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Direito Administrativo I

Revisão - Prova I

FUNÇÕES DO ESTADO

a) Função legislativa: Exercida tipicamente pelo Poder Legislativo, trata-se da função


de criar leis. As normas jurídicas devem ser gerais, abstratas, obrigatórias, impessoais e
inovadoras. O Poder Legislativo poderá exercer atividades atípicas, como julgamento
de autoridades por crime de responsabilidade (função jurisdicional) e na realização de
concursos públicos para contratação de pessoal (função administrativa).

b) Função jurisdicional: Exercida tipicamente pelo Poder Judiciário, trata-se da função


de aplicação e execução das leis, visando a solução de conflito de interesses. O Poder
Judiciário poderá exercer atividades atípicas, como na criação de súmulas vinculantes
(função legislativa) e na realização de concursos públicos para contratação de pessoal
(função administrativa).

c) Função administrativa: Exercida tipicamente pelo Poder Executivo, trata-se da da


efetiva realização dos atos previstos em lei, para satisfação do interesse público.
Assim, essa função tem o objetivo de tornar concreto o comando abstrato da
legislação. O Poder Executivo poderá exercer atividades atípicas, como na criação de
decretos e regulamentos para fiel execução das leis (não há possibilidade de inovação,
por isso não seria propriamente função legislativa). Importante: a função
administrativa também é exercida pelos demais poderes, não sendo exclusiva do
Poder Executivo (Lei n 9.784/99).

Órgão/Funções Típica Atípica


Legislativo Legislar e fiscalizar Julgar e
administrar
Executivo Administrar Legislar

Judiciário Julgar Administrar e


legislar

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO ORGANIZAÇÃO E COMO ATIVIDADE

a) Administração Pública como organização - Sentido subjetivo (formal ou orgânico):


Diz respeito aos órgãos e pessoas que atuam na atividade administrativa. Por exemplo,
no caso da União, seriam os ministérios, seções, secretarias, autarquias, empresas
públicas, etc.

b) Administração Pública como atividade - Sentido objetivo (material ou funcional): Diz


respeito à atividade desempenhada pela Administração Pública, como o exercício do
poder de polícia (quando o Estado condiciona a liberdade dos indivíduos, exigindo
habilitação para dirigir, por exemplo) e a execução de serviços públicos (educação,
saúde, saneamento).

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO

É comum a distinção entre Administração Pública e Governo, de modo que a função


administrativa é infralegal, enquanto a função política ou de governo deriva da
Constituição Federal. Para o Federico, tanto os atos de função administrativa quando
os atos de função política seriam suscetíveis de apreciação judicial, entretanto, há
divergência doutrinária, já que alguns defendem que é vedada a apreciação judicial
dos atos exclusivamente políticos, desde que não afetem direitos subjetivos.

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO

Os poderes da Administração Pública são poderes-deveres, isso porque não são


facultativos, pois são atrelados a satisfação do interesse público, que deve sempre
prevalecer.

a) Poder discricionário: Quando a lei for omissa ou quanto a conduta da administração,


esta poderá decidir qual a melhor conduta para cada situação, a partir de um juízo de
oportunidade e conveniência, buscando sempre a melhor forma de satisfazer o
interesse público. Importante: a discricionariedade não se relaciona com
arbitrariedade.

b) Poder hierárquico: Esse poder é utilizado no âmbito interno da Administração, tem


o objetivo de controle interno. Assim, os superiores hierárquicos controlam os
inferiores hierárquicos, de modo a fiscalizar e gerir sua atividade, não havendo relação
de submissão, mas sim de controle. Nesse sentido, há a delegação e a avocação de
competências, utilizadas para distribuição de tarefas internas. Na delegação, o
superior hierárquico, que possui determinada competência, a delega para um ente
inferior ou para outro de mesma hierarquia para que este a execute. Na avocação, o
inferior hierárquico possui determinada competência e seu superior, por meio de ato
administrativo, traz para si tal competência.

c) Poder disciplinar: Esse poder decorre do poder hierárquico, pois refere-se a


prerrogativa da Administração de aplicar sanções àqueles que são vinculados a ela.

d) Poder normativo: Prerrogativa conferida para que a Administração possa editar atos
gerais para complementar as leis e permitir sua efetiva aplicação. Entretanto, esses
atos não podem ser contra a lei “contra legem”, nem além da lei “preterlegem”. Os
atos serão gerais, abstratos e obrigatórios no âmbito interno da Administração, mas
não podem inovar em relação à lei. Importante: o artigo 86, IV da Constituição
possibilita a inovação em algumas hipóteses, o que é conhecido como
regulamento/decreto autônomo.

d) Poder de polícia: É a prerrogativa da Administração de condicionar e limitar o


exercício da liberdade e propriedade dos particulares, com o objetivo de compatibilizá-
las com o bem estar social, podendo aplicar sanções. Exemplo: licença para aquisição
de armas. Importante: O poder de polícia se difere do poder disciplinar pois o poder
de polícia é aplicado em âmbito geral, ou seja, é aplicável a todos, enquando o poder
disciplinar é aplicado apenas àqueles que têm um vínculo especial com o Estado, como
servidores públicos e presidiários. O poder de polícia é definido pelo artigo 78 do CTN.

EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

a) Administração patrimonialista: Na Europa, havia a noção de um Estado totalitário e


absolutista, em que o rei era concebido por deus (concepção de direito divino) e era
responsável pela administração do reino. Os traços marcantes desse período são:
tradição patrimonialista; não havia distinção entre público e privado; corrupção;
nepotismo.

b) Administração burocrática: Nesse momento, imperava o Estado Liberal (passando


também pelo Estado Social), que buscava um Estado pouco intervencionista. A
burocracia surge, principalmente, para tentar estabelecer a separação entre público e
privado e para afastar o patrimonialismo (corrupção, nepotismo), através da
hierarquia e da disciplina.

c) Administração gerencial: A administração gerencial preza pela eficiência e se


preocupa com resultados, comprometendo-se com o cumprimento de metas e
buscando o particular como parceiro, buscando a horizontalização da administração ao
invés da hierarquização.

REFORMAS ADMINISTRATIVAS NO BRASIL

a) Decreto n° 579/38: Instituído por Getúlio Vargas, é a primeira tentativa de criação


de uma administração pública burocrática, trazendo o primeiro Estatuto dos
Servidores Públicos Federais, além da idéia de concursos públicos, licitações, entre
outras.

b) Decreto lei n° 200/67: Pretende trazer uma segunda reforma administrativa, com
algum viés gerencialista, mas ainda instaurando o modelo burocrático.

c) Constituição Federal de 88: Não alterou significativamente o modelo burocrático já


existente.

d) Emenda Constitucional n° 19: Introduziu o artigo 37, caput, trazendo o princípio da


eficiência, que foi um grande avanço. Dá maior autonomia as agências reguladoras,
perspectiva de parceria por meio de contratos de gestão e surge a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Tentativa de implemento do modelo gerencial, já que dá mais
autonomia aos órgãos da administração e busca parcerias como forma de
cumprimento de metas.

DIREITO ADMINISTRATIVO (Conceito, fontes, evolução histórica)

- Conceito: O direito administrativo é um ramo do direito público que tem como objeto
de estudo a Administração Pública. Sendo assim, existem três teorias relevantes acerca
de distinção entre público e privado.

a) Teoria do interesse: O direito privado trata do interesse dos particulares, enquanto


o direito público trata dos interesses do Estado, da coletividade. A falha dessa teoria
está na dificuldade de se estabelecer, dentro do direito, a divisão entre interesses
particulares e interesses do Estado.

b) Teoria do sujeito: O direito privado trata das relações entre particulares e o direito
público trata das relações entre particulares e o Estado. Essa teoria é falha porque
muitas vezes o ente público tem com particulares relações jurídicas regidas pelo
direito privado, como os contratos de trabalho.

c) Teoria da subordinação: A relação entre particulares é de coordenação e a relação


entre o particular e o Estado é de subordinação. Essa teoria é falha porque o Estado
tem relações de coordenação com particulares, como nas parcerias, e nas relações
particulares há subordinação, como nas relações familiares.

d) Teoria da atribuição (ou da imputação ou teoria modificada do sujeito): O direito


privado é comum a qualquer sujeito de direito, indistintamente, ao passo que o direito
público imputa direitos e obrigações a sujeitos determinados, como o Estado e pessoas
jurídicas de direito público. A vantagem dessa teoria é que nada impede que o Estado
atue como sujeito também no direito privado, observando sempre o interesse público.

- Fontes:

a) Constituição: O Direito Administrativo é a concretização das normas presentes na


Constituição.

b) Lei: Toda atuação da administração deve ser vinculada a lei, transformando as


normas abstratas em medidas concretas.

c) Jurisprudência: É o conjunto sistematizado de decisões de tribunais sobre


determinada matéria, com reconhecida normatividade, tem se tornado fonte formal
do Direito Administrativo.

d) Doutrina: Traz orientações relevantes sobre várias matérias, mas não é vinculante.

d) Costumes: O Direito Administrativo é vinculado ao princípio da legalidade, de forma


que a Administração só fará o que estiver previsto em lei. Sendo assim, os costumes
poderão ser utilizados para favorecer o cidadão, na ausência de norma específica,
desde que não seja contra legem.

- Evolução histórica: Para os alemães, o Direito Administrativo existe desde a idade


média; para os franceses surgiu com a revolução. Os franceses têm alguma razão, pois
o direito administrativo surgiu apenas com o Estado de Direito.

DIREITO ADMINISTRATIVO NO BRASIL

No Brasil, o Direito Administrativo surgiu no século 19, por influência francesa.


Atualmente, sofre grandes influências dos Estados Unidos, com o surgimento das
agências reguladoras, e também da Alemanha, mas sem abandonar a matriz francesa.
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

a) Poder público: Havia uma noção de subordinação dos particulares em relação ao


Estado, porém essa visão só era presente no paradigma do Estado Liberal.

b) Serviço público: O Direito Administrativo era compreendido com o direito do serviço


público, de modo que compreendia toda e qualquer atividade que o Estado
desempenhava. Entretanto, havia tantas atividades dentro da noção de serviço público
que o conceito ficou muito amplo, incapaz de separar o público do privado.

c) Utilidade pública: Por se assemelhar a noção de serviço público, a noção de utilidade


pública fracassou justamente por também não conseguir seprar o direito
administrativo dos outros campos do direito.

d) Supremacia do interesse público e indisponibilidade do interesse público: A


Administração deverá agir sempre em prol da satisfação do interesse público, de forma
que todas as suas prerrogativas se justificam por este fim. Assim, as prerrogativas da
Administração não constituem privilégios, e sim formas de atingir a consecução do
interesse coletivo. A Administração não é titular desse interesse, e sim da sociedade,
de forma que a Administração tutela e buscar concretizá-lo. A indisponibilidade do
interesse público quer dizer que a Administração não pode dispor desse interesse, o
que está refletido, por exemplo, na obrigação de licitar. Ambos são princípios-chave do
Direito Administrativo.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Os princípios têm caráter normativo e estão expressamente previstos no artigo 37 da


Constituição (LIMPE – Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e
Eficiência), além dos princípios implícitos (art. 2° da lei 9.784/99), que são
reconhecidos pela doutrina, jurisprudência e pelo legislador ordinário.

a) Princípio da supremacia do interesse público: A Administração está sempre


vinculada à consecução do interesse público e este deve ser sempre seu objetivo, já
que é o que legitima o poder do Estado.

b) Princípio da legalidade: Para o particular, a legalidade representa uma proteção à


liberdade, na medida em que o Estado só pode restringir essa liberdade por meio de
lei, já que tudo que não é proibido é permitido. Já para Administração, a legalidade
sginifica o contrário, já que esta só poderá fazer aquilo que estiver previsto em lei e
nada além.

c) Princípio da finalidade: Decorre da legalidade, estabelecendo que a Administração


só existe para atender ao interesse público e todos os seus atos devem ter essa
finalidade.

d) Princípio da publicidade: Todos os atos da administração devem ser públicos e de


livre acesso, de forma que a informação deve ser acessível a todos. O sigilo só será
permitido nos casos expressos no artigo 5°, X e XXXIII da CF.

e) Princípio da Impessoalidade: A Administração deve tratar a todos de forma isômica,


sem conferir privilégios ou discriminações.
f) Princípio da moralidade: A Administração deve agir em conformidade com princípios
éticos, agindo sempre com boa-fé e bons costumes.

g) Princípio da eficiência: Deve-se desenvolver a atividade administrativa da melhor


maneira possível, de forma oportuna e adequada aos fins a serem alcançados.

h) Princípio da razoabilidade/proporcionalidade: A Administração deve obedecer a


critérios aceitáveis do ponto de vista racional, buscando sempre a razoabilidade e a
proporcionalidade entre seus atos e a finalidade destes.

i) Princípio da motivação: Todos os atos da Administração devem ser motivados e


fundamentados de acordo com os motivos de direito e de fato.

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