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Aprovada por:
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Orientador: Dr. Carlos Eduardo Montãno
___________________________________________
Dr. Lavínia Davis Rangel Pessanha (ENCE/IBGE)
___________________________________________
Dr. Newton Narciso Gomes Junior (ESS/UnB)
___________________________________________
Dr. Raquel Santos Sant’Ana (ESS/UNESP)
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Dr. Mauro Luis Iasi (ESS/UFRJ)
RESUMO
RESUMEN
ABSTRACT
AGRADECIMENTOS
com pequi nessas terras do Rio de Janeiro e por me ensinar a fazer feijoada e
embalar os domingos em volta dos amigos e do samba e da cozinha.
Ao Rodrigo. Já disse muitas vezes que minha vida se divide em antes e
depois de ti, e assim o é! Contigo descobri São Paulo e contigo desvelo o Rio
de Janeiro, trouxeste “brilho para essa cidade”. Pensar a profissão contigo,
entre vinhos, rizzottos e lasanhas maravilhosas, me acalenta a vida! Obrigada
por partilhar sua família: Maria Lúcia, Beto, Letícia, Rodolfo, Flora, a vó e José
Mariano que nunca se esquece de abastecer a casa com cachaça de engenho!
À Paula Kapp, pela vida partilhada cotidianamente em casa, no trabalho,
nos concursos, no doutorado. Pela galinha com polenta e as histórias das
receitas da vó. Mas especialmente por me ensinar a caminhar pelas
montanhas e seguir sempre “rumo ao Everest”!
À Paula Lopes, ter você por perto deixa uma sensação de aconchego,
obrigada por estar sempre tão pronta a me ouvir e discutir comigo todas as
questões da vida.
A Tati, por seu “estou aqui” que resolve todos os problemas, por seu
sorriso que convida à vida. Obrigada pela boa música que trazes ao meu
cotidiano, por tanto choro e chorinho, pelas rodas de samba e pela convivência
com Thadeu.
À Haidée, pela leveza que imprimes nesse nosso tempo de Rio de
Janeiro e por todas as receitas novas que encontras.
À Ana, por cuidar com tanto carinho da casa e ir aos poucos se
encantando pelos livros, abrigada pelo convívio!
Ao Leandro (Butter), à Fernanda Freitas e a Tatiana (Tata), pela
amizade e pelo sorriso que espalham em minha vida, também, por partilhar as
mães de vocês: Tereza, Sandra e Tânia e deixar o Rio de Janeiro, com jeito de
minha casa, obrigada pelos bolos, doces, feijoadas que tornam a vida mais
palatável!
Ao Alex, Augusto, Olívia, Flavinho, Fernanda Salvador, Cristina Maria,
Maria Grossi, Ângela, Sandrinha, Maria Paixão, Sueli, Alessandra Castro,
Omari, Walderez, a gente não faz amigos, reconhecê-os.
À Marilene Coelho, minha trajetória profissional é impensável sem você!
Desde a orientação do trabalho de conclusão de curso na graduação, ao
convite para trabalhar contigo na Universidade Católica de Goiás,
13
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................... 21
Capítulo I – A fome tem uma saúde de ferro, forte, forte como quem
come: o valor da fome entre as necessidades humanas e a reprodução
do capital..................................................................................................... 35
1.1. O fundamento ontológico dos valores........................................ 46
1.2. O valor do alimento na relação com a satisfação das
necessidades humanas.................................................................... 58
1.3 Malthus e Engels: o problema da população e da produção de
alimentos........................................................................................... 66
1.4. Trabalho, valor e exploração....................................................... 72
INTRODUÇÃO
O primeiro princípio do
socialismo, seu princípio
básico e fundamental: quem
não trabalha não come!
Lenin
A Fome (carta aos operários de Petrogrado)
1
O termo militar vinculado ao sistema agroindustrial justifica-se por sua dependência de
combustível fóssil para ser distribuído: “um quinto do petróleo consumido nos Estados Unidos
vai para a produção e o transporte de comida” (POLLAN, 2006, p. 94).
22
2
Antropólogo, sua tese afirma que o ato de cozinhar nos tornou humanos. Esse estudo
trabalha com outra referência teórica que argumenta ser o trabalho o que transforma o homem
em um Ser Social.
25
revela seu duplo caráter, o que ela é realmente, quando, como valor,
dispõe de uma forma de manifestação própria, diferente da forma
natural dela, a forma de valor de troca; e ela nunca possui essa
forma, isoladamente considerada, mas apenas na relação de valor ou
de troca com uma segunda mercadoria diferente (MARX, 2003, p.
82).
3
O conceito de desenvolvimento desigual e combinado na relação entre a Revolução Burguesa
que teve curso na Europa no século XVIII e o que se passou em outros países que possuem
uma Revolução Burguesa de via não clássica é desenvolvido a partir das reflexões de Leon
Trotsky (1879-1940).
26
Os caminhos do estudo
4
Josué de Castro, escritor, médico, professor, parlamentar, embaixador, presidente da
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), foi para o mundo,
27
há mais de 50 anos, lutar [pelo fim da fome]. Saiu do Recife, onde nasceu no ano de 1908 (...)
e morreu na cidade de Paris em 1973, “de exílio” (SOARES, 2003). Segundo Ziegler (2013, p.
120), “Por três vezes, Castro foi indicado para receber o Prêmio Nobel: uma para o Nobel de
Medicina, duas para o Nobel da Paz. Em plena Guerra Fria, recebeu em Washington, o Prêmio
Roosevelt da Academia Americana de Ciências Políticas e, em Moscou, o Prêmio Internacional
da Paz. Em 1957 recebeu a Grande Medalha da Cidade de Paris, a mesma concedida antes a
Pasteur e a Eistein”. Soares (2003, p. 7) afirma que “respeitado em todo o mundo, reconhecido
até hoje nos círculos acadêmicos, trata-se o ilustre pernambucano de um quase desconhecido
para a imensa maioria da população brasileira”.
5
A fome, “um tema proibido”, é o título de um livro editado 10 anos após a morte de Josué de
Castro (1908-1973) e que contém seus últimos escritos. O tema é tratado dessa forma, pois a
produção de Josué de Castro faz referência ao tabu ao abordar a fome como tal em sua época.
Para Anna Maria de Castro (2003, p.13) “Josué de Castro sempre soube que o tema por ele
escolhido, a luta contra a fome, era bastante perigoso, um verdadeiro tabu. E foi acreditando
que poderia romper com esse tabu e construir uma teoria e uma prática capazes de vencer o
fenômeno da fome que travou o bom combate de sua vida. Pagou com o exílio, com a tristeza,
com a saudade”. O trecho se refere ao exílio de Josué de Castro. O autor estava na lista dos
10 primeiros brasileiros que deveriam deixar o país na ocasião do golpe militar de 1964. Morreu
no exílio após solicitar por algumas vezes permissão para regressar ao país. Mesmo após sua
morte a família teve muita dificuldade para conseguir que o autor fosse enterrado no Brasil
(TENDLER, 2004). Outro elemento sobre o tema controverso entre as décadas de 1940-1960
encontra-se nos filmes de Glauber Rocha. O diretor apresenta uma tese no ano de 1965 em
Gênova, por ocasião do debate sobre o cinema novo brasileiro, no qual expressa sua
convicção de que esse movimento do cinema nacional é um movimento que trata da fome e
por isso é rechaçado no Brasil: “de Aruanda a Vidas Secas, o cinema novo narrou, descreveu,
poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra,
personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para
comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras; foi
esta galeria de famintos que identificou o cinema novo com o miserabilismo tão condenado
pelo Governo, pela crítica a serviço dos interesses antinacionais, pelos produtores e pelo
público – este último não suportando as imagens da própria miséria. Este miserabilismo do
Cinema Novo opõe-se à tendência do digestivo, preconizada pelo crítico-mor da Guanabara,
Carlos Lacerda: filmes de gente rica, em casas bonitas, andando em carros de luxo: filmes
alegres, cômicos, rápidos, sem mensagem, de objetivos puramente industriais. Estes são os
filmes que se opõem à fome, como se na estufa e nos apartamentos de luxo, os cineastas
pudessem esconder a miséria moral de uma burguesia indefinida e frágil ou se mesmo os
próprios materiais técnicos e cenográficos pudessem esconder a fome que está enraizada na
própria incivilização (ROCHA, 1965).
28
6
A revista “Serviço Social e Sociedade”, primeira revista especializada em Serviço Social que
circula desde 1979 e encontra-se atualmente no número 114, foi pesquisada em sua
integralidade, assim como a revista “Temporalis”, cuja edição é vinculada à Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Todas as demais revistas foram
consultadas em seus acervos digitais, são elas: “Argumentum” (Universidade Federal do
Espírito Santo – UFES); “Em Pauta” (Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ);
“Libertas” (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF); “Katalysis” (Universidade Federal de
Santa Catarina – UFSC); “O Social em Questão” (Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro PUC-RIO); “Emancipação” (Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG); “Praia
Vermelha” (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ); “Política Pública” (Universidade
Federal do Maranhão – UFMA); “Ser Social” (Universidade de Brasília – UnB); “Serviço Social e
Saúde” (Hospital das Clínicas – Universidade de Campinas – Unicamp) cuja última edição foi
em 2011; as demais encontram-se ativas.
29
7
Segundo informações da Coordenação de Pós-Graduação da ABEPSS (Gestão 2015-2016),
existem atualmente 29 programas de mestrado na área do Serviço Social e 12 programas de
doutoramento espalhados nas cinco regiões do Brasil. Parte desses programas tem o banco de
tese depositado no arquivo geral da Universidade, o que dificulta a pesquisa por área. Outros
não possuem todos os arquivos disponíveis. Alguns programas disponibilizam apenas o título e
o resumo. De toda forma, verifiquei todos os programas informados pela ABEPSS.
8
Sobre o tema da pobreza, existe um debate intenso na literatura tanto liberal quanto socialista
(MONTAÑO, 2012). O tema é fundamental para o Serviço Social (SIQUEIRA, 2013) e para a
apreensão do estudo em questão. Este estudo compreende a pobreza como um fenômeno
inerente ao modo de produção capitalista e originário da lei geral de acumulação capitalista
(MARX, 2003c). A fome apresenta-se, também, como uma das expressões da “questão social”
(NETTO, 2001b), organicamente vinculada à pobreza absoluta, porém, não restrita a ela.
32
incidência para a análise, organizados por tema, foram: 1) fome, nos estudos
de Castro (1982, 1961) e Ziegler (2013); 2) a relação entre as necessidades
humanas e a reprodução do capital, nos estudos de Marx (2003, 2006, 2012 e
Lukács (2012, 2013); 3) a relação do sistema agroindustrial e os efeitos sobre a
alimentação humana, nos estudos de Pollan (2007, 2008, 2010) e Fernández-
Armesto (2004); 4) a compreensão do mercado da fome, nos estudos de
Mandelay (2003), Ziegler (2013) e George (1978); 4) os determinantes da
inserção brasileira no capitalismo, especialmente com os estudos de Marini
(2005, 2012) e Delgado (2001, 2010, 2012a); 5) a análise da organização da
política de combate à fome no Brasil, nos estudos de Iasi (2006), Mota (2005,
2012) e Lula (2003; 2013); 6) a análise da situação nutricional, nos estudos de
Monteiro (1995; 2003; 2009) e Batista Filho (2008).
Na pesquisa documental considerei o documento do Programa Fome
Zero (PFZ) e o marco legal do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (SISAN) especialmente para verificar a organização da política.
Os dados secundários pesquisados se referem às informações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no que se refere à
produção agropecuária nacional e a disposição da população brasileira em
domicílios. E a situação da fome no Brasil foi verificada por meio do aspecto da
insegurança alimentar que é como a informação se apresenta nos
levantamentos do IBGE. Os documentos do IBGE utilizados foram a 1)
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), de 2009, no suplemento:
“Antropometria e Estado Nutricional de Crianças e Adolescentes e Adultos no
Brasil”, para verificar a situação de desnutrição e de sobrepeso da população
brasileira; e no suplemento: “Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil”,
com o objetivo de apreender qual é a composição alimentar dos brasileiros; 2)
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), de 2009, no suplemento
“Segurança Alimentar no Brasil 2004-2009”, que mede a percepção da
insegurança alimentar dos brasileiros; 3) o Relatório de Avaliação da Evolução
Temporal do Estado Nutricional de Crianças de 0 a 5 anos beneficiárias do
Programa Bolsa Família (PBF) acompanhadas nas condicionalidades de
saúde, feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) e pelo Ministério da Saúde (MS), para comparar com os dados
nacionais de desnutrição infantil, essa informação é relevante pois o efeitos da
34
CAPÍTULO I
A fome tem uma saúde de ferro, forte, forte como quem come: o valor da
fome entre as necessidades humanas e a reprodução do capital
10
Food and Agriculture Organization, na sigla em inglês.
37
11
Os valores atualizados para a linha de miséria e indigência do Banco Mundial é $1,25 e para
a pobreza $2,00 (LOUREIRO et. al. 2010).
12
A FAO trabalha com os conceitos de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Essa tese
utiliza outra perspectiva teórica para balizar a análise: países de economia central e países de
economia dependente. Esse assunto será abordado no segundo capítulo.
40
13
Voltarei a esses instrumentos de aferição da fome no último capítulo. Nenhum deles é
suficiente para precisar o fenômeno, de modo a ser avaliado apenas em uma tendência. A
tendência para todo o mundo é que a fome reduza, exceto para a África onde a fome tem
aumentado nos últimos anos. A condição sob a qual a fome diminui, como no caso do Brasil, é
eixo central de análise desse estudo.
41
surgiu um ano e meio antes, em 1945. Ao ser criada a FAO, expunha assim
suas atribuições:
O Dr. Henri Dupi, que passou grande parte da sua carreira ensinando
saúde pública na África, ficou espantado, em 1970, ao ver mães na
Costa do Marfim dando Nescafé a criancinhas de 19 a 20 meses. Os
seus alunos explicaram-lhe que a seguinte mensagem era transmitida
três vezes por dia, através da rádio nacional: ‘Nescafé torna os
homens mais fortes, as mulheres mais alegres e as crianças mais
inteligentes’. Essas mães africanas estavam simplesmente pondo tal
‘conselho’ em prática. O Dr. Dupin por vezes sente que está travando
uma batalha perdida – o orçamento publicitário da Nestlé é muito
maior do que o orçamento anual da Organização Mundial de Saúde
(GEORGE, 1971, p. 170).
42
14
Alimento de base é uma referência ao alimento que compõe em cada cultura o alicerce
alimentar, como é o caso do arroz e do feijão no Brasil.
45
15
Fonte: http://nacoesunidas.org/brasileiro-jose-graziano-e-candidato-unico-para-chefiar-fao-
eleicoes-sao-em-junho/ acessado em 15 de março de 2015.
46
O valor (...) contribui para que permaneça viva, pelo menos em parte,
nas perguntas e nas respostas, uma tendência à autenticidade, já
que, inclusive, a alternativa de determinada práxis não se expressa
somente em dizer ‘sim’ ou ‘não’ a um determinado valor, mas também
na escolha do valor que forma a base da alternativa concreta e nos
motivos pelos quais se assume esse pôr (LUKÁCS, 2013, p.125).
A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozida, que
se come por meio de uma faca ou de um garfo, é uma fome muito
distinta da que devora carne crua com ajuda das mãos, unhas e
dentes. A produção não produz, pois, unicamente o objeto do
consumo, mas também o modo de consumo, ou seja, produz objetiva
e subjetivamente. A produção cria, pois, os consumidores.
16
“Os problemas da origem e difusão do arroz são essenciais para o entendimento da história
mundial. O arroz fornece cerca de 20% das calorias e 13% das proteínas que as pessoas
consomem hoje no mundo, sendo o produto alimentício básico para mais de 2 bilhões de
pessoas” (FERNANDEZ-ARMESTO, 2004, p.147-148).
17
Voltaremos ao milho mais adiante por sua importância econômica na atualidade. Cabe
ressaltar, porém, que o milho sozinho é um alimento incompleto em termos nutritivos e é
complementado nessa região com o feijão.
55
18
“As origens do restaurante recuam aos limites da pré-história e da história. Esse tipo de
comércio surgiu com os mercados e as feiras, que obrigavam camponeses e artesãos a
deixarem seu domínio durante um ou vários dias e, portanto, a se alimentarem ao mesmo
tempo que estabelecem ou mantêm relações sociais (...). Por volta de 1765, um certo
Boulanger, dito ‘Champ d’Oiseaux’ ou ‘Chantoiseau’, abre uma butique nas proximidades do
Louvre (...). Vende aí ‘restaurats’ ou ‘caldos restauradores’, isto é, caldos à base de carne,
propícios a restaurar as forças debilitadas. Desde o final da Idade Média a palavra ‘restaurant’
designa esses caldos ricos que incluem carne de aves e boi, diversas raízes, cebolas, ervas e,
57
segundo as receitas, especiarias, açúcar-cande, pão torrado ou cevada, manteiga, assim como
produtos de aparência tão insólita como pétalas secas de rosa, passas, âmbar, etc.
(FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 755).
58
Não é demasiado lembrar que a fome, por essas datas, também atingia
camponeses e plebeus enquanto a nobreza se alimentava de brioche. O
processo de assalariamento e a revolução industrial, todavia, modificarão o
estatuto da fome.
Na transição para a sociedade estruturada sob o modo capitalista de
produção, o debate sobre a alimentação e o crescimento populacional animou
a economia política. O marco da discussão localiza-se em Malthus e em seus
estudos populacionais. A teoria malthusiana, ainda que atualmente seja
rechaçada pela própria realidade, uma vez que já produzimos alimentos
suficientes para alimentar quase o dobro da população mundial, segue tendo
importância, pois sustenta o discurso liberal, na justificativa da não intervenção
estatal nos problemas sociais. Porém, cabe lembrar que Malthus é um grande
inspirador para Keynes que sustentava o problema da economia pela ênfase
dada aos estudos de Ricardo sobre os de Malthus (SZMRECSÁNYI, 1982).
físicas e químicas das coisas para submeter outras coisas a seu poder,
atuando sobre elas de acordo com seu propósito” (LUKÁCS, 2012, p. 286).
A constituição do Ser Social ocorre por um processo dialético, tendo
início a partir de um salto ontológico que indica uma mudança substantiva,
qualitativa e estrutural do modo de Ser e que não se dá por continuidade – o
salto é uma ruptura, uma negação do momento anterior. A existência da
ruptura não significa que o processo de constituição do Ser Social não tenha
sido longo, com formas de transição, que contém a transformação de um ser-
em-si em um ser-para-si e a superação tendencial das formas e conteúdos
naturais em formas e conteúdos cada vez mais sociais (LUKÁCS, 2007, 2012).
A ruptura ocorre porque não se pode perceber o elo de transição nesse
processo. Implica também em perceber que o surgimento do gênero humano
não configura uma necessidade da evolução biológica, tampouco um
desdobramento da genética: “foi uma autêntica ruptura nos mecanismos e
regularidades naturais, uma passagem casual como a da natureza inorgânica à
orgânica e foi precedida, certamente, de modificações ocorrentes numa escala
temporal de largo curso”. Esse novo tipo de ser não deve sua particularidade a
condições geneticamente determinadas e é dotado de uma complexidade
“exponencialmente maior que a verificável na natureza (inorgânica e orgânica)”
(NETTO; BRAZ, 2006, p. 36; LESSA 2007).
Pode-se definir o sujeito que trabalha, o homem que se torna homem
pelo trabalho, como um ser que dá respostas, nesse sentido, as atividades
laborativas exercidas pelos homens surgem como respostas que buscam
solucionar a necessidade material que provoca a ação. Essa relação, todavia,
não é imediata e quanto mais caminha o homem em sua história, tanto mais
complexa são as respostas dadas (LUKÁCS, 2007, p. 229).
A alternativa social, (...) por mais profunda que seja sua ancoragem
no biológico, como no caso da alimentação ou da sexualidade, não
permanece fechada nessa esfera, mas sempre contém em si a
referida possibilidade real de modificar o sujeito que escolhe.
Naturalmente, também aqui se verifica – em sentido ontológico – um
desenvolvimento, já que o ato da alternativa possui também a
tendência de afastar socialmente as barreiras naturais (LUKÁCS,
2012, p. 343).
A discussão sobre a fome tem como marco um texto escrito pelo inglês
Thomas Robert Malthus (1766-1834) publicado, anonimamente, pela primeira
vez em 1798 e intitulado “Ensaio sobre o princípio da população 19”. Nesse
documento, Malthus (1982a) sustentará que não seria possível produzir
alimentos suficientes para alimentar a população existente e crescente, busca
as causas para o problema e indica soluções. Para tanto, parte de dois
postulados que crê, são insuprimíveis, diz ele:
20
dos pobres, como propôs Marcus – por conseguinte, cada família
trabalhadora tem o direito de ter dois filhos e meio; quantos vieram a
mais, serão mortos sem dor. Dar esmola seria, então, um crime, visto
que significa sustentar o acréscimo da população excedente
(ENGELS, 1981, p. 74).
20
Pseudônimo do autor de um panfleto divulgado na Inglaterra por volta de 1840, em que se
faz a publicidade da teoria de Malthus. Nota de Engels.
71
21
Netto e Braz (2006) dirão que a primeira vez que o valor foi relacionado ao trabalho data de
1738 em um panfleto de autor desconhecido.
74
Contudo, Smith (1982) não formula a lei do valor, ela será formulada
por David Ricardo no texto “Princípios de Economia Política e Tributação”, de
1817 (NETTO; BRAZ, 2006; TEIXEIRA, 2004). Segundo Teixeira (2004), Smith
estava preocupado em investigar a natureza da causa da riqueza e Ricardo
interessado em investigar a distribuição da riqueza entre as classes sociais:
proprietários de terra, trabalhadores assalariados e capitalistas.
Em Ricardo, diferentemente de Smith, o valor está no trabalho contido
na mercadoria. Ricardo observa, ainda, que, a magnitude desse valor se
resolve em dois componentes: “1) no quantum de trabalho despendido na
produção de uma mercadoria e 2) no quantum de trabalho incorporado nos
meios de produção e que entra, também, na formação do valor dessa
mercadoria” (TEIXEIRA, 2004, p. 48).
75
A fartura dos ricos excita a indignação dos pobres, que muitas vezes
são movidos pela necessidade e induzidos pela inveja a invadir a
posse daqueles [proprietários]. Somente sob a proteção do
magistrado civil, o proprietário dessa propriedade valiosa (...) pode
dormir à noite com segurança (SMITH, apud TEIXEIRA, 2004, p. 77).
humano, mas não decorre do trabalho, como o ar, por exemplo. Porém, o
contrário não se aplica, “nenhuma coisa pode ser valor se não é objeto útil; se
não é útil, tampouco o será o trabalho nela contido, o qual não conta como
trabalho e, por isso, não cria nenhum valor” (MARX, 2003, p. 63).
O trabalho, como explicitado no tópico anterior, como criador de valor
de uso, “como trabalho útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer
que sejam as formas de sociedade –, é necessidade natural e eterna de
efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza e, portanto, de
manter a vida humana”. Infere-se daí que a força humana de trabalho cria
valor, mas não é valor. Ela torna-se valor à medida que se objetiva em algum
objeto que satisfaça necessidades humanas (MARX, 2003, 65 e 73).
O esforço do autor é demonstrar como a força de trabalho produz mais
valor do que ela necessita para sua reprodução e como ela mesma torna-se
uma mercadoria no processo de produção capitalista.
antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas
propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a
22
natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia .
Não importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana,
se diretamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou
indiretamente, como meio de produção (MARX, 2003b, p. 57).
22
Reproduz-se aqui a nota 2 feita por Marx (2003, p. 57). Nessa passagem em seu texto:
“Desejo envolve necessidade; é o apetite do espírito e tão natural como a fome para o corpo.
(...) A maioria [das coisas] tem valor porque satisfaz necessidades do espírito.” (Nicholas
Barbon, A discourse on coining the new Money lighter. In answer to Mr. Loche’s considerations
etc. Londres, 1696, p. 2-3).
84
23
A cana também tem destaque nesse processo, mas detalharei melhor os problemas
relacionados à ela na particularidade brasileira.
90
CAPÍTULO II
Eu voltei pra minha terra foi com dor no Nós tava de onze a onze na parada nesse
coração dia
Procurando meu direito eu entrei num Os pobre é carta baixa e os rico são as
tabelião manilha
Quase que também caía nas unha dos Foi uma chuva de bala só capanga que
gavião corria
Porque o dono do cartório protegia os Foi pela primeira vez que o dinheiro não valia
embrulhão O barulho acabou cedo
Me falou que o fazendeiro Entregaram foi de medo
Tinha rios de dinheiro Terras que me pertencia
Pra gastar nesta questão
Na cerca de minha terra ai ai
Respondi no pé da letra não tenho nenhum Quem mexer ninguém imagina ai ai
tostão Os arame são de bala ai ai
Meu dinheiro é dois revólveres e bala no E os mourão de carabina ai ai
cinturão
Se aqui não tiver justiça para minha proteção Ladrão de terra
Vou mandar os trapaceiro pra sete palmo de Jacó e Jacozinho.
96
24
Comercializado ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX (FLANDRIN; MONTANARO, 1998;
FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2004).
97
25
Ilha que atualmente corresponde ao território do Haiti e de São Domingos.
26
“O uso do açúcar se popularizou tanto que o médico de Henrique II revelou em 1560 que ‘o
açúcar é usado no lugar do mel. (...) Não há quase nada hoje em dia que se prepare para o
estômago que seja sem açúcar. O açúcar é agregado na panificação e misturado com o vinho. O
gosto e a salubridade da água melhoram com o açúcar. A carne é salpicada com açúcar, bem
como o peixe e os ovos. Não fazemos mais uso do sal do que do açúcar” (FERNÁNDEZ-
ARMESTO, 2004, p. 236-237).
98
27
Não é possível, no marco desse estudo, detalhar os problemas que circulam o abastecimento
no Brasil, entretanto, o tema é crucial para o entendimento da fome e das estratégias para superá-
la.
28
O conceito de desenvolvimento desigual e combinado na relação entre a Revolução Burguesa,
que teve curso na Europa no século XVIII e que se expandiu para outros países da via não
clássica, é desenvolvido a partir das reflexões de Leon Trotsky (1879-1940).
99
29
Oliveira Vianna (1883-1951), formado em Direito em 1924, foi consultor do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio entre 1932 e 1940, em 1937 foi eleito para a Academia Brasileira
de Letras. Intelectual conservador é, segundo Vieira (2010), um dos responsáveis pelo caráter
corporativista do Governo Getúlio.
107
realmente, os quatro únicos produtos que o grande domínio não pode produzir”
(VIANNA, 1973, p. 123-124 grifos do autor). O autor não desconhece, todavia,
que ao redor do latifúndio havia uma população de trabalhadores livres. Para
sobreviver dependiam diretamente do latifúndio. Essa relação de dependência
também está na base do compadrio, identificado por Freyre (2007).
Prado Júnior (2011) observa a existência da mineração. A partir do século
XVIII, segundo o autor, será organizada sobre a mesma estrutura da agricultura:
produção em grande escala e grandes unidades operadas por escravos. Quanto
ao setor extrativista, localizado quase exclusivamente na Amazônia, mas ainda
aqui, ressalvadas a questões de sazonalidade e a liberdade de transitar em
território vasto, a organização do trabalho também registrará que, “o empresário,
embora não seja proprietário fundiário como o fazendeiro e o minerador, dirige e
explora, como estes, uma numerosa mão de obra que trabalha para ele e sob
suas ordens” (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 128).
A ênfase da análise do autor é que toda a produção desenvolvida na
colônia ocorre a partir da grande unidade produtiva, seja agrícola, mineradora ou
extrativa. O centro da argumentação está no fato de que a colônia existe somente
para satisfazer os interesses da metrópole e que, ao final de 300 anos, está
visceralmente ligada aos interesses da Europa, existindo apenas para fornecer
mercadorias para esta.
30
Existe um rico debate na literatura sobre o pré-capitalismo que, para Furtado, era “capitalismo
comercial”. A crítica à noção de “capitalismo comercial” ressalta que essa perspectiva abrange o
entendimento do capitalismo enquanto um modo de circulação, ao invés de um modo de
produção. Alguns autores sustentam que o pré-capitalismo na América Latina foi o escravismo
colonial. Não é possível aprofundar esse debate no texto, mas é necessário registrar a
inadequação da noção de “capitalismo comercial”, por isso a deixo entre parênteses.
109
31
O livro editado sob o nome “Coronelismo, enxada e voto”, em 1949, é uma segunda edição
como o título modificado do estudo de Leal que na primeira versão se intitulava “O municipalismo
e o regime representativo no Brasil”, publicado em 1948 (LAMOUNIER, 1999).
32
Faoro (1997, p. 637), em seu estudo sobre o aspecto patrimonialista na formação social
brasileira, acredita que o coronelismo é também uma expressão desse traço da formação social.
Para o autor, “O coronelismo, o compadrazzo latino-americano, a ‘clientela’ na Itália e na Sicília
participam da estrutura patrimonial. Peças de uma ampla máquina, a visão do partido e do sistema
estatal se perdem no aproveitamento privado da coisa pública, privatização originada em podres
delegados e confundida pela incapacidade de apropriar o abstrato governo instrumental (Hobbes)
das leis. O patrimonialismo pulveriza-se num localismo isolado, que o retraimento do estamento
secular acentua, de modo a converter o agente público num cliente, dentro de uma extensa rede
clientelista. O coronel utiliza seus poderes públicos para fins particulares, mistura, não raro, a
organização estatal e seu erário com os bens próprios”.
112
33
1) colonização oficial, cujo principal objetivo (...) era formar uma
reserva de mão de obra para os fazendeiros; 2) colonização particular,
de menor relevo que a primeira, procurando ambas criar condições
capazes de atrair correntes migratórias; 3) proximidade das grandes
fazendas, a cuja ilharga se desenvolvia a pequena propriedade como
depósito de braços para a grande lavoura; 4) decomposição da fazenda,
pelo esgotamento da terra, pela erosão, pelas pragas, pelas crises
econômicas etc.; 5) influência dos grandes centros urbanos, cujo
abastecimento exige produção de artigos de subsistência incompatíveis
com a agricultura extensiva. Ao tratar da decadência da fazenda, o autor
notou, ainda, um pouco fora do lugar, a presença da pequena
propriedade nas zonas em que ‘o regime da fazenda’, encontrando terras
inferiores, não fez mais que passar, abrindo espaço para o retalhamento
e instalação da pequena propriedade.
33
Victor Nunes Leal enumera os fatores referentes à propriedade rural a partir da obra de Caio
Prado Júnior “Distribuição da propriedade fundiária no Estado de São Paulo”.
113
engenho’ – vindos do Reino e com posses e o simples colono que pedia uma
sesmaria e tornava-se dependente do Senhor de engenho por não possuir
moenda.
Todos esses colonos e senhores, entretanto, participavam das
assembleias da Câmara como ‘homens bons34’ (QUEIROZ, 1957, p. 201) e
tinham, portanto, vida política. As decisões da Câmara Municipal refletiam as
preocupações do senhor rural em defender seus interesses privados. Não havia
separação entre uns e outros, uma vez que a realidade econômica, política e
social da colônia era representada pela figura dos proprietários rurais (QUEIROZ,
1957, p. 202).
Assistia-se, então, a terríveis lutas entre as famílias durante toda a
Colônia, atravessando o Império e, em alguns lugares, chegando até nossos dias
e, portanto, mantendo a estrutura patriarcal da família. Nessas discórdias, o
governo-geral ora mediava o conflito, ora participava da luta, condenando a outra
família. Cessado o conflito, entretanto, independente do lado vitorioso, o governo
imediatamente a ele aderia e o sustentava (QUEIROZ, 1957, p. 206).
Essa linha de argumentação permanecerá por todo o texto da autora,
desde a colônia até o período republicano. Para ela, o poder era exercido por
grupos familiares locais, articulados sob a figura de um mandão local, chefe do
poder local, que se organizava sobre uma estrutura patriarcal, familiar, cujos laços
eram fortalecidos pelo poder econômico, pela amizade e pelo compadrio, de
modo que a população se beneficiasse dessa estrutura, apoiando-a e
consolidando-a. Essa estrutura da sociedade implicará nos Estados e no governo
central como reprodução de um movimento com origem na família patriarcal,
estabelecendo uma relação com o público que mantém seus interesses privados
assegurados pelo uso da violência.
Na passagem do período imperial para o republicano, cabe destacar a Lei
de Terras (Lei n.601, de 18 de setembro de 1850), um marco de segurança
jurídica aos precários títulos de terras dos latifundiários em relação à Coroa, ao
governo central, proibindo a ocupação de terras devolutas que não fosse pela
compra. Na realidade, instaurou-se um regime de violência e arbitragem no
34
O primeiro autor a formular a análise dos “homens bons” da colônia foi Prado Jr (2006), em
“Evolução política do Brasil colônia e império”.
117
campo. A lei de terras legalizou o latifúndio no país, por um lado e instituiu, por
outro, a “grilagem”,
35
O governo Vargas criou em 1931, o Conselho Nacional do Café, o Instituto do Cacau da Bahia;
em 1933, o Departamento Nacional do Café, o Instituto do Açúcar e do Álcool; em 1934 foram
criados o Conselho Federal do Comércio Exterior, o Instituto Nacional de Estatística, o Código de
Minas, o Código de Águas, o Plano Geral de Viação Nacional, o Instituto de Biologia Animal; já em
1944 temos a criação do Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial e o Serviço de
Expansão do Trigo (IANNI, 2009).
121
40
Segundo Melo (2014, p. 198, grifos do autor), a modernização que ocorreu no campo no período
da ditadura de modernização excludente “evidencia-se (…) uma vez que a progressividade da
produção não significou a extensão na melhoria social. Ao contrário, o incremento produtivo
resultou na exclusão de parte dos trabalhadores e pequenos proprietários, visto que as mudanças
estiveram centradas na produção capitalista. Sendo assim, a modernização efetivada não pode
ser nomeada de conservadora, mas sim excludente, porque tal transformação não foi apenas
conservante das desigualdades. Na medida em que se modernizou as relações de produção no
campo, afetou-se os meios de subsistência e o modo de vida de camponeses e pauperizados.
Ademais, essa mudança impediu a incorporação de parte expressiva da força de trabalho ao
progresso social, ao recusar a extensão dos direitos trabalhistas ao proletariado rural. Portanto,
reconhecer que houve o processo de exclusão implica considerar que as desigualdades foram
ampliadas, o que resultou no agravamento do pauperismo.
129
41
Algumas mudanças que se processam na agricultura do país pós-64 já estavam em curso na
agricultura paulista (DELGADO, 2012a).
130
consolida dos anos 2000 para cá. Para Delgado (2012a), dois fatos demarcam a
exaustão do modelo de crescimento econômico do regime civil-militar: a crise
cambial de 1982 e a Constituição Federal de 1988.
A crise cambial levou a medidas conjunturais de ajuste econômico que
configurarão o embrião do sistema de intensificação de exportações de
commodities que se consolidará nos anos 2000. Entre os anos 1982-1983 Delfim
Netto lança uma estratégia de geração de saldos comerciais via expansão de
exportações de produtos básicos e agroprocessados que avançam pela nova
fronteira agrícola do Centro-Oeste (DELGADO, 2001, 2012a).
42
O movimento eclode em 1985 e é considerado um marco para a organização dos trabalhadores
rurais da região. O conflito alastrou-se por todo o Estado de São Paulo e teve forte repressão dos
poderes públicos. Dentre as reivindicações estavam “a exigência do final do sistema de sete ruas
para o corte de cana, melhorias salariais e condições dignas de trabalho (SANT’ANA, 2012, p. 25).
135
43
“Os ‘Planos Anuais de Safra’ preparados todos os anos pelo Ministério da Agricultura em
interação com o Ministério da Fazenda e anunciados no início do segundo semestre, contêm, no
formato que se mantém há mais de 45 anos, a previsão anual do crédito a ser concedido e as
respectivas condições de financiamento, os preços da garantia, as condições do seguro agrícola e
demais inovações legais pertinentes ao calendário agrícola do ano safra que se está planejando
(DELGADO, 2012a, p. 101).
136
Fonte: IBGE, censo demográfico 1950/2010. Até 1991, dados extraídos de estatísticas do século XX, Rio de janeiro: IBGE,
2007 no anuário estatístico do Brasil, 1993, vol. 53, 1993. Elaboração própria
Em toneladas
90.000.000
80.000.000
70.000.000
Arroz (em casca)
60.000.000
Feijão (em grão)
50.000.000
Milho (em grão)
40.000.000
30.000.000 Soja (em grão)
20.000.000 Mandioca
Em toneladas
900.000.000
800.000.000
700.000.000
600.000.000
500.000.000
400.000.000
300.000.000
200.000.000
100.000.000
0
2000
1995
1996
1997
1998
1999
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: IBGE – Produção agrícola municipal.
Elaboração: Dr. Marcelo Gomes Ribeiro (IPPUR-UFRJ)
44
Wilkinson e Herrera (2008, p. 10) realizaram um estudo sobre o impacto dos agrocombustíveis e
informaram que a produção de álcool no Brasil data de 1920. Durante a segunda guerra mundial,
dada a dificuldade de importação de combustível fóssil refinado, o álcool era adicionado à gasolina
para uso em veículos leves. Posteriormente, após 1975, o governo Geisel lança o Pró-Álcool que
impulsiona a produção de álcool no país, inicialmente utilizado em veículos leves especialmente
adaptados para esse fim. Por esse período 80% dos produtos a base de petróleo utilizados no
Brasil vinham do Oriente Médio. O setor automobilístico respondeu à demanda e em meados da
década de 1980, cerca de 90% dos automóveis vendidos consumiam álcool. Na segunda metade
da década, todavia, os preços do petróleo caíram drasticamente. O preço do açúcar no mercado
141
mundial se tornou atraente e a crise econômica no Brasil tornou cada vez mais difícil os subsídios
governamentais à produção de álcool. A produção de cana-de-açúcar foi desviada para a
exportação de açúcar e a falta de álcool no país impactou a indústria de automóveis, até ser
interrompida em 1990. “A produção de cana-de-açúcar aumentou muito em resposta aos
incentivos do programa Pró-Álcool, gerando fortes críticas em torno da concentração de terras, da
expulsão de agricultores familiares, da substituição de culturas alimentares, do tratamento de
trabalhadores rurais e da degradação de comunidades locais pela monocultura em larga escala. A
oposição também centrou-se nos efeitos ambientais negativos da ampliação da cultura da cana-
de-açúcar – em função do uso mais intensivo de insumos químicos, das técnicas de queimada
antes da colheita e da poluição de fontes d’água pelo vinhoto. Todas essas questões resurgem à
luz da atual expansão da produção de álcool”. Os problemas com a produção de petróleo e o
contexto dos acordos do Protocolo de Kyoto impulsionam a busca de combustíveis alternativos. A
indústria de automóveis, por sua vez, responde com o carro flex, introduzido em 2003, que
equivale à aproximadamente 80% das vendas de automóveis.
142
45
Sant’Ana (2012, p. 16), ao estudar as condições de trabalho dos trabalhadores do corte da
cana, e portanto, ao especificar essa produção para aprofundar a reflexão sobre a relação capital-
trabalho, destaca que “presente em solo brasileiro desde os tempos da colonização, a cana-de-
açúcar é uma atividade altamente subsidiada pelo Estado; em determinadas conjunturas o
subsídio é direto: dos cofres públicos para as contas privadas; em outras é indireto: investe-se em
infraestrutura e criam-se as facilidades para a produção, seja do açúcar, seja do álcool.
143
46
Sant’Ana (2012) estuda especificamente a situação de trabalhadores residentes, ou seja,
trabalhadores que vivem no “lugar” do corte de cana, com mais de 35 anos de idade e que
exerceu a atividade de cortar cana por um longo período da sua atividade laborativa. O estudo
toma como trabalhador do “lugar” “aquele que, mesmo não tendo nascido na região, tem um
tempo de permanência e, principalmente, se considera “do lugar” a ponto de não ter mais como
projeto o retorno para seu local de origem; aquele que fechou o ciclo da migração”. (SANT’ANA,
2012, p.13). O estudo é realizado em 15 Municípios de pequeno porte, até 20 mil habitantes, das
seis regiões administrativas de governo de São Paulo. Nesses municípios a economia gira em
torno da cana-de-açúcar, ou seja, os que não são contratados pela usina ficam praticamente sem
outras possibilidades de trabalho.
145
47
“Plantas transgênicas – são aquelas que tiveram sua composição genética modificada em
laboratório mediante técnicas de manipulação genética, como o DNA recombinante. Essa técnica
consiste na extração de um ou mais genes de qualquer espécie (organismo doador – plantas,
animais ou microorganismos) e sua introdução numa cultivar qualquer (organismo receptor). Pela
alteração da sequência de DNA, podem ser modificadas as características de uma planta. Com a
introdução de um gene exógeno produz-se uma quebra da sequência de DNA do organismo
receptor, produzindo sua reprogramação, podendo provocar a produção de novas substâncias ou
apresentar novas funções e/ou características, tais como alterações na resistência a herbicidas,
insetos, pragas e doenças causadas por vírus, bactérias e fungos; alterações na composição
química, por exemplo, na quantidade e qualidade de amido, proteínas, óleos, etc.; alterações em
características fisiológicas, como resistência a condições ambientais adversas (seca, salinidade,
etc.) e prolongamento do período de vida” (WILKINSON, 2000, p. 19-20).
147
48
“Após mais de 13 anos de trabalho na Anvisa, Luiz Claudio Meirelles foi desligado da agência
após constatar, apurar e informar irregularidades na concessão dos Informes de Avaliação
Toxicológica de produtos formulados que autorizam o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) a registrar agrotóxicos no país. Além disso, Luiz Claudio solicitou
providências, aos setores responsáveis da Anvisa, incluindo a própria presidência da agência.
Logo após sua exoneração, Meirelles divulgou carta aberta esclarecendo os fatos, motivações e
preocupações relacionados à sua saída da Anvisa, incluindo graves irregularidades com o
‘deferimento de produtos sem a necessária avaliação toxicológica, falsificação de minha
assinatura e desaparecimento de processos em situação irregular’. No total foram identificadas,
153
Quadro 2.1: Consumo de agrotóxicos e fertilizantes nas lavouras do Brasil, 2002 a 2011
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Agrotóxicos
(Milhões de 599,5 634,5 693,0 706,2 687,5 686,4 673,9 725,0 827,8 852,8
litros)
Fertilizantes
(milhões de 4.910 5.380 6.210 6.550 6.170 6.070 6.240 6.470 6.497 6.743
kg)
Fonte: CARNEIRO et al. 2015, p. 52
49
O benzoato de emamectina teve o registro na Anvisa solicitado pela Syngenta em 2003. O
pedido foi indeferido em 2007 em função do produto causar perigo à saúde, especialmente
elevada neurotoxidade e suspeita de teratogênese (má formação fetal) (CARNEIRO, et al. 2015,
p. 471).
155
Gráfico 2.4: Consumo de agrotóxicos e fertilizantes nas lavouras do Brasil, 2002 a 2011
900,0 8.000,0
800,0 7.000,0
700,0
6.000,0
600,0
5.000,0
500,0
4.000,0
400,0
3.000,0
300,0
2.000,0
200,0
100,0 1.000,0
0,0 0,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Quadro 2.2. Classificação e efeitos e/ou sintomas agudos e crônicos dos agrotóxicos
Praga que controla Grupo químico Sintomas de intoxicação aguda Sintomas de
intoxicação crônica
Organofosforados Fraqueza, cólicas abdominais, Efeitos neurotóxicos
e carbamatos vômitos, espasmos musculares retardados,
e convulsões alterações
cromossomiais e
dermatites de contato
Organoclorados Náuseas, vômitos, contrações Lesões hepáticas,
musculares involuntárias arritmias cardíacas,
Inseticidas
lesões renais e
neuropatias
periféricas
Piretroides Irritações das conjuntivas, Alergias, asma
sintéticos espirros, excitação, convulsões brônquica, irritações
nas mucosas,
hipersensibilidade
Ditiocarbamatos Tonteiras, vômitos, tremores Alergias respiratórias,
musculares, dor de cabeça dermatites, doença
Fungicidas de Parkinson,
cânceres
Fentalamidas - Teratogêneses
Dinitroferóis e Dificuldade respiratória, Cânceres (PCP –
pentaciclorofenol hipertemia, convulsões formação de
dioxinas), cloroacnes
Herbicidas Fenoxiacéticos Perda de apetite, enjoo, Indução da produção
vômitos, fasciculação muscular de enzimas
hepáticas, cânceres,
teratogeneses
Dipiridilos Sangramento nasal, fraqueza, Lesões hepáticas,
desmaios, conjuntivites dermatites de
contato, fibrose
pulmonar
Fonte: CARNEIRO et al. 2015.
Castilho (2012) informa que esses dados são referentes à área declarada
dos políticos, que corresponde à 63,6% dos políticos eleitos que declaram possuir
terras. Alguns declaram o valor do imóvel, mas não sua extensão, e outros ainda
são proprietários de empresas que possuem terras. O número da extensão
aumenta progressivamente ao longo do detalhamento da pesquisa à medida que
se desvelam as informações.
É importante notar que a banca ruralista trabalha, ocupa comissões, faz
conchavos políticos. Dos quarenta representantes parlamentares na Comissão de
Agricultura da Câmara, em 2011, 26 possuiam terras, porém, dentre os que não
declaram a propriedade, apenas 4 não defendiam os interesses dos ruralistas em
suas votações. Isso ocorre em função de outro dado relevante para se pensar a
conjuntura política nacional: o agronegócio financia as campanhas50! (CASTILHO,
2012).
Uma dessas empresas é a Friboi. Dentre os 55 candidatos a deputado
federal apoiados pela empresa, 41 foram eleitos (75%). Entre os candidatos ao
50
“Tanto governadores como deputados (estaduais e federais) e senadores receberam, em 2010,
mais de R$ 50 milhões de grandes grupos [do agronegócio]. Somente o Grupo Friboi (JBS) doou
mais de R$ 30 milhões em 2010. Outros doadores de peso no setor agropecuário foram os
seguintes: Cosan (usina de açúcar e álcool, entre outros). Total: R$ 3,08 milhões. Políticos
financiados: 41. Bunge Fertilizantes. Total: R$ 2,72 milhões. Políticos financiados: 40. Cutrale
(suco de laranja). Total: R$ 1,89 milhão. Políticos financiados: 10. Marfrig Frigoríficos. Total: R$
1,2 milhão. Políticos financiados: 17.” (CASTILHO, 2012, p. 148). A quantidade de políticos
financiados correspondem aos que foram eleitos.
159
CAPÍTULO III
51
Sobre o histórico da política de Combate à Fome no Brasil: Pinheiro (2009); Maluf (2007);
Batista Junior (2013); Belik (2012); Belik et al. (2001).
52
Cabe destacar que o período reflete para o Brasil os efeitos da crise da década de 1970
(Hobsbawm, 1994; Harvey, 1992, Antunes, 1999), os efeitos da década perdida (Matoso, 1995) e
o ideário neoliberal que responde às ações do Estado e à nova fase de acumulação do capital.
53
O primeiro Plano Nacional de Alimentação foi elaborado em 1952, no âmbito da Comissão
Nacional de Alimentação (CNA), criada em 1945 e extinta em 1972, quando se cria o Instituto
Nacional de Alimentação INAN, extinto em 1997.
165
o
Art. 3 A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do
direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a
outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares
promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam
o
ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Art. 4 A
167
esse foi o grande legado desses dez anos: nós nos descobrimos para
nós mesmos. Nós não somos mais tratados como cidadãos de segunda
classe. Nós temos o direito hoje de andar de avião, de entrar num
shopping e comprar as coisas que todo mundo sempre quis comprar. E
recuperamos o prazer, o gosto de ser brasileiro, o gosto de amar o nosso
país (LULA, 2013, p. 12).
ganhos da classe, mas que, mediada pelo Estado burguês, a política social está
sob efeito de uma força desigual e pende sistematicamente para os ganhos do
capital.
Ainda que brevemente, é relevante pontuar algumas questões sobre o
Estado. Tonet (2010), investigando as obras de Marx, “Glosas críticas marginais
ao artigo ‘o rei da Prússia e a reforma social’ de um prussiano”, “Sobre a questão
judaica” e os “Manuscritos econômico-filosóficos”, observa que existem quatro
teses sobre o Estado em Marx.
A primeira é a de que existe uma dependência ontológica do Estado para
com a burguesia. Isso se opõe à tese de que o Estado é o resultado do pacto
social, ou de que o Estado é o princípio superior do ordenamento da sociedade
civil. Para Marx, o Estado tem a sua raiz no antagonismo de classes sociais que
compõe a sociedade civil. A segunda tese afirma que o Estado essencialmente
expressa o interesse das classes dominantes. Na terceira tese está implícita a
ideia de que o Estado é impotente para alterar a sociedade civil:
Essa é uma causa que pode e deve ser de todos, sem distinção de
classe, partido, ideologia. Em face do clamor dos que padecem o flagelo
da fome, deve prevalecer o imperativo ético de somar forças,
capacidades e instrumentos para defender o que é mais sagrado: a
dignidade humana (LULA, 2003).
55
O CONSEA de fato foi criado durante o governo Itamar Franco. Quanto à criação do CONSEA,
Valente (2002, p. 74-75) informa que dois avanços se apresentavam nesse momento: “1) O
combate à fome e a miséria passa a ser visto como um problema de Governo e uma questão
estratégica, sua coordenação ficando diretamente vinculada ao gabinete do presidente, e 2) O
objetivo de coordenar as ações governamentais de forma intersetorial, entre os diferentes níveis
de governo, e com as da sociedade civil no sentido de reduzir duplicidades, superposições e de
atingir os objetivos propostos”. Mas com a entrada do governo Fernando Henrique Carsodo, o
conselho foi desativado em 1995. Em 1995 o Governo Fernando Henrique Cardoso assume seu
primeiro mandato e cria imediatamente o Programa Comunidade Solidária (PCS). No marco da
contrarreforma do Estado (BEHRING, 2003a, 2003b) e na política neoliberal (Anderson, 2000), o
debate sobre a segurança alimentar e nutricional restringiu-se ao incentivo para que a sociedade
civil se mobilizasse para resolver o problema. O governo extingue o CONSEA e cria em seu lugar
174
o Conselho do Programa Comunidade Solidária, presidido pela primeira dama, Dra Ruth Cardoso.
Dilui-se a discussão sobre Segurança Alimentar e se desvia as ações do Estado que, a partir de
então, se recusa a discutir programas de governo (VALENTE, 2002).
56
Sobre a elaboração do documento do Fome Zero, observa-se que sua origem ocorreu a partir
do debate com a sociedade civil. Segundo seus coordenadores, “o texto preliminar foi elaborado a
partir de contribuições de uma centena de especialistas durante mais de seis meses. Foram
realizados três grandes encontros em São Paulo, Fortaleza e Santo André, que reuniram ao todo
mais de 1000 participantes que debateram e contribuíram para a versão preliminar da proposta.
Foram realizados, ainda, vários debates com a participação de técnicos e especialistas de todo o
Brasil. A versão preliminar dessa proposta foi enviada, também, para entidades da sociedade civil,
parlamentares, sindicatos, empresários e especialistas nacionais e internacionais que analisaram
e propuseram modificações ao documento” (SILVA; CAMARGO, 2001, p. 10).
57
Atualmente, Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). O
fórum existe desde 1998.
175
Cabe notar que a proposta, tal qual está redigida no documento entregue
ao governo Itamar Franco, associa imediatamente segurança alimentar com
acesso e produção de alimentos. Aponta-se para uma política de abastecimento
58
Valente (2002) informa que, durante o governo Collor, o desmonte do pouco que havia de
política de combate à fome foi significativo. Em primeiro lugar, foram extintos o PROAB e o
PROCAB. Até 1992, foram extintos todos os programas de suplementação alimentar dirigidos a
crianças menores de sete anos, grupo alvo, tecnicamente considerado mais vulnerável (PNLCC,
PSA, PCA/PAN, PAIE). Os programas de combate à carências específicas foram colocados em
hibernação, assim como o Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno. O único programa
mantido foi o Programa de Combate ao Bócio Endêmico. Em 1992 o Programa Nacional de
Alimentação Escolar funcionou apenas 38 dias do ano escolar que contém 200 dias ao todo. O
Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) teve sua equipe reduzida a um técnico e, no
âmbito do INAN, todos os programas em andamento – exceto algumas atividades de aleitamento
materno – foram desativados.
59
Governo Paralelo é o nome da Organização Não Governamental – embrião do Instituto de
Cidadania – criado pelo PT após as eleições presidenciais de 1989, quando, no confronto do
segundo turno entre Lula e Fernando Collor de Melo, do Partido da Renovação Nacional (PRN),
eleito presidente. O objetivo da ONG era fiscalizar o governo eleito, mas também elaborar estudos
e produzir propostas de políticas sociais e colocá-las à disposição das instâncias de governo
(GOMES JUNIOR, 2007; PINHEIRO, 2009).
176
60
O Programa do Leite, como ficou conhecido, é uma referência ao Programa Nacional de Leite
para Crianças Carentes (PNLCC), lançado em 1986, pelo governo José Sarney. O Programa
distribuía tíquetes para que as famílias carentes comprassem 30 litros de leite mensais no
comércio local. O programa foi muito criticado por especialista por seu caráter clientelista,
focalizado e isolado de outras políticas.
177
61
Sobre o terceiro setor, um estudo minucioso e crítico encontra-se em Montaño (2005).
178
62
Tereza Campello, atual ministra do Desenvolvimento Social e Combate à fome, na
apresentação do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – 2012/2015.
181
63
Conforme já informado, a primeira conferência foi realizada em 1994, em Brasília, ainda no
marco das articulações oriundas da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida. A
segunda aconteceu em Olinda, dez anos depois, já fruto das ações do governo petista. O objetivo
era “propor diretrizes para o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, além de avaliar
ações e experiências” (CONSEA, 2009, p. 10). Nesta ocasião foram aprovadas 153 propostas de
ações estratégicas, das quais a principal é a construção da Lei que cria o Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional. A terceira conferência é realizada em Fortaleza, em 2007. A
partir dessa conferência cria-se a Lei 11.346, de 15 de setembro de 2006, Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) que, por sua vez, cria o Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). A IV Conferência ocorreu em Salvador, em 2011. Seu
185
Um indivíduo poderá ser pobre sem ser afetado pelo problema da fome
bastando que sua condição de pobreza se expresse por carências
básicas outras que não a alimentação (o instinto de sobrevivência do
homem e de todas as outras espécies animais faz com que suas
necessidades alimentares tenham precedência sobre as demais). A
objetivo geral era “construir compromissos para efetivar o direito humano à alimentação adequada
e saudável, previsto no artigo 6º da Constituição Federal, e promover a soberania alimentar por
meio da implementação da Política e do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(SISAN) nas esferas de governo e com a participação da sociedade (CONSEA 2, 2014, S/P).
186
fome muda de estatuto após a revolução industrial inglesa do século XVIII. Até
aqui, a fome poderia ser atribuída às dificuldades humanas em dominar a
natureza, à produção de alimentos, às catástrofes naturais. No atual estágio do
desenvolvimento capitalista, entretanto, o problema muda de forma e conteúdo, a
transição nutricional aponta para a polarização entre obesidade, caracterizada de
forma simplificada pelo consumo de calorias em demasia, e a desnutrição, no
caso do Brasil, especialmente a prevalência de anemia.
É importante ressaltar que no modo de produção capitalista, o homem
produz de forma estranhada, produz para o capitalista, o dono dos meios de
produção e não se percebe como produtor, não se vê em sua obra. “Da relação
do trabalho estranhado com a propriedade privada depreende-se, além do mais,
que a emancipação da sociedade da propriedade privada, da servidão, se
manifesta na forma política da emancipação dos trabalhadores” (MARX, 2012, p.
88-89). A emancipação dos trabalhadores não diz respeito apenas à eles, mas à
emancipação humana em sua dimensão universal, contrariamente ao que ocorre
na relação do trabalhador com a produção. É na produção que se encontra o
fundamento da opressão humana inteira e de todas as formas de servidão com
consequências e modificações nessa relação fundante.
São as relações sociais de produção que determinam as condições de
satisfação das necessidades humanas. Desse modo, o sistema de necessidades
é alterado no curso das transformações históricas e o modo de produção
determina a condição de satisfação das necessidades, ou seja, no atual estágio
de desenvolvimento do capital, a necessidade humana à alimentação se submete
às condições concretas de satisfação no interir do sistema sociometabólico do
capital.
64
O tema da “questão social” é desenvolvido por Iamamoto (2001); Pastorini (2010); Bening;
Silvana (2009).
193
65
O salário mínimo é previsto pela primeira vez no Brasil na Constituição Federal de 1934. A Lei
185, de 14 de janeiro de 1936 cria as comissões de salário mínimo cujo objetivo era estabelecer
para as regiões do Brasil o salário mínimo necessário para suprir a necessidade mínima de
reprodução do trabalhador. Em 1938 é regulamentada a Lei 185 que cria, então, o salário mínimo,
de fato instituído em 1940, com valores diferenciados por regiões. O salário mínimo só será
unificado no Brasil em 1984.
66
A cesta básica foi definida pelo decreto Lei n.399, de 30 de abril de 1938, que regulamentava a
Lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936, que instituía o salário mínimo nacional. A cesta básica é
calculada de forma diferenciada nas regiões do Brasil. O cálculo geral para o país tem os
seguintes produtos: carne (6,0 kg), leite (15,0 l), feijão (4,5 kg), arroz (3,0 kg), farinha de trigo ou
mandioca (1,5 kg), café (6,0 kg), batata (6,0 kg), legumes/tomate (9,0 kg), pão francês (6,0 kg),
furtas/banana (90 unid.), açúcar (3,0 kg), banha/óleo (1,5 kg), manteiga (900 gr.).
194
Gráfico 3.1: Comparativo entre salário mínimo nominal e necessário, Brasil – 2003-2014
4000
2.674,88
3500
2.194,76
3000 2.077,15 2.748,22
67
O Dieese calcula a cesta básica para 16 cidades brasileiras e não é possível, por meio desses
dados, fazer uma média nacional. Escolhi a cidade de São Paulo como referência em função de
ser a maior cidade em contingente populacional do país.
196
primeiro ano atingiu 1,9 milhões de famílias em 2.369 municípios distribuídos pelo
país.
O debate sobre a necessidade da transferência de renda, no sentido de
garantir o consumo da população, levou à unificação da política de combate à
fome e da política de assistência social. Essa unificação, portanto, coloca sob o
prisma da assistência social a política de combate à fome e no aspecto político-
ideológico reduz o combate à fome ao combate à pobreza.
O Programa Bolsa Família é instituído em 200468, ano em que se elabora
a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e posteriormente se organiza o
Sistema Nacional de Assistência Social (SUAS), regulamentado em 201169. A
estrutura básica do SUAS é composta pelos Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) responsáveis pela gestão do Programa e os Centros
Especializados de Assistência Social (CREAS). Os CRAS são responsáveis pelo
cadastramento e acompanhamento das famílias inseridas no programa.
Segundo a PNAS (2004), em 2004 existiam 56 milhões de brasileiros
abaixo da linha da pobreza e mais de 28 milhões de brasileiros abaixo da linha de
indigência. A resposta articulada pelo governo para reduzir o problema é investir
no repasse direto de recurso; cria-se o Programa Bolsa Família que atualmente
compõe o plano Brasil Sem Miséria. Esse programa, articulado com o aumento do
valor monetário do salário mínimo e a criação de postos de trabalho nessa faixa
salarial, reconfigurará o perfil da pobreza no Brasil.
Em seu início, o Programa Bolsa Família estabelecia como pobres as
famílias que possuíam renda per capita de meio salário mínimo e linha de
indigência, famílias com renda per capita de um quarto de salário mínimo (PNAS,
2004). Atualmente, define a pobreza pela renda familiar per capita entre R$ 77,01
e R$ 154,00 e pobreza extrema pela renda inferior a R$ 77,00 per capita (MDS,
2014).
O dinheiro transferido pelo PBF depende da quantidade de pessoas que
68
O Programa Bolsa Família é instituído pela Lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004 e regulamentado
pelo decreto 5.209, de 17 de setembro de 2004.
69
O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) é criado oficialmente em 2011, quando o
governo modifica a Lei Orgânica da Assistência Social que incorpora a criação do sistema além de
outras modificações, passando a ser referenciada pela Lei 12.435, de julho de 2011. O SUAS,
todavia, já estava em processo de constituição desde a PNAS de 2004.
197
Em milhões de R$
70
Fonte:<http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/05/bolsa-familia-75-4-dos-beneficiarios-
estao-trabalhando>. Acessado em 15 de março de 2015. Os dados apresentados pelo governo
referem-se a uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(IBASE). Não há detalhamento de como foi realizada a pesquisa.
200
Em %
Em %
71
Fonte: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/05/bolsa-familia-75-4-dos-
beneficiarios-estao-trabalhando>. Acessado em 15 de março de 2015. O governo não detalha
como foi elaborada a informação.
202
72
O detalhamento sobre como é organizada a POF encontra-se no anexo 3.
203
73
A EBIA encontra-se no anexo 2.
204
74
Santos (2007) apresenta uma descrição detalhada de cada uma delas e dos limites e
possibilidades para sua utilização.
205
75
A fonte utilizada pelo autor foi a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS, 1996).
76
A fonte utilizada pelo autor foi a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da
Mulher (PNDS, 2007).
206
Quadro 3.1. Prevalência de déficit de altura nas crianças menores de 5 anos de idade¹ por
situação de domicílio, segundo as Grandes Regiões – período 2008-2009.
77
O autor chama a atenção para a dificuldade de se definir pobreza, para ele “de modo bastante
simples, pode-se dizer que pobreza corresponde à condição de não satisfação das necessidades
humanas elementares como comida, abrigo, vestuário, educação, assistência à saúde, entre
outras” (MONTEIRO, 2003, p. 8).
207
2008 2012
Faixa etária
Desnutrição Excesso de Desnutrição Excesso de
crônica em % peso em % crônica em % peso em %
Fonte: Relatório de avaliação nutricional das crianças acompanhadas pelo PBF – MDS 2014. Elaboração própria. 2014.
208
Quadro 3.3. Prevalência de déficit de altura nas crianças entre 5 e 9 anos de idade por
situação de domicílio, segundo idade e sexo – período 2008-2009.
78
Dados referentes ao Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) 1974-1975. Nessa
pesquisa não foram considerados a população rural do Norte e do Nordeste.
79
Refere-se a POF 1988-1989.
80
Refere-se a POF 2008-2009.
210
81
Para os adultos, a pesquisa considerou o Índice de Massa Corporal – IMC, sem ajustes para a
idade, uma vez que o crescimento linear se encerra aos 20 anos de idade. É considerado déficit
de peso IMC inferior a 18,5 Kg por metro quadrado e admite-se até 5% de indivíduos magros na
população. Excesso de peso é considerado com o IMC maior que 25 Kg por metro quadrado e
obesidade 30Kg por metro quadrado.
211
Quadro 3.4: Comparativo entre o déficit de peso na população brasileira entre 5 e 9 anos de
idade, 10 e 19 anos de idade e mais de 20 anos de idade, por sexo e região – 1975, 1989 e
2009.
Norte
Idade Masculino Feminino
1975 1989 2008-2009 1975 1989 2008-2009
5 a 9 anos 7,9 1,3 4,9 6,4 3,3 3,5
10 a 19 anos 9,5 4,5 3,6 6 2,5 2,5
Mais de 20 anos 7,0 3,2 1,9 15,6 6,3 3,6
Nordeste
Idade Masculino Feminino
1975 1989 2008-2009 1975 1989 2008-2009
5 a 9 anos 6,5 2,9 5,5 5,9 1,9 4,6
10 a 19 anos 11,6 5,4 4,9 6,0 3,2 3,8
Mais de 20 anos 8,4 5,0 2,7 16,7 9,4 4,8
Sudeste
Idade Masculino Feminino
1975 1989 2008-2009 1975 1989 2008-2009
5 a 9 anos 5,8 2,2 3,4 6,1 0,9 3,5
10 a 19 anos 11,0 5,8 3,2 5,5 2,8 2,8
Mais de 20 anos 9,1 4,9 1,4 10,4 5,3 3,1
Sul
Idade Masculino Feminino
1975 1989 2008-2009 1975 1989 2008-2009
5 a 9 anos 3,8 1,1 2,5 3,0 1,1 3,7
10 a 19 anos 6,0 2,2 2,5 2,8 1,4 2,4
Mais de 20 anos 4,8 2,3 1,1 6,7 4,4 2,5
Centro-Oeste
Idade Masculino Feminino
1975 1989 2008-2009 1975 1989 2008-2009
5 a 9 anos 5,5 2,1 5,8 3,9 2,5 4,1
10 a 19 anos 10,5 4,6 3,3 5,0 2,4 2,8
Mais de 20 anos 8,8 3,8 2,0 13,2 6,8 4,0
Fonte: POF Antropometria 2008-2009. Elaboração própria.
Gráfico 3.5. Índice de déficit de peso da população feminina brasileira – 1975, 1989 e 2009.
14,0
11,8
12,0
10,0
8,0 5 a 9 anos
6,4
5,4 10 a 19 anos
6,0
5,1 3,9 20 ou mais
4,0
2,7 3,6
3
2,0
1,5
0,0
1975 1989 2009
Gráfico 3.6. Índice de déficit de peso da população masculina brasileira – 1975, 1989 e 2009.
12,0
10,1
10,0
8,0
8
5 a 9 anos
6,0 5
4,3 10 a 19 anos
5,7
4,0 4,4 3,7 20 ou mais
2,0 2,2
1,8
0,0
1975 1989 2009
Gráfico 3.7. Excesso de peso da população feminina brasileira por faixa etária – 1975, 1989
e 2009.
60,0
50,0 48
41,4
40,0
32 5 a 9 anos
30,0 28,7
10 a 19 anos
20,0 13,9 19,4 20 ou mais
8,6
10,0 11,9
7,6
0,0
1975 1989 2009
Gráfico 3.8. Excesso de peso da população masculina brasileira por faixa etária – 1975,
1989 e 2009.
60,0
50,1
50,0
40,0
29,9 34,8 5 a 9 anos
30,0
10 a 19 anos
18,5
20,0 15,9 20 ou mais
21,7
10,9
10,0
3,7 7,7
0,0
1975 1989 2009
18,0 16,9
16,0
14,0 13,2
11,8
12,0
10,0 5 a 9 anos
8,0 8 10 a 19 anos
6,0 20 ou mais
4
4,0 2,4
1,8
2,0
0,7 2,2
0,0
1975 1989 2009
18,0
16,6
16,0
14,0
12,0 12,4
10,0 5 a 9 anos
8,0 10 a 19 anos
6,0 5,4 5,9 20 ou mais
4,0 4,1
2,9
2,0 2,8 1,5
0,0 0,4
1975 1989 2009
82
A prevalência de anemia foi verificada em mulheres e crianças.
217
Ainda sobre o problema das anemias, Batista Filho e Rissin (2003) fazem
três observações: 1) o declínio da desnutrição em crianças e adultos no país não
218
83
Ver gráfico 2.1
84
Sobre os limites da POF 2003-2004, Levy, Claro e Monteiro (2010, p. 475) apontam que “As
principais limitações a serem consideradas quando se utilizam dados de aquisição domiciliar de
alimentos para avaliação do consumo alimentar das famílias são: (i) a não-consideração dos
alimentos consumidos fora do domicílio; (ii) o desconhecimento da eventual participação de não
moradores nas refeições feitas no domicílio; (iii) a proporção de alimentos adquiridos e não
consumidos (‘desperdícios’); e (iv) a não-consideração do estoque inicial e final de alimentos nos
domicílios estudados. No caso da POF 2002- 2003, soma-se a essas limitações o curto período
(uma semana) de registro das aquisições de alimentos em cada domicílio. Por outro lado, as POFs
“representam importante fonte de dados da dieta na medida em que empregam metodologia
padronizada de coleta de dados, utilizam amostragem probabilística, são periódicas e incluem
detalhada mensuração de características socioeconômicas (LEVY-COSTA, et al., 2005, p. 531).
219
85
Sarno et al. (2013) informa que o consumo de sódio disponível nos domicílios brasileiros, a
partir dos dados da POF 2008-2009 é de 4,7g para uma ingestão diária de 2 mil Kcal. Isso
corresponde a mais que o dobro do limite recomendado para esse nutriente, a maior parte, vem do
sal de cozinha e de condimentos à base de sal, mas é crescente o índice associado a alimentos
processados.
220
86
A EBIA, base metodológica da pesquisa suplementar, mensura a percepção dos moradores dos
domicílios em relação ao acesso aos alimentos e, além disso, atende à determinação do Art. 21,
do Parágrafo 6º, do mencionado Decreto, ou seja, é um instrumento capaz de “identificar os
grupos populacionais mais vulneráveis à violação do direito humano à alimentação adequada” e
apontar as desigualdades sociais, de cor ou raça e de gênero associadas (PNAD, 2009).
87
O Decreto n. 7.272, de 25 de agosto de 2010 regulamenta a Lei que cria o SISAN, cria a Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) e determina a criação do Sistema de
Monitoramento e Avaliação que deverá contemplar, dentre as várias dimensões de análise de
SAN, o acesso à alimentação adequada e saudável.
221
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
nervosa, anormal, uma extrema irritabilidade e uma exaltação dos sentidos que
“se acendem num ímpeto de sensibilidade” na busca do alimento para a
88
O fenômeno da geofagia ou geomania, hábito ou mania de comer terra. Hábito que, a nosso ver,
traduz quase sempre um tipo de fome específica, não sendo mais que a reação do organismo,
buscando no barro do solo os elementos minerais de que se sente desfalcado. Principalmente o
ferro que existe, sob a forma de hidróxido de ferro, no barro vermelho das terras tropicais, nos
cacos de moringas e nos pedacinhos de tijolo com que se empanturram a gosto os comedores de
terra das várias regiões do mundo. Regiões todas elas de fome crônica em alimentos minerais. A
anemia tropical não é, portanto, uma fatalidade climática; não é um produto do clima agindo sobre
o organismo humano num determinismo inexorável (CASTRO, 1981).
227
O ato de cozinhar merece seu lugar como uma das grandes novidades
revolucionárias da história não pela maneira como transforma a comida –
há muitas outras maneiras de fazê-lo –, mas sim pelo modo como
transformou a sociedade. A cultura começou quando o que era cru foi
cozido. A fogueira no campo passa a ser um local de comunhão quando
as pessoas comem ao seu redor. O ato de cozinhar não é apenas uma
forma de preparar o alimento, mas também uma maneira de organizar a
sociedade em torno de refeições em conjunto e de horários de comer
previsíveis. Ele introduz novas funções especializadas e prazeres e
responsabilidades compartilhados (FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2004, p.
24).
89
Parte da produção de milho também é utilizada para a produção de agrocombústivel. “Com um
tanque de 50 litros, um carro movido a etanol de milho consome 205 quilos de milho. A mesma
quantidade é suficiente para alimentar uma criança mexicana por um ano. No momento em que
enche o tanque, você tira o alimento de uma criança. É uma consequência direta” (ZIEGLER,
2007).
231
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO 1
Continuação
Produtos agrícolas
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
selecionados
Arroz (em casca) 10.334.603 13.277.008 13.192.863 11.526.685 11.060.741 12.061.465 12.651.144 11.235.986
Feijão (em grão) 3.302.038 2.967.007 3.021.641 3.457.744 3.169.356 3.461.194 3.486.763 3.158.905
Milho (em grão) 48.327.323 41.787.558 35.113.312 42.661.677 52.112.217 58.933.347 50.719.822 55.364.271
Soja (em grão) 51.919.440 49.549.941 51.182.074 52.464.640 57.857.172 59.833.105 57.345.382 68.756.343
Trigo (em grão) 6.153.500 5.818.846 4.658.790 2.484.848 4.114.057 6.027.131 5.055.525 6.171.250
Mandioca 21.961.082 23.926.553 25.872.015 26.639.013 26.541.200 26.703.039 24.403.981 24.967.052
Cacau (em amêndoa) 170.004 196.005 208.620 212.270 201.651 202.030 218.487 235.389
Café (em grão) 1.987.074 2.465.710 2.140.169 2.573.368 2.249.011 2.796.927 2.440.056 2.907.265
250
Continuação
Produtos agrícolas
2011 2012 2013
selecionados
Arroz (em casca) 13.476.994 11.549.881 11.782.549
Feijão (em grão) 3.435.366 2.794.854 2.892.599
Milho (em grão) 55.660.235 71.072.810 80.273.172
Soja (em grão) 74.815.447 65.848.857 81.724.477
Trigo (em grão) 5.690.043 4.418.388 5.738.473
Mandioca 25.349.542 23.044.557 21.484.218
Cacau (em amêndoa) 248.524 253.211 256.186
Café (em grão) 2.700.540 3.037.534 2.964.538
734.006.05 721.077.28 768.090.44
Cana-de-açúcar
9 7 4
Fonte: IBGE - Produção agrícola municipal
Elaboração: Dr. Marcelo Gomes Ribeiro
251
ANEXO 2
Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA
10. Nos últimos três meses, algum morador com menos de 18 anos de
idade, alguma vez, não comeu quantidade suficiente de comida
porque não havia dinheiro para comprar comida?
11. Nos últimos três meses, alguma vez, dói diminuída a quantidade de
alimentos das refeições de algum morador com menos de 18 anos de
idade, porque não havia dinheiro para comprar comida?
12. Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de
18 anos de idade deixou de fazer alguma refeição, porque não havia
252
13. Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de
18 anos de idade, sentiu fome, mas não comeu porque não havia
dinheiro para comprar comida?
14. Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de
18 anos de idade, fez apenas uma refeição ao dia ou ficou sem
comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar
comida?