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03ª RODADA
SUMÁRIO
Os interesses difusos e interesses coletivos são indivisíveis, pois não tem como
dividir o sem afetar mais de uma pessoa. Porém a determinação é o fator
preponderante para você entender se o direito é difuso, se pertence a todos. Os
interesses coletivos em sentido estrito, por outro lado, são indivisíveis mas
pertencem a um grupo - grande às vezes até -, mas plenamente identificável,
porque se envolve a relação jurídica base como uma forma de vincular ou de
formar o grupo, categoria ou classe.
Já nos direitos individuais homogêneos , tem-se que por alguma conveniência, por
algum fator positivo, algum fator vantajoso, pega -se que aquele direito que é
divisível, é plenamente segmentável, e faz -se com que ele seja decidido de forma
conjunta. E aí se tem a possibilidade de produzir efeit os para além daquelas
pessoas que estão como titulares do direito figurando processo.
Pelo nosso sistema, por padrão, definiu -se como identidade a pessoa que figura
no processo como titular do direito ou da obrigação cor respondente.
Quando essa situação ela é diferente, ou seja, quando o direito que se põe em
debate vai além daquela pessoa que figura no processo, ou mesmo é até
diferente do direito próprio daquela pessoa que figura no processo defendendo,
se começa a debater sobre o outro conceito de legitimidade, que é a legitimidade
extraordinária.
Até que com as ondas de renovação do acesso à justiça, a segunda onda advinda
dos estudos do Professor Mauro Cappelletti, em meados do século passado, veio
o processo coletivo, pois começou a se reconhecer que alguns direitos não
estavam bem resolvidos dentro do Direito Processual e isso tinha que ser
resolvido.
Nesse pacote vem o processo coletivo e se fala a gente fala no microssistema de
processo coletivo, que começou a Lei da Ação Civil Pública, em 1985, depois do
Código de Defesa do Consumidor, numa parte processual que traz a tutela
coletiva como um instrumento de defesa dos direitos coletivos.
O CPC/15 tratou de processo coletivo, mas de uma forma diferente. Deve -se
olhar para o processo coletivo de uma forma mais aberta e não tratar de
processo coletivo, mas sim da coletivização do processo. Porque se o processo
coletivo é uma ferramenta de solução coletiva de direitos, pode haver outras que
também resolvem coletivamente ou auxiliam na solução coletiva de direitos.
O CPC tratou de situações muito parecidas com a do processo coletivo sem dizer
que é processo coletivo. Se o processo coletivo como conhecemos tivesse sido
eficaz e resolvido quantidade excessiva de demandas, ninguém pensaria em IRDR,
em Recursos repetitivos etc.
O processo coletivo resolve muito, mas não resolve tudo. Por isso deve -se falar
mais do que processo coletivo, mas sim em coletivização do processo. Deve-se
pensar nos instrumentos que nos auxiliam a resolver coletivamente as demanda s,
porque até tem um viés de defesa de direitos específicos, mas tem inveja de
Administração da Justiça que não se pode deixar de analisar.
Assim, há que se falar de que a pessoa tem o direito de não estar na corte, se
não quiser, mas tem sim o direito de ser bem representado na corte, pois alguém
tem capacidade para representar e defender o seu direito.
No CPC novo isso fica claro dois instrum entos: no incidente de resolução de
demandas e no sistema de julgamento recursos repetitivos. Pode -se buscar essa
ótica coletiva, não preponderantemente, até no Incidente Assunção de
Competência, que diz-se que tem um caráter preventivo. E pode -se ver isso
também no sistema de julgamento constitucional de repercussão geral, em que
os critérios são vastos tem a ver com o interesse social.
As duas outras alterações do CPC que são valiosas para o processo coletivo
propriamente dito dizem respeito à legi timidade e à capacidade de ser parte. O
CPC de 1973, na previsão original da redação do artigo 6º, dizia que ninguém
poderia pleitear em nome próprio direito alheio, salvo quando expressamente
autorizado por lei. Esse “expressamente”o foi retirado por uma emenda do
Senado. Isso era reprodução do texto do CPC italiano, que vinha com essa
previsão estrita de autorização que deveria ser expressa. Isso caiu. Começou a
defender que como a autorização não precisava ser expressa, essa autorização da
legitimidade deveria decorrer do ordenamento jurídico. Toda vez que houver
necessidade de alguém defender direito e não existir precisamente um
legitimado pela lei e isso pudesse vir a provocar uma crise que possa conflitar e
atingir o núcleo de grande valores da Consti tuição, deve-se permitir que essas
pessoas sejam destinadas a atuar na defesa desse direito.
Tanto é assim, que o texto do CPC atual, em seu artigo 18, prevê que ninguém
poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo
ordenamento jurídico. Assim, ordenamento jurídico amplia o espectro das
possibilidades da ação coletiva.
1.2 Demandas de massa e o NCPC
(Palestra por Marco Antonio Rodrigues, Procurador na PGE-RJ, em 27 de abril de 2017, na PGE-
RJ)
Esse tema é um problema no Brasil, mas também é enfrentado por outros ordenamentos do
mundo ocidental.
Na experiência brasileira vejam que isso ainda se agrava pensando na gratuidade de justiça. O
nosso sistema de assistência judiciária gratuita um sistema é de uma amplitude como em
nenhum outro país no mundo tem. Ao contrário, pois no direito estrangeiro, os sistemas de
assistência judiciária gratuita possuem algumas restrições e que, muitas vezes, são legítimas.
No Brasil, para não se arcar com as despesas do processo não há qualquer necessidade de
demonstração mínima de um direito. Diferentemente, em vários outros países, por exemplo, a
Alemanha, dentre muitos outros, onde aquele que se vale de uma isenção de despesas
processuais vai propor a sua demanda necessitando de demonstração mínima de que existe
em uma probabilidade de direito.
Não restam dúvidas, assim que a assistência judiciária gratuita gera um impacto em um
demandismo, ao lado do sentido do que é o acesso à justiça. Então, como consequência,
temos um elevadíssimo número de demandas tanto na justiça estadual como na justiça
federal. E isso leva a uma verdadeira crise da Justiça civil. Uma crise no sentido de que o
Judiciário não tem condições, muitas vezes, de responder com a brevidade necessária as
demandas que lhe são submetidas. Reflexo disso, na última década, quando houve a criação
da repercussão geral, a criação do regime dos recursos repetitivos (tanto na reforma
constitucional da Emenda 45, como pela reforma de 2008 sobre o Código de Processo Civil de
73).
A ideia era tentar desafogar os tribunais superiores do excesso de recursos. Mas o problema
do excesso de procedimentos não é um problema só de tribunais superiores. É um problema
do Brasil como um todo e dos nossos tribunais como um todo. E o Código de 2015 tem um
papel muito importante quando olhamos para esse problema das demandas de massa. O
Código, ciente desse problema, tenta trazer mecanismos que melhorem a eficiência da
prestação jurisdicional e, com isso, alteram os impactos que as demandas de massa aplicam na
própria celeridade do Poder Judiciário e, por via de consequência, na efetividade da prestação
jurisdicional.
Inclusive, o próprio artigo 8º, dentre as normas fundamentais do nosso Código de Processo,
prevê a eficiência enquanto norma fundamental. Não basta que cheguemos a uma decisão
daqui a 30 anos; é preciso que se tenha no processo a melhor performance possível para os
processos judiciais.
O código procura, por meio de diversos mecanismos, conter o excesso de litigiosidade. O
primeiro desses mecanismos da contenção da litigiosidade de massa em excesso é o sistema
de precedentes. O CPC de 2015 procura aprimorar um sistema de precedentes ou de padrões
decisórios. Na verdade, já tínhamos mesmo antes do Código de 2015, a previsão de certos
precedentes vinculantes ou de entendimento vinculantes. Por exemplo, a Constituição já
previa as súmulas vinculantes e o efeito vinculante das decisões de Ação Declaratória de
Constitucionalidade e Ação Direta de Inconstitucionalidade. Mas o Código de 2015 teve uma
preocupação de ampliação daqueles entendimentos que podem ser vinculantes.
Existe toda uma ética vinculada aos precedentes, pois há aqui uma preocupação com a
segurança jurídica, pela adoção de uma mesma solução para casos que tenham identidade de
direito. É uma forma, também, de assegurar a igualdade, quando se tem a obediência um
sistema de precedentes. Por isso, o CPC, no artigo 926, prevê a necessidade de que os
Tribunais observem os deveres de coerência e integridade de sua jurisprudência. Não é
possível que, no atual estágio civilizatório, essa semana tribunais decidam de uma maneira e
daqui a duas semanas decidam de maneira distinta uma mesma situação. Então, o Código
tenta combater isso pelo sistema de precedentes, ampliando quais são os precedentes
vinculantes. Com isso, o artigo 927 até tenta definir quais são alguns dos precedentes
vinculantes.
ATENÇÃO: Entendimentos vinculantes são apenas aqueles constantes dos incisos I a III do
artigo 927: As decisões do STF em controle concentrado de constitucionalidade, os enunciados
de súmula vinculante, os acórdãos em Incidentes de Assunção de Competência (art 947, CPC)
ou de Resolução de Demandas Repetitivas (art 985, CPC) e em julgamento de Recursos
extraordinário e especial repetitivos (art 1040, CPC). Com isso, tem-se o Código aprimorando o
sistema dos Recursos especiais e extraordinários repetitivos para facilitar essa aplicação da
decisão paradigmática para os casos que tratem da mesma questão.
Por exemplo, no novo Código tem-se a previsão de que o STF, ao reconhecer se tratar de um
recurso extraordinário repetitivo, ou o STJ, no caso de recurso especial, deverá proferir uma
decisão de afetação. Essa decisão que vai promover a suspensão nacional de processos sobre a
mesma questão, mas que também vai definir qual é a questão de direito que é repetitiva.
Até então, o que se tinha era a mera definição de uma tese, de maneira muito simples, que
entrava para o rol de testes que seriam julgados em recursos repetitivos. Mas agora, o Código,
até em nome da garantia da fundamentação das decisões, que foi tão prestigiada nesse
diploma de 2015, exige uma decisão de afetação. Isso vai facilitar a posterior aplicação
também daquele entendimento do recurso paradigmático para outros casos.
Por isso, acesso à justiça no atual sistema é acesso a solução justa para o conflito de interesses,
porque a solução justa não necessariamente advém do Poder Judiciário. O Código aqui está
aderindo a uma ideia que vem da década de 70, do direito norte-americano, a ideia dos
tribunais multiportas (multi door courts). Com essa ideia, nos Estados Unidos, há estados em
que o tribunal multiportas leva a cerca de 90% de êxito nos mecanismos de solução consensual
de controvérsias. Só 10% dos conflitos são realmente decididos pelo Judiciário.
A ideia do tribunal multiportas é de que aquele que precisa de uma solução para um conflito
de interesses, quando vai ao Judiciário, que a solução imposta por este Poder seja apenas uma
das portas para a solução do conflito. Como existem múltiplas portas, tem-se, por exemplo, a
porta da conciliação, a porta da mediação, a porta da convenção de arbitragem para que
posteriormente um árbitro decida. Então, o CPC adere essa ideia que é tão exitosa, por
exemplo, nos Estados Unidos.
Agora, porém, deve-se pensar em um segundo ponto para tentar conter a litigiosidade de
massa. Nesse momento, deve-se raciocinar como fica o papel do advogado público diante
dessas demandas de massa e diante desses mecanismos que o Código traz para conter a
litigiosidade de massa.
Deve-se ter em mente, de acordo com dados do CNJ, que dos 10 maiores litigantes nacionais,
6 são Fazendas Públicas. A fazenda tem uma quantidade infinitamente superior de relações
jurídicas do que qualquer litigante privado, justificando, portanto, sua posição em tal ranking.
O advogado público, diante do novo Código, tem um dever de orientação dos órgãos e
entidades da administração pública quanto a sua atuação diante dos precedentes. Assim, o
advogado público, diante de um precedente vinculante, deve orientar os órgãos e entidades
sobre se devem cumprir aquele precedente, e em que medida ele deve ser observado, ou em
que medida ele deve ser superado, até porque há técnicas de superação do precedente (o
distinguishing, o overruling, dentre outras).
Além disso, o advogado público vai ter um papel extremamente importante no que se refere à
eventual adoção de meios consensuais para a solução de controvérsias. Como são realidade no
CPC, a Administração Pública não fica alheia a eles. O próprio Artigo 3º, § 2º traz que o Estado
deverá, sempre que possível, promover a solução consensual do conflito. Isso mostra que a
administração pública também está sujeita a esses mecanismos. Obviamente que isso exigirá
muito mais cautelas da Administração Pública na adoção desses mecanismos.
Mas o que que é a transação por adesão? Diante de um parecer do advogado-geral da União
ou de uma orientação decorrente de entendimento do Tribunal Superior, a definição de
hipóteses para a realização de acordo e em que medida será feito acordo. Nesse caso,
qualquer administrado pode ir até lá e pedir para aderir àquele acordo. É um mecanismo de
realização de uma solução consensual. É muito interessante a previsão da lei federal, por uma
questão de impessoalidade, porque a transação por adesão faz com que a administração não
olhe para o administrado A, B ou C, para o nome, dele mas sim para qualquer pessoa que se
enquadre na controvérsia. Em tempos de operações de busca de combate à corrupção, isso é
uma forma de resguardar o advogado público de que amanhã não haverá qualquer tipo de
alegação de moralidade administrativa por conta de um acordo feito por um advogado público
em um caso e em outro caso idêntico, outro advogado público não celebrou o acordo.
Transações para adesão com base em precedente, então, são mecanismos que, sem dúvida,
objetivam o acordo.
Além disso, tem-se também que os precedentes têm um papel importante para definição de
chances de recursos, chances de êxito em recursos. O Código, como forma de redução de
litigiosidade em grau recursal, trouxe no Artigo 85, § 11, os honorários advocatícios recursais,
que são uma majoração da verba honorária prevista na decisão recorrida.
A crítica feita a esses honorários advocatícios recursais é de que o nosso sistema já previa a
pena de litigância de má-fé em oferta de um recurso protelatório. Só que, infelizmente, esse é
um mecanismo que praticamente caiu em desuso, a pena por litigância de má-fé pelo uso de
recurso protelatório. O que se tem, no máximo, são aquelas multas de embargos de
declaração no agravo interno protelatório sendo aplicadas. Nos demais recursos é uma
raridade ter a aplicação de multa. E aí o Código, como uma maneira de tentar reduzir o uso de
recursos de baixa chance, traz os honorários advocatícios recursais.
No caso da fazenda pública, em que se tem a indisponibilidade do interesse público que limita
a prática de atos positivos, eventual não interposição de recurso está sujeita a uma dispensa
genérica ou a uma dispensa específica? O precedente vinculante aqui tem um importante
papel para realizar um pedido de dispensa de recurso, ou até mesmo os precedentes
vinculantes, podem ser importantes mecanismos para que a Administração periodicamente
venha a editar dispensa genéricas de recurso com base nos precedentes vinculantes e, com
isso, traga uma maior eficiência para a atuação administrativa do advogado público.
Por isso se defende que os honorários recursais não contemplam embargos de declaração.
Porém, o STF chegou a admitir isso, o que nos mostra que é um espírito de tentar reduzir ao
máximo o uso de recursos.
Portanto, se nota que o CPC está ciente de que se tem um jejum de demandas de massa no
Brasil, o que faz com que o Judiciário, em todas as suas instâncias, tenha que se defender, na
prática, de tantas demandas. Diante de todos esses mecanismos que o Código traz, a solução
para o problema da tempestividade da tutela jurisdicional não está só na mão do Judiciário,
mas, sobretudo, nas mãos do advogado público e do advogado privado, porque o Código
espera dessas pessoas uma mudança de postura, uma postura de boa-fé e de cooperação,
dentro dos limites dos interesses de cada cliente.
1.3 Métodos alternativos de solução de conflitos e a fazenda pública
Conceitos básicos:
Autocomposição x Heterocomposição:
Esses métodos alternativos podem ser de autocomposição ou heterocomposição:
Autocomposição Heterocomposição
(a solução é construída de maneira conjunta (um terceiro compõe o conflito e impõe a
pelas próprias partes do conflito) solução, substituindo a vontade das partes)
I. Transação (concessões recíprocas) i. Arbitragem*
II. Submissão (renúncia ao direito, ou ii. Jurisdição estatal**
reconhecimento da procedência do pedido)
*Para Fredie Didier Jr. a arbitragem é também jurisdição e o Novo CPC teria acolhido esse
entendimento (minoritário; ainda prevalece que a jurisdição é atividade privativa do Estado,
que detém o monopólio da jurisdição, como uma das formas de seu ius imperium – acepção
publicística do processo.
Art. 165, § 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a
utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes
conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior
entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em
conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por
si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
O Novo CPC expressamente acolheu essa classificação, dispondo no art. 515 que: “São títulos
executivos judiciais (...): II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; III - a decisão
homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;”
O famoso “negócio jurídico processual”, permitido genericamente no art. 190 do CPC (cláusula
geral) é uma espécie de autocomposição judicial, só que neste caso o que as partes acordam
não é a matéria de fundo (direito material), mas sim regras processuais ou procedimentais. Por
isso também é chamado “convenção processual”.
Ocorre que, a par da polêmica e difícil distinção entre interesse público primário e
secundário, também se começou a questionar a (in)disponibilidade dos meios de tutela do
interesse público. Diogo de Figueiredo Moreira Neto (DFMN) diz que o interesse público
secundário é instrumental, logo, disponível, e, quanto ao interesse público primário – esse,
sim, indisponível - não se pode garantir que esse sempre será melhor atendido por uma
solução imposta pelo Estado-juiz. Isso decorre de um dos paradigmas da Administração
contemporânea eficiente: a consensualidade.
OBS: Quando haja lei expressa proibitiva, obviamente não há que se perquirir se o interesse
público é ou não disponível, pois essa análise já foi feita pelo legislador. É o caso da Lei
8429/92 que veda a transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade administrativa
(art. 17 §1º). O dispositivo chegou a ser revogado pela Medida provisória nº 703, de 2015, mas
esta não foi convertida em lei no prazo constitucional, de modo que voltou a viger a redação
original.
2º Princípio da publicidade
Alguns métodos de ADR tem como característica a confidencialidade (CPC, arts. 166 e
189) – muito comum, por exemplo, em arbitragem de causas que envolvam domínio de
tecnologias, o que seria incompatível com o princípio da publicidade (art. 37 da CF). No
entanto, há duas ressalvas: I) não é pacífico que a confidencialidade é imprescindível ao
sucesso dos métodos de ADR (v. arts. 30 e 31 da Lei 13.140/15) e II) normas legais não podem
prevalecer sobre norma de estatura constitucional, salvo quando tutelem outro valor ou
princípio também constitucional (ponderação).
Por isso, a doutrina entende que, via de regra, as normas do CPC e da Lei de
Arbitragem que impõem a confidencialidade devem sofrer a filtragem constitucional para que
o sigilo só ocorra nas hipóteses realmente justificáveis. Nesse sentido, foi editado o Enunciado
15 FPPC: As arbitragens que envolvem a Administração Pública respeitarão o princípio da
publicidade, observadas as exceções legais (vide art. 2º, § 3º, da Lei n. 9.307/1996, com a
redação da Lei n. 13.129/2015).
3º Princípio da legalidade administrativa
1º Leis de algumas agências reguladoras, como a Lei 9472/97 (art. 93, XV) e Lei 9478/97
(art.43, X): autorizaram a arbitragem com a Administração.
O instituto da “transação por adesão” previsto no art. 35 é interessante para observar como é
perfeitamente possível a transação ser objetivamente controlada pela Administração.
Vale destacar que no Estado do Rio de Janeiro, desde 2013, já existe a Câmara de Resolução de
Litígios de Saúde (CRLS), que reúne a PGE-RJ, a PGM-RJ, o TJRJ, a Defensoria Pública do Estado,
a Defensoria Pública da União, a Secretaria de Estado de Saúde e a Secretaria Municipal de
Saúde para solucionar administrativamente demandas relacionadas a medicamentos e
tratamentos de saúde, utilizando dos métodos alternativos. Recentemente, também foi
lançado na PGE-RJ o programa “Mais Consenso”, com o objetivo de reduzir o número de
demandas judiciais no Estado através da mediação e da conciliação, buscando afirmar o
consenso como alternativa à unilateralidade e imperatividade da Administração Pública.
Destaque-se também a instituição da Câmara Administrativa de Solução de Conflitos (CASC),
que visa promover a obtenção de soluções consensuais em questões e litígios que envolvam
órgãos e entidades da Administração Pública Estadual, Direta e Indireta.
A indisponibilidade do direito material não impede, por si só, a celebração de negócio jurídico
processual (Enunciado 135 do FPPC). A Fazenda Pública pode celebrar negócio jurídico
processual (Enunciado 256 do FPPC).
O art. 190 CPC diz que não podem ser objeto de NJP “direitos que não admitam
autocomposição”. A doutrina exemplifica quais seriam esses direitos:
Arbitragem
Embora seja conceito indeterminado, pode-se afirmar que todos os direitos que
podem ser objeto de contrato (negócio jurídico material) pela Administração podem ser
também objeto de arbitragem. Ressalva se faz quanto às cláusulas exorbitantes, que seriam
questões não arbitráveis, porque irrenunciáveis (tutelariam o interesse público primário,
indisponível).
Para Alexandre Câmara, por outro lado, só pode haver arbitragem para os contratos privados
da Administração, excluindo-se os contratos administrativos típicos. O tema ainda é muito
controverso, mas essas são algumas posições que vale a pena citar em prova.
Sobre o tema, é importante saber ainda que: I) a arbitragem envolvendo a Fazenda só pode
ser de direito, nunca por equidade, por causa do princípio da legalidade (art. 2º §3º Lei
9.307/96); II) a sentença arbitral não está sujeita ao reexame necessário (En. 164 FPPC); III) a
sentença arbitral é titulo executivo judicial (art. 515, VII) executável normalmente contra a
Fazenda, isto é, pelo rito dos precatórios ou RPV.
Há entendimento de que a norma do art. 334 não pode ser aplicada enquanto não houver lei
ou ato do Chefe do Executivo regulamentando-a, já que os advogados públicos precisam de
poderes especiais para transigir.
No Estado do Rio de Janeiro a Fazenda Pública não vem participando dessas audiências, sendo
entendido que, não havendo ainda regulamentação estadual sobre quais casos podem ser
submetidos à autocomposição, todas as causas se enquadram na hipótese do art. 334, §4º,
inciso II.
Em seminário realizado pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro onde se debateu a
mediação como alternativa de solução de conflitos a Procuradora do Estado Aline Paola
Camara de Almeida disse que “a mediação é uma nova visão da Advocacia” e indagou se a
consensualidade não seria um novo paradigma para a Advocacia Pública. Ela explicou que a Lei
13.140/2015, que dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de
controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública, faz
parte de um contexto onde também se incluem outras leis, como a Lei de Concessões de
Serviços Públicos (LEI Nº 8.987, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1995), a Lei das Parcerias Público-
Privadas (LEI Nº 11.079, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2004), a Lei do Regime Diferenciado de
Contratação (LEI Nº 12.462, DE 4 DE AGOSTO DE 2011), a Lei de Arbitragem (LEI Nº 9.307, DE
23 DE SETEMBRO DE 1996) e o novo CPC.
Segundo Aline Paola Camara de Almeida, “o advogado público deve pensar na defesa do
erário, mas deve levar em conta também o custo de decisões demoradas”. Ela destacou
como casos de sucesso as duas câmaras criadas pela PGE-RJ em parceria com outros órgãos do
Estado e com a Defensoria Pública: Câmara de Resolução de Litígios de Saúde (CRLS) e Câmara
Administrativa de Solução de Conflitos (CASC) para conciliar litígios na área da educação. No
caso da CRLS, disse que atendeu 30 mil pessoas em quatro anos, das quais 15 mil tiveram seu
pleito atendido. Isso significou 15 mil ações judiciais a menos. Para ela, “as duas câmaras já
estão dando um bom exemplo, mas precisamos pensar em como ampliar essa forma de
atuação”.
A maioria das normas cuida dos contratos administrativos (concessão, PPP, o RDC), mas não é
somente nesse ramo que se pode pensar em consensualidade na administração pública
porque os conflitos não estão limitados a esses temas, das procuradorias especializadas se tem
conflito na área de tributação, na área de pessoal, na área de meio ambiente,
desapropriações, indenizações, de uma forma geral contratações públicas, alguns conflitos de
direito do trabalho, conflitos previdenciários. Portanto, tem que se pensar em novas formas de
solução e a lei 13.140 veio trazer a autocomposição para a administração.
Segundo a Procuradora, todo aquele negócio público que possa ser negociado, ou que pelo
menos tenham uma representação patrimonial, ele pode ser levado a formas de solução,
porque não é somente a administração pública que pode determinar que tipo de interesse
público seja esse. Ainda que se tenha a ideia da supremacia do interesse público sobre o
interesse privado, hoje a moderna ideia de administração pública é ter o cidadão dentro da
ideia de sua própria administração, ter o administrado como um resultado final da sua ação
administrativa.
(i) O protagonismo dos advogados públicos: A procuradoria durante muitos anos foi
considerada um grande escritório de advocacia, essa fama, segundo a Procuradora, veio pelo
seu bom combate muitas causas ganhas, muitos processos importantes e talvez a própria
dinâmica dos conflitos seja fazer com que o advogado público trabalhe pelo processo, então, a
administração pública tem algum conflito ela espera não resolver isso, espera que seja
judicializado, porque mandar o processo para a procuradoria e aí a administração se livra
desse processo por anos até sair uma solução de maior vantagem para o administrador é que
muitas vezes ele não se envolve com a solução do conflito então na maioria das vezes não é o
administrador quem vai pagar a conta ele deixa a conta pro outro pagar quando é ele que tem
que pagar conta isso já traz uma maior responsabilidade para o próprio gestor e acho que esse
talvez seja o nosso maior desafio.
(ii) chamar o “cliente” para a solução da controvérsia porque se o advogado público é quem
está na ponta, é o protagonista dessa solução, ele não vai poder resolver a questão e isso tem
que partir de uma cultura e uma percepção da necessidade do gestor público é ele quem tem
que dar o ponta pé inicial, mas sobretudo ter o compromisso para solucionar a questão, é um
desafio bem importante, sabe-se de alguns casos que nem com uma decisão judicial transitada
em julgado há o cumprimento, como é que vai trazer o compromisso do gestor e o alertar da
necessidade dessa nova fórmula de solução.
(iii) A capacitação dos advogados públicos o procurador do estado não vai ser só aquele
combativo que vai na audiência que vai brigar na audiência que vai fazer uma ótima
sustentação oral mas principalmente aquele que está disposto a ouvir, a perceber o conflito e
tentar resolver o conflito, acaba trazendo uma mudança de cultura o advogado tem que partir
de novas formas de aprendizado, novas formas de aplicação de tudo aquilo que ele já tinha
aprendido é o que exigirá também um aprimoramento da estrutura física, agora tem que
pensar em novas formas de estrutura física para poder receber os administrados e receber
aquelas pessoas que estão insatisfeitas com o poder público.
Conclusão
Conclui-se que a Administração pode se valer dos ADRs, mas não incondicionalmente.
Em respeito à autonomia federativa, é preciso que haja a regulamentação de cada
ente, sobretudo por força do princípio da indisponibilidade do interesse público, dispondo
sobre quais matérias e em quais casos há interesse público na autocomposição. Isso porque
apesar de não haver proibição, a priori e em abstrato, à autocomposição ou à arbitragem, a
indisponibilidade do interesse público em concreto restringe o objeto que pode ser submetido
a esses meios alternativos.
Além de proteger o interesse público primário, a regulamentação por cada ente busca
preservar a isonomia e a impessoalidade, de modo a evitar que apenas parte dos
administrados que estejam na mesma situação tenha a oportunidade de transacionar com a
Fazenda, o que violaria frontalmente a igualdade.
1.4 A ordem do processo nos tribunais no CPC-2015 e o sistema de precedentes: voto
vencido, redação de acórdão e colheita de votos
1. Introdução
Julgamento Acórdão
Atenção: O legislador brasileiro criou uma ficção legal: o voto vencido deve ser
expressamente declarado e compõe o acórdão para todos os fins legais, incluindo o pré-
questionamento (art. 941, §3º, CPC).
Pode haver mais de um voto vencido; havendo, todos devem ser juntados e passam a
fazer parte do acórdão. Em razão dessa mudança legislativa, deve ser cancelado o enunciado
320 da súmula do STJ: “a questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao
requisito do prequestionamento”.
Primeira espécie de voto vencido = simples Segunda espécie de voto vencido = dialoga
voto contrário com o posicionamento majoritário
Segundo Luiz Guilherme MARINONI é aquele Para demonstrar o equívoco da ratio decidendi
que “em qualquer preocupação em vencedora. Esse tipo de voto vencido, que é o
evidenciar que a ratio decidendi ou os relevante em um sistema de precedentes,
fundamento majoritário e concorrente estão Segundo Marinoni “tem a importância de
equivocados ou não podem prevalecer”. conferir à ‘falta de unanimidade’ o poder de
Esse voto acaba não tendo muita relevância, alçar a questão para a discussão da
pois é uma simples manifestação de que o comunidade, evitando que ela fique submersa
julgador não está de acordo com o resultado ou quase invisível, como se a ratio houvesse
da decisão. sido amparada pela unanimidade dos votos”.
Além disso, Segundo Guilherme Jales Sokal, o voto vencido demonstra a possibilidade de
a tese vencedora ser revista mais rapidamente, antes mesmo de a ela ser agregada qualquer
eficácia vinculante, o que pode fragilizar a base da confiança, pressuposto fático indispensável
à incidência do princípio da proteção da confiança. O voto vencido mantém a questão em
debate, estimulando a comunidade jurídica a discuti-la.
Note, ainda, que a inclusão do voto vencido no acórdão ratifica regra imprescindível ao
microssistema de formação concentrada de precedentes obrigatórios: a necessidade de o
acórdão do julgamento de casos repetitivos reproduzir a íntegra de todos os argumentos
contrários e favoráveis à tese discutida (arts. 984, § 2º, e 1.038, § 3º, CPC).
Chama-se decisão plural aquela que, embora haja maioria em relação ao resultado,
dela não há como extrair uma ratio decidendi, segundo Marinoni, “na medida em que
nenhum dos fundamentos que nela estão contidos são sustentados pela maioria”. Trata-se de
fenômeno comum na prática judiciária brasileira, mas que, em um sistema de precedentes, é
bem ruim, porque impede a formação do precedente.
O voto concorrente pode assumir uma dupla função: a) demonstrar que há um melhor
fundamento para a obtenção de um mesmo resultado; b) impedir a formação da ratio
decidendi e, portanto, do precedente, ao não permitir a obtenção da maioria em torno um
fundamento determinante.
O acórdão não pode ser compreendido como a simples reunião dos votos isolados,
embora seja essa uma prática comum e perniciosa, sobretudo porque dificulta, quando não
inviabiliza, a identificação da ratio decidendi. É por isso, aliás, que “ainda que o resultado do
julgamento seja unânime, é obrigatória a inclusão no acórdão dos fundamentos empregados
por todos os julgadores para dar base à decisão” (enunciado 597 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis).
Lavrar o acórdão significa escrever, redigir o acórdão. Essa, normalmente, é uma tarefa
atribuída ao relator, a não ser quando tenha sido vencido. A dissidência pode dizer respeito
tanto ao fundamento determinante (ratio decidendi) quanto à conclusão. É o redator do
acórdão aquele que levará a causa para reapreciação, no caso do inciso II do art. 1.040 do CPC.
[...]
O relator, que ficara vencido nesses pontos, não refletiu esse entendimento no acórdão
– e, de resto, em sua ementa – fazendo constar seu fundamento, que restou vencido.
Houve um enviesamento que deve ser evitado, sobretudo num sistema que valoriza
precedentes. Por isso, o relator não deve lavrar o acórdão, seja quando ficar vencido na
conclusão, seja quando ficar vencido na fundamentação.
A dúvida quanto à ratio decidendi repercute, enfim, no interesse recursal, que pode
centrar-se na discussão sobre a formação do precedente.
Um exemplo para ilustrar: Imagine que todos os julgadores decidam que a união
homoafetiva é uma entidade familiar. Um entende que é espécie de casamento; o segundo
entende que se trata de união estável; o terceiro entende que se está diante de uma terceira
espécie de família conjugal. Há unanimidade quanto ao direito à tutela jurídica estatal, mas
não se sabe sob qual regime jurídico. É possível dizer que há um fundamento mais amplo e
unânime: a união é entidade familiar – nesse ponto há uma ratio decidendi que se pode
extrair, nada obstante a pluralidade da decisão; mas não é possível definir a que regime
jurídico está submetida – quanto a esse ponto, não há ratio decidendi.
Quem proferiu voto cuja conclusão foi vencida, não participa da votação do fundamento
determinante que deve prevalecer. O voto vencido, porém, comporá o acórdão (art. 941, §3º,
CPC).
Havendo unanimidade na conclusão, a despeito da divergência na fundamentação, não
é caso de aplicar a técnica do art. 942 do CPC, que se restringe aos casos de divergência no
comando normativo da decisão.
DIREITO DO TRABALHO
2.1 Principais pontos da Reforma Trabalhista
(Palestra por Otávio Amaral Calvet, Juiz do trabalho, em 09 de janeiro de 2019 para a PGE-RJ)
Nesses três setores, nesses três eixos houve mudanças profundas. Cabe analisar cada eixo com
mais cuidado:
A reforma tem dois artigos importantíssimos que afetam e discutem esses limites de atuação
de um juiz. Um deles mexe com o art. 8º da CLT, que é um dispositivo estrutural básico de
teoria geral do direito. O dispositivo da alteração menciona que o TST e os Tribunais Regionais
do Trabalho não podem criar obrigações não previstas em lei nem restringir direitos previstos
em lei. Na verdade, isso nada mais é do que o Princípio da Legalidade, que tem base na
Constituição.
Essa OJ é tão grave, gera tantas injustiças e situações anti-isonômicas, que eu já houve casos
em que o terceirizado ganhava mais do que o empregado público concursado. E o que
aconteceu, em seguida, é não se concedeu isonomia ao empregado concursado com o
terceirizado.
Onde que o ordenamento jurídico suporta essa conclusão? Por meio dos princípios. Eis quando
entra o ativismo judicial, quando se começam a fazer vários argumentos abstratos em cima de
princípios. A partir disso, começam as decisões sociológicas.
Mas a Magistratura tem que lembrar que alguém paga a conta. Parece fácil fazer justiça social
quando quem paga a conta é a pessoa que se está condenando, e não o próprio magistrado.
Pode acontecer, ainda, com esse ativismo judicial de surpreender a sociedade e não dar
segurança jurídica devida.
Além disso, a reforma trabalhista trouxe maiores exigências para a criação de súmulas. Agora,
devem-se observar vários requisitos. Sendo assim, a Justiça do Trabalho é a única que não
pode mais fazer súmulas pelo Regimento Interno. Agora tem lei dizendo o que precisa
preencher para fazer uma súmula. Tais requisitos são tão dificultosos, que está basicamente
impossível fazer súmula, após os requisitos impostos pela lei. Ficou clara a intenção do
legislador, então.
2) Responsabilidade dos Advogados das partes no uso da Justiça do Trabalho: entrou em vigor
a Reforma Trabalhista em 11 de novembro de 2017 e a situação mudou radicalmente.
Com a Reforma, a atuação dos advogados passou a ter atenção a alguns detalhes. O primeiro
deles foi a necessidade de se dizer os valores de cada pedido. Eles devem constar na petição
inicial.
O impacto nesse tema foi tão grande, que após a Reforma houve redução de cerca de 38% do
número de ações. E não é só a redução quantitativa, mas a qualitativa também. Pedidos
completamente desarrazoados de acúmulo de função pararam de ser feitos, pedidos de dano
moral irresponsável também deixaram de ser feitos, entre outros. Como a Reforma teve
aplicação imediata, era comum ver, a partir do dia 11 de novembro 2017 os Advogados na
mesa de audiência renunciando a diversos pedidos, alegando que sabiam que não
conseguiriam procedência deles.
3) Responsabilidade dos atores da Justiça do Trabalho: a responsabilidade que cabe aos atores
da própria relação jurídica de emprego: empregado e empregador, em nível individual; mas
em nível coletivo foi a grande revolução. Em nível coletivo, o legislador simplesmente
desarmou o ambiente sindical. Isso aconteceu com o fim da contribuição sindical compulsória,
que é constitucional, como o Supremo já definiu.
Como estão fazendo isso? Estão tentando interpretar a lei de uma forma que a necessidade de
autorização do indivíduo, para ter o desconto no salário, que é o que é lei expressamente fala
no artigo 545 e artigo 611-B, XXVI da CLT, tem que autorizar prévia e expressamente. Criando-
se uma interpretação de que essa autorização prévia e expressa não precisa ser do indivíduo,
para ter desconto no seu salário, podendo ser coletiva em Assembleia, então o sindicato vai
faz uma assembleia, e nessa comparece - na prática - apenas quem é filiado ao sindicato. Esses
filiados, em Assembleia, votam a favor do desconto no salário e aquela Assembleia, por essa
interpretação, obriga a todos os filiados e não filiados ao sindicato. Ou seja, é uma tentativa de
burlar o novo sistema. O legislador claramente disse que queria que houvesse desconto
compulsório. O Supremo já falou sobre sobre contribuição confederativa e contribuição
assistencial, e mesmo assim a Justiça do Trabalho vem querendo chancelar tal entendimento.
Já existem acórdãos nesse sentido, inclusive.
Isso afasta um outro grande eixo da Reforma, que é o retorno da autonomia da vontade.
Busca-se, agora, trazer responsabilidade tanto para tutela coletiva quanto individual. Na área
coletiva essa revalorização da autonomia da vontade vem com fim da contribuição
compulsória, porque você vai se filiar se você quiser, vai pagar se você quiser. Vem, também,
com princípio da intervenção mínima. Inclusive, pode-se dizer que o princípio da intervenção
mínima é o novo princípio estruturante do direito coletivo do trabalho agora. Isso porque a
justiça trabalho agora não pode mais fazer uma interpretação que só quer um resultado que
seja sempre mais benéfico para o trabalhador, interpretando mais benéfico como aquilo que
só traz mais e mais e mais direitos para o trabalhador.
A negociação coletiva hoje - conhecida na mídia como negociado sobre legislado - tem muito
mais poder do que antigamente. Hoje, o legislador separou o que se pode negociar (artigo
611A) e o que não pode (artigo 611-B). O que você negociar, vale (se não tiver nenhum vício
de consentimento, nenhum vício de forma). E independentemente se o resultado foi bom ou
ruim para empregado.
O maior entrave da Reforma, hoje, e que sindicalismo brasileiro ainda está na pré-história se
for comparado com o sindicalismo alemão, americano e etc. Então, se forçam mudanças sem
ainda ter o esteio necessário. É esse o grande problema. O Brasil faz reforma no teto, mas
ainda não construiu a coluna. Então, antes de evoluir, vai ter um retrocesso. Vai haver um
período em que o trabalhador vai sofrer. Mas o que foi feito não é inconstitucional. Sendo
assim, os juízes não têm escolha, a não ser aplicar, já que não é inconstitucional.
Dessa maneira, essa terceira vertente quer simplesmente revalorizar autonomia da vontade e
isso mexe com o primeiro princípio do direito trabalho: o princípio da proteção. Resumindo: o
velho direito trabalho protege o trabalhador dele mesmo. É aquele princípio da proteção
absoluta. Não deixava o trabalhador fazer escolha nenhuma. O Poder Judiciário intervia ao
máximo. O novo direito trabalho quer proteger autonomia do empregado fazer suas escolhas,
quer dar condições para que ele possa escolher. É no sentido libertador, desde que o mínimo
esteja garantido, e o legislador já disse que esse mínimo existencial trabalhista seria o artigo
611-B, CLT. A partir dali se pode pensar em produzir escolhas validamente para o trabalhador.
2.2 Reforma Trabalhista e Contratações Públicas – Impactos da reforma
trabalhista sobre as contratações públicas
Carolina Tupinambá
A palestrante Carolina Tupinambá aborda as mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista nas
contratações trabalhistas. Num primeiro momento, trataremos do cenário em que se dão as
contratações públicas e, após, cuidaremos das possibilidades de terceirização e de desafios
que têm sido vistos no plano prático em contratações realizadas pela Administração Pública.
A legislação passa a ser totalmente negociada: não se media somente conflitos concretos,
mas também conflitos em abstrato, a partir da criação das normas pelos próprios
destinatários. O art. 611-A nos dá “dicas” do que pode ser negociado, mas não se trata de um
rol taxativo. Já o art. 611-B apresenta um rol taxativo ao dispor sobre o que não pode ser
negociado.
Agora, a terceirização ganha uma normatização própria na Lei nº 6.019/74 (com redação
dada pela Lei nº 13.429, de 2017). Essa regulamentação não diferencia a terceirização
realizada dentro e fora da Administração Pública. A palestrante cita a questão da possibilidade
de terceirização inclusive da atividade principal. Sobre o pagamento de salários diferentes a
terceirizados ou não, dentro da Administração Pública, ainda não se extinguiu esse problema.
O tema de Repercussão Geral 383 dizia que um trabalhador terceirizado não se tornaria
servidor por “trabalhar muito tempo na Administração Pública”, mas que seria tratado como
se fosse (princípio da isonomia). O terceirizado deve ter o mesmo tratamento que o sujeito
aprovado em concurso público? Isso ainda será decidido pelo STF.
Fernando Barbalho
Diversas atividades que a Administração Pública estadual terceiriza demandam muita mão de
obra: obras públicas, segurança, transporte e manutenção elétrica da própria PGE etc. Essas
contratações são feitas, via de regra, por meio de licitações e quase sempre por menor
preço. A rigor, propor um preço acessível para a Administração é um mérito do contratado, no
entanto, essa não é a visão dos órgãos de controle, principalmente do TCU.
Hoje, o Estado passou a se preocupar com uma questão: se o custo informado para a
contratação efetivamente é real. A Reforma abriu a possibilidade de reduzir o custo do
contratado pela Administração e esta deve analisar essa redução.
O art. 4º, II, da CLT foi revisado para retirar do cômputo da jornada de trabalho aspectos que
antes eram tidos como serviço efetivo, como por exemplo, a prática de atividades religiosas.
Nesses casos, o custo da mão de obra pode ou não integrar a planilha do contratante e a
Administração deve verificar se o contratado está inflando as horas em que o empregado está
à disposição ou reduzindo-as. Aqui, impõe-se uma fiscalização mais rigorosa por parte da
Administração Pública.
Sobre a responsabilidade do sócio retirante: o art. 10-A foi inserido para limitar a
responsabilidade desse sócio. E mais: a ressalva que se faz em relação a essa restrição em caso
de fraude contratual demanda também atuação do advogado público e isso pode se tornar
objeto de investigação pela Administração Pública, que pode cogitar necessidade de
comunicação de alteração societária da empresa, por exemplo.
Com o art. 11-A surge a possibilidade de trancamento de uma série de execuções. A prescrição
intercorrente significa uma redução não só do passivo financeiro mas também do acervo
judicial que as entidades públicas precisam ter.
O regime de tempo parcial instituído no art. 58-A tem impacto na remuneração por hora extra
e isso tem muito reflexo em obras públicas. Esse regime reduz o custo com hora extra, mas
cabe à Administração Pública apurar se este regime pode legalmente ser instituído, inclusive
na licitação, por exemplo.
O art. 611-B, embora fale de matérias que não podem ser objeto de norma coletiva, em seu
parágrafo único dispõe que normas relativas a intervalo/duração de trabalho não se inserem
nos conceitos de higiene, saúde e segurança do trabalho, o que contraria a realidade dos fatos.
Por isso, provavelmente esse dispositivo será declarado inconstitucional. Uma boa estratégia
por parte da Administração Pública seria a transferência desse risco jurisprudencial para o
contratado, em cláusula contratual.
Ressalta o procurador que o termo de quitação anual é uma forma de reduzir o passivo e o
risco que a Administração assume periodicamente.
O art. 614 da CLT acabou com a possibilidade de ultratividade das normas trabalhistas. É a
ideia de tentar tirar da acomodação as entidades sindicais e de fazer o mercado evoluir. Sobre
a prevalência de acordo sobre convenção coletiva, sempre pareceu evidente que a relação
entre essas normas era de especialidade (o acordo seria especial em relação à convenção).
Mas o princípio da norma mais favorável gerava dúvidas sobre qual norma seria aplicada. Isso,
nos moldes do o art. 620 da CLT, não existe mais.
Victor Farjalla (debatedor)
- O ativismo judicial na Justiça do Trabalho era muito grande. Os acordos feitos fora da JT não
tinham eficácia, não havia uma extinção formal do crédito. A Reforma introduziu acordo de
rescisão do contrato de trabalho e acordo extrajudicial com homologação judicial.
- O debatedor entende ser inconstitucional o intervalo de 18 meses previsto no art. 4º-A da Lei
6.019/74, porque o dispositivo restringe a liberdade profissional.
- Demissão imotivada: a limitação aos Correios foi meramente subjetiva, até porque a
Administração Pública como um todo está submetida aos princípios do art. 37 da CRFB/88.
Essa demissão é razoável e saudável em empresas públicas e sociedades de economia mista,
mas não para todo o regime público.
- O debatedor demonstra dúvida quanto à ideia de transferência dos riscos, para o contratado,
em caso de mudança jurisprudencial porque, de alguma forma, o Estado pode tirar proveiro
desse risco.
- Pode ser o Estado responsabilizado subsidiariamente pelo não cumprimento, pela prestadora
de serviço, de obrigação que considere indevida e não admita ingresso no custo, sendo este
custo devido, de acordo com a Justiça Trabalhista?
Sobre a questão do art. art. 4º-A da Lei 6.019/74, a professora Carolina Tupinambá entende
que este dispositivo é “inconveniente”.
Ainda, quanto ao art. 71, §1º, este não parece ter sido derrogado. Mas o novo dispositivo da
Lei nº 6.019/74 aponta perigosamente para a objetivação dessa responsabilidade. Já em
relação à recusa em pagar determinada rubrica, indaga: se Administração não paga e o
empregador arca com o custo, há direito de regresso contra a Administração Pública?
A partir de 2010, o próprio TST modificou a redação de sua súmula para inserir o
entendimento do STF. Antes, a Jurisprudência fundamentava a responsabilização subsidiária
da mesma maneira que fazia para a iniciativa privada. A fundamentação passou a ser a não
fiscalização e a culpa. E houve muitos acórdãos do TST que afirmavam ser da Administração
Pública o ônus da prova de comprovar a fiscalização. Hoje, ainda há discussão sobre o ônus da
prova. O fato de o Estado juntar aos autos documentos relativos à licitação somente tem o
condão de o eximir da culpa in eligendo.
Antes mesmo do julgamento da ADC 16, o próprio STF já havia reconhecido a Repercussão
Geral desse tema no REXT 760937 (tema 231). Neste REXT, a tese fixada em repercussão geral
foi a de não transferência automática de responsabilização para a Administração Pública. A
questão que persiste é: de quem é o ônus da prova da fiscalização?
Sobre o ônus da prova, o TRT 3 de Minas Gerais fixou a tese de que é do ente público a
responsabilidade do ente público. Foi o único TRT a fixar tese vinculante sobre o assunto. No
Rio de Janeiro, temos as súmulas 41 e 43 do TST.
Atualmente, no TST, ainda não está pacificada a questão. Há turmas que defendem ser da
Administração Pública e outras que defendem ser do empregado o ônus da prova relativo à
fiscalização. As turmas do TST que entendem ser o ônus do trabalhador argumentam que além
de não haver fiscalização, deve haver prova cabal de nexo de causalidade entre o dano sofrido
pelo trabalhador e a falta de fiscalização. Citam-se as súmulas 279 do STF e 126 do TST, no
sentido de que as instâncias ordinárias é que devem definir de quem é o ônus da prova.
De 2010 a 2016, o STF conhecia diversas Reclamações constitucionais e entendia que o ônus
da prova era do trabalhador, embora não tenha decidido, na ADC 16, sobre a questão. Por
isso, a 6ª Turma do TST, por exemplo, tem entendido nesse sentido. A palestrante destaca
decisões recentes do TRT do Rio de Janeiro, e em grande parte delas, decide-se pela
improcedência da responsabilização subsidiária da Administração Pública.
E, afinal, como fiscalizar de maneira adequada esses contratos? Inicialmente, deve ser exigida
a lista – sempre atualizada - de trabalhadores terceirizados (se o nome do trabalhador que
está em juízo não constar na lista, será dele o ônus de comprovar a prestação do serviço),
comprovantes de pagamento de salário, de recolhimento de INSS, FGTS e de pagamento de
férias e 13º.
Sendo assim, o nosso serviço de saúde pública é prestado pelo sistema único de saúde (SUS).
De acordo com o §1º do art 195 da CF, a saúde será custeada “com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras
fontes”. O SUS, portanto, é concebido como um sistema, ou seja, um conjunto cujas partes
encontram-se ordenadas entre si, funcionando como uma estrutura organizada, submetida a
princípios e diretrizes fixados legalmente. sendo um sistema, as partes que o compõem
integram uma rede regionalizada e hierarquizada, sob o comando da União, a quem cabe
decidir as regras gerais. Ou seja, como sistema que é, é natural que haja a “divisão de tarefas”.
Por isso, a divisão de competências é natural.
Mas onde está estabelecida essa tripartição de competências? Está no texto constitucional?
Além disso, quem foi que definiu o que é alta, média e baixa complexidade? A partir disso: há
ou não responsabilidade solidária entre os entes federativos?
Toda a celeuma parecia ter se resolvido com o julgamento, pelo STF, em repercussão geral da
tese nº 793:
Os entes da federação, em decorrência da competência
comum, são solidariamente responsáveis nas demandas
prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete
à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as
regras de repartição de competências e determinar o
ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
Neste, é possível perceber o entendimento de que a norma de hierarquia inferior (os atos
normativos como portarias) não pode alterar norma de hierarquia superior. Sendo assim, um
direito previsto em norma constitucional não pode ser restringido por decreto, por exemplo.
Porém, a questão continua a ser pensada e tem raciocínio muito interessante trazido no voto
do Min. Barroso, no RE 566.471, que trata de medicamentos de alto custo.
“Para tanto, proponho 5 (cinco) requisitos cumulativos que devem ser observados pelo Poder
Judiciário para o deferimento de determinada prestação de saúde. São eles: (i) a incapacidade
financeira de arcar com o custo correspondente; (ii) a demonstração de que a não
incorporação do medicamento não resultou de decisão expressa dos órgãos competentes; (iii)
a inexistência de substituto terapêutico incorporado pelo SUS; (iv) a 3 comprovação de eficácia
do medicamento pleiteado à luz da medicina baseada em evidências; e (v) a propositura da
demanda necessariamente em face da União, já que a responsabilidade pela decisão final
sobre a incorporação ou não de medicamentos no âmbito do SUS é, em regra, desse ente
federativo”.
Atente-se, então, que o seguinte raciocínio diferenciador pode ser adotado: A tese de
repercussão geral nº 793 serve para os medicamentos incorporados pelo SUS - COMPETÊNCIA
DEFINIDA -, enquanto que, para os casos de medicamentos não incorporados pelo SUS, adota-
se nova postura - SOLIDARIEDADE DOS ENTES.
Note-se que isso é de interesse enorme dos municípios, pois, quando acionado para custear
medicamentos não incorporados na lista do SUS, poderá chamar os demais entes federados,
alegando a solidariedade existente entre todos eles.
Essa solidariedade vem do art. 23,II, CF (competência comum de todos os entes). Isso traz
maior garantia ao paciente em sua pretensão à saúde. O que é curioso é que existem diversos
outros dispositivos na CF que parecem não trazer uma responsabilidade solidária dos entes.
Ex: art 30, VII, CF. A própria ideia de regionalizar e hierarquizar o sistema já demonstra isso. A
complexidade do tratamento foi hierarquizada já tendo isso em mente. O financiamento dos
entes, assim, é distinto. Não existe um rateio per capita dentro do SUS (isso aconteceria se
todos os municípios ganhassem o mesmo valor, por exemplo). Por isso que se tem
responsabilidades distintas para cada ente, para a execução da saúde. A LC 141/12 trouxe
esses critérios de rateio de acordo com as responsabilidades assumidas pelos entes
federativos. Conclui-se, portanto, que a ideia do art 23, II, CF é que a universalidade dos entes
é para compor o SUS.
O STF reafirmou o entendimento de que a regra que confere prazo em dobro à Fazenda
Pública para recorrer não se aplica aos processos objetivos, que se referem ao controle
abstrato de leis e atos normativos.
A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer. Essa é a previsão que encontramos no
art. 183 do CPC/2015:
O outro recurso foi apresentado pela Assembleia Legislativa do Estado de Roraima contra
decisão do ministro Luís Roberto Barroso que, ao reconhecer a intempestividade, não
conheceu de agravo regimental em liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5814.
Relator do recurso na ADI 5814, o ministro Luís Roberto Barroso seguiu o entendimento da
ministra Cármen Lúcia ao considerar que a hipótese contida nos dois processos é semelhante.
Ele votou pelo desprovimento dos dois agravos e manteve a jurisprudência de que, em
processo objetivo, não se contam em dobro os prazos da Fazenda Pública. No mesmo
sentido votaram os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux,
Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello.
Segundo Barroso, a jurisprudência do STF sobre a matéria é consolidada há muitos anos e tem
precedentes de quase todos os ministros da Corte e, a menos que haja mudança relevante na
compreensão do direito ou na situação de fato, não há razão para alterá-la.
O STF entende que a previsão do prazo em dobro tem incidência unicamente nos processos
subjetivos não se aplicando nos processos de controle concentrado de constitucionalidade.
DIREITO AMBIENTAL
4.1 Integração e fragmentação no cadastro ambiental rural (CAR)
Um grande passo foi a criação do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), pela Lei nº
6.938/81, que integra órgãos e entidades ambientais de estados municípios e da União. O
SINIMA (Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente), vide art. 9, VII, é um dos
instrumentos de gestão ambiental de maior relevância.
Defende o autor que essa fragmentação nas previsões constitucionais sobre meio ambiente
atrapalham a integração da proteção ambiental, e isso se relaciona a uma lógica de
patrimonialização do meio ambiente. E foi nesse contexto que se deu a criação CAR (Cadastro
Ambiental Rural, pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/12).
Este cadastro é integrado ao SINIMA, que é de responsabilidade da União (art. 7, VIII, Lei
Complementar n 140/11). No entanto, a atividade da União em relação ao SINIMA pode contar
com a colaboração de órgãos e entidades de Municípios, do Distrito Federal e dos Estados.
Ainda, os dados relativos ao CAR são gerenciados por meio de um sistema chamado SICAR
(Sistema de Cadastro Ambiental Rural).
O Código Florestal de 2012 prestigiou a interação dos entes para a operacionalização do CAR e
a LC 140/11 promoveu uma integração organizada dos entes, conforme mostram os arts. 8º,
VII e VII e 9º, VII e VIII. No entanto, a questão da fragmentariedade ainda persiste.
O CAR consiste em um cadastro da situação florestal no país. Trata, por exemplo da Reserva
Legal. A regularização de imóveis rurais que não cumpriram, em 22 de julho de 2008, o
percentual mínimo de reserva legal pode se dar pela utilização de áreas que estejam fora do
Estado, contanto que estejam localizadas em áreas prioritárias, assim identificadas pela União
ou pelos Estados, vide art. 66, III, §6º, CFlo/12.
A inscrição no CAR pode ser feita pelos Estados ou pelos Municípios, de acordo com o art. 29,
§1º, CFlo/12, mas isso não exclui a União. A grande questão é saber qual ente define o imóvel
como um imóvel rural.
Outra questão de suma importância levantada pelo autor é a ausência de integração entre o
CAR e os Registros Públicos. O CAR não é considerado título para fins de reconhecimento do
direito de propriedade e de posse. No entanto, para a inscrição no CAR, é necessária a
apresentação de identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo e
comprovação da propriedade (arts. 29, II e III CFlo/12).
Outro dado interessante é que a partir da vigência do Código Florestal de 2012, passou a ser
desnecessária a averbação de reserva legal no RGI do imóvel. Atualmente, por força do
disposto no art. 18, caput e §4º, do CFlo/12, essa averbação foi substituída pelo registro no
CAR, como medida de centralização de informações ambientais de imóveis rurais no CAR.
Desse modo, restam para o proprietário de imóvel rural, em relação a reservas legais, 3
opções. Pode-se fazer o registro no CAR, diretamente; pode-se efetuar gratuitamente a
averbação no RGI, o que desonerará o proprietário de apresentação de determinadas
informações ao realizar o CAR; ou fazer o registro no CAR e também a averbação no RGI, que
neste caso não será gratuita, a fim de simplesmente dar publicidade ainda maior à situação
Neste ponto, sustenta o autor que a tentativa de integração das informações no CAR não fere
o princípio da concentração registral (referente à convergência de todas as informações
relevantes sobre o imóvel em um único lugar, que seria a matrícula nesse caso), uma vez que
as informações do CAR também são dotadas e publicidade e fé pública. E, ainda, o CAR se
mostra mais completo do que a averbação no RGI, por ser eletrônico, desburocratizando os
trâmites, e por nele constarem informações além daquelas que constam nas averbações.
O CAR, apesar de ser disciplinado por norma editada pela União (Código Florestal de 2012),
sendo integrado ao SINIMA, que opera em âmbito nacional, não pode ignorar peculiaridades
regionais e locais, especialmente aquelas relacionadas à legislação ambiental estadual e
municipal, de acordo com o autor.
Frisa-se que a CERJ dispõe também sobre a averbação da reserva legal no registro de imóveis
nos arts. 269, I, 272 e no ADCT, art. 27, II: em síntese, a reserva legal deve ser averbada no
registro imobiliário. Isso conflita com o disposto no Código Florestal, o que gera a dúvida:
ainda vige esta obrigação no Estado do Rio de Janeiro?
Argumenta o autor que a Constituição Estadual parece ter tido o intuito de dispor acerca da
proteção ambiental, não sendo a matéria registral o foco da questão. O art. 18 do Código
Florestal de 2012 deve ser entendido como norma geral sobre reserva legal e entender o
contrário significaria fragmentar as informações, em prejuízo da integração dos órgãos do
SINIMA e do acesso facilitado aos dados ambientais em âmbito nacional.
Portanto, entende-se que o art. 18 do Código Florestal de 2012 suspendeu a eficácia do art.
272, parágrafo único, da CERJ e do art. 27, II, de seu ADCT de modo parcial: apenas no que se
refere à interpretação que inclui a reserva legal nas restrições sujeitas à averbação no RGI.
4.2 Repartição de Competência Executiva em Matéria Ambiental
a) qual seria o procedimento a ser adotado pelo INEA em caso de denúncias referentes a
infrações relacionadas a atividades cuja competência de licenciamento é de outro ente? Neste
ponto, também é levantada a questão da fiscalização de empreendimentos não sujeitos a
licenciamento que tenham sido repassados por outro ente.
É importante dizer que, em consulta prévia realizada pela própria Procuradoria do INEA
(parecer conjunto ASCH/LBS nº 02/13), entendeu-se que o ente federativo que tem
conhecimento de ocorrência ou iminência de degradação ambiental DEVE adotar medidas de
polícia em todos os casos e comunicar ao órgão competente para o licenciamento. Desse
modo, o mero encaminhamento da denúncia seria ILEGAL e INCONSTITUCIONAL e não
isentaria o corpo técnico do INEA de responsabilização. E, tratando-se de atividades que não se
submetem ao licenciamento, o exercício do poder de polícia ambiental compete a todos os
entes federativos.
(...)
Defende-se, no parecer conjunto do INEA, que estes dispositivos devem ser interpretados à luz
da Constituição, sendo certo que o auto de infração lavrado pelo ente primariamente
competente deve prevalecer somente nas hipóteses em que não houver decisão de mérito em
procedimento administrativo instaurado por outro ente, de modo que se evitem gastos
públicos e atuações ineficientes. Depois de tais apontamentos, estudemos o teor do Parecer
nº 01/13/PG - 2 – RTAM.
O art. 23, incisos III, VI e VII da CFRB/88 dispõem que é comum à União, aos estados e
municípios a competência executiva em matéria ambiental, devendo esta competência ser
regulamentada via lei complementar. Defende o autor que algumas atividades, como a
fiscalizatória, são passíveis de sobreposição (exercício por mais de um ente). No entanto, em
outras atividades, como o licenciamento e a aplicação de sanções, a sobreposição poderia
causar problemas, e poderia, inclusive restar configurado bis in idem, no caso de sanções
aplicadas por entes diferentes, relacionadas à mesma hipótese de incidência.
Entende-se que a LC 140/2011 aponta um ente originalmente competente, mas que isso não
obsta a competência supletiva ou subsidiária dos outros entes. O art. 17 da lei complementar
prestigia a segurança jurídica, já que vincula a competência para multar à competência para o
licenciamento. E a princípio só um ente teria a atribuição para sancionar. Ressalta-se que
fiscalização não se confunde com sanção:
b) Sanção: punição por fato inquestionável, pressupõe defesa prévia e instrução processual.
Na visão do autor, há uma lacuna na LC 140/2011, já que a mesma vincula poder de punir a
competência para licenciar e é omissa em relação a atividades não sujeitas a licenciamento. E,
em relação à sobreposição de competências originárias – para licenciamento e punição -
parece claro que a vontade do legislador era a identificação de um dos entes como o
originalmente responsável. De acordo com o parecer, o melhor critério para definir essa
competência seria o territorial mitigado (a competência deve ser atribuída ao ente mais
próximo da atividade, mas com temperamentos). Dessa forma, no caso de atividades não
sujeitas a licenciamento, o município seria o ente competente para aplicar sanções desde que
cumpridos cumulativamente determinados requisitos como: infração cometida inteiramente
no território do município, existência de legislação municipal para a apuração de infrações
municipais, inexistência de danos em atividades ou empreendimentos licenciados ou
autorizados pelo Estado ou pela União, dentre outros.
Caso não observados os requisitos acima, será do Estado a competência se houver observância
cumulativa de outras exigências. Por exemplo, a infração deve ter sido cometida inteiramente
no território do Estado e não pode envolver dano em florestas públicas federais e atividades e
empreendimentos licenciados ou autorizados pela União. Caso não observados estes e outros
requisitos, a competência será do órgão federal.
Presume-se que, por conta do teor dos arts. 7º, XV, 8º, XVI e 9º, XV da LC 140/2011, este
diploma normativo, ao optar pelo ente que tem o dever de proteger a vegetação e as florestas,
escolheu o mesmo ente para a aplicação de sanções.
Para que se configure a omissão, é necessário averiguar se o ente competente tem inequívoca
ciência da existência de fato que, ao menos em tese, caracteriza infração ambiental e se houve
decurso de um prazo razoável contado a partir da ciência do fato (não há prazo fixado em lei,
mas entende o autor que 60 dias mais 1 seria razoável para caracterizar omissão
administrativa). Desse modo, se o ente precipuamente competente não age em 61 dias,
restará autorizada a atuação supletiva dos demais entes.
E se, após a abertura de processo administrativo pelo ente dotado de competência supletiva, o
ente originariamente competente quiser atuar? Deve prevalecer, segundo Rodrigo
Mascarenhas, o entendimento adotado no parecer do INEA, segundo o qual o auto de infração
lavrado pelo ente originariamente competente somente prevalecerá quando não existir
decisão administrativa de mérito nos autos de procedimento administrativo instaurado por
outro ente, para que se evite, principalmente, gasto público.
No entanto, faz-se uma observação: esta posição deve ter como pressuposto o fato de que o
exercício da atribuição supletiva requer inequívoca ciência do órgão originariamente
interessado, bem como o decurso do prazo de 61 dias (ou que haja manifestação no sentido
de o órgão precipuamente competente pedir a atuação de outro ente).
Ainda, conclui-se que, nos termos do parecer do INEA, o ente federativo que tiver ciência de
fato ou da iminência de fato que cause degradação ambiental deve adotar medidas de polícia,
comunicando o órgão inicialmente competente. Por isso, o medo encaminhamento de
denúncias e ilegal e inconstitucional, não isentando o corpo técnico do INEA de
responsabilização. No entanto, o parecer da PGE ressalta que quando não houver dano, pode
haver encaminhamento direto da denúncia ao ente competente e que as medidas de polícia a
que se refere este entendimento não incluem medidas sancionatórias.
Caso não sejam observados os requisitos acima, a competência será do INEA caso,
cumulativamente, o fato em tese seja punível pela Lei nº3.467/00 ou por outra lei estadual,
não podendo envolver florestas públicas federais e terras devolutas federais e desde que a
atividade não seja licenciada e autorizada pela União. A infração também não pode ter
ocorrido em mar territorial, plataforma continental na zona econômica exclusiva e nem em
terras indígenas. Outro requisito que merece destaque é a não relação da atividade que
resulta na infração com introdução, no país, de espécies exóticas capazes de ameaçar
ecossistemas, habitats e espécies nativas e com pesca interestadual.
Não cumpridos os requisitos citados (e outros, tendo em vista que só mencionamos os mais
relevantes), a competência será do órgão federal. O referido parecer foi aprovado pela Dra.
Lúcia Léa Guimarães Tavares, Procuradora-Geral do Estado à época.
4.3 Licenciamento ambiental estadual para transporte intermunicipal de
produtos perigosos
No parecer da PGE, entende-se que a LC 140/11 é constitucional, e a política legislativa por ela
proposta atende aos princípios da segurança jurídica, isonomia (pois todos os
empreendedores submetem-se à mesma disciplina) e da livre iniciativa (ao conhecer os
trâmites burocráticos previamente, o empreendedor tem a possibilidade de se organizar de
forma mais adequada).
A questão da segurança jurídica é de suma importância, tendo em vista que antes do advento
da lei complementar, a repartição das competências administrativas era feita por meio de atos
normativos esparsos cuja constitucionalidade era duvidosa, como por exemplo as diversas
resoluções do CONAMA. A necessidade de edição dessa lei residia no fato de que a
Constituição não definiu explicitamente critérios para a divisão de atividades administrativas,
e, por isso, a solução que vinha sendo utilizada era a combinação do critério da predominância
do interesse e do princípio da subsidiariedade, o que gerou um contexto de insegurança
jurídica.
Este entendimento, na visão da PGE, precisa ser superado. O fato é que a lei complementar
pretendeu, com o art. 13, evitar a existência de dezenas de licenças nos casos em que a
singularidade do objeto não justificasse o licenciamento plural. Ou seja, a lei não autorizou que
um empreendedor, no caso, por exemplo, de construção de um oleoduto que ligasse Niterói
ao município do Rio de Janeiro, fosse dispensado do licenciamento interestadual. De acordo
com o parecer, essa interpretação (de “dispensa legislativa”) afronta o princípio da prevenção.
Inclusive, este parece ser o entendimento do IBAMA, tendo em vista que a autarquia já se
manifestou no sentido de que a autorização para transporte interestadual de produtos
perigosos não exclui as licenças estaduais ligadas ao transporte intermunicipal. Por isso,
entende também a PGE ser cabível o licenciamento estadual para transporte intermunicipal
de transportes perigosos, mesmo que haja transporte interestadual dos mesmos produtos,
cabendo aos agentes estaduais o exercício do poder de polícia.
Entende a PGE que este dispositivo deve ser plenamente aplicável, de forma que o INEA
intervenha nos processos federais de licenciamento ambiental das atividades de transporte
interestadual de produtos perigosos.
O parecer aqui estudado foi aprovado com observações adicionais. A primeira observação diz
respeito ao art. 14, §3º da LC 140/11. Vejamos:
(...)
§ 3o O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da
licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática
de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência
supletiva referida no art. 15.
Entende-se, afinal, que nos casos de omissões referentes ao licenciamento ambiental, pode
ocorrer deslocamento de competência. Ressalta-se que há polêmica em relação ao assunto e
que não há previsão para casos de omissão da União, mas entende-se que este registro é
importante.
O último apontamento diz respeito à “possibilidade de exercício do poder de polícia pelo INEA,
ainda que determinado empreendedor desempenhe somente o transporte interestadual cuja
competência para licenciamento pertence ao IBAMA”. Aqui, relembra Rodrigo Mascarenhas,
Subprocurador Geral do Estado à época, o teor do Parecer nº 01/13/PG - 2 – RTAM, segundo o
qual o INEA pode e deve atuar nesses casos, mas a princípio, essa atuação deve se limitar à
fiscalização e à aplicação de medidas acauteladoras.