossocontexto histórico. Durante a Na década de 60. o African National Congress optou pela
quisto, as populações africanas lutaram como trio tâtica armada em sua tuta de !ibertação nacional.
42 Francisco Josê O Homor Branco na Àfrica do Sul 43

como grupos separados. Essa separação. .tribal Jacob Ztima -- O ANC mobilizou a população
favorável ao conquistador. O .A/HcaPZ.IVaflona/ em toda parte, mesmo antes da criação dos bantus-
press foi fundado com propósitosde conqegar tões. O ANC tem apoio e prestígio nacional, na ci-
nação africana, e, desde então, suas ações têm si dadee no camlio. Minha experiência pessoal foi exa-
sempre no sentido de criar uma consciência.nac tamente essa, pois fui mobilizador em Durban, gran-
na], de verdadeiracomunidadeentre as várias ni de cidade, e também no campo, na Zululândia.
cionalidadesem nosso país. Nessa linha, em l Autor -- A Zululândia é um bantustão?
deu-seo pacto entre o ANC e o Congresso Indiano.- Jacob Zuma -- Sim, agora a Zululândia é o
Ãfnca do Sul, outro grupo racial oprimido. Jâ bantustão chamado Kuazulo.
CaznpanAa do .Desato, em 1952, fora conduzida
uma' ampla unidade entre os vâriok grupos e orl
nizações de massa, sendo criado, nessa oportu
dado, o Canse/#o de Planey'ementa Comum par
coordenar a Campanha. Esse Conselho deu lugar,
ANC e a luta de libertação nacional
posteriormente, ao Comité Consultivo Nacion Na Ãfrica do Sul se estruturouo mais antigo
constituído por representantes do ANC, do Congr
se Indiano Sul-Africano, do Congresso dos Demo imento de libertação organizado no continente:
#

chatas(integrado estes por pessoas brancas. e cria Mrfcan .Nlzffona/ aongress(ANC), fundado em
por iniciativa do ANC). Em face desses vitoriosos 12. Seu programa foi inicialmente conciliador e em
forças e ações de unidade nacional,.o governo racist
composição predominavam chefes tradicionais
concebeumecanismos contrários de divisão e se haviam adquirido importância durante as resis-
gação: entre eles, a política de criação de bantustões
iciastribais ao domínio europeu.
que estabelecee estimula uma nova.dimensão do üi A nova organização expressava-se, então, atra-
balismo no país. Nessa época, os bantustões servi de um nacionalismo limitado, que, em nome de
ram, igualmente, para .confundir -- ante nosso po'umaingênua boa vontade, conclamava a classe bran-
e frente à opinião mundial -- o gigantesco processcadominante à maior "compreensão entre brancos e
de descolonização no continente africano. negros''.Essa pratica, apenas interrompida por pou-
Autõl' -- A criação de bantustões correspon'
cosepisódiosmais radicais, se manteve, de um modo
deu, geograficamente, a espaços tribais? .
Jacoó Zunia -- Em parte, só em parte. For geral,até 1943, quando,..então, o Wrícan .Nbffona/
principalmente, criações à conveniência do regime Congresx,já praticamente liberto da influência ini-
mantendo, contudo, traços do passado. cial dos chefes tradicionais que haviam mantido as
Autor -- Hâ diferença de prestígio e ação ;ições de estreito e humilde nacionalismo, adota as
ANC nos bantustões e fora deles? fadas Reívlndícaçõei 4»'lianas e Z)ec/orações
O Horror Branco na A$'ica do Sul 45
44 Francisco Josê

testouem açõespúblicas de queima de salvo-


dos .Z)Ireífos, e o antigo apelo à ''compreensão ent
brancos e negros'' foi substituído pela aberta p dutos(documento exigido aos negros)! de boico-
aos transportes e nas constantes marchas diárias
mação de que os africanos têm ''incontestável dize africanos pelos subúrbios brancos durante o ca-
à cidadania integral'
o cotidianoao trabalho. Nas áreas rurais tam-
Essa nova linha se expressa, a seguir, nas Ht
se realizaram atos de desobediência, e alguns
festaçõespopulares de boicote, de não cooperaç: :s alcançaram maiores proporções: em Pondo-
de desobediênciacivil. Essas novas formas de
d, por exemplo, a resistência camponesa e popu-
tância e protestos, que substituíram as anterior às medidas do apaN&efd levou, espontaneamente,
ações de simples resistência pacífica, se mantivera ríação de unidades administrativas próprias, in-
até fins da década de 40, quando o ANC, com n do tribunais populares.
direção que já incluía Oliver Tambo e Nelson Ma Contudo, dessas Campanhas de Desobediência
dela(secretário geral e presidente do ANC, resp Kceçãofeita aos aspectos altamente p(»itivos de dis-
vamente), preparou-se para as grandes campanl ção e exercício populares, cujo comportamento e
populares que caracterizariam a resistência afric inca constituíram subsídios importantes para o
nos anos 50. ço teórico do processo revolucionário sul-atri-
Com efeito,duranteo ano de 1952foi org to), nenhum de seus objetivos foi plenamente al-
l
zada uma extensa Campanha de Desobediência ado: os salvo-condutas,para citar um exemplo,
leis raciais e às praticas do apaNÀeíd, levando, à ;aram a ser impostos com maior rigor. Es.ses atou
ca, como expressão de sua intensidade e extens desobediência foram, de um modo geral, cruel-
cerca de 8 000 participantes aos cárceres em todo] ite dissolvidos a sangue pela polícia sul-africana.
país. Como resultado. dessa Campanha de Desci . violência se estendeu a todo o país. Em dezembro
diência, e para dar forma mais estruturadaàs mat 1956, cerca de 150 dirigentes e organizadores do
festações populares decorrentes dela, foi proposta zgresso do Povo (entre eles africanos, brancos,
;tiços e indianos) foram encarcerados. Essa vio-
ano e meio de intensa campanha, reuniu, em
icia produziria, na consciência coletiva africana,
town, cerca de 3 000 delegados. Embora cercado fc ia expectativa e sentimentos de contraviolência.
temente pela polícia sul-africana, esse Cb/zgreiso Ao iniciar-se a década de 60, o ÀI»'fcaH .Nbffona/
.l)ovo aprovou um dos mais importantes documen ?reis fez opção pela tática armada em sua luta de
programáticos das aspirações africanas, conhecia
como a Cona da liberdade. Em 1956, -a Camp }rtaçãonacional. Nesse mesmo ano de 1960, o
can .Nbfíona/ Cbzzgress foi declarado ilegal. O
de Desobediência se generalizava por todo o país e
46 47
Francisco Jc id: O Horror Branco na Âfrica do Sul

Partido Comunista Sul-Africano (PCSA), fun. mérito da polícia secreta sul-africana(por si só


em 1921, já havia sido colocado na ilegalidade a das mais eficazes), a queda do quartel-general
anos antes, em 1950. b4K teria sido consequência de uma concepção
Essa opção pela luta armada, inspirada no única voluntarista que subestimou, imprudente-
radical assumido pelo movimento de desobediên( nte, conhecidas normas e princípios de segurança.
da década anterior, teria correspondido, base ;arar daí, a resistência armada ficou praticamente
mente: 1) à crença de que o potencial de luta da ;alisada, e só três anos depois apareciam os pri-
pulação se exauria nas formas simples de resistêi iros indícios de reorganização, através de textos e
pacífica ou de não obediência; 2) ao avanço do termaisde propaganda subscritos pelo ANC e pelo
cessode descolonizaçãona Ãfrica e, particularment :SA
pelo início da luta armada de libertação nacional Mas é somentena década de 70, embora com a
colónias portuguesas de Guiné-Bissau, Angola ção do movimento no exílio e vários de seus líde-
mais tarde, em Moçambique, que representavam mantidos ainda em prisões sul-africanas, que a
enfrentamento direto com exércitos profissionais ita anta-aparf#eld, mantendo a tática armada, re-
tamente equipados. )ma vigoroso impulso. Fatores externos importantes
As primeiras manifestaçõesarmadas, com at iam contribuído fortemente para essenovo avanço.
l
ques feitos a bombas, a objetivos governamentais, la Ãfrica Austral, Angola e Moçambique,ambos
veram início em dezembro de 1961. Essas ações )m opção socialista, alcançaram a independência e,
ram conduzidas pela chamada MK -- .Z;a/zça.da Na Rodésia do Sul, as ações armadas da Frente Pa-
çâo (Umkhonto We Sizwe), organização militar ci iótica (integradas pelo ZANU e ZAPU, movimentos
da pela direção política do movimento, e se esten( libertação dirigidos por Robert Mugabe e Joshua
ram, com relativa regularidade, a todas as cada( tomo, respectivamente), isolavam, progressiva-
importantes do país. A fundação da MK foi pr( mente, o regime de minoria branca de lan Smith e
dida de cuidadosa preparação que, entre outros, )mprometiamo valor e a eficácia da ajuda militar
@ aluiu treinamento militar no exterior de vasto com
gente de militantes e uma linha férrea clandestina
ll-africana. Em fins de 1979, o chamado ''Acordo
Lancasterhouse'', subscrito em l.ondres pelas par-
especialmenteconstruída para tais efeitos. Contu( comprometidas,põe fim à luta armada e são ár-
em junho de 1963, a sede do movimento clandestit idas as eleições, que, realizadas em fevereiro de
foi localizada e literalmente tomada pela polícia 1980,dão ampla vitória ao Zfmbabwe Mrícan Nafz'o-
caindo todos os principais dirigentes. As crónicas z/ ZI/néon (ZANU) de Robert Mugabe, eleito pri-
análisesreferentesa essefato indicam que, mais qt meiro-ministro.A 18 de abril de 1980, a antiga Ro-
49
48 Francisco J( O Horror Branco na Ãfrica do Sul

désia do Sul, última colónia na Ãfnca,


República Popular do Zimbabwe.
Forada área, as denúncias
dâ fuga

ao apaHãeld e os
kn mm'=wl$$W
êln nas votações de protestos ou sanções contra a
forços para isolar a Ãfrica do Sul, adquiriram real il c&do Sul por sua política de apaH&efd.. Essa ati-
pulso e várias Resoluções a esse respeito foram apr é compreensível, dados os múltiplos interesses
õinicose ünanceims mantidos com o governo de
8
vadas pela Assembleia Geral da Organização das
ções Unidas, sendo que, nos anos de 1978 e l!
aprovou, entre outras, as que seguem:
W -- Resolução sobre mobilização internacional c(
tra o apaN#eid;
Resolução sobre embargo de petróleo à Africa mantoe 52%odo manganês. Quanto à Inglatena,
Sul; dependência é maior: 58%o da platina; 66%o do
Resolução para pâr fim à colaboração nucle 9 78% do cromo, 73%odo manganêse 90%odo
com a Âfrica do Sul; ttimõnio.
-- Resolução para pâr fim à colaboração econõi Por outro lado, a Âfrica do Sul fica, e$trategica-
com a Ãfrica do Sul; te. na chamada Fofa do perra/eo em cujas costas
Resolução sobre difusão e informação a respe isâM navios que abastecem 57%odo petróleo con-
da apartheid\ ido na Europa e cerca de 20%odo petróleo consu:
-- Resolução sobre assistência ao povo oprimido donosEstadosUnidos.Aproximadamente,
25 mil
Âfrica do Sul e a seu movimento de libertação lvioscruzam, anualmente, suas costas.
cional. A economiada Repúblicada Ãfrica do Sul ére-
O Brasil votou a favor, excito em relaçãoà itivamenteavançada(em especial seus recursos mi-
solução sobre o embargo de petróleo à Ãfnca do St nis) e, combinada com a posição estratégica.do
pois não participou da votação. na rota marítima, dá à Ataca do Sul importân-
Essas Resoluções,embora em sua aplicaçãopí geopolíticamaior. Acrescente-sea isso a atual e
deçam ainda de dificuldades, constituem bandeira geradaintegração económica com os países avan-
de denúncia e efetivosinstrumentos utilizados p( os do bloco capitalista, em especial os já citados
consciência democrática e militante de todo o mi atadosUnidos, Alemanha, França e, naturalmente,
do, particularmentenos Estados Unidos e países aterra,que detêm as maiores inversões. Esses in-
ropeus como Alemanha Federal, França, Bélgica 3sses estrangeiros participam de cerca de 60%o dos
Inglaterra, que mais resistem a uma aplicação efeti érios, 30%oda agricultura, 88%odos bancos e
50 Francisco Josê teid: O Horror Branco na Ãf+ica do Sul
51

68%oda indústria na Ãfrica do Sul. cicia àquelas campanhas e assumiu papel central. O
Parece inegável, em conseqüência, que essa apadÀefd divide operário branco e operário negro,
mas os operários negros participaram das varias
de interesses que envolve tão fortemente aspect( campanhas de mobilizaçõese têm uma grande expe-
económicos e geopolíticos, reaja ao nacionalis riência sindical.
africano(particularmente ativo no atual contexto Autor -- O processo de libertação do povo sul-
Ãfrica Austral que considera a República da à africano expressa uma luta de classe ou uma luta de
do Sul como o último bastião a ser recuperado. raças
apa##eíd, no caso, serve, no plano ético, como.efi- Jacob Ztima -- Nossa luta é de libertação na-
catalisador de unidade continental anti-sul-africa cional. Lembro, contudo, que a maioria dos que par-
tipicam são operário ou filhos de operários e, por
isso mesmo, nossa luta de libertação traz com ela um
Autor -- Que fonnaespecífica assume aluta do grande conteúdo de classe.
sul-africano? Autor -- Que outras organizações políticas de
Jacob Zune -- O nosso conceito básico é o libertação nacional existem na Ãfrica do Sul?
vantamento popular através das ações de massas. Jacob Zunia -- Houve organizaçõesque tive-
Autor =- E o conteúdo ideológico dessa luta? ram um certo papel, mas muitas delas desaparece-
Jacob Ztzma -- O objetivo de nossa luta de ram. Ficou o CongressoPan-Africano,prqudicado
bertaçãoé criar um govemode üpo nacionale pela série de problemas internos; foi um grupo que,
mocrático em nosso país. A nossa Carta de Zf hâ muitos anos, se desligou do ANC. Há outros mo-
dado dâ indicação dessa nossa visão do futuro vimentos, como o .BZack Colzscíotzsness -- Consciên-
üco para a Ataca do Sul. A ideia é quebrar.a cor cia Negra --, que detêm vários focos no país.
vertebral do imperialismo no nosso país e abrir Autor -- Que significa estemovimento?
dições para criar um govemo de verdadeiro poc Jacoó Ztima -- O movimento "Consciência
popular. Negra" integra vários grupos e, por isso, falta-lhe
Autor -- Qual o peso da classe operaria uma certa coerência. Seus dirigentesmanifestaram,
economia sul-africana e sua participação na luta desdeo início, que o objetivoera enchero abismo
libertação? criado pelo banimento do ANC e de outras organiza-
Jacoó Ztzma -- A classe operaria tem um ções naquela época. Depois do banimento do ANC e
portante e significativo peso na economia de n( outras organizações, o governo forçou as populações
país e, por isso, nós temos o Congresso Sul-Africo africanas a identificar-se politicamente com os ban-
dos Sindicatos, integrado ao ANC. Nas camp tustões, esse instrumento do apaH#eld. O movi-
de mobilização, a classe mais atava foi exatamente, mento ''Consciência Negra" surge contra isso, e in-
classe trabalhadora, a cjasse operaria, que deu clusive não só os africanos mas todas as pessoas que
52 Francisco rosé !id: O Horror Branco na Af+ica do Sul 53

Autor -- Ainda assim o Soweto teve carâter


não são brancas: indianos e mestiços. O Objet
desse movimento foi conscientizar a população nc espontâneo?
contra as idéias de supremacia racial. Um con Jacoó Ztima -- Essa espontaneidade é rela-
tiva, pois, como vimos, houve antes muitas e signi-
anta-racial, portanto.
Autor -- Quais os métodos utilizados ficativas ações dos trabalhadores da classe operária.
Pessoalmente, naquela época, eu aguava na clandes-
movimento ''Consciência Negra''?
Jacob Zizma -- Uma estratégia contra a tinidade com meus companheirosdo ANC e sentía-
tica de bantustização e inferioridade racial. Re mos o crescente clima de explosão social. Surpresa,
zavam-se reuniões, palestras, discussões e, partia só em parte, foi o fato de ter vindo dos estudantes.
larmente, mobilizações escolares como forma Deu-se quando o al/Hkaans, língua dos boers do go-
criar consciência e unidade anta-apa#Àeld. verno racista da Ãfnca do Sul, foi impostonas esco-
Autor -- E o Soweto? las negras. Em Soweto, essa medida foi imediata-
Jacob Zune -- A rebelião ou levantamer menteentendidacomomais um ato de opressãoe
popular do Soweto+ foi, em parte, uma conseql alienação da população negra.
cia da ação conscienüzadora do movimento "C Autor -- Foi a origem da rebelião?
ciência Negra''. Esse tipo de conscientização prep Jacoó Zzzma-- Com certeza. Primeiro, por-
o povo para detemiinadas respostas.. Por outro lad que não era uma língua internacional e serviria para
naquela oportunidade, em 1976, a .situação na. isolar a população; segundo, o ({»'íkaazzs era a língua
ca do Sul era explosiva. O Soweto situa-se, portant da polícia, da opressão; sempre que a polícia exigia o
nesseclima de tensão social. Apenas três anos an passe'' (documento a ser mostrado pela população),
houvera a grande greve dos trabalhadores e est expressava-se em (!/Hkaans. Era considerada a lín-
doresdo importanteporto de Durban, com fc gua da opressão e dos opressores. Na verdade, não
conteúdo e intensa repercussão política. Tam era objetivo dos estudantes, naquele momento, lutar
um ano antes do Soweto, caíra um importante contra a polícia que, baseada na natureza fascista do
clandestino do ANC(que demonstrará a contin! regime, formada pela prática da violência, atirou
dado das lutas e resistênciasdo ANC), impn contra o povo e assassinou centenas de populares.
Dando, com isso, os membros do "Consciência Autor -- E as línguas nativas são ensinadas nas
escolas destinadas à população negra na Âfnca do
gra'' Sul?
Jacob Zzzma -- Sim. Mas o inglês é utilizado
em toda parte. O povo prefere o inglês, como língua
(+) Resultouno massacn de 600 manifestantesnegros.A
mente. no dia 16 de junho, 8 população mgra baliza fitos começa da ciência, da unidade nacional e pelo seu uso inter-
vos incluindo passeatas e desfiles marcados, naturalmente, por alta nacional. Mas as populações aprendem também suas
ga de Ódio e ressentimento. próprias línguas, as quais, no futuro, serão mais va-
Francisco rosé teid: O Horror Branco na Africa do Sul

lorizadas e desenvolvidas

Ãfrica do Sul -ú o cerco


na África Austral
Ainda que não sqa um fator imprescindível,
fato é que as bases de apoio externoem tenitó
fronteiriçosjogam papel importante no processo
desenvolvimento e consolidação dos movimentos
libertação nacional. Assim foi,- para citar exemp]
na própria área, o desenvolvimento da luta de li
tação em Moçambique apoiado por suas bases
Tanzânia, e em Angola com suas bases na Zumbia
na República Popular do Congo: E, mais recen
mente, as bases de apoio que o Zfmbabwe Á/rica
/Vaflona/ t/nhiz (ZANU), de Robert Mugabe, dispa
nha em Moçambique e as do Zlmbabn'e Át»'lcan P-
ele 's [/néon (ZAPU), de Joshua Nkomo, mantidas
território da Zumbia, durante o desenvolvimento
luta de libertaçãonacional travada na Rodésia
Sul
Atualmente a Ataca do Sul esta praticame
cercada por países extremamente solidários e idem
Hcados com a luta de libertação nacional travada
seu território; é o caso de Moçambique, Angola,
babwe, Zumbia e Tanzânia. Botswana, outro p:
fronteiro da Ãfnca do Sul, embora uma econor
mais dependente de interesses sul-africanos, tamb
participou, com os países citados, da chamada Zínl Rev. J. Calata. secretario-geral do ANC, 1936-49.
Francisco rosé Pe.
56

te fal! r externo. :, s, é um país.sumamente

A LEGISLAÇÃO DO mHR7WZ7D

A prática do aparf&eld é orientada por um con-


junto de leis adotadas pelo governo de Pretória e de-
cional, esses dados parecem adquirir peso e signifi- vidamente regulamentadas e postas em vigência atra-
cado diferentes. Ê, pelo menos, a conclusão que se vés de decretos, instruções, notificações, portarias,
pode extrair de dois significativos.e contemp(:mne?s ordenanças e outras formas de regulamentação emi-
exemplos 1) os 600000 homens do exército francês tidas pelos diversosníveis da Administração, seja
pelo corpo ministerial ou pelos órgãos executivose
legislativos,provinciaise municipais. A Organização

H
dasNações Unidas, .que mantém o Centro contra o
Ambos os resultados, a Históriajâ registrou. .,.. Apa##efd, encomendou uma analise dessas normas
'Essas condicionantes e perspectivas geopolític legais, através das quais o aparf#efd se instituciona-
na região voltarão a ser examinados nas Consíderq liza. O estudo foi realizadopor Leslie Rubin, ex-se-
Cães ,Finais do presente texto. l nador da Africa do Sul. Desse documento foram ex-
traídosalguns dos seus 200 enunciados. Eles ajuda-
doa conhecera realidadesocial na Ãfnca do Sul e
melhor compreender o nível das espécies contidas
uosenunciadosda Carta da Zfberdade-- o progra-
.a no qual se inspira a luta de libertação nacional da
58 Francisco rosé P( Eheid:O Horror Branco na Âfrica do Sut 59

maioria oprimida no país : com multa de até 200 rands ou prisão de um ano, ou
ambas as coisas.
B Se um trabalhador branco morre devido a
'' e O africano que nasceunuma determinadacidade um acidente, as pessoas que dele dependem têm di-
e durante 50 anos nunca tenha se ausentado. caso vá reito a uma soma global e uma pensão mensalfixa-
para outro lugar (não importa com que intenção) e ia com base em seu salário; as pessoas que depen-
$que durante duas semanas, perde o direito de re- dem de um trabalhador africano que more de um
tornar à cidade natal ou mesmo lâ pemnanecerpor acidente não têm direito à pensão mensal, somente à
mais de 72 horas, salvo se obtiver pennissão. Cmo :soma global que o Comissariado de indenizações
contrário, é culpado por delito com uma multa de 20 dos trabalhadores julgue eqilitativa'.
rands ou prisão de dois meses. e Ê ilegal que uma pessoa branca e uma negra
e O africano que numa cidade more há 20 tomemjuntas uma xícara de châ num café de qual-
anos, não tem direito de nela permanecer por mais quer lugar da Âfrica do Sul sem que obtenham per-
de 72 horas caso aceite emprego fora. missão especial para faze-lo.
B O africano que more desde seu nascimentos © Se um negro sezzta-se nam banco em parque
sem interrupção numa cidade não tem direito de dei- público destinadoa uso exclusivode brancos, como
xar ninguémmorar com elepor mais de 72 hora. /urna de professo contra as /efs do apartheid, co-
sqa uma filha casada, um filho com mais de 18anos, mete delito reprimido com multa de 6aO rands ou
uma sobrinha, um neto ou neta. prisão por até três anos, ou pena de até 10 chicota-
e Nenhum africano, mesmo residindo legal das ou dois castigos de uma vez.
mente numa cidade com permissão, tem o direito de e O homem casado ou solteiro cuja 'aparência
que sua mulher e seus filhos morem com ele, caso seja evidentemente branca' ou que 'em geral é aceito
não tenham permissão individual. e considerado branco', que tente ter relações sexuais
e O rapaz africano de 16 anos que abandone Q com uma mulher que por sua 'aparêncianão seja
escola e more com seuspais que o mantêm, é preso a evidentementebranca' ou que 'em geral não seja
qualquer momento, sem ordem de detenção, por um aceita e considerada como branca', é culpado de de-
policial ' que acredite que ele é ocioso lito reprimido com prisão e trabalhos forçados de até
e A pessoabranca que viva numa cidade e em- sete anos, a menos que possa provar ao Tribunal que
pregue um africano para realizar trabalhos de car- naquele momentojulgava ser a mulher branca.
pintaria, construção, instalação elétrica ou outros e Se um sul-çL#icanoou um estrangeiro bran-
especializados e, logo, reservados para membros da co se casa com uma mulher de cor num lugar do
raça branca', deve ter permissão especialconce- exterior onde tais casctmentossão legais, o vínculo é
dida peloMinistério do Trabaho. O empregador que nulo e sem valor na Africa do Sul e os câlljugessão
não obteve essa permissão comete delito reprime( levados a juízo se entram no país.
Francisco rosé theid:O Horror Branco na Ãfrica do Sul 61

e Não se pode criar nenhuma igreja para

;i)a si'lil'l'E
canossem a aprovaçãopüvia do ministro da A(
nistração e Desenvolvimento Bantos.
b A Junta Sul-Africana de Controle das Publi
Pl10PLl:
caçõesé coznposfapor novepessoas(todas branca
nomeadas epagas pelo governo. Uma dasfunções .
Junta é impedirfilmes onde aparecem criar ças bran-
cas e Negras co/pzpaHíndoa mesma au/a, adn/f
brancos e negros dançando entre si ou mulheres
homens brancos abraçando-se e beijando-se.
B Em algumas zonas específicas da Afaga
Sul, a pessoa que, sem aprovação escrita de um fun-
cionário governamental,fale numa reunião em qt
estejam presentes mais de 10 africanos, é culpada
delito reprimido com multa de até 6(X)rands, ou pi
são de três anos. #
B Para decidir se uma pessoa é ou não 'pela E
aparência, evidententente branca' o funcionário
competente leva em consideração 'seus habitos, edu-
cação, modo de falar, aspecto e comportamento
A
&.l
gera/'
e Caso se encontre um africano, em qualquer B
residência, de posse de uma arma de fogo e ele não
consigaprovar que não tem por motivo 'alentar sen-
timentos de hostilidade' entre brancos e africanos, é
culpado de delito de sabotagem e passível de pena de
morte.
B Nenhum africano pode atear como membro
de um júri eleitopara juízo criminal, embora o as-
sado seja um a#icano.
e O africano não pode portar uma faca cuja
lâmina meça mais de 8 centímetros de comprimento,
Para um negro que se senta num parque público exclulsivo
fora do setor onde reside, a menos com permissão es-
de brancos: multa, prisão e chicotada.s.
pecial.
H
62
Francisco Josê :heid: O Horror Branco na Ãfrica do Sul 63

b Se o faz. é culpado de delito repHmido COH


multa de 20 rands ou prisão por 12 meses! apenw a
prisão, ou pena de chicotadas, ou ambas.

Nos anos mais recentes, especialmente a parta


dos últimos anos da década de 70, irrompe no doma.
nante Partido Nacionalista uma espécie de luta inter-
na em tomo do carâter e atualização do apa#&eld. O
que define e dá notoriedade a essa luta interna, são
as propostas de abrandamento dos rigores contidos
na legislação e pratica do apad&eld.
A expressão mais importante dessas divergên. YusufDadoo, presidente do
clãs internas no Partido Nacionalista foi a recente re- Congresso Indiano Sul-AfH-
forma constitucional que criou, a nível nacional, as cano.
Câmaras Legislativas dos Mestiços(80 deputados) e
dos Indianos(40). Embora apresentada como tonta
de liberalização do apaH#eld, essa fomta constitu
cional foi recebida sob séria suspeita popular. E o que
sugereo elevado índice de abstenção regstrado nas
correspondenteseleiçõesrealizadas no mês de agosto
de 1984, sendo que, só no caso dos mestiços, apl?nas
1/5 dos inscritosvotou. Por outro lado, as atribui-
ções e poderes dessas Câmaras l.egtslativas:.não obs.
tanto suajurisdição nacional, são bastante limitadas,
cabendo a seus deputados mestiços e indianos -- co-
mo jâ se disse -- legislar apenas sobre questões.cc-
munitârias e aquelas pertinentes às suas respectivas
raças. Além de um outro leque de questõesde menor Nelson Mandela, cumprir
importância para o desenvolvimento sócio-Político e dopena de prisão perpétua
económico do apad&eíd.
64 Francisco rosé

O ANC e outros movimentos de resistência s


africanos se opuseram a qualquer participação n
Ibid: O Horror Branco na Africa do Sul

Finalmente, as atuais divergências no Partido.


nacionalistaparecem refletir uma preocupação pela
65

l
sas eleições, denunciando a nova Constituição qu )proamanutenção do aparf&eld, divergindo, ape-
exclui a maioria negra. , quanto à forma e procedimento. O setor mais à
Essa chamada liberalização do apa##efd, coR. :ita do Partido acusa os supostos moderados de
cedendo direito de voto ao mestiço, não é sequer ie seus métodos acabarão levando a uma igualdade
ginal. Os mestiçosjá haviam usufruído, em esc :ial, com a consequente perda de hegemonia bran-
menor, do chamado dlrelfo parca/ de polo, post Por seu lado, o chamadosetormoderadopreo-
dormente abolido (em 1956); porém, enquanto
pa-se com o insistente radicalismo da direita, cujos
rou, mostrou ser mais desmoralizador do que a to
métodos podem favorecer o desenvolvimento do pro-
privação dos direitoscivis. Basta dizer que a supr( ;se revolucionárioe, com isso, comprometer o do-
são desse anterior direito parcial de voto aos mestiç(
noe a exploração racial que ambos aproveitam. Na
veio como represália à formação da Organização dade, a ameaça de um maior isolamento interna-
Povo Á/rícano, na qual os mestiços tiveram atiça p )nal do aparf&e/d preocupa e afeta interesses mul-
ticipação. Ainda nos anos 50, elescriaram sua p lacionaiscomprometidoscom sua economia. Esses
proa organização, o Cblzgresso do .Povo Mêsflço, qu iteresses,no caso, teriam sido acionados a favor de
logo se incorporou ao processo de libertação. . , maiorliberalizaçãodo apaN&eld. Pela primeira vez,
Quanto à minoria indiana, esta teve também itão, na imprensa e em outras formas de debate
processo próprio de resistência ao domínio e racisn )rto, essas divergências tomaram nacionalmente
brancos. Mahatma Gandhi, então jovem e brilhant reter público e expuseram os sérios conflitos que
advogado na Ãfrica do Sul, foi um dos primeiros m processam dentro do partido dominante, dos quais
bilizadores da resistência indiana, posteriorment( reformas constitucionais de 1984 seriam, precisa-
consolidada no Congresso Indiano .Su/-A/rfcaPzo.Ma- )nte, suas expressões mais concretas .
:u

hatma Gandhi, como se sabe, desenvolveu a técnica


da resistência passiva que, anos depois, durante o pro' De fato, essas divergências (conforme se pode
)servar pelos registros históricos das lutas de liber-
cesso de descolonização pós-guerra, foi fundamena
;ão na Ãfrica) são mais exacerbadas à medida que
na luta pela independência da Índia do domínio bn' iça e se fortalece o próprio movimento de liberta-
tâdm. kos anos40, o CongressoIndianoSu/-M- nacional.
cano, como nova concepção e novo grupo dirigem
incorporou se de forma anaisradical às anõesde
bertação.
&
.eid: O Horror Branco na ÃP'ica do Sul 67

istência sul-africanas. A ''Carta da Liberdade'' foi


of cialmente aditada não s6 pelo 4Érfcan .IVaffona/
ngress(ANC) mas também pelo CongressoIndia-
Sul-Africano, Organização do Povo Mestiço, Con-
P sso Sul-Africano dos Sindicatos e pelo Congresso
os Democratas.
A (:'arfa da .Liberdade sintetiza o programa de
governo democrático e expressa a visão popular
uma sociedadejusta, enter-racial. O nível e o carâ-
H :r das aspirações nela contidas refletem bem o grau
A ''CARTA DA LIBERDADE'' -- dominação e do sofrimento popular. Diz a Cada
Programa do Povo Sul-Africano H Z,íberdade em seu preâmbulo:

"Nós. Povo da Ãfrica do Sul, declaramos, para que


todos, no nosso país e no mundo, saibam:
Que a Ã.f;ica do Sul pertence a todos os que
nela vivem, negros e brancos, e que nenhum governo
é legítimo se não se basear na vontade do povo. Que
o nossopovo foi espoliado do seu direito à terra em H
que nasceu,da liberdadee da paz por !m governo
baseado na injustiça e na desigualdade. Que o nosso
país nunca será próspero ou livre enquanto o nosso
povo não viver fraternalmenteno goz! dos.mesmos .H

direitos e das mesmas oportunidades. Que só um Es-


tado democrático, baseado na vontade do povo, pode
gados representandooPe assegurar esses direitos sem distinção de cor, raça,
sexoou fé. Que, portanto,nós, Povo da Ãfrica do
Sul, negros e brancos, em conjunto -- iguais, com-
patriotas e irmãos --, adotamos esta 'Carta .da Li-
berdade'. E que nos comprometemosa lutar juntos,
com todas as nossasforças e com toda a nossa cora-
gem até que a democracia seja conquistada''
68 leia: O Horror Branco na Africa do Sul
Francisco Jos.

A necessidade de organizar a sociedade


apaH&efd em termos absolutamente enter-raciais
meabiliza todo o documento e está na base das Hi
das e aspirações nele contidas:

Todos os homens e mulheres terão direito a eleger


a ser eleitospara todos os órgãos com poder legisla.
tive. Toda a população terá o direito de participar na
administração do país. Todos terão os mesmos dhei.
tos, seja qual for a sua raça, cor ou sexo. Todos n.
órgãos do governo minoritário, como as juntas
sultivas, os conselhos e outros serão substituídos
órgãos democráticosde poder local. Haverá igual.
dadepara todos, seja qual for o grupo ou raça a que
pertençam, nos órgãos de Estado, nos tribunais e nas
escolas. Todos terão direito ao uso da sua língua e ao
desenvolvimento da sua. cultura própria. Todos os
grupos nacionais serão protegidos por lei contra in-
sultos à sua raça e ao seu sentimento nacional. Pra-
ticar a discriminação racial ou exortar à sua prática
ou ao desprezo de uma raça ou cor será crime puní-
vel por lei; todas as leis e regulamentaçõesbaseadas
no aparfÀeíd serão abolidas'

Na reorgani.zação económica, esta previsto o


controle popular das imensas riquezas (particular-
mente em minérios) que o aparf&eld concentra nas
mãos da atual e dominante minoria branca:

caria da Liberdade'': o mais importantedocumento


A riqueza nacional do nosso país, património de lrogramâtico das diferentes organizações de tuta e resis-
todos os sul-africanos, será devolvida ao povo. A fi- tência sul-africanas.
l
71
Erancisco rosé Eheid: O Honor Branco na Àftica do Sut
70

dado condicional sem um julgamento justo. Nin-


queza mineral do solo, os bancos e a indústria mo- guém será condenado por ordem de um funcionário
nopolista passarão a ser propriedade do povo: Toda do governo. Os tribunais serão representativosde
a restante indústria e o comércio serão objeto de con. toda a população. A pena de prisão só será usada em
trote de modo a contribuírempara o bem-está do casos de crimes graves contra o povo e terá como
povo. Todos terão o direito de dedicar-se ao comer. finalidade a reeducação do criminoso, e não a sim-
cio e à indústria ou a seguir a profissão que enten- ples retaliação. A polícia e o exército serão abertos a
derem' todos, em pé de igualdade, e terão a função de prote-
ger e de ajudar o povo: Todas as leis que estabelecem
A democratizaçãodo acesso e uso da terra esta a discriminação racial ou religiosaserão abolidas. A
lei garantira a todos o direito de expressão, de orga-
igualmente assegurada:
nização, de reunião e de publicação, assim como o
direito a pregar e a observar qualquer religião e a
''Acabar-se-â com todas as restrições ao direito à educar os Mos. A inviolabilidade do domicílio será
posseda terra baseadasna raça; toda.a terra será protegida pela lei. Todos poderão.viajar sem restri-
repartida pelos que a trabalham, pondo ãm, deste ções, do campo para a cidade, .de. província para
modo, à fome e à grande necessidade de terra. O Es- pmvmcia e para o estrangeiro..As leis que resüin-
tado ajudara os camponesesa adquirir sementese gem estas liberdades, como a lei.do 'passfl'., as auto-
tutores e construíra barragens para proteger o solo. rizações de deslocação e outras leis restritivas da li-
Seta garantida liberdade de movimentoa .todos os berdade de movimentos, serão abolidas"
trabalham a terra. Todos terão o direito a viver
da terra, se assim o desejarem. Acabar-se-â com os
esbulhos de gado que obrigam as pessoas.a procurar A liberdade de organização e direitos trabalhis-
trabaUio de modo a pagar impostos. Acabar-se-á tas internacionalmente reconhecidos e que, durante
com o trabalho forçado e com as prisões privadas das tanto tempo, foram negados à maioria negra (assim
fazendas como aos mestiços e indianos) estão proclamados na
9

(h a da .Z;iberdade comojustas conquistas:


Os elementares direitos civis e políticos negados
à nação negra e sobre cuja negação se assenta, afinal, ''Todos os que trabalham terão direito a foliar sin-
o próprio apaNÀeld, estão garantidos no referido do' dicatos, eleger as respectivas diretorias e a .negociar
cimento-programa: acordos salariais com as entidades patronais. O Es-
tado reconhecerá o direito, e o dever, de todos traba-
lharem ou beneficiarem-se ; de subsídios de desem-
:Ninguém será preso, deportado ou posto em liber-
72 Francisco Josê lheid: O HovvorBrwtco lta Afl'ica do Sut 73

prego. Homens e mulheres de todas as raças recebe. pmfessores terão os mesmos direitos que os outros
rão salário igual por trabalho igual. Haverá uma se- cidadãos. Será iibolida a segregaçãona vida cultu- N
mana de quarenta horas,: um salário mínimo nacio-
nal, férias anuais pagas, direito a faltas justificadas
ral, no exporte e no ensino'
#
por doença, para todos os trabalhadores. Todas as
mulheres terão direito a licença por maternidade O nível e a singeleza das queixas e reivindicações
com vencimentointegral. Os mineiros, os trabalha- sociais registradas na (arfa da liberdade expressam
dores domésticos, os trabalhadores agrícolas e os a longa opressão racial e suas formas de restrições e
funcionários públicos terão os mesmos direitos de confinamento popular:
todos os outros trabalhadores. O trabalho infantil, o
acantonamento dos trabalhadores em casernas, o
pagamento em espécie e o sistema do trabalho con- 'Todos terão direito a viver onde desejarem, a ter
tratado serão abolidos' uma habitação condigna e a criar a família com con-
forto e segurança. As casas desabitadas serão postas
à disposição do povo. As rendas e os preços sofrerão
O mesmo em relação à educação popular e de uma diminuição, haverá comida em abundância e
mocrática ou em relação à defesa dos valores cul- ninguém passará fome. O Estado estabelecerá um
turais: plano de prevenção de doença. Serão proporciona-
dos tratamento gratuito a todos e cuidados especiais
às mães e crianças pequenas. Os bairros pobres se-
O governo terá a obrigação de revelar, desenvolver rão demolidos e serão construídos subúrbios novos.
e encorajar os talentos existentespara engrandeci- onde haverá transportes, ruas, iluminação, campos
mento da nossa vida cultural. Os tesouros culturais
da humanidade serão acessíveis a todos pelo livre in- de jogos, creches e. centros de convívio. As pessoas
idosas. os órfãos. os inválidos e os doentes ficarão a
tercâmbio de idéias, livros e pessoas. A finalidade do
cargo do Estado. Os tempos livres, o descanso e o re-
ensino será a de levar a juventude a amar o seu povo creio serão direito de todos. Acabar-se-á com as lo-
e a sua cultura, a venerar a fraternidade humana, a
liberdade e a paz. O ensino será gratuito, obrigató- calidadesvedadas e com os guetos, e as leis que se-
param as famílias serão abolidas''
rio, universal e igual para todas as crianças. O en-
sino superior e o ensino técnico serão acessíveis a to-
dos através de subsídios do Estado e de bolsas de es-
tudo concedidas aos mais merecedores. O analfabe- Finalmente,a Cana da .Liberdadedefineos
tismo adulto desaparecerácom uma campanha de )rincípios básicos que nortearão as formas de convi-
vênciainternacional do novo Estado independente:
alfabetizaçãomaciça, organizadapelo Estado. Os
74 Francisco rosé

''A África do Sul será um Estado completamente in.

manutenção da paz mundial e pela solução dos con.


flitos internacionais através de negociação e nunca
pela guerra. A paz e amizade entre o nosso povo será
asseguradapela garantia de que todos gozarão dos
mesmos direitos e das mesmas oportunidades. Não
haverá cidadãos de segunda classe. A população dos
protetorados -- Basutolândia, Bechuanalândia e
Suazilândia+ -- será livre para decidir o seu próprio
futuro. O direito de todos os povos da Ãfrica à indo. CONSIDERAÇÕES
pendência e autonomia será reconhecido e será a FINAIS $

base de uma cooperação estreita. Que todos os que


amam o seu povo e o seu país digam conosco: Luta-
remos por estes direitos, lado a lado, toda a nossa Já foi dito neste texto que as bases de apoio ex-
vida, até termos conquistado a liberdade!" terno em territórios fronteiros -- se bem que não se-
jam elas o fator decisivo -- jogam, contudo, um papel
Importante no processo de desenvolvimento e conso-
.dação das lutas de libertação nacional.
Sem embargo, a Ãfrica do Sul passou todo o pe-
lado de descolonização do continente com suas fron-
:iras ímzznizadas, tendo como vizinhos Estados ca-
os governosou admiravam a solução apaN#eld (co-
.ono caso do fascismo português em suas ex-colónias
leMoçambique e Angola, e do regime também ra-
:estada Rodésia do Sul) ou eram Estados extrema-
mente dependentes da política e economia sul-afn-
:ana (tal a situação do Lesotho, Botsuana e Suazi-
lândia) .
Na atualidade, um novo quadro, radicalmente
(+) Respectivamente os atuais Estados independentes de Lesotho
Botswana e Suazilândia.
codificado, parece condicionar o desfecho político

À !
76 /}uncüco rosé leid: O llorror Branco na Africa do Sut 77

da Ãfrica Austral, em.Sujocentro está, precisamente lda sul-africana foi desviada, desde 1980, para a
a questão apaH#eld. Com efeito, Moçambique e A;. ramada Resistência Nacional Moçambicana(Rena-
gola, logo depois da independência, reproduziram o mo),grupo criado em 1975 pelo regime racista da
mesmo ato de solidariedade, colocando suas respec. itão Rodésia do Sul como represália ao apoio de
uvas fronteiras à disposição dos movimentos de liber.
tação na área. Em abril de 1980, com a independên. joçambique ao Zlmóaówe .4/HcaPZ.Nbfiona/ ZI/nfo
ZANU.
cia do Zimbabwe, abriu-se, igualmente, uma novae Desenvolveu-se, desse modo, uma situação de
solidária fronteira.
ipasse. Africa do Sul, Argola e Moçambiquetra-
Dessa forma, a Ãfrica do Sul, pela primeha vez. íam de encontrar, por diferentes razões estratégi-
passou a sentir diretamente o impacto político-mili-
i, modos e regras para uma suportável convivência.
tar desse apoio, num novo e diferente contexto geo.
iiciativas nesse sentido foram realizadas. Em fins de
político. A reação punitiva aos países vizinhos foi vio-
)83, em Cabo Verde, reuniram-se representantes de
lenta. O território angolanofoi ferozmentebombar-
deado, afetando bases da SWAPO(South West Afri- igola e Estados IJnidos com vistas a uma solução de
envolvendoa retirada das tropas sul-africanas de
can People Organization, fundada em abril de 1960
(cujo líder é San Nujoma), lidera e organiza a liber- itório angolano, além da questão da independên-
tação do povo namíbio. Reconhecida pela ONU co- da Namíbia. Em março de 1984, foi assinadoo
mo único representante do povo da Namíbia, foi
acordode Nkomati, entre Moçambique e Âfnca do
admitida em 1978como membro de OIT e da UNES- ;ul, pelo qual ambos os governos se comprometeram
CO.) e parte do território próximo à fronteira foi ocu- .não permitir que seus respectivos territórios fossem
pada. Por outro lado, bombardeiose incursõesde ;ados por grupos interessados na desestabilização
comandos militares foram Igualmente realizados em regimevizinho. Mas, oito mesesdepois, ao findar
territórios moçambicano, objetivando as bases e cen- 1984, o Acordo de Nkomati não havia produzido, em
tros políticos do ANC. oçambique, os efeitos esperados: as bases do ANC
guns de seus setoresconsideraram Nkomati um a-
Além dessasaçõesmilitaresdiretas, a Ãfnca do cesso) foram realmente desativadas, mas a Âfnca
Sul passou, subsidiariamente, a subvencionar militar Sul, se bem suspendeusuas incursões militares
e financeiramentemovimentosarmados com o pro- netasem território moçambicano, jamais deixou a
pósito de também desestabilizar os países vizinhos !enamo sem o amparo militar e financeiro. Da mes-
mais hostis. Em Angola, desde a guerra civil apósa maforma, ao findar 1984, tmpas sul-africanas ainda
independência, a UNITA vem recebendo esses estí-
lpavam faixa fronteira de território angolano.
mulos militares e financeiros. Em Moçambique, essa
Neste complexo xadrez político-militar da Ãfxi-
lrtheid: O Horror Branco na Af+ica do Sul
78 Francisco rosé pt

as anões conjuntas dos povos agredidos pelo regime


ca Austral, as peças continuaram se movendo em tor- racista da Rodésia do Sul, retoma agora, no caso da
no da questãoapa##eíd. Para a Ãfnca do Sul o ano expansão das agressões sul-africanas, seu papel ori-
de 1984representou seguramente, na história recente ginal. Em 1984, os países da Zfn&a de Frepzfereuni-
do país, aquelede maior escaladapopular na luta ram-se em Arusha (Tanzânia) , por duas vezes, du-
política intema. Verificaram-ie as grandes ações em rante os mesesde abril e dezembro, para discutir a
defesae ampliação da liberdade sindical, dando nova
estratégiacomum de libertação na Ãfrica Austral. A-
força ao movimentooperáriono país. As mobiliza- lém dos presidentesdos países membros, estavam
ções populares do exitoso boicote às eleições para as presentes o secretario geral do ANC e o presidente da
Câmaras mestiças e indianas foram acompanhadas SWAPO. O comunicado final da reunião de dezem-
de múltiplos atos e concentrações políticas. Nesse bro dos países da .[ín&a de Xrenfe reconheceu como
conjunto de ações de massa, a bandeira comum foi a única alternativade paz duradoura na regiãoos com-
do ANC, que as combinou com surpreendentes ates
de sabotagem a alvos militares e económicos. promissos e as soluções que sejam resultados de ' um
A sorte do aparf&efd tampouco parece desvin- processo acordado entre o presente governo da Africa
cular-se da questão Namíbia, cuja independência pa- do Sul e representantes genuínos do povo sul-africa-
rece cada vez mais inadiávelou incontida. Inicial- no que não estão representados na presente estrutura
mente colónia alemã, é rica em minérios (incluindo govemamenfa/ do pais ''. A solidariedade anta-apar-
fheld -- é o que se deduz do comunicado -- não com-
grandes reservas de urânio). Ao terminar a Primeira
Guerra, ficou sob o mandato da Sociedade das Na- portará para a Zín#a de Frente, mais iniciativase
acordos isolados com ausência de representantes do
ções, que outorgou à então União Sul-Africana a res- povo sul-africano. Isso tornará mais difíceis e lentos
ponsabilidade na administração. Em 1949, a Ãfrica os possíveis compromissos na área, mas trata-se, des-
do Sul anexa o território namíbio. Em 1960, a ONU
retira à Ãfrica do Sul o mandato de protetorado. Em ta vez, de uma estratégiaunitária e, portanto, a úni-
ca adequadapara obter, preliminarmente,uma so-
1968, a ONU proclama finalmente a ilegalidade da lução política para o problema do arar/Àeíd.
ocupação sul-africana no país. As esperanças de que
a ocupação de território angolano neutralizada a São Paulo, fevereiro de 1985
SWAPO e o curso das lutas populares internas na
Namíbia, se desvaneceram.
Finalmente, a ZízzÀa de Frente(integrada por
Angola, Botsuana, Moçambique, Tanzânia: Zâm-
bial Zimbabwe), formada em 1976para coordenar
à
heid: O Horror Branco na Africa do Sul 81

INDA 1982(análise do desenvolvimentoe da posição


atual do apaHÀeíd).
Centro de Estudos Africanos, Zímbabwe, a questãoro-
dwíana, Maputo edição do INDL, 1979(obra coletiva
produzida pela l.Jniversidade Eduardo Mondlane. Ra-
ro e importante documento sobre o Zimbabwe às vés-
peras de sua independência. O texto inclui, como ane-
xo, uma importante cronologia da história de domina-
ção e luta popular do Zimbabwe, desde 1890 até 1979.
A política do apaHAeíd está ali envolvida).
INDICAÇÕES PARA LEITURA Comissão Nacional Portuguesa, Países da,ZínÀa de
Erenfe, Lisboa Conferência Intemacional de Solidarie-
dade com os Estados da Linha de Frente, 1983(infor-
mações sobre cada um dos países que integram a cha-
No Brasil, hâ pouca bibliografiasobre o apaHÀeíd mada Linha de Frente na Ãfnca Austral: Argola, Bo-
(alias, sobrea Ãfrica deum modogeral). A maior parteda Tswana, Moçambique, Tanzânia, Zumbia e Zimba-
bibliografia existente sobre o sistema racista sul-africano
bwe. Hâ um capítulo sobre o aparfÀeld na Ãfnca do
estaem inglês. Depois da queda do salazarismoem Por- Sul, no qual são analizados a economia sul-africana e
tugal e do imediato processo de independência de suas ex- o atual desenvolvimentopolíticodo país no quadro de
colânias na Ãfrica, várias obras foram traduzidas. Muitas expansão dos países independentes na região austral) .
delasfazem referênciasao apadAeíd. Elas não chegam, -- Eduardo de Souza Ferreira, .Á/Hca .4usfra/, o passado
contudo, ao Brasil. Por isso, a leitura recomendada é rela- e o .»ftzro., Lisboa, Seara Nova,(original em inglês.
tivamente escassa: Estudo do colonialismo português na Ãfnca e sua vin-
ANC, ..4 Neva/ração Stz/-.4/hcalza, doctimepzfos .»nda- culação com o capitalismo internacional. Origens his-
menfais do Co/zgresso .Nhchna/ .A/Hcano/mC, Lis- tóricas dos movimentosde libertação e seu desenvol-
boa , Ed. Caminho, 1980(original em inglês. Reúne os vimento;o caso da Guiné-Bissau. Inclui um capítulo
mais importantes documentos teóricos e programáticos sobre o apaHAeíd na Ãfnca do Sul).
do ANC) . -- J. Monserrat Filho, Os crimes da .A/Hca do .Sti/cano'a
Carlos Comitini, ÀM'ca .Arde -- /umasdJS povos (!/H- foda a .HkmaBidade, São Paulo, ABRASSO, 1981(tra-
cazzos pe/a /fóerdade, Rio de Janeiro, Ed. Codecri balho apresentadona 33? ReuniãoAnual da Socie-
(reúne abundantes dados e reproduz valiosos docu- dade Brasileira para o Progressoda Ciência, 1981.
mentos sobre a história e luta dos povos africanos).
Abordagem do apan&eíd sob o ponto de vista do direi-
Centro de Estudos Africanos, .4/Hca do SuZ. conhecer to internacional, denunciando sua ilegalidade e cri-
o fpzfmzgoparamelhor o combater, Maputo, edição do mes)
82 Francisco José Pele.

Jose Slovo, JI»íca do StiZ.'um só camínAo, Lisboa, Ed.


Caminho, 1978(Original em inglês. Importante estudo
teórico da revolução sul-africana, incluindo análise do
período da resistência e das perspectivas da anual luta
armada de libertação nacional no país).
Samora Machel, O apaH#eíd é o nazismo na nossa
época, Maputo, edição da Frelimo, 1983(intervenção
de Samora Machel, presidente da República Popular
de Moçambique, na Vll Assembléia dos Países Não- in o calor
Alinhados, sob a presidência de Indira Gandhi, Nova
Delhi. Denúncia das condições em que vive o povo sul- Francisco José Pereira, nasceu em Florian6polis, em 1933.
afncano sob o aparfÀefd e das agressões militares aos É advogado, formado pela Faculdade de Direito de Santa Cata-
países da área). rina(1959) e com Mestrado em Ciências Políticas pela Univer-
Walter Rodney, Como a Eziropa subdesenvo/vezza A/H- sidadeCatólica de Lovaina/Bélgica(1972), com defesa da Tese:
ca. Lisboa. Serra Nova, 1975(original em inglês. Es- "Phénomênes politiques dana les processus du dévelopment. Le
tudo das formas da espoliação sofrida pela Africa a militarismeau Brésil: une étudeda cas". Na Ãfrica, foi repre-
sentante-adjuntodo Programa Mundial de Alimentos da FAO/
a favor da economia europeia. Valiosa analise teórica ONU na República Popular de Moçambique (1978/80). Foi con-
das questões desenvolvimento/subdesenvolvimento a- sultor de organismos da ONU em vários países da América La-
fricanos). tina: FAO/República Dominicana (1972); CEPAL/México
Finalmente, vale mencionar as publicaçõesdo Centro (1977); ILPES/Child (1983); FIDA/Nicarâgua (1982) e Bolívia
de /Pláormações das .N2zções Unidas(no Brasil, tem sua (1983). Nesses países, integrou missões técnicas de curta duração
sede no Rio de Janeiro) com texto em português sobre na preparação de projetos de desenvolvimento rural. Foi também
a Ãfrica Austral, incluindo questões sobre o apa##efd Consultor do BID para o Instituto Nacional Agrário de Honduras
(1972/75) e para a Comissão de Estudos para o Desenvolvimento
na Ãfrica do Sul e sobrea independênciada Namíbia.
da Bacia do Rio Guayas, em Guayaquil ( 1975/77) em programas
de reestruturação fundiária e assentamentosrurais. Publicou,
entre outros: 4mérfca dali'pza-- Zas Três Neva/tlcíoPzes 4grarlas.'
À4éxfco-- /9/0, .Bo/lv/a-- /952 e Cubo -- /959; Tegucigalpa/
1973e (:fico Made/oi Zeórfcos de R(#brma .Agrária, INRA/
ONIJ, Nicarâgua/1982. Atualmente, cumpre novo contrato com
a ONU no exterior.

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