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DIREITO ADMINISTRATIVO

Prof. Igor Moura Rodrigues Teixeira


NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
INTRODUÇÃO
Direito – é o conjunto de normas impostas coativamente pelo Estado, que
disciplinam a vida em sociedade, permitindo a coexistência pacífica dos seres.

Para fins didáticos, divide-se em:


 Direito Interno e
 Direito Internacional.

Para fins didáticos, divide-se em dois ramos:


 Ramo do direito público e
 Ramo do direito privado.

O Direito Administrativo é ramo do Direito Interno, já que tem por objeto


todas as relações internas à administração pública, entre administração e
administrados, bem como as atividades da administração em sentido
material exercidas por particulares.

É ramo de Direito Público, uma vez que rege a organização e o exercício de


atividades do Estado voltadas para a satisfação do interesse público.
CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O direito administrativo parte da noção de Estado (nação politicamente organizada, formada
pelo povo, território e governo soberano).

A administração é uma das funções do Estado.

O Estado é uma pessoa jurídica de direito público

 A dupla personalidade não existe mais

 O Estado de direito é um Estado que cria o direito e ao mesmo tempo se submete ao direito
que ele criou. A lei obriga a todos, inclusive o Estado.

Tripartição das funções Estatais – distribuição de funções estruturais:

- legislativa (legislar, normas gerais e abstratas, inovação no ordenamento jurídico);

- judicial; e

- administrativa (concretizar a atividade legislativa, de atuar no caso concreto buscando o


interesse da sociedade).
TEORIAS PARA CONCEITUAR DIREITO ADMINISTRATIVO - Direito Administrativo (DA)
em razão do objeto/ âmbito de atuação da disciplina:

I) Escola legalista (também conhecida como escola exegética/ empírica/ caótica);

II) A ideia que prosperou é aquela no sentido de que o direito administrativo estuda além das leis, princípios.

Teorias Importantes:

A) Escola do serviço público → Para esta escola, o DA estuda o serviço público. Na época desta escola, toda atividade do
estado era chamada de serviço público;

B) Escola Critério do Poder Executivo → (Já caiu em concurso) Para esta escola, o DA estudava somente o poder executivo.

C) Critério das relações jurídicas → Essa escola dizia que o DA estudava todas as relações jurídicas do Estado.
TELOS = FINS
D) Critério Teleológico (também cai em concurso) → Para essa escola, o DA é um conjunto harmônico de princípios que
regem as atividades do Estado na consecução dos seus fins.

E) Critério Residual ou critério negativo → Segundo esta escola, o conceito de DA é residual, após a exclusão das funções
legislativa e judicial do Estado.

F) Critério de distinção da atividade jurídica do Estado e da atividade social do Estado → Para esta escola o direito
administrativo não se preocupa com a atividade social do Estado, como, p.ex., estudo de políticas públicas.

E POR ÚLTIMO...
G) Critério da Administração Pública → É o critério mais aceito no Brasil.

Esse critério foi inserido no Brasil por Hely Lopes Meirelles e é o mais adotado
no Brasil. Para este autor:

“Direito Administrativo é um conjunto harmônico de princípios e regras, que


forma o regime jurídico administrativo e que rege os agentes, os órgãos e as
entidades no exercício da atividade administrativa, tendente a realizar, de
forma direta, concreta, e imediata os fins desejados pelo Estado”.

Assim, realizar os fins de forma:

Direta = “atividade independente de provocação”. Com isso, afasta-se do


conceito a atividade indireta do estado, ou seja, aquela que depende de
provocação: a função jurisdicional do Estado.
Concreta = a atividade terá destinatários determinados, com efeitos concretos.
Exclui-se, assim, a função abstrata do Estado: a função legislativa.
Imediata, o que é diferente de forma mediata, que é a atividade social. A
função imediata diz respeito à atividade jurídica do Estado.

Atenção! Quem define os fins do Estado é o direito constitucional. O direito


administrativo apenas realiza esses fins.
FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Fonte do direito administrativo é aquilo que leva a uma norma de direito administrativo. São elas:

* Lei em sentido amplo → Fala-se em lei enquanto toda e qualquer espécie normativa (CF, leis
ordinárias, LC, MP, etc). O ordenamento jurídico brasileiro está organizado numa estrutura
escalonada/hierarquizada de normas (normas inferiores e superiores).

* Doutrina → A doutrina é o resultado do trabalho dos estudiosos. O direito administrativo conta com
uma legislação fragmentada, sem um código, com muitos decretos, por exemplo.

* Jurisprudência → Jurisprudência são julgamentos reiterados de um tribunal, no mesmo sentido.


COSTUME ADMINISTRATIVO
* Costumes → Também são fontes do direito administrativo. O costume é uma prática habitual, que
se acredita ser obrigatória.

*Princípios Gerais do Direito → São normas que estão no alicerce ou base da ciência jurídica. Esses
princípios podem estar expressos ou implícitos no nosso ordenamento.
Ex. “Ninguém pode causar dano a outrem”;
Ex. “No Brasil é vedado o enriquecimento sem causa”;

Para que a interpretação do direito administrativo seja devida, devem-se observar três pressupostos
básicos:
- desigualdade entre o Estado e o particular;
- presunção de legitimidade; e
- necessidade da discricionariedade,
SISTEMAS ADMINISTRATIVOS (OU MECANISMOS DE CONTROLE)

Praticado um ato administrativo, quem pode controlar ou rever esse ato? Existem dois
mecanismos de controle.

- Sistema Contencioso administrativo (sistema francês ou de dualidade de jurisdição): Esse


sistema foi criado na França e, por ele, os atos praticados pela administração serão controlados
e revistos pela própria administração. Nos países que adotam esse sistema, o poder judiciário irá
julgar excepcionalmente.

- Sistema de Jurisdição Única (sistema inglês ou unicidade de jurisdição): Nesse sistema, quem
decide é o poder judiciário.

Ex. Após um processo administrativo tributário, a parte insatisfeita pode levar o caso ao
judiciário.

Atenção!! Aqui, a administração também decide. A questão é que a sua decisão pode ser revista
pelo poder judiciário.

O Brasil sempre teve o sistema de jurisdição única. Somente em 1977, a emenda constitucional
nº 07 inseriu o contencioso administrativo no Brasil. Mas essa regra foi inoperante (“nunca saiu
do papel”).

Art. 5º, XXXV, CRFB/88:

A lei não excluirá da participação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.


ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO:
- O ESTADO:
O Estado é a pessoa jurídica, tem personalidade
jurídica, podendo ser sujeito de direitos e de
obrigações. Por isso, a responsabilidade civil é do
Estado.

Funções do Estado:
O Estado exerce dois tipos de função:
- Função típica;
- Função atípica.
Função Típica Funções Atípicas
É a função legislativa, que tem as seguintes características: a) Administração – ex.
* Geral (aplicada à coletividade como um todo); Congresso licita para comprar
Poder * Abstrata. cadeiras.
Legislativo * Tem o poder de inovar no ordenamento jurídico, retirando uma lei vigente e colocando outra em seu lugar.
Obs: Alguns doutrinadores incluem na função típica a função de fiscalizar, em razão dos Tribunais de Contas e das b) Julgar – ex. Senado julga o
CPIs. Mas essa não é a posição da maioria. Presidente da República em
processo de impeachment.
É a função administrativa, com as características a seguir:
* Executa o ordenamento vigente;
* É concreta;
* É direta;
Poder * Não inova no ordenamento jurídico;
Executivo * Não há intangibilidade jurídica, nem coisa julgada. A decisão administrativa é revisível pelo poder judiciário.
Obs: Coisa julgada administrativa → isso significa a imutabilidade da decisão na via administrativa (somente na via
administrativa). Mas a questão pode ser levada na via judicial.

É a função de julgar, solucionar conflitos, lides, aplicando coativamente a lei, tendo, por seu turno, as seguintes
características:
* É, em regra, individual e concreta. (O controle de constitucionalidade, p.ex., é uma exceção).
* É função indireta, pois depende de provocação;
* Não inova no ordenamento jurídico, apenas aplicando o ordenamento vigente. (Obs: Na prática, pode haver
alguns excessos, como ocorre na súmula vinculante nº 13 – Súmula do Nepotismo – será estudada).
Poder (Intangibilidade jurídica ou impossibilidade de mudança ou efeitos da coisa julgada.
Judiciário Obs: O art.49, V, da CF prevê a possibilidade de o Legislativo sustar atos do executivo que exorbitem os limites do
poder regulamentar. Recentemente foi apresentada uma PEC para sustar, também, atos decisórios, exorbitantes,
tendo em vista que, atualmente, o judiciário tem intervido muito na esfera de competência legislativa.

Obs: A doutrina moderna (Celso Antônio) diz que existe uma 4ª função do Estado, que não se inclui nas três
modalidades anteriores: são as funções de governo ou função política do estado, ou seja, são decisões com alto
Função de grau de discricionariedade, que não se confundem nem se misturam com nenhuma das funções anteriores. São
Governo/ situações de anormalidade, excepcionais, que não se confundem com a atividade corriqueira do simples
Função administrar. São as seguintes funções:
Política * Sanção e veto do presidente no processo legislativo;
* Declarar guerra e celebrar paz;
* Estado de defesa;
* Estado de sítio.
GOVERNO
O governo é elemento do Estado, assim como o território e o povo. Governo é comando e
direção.

Para que o Estado seja independente, o governo deve ser soberano. Governo soberano é
independência na ordem internacional e supremacia na ordem interna.

ADMINISTRAÇÃO

Para a maioria dos autores, administração é máquina administrativa, aparelho estatal,


instrumento do Estado. Mas a doutrina estabelece, ainda, dois conceitos/enfoques diferentes
para a administração, quais sejam:

Administração pública conforme o critério formal/ orgânico/ subjetivo → É a máquina


administrativa, bens e agentes, a estrutura física do Estado.
Administração pública conforme o critério material/objetivo → É a atividade administrativa.

ENTÃO: Quando falamos em …, devemos pensar em...

Estado – pessoa jurídica.


Governo – atuação.
Administração – estrutura física.

ATENÇÃO: LEI Nº 12.846/ 2013 – Dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de


pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.
CRFB/1988: texto original; emendas constitucionais;
SUPRALEGAIS ADCT; Art. 5º, p. 3º; princípios constitucionais implícitos
TEORIA DO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS: ART. 59, CRFB/88


LEIS

DECRETOS E ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS


REGULAMENTOS
ATOS ADMINIST.
LEI EM DE CARÁTER
SENTIDO NORMATIVO
AMPLO

REGIMES JURÍDICOS E PRINCÍPIOS


ADMINISTRATIVOS
PRINCÍPIOS DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO:
Os princípios administrativos possuem uma correlação lógica, estando sempre
interligados.

Regime jurídico é um conjunto harmônico de princípios e regras, que guardam entre si


uma correlação, interligação lógica, formando um sistema, uma unidade.

TEORIA DA PONDERAÇÃO DE INTERESSES: É importante lembrar da teoria da


ponderação de interesses. Essa teoria traz 2 raciocínios importantes:
Quando se pensa em uma regra, a cada caso concreto há aplicação de uma regra.
Nesse caso, se se aplica a regra A, todas as demais regras demais estão excluídas.
Pensa-se no plano de validade. Se a norma A é válida, todas as outras são inválidas
para o caso. Fala-se em uma auto-exclusão das regras.
Para os princípios, não há exclusão. Todos os princípios podem ser aplicados ao mesmo
tempo. Mas, atenção! Embora todos os princípios sejam importantes e válidos, devem
ser ponderados, ora prevalecendo um princípio, ora prevalecendo outro, conforme o
caso.
EXEMPLO: nomeação de servidor sem concurso público, em 1989. Tecnicamente, esse
ato é ilegal, devendo ser anulado, em razão do princípio da legalidade. Mas o
entendimento que vem se consolidando recentemente é o de que, em nome dos
princípios da segurança jurídica e da boa-fé do servidor, devem ser ponderados os
interesses, estabilizando-se o ato de nomeação e não o anulando. Essa é uma posição
nova, que está ganhando força no Brasil.
PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO E
DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO
Celso Antônio do Bandeira de Melo chama esses princípios de “pedras de toque
do direito administrativo”, pois compõem a base de todos os demais princípios
de direito administrativo.

Conceito de Interesse Público – Representa o somatório dos interesses


individuais dos seres considerados como membros da sociedade, representando,
assim, a vontade da maioria. Hoje a doutrina subdivide o interesse público em
primário e secundário.
* Interesse Público Primário – vontade do povo.
* Interesse Público Secundário – vontade do Estado enquanto pessoa jurídica.

O ideal é que o interesse público primário coincida com o secundário (“o Estado
queira o que o povo quer”). Mas, se não existir coincidência entre os interesses
públicos, DEVE SEMPRE PREVALECER O INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO
(INTERESSE DO POVO, enquanto membro da sociedade).
EXEMPLO: carga tributária – o povo, enquanto membro da sociedade, quer uma
carga tributária justa. O Estado, enquanto pessoa jurídica, quer arrecadar cada
vez mais. Então, deve prevalecer a vontade do povo, com a carga tributária justa.
PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO
Supremacia do Interesse público é a superioridade do interesse público face aos
interesses particulares. Esse princípio é fundamental para o convívio social, representando
um fundamento indispensável para as regras de convívio.

Em razão da superioridade do interesse público, o Estado goza de algumas prerrogativas e


privilégios. Para a doutrina majoritária, o princípio da supremacia fundamenta
praticamente todos os institutos do Direito Administrativo, como, por exemplo, os
atributos da presunção de legitimidade, autoexecutoriedade e imperatividade dos atos
administrativos. Na autoexecutoriedade, a administração pratica o ato
independentemente de autorização judicial.

Ex1: Em nome do poder de polícia, o poder público pode fechar uma casa de festas que
esteja incomodando os vizinhos.
Ex2: Em razão das chuvas e dos desabrigados, o Estado pode requisitar um imóvel de
determinada pessoa para abrigar os flagelados da chuva.
Ex3: Desapropriação para construir uma nova escola.
Ex4: Cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos.

Mesmo em razão da supremacia, a administração não pode dispor desse interesse. O


interesse público, uma vez presente, não pode ser disposto pela administração. Isso é o
que diz o princípio da indisponibilidade do interesse público.
PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE
PÚBLICO
O administrador não pode abrir mão ou dispor do interesse público, não tendo
liberalidade face a esse interesse, pois ele exerce a chamada “função pública”,
isto é, exerce atividade em nome e no interesse do povo.

Se o administrador exerce atividade em nome do povo, ele não pode dispor


desse interesse.

Estamos em uma república (res publica – coisa pública).

Ademais, há um princípio geral do direito que diz que o administrador de hoje


não pode criar entraves ou obstáculos para a futura administração.

Antes da edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00), o


administrador praticava muitas ilegalidades no governo. Essa lei surgiu para
proteger a futura administração e o interesse público, sendo esta uma
proteção decorrente do princípio da indisponibilidade.
Princípios mínimos do direito administrativo: LEGALIDADE,
IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e EFICIÊNCIA
(art. 37, caput, CF, alterado pela EC nº 19/98):

Art. 37, CF. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

Toda a administração – direta e indireta – nos poderes


executivo, legislativo e judiciário – da União, Estados,
Municípios e Distrito Federal – está sujeita a esse princípio.
subordinação à lei

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: JURIDICIDADE

Nos termos e parâmetros estabelecidos pela lei

É indispensável para a existência de um Estado de Direito. Estado de


direito é aquele politicamente organizado e que obedece às suas próprias
leis. A legalidade deve ser observada por 2 enfoques diferentes, quais
sejam:

- Legalidade para o direito privado: Tudo é possível, salvo o que estiver


vedado em lei. É aplicado o critério de “não contradição à lei”.
- Legalidade para o direito público: O administrador público só pode
fazer o que está autorizado na lei. Aqui, é aplicado o critério de
“subordinação à lei”.

EXEMPLO: administrador concedeu aumento para servidores públicos


através de decreto. Mas, esse aumento só pode ser feito se estiver
autorizado em lei.

O nosso constituinte mencionou a legalidade em vários dispositivos, quais


sejam: art.5º, II, CF; art.37, caput, CF; art.84, IV, CF; art.150, CF.
PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE
Impessoalidade significa que o administrador não pode buscar interesses pessoais. Ele
precisa agir com ausência de subjetividade. Além disso, quando se pensa em um ato
praticado pelo administrador, deve-se entender que o ato administrativo não é do agente,
é do administrador, é impessoal, é da entidade a que o agente pertence. O ato é da pessoa
jurídica.

Existem dois exemplos expressos de exercício de impessoalidade na CF: Ex. Concurso


público; licitação.

Art. 2o, Lei 9.784/99 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

PRINCÍPIO DA MORALIDADE
Esse princípio traduz a ideia lealdade, de boa-fé, de coerência, correção de atitudes, de
obediência a princípios éticos e à honestidade e probidade.

Apesar de reconhecer todas essas características, moralidade ainda representa um


conceito vago, indeterminado, trazendo uma consequência para o poder judiciário, na
medida em que o judiciário sempre aplica esse princípio juntamente com outro princípio.
Mas, atenção! Moralidade administrativa não se confunde com moral comum:

Moralidade comum Moralidade administrativa


Certo e errado nas regras Ela é mais rigorosa e exigente do que a moralidade
de convívio social. comum. Significa a correção de atitudes, somada à boa
administração (a melhor administração possível).

É importante ter em mente que boa administração também significa boa eficiência.

Obs: Súmula Vinculante nº 13: Nepotismo no Brasil:

Súmula Vinculante nº 13 - A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

O que a Súmula vinculante 13 proíbe:

- PARENTESCO PROIBIDO: Cônjuge, companheiro, parente até o 3º grau - em linha reta, colateral ou por
afinidade;

ESSE PARENTESCO NÃO PODE EXISTIR NOS SEGUINTES CASOS:

1. Entre autoridade nomeante e nomeado, quando o nomeado ocupar cargo em comissão ou quando o
nomeado exercer função gratificada.

Obs: Cargo em comissão e função gratificada


Cargo em Comissão Função Gratificada
Era antigamente chamado de cargo de Função no Brasil, hoje, só pode ser a função de
confiança. A partir da CF/88 o nome confiança.
passou a ser “cargo em comissão”. Esse
cargo é de livre nomeação e exoneração
(exoneração “ad nutum”) no Brasil.
É baseado na confiança. É baseada na confiança.
Serve para direção, chefia e Serve para direção, chefia e assessoramento.
assessoramento.
Qualquer pessoa pode exercer o cargo em Só pode ser exercida por quem já tem cargo efetivo.
comissão, ressalvado o limite mínimo de Cargo = atribuições + responsabilidade + posto (lugar no
cargos que deve ser ocupado por quadro da administração).
Função = atribuições + responsabilidades. Ela não dá
servidores de carreira. Esse mínimo vai direito a um posto na administração. Por isso, só pode ser
depender da lei. exercida por quem já possui cargo público. Então, a pessoa já
tem cargo efetivo e ganha uma função de confiança,
recebendo por isso uma remuneração correspondente ao
cargo e outra remuneração correspondente à função, que,
nesse caso, é uma “gratificação por função de confiança”. Por
isso se fala em função gratificada, que é a função de
confiança.

Então: Na função de confiança, o servidor tem:


Cargo + função de confiança
Atribuições + responsabilidade + cargo + atribuições
+ responsabilidade
Remuneração + Gratificação
2. Nomeação de servidor que ocupa cargo de chefia, direção e assessoramento (cargo
em comissão) e outro servidor que ocupe cargo em comissão ou que ocupe função
gratificada;

Essa relação é qualquer cargo em comissão com qualquer cargo em comissão / função
gratificada.

Essas pessoas não podem ser parentes NA MESMA PESSOA JURÍDICA, ou seja, nem
executivo, nem legislativo e nem judiciário da MESMA PJ (União, Estados, Municípios).

Ex. Marido trabalhando no judiciário federal, trabalhando no amazonas;

Mulher trabalhando no legislativo federal, em Brasília. No exemplo, não pode haver


essa nomeação.

3. Nepotismo cruzado – não se pode “trocar” os parentes, p.ex., entre estado e


município.

O problema é que na prática será impossível fiscalizar esse controle.

Ex. prefeito nomeou um irmão secretário de obras; outro secretário de saúde. Essa
contratação, em princípio, se enquadraria na 2ª hipótese.

Ocorre que, segundo o STF, os agentes políticos não estão sujeitos a essa proibição.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Lei 12.527/2011

Publicidade significa conhecimento, ciência, divulgação. Se o administrador representa


os interesses do povo, é justo que ele dê ciência ao titular do interesse sobre o que está
sendo feito.
Ex. Administração celebrou um contrato de merenda escolar e o administrador se
esqueceu de publicar o contrato. No exemplo, este contrato é válido?
A publicação é condição de validade ou de eficácia do ato? Publicar o contrato é uma
condição de eficácia dos atos administrativos. Isso significa que o início de produção de
efeitos ocorrerá com a publicação. Isso está no art.61, p.ú., da Lei 8.666/93.
Art. 61, Lei 8.666/93 - (...)
Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial,
que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do
mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu
valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)

Então, a publicação é condição de eficácia dos atos administrativos.


No exemplo de contrato de merenda escolar, suponha-se que o contrato estabeleceu
um prazo de 30 dias para o inicio da entrega da merenda. Isso significa que esse prazo
de 30 dias começa a ser contado a partir da publicação. Nesse sentido, publicidade
também significa início de contagem de prazo.
Ex. multa de trânsito – o prazo de 30 dias para a defesa começa com a ciência da
notificação pelo autuado.
Ademais, o conhecimento e a publicidade facilitam o controle e a fiscalização dos atos
da administração.
O art. 30, da CF, diz que as contas municipais devem ficar à disposição da sociedade para
controle e questionamento durante 60 dias ao ano. Essa disponibilidade deve ser de
forma acessível.

Publicidade é muito mais amplo que publicação. A publicação é uma das formas /
espécies de publicidade, como também é, por exemplo, publicar edital, mandar convite
para convidados, colocar o convite no ato da repartição, dar ciência pessoal, etc.
Outro exemplo: pessoa quer comprar uma empresa e busca informações sobre esta empresa. Suponha-se que
o órgão público negou as informações ao interessado. Nesse caso, é cabível o remédio constitucional do
mandado de segurança. Não é habeas data, pois este é remédio para obter informações pessoais. Nesse caso,
há direito líquido e certo de informação (o que faz caber o MS), mas não são informações pessoais.

Obs: Exceções ao princípio da publicidade:

1º) Art.5º, X, CF – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, sob pena de ter que indenizar com dano moral e material decorrente da
violação. Então, o administrador não irá fazer publicidade quando violar a intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Art.5º, X, CF - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

2º) Art.5º, XXXIII, CF – Todos têm direito à informação, salvo quando colocar em risco a
segurança da sociedade e do Estado.
Art.5º, XXXIII, CF - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;

Ex. Determinada região do país sofrerá um ataque terrorista. Uma pessoa decide ir até
as forças armadas para obter informações sobre esse ataque. O Estado pode negar
essas informações para proteger a segurança da sociedade e do Estado.

3º) Art.5º, LX, CF – Esse artigo fala a respeito dos atos processuais que correm em sigilo,
na forma da lei. Atenção! Isso também vale para atos processuais do processo
administrativo.

Art.5º, LX, CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Ex. Suspeita-se que determinado médico cometeu um erro médico, vindo o paciente a
falecer. O médico sofre um processo ético disciplinar. Suponha-se que uma pessoa
precisa fazer uma cirurgia; obviamente, a pessoa nunca procurará esse médico que está
sofrendo um processo ético. Por isso, na maioria desses processos éticos disciplinares, o
processo corre em sigilo, para não prejudicar a carreira do médico. Ao final do processo
ético, será dada a publicidade ao resultado dele.

Obs2: Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011 – Regula o direito à informação. LER!


INSTRUMENTOS DE GARANTIA:
1. DIREITO DE PETIÇÃO - ART. 5º XXXIV, "a";
2. DIREITO DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES - ART.5º, XXXIV, "b";
Obs3: Atenção! Art.37, §1º, CF:3.ART. 37, PARÁGRAFO 3º, II - DIREITO AO ACESSO DOS USUÁRIOS EM
REGISTROS E ÀS INFORMAÇÕES SOBRE ATOS DE GOVERNO

Art.37, §1º, CF - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e


campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de
orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
INFORMAÇÃO - PRAZO
- RESERVADA - 5 ANOS
Esse dispositivo traz duas obrigações: - SECRETA - 15 ANOS
- ULTRASSECRETA - 25 ANOS

(1) O administrador tem o dever de publicar e há uma obrigação no sentido de


que forma o ato deve publicar, ou seja, a publicação deve ser no caráter
educativo, informativo e de orientação social. A não publicação representa
improbidade administrativa, prevista no art. 11, da LIA (Lei 8.429/92).

(2) A segunda obrigação é o dever de não fazer promoção pessoal, ficando


vedado constar nomes, símbolos ou imagens que configurem promoção
pessoal. Se o administrador faz alguma propaganda pessoal, ele está violando o
princípio da impessoalidade, da moralidade, da legalidade e, possivelmente, a
eficiência e, nesse caso, ao violar os princípios constitucionais, o administrador
também está praticando improbidade administrativa, caracterizada pela
promoção pessoal, também nos termos do art.11, da LIA.
Art. 11, Lei 8429/92 - Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer
em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação
oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

Atenção sobre esse dispositivo:

- O que o administrador utiliza na campanha (ex. Símbolos, cores, objetos, brindes, etc.) são símbolos
da campanha, não podendo ser utilizados os símbolos pessoais da campanha na administração. Isso é
promoção pessoal, vinculando a administração à pessoa do candidato (o trabalho que o administrador
faz não é mais do que a sua obrigação; então, não cabe promoção pessoal).

Ex. Colocar como nomes de ruas o nome de pessoas vivas, trocando nomes com outros
administradores ou colocando os próprios nomes nas obras e prédios públicos.

Ex. Placa em que está escrito um agradecimento ao político “X”, pela obra “Y”, como se fosse o povo
que estivesse agradecendo. Existe um projeto de lei para inserir na LIA uma hipótese expressa
proibindo a promoção pessoal feita via terceiros.
- Orientação do STJ: Segundo o STJ, vale o bom-
senso, de modo que não se pode adotar como regra
absoluta de improbidade a existência do nome do
administrador relacionada à obra ou ato da
administração. O simples fato de constar o nome
não significa improbidade. Para ter improbidade,
deve ter o caráter de promoção pessoal.

Ex. Placa escrito: obra nº …., contrato nº …., licitação


nº ….., administrador ….., etc.... Isso não seria
promoção pessoal, pois o nome do administrador
consta a título informativo.

O MP tem começado a atuar nessa seara,


denunciando casos de improbidade administrativa.
Mas ainda estamos longe de chegar ao ideal.
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
Eficiência é agilidade, presteza, produtividade, economia do dinheiro público
(gastar o menor valor e não desperdiçar).

Obs: Eficiência como princípio implícito - Mesmo até a alteração da EC nº 19 (a


qual instituiu explicitamente tal princípio), já existia para o Estado o dever de
eficiência. Esse era um princípio implícito na CF, mas era regra expressa na
legislação infraconstitucional. Ex. Lei 8.987/95 (Lei das Concessões e
Permissões de Serviços Públicos – art.6º).

Art. 6º, Lei 8.987/95 - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de


serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta
lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,


eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

Esse princípio trouxe algumas alterações para o nosso ordenamento,


juntamente com a Emenda Constitucional nº 19. Em 1998, o constituinte, além
de inserir no caput do artigo 37, da CF o princípio da eficiência, alterou alguns
dispositivos da CF, com o objetivo de tornar a eficiência uma realidade.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA
Embora este princípio não esteja no art.37, caput, CF, ele também deve ser observado
pela administração pública.

Isonomia é tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de


suas desigualdades.

O problema desse princípio está em preencher o conceito – quem são os iguais? Quem
são os desiguais? Qual a medida da sua desigualdade? Para se responder a essa
pergunta, deve-se:
1) Pensar, em primeiro lugar, qual é o fator de discriminação.
2) Após, deve-se verificar se este fator está ou não compatível com o objetivo da norma.
Se o fator de exclusão está compatível com o objetivo da norma ele não viola a isonomia.
Se o fator de discriminação não estiver compatível com o objetivo da norma, ele viola a
isonomia.
Ex1: determinado município decide fazer um concurso de salva-vidas. O edital diz que o
deficiente físico de cadeira de rodas não pode prestar o concurso. Essa regra não viola o
princípio da isonomia, pois o fator de discriminação está compatível com o objetivo da
norma;
Ex2: Concurso de Polícia civil para função administrativa - O edital diz que o deficiente
físico de cadeira de rodas não pode prestar o concurso. Essa regra viola o princípio da
isonomia, pois o fator de discriminação não está compatível com o objetivo da norma – o
deficiente de cadeira de rodas consegue desempenhar função administrativa
perfeitamente;
Ex3: polícia feminina faz concurso. Homens não podem prestar o concurso.
Essa regra não viola o princípio da isonomia, pois o fator de discriminação
está compatível com o objetivo da norma;

Ex4: prova física de delegado – homem tem que fazer 10 barras; mulher
tem que fazer 1 barra e segurar por 10 segundos. Isso não viola a isonomia.

Atenção! Limite de idade, atividade jurídica, altura, etc... Segundo o STJ e o


STF, para que esses requisitos de concurso público saiam no edital, eles
precisam estar previstos na lei da carreira e, além disso, devem ser
compatíveis com a atribuição do cargo. Por fim, o requisito deve estar
previsto no edital.

Obs: Exame psicotécnico – Súmula 686, STF e jurisprudência do STJ: – O


exame psicotécnico precisa estar previsto na lei da carreira; deve ter
parâmetros objetivos e deve dar direito a recurso. (Isto porque esse exame
é muito subjetivo).

Súm.686, STF - Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação


de candidato a cargo público.
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE
No Direito Administrativo, esses dois princípios aparecem sempre juntos. Agir de forma
razoável significa agir de forma lógica, com coerência, congruência, conforme os padrões
do homem médio. Proíbem-se, aqui, os excessos e os despropósitos.
Embutido no princípio da razoabilidade encontra-se o princípio da proporcionalidade, que
diz que se deve agir de forma equilibrada, com equilíbrio entre os benefícios e os
prejuízos obtidos, entre os atos e as medidas inerentes a esses atos.
Ex. instalar um lixão de frente para o mar – não é razoável, lógico.
Ex. passeata que se transforma em vandalismo – poder público pode dissolver a passeata, mas não
pode matar os rebeldes. Isso não é proporcional, equilibrado.
Ex. servidor que praticou infração leve. A pena de demissão não é proporcional. A sanção deveria ser
leve também, como a advertência.

Razoabilidade e proporcionalidade são princípios implícitos na CF, mas expressos na


norma infraconstitucional, como se observa da lei 9.784/99, art. 2º.

Art. 2O Lei 9.784 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Obs: A EC 45 trouxe o inciso LXXVIII ao art.5º, da CF.

Art.5º, LXXVIII, CF - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Razoabilidade e proporcionalidade são princípios implícitos na CF, mas expressos na norma
infraconstitucional, como se observa da lei 9.784/99, art. 2º.

Art. 2O Lei 9.784 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Obs: A EC 45 trouxe o inciso LXXVIII ao art.5º, da CF.

Art.5º, LXXVIII, CF - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável


duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Alguns autores chegaram a afirmar que a partir desse dispositivo, a razoabilidade teria se tornado um
princípio expresso na CF, pois ele menciona a palavra “razoável”. Ocorre que, com o passar dos tempos, a
ideia que prevaleceu é que esse dispositivo estabelece o princípio da razoável duração do processo.

Obs2: Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade são muito importantes para o direito


administrativo, pois, hoje, entende-se que eles restringem a liberdade do administrador. Praticado um ato
administrativo, o ato pode ser revisto pelo poder judiciário e pela própria administração.

1. O controle feito pelo judiciário pode atingir qualquer ato administrativo (vinculado, discricionário);
mas, esse controle só pode ser um controle de legalidade. Hoje, no Brasil, o controle de legalidade é
entendido como legalidade em sentido amplo, verificando a compatibilidade do ato com a CF (regras e
princípios constitucionais) e com a lei.

Ex. Se um ato viola a proporcionalidade, ele pode sofrer controle de legalidade pelo judiciário.
2. O poder judiciário não pode controlar o ato administrativo no que diz
respeito ao seu mérito, ou seja, sua liberdade, o juízo de valor feito pelo
administrador.

Ex.: determinada administração precisa construir uma escola e um hospital,


mas só possui recursos para construir um dos dois, e decide construir o
hospital. Atenção! O judiciário não pode rever esse ato, pois isso é o mérito do
ato administrativo.

Ex2: determinada administração precisa construir uma escola e um hospital.


Mas só possui recursos para construir um deles. E decide construir uma praça.
Isso viola a razoabilidade e a proporcionalidade. Então, o judiciário pode rever a
decisão, fazendo um controle de princípio constitucional, um controle de
legalidade. Mas esse controle de legalidade vai atingir reflexamente o mérito do
ato administrativo. Nesse caso, o administrador não tem mais qualquer
liberdade; ele tem a liberdade razoável, a liberdade proporcional; há uma
restrição à liberdade do administrador.

Obs: A ADPF 45 traz uma discussão de políticas públicas no Brasil. Isto porque
durante muitos anos o judiciário deixou de controlar diversas políticas públicas
entendendo que isso era mérito do ato administrativo. Contudo, no julgamento
o STF mudou o seu entendimento. O julgado fala ainda da reserva do possível e
do mínimo existencial. Hoje é possível tal controle, consolidando o denominado
“ativismo judicial” através do neoconstitucionalismo.
- PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE (PROPORCIONALIDADE)

Este se preocupa com os meios necessários para atingir


os fins previstos pela norma Constitucional. Em razão da
subjetividade deste princípio, faz-se necessário observar
três subprincípios, que lhe conferem maior grau de
objetividade:

a) Necessidade (exigibilidade) – A conduta deve ser


necessária e somente tomada se não houver outro meio
menos gravoso ou oneroso para a sociedade;
b) Adequação (pertinência ou idoneidade) – O meio
adotado deve ser compatível com o fim;
c) Proporcionalidade em sentido estrito – As vantagens
conquistadas com a prática do ato devem superar as
desvantagens.
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA
Na via administrativa, esses princípios são novos, surgindo a partir da CF/88. A
maioria das nulidades em processo administrativo está ligada à falta de
contraditório e de ampla defesa.

O contraditório e a ampla defesa para o processo administrativo estão previstos


na CF/88 – art.5º, LV “Os processos administrativos e judiciais devem respeitar o
contraditório e a ampla defesa”.

Contraditório é dar ciência à parte da existência do processo. Quando a parte é


chamada para o processo, está se estabelecendo a bilateralidade do processo
administrativo. Em um Estado Democrático de Direito, ninguém pode ser
processado e condenado sem ter direito de participar dessa construção que é a
decisão judicial.

Pela ampla defesa, deve-se dar a oportunidade da parte se defender, ainda que
ela não exerça efetivamente essa defesa. Deve-se abrir um prazo para a pessoa
se defender. É importante notar, ainda, que não basta dar prazo, devendo ser
cumpridas algumas exigências para que a pessoa possa exercitar a sua defesa
(ex. dar acesso ao processo, produzir provas, etc).
Prévia Técnica Duplo grau de julgamento

É admissível no direto Súmula 343 do STJ foi Súmula vinculante n.º 21 –


administrativo. É o direito superada. Atualmente a estabelece que é
da defesa antes da súmula vinculante n.º 5 inconstitucional a
decisão administrativa. afirma que a ausência de exigência de depósito
Exceções: casos de defesa técnica não gera prévio de caução, de
urgência da administração nulidade de processo garantia para interpor
para evitar o prejuízo administrativo. Não há recurso administrativo
público – contraditório nulidade do processo se o (inerente ao duplo grau de
diferido ou postergado particular abrir mão da julgamento). Essa súmula
defesa, a opção é dele. A significa que a ampla
Adm. pública não pode defesa é inerente ao duplo
negar defesa técnica. grau de julgamento.
Obs: Vide Súmula Vinculante nº 21 – “É inconstitucional a exigência de depósito
ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens para a admissibilidade de recurso
administrativo”.

A discussão dessa súmula adveio de um processo administrativo tributário.


Ocorre que, hoje, a previsão não é somente para o processo tributário, servindo
para qualquer processo administrativo.

A discussão dizia respeito à cobrança de depósito prévio para recurso. Se fosse


cobrado depósito prévio para a parte recorrer, só poderia recorrer quem tivesse
dinheiro, o que condicionaria o direito de recurso a uma condição financeira e
econômica da parte. Portanto, não se poderia exigir esse depósito prévio, pois
essa exigência era inconstitucional.

Nessa linha de raciocínio existem as súmulas 373, STJ e SV 21.

Súmula 373, STJ - É ilegítima a exigência de depósito prévio para


admissibilidade de recurso administrativo.
Atenção! Súmula Vinculante nº 03 - “Nos processos perante o TCU asseguram-se
o Contraditório e a ampla defesa, quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão”.

O que se decide hoje no STF a respeito de processo? Entende-se, hoje, que


sempre que alguém possa ser atingido ou prejudicado por uma tomada de
decisão, esse interessado deve ser chamado a participar do processo, com
contraditório e ampla defesa.

Ao final do exercício financeiro, o TCU recebia a prestação de contas e verificava.


Se desconfiasse que determinado contrato/licitação tivesse sido fraudado, o TCU
chamava o administrador para prestar esclarecimentos. O administrador e o TCU
discutiam um contrato que atingia uma empresa determinada, e essa empresa
ficava prejudicada/beneficiada por essa decisão, sem participar do processo.
Nessa ideia, a súmula vinculante nº 03.

Porque a súmula excetuou a apreciação da legalidade do ato de aposentadoria,


reforma e pensão? A súmula não disse que a pessoa não terá contraditório e
ampla defesa. Ela disse que não haverá contraditório e ampla defesa PERANTE O
TCU. Mas o servidor terá contraditório e ampla defesa perante a administração.
O ato administrativo de concessão inicial de reforma, aposentadoria ou pensão é um ato
administrativo complexo, ou seja, depende de duas manifestações de vontade que
acontecem em órgãos diferentes.

Quando o servidor quer se aposentar, ele pede a aposentadoria para o seu órgão. A
administração se manifesta e encaminha o pedido para o Tribunal de Contas. O
aperfeiçoamento da aposentadoria depende das duas manifestações. Então, embora haja duas
manifestações, há apenas um ato administrativo. E esse ato administrativo conta com uma
oportunidade de contraditório e de ampla defesa, que ocorrerá perante a administração
pública, e não perante o TCU.

A partir desse entendimento, surgia um problema. Quando o servidor pedia à administração a


aposentadoria, a administração analisava o pedido primeiro, de forma provisória, dependendo
a perfeita eficácia do ato da manifestação do TCU. Ocorre que, por muitas vezes, a
administração aposentava o servidor precariamente e, após anos, o TCU não confirmava o ato
de aposentadoria, mandando o servidor voltar ao exercício. Diante disso, havia uma injustiça
muito grande para o servidor.

Portanto, o STF firmou o entendimento de que, a despeito da regra de que o servidor não
exercer contraditório e ampla defesa perante o TCU no processo administrativo de
aposentação, se o TCU demorar mais de 5 anos para analisar o pedido de concessão inicial
de aposentadoria, reforma e pensão, ele deverá dar contraditório e ampla defesa ao
servidor, preservando-se assim, inclusive, a segurança jurídica. O STF chamou esse
entendimento de “Temperando a Vinculante nº 03”.
Exigências / desdobramentos / condições para a ampla
defesa:
(1) A defesa deve ser prévia ao julgamento. Para isso, é necessário um procedimento preestabelecido.
A pessoa só se pode valer de estratégias processuais se existir um procedimento já definido
anteriormente. É preciso conhecer as etapas e procedimentos do processo. A pessoa deve, também,
conhecer previamente as penalidades previstas para sancionar a parte.

(2) O sujeito, na elaboração do processo, deve ter direito / acesso às informações do processo. A parte
interessada tem direito a cópias do processo, desde que pague por elas. A maioria dos processos
administrativos não pode ser retirada da repartição (não se pode fazer carga).

(3) O interessado deve ter direito a produção de provas. Direito de produzir provas é produzir a prova
e ter essa prova avaliada, podendo interferir no convencimento do julgador. A prova deve, repise-se,
ser avaliada/interferir no convencimento do julgador.

(4) Em processo administrativo, a defesa técnica (advogado) é obrigatória ou facultativa?

A presença do advogado, desde muito tempo, foi facultativa no processo administrativo. Essa discussão
foi feita especialmente para os processos disciplinares, tendo em vista que esses processos são
punitivos. Essa tese da defesa técnica não vale para os demais tipos de processo administrativo. A lei
8.112/90 diz que a presença do advogado é facultativa no PAD. Com o decorrer dos anos, o STJ
construiu uma jurisprudência, no sentido de que o advogado auxilia a parte e contribui para a
regularidade do processo. Pensando nesse raciocínio, o STJ editou a súmula 343, que diz: “É obrigatória
a presença de advogado em todas as fases do PAD” (hoje superada)
Então, a partir dessa súmula, o advogado era obrigatório em todas as fases do PAD.
Ocorre que, a partir desse entendimento, surgiu um problema, pois muitos
servidores haviam sido processados e demitidos sem a presença de um advogado.
Se o servidor foi demitido, e a presença do advogado, que era obrigatória, não
aconteceu, muitos entenderam que o processo era ilegal, de modo que o servidor
teria direito a reintegração, ou seja, retornar ao cargo de origem, com todas as
remunerações do período em que esteve afastado. E isso levou ao benefício daquele
servidor que agiu erradamente e, além disso, levou a um altíssimo custo para os
cofres públicos, que deveriam indenizar todos os servidores demitidos.

Diante dessa problemática, o STF analisou a questão e editou a súmula vinculante


nº 05, que retomou a ideia anterior, dizendo que a presença do advogado era
facultativa (SV nº 05 - “A falta de defesa técnica por advogado no PAD não ofende a
CF”). Então, embora não tenha sido cancelada, a súmula 343 do STJ foi superada.

Logo, hoje, a presença do advogado é FACULTATIVA.

(5) Direito de recurso – A pessoa, para se defender, deve ter direito ao recurso,
levando a matéria a uma nova análise, sendo esta mais uma garantia da ampla
defesa.

Ex. Edital de concurso que diz “da fase x não cabe recurso” é um absurdo. Deve
haver direito de recurso.
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
Esse princípio diz que o serviço público deve ser prestado de forma ininterrupta e contínua.

Obs: Discussão – Direito de Greve do Servidor Público:

Art.37, VII, CF - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;

Se o serviço deve ser ininterrupto, o servidor tem direito de greve? O servidor público tem sim
direito de greve (art.37, VII, CF). Ocorre que este dispositivo diz que o direito de greve do servidor
público será exercido conforme a lei específica. Mas, qual é essa lei específica? Essa lei específica é
ordinária ou complementar?

O constituinte disse lei específica, e não complementar. Então, é uma lei ordinária específica, que
trata somente daquela matéria.

Qual a natureza da norma que fala sobre o direito de greve? A norma do art.37, VII, CF é uma norma
de eficácia LIMITADA. O STF já decidiu isso.
Norma de eficácia plena – aplicação imediata; não se precisa de lei.
Norma de eficácia contida – há o direito; pode-se exercê-lo desde já, mas a lei pode, futuramente,
restringir esse direito.
Norma de eficácia limitada – não se pode exercer enquanto não vier a lei.

Então, hoje, o servidor tem sim direito de greve, com a aplicação da lei do trabalhador privado.
PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE
Os atos administrativos possuem presunção de legitimidade. Atenção! Onde estiver
escrito “presunção de legitimidade”, deve-se ler: “presunção de legitimidade + presunção
de legalidade + presunção de veracidade”.

Legitimidade - Estão de acordo com as regras morais.


Legalidade - Estão de acordo com a lei.
Veracidade - Correspondem com a verdade.

Essa presunção é relativa, pois é possível discutir esse ato administrativo (presunção iuris
tantum). A presunção relativa possui 2 consequências práticas:
– Aplicação imediata dos atos;
– Ônus da Prova – Normalmente esse ônus é do administrado. Ônus da prova – normalmente,
quem contesta o ato administrativo é o administrado. Então, normalmente o ônus da prova é do
administrado. A presunção é relativa, com o ônus da prova de quem alega.

Ex. legislador faz uma lei. A lei possui presunção de constitucionalidade. Mas essa
constitucionalidade pode ser discutida em juízo. Ocorre que, até que haja uma decisão
em sentido contrário, a lei é presumida constitucional e tem aplicação imediata.
Ex. A pessoa possui um estabelecimento comercial, e um fiscal da vigilância sanitária, por
entender que essa pessoa não respeita a legislação sanitária, fecha o estabelecimento.
Até que a pessoa consiga uma decisão em sentido contrário, vale a presunção do ato
administrativo, de modo que o estabelecimento ficará fechado.
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
Por esse princípio, a administração pública pode rever os seus próprios atos, quanto à conveniência ou
quanto à legalidade.

Quando a administração revê um ato porque ele é ilegal, ela ANULA o ato. Quando a administração
revê um ato porque ele é inconveniente, ela REVOGA o ato.

Maria Sylvia Zanella di Pietro diz que o princípio da autotutela traz, além do poder de revisão dos atos,
o dever de cuidado e zelo da administração com os seus próprios bens, direitos, patrimônios, interesses
(autotutela = tutela própria).

PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
Esse princípio traz a ideia de que as pessoas jurídicas da administração pública, especialmente as
pessoas da administração indireta, estão vinculadas às finalidades para as quais foram criadas.

Os entes da administração direta são os entes políticos (U/E/M/DF) e criam as pessoas jurídicas da
administração indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações
públicas). Quando a administração direta cria um determinado ente da administração indireta, ela
também define a sua finalidade específica. E as pessoas criadas estão atreladas, vinculadas a essa
finalidade específica.

Atenção! É possível modificar essa finalidade? Se quem define essa finalidade é a lei, pode o
administrador modificar essa finalidade? Não. Somente se vier uma nova lei, pode haver a modificação.

Esse princípio surgiu inicialmente para as pessoas da administração indireta. Ocorre que, hoje, esse
princípio também já é aplicado para os órgãos da administração direta. Se se cria um órgão da
administração direta, ele deve respeitar a finalidade para a qual foi criada.

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