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Célio da Cunha
(Org.)
EDUCAÇÃO BÁSICA
Políticas, avanços e pendências
Organizadores
Célio da Cunha José
Vieira de Sousa
Maria Abádia da Silva
Campinas
AUTORES ASSOCIADOS
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Educação básica : políticas, avanços e pendências /Maria Abádia da Silva, Célio da Cunha,
Org. — Campinas, SP : Autores Associados, 2014. — (Coleção Políticas Públicas de
Educação /organizadores Célio da Cunha, José Vieira de Sousa, Maria Abádia da
Silva).
Vários autores.
Bibliografia
ISBN 978-85-7496-321-1
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SUMÁRIO
EDITORIAL
COLEÇÃO POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO
APRESENTAÇÃO
Maria Abádia da Silva e
Célio da Cunha
Eixo 1
BANCO MUNDIAL.' POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS 11
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Políticas para a educação básica no Brasil e as trilhas incertas
da justiça social 121
Eliza Bartolozzi Ferreira
EIXO 2
IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA
EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA149
EIXO 3
POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE 259
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Educação rural e multisseriação: rompendo silêncios e
indicando horizontes 315
Elizeu Clementino de Souza e
Fábio Josué Souza dos Santos
SOBRE OS AUTORES347
EDITORIAL
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território nacional. Esse processo de divulgação tem sido
feito nos progrannas de pós-graduação cm educação, nas
faculdades e nos centros de educação vinculados às
instituições públicas de educação superior do país, nos
prillcipais órgãos de fomento à pesquisa e com os líderes de
grupos que investigam a tenuítica educacional, entre outros.
Paralelamente à publicação da primeira etapa da coleção, no
referido ano foi realizado em Brasília o Fórum Internacional
de Políticas de Educação na América Latina: lições aprendidas
e desafios, que contou com pafticipação de especialistas em
educação da Argentina, Chile, Colômbia e México e de outros
pesquisadores do tema vinculados a universidades de várias
regiões do Brasil. Desse evento resultou um livro com as
contribuições de um expressivo conjunto de pesquisadores.
Em 2012, na segunda etapa da coleção, foram
publicados mais doze títulos pela Editora Liber Livro,
também em parceria com a Faculdade de Educação/UnB.
Um desses livros — Universidade e educação básica:
ções
políticas e articulapossíveis — também resultou dos debates
feitos durante o Fórum Nacional de Políticas Públicas de
origem
Educação, que deu ao seu título. Destacando as interfaces
dade
entre universie educação básica, ambos focalizaram o
cenário brasileicontando com a participação de
pesquisadores de projeção nacional e outros da própria
UnB, à semelhança da primeira edição do fórum.
A terceira etapa da coleção conta com oito títulos,
publicação novamente pela Editora Autores Associados e a
total de
Faculdade de Educação/UnB, em 2013, fazendo com que o
títulos chegue a vinte e seis, resultado do trabalho
desenvolvido pelos seus organizadores e por um
considerável número de autores, em três anos consecutivos.
Nesta etapa, destaca-se a publicação da obra A política das
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políticas públicas de gestão, formação e carreira docente,
que traduz as preocupações do III Fórum Nacional de
Políticas Públicas de
Editorial I
XI Educação, realizado pela Faculdade de Educação da UnB
na perspectiva de dar continuidade às ações de fortalecimento
da pesquisa em educação desenvolvidas no âmbito do seu
PPGE nos dois anos já citados. A realização desse fórum
traduziu a preocupação dos pesquisadores do programa e
demais participantes do evento com a construção de uma
escola de qualidade, capaz de contribuir para a formação dos
indivíduos nos planos cultural, antropológico, econômico e
político.
A produção acadêmica dos vinte e seis títulos da coleção
está ancorada em alguns pressupostos. O primeiro deles
reconhece que, desde a década de 1990, sob o domínio de
governos neoconservadores e de forte hegemonia política,
realizam-se reformas estatais e para a educação de modo que
se reequilibre a área, após os insucessos decorrentes das
crises constantes, e assim venha a reinserir os países no plano
internacional de elevação de competitividade e produtividade.
Nesse cenário, torna-se indispensável refletir sobre as
políticas educacionais, visando construir uma escola
democrática e efetivamente engajada na emancipação dos
sujeitos.
Outro pressuposto refere-se ao fato de a universidade
constituir-se em espaço de criação, composição e produção
intelectual. Nessa lógica, deve zelar pela identidade e pela
memória construída pelos indivíduos no ensino, na pesquisa e
na extensão social por meio de planos, programas e projetos
diversos. Como instituição, ela abriga institutos, centros de
pesquisa e faculdades de educação como espaços
indispensáveis de formação de licenciados para o exercício
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de magistério, de formação de gestores e de pesquisadores de
alto nível. Com efeito, o envolvimento dessas faculdades com
as instâncias federais, estaduais e municipais precisa
explicitar seu compromisso com a melhoria da qualidade da
educação básica.
Um terceiro pressuposto diz respeito ao compromisso
intrínseco da própria natureza da Faculdade de Educação com o
processo de profissionalização dos professores, o qual abarca
um amplo conjunto de situações indissociáveis, como salário,
condições de trabalho, carreira e formação. Esses elementos
são requisitos objetivos para os professores construírem uma
identidade profissional em todas as dimensões que envolvem
sua atuação — intelectual, ética, política e cultural e
expressam, em última instância, o compromisso com a
educação de qualidade e o próprio projeto de sociedade.
Outro pressuposto é a gestão educacional implicar o
redimensionamento das práticas administrativas e
pedagógicas das organizações escolares, uma vez que
corresponde a um processo de qualificação do agir dos
indivíduos, tomando uma dupla referência: o pessoal e o
coletivo. Esse agir refere-se, sobretudo, ao processo político-
administrativo contextualizado, por meio do qual são
planejadas e desenvolvidas políticas e práticas em prol da
melhoria da qualidade da educação básica e superior.
Um último pressuposto orientador da produção da
coleção é o de que a definição de uma política educacional,
como de qualquer outra política pública, é uma construção
histórica, que se dá mediante a negociação de interesses e
visões de mundo expressas por diferentes grupos sociais,
econômicos e políticos.
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Com efeito, as questões norteadoras dos cinco
pressupostos apresentados requerem pesquisa e,
consequentemente, a produção científica como condições
sine qua non para a discussão dos avanços no campo das
políticas públicas de educação.
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O PPGE/UnB é sócio institucional da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação
(ANPEd) e conta, em seu corpo docente, com 53 professores
credenciados para orientação e docência, formados nas
melhores universidades do país e do exterior. A partir de 2011,
esses docentes-pesquisadores passaram a ser agregados numa
única área, a Educação, e em seis linhas de pesquisa: (a)
Políticas Públicas e Gestão da Educação; (b) Escola,
Aprendizagem, Ação Pedagógica e Subjetividade na
Educação; (c) Profissão Docente, Currículo e Avaliação; (d)
Educação em Ciências e Matemática; (e) Educação,
Tecnologias e Comunicação; (f) Educação Ambiental e
Educação do Campo.
A linha de pesquisa Políticas Públicas e Gestão da
Educação está organizada no Núcleo de Políticas Públicas e
Gestão da Educação (NUPEGE) e é composta por
professores que lideram grupos de pesquisas, bem como
produzem livros, estudos e publicações em periódicos
nacionais e internacionais. Sua composição decorre de uma
trajetória histórica fincada nas questões da educação
brasileira, na história e planejarnento educacional, além de
temáticas de financiamento público, gestão, avaliação
institucional e educação profissional e tecnológica, que têm
sido objctos de pesquisas, estudos, produções e publicações.
A finalidade dessa linha de pesquisa é contribuir para a
formação de gestores para atuar na educação no âmbito
federal, estadual, distrital e municipal, e de docentes para
trabalhar na educação básica e superior. Também se preocupa
em formar profissionais que saibam reconhecer modelos e
estilos de gestão, bem como propor, interpretar, analisar e
participar nos encaminhamentos e decisões de formulação,
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implementação e avaliação de políticas públicas, projetos e
programas nas diferentes instâncias governamentais.
Com o intuito de fortalecer o PPGE/UnB, a linha de
pesquisa Políticas Públicas e Gestão da Educação busca
assumir e produzir outras interpretações das políticas públicas
propostas e desenvolvidas para a educação no país. Esses
objetivos se tornaram imperativos, tanto em face das
necessidades de desenvolvimento econômico e tecnológico do
país, quanto no que diz respeito à urgência de mais cidadania e
justiça social.
Em suma, a coleção Políticas Públicas de Educação
constitui parte do esforço dos pesquisadores do PPGE/UnB
em debater e aprofundar a reflexão, de modo que ofereça
aos professores, gestores, diretores, estudantes,
formuladores e executores de políticas, subsídios e
indicações que possam ser relevantes para tomada de
decisões e elaboração de políticas educacionais nos anos
vindouros.
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formação acadêmica e profissional oferecida nas
universidades e faculdades vem exigindo revisões
e reformulações que agreguem novos elementos
do conhecimento científico e tecnológico, mas também
saberes e práticas que revelem princípios, valores éticos,
morais e experiências que valorizem os direitos humanos e
sociais. Das instituições públicas formadoras exige-se
desvencilharem-se de estruturas burocráticas e assumirem a
pesquisa e o ensino como eixos estruturantes da formação em
sintonia com as questões locais, regionais e globais em curso.
Para a universidade pública formar profissionais
qualificados afirma-se como um propósito inadiável diante de
velhos e novos problemas muito mais complexos e dificeis,
pois, nesse cenário, outros atores nacionais e internacionais
entram no jogo com força e capacidade de persuasão ímpar na
defesa dos interesses externos e supranacionais.
Desse modo, a interdependência entre países e, ao
mesmo tempo, a hierarquização entre eles na definição de
objetivos econômicos e estratégias tecnológicas trouxeram
para a pesquisa científico-tecnológica e a formação
profissional outros temas e novas questões que emergiram em
decorrência dos acordos, protocolos e das relações
diplomáticas entre os
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Apresentação |2
governos. Em que pese ser de maneira diferente, o
Ministério da Educação (MEC) acompanha e às vezes
participa desses acordos e protocolos que resultam cm
decisões e proposições que reverberam nos sistemas de
ensino, nas escolas e nas universidades brasileiras.
Nesse sentido, as políticas sociais resultam de um
conjunto de ações e decisões intencionais e institucionais,
explícitas e implícitas, decorrentes dos confrontos, disputas e
negociações entre, de um lado, governos, ministérios, partidos
políticos, organismos multilaterais, empresários, igrejas e, de
outro, na sociedade civil, associações científicas, sindicatos,
entidades e movimentos sociais num embate constante de
projetos nacionais que buscam reequilibrar as tensões e
diminuir as desigualdades sociais, locais e regionais. As
políticas sociais resultam, ainda, das escolhas e prioridades do
poder público para atender demandas coletivas e setoriais.
Essas políticas chegam às escolas públicas em todo o
país materializadas em ações do Estado brasileiro em
programas, planos, projetos, legislação e avaliações que têm
a finalidade de imprimir no sistema de ensino estratégias,
objetivos, metas e indicadores a serem alcançados e
executados pelas escolas e pelos professores e estudantes,
ainda que não tenham sido decididos por eles. E, para
contribuir nesse debate, pesquisadores e estudantes da linha
de pesquisa Políticas Públicas e Gestão da Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da
Universidade de Brasília (UnB), realizaram em dezembro de
2012 a 3 a edição do Fórum de Políticas Públicas em
Educação com o tema "A política das políticas públicas de
gestão, formação e carreira docente", com a finalidade de
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Apresentação |3
fomentar o debate, ampliar visões, bem como concepções, e
construir propostas. O movimento constante das ações
governamentais e as dificuldades de articulação destas ações
com estados e municípios colocam para os estudiosos a
necessidade de problematizar concepções de gestão, projetos
pedagógicos, formas de participação nos colegiados, definição e
utilização dos recursos financeiros, assim como as limitações e
os vínculos institucionais entre redes de ensino e as
universidades públicas na formação docente.
Desse modo, esta coletânea resulta de pesquisas e reflexões
sobre as políticas para a educação básica e sobre as formas de
atuação intelectual e financeira dos organismos multilaterais,
além das experiências de gestão no sistema de ensino e nas
escolas públicas decorrentes de decisões políticas. O
posicionamento crítico e o rigor acadêmico são marcas que
unem as análises dos autores entorno das pendências, limitações,
contradições e distorções na educação básica pública que, em
2013, contou com 42 milhões de matriculados.
Partimos da visão crítica de José Carlos Libâneo no artigo
"Internacionalização das políticas educacionais: elementos para uma
análise pedagógica de orientações curriculares para o ensino
fundamental e de propostas para a escola pública", em que propõe
uma análise pedagógica das orientações curriculares para o ensino
fundamental e das propostas para a escola, no Brasil, tendo como
referência as políticas educacionais formuladas por organismos
multilaterais para países emergentes (Banco Mundial, Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura —
UNESCO, entre outros), principalmente desde os anos de 1990,
focalizando mais diretamente as implicações pedagógico-didáticas
dessas orientações nas concepções e formas de frncionamento das
escolas. Apresenta os caminhos da internacionalização das políticas
educacionais e pergunta: como se dá a influência das políticas
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Apresentação |4
educacionais formuladas por organismos internacionais nas políticas
para a escola? Em que grau tais políticas atuam no empobrecimento
da escola e nos baixos índices de desempenh0 dos alunos? Como
afetam o funcionamento interno das
escolas e o trabalho pedagógico-didático dos professores? É
possível supor que a visão da educação restrita à solução de
problemas sociais e econômicos compromete o papel da escola
em relação a seus objetivos prioritários de ensinar conteúdos e
promover o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos
alunos? Que tipo de inclusão social vem sendo propiciada
pelos programas do governo desde a adoção das orientações
curriculares dos organismos multilaterais?
Prosseguimos, então, com reflexões sobre "Dimensões da
política do Banco Mundial para a educação básica pública", em
que Maria Abádia da Silva evidencia mudanças geopolíticas e a
interdependência entre os governos; problematiza a relação do
Banco Mundial com o Estado brasileiro, destacando sua atuação
política, intelectual e financeira nas decisões de políticas para a
educação básica entre 1996 e 2010; por último, mostra como as
políticas capitaneadas pelos diretores, consultores e técnicos do
Banco Mundial, com o consentimento do governo federal e de
parte dos governadores estaduais, são traduzidas em legislação,
projetos e programas de modo que pareçam uma necessidade
local, do sistema de ensino e da escola pública.
Nessa mesma linha de reflexão, o artigo "A cooperação
do Banco Mundial à educação brasileira: incongruências,
contrassensos e custos de uma inócua parceria internacional",
mais uma vez, Marília Fonseca analisa o significado da
cooperação técnica e financeira do Banco Mundial à
educaçã0 brasileira no período 1970-1990. Demonstra como
a cooperação se materializou nas escolas por meio do
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Apresentação |5
financiamento de sucessivos projetos e os seus efeitos sobre
o desempenho da educação básica e os custos decorrentes. O
processo de cooperação apresentou efeitos pouco
significativos para a qualidade da educação básica, ao
mesmo tempo em que os acordoS financeiros oneraram o país
com o pagamento de juros e taxas'
em contradição com os princípios humanitários do Banco,
voltados para a diminuição da pobreza.
E para evidenciar os ajustes na educação básica no texto
"Políticas para a educação básica no Brasil e as trilhas incertas da
justiça social", Eliza Bartolozzi Ferreira analisa o movimento de
democratização e modernização desenvolvido após a ditadura
militar no Brasil, identificando suas características assentadas nas
políticas de descentralização e de privatização da educação. Após
um conjunto de reformas que imprimiram novas formas de
regulação, as quais fortaleceram o poder privado, cresceu a
participação do terceiro setor e de instâncias privadas da sociedade
no planejamento e execução de políticas em favor do atendimento
ao direito à educação. As po líticas educacionais atualmente
implantadas revelam fortes antagonismos que ferem a trajetória da
escola em direção a alguns princípios basilares de justiça social: a
igualdade de acesso e de permanência a todas as crianças, jovens e
adultos na formação básica.
Prosseguimos com o artigo de Regina Tereza Cestari de
Oliveira, "O Plano de Ações Articuladas (PAR) e a qualidade
da educação básica", em que a autora busca compreender como
o conceito de qualidade se configura no Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), uma das principais
políticas de regulação para a educação básica no Governo Luiz
Inácio Lula da Silva (2007-2010), e indaga sobre a
contribuição do PAR, instrumento de planejamento estratégico
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Apresentação |6
integrante do PDE, para a melhoria da qualidade desse nível de
ensino, no contexto das relações federativas. Para tanto,
apresenta dados relativos às pesquisas desenvolvidas,
principalmente, em municípios sul-mato-grossenses.
Desse modo, o financiamento da educação básica ainda
caminha com distorções e travas. E o que revela o estudo
exploratório "Cidadania, gestão democrática e controle social:
os CACS no FUNDEF e no em que Wellington Ferreira de
Jesus exannina o papel dos conselhos gestores como
mecanisrnos efetivos que possibilitam o exercício da cidadania e
a participação do controle social na fiscalização e alocação dos
recursos públicos, destacadamente no caso dos Conselhos de
Acompanhamento e Controle Social (CACS) do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (FUNDEF) e do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Tendo
por referência os documentos oficiais, bem como a legislação
pertinente, o trabalho faz uma análise histórica, contextualizando
os limites e possibilidades dos Conselhos, e aponta para um
momento significativo na passagem do FUNDEF ao FUNDEB,
em que a participação da sociedade civil organizada e o conjunto
de estudos e pesquisas contribuíram decisivamente para uma
nova organização do FUNDEB e, por extensão, dos CACS.
Conclui pela necessidade de aprimoramento dessa experiência
singular no campo da educação básica pública.
Com centralidade nas políticas de gestão, Carolina
Soares Mendes, no texto "Três paradigmas de gestão escolar
em questão: o Distrito Federal entre 1995 e 2010", analisa a
materialização da gestão escolar na escolha de diretores, no
conselho escolar, no projeto político-pedagógico e na
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Apresentação |7
descentralização administrativa e financeira. A análise
aponta regulações, contradições, continuidades e
descontinuidades na alternância de paradigmas mais
democráticos e mais hierárquicos e autoritários no Distrito
Federal.
Prosseguimos com as limitações financeiras analisadas pelos
autores Antônio Cabral Neto e Gilmar Barbosa Guedes no texto
"Gestão financeira descentralizada: a experiência da Caixa Escolar
em Natal, RN", no qual trazem a organização e o funcionamento
da Caixa Escolar em escolas estaduais da
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Apresentação |8
perspectivas deformação de professores: profissionalização e
profissionalismo, que pensa criticamente sobre as perspectivas de
formação inicial e continuada de professores; (iii) políticas de
formação docente do governo federal, que reflete, à luz da Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação
Básica (decreto n. 6.755, de 29 de janeiro de 2009), sobre o Plano
Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica
(PARFOR, 2009) e, em frnção deles, sobre o redimensionamento da
Rede Nacional de Formação Continuada de Profissionais da
Educação Básica (2011).
Adicionamos o texto "Profissionalidadc da educação
infantil: representações de professores do segmento", dos
autores Ive Brasil e Afonso Galvão, que investigam as
representações sociais de professores da educação infantil sobre
profissionalidade neste segmento. Dezessete participantes,
professores de escolas particulares e públicas, com experiência
profissional variando entre 2 e 20 anos, foram entrevistados em
profundidade por meio de entrevista semiestruturada. Os
resultados sugerem a educação infantil como um segmento
esquecido nos currículos de pedagogia. Vê-se esta atividade
como uma profissão menor, feminina e de baixo status social.
As representações nucleares de profissionalidade estão mais
vinculadas a noções narcisistas, como valorização,
reconhecimento, prestígio, status. Dimensões mais profundas
como conhecimentos e competências do professor, bem como a
dimensão moral da profissão, foram deixadas de lado pelos
participantes.
Então, se nas aparências a educação rural parece
desaparecer, o texto de Elizeu Clementino de Souza e Fábio
Josué Souza dos Santos, "Educação rural e multisseriação:
rompendo silêncios e indicando horizontes", discute questões
sócio-históricas sobre a educação rural no Brasil, ao destacar
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Apresentação |9
avanços e recuos sobre a educação rural/do campo, bem como ao
problematizar aspectos sobre a multisseriação, por considerar
sua expressividade tanto numérica quanto pedagógica no sistema
educacional brasileiro, tomando como referências estado da arte
sobre educação rural/do campo e pesquisas desenvolvidas nos
programas de pós-graduação sobre a temática da multisseriação.
Os autores buscam discutir questões históricas sobre a educação
rural, com ênfase na organização e no trabalho pedagógico nas
classes multisseriadas, ao destacarem alguns horizontes teórico-
metodológicos e pedagógicos para o trabalho docente em classes
multisseriadas.
O livro traz contribuições para aqueles que acreditam na
educação e buscam sustentação para seus argumentos e
propostas voltadas para a ampliação dos direitos humanos e
sociais, do direito a ter direitos. Mais ainda, congrega múltiplas
interpretações e visões, discutindo a política de gestão da
educação, a atuação intelectual e financeira do Banco Mundial,
a internacionalização da política educacional, currículos e
práticas pedagógicas, além de formação docente.
Certamente são contribuições e concepções que inspiram e
desafiam os leitores a outros estudos, afinal nosso objetivo está
em instigar novas pesquisas e estudos que apresentem
alternativas para uma educação pública de e com qualidade
social ao alcance de todos neste imenso país. Este é o nosso
convite ao leitor.
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dapolítica do Banco Mundialpara a educação | 10
DIMENSÕES DA POLÍTICA DO BANco MUNDIAL PARA A
EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA
Introdução
As experiências com pesquisa em educação básica
sinalizam que parte das questões sociais e educacionais
nacionais não podem ser isoladas de outros fatores que ocorrem
para além das fronteiras do país. Com esse entendimento, assim
como outros estudiosos, sustento que as políticas educacionais,
ainda que sejam discutidas no âmbito local, regional e nacional,
cada vez mais estão impregnadas das proposituras, ações e
decisões do comércio internacional associadas a uma parcela
das oligarquias urbanas locais (BALL, 2004; VIÑAO, 2002;
FELDFEBER, 2009; LEHER, 1998; BARROSO, 2006).
Com essa compreensão, este artigo problematiza as seguintes
situações: como explicar os interesses do setor privado empresarial
pela educação brasileira? Como os empresários, bancos e
organizações multilaterais tomam a educação básica
transformando-a num espaço de atividades rentáveis e lucrativas?
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política do Banco a educação | 11
Como e quais foram as políticas do Banco Mundial que,
legitimadas pela anuência do governo federal e de parte dos
governos estaduais, entranharam-se nos sistemas de ensino e
nas escolas brasileiras? Como se apresentam as novas
combinações de financiamento, fornecimento e regulação da
educação básica pública?
Conhecendo a amplitude do tema, apresento um recorte
com três objetivos: no primeiro, busco circunstanciar algumas
mudanças geopolíticas e a interdependência entre os governos;
no segundo, problematizar a relação do Banco Mundial com o
Estado brasileiro, destacando sua atuação política, intelectual e
financeira nas decisões de políticas para a educação básica
entre 1996 e 2010; e, no terceiro, abordo como as políticas
capitaneadas pelos diretores, consultores e técnicos do Banco
Mundial, com o consentimento do governo federal e de parte
dos governadores estaduais, são traduzidas em legislação,
projetos e programas de modo que pareça uma necessidade
local, do sistema de ensino e da escola pública. Passemos,
então, de forma breve, ao movimento geopolítico internacional.
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política do Banco a educação | 23
produtora de valor real e simbólico transparecem na cultura
das instituições (idem; VIMO, 2002).
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política do Banco Mundialpara a educação básica pública | 30
da básicapública
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 31
países para o pouso de empresários ligados à educação e reafirmou
as premissas neoliberais: abrir e tomar a educação um espaço para
negócios lucrativos e, para
tanto, qualificando a atuação política c intelectual dos seus
diretores e consultores:
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 32
Se havia evidências do fracasso das políticas do Banco
Mundial para a educação nos países que fizeram os ajustes
estruturais, como explicar sua contínua atuação nas decisões
nacionais? Como as proposituras políticas do BM traduzidas
em programas e projetos nacionais são encobertas na estrutura dos
sistemas de ensino e escolas? Em que medida as combinações de
financiamento e fornecimelhto da educação básica têm convergência
com os interesses de empresários e do BM?
Em 1995 um ato sinalizador da aproximação dessas relações foi
a concordância do governo com as políticas internacionais. Fernando
Henrique Cardoso criou o Ministério da Administração e Reforma do
Estado (MARE) e nomeou como seu titular Luís Carlos Bresser
Pereira, com a tarefa de disciplinar, reestruturar e implementar outro
padrão de gerenciamento e estimular o setor privado a ponto de
instituir o setor de serviços não exclusivos do Estado, entre os quais a
educação pública. Já se antevia, dessa forma, desenvolver novas
políticas de governança, regulamentação, descentralização,
desnacionalização e desestatização, além de reforma na educação
com a finalidade de minimizar o investimento público e ampliar o
setor privado nacional e internacional.
Durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-
1998 e 1999-2002) ocorreu um confronto direto entre dois projetos de
sociedade, de educação e de políticas sociais. As forças internacionais
— banqueiros, empresários, diretores e consultores —, governo
federal, parte dos governadores estaduais e parte das elites
empresariais nacionais assumiram 0 propósito de estreitar os
interesses sobre o mercado educacional lucrativo. Tamanha foi a
investida que, num curto espaço de tempo, reapareceram grupos
partidários defensores da liberdade de mercado e competitividade no
ensino; e outros grupos, heterogêneos e muito plurais, levantaram-se
para reafirmar a educação pública, gratuita e laica como um direito
humano e social inalienável e de financiamento do Estado. Era o
recomeço da luta!
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 33
Na presidência do país, Fernando Henrique Cardoso (1995-
1998) estreitou as relações com o Banco Mundial e adotou a
prática de governar por medidas provisórias e decretos.
Convicto da proposta de um Estado gerencial e racional com
capacidade para imprimir eficiência aos serviços e promover
eficácia nos gastos públicos (MARTINS, 2011; PINTO,
2002), fixou as bases do governo nas obras: Mãos à obra
Brasil (CARDOSO, s/d) e Avança Brasil (CARDOSO,
1998). Antes, em 1994, aprovou medida que retirou
compulsoriamente 20% dos recursos da educação —
Desvinculação de Recursos da União (DRU) — para serem
utilizados nas prioridades eleitas pelo governo federal. Essa
medida foi prorrogada pelas emendas constitucionais n.
10/1996, 17/1997 e 27/2000, de tal maneira que o governo
se desobrigava do financiamento público para educação e, ao
mesmo tempo, acenava o padrão privado como modelo. Essa
redução de recursos para educação permitia outras parcerias
e foi revogada somente mais tarde, com a aprovação da
emenda constitucional n. 59, em 2009,
Outro sinal concreto de inclinação neoliberal foi o
endurecimento político do governo federal ao vetar cinco
artigos do PNE 2001-2010, referentes ao financiamento
público. Esta posição revela a convergência com as premissas
do Banco Mundial (1996 e 1999) de manter um rigoroso
controle sobre a gestão dos créditos e empréstimos e criar
mecanismos institucionais para calcular a eficiência
educacional com vistas ao financiamento, à diversificação das
fontes de financiamento, ao estímulo ao setor privado, à
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 34
hierarquização e à reclassificação das instituições de ensino
no país.
Observa-se que houve uma convergência política de
interesses, visto que o governo criou o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do
Magistério (FUNDEF) pela emenda constitucional n. 14/1996 e
regulamentado pela lei n. 9.424/1996 e pelo decreto n. 2.264 de
1997. Esse Fundo modificou o pacto federativo com os da
estados, pois alterou a estrutura de financiamento do ensino
fundamental no país, que recebia 60% do valor do FUNDEF, e
excluiu educação infantil, ensino médio e educação de jovens e
adultos (MARTINS, 2011; LEHER, 2010). Além das questões
de redistribuição de recursos financeiros, o Fundo trouxe à tona
a insuficiência dos recursos e as desigualdades regionais, pois
cada estado tem suas demandas, que se somam às dos
municípios, o que pouco ou quase nada contribui para a
formação de um Sistema Nacional Articulado de Educação.
Depois, só no segundo mandato Luís lnácio Lula da Silva (2007-
2010) foi aprovada a lei n. 11.494/2007, tratando do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magisterio FUNDEB , fruto das lutas sociais,
das pressões de associações científicas e sindicatos e que
reafirmou a função do governo federal de financiar a educação
básica no Brasil.
Com efeito, durante o processo de elaboração da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 (LDB),
evidenciaram-se as tensões. As forças nacionais entraram em
confronto por um projeto nacional de educação. Duas propostas
se apresentaram, uma do governo, que recebeu o título de Plano
Nacional de Educação: proposta do Executivo ao Congresso
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 35
Nacional, e a outra da sociedade civil, que recebeu a
denominação de Plano Nacional de Educação: Proposta da
Sociedade Brasileira. Nesse embate de conflitos e tensões
venceram as forças alinhadas com governo Fernando Henrique.
Contudo, não satisfeitos, os setores empresariais continuaram a
enfrentar os dissensos no processo de elaboração do Plano
Nacional de Educação (PNE, 2001-2010). Esse período foi
marcado pela intensificação da atuação política e intelectual dos
consultores e técnicos externos durante discussões e disputas de
projetos e concepções de educação. Os grupos se compuseram.
De um lado, se posicionou o governo federal alinhado com a
política do BIRD e da OCDE para abrir e tornar a educação
um negócio lucrativo (sustentado no PL 4.173/1998) e, de
outro, um grupo heterogêneo e plural que defendia a
educação como um direito humano e social de todos (PL
4.155/1998), sendo que entre os dissensos estavam as
questões do financiamento público e da gestão democrática
da educação (ALBUQUERQUE, 2012).
A atuação política e intelectual se fez determinada,
orgânica e sistêmica nos debates no parlamento quando
ocorreram as discussões a propósito do princípio da gestão
democrática e do financiamento da educação na Constituição
Federal de 1988, na lei n. 9.394/96 e na lei n. 10.172/2001,
quando evidenciaram-se as divergências em torno de um
projeto de sociedade, do direito à educação e do
financiamento público (PINTO, 2002; MARTINS, 2011;
LEHER, 2010).
Nesses momentos de tensões ocorreram discussões e
debates em torno do princípio da gestão democrática no
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 36
sistema público e privado e dos percentuais de financiamento
público, o que fez com que as forças empresariais se
levantassem publicamente para defender seus interesses, um
sinal direto ao outro grupo que se articulava entorno dos
Congressos Nacionais de Educação — CONEDS e do Fórum
Nacional em Defesa da Educação Pública.
Ao fim do processo prevaleceu a subordinação dos direitos
sociais aos interesses econômicos e às demandas do mercado
livre. Tornaram-se visíveis as prioridades na educação básica
alicerçadas nos critérios neoliberais: maior competitividade,
produtividade, qualidade, eficiência, autonomia e
descentralização administrativa e financeira seguindo a lógica
de investimentos privados.
O Banco Mundial preconizava a necessidade de avaliação
do sistema educacional para equacioná-lo ao desenvolvimento
econômico, insistindo na retirada gradual do Estado , a ponto de
divulgar mecanismos para: a cobrança de matrículas e
mensalidades para o ensino médio e superior; a entrega de um
voucher para que o estudante ou a família pudessem fazer escolhas
na oferta do ensino que quisessem; e o incentivo às parcerias
público-privadas como alternativa para captação de recursos no
mercado, como identificado nos documentos de 1996 e 1999.
Durante o segundo mandato de Fernando Henrique (1999-
2002), o que estava em jogo eram as formas de fornecimento,
gestão pública e o financiamento da educação, além da
disposição do governo em adotar um sistema nacional de
avaliação a partir dos resultados e indicadores de desempenho e
de qualidade nas instituições. De forma sistêmica, os diretores e
consultores do Banco Mundial, com a anuência dos gestores
locais, criaram estratégias para atuar nas decisões e também se
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fizeram presentes nas estruturas do ministério da educação e do
sistema de ensino, por meio de consultores, técnicos e
funcionários indicados pelo país para imprimir a lógica
empresarial no âmbito da educação, ainda que com muitas
resistências e contestações.
A atuação política e intelectual do Banco Mundial foi tão
naturalizada nas decisões políticas que se torna árduo demonstrar as
refinadas formas de ação e intervenção em outras bases, Há entre nós
aqueles que acreditam ser a atuação destes senhores uma miragem,
uma fantasia! Não é. As formas sutis de atuação requerem de nós
muito rigor na análise e uma capacidade de desvelar as articulações e
traduções das prioridades com aparência de necessidades nacionais.
Engrenagens e pilares foram erguidos nas alterações da
legislação infraconstitucional e segundo a conveniência de diretores,
consultores e técnicos ocupando instâncias no ministério da
educação e em secretarias estaduais, dispostos a executar alterações
e inibir opositores. Na visão do ministro
Paulo Renato de Souza (1995-2002), a melhoria da qualidade
do ensino exigia as seguintes ações:
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 38
- criação do Programa Dinheiro Direto na Escola que
transferiu para as escolas recursos e estimulação de
associações de pais e mestres em todas as escolas urbanas;
- definição do programa de aceleração escolar para
promover a adequação da série à idade do aluno do ensino
fundamental; - reativação da execução dos empréstimos do
Banco Mundial para atender à melhoria da rede fisica do
sistema de ensino nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste
[SOUZA, 2005, p. 115].
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Nesse entremeio, o governo brasileiro assumiu como meta
alcançar padrões de rendimentos e indicadores internacionais,
estimulando diversos instrumentos de avaliação da educação no país:
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB); Exame
Nacional de Ensino Médio (ENEM); Exame Nacional de Cursos
(ENC/Provão); Avaliação de Cursos Superiores e Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). A função do
governo federal passou a ser de coordenador e articulador da política
educacional (CASTRO, 1999; SOUZA, 2005; CARDOSO, 1998). Ao
centralizar o financiamento e adotar os sistemas de avaliação, o
governo supunha, assim, alcançar a melhoria de qualidade da
educação, tornando-a estratégica para o crescimento e a eficiência
econômica em parceria com o setor privado. Além disso, criou o
Programa Dinheiro Direto na Escola, o Programa Nacional de
Informática na Educação (PROINFO), os Parâmetros Curriculares, o
treinamento de professores a distância, o Programa Nacional do Livro
Didático e a vinculação do recebimento de recursos financeiros aos
resultados dos alunos nos exames, o que revela uma semelhança entre
as determinações externas e a política de educação básica brasileira
(SOUZA, 2005; CASTRO, 1999).
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 40
Fernando Haddad ocupar a pasta da educação, entre 29/07/2005 e
24/01/2012, quando deixou o ministério para concorrer às
eleições para a prefeitura da cidade de São Paulo.
Em 2005, numa estratégia política, o Governo Lula
conseguiu agradar tanto aos empresários privados da educação
quanto atender às reivindicações dos trabalhadores de baixa renda
para acesso à educação superior, em especial no setor privado.
Tratou-se do decreto n. 5.493/2005, que instituiu o Programa
Universidade para Todos (PROUNI), subsidiando os empresários
por meio de total isenção tributária para todas as instituições de
educação superior privada que ofertam vagas no programa. Na
exposição de motivos os gestores do governo federal enfatizaram
que a ampliação das matrículas na educação superior estaria a
cargo do setor privado, considerando-o mais eficiente que o
público. Esta posição governamental reacendeu os confrontos e
discussões entorno do financiamento público, aliás, muito
presente na política educacional brasileira. Isentar os empresários
dos impostos e colocar os recursos públicos via bolsas de estudos
nas mãos dos estudantes selava a convergência de interesses com
o Banco Mundial e OCDE/OMC. Ademais, vimos os recursos
públicos sendo repartidos com as instituições privadas
comunitárias, filantrópicas, confessionais e aquelas voltadas para
fins lucrativos, com a condução do Governo Lula, que estreitou
as relações com o setor empresarial. Assim desabava uma
histórica
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Dimensões dapolítica do Banco Mundialpara a educação | 41
bandeira de lutas dos sindicatos, associações e entidades: a defesa de
recursos públicos para a educação pública!
Em1997 outra ação política foi o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM), criado para: a) avaliar competências e habilidades
dos alunos do ensino médio; b) ser ferramenta para avaliar a
qualidade do ensino médio; mas que em 2009 passou a ser utilizado
como critério para seleção de alunos aptos a receber a bolsa do
PROUNI, tanto em instituições públicas quanto nas privadas;
transformado-se, assim, num d) exame de acesso a e ucação superior
por me10 do Sistema de Seleção Unificada (SISU)/
A inclinação ainda maior estava por vir. Durante a gestão do
ministro Fernando Haddad, o governo assumiu a proposta dos
empresários ao compor o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE-2007). Agregou programas diversos e elegeu o Movimento
Todos pela Educação — que reúne grupos econômicos, corporações
do setor financeiro, Fundação Roberto Marinho, Fundação Victor
Civita, Grupo Gerdau, Itaú Social, Fundação Bradesco, Grupo Pão de
Açúcar, FEBRABAM, Fundação Educar Dpaschoal — para atuar no
setor da educação básica pública por meio de parcerias público-
privadas.
Essa aproximação de conveniências entre o público e o privado
explicitou-se a partir de 2006. De um lado, o grupo em presarial com
a alcunha de Movimento Todos pela Educação — composto por
lideranças empresariais, industriários e gestores públicos — se
apresentou com o objetivo de fazer um pacto pela educação, ajudar o
Brasil a garantir a todas as crianças e jovens o direito à educação
básica de qualidade. De outro, em 2007, na gestão de Fernando
Haddad, estabeleceu-se o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) e, pelo decreto n. 6.094/2007, instituiu-se o Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação, desdobrado em duas ações: o
Plano de Ações Articuladas (PAR) e o Indice de Desenvolvimento
da Educação Básica (IDEB). O objetivo proposto foi articular
ações entre União, estados, municípios e Distrito Federal
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 42
para, em regime de colaboração, conjugar os esforços em prol
da melhoria da qualidade da educação básica. Entretanto com
tais ações foram alteradas as relações entre o governo federal,
os estados e municípios, pois vinculou-se o recebimento de
recursos financeiros aos resultados e notas do IDEB obtidos
por cada escola, assim reduzindo a formação escolar tão
somente a preparar os estudantes para exames e testes.
Portanto, na educação básica coexistem duas lógicas:
uma gerencialista, que vê na escola um espaço propício para
se obterem rendas, um negócio rentável e lucrativo — daí a
insistência para que os governos apoiem a abertura da
educação para o mercado educacional; e outra, que vê e
compreende a educação como um direito social e humano
para todos, um campo em que os valores éticos e morais não
são vendidos nem mensuráveis.
Numa demonstração de escolha política, o Governo Lula
alinhou-se com as propostas do BM e da OCDE, conformando
uma política de avaliação consubstanciada no sistema nacional
de avaliação na educação básica e superior. O sinal dessa
convergência foi a aplicação de instrumentos nacionais de
avaliação: provinha Brasil (40 ano); prova Brasil (90 ano) e
ENEM (no ensino médio), com a finalidade de apurar e aferir a
qualidade da educação. Antes, porém haviam sido estabelecidos
os parâmetros curriculares nacionais, as diretrizes nacionais para
os componentes curriculares e uma ampla política de livros
didáticos e paradidáticos com os quais se supunha
instrumentalizar os alunos para os testes posteriores.
Tal-atitude transferia para a escola básica a obrigação de
apresentar resultados positivos, visto que a quantidade de
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Di,nensÕes dapolítica do Banco Mundial para a educação básica pública | 43
recursos a serem recebidos pela escola foi condicionada aos
resultados nos exames. Pior ainda, as escolas passaram a criar
rituais de preparação e treinamento dos alunos para fazerem os
testes e obterem notas positivas, num deslocamento das reais
funções da escola como espaço pedagógico e institucionalizado de
formação escolar e de aprendizagem de conhecimentos pelos
estudantes. Preparar e treinar alunos para os testes está muito longe
dos processos de formação tão necessários nos tempos atuais. E vai
muito além de verificar resultados em português e matemática.
Outra ação de governo que demonstra a capciosa atuação dos
consultores externos nas decisões foi quando os governadores
exigiram que as escolas criassem a Caixa Escolar como pessoa
jurídica, a fim de dar autonomia aos diretores. Como resultado,
acabou-se transferindo para a escola atribuições e tarefas em nome de
uma suposta autonomia para gerir os recursos de que não dispunham.
Coube à escola reinventar formas de captar recursos: aluguel de
antena parabólica, propaganda no muro, parcerias com os
empresários ao seu redor, aluguel de máquina de bebidas. Econcreto,
houvenlm refinamento da9ráticas e dos discursos modo que os
espaços públicos pudessem coexistir com as atividades privadas. Isso
na ogrca neo i era estimu a a competição wqualidade no ensino; Tal
premissa serve para modificar sem transtornos a cultura e a
mentalidade dentro da ordem capitalista.
As parcerias entre empresas públicas e privadas, no caso da
educação básica, permitem a terceirização de funcionários e da
alimentação escolar, abrem espaços para o comércio de materiais
pedagógicos, aquários, jogos, equipamentos de salas ambientes,
televisores, apostilas, materiais didáticos, para a venda de serviços, a
cobrança de taxas e a venda de produtos, tudo dentro da escola!
Nessa direção estão os programas de educação a distância, de portas
abertas para o mercado educacional, acessíveis por meio de linhas de
crédito para compra de microcomputadores, instalações de antenas,
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fios e redes, mobilizando a indústria dc equipamentos,
produtos, softu»ares, aplicativos e técnicos especializados.
As disciplinas sociologia e filosofia no ensino médio
foram abandonadas, retiradas da formação do aluno. Depois,
esses empresários comercializaram apostilas centradas nos
conteúdos de português, matemática e ciências dentro de um
padrão universal de conhecimentos, competências e
habilidades a serem adquiridas pelos estudantes. A prática de
criar e vender apostilas e textos para alunos padronizaA1ma
única usão do conteúdo a ser consumido na formação, que,
depolS, sera objeto de avaliação e exames de desempenho.
Adicionam-se, ainda, as estratégias dos governos para a
aplicação de avaliação e exames nacionais, sendo seus
resultados hierarquizados e ranqueados para, novamente,
legitimar processos de regulação consoantes com a
competitividade e o desempenho internacionais esperados.
Nessa disputa pela abertura da educação para o mercado de
negócios não faltam aqueles que acentuam as deficiências, a
improdutividade da escola pública e os resultados
inadequados, se comparados aos indicadores externos. Estes
indicadores destoam da nossa cultura, valores e história, mas
servem para sermos potenciais consumidores de produtos dos
países capitalistas centrais.
Notas e considerações
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intelectual do BM se fazia, mediante acordos e empréstimos
para projetos, difundindo amplamente a ideologia neoliberal,
ao propor: a) estruturação das relações sociais a partir dos
princípios econômicos; b) supressão do modelo de
planificação conduzida pelo Estado desenvolvimentista; c)
financiamento da educação submetido a resultados obtidos para
destinação de recursos; d) definição da educação pública como um
mercado promissor e potencial; e) adoção de critérios de
racionalidade, produtividade, eficiência e qualidade na educação,
integrados ao ntodus operandi da atuação política, intelectual e
financeira do Banco Mundial. O fato é que os programas nacionais
para a educação tinham estreita semelhança com os
encaminhamentos dos consultores das instituições externas.
No documento Prioridades y estrategias para Ia educación
(BANCO MUNDIAL, 1996b), afirmaram-se: a prioridade da
educação primária, pois a taxa de retomo era vantajosa; a melhoria
da qualidade e da eficiência da educação; o fortalecimento dos
sistemas de informação; a descentralização e o monitoramento do
desempenho escolar; a consolidação de instituições escolares
autônomas; a maior participação dos pais e da comunidade na
escola; a diversificação de receitas e recursos baseados no
desempenho e resultados dos alunos; o enfoque setorial e o impulso
do setor privado e de organizações não govemamentais como
agentes ativos tanto nas decisões como em sua implementação
(CORAGGIO, 1996; CORAGGIO & TORRES, 1997; ALTMANN,
2002).
De 1997 em diante, os ciclos de crise sucessivas do capital
arrastaram consigo aqueles que, já empobrecidos, sofriam ainda mais
com as incertezas decorrentes de turbulências externas. Contudo, os
arautos neoliberais, no documento Estratégia para o setor educacional
[Education sector strateo] (BANCO MUNDIAL, 1999), apostaram
no mercado como regulador das relações sociais e econômicas,
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exigindo, sim, um Estado capaz de, na crise, aliviar a fúria do
mercado livre, pondo-lhe amarras, limites e controles diante do
perigo. Agora, em outro documento, Aprendizagem para todos
(BANCO MUNDIAL, 2011), 0 Grupo Banco Mundial reposiciona as
estratégias prioritárias para a educação 2020: uma, reforçar os
sistemas educacionais a partir de indicadores dc desempenho, de
resultados e de impacto (p. IO), e outra, construir uma base de
conhecimento de alta qualidade — geração e intercâmbio de
resultados sobre as reformas e intervenções na educação dos
países (pp. 8-9).
Na educação básica, o Governo Fernando Henrique Cardoso
intensificou a reforma na educação brasileira focada em
competitividade, imperativos financeiros, descentralização,
fixação de sistemas nacionais de avaliação, educação a distância
e utilização das tecnologias. Depois de 2003 a luta em defesa da
universalização da educação básica empurrou os conflitos e
resultou na emenda constitucional n. 59, tornando obrigatória e
um direito subjetivo a educação básica dos 4 aos 17 anos, além
de garantir seu financiamento público. Por outro lado, a nota do
ENEM tornou-se critério para o estudante receber bolsa do
PROUNI nas instituições públicas e privadas; consolidou-se o
sistema nacional de avaliação, transformando os resultados em
parâmetros para recebimento de recursos; e ampliou-se a
utilização das parcerias público-privadas numa sistemática
diluição entre as fronteiras do que é publico e o que é privado —
expressões das convergências entre disposições políticas do
Banco Mundial e OCDE para o governo federal e governos
estaduais no país.
Também de 2003 em diante não faltaram diretores e
consultores do BM, OMC e OCDE preconizando aos
governos federal e estaduais que abrissem a educação para a
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exploração do mercado lucrativo. Nota-se que o Estado
brasileiro direcionou atos e ações na educação de modo que
fossem impingidos princípios de competitividade,
imperativos financeiros, descentralização, privatização e
avaliação, tornando-a consoante com as potencialidades de
um mercado educacional, Tal inclinação veio, numa
estratégia política, no Plano de Desenvolvimento da Escola
(PDE-2007), quando o governo se aproximou dos
empresários para implementar a política da educacional e
convocou os brasileiros para discutir e elaborar um plano de
educação, transformado-o em quase uma peça jurídica, não fosse
a mobilização das instituições acadêmicas e científicas, sindicais
e no interior das escolas públicas, onde existiam professores,
estudantes e trabalhadores em educação que, de fato,
desconstroem e reconstroem a política pública e lutam por
direitos humanos e sociais.
Talvez Cecília Meireles nos dê um alento: "a vida só é
possível, reinventada!"
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WILLIAMSON, John (1992). "Reformas políticas na América
Latina na década de 80". Revista de Economia Política, São Paulo,
vol. 12, n. 45, PP. 43-49.
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A COOPERAÇÃO DO BANC0 MUNDIAL À EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
INCONGRUÊNCIAS, CONTRASSENSOS E CUSTOS DE UMA INÓCUA PARCERIA
INTERNACIONAL
MARÍLIA FONSECA
Universidade de Brasília
Introdução
Em meio à vasta literatura já publicada a respeito do papel
desempenhado pelo Banco Mundial (BM) na construção da agenda
educacional brasileira desde os anos de 1970, agrego mais estas
informações ainda não divulgadas no meio educacional. O intuito é mostrar
qual foi a real contribuição do seu financiamento para o desenvolvimento
da educação básica e, ainda, qual o foi custo dessa dita "cooperação" pelo
efeito de taxas e juros embutidos nos acordos. Para alguns, estas
informações poderiam ser consideradas como já defasadas para o atual
momento brasileiro, visto que a negociação de acordos educacionais com o
Banco foi interrompida a partir da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
I Cabe informar que o presente artigo teve uma versão preliminar publicada no livro
Multilateralismo e reações sul-americanas, organizado por Mônica Dias Martins e IRosemary
Galli (FONSECA, 2011, pp. 227-254).
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Ao contrário, penso que a incursão ao passado pode revelar, além da
perforpnance técnica e financeira dos projetos em si, fatos políticos que geraram
sua continuidade durante mais de três décadas. Em primeiro lugar, coloco uma
questão: Por que esta cooperação durou tanto? Quem tinha maior interesse na
assinatura dos acordos: a burocracia brasileira ou o próprio Banco? Quanto
custou essa cooperação para o erário brasileiro? Segundo meu entendimento, o
Banco Mundial sempre foi o principal interessado, visto que a assinatura dos
acordos com os países membros era condição para sua sobrevivência como
instituição financeira, uma vez que a contribuição rotineira das nações
associadas só alcança financiar a estrutura e o frncionamento do Banco. O
dinheiro para ser emprestado aos países é tomado pelo Banco junto a grupos
financeiros internacionais, no chamado pool de moedas. Desse modo, o Banco
atua como intermediário, emprestando aos países tomadores dos créditos juros e
taxas adicionais, o que garante seu lucro financeiro.
Como já divulguei em artigo anterior (FONSECA, 2001), a inclusão da
educação em sua linha de créditos ocorreu por motivação política do próprio
Banco, quando decidiu financiar o setor social no final dos anos de 1960 (antes
só emprestava dinheiro para projetos de infraestrutura). A decisão decorreu dos
prognósticos internacionais sobre o crescimento acelerado da pobreza no
terceiro mundo, considerada como fator direto de conturbações sociais nos
países mais pobres, com sérias consequências para a estabilidade dos mais
desenvolvidos, Por essa razão, o Banco e outras agências internacionais de
fomento passaram a destinar créditos para o desenvolvimento d o setor social
(incluindo a educação, saúde e desenvolviment 0 rural), visando a atingir
determinados segmentos populacionais que se encontravam fora dos limites
aceitáveis de pobreza, denominados grupos emergenciais ou de risco (FRANCI S,
1988; BANCO MUNDIAL, 1980a, 1982, 1985).
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Do lado brasileiro, a assinatura dos acordos era devida,
prioritariamente, ao interesse dos setores macroeconômicos. Os
recursos provenientes dos acordos financiamentos significavam o
ingresso de dólares para reserva de divisas e equilíbrio da balança
de pagamentos. Os decretos governamentais n. 68681/71 e 1312/74
garantiam a prioridade do Tesouro Nacional para a contrapartida
aos créditos externos, além de determinar medidas administrativas
facilitadoras para o desenvolvimento de projetos internacionais,
como a contratação de pessoal independentemente das regras da
administração pública, por exemplo, E certo que a intensidade da
influência internacional sobre os países tem a ver também com a
atitude compartilhada, submissa ou autonômica que preside as
relações entre determinados governos nacionais e as agências
internacionais de crédito,
No âmbito de estados e municípios, o aporte de divisas
internacionais significava prestígio político para os dirigentes, pelo
fato de contribuírem para o aumento de recursos para a educação
básica.
Os primeiros projetos educacionais financiados pelo Banco
nos anos de 1970 tiveram aceitação imediata por parte do
Ministério da Educação, Na sequência, o Banco sofreu resistências
da Equipe Central de Planejamento, criada na se gunda metade dos
anos de 1960 com a intenção de estruturar o processo de
planificação do MEC. A equipe contava com a participação de
quatro técnicos brasileiros e quatro norte-americanos
vinculados à Agência para o Desenvolvimento Internacional
USAID , criada pelo GovernoKennedy.A USAID (tornou-
seTeferência para a educação brasileira, uma vez que sua
assistênciatécnica e financeira colaborou para configurar a
reforma da educação superior de 1968 e também da educação
básica, quando se Institucionalizou a profissionalização o
rlgatória, no início da década de 1970 (ARAPIRACA, 1982).
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Os primeiros créditos para a educação brasileira foram
negociados com o Ministério da Educação no final dos anos de
1960. No primeiro acordo (n. 755), o Banco privilegiou o
ensino técnico de nível médio (industrial e agrícola), considerado
como fator direto para o crescimento econômico. O acordo foi
executado, no período de 1971 a 1978, com o objetivo de expandir
a oferta de cursos e de vagas em nove escolas técnicas agrícolas e
duas industriais, além de seis centros de formação de engenheiros
operacionais em nível pós-secundário. Ao todo, o projeto
beneficiaria cinco mil estudantes, 16% do total de alunos que
frequentavam esses cursos. Previa-se:
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Período
Total de
No segundo acordo, previa-se que o Banco participaria
com 40% e a União com 60%: destes últimos, caberiam 40% ao
Ministério da Educação e 20% aos estados beneficiados.
Conforme indica a Tabela 1, a contrapartida nacional foi maior
do que os créditos do Banco, contrariamente ao estabelecido no
acordo (BANCO MUNDIAL, 1974, p. 11).
Apesar das dificuldades evidenciadas nos dois primeiros
acordos, a cooperação do Banco foi incrementada nos anos de
1980. Aqui cabe questionar os motivos que levaram à decisão, por
parte dos subsequentes governos brasileiros, de firmar novos
acordos. Penso que uma das explicações para tal atitude foi o mito
que se criou sobre a capacidade técnica e financeira do Banco,
devido, sobretudo, ao desconhecimento público sobre o real alcance
do processo de cooperação externa. A pouca divulgação sobre os
resultados dos projetos limitou o fluxo de informações junto à
comunidade educacional e até mesmo no âmbito do Ministério.
Algumas avaliações sobre os primeiros acordos foram realizadas no
ano de 1983, sendo que a divulgação dos resultados ficou restrita ao
quadro técnico e dirigente do MEC e do Banco. Colaborou para
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isso a exigência de sigilo que envolve as transações internacionais
(BRASIL, 1983).
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mediante um ciclo de educação inicial curto, de quatro
anos3,
c) a elaboração de estudos estratégicos, com assessoria do
Banco, visando ao estabelecimento de políticas
educacionais de longo prazo (BANCO MUNDIAL, 1980b;
BRASIL, 1980).
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Dados sistematizados e recolhidos pela autora em documentos oficiais do Ministério da Fazenda,
1989.
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Monhanguara 1983
27.5 53,7 7.9 10.0 3.3 20.8
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Considerações finais
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Referências
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Afundia/
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